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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO: JORNALISMO JORNALISMO CIENTÍFICO Análise comparativa entre os cadernos de Ciência dos jornais Folha de São Paulo e Correio da Paraíba em 2006 Bertrand Giovanovski Silva Sousa João Pessoa, 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO: JORNALISMO

JORNALISMO CIENTÍFICO

Análise comparativa entre os cadernos de

Ciência dos jornais Folha de São Paulo

e Correio da Paraíba em 2006

Bertrand Giovanovski Silva Sousa

João Pessoa, 2006

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Bertrand Giovanovski Silva Sousa

JORNALISMO CIENTÍFICO

Análise comparativa entre os cadernos de

Ciência dos jornais Folha de São Paulo

e Correio da Paraíba em 2006

Monografia apresentada à Universidade Federal da Paraíba em cumprimento às exigências para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Antônio Nicolau

João Pessoa, 2006

S725j Sousa, Bertrand Giovanovski Silva. Jornalismo Científico: Análise comparativa entre os cadernos de Ciência dos jornais Folha de São Paulo e Correio da Paraíba em 2006 / Bertrand Giovanovski Silva Sousa. João Pessoa, 2006.

84 p.

Orientador: Marcos Antônio Nicolau

Monografia (graduação). Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – Universidade Federal da Paraíba.

1. Jornalismo. 2. Jornalismo Científico. 3. Padrão jornalístico

UFPB / BC CDU 070.11(043.2)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Bertrand Giovanovski Silva Sousa

JORNALISMO CIENTÍFICO

Análise comparativa entre os cadernos de

Ciência dos jornais Folha de São Paulo

e Correio da Paraíba em 2006

BANCA EXAMINADORA NOTA

______________________________________ ______

Prof. Dr. Marcos Antônio Nicolau

Orientador (Universidade Federal da Paraíba)

______________________________________ ______

Profª. Drª. Sandra Regina Moura

Membro (Universidade Federal da Paraíba)

______________________________________ ______

Prof. Ms. Shirley Mônica Silva Martins

Membro (Universidade Federal da Paraíba)

MÉDIA: ______

Aprovada em _____ de ____________ de _______.

AGRADECIMENTOS Ao professor Marcos Nicolau, pelo auxílio e orientações durante todas as etapas deste trabalho. Desde a disciplina Projetos Experimentais até a conclusão da pesquisa, da escolha do tema ao ponto final. Aos demais professores que ministraram aulas durante o curso. A contribuição de cada um foi fundamental, sempre nos motivando a buscar “algo mais”, um diferencial. Aos colegas de curso, especialmente a turma “Comunicação Style” (2002.1), assim batizada após o ingresso ao Decom. Nossos debates, trabalhos em equipe e convivência diária, proporcionaram grandes lições. Ao Departamento de Comunicação, por fornecer a estrutura e condições mínimas para a realização das atividades práticas ao longo do curso, bem como pela organização de seminários e palestras que ampliaram nosso universo de conhecimento. À minha família, pelo apoio e compreensão no momento que optei por mudar de curso e fazer Jornalismo. Foi um recomeço e um grande desafio.

"A ciência e o jornalismo são as duas grandes forças do mundo moderno."

(Manuel Calvo Hernando)

SOUSA, Bertrand Giovanovski Silva. Jornalismo Científico: análise comparativa entre os cadernos de Ciência dos jornais Folha de São Paulo e Correio da Paraíba em 2006. Monografia de conclusão do curso de Comunicação Social da UFPB, habilitação em Jornalismo, 2006.

RESUMO O presente trabalho busca contribuir para o entendimento acerca do Jornalismo Científico, mais especificamente, do conteúdo científico produzido por jornalistas para publicação em dois grandes jornais: Folha de São Paulo e Correio da Paraíba. O tema é de grande relevância para a sociedade brasileira, visto que o conhecimento sobre as inovações tecnológicas e descobertas da ciência, pode suscitar reflexões sobre a política que desejamos para este setor, hoje e nos próximos anos. O objetivo deste estudo foi produzir uma análise comparativa entre suplementos de Jornalismo Científico, através de uma viagem ao centro do Jornalismo, investigando os elementos que compõem sua essência. A investigação tornou visível um padrão jornalístico preocupado com o entendimento do leitor a respeito de temas vitais para o presente e o futuro da humanidade, os temas da ciência. E ainda, apontou à possibilidade de participação direta dos atores sociais nas descobertas que estão revolucionando nosso tempo. Palavras-chave: Jornalismo. Jornalismo Científico

SOUSA, Bertrand Giovanovski Silva. Scientific Journalism: comparative analysis between science sections of periodicals Folha de São Paulo and Correio da Paraíba in 2006. Monograph of conclusion of the course of Social Communication of UFPB, qualification in Journalism, 2006.

ABSTRACT The present work tries to contribute for the agreement concerning the Scientific Journalism, more specifically, the scientific content produced by journalists for publication in two great periodicals: Folha de São Paulo and Correio da Paraíba. The subject is of great for the brazilian society, since the knowledge on technological innovations and science discoveries can excite reflections on the politics that we desire for this sector, and in the next years. This study objective to produce a comparative analysis between supplements of Scientific Journalism, through a trip to the Journalism center, investigating the elements that compose it’s essence. Our inquiry made visible a journalistic standard worried about the reader agreement regarding vital subjects for the present and future of the humanity, the science subjects. And still, pointed to direct participation possibility oh the social actors in the discoveries that are revolutionizing our time. Key-words: Journalism. Scientific Journalism.

SUMÁRIO RESUMO ...................................................................................................................................................07 ABSTRACT ............................................................................................................................................. 08 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 11 PARTE I 1. NOÇÕES PRELIMINARES ............................................................................................................. 14 1.1 Fundamentos do Jornalismo ..................................................................................................... 14 1.1.1 Definições e teorias gerais do Jornalismo ................................................................................ 14 1.1.2 Gênese e evolução mundial do “periodismo” ............................................................................ 15 1.1.3 A chegada do Jornalismo ao Brasil ............................................................................................ 17 1.2 Jornalismo Especializado em Ciência ..................................................................................... 20 1.2.1 Diferenças conceituais ................................................................................................................. 20 1.2.2 Funções e objetivos do Jornalismo Científico ............................................................................ 22 1.2.3 Origens do Jornalismo de Ciência .............................................................................................. 24 1.2.4 Desafios do Jornalismo Científico ............................................................................................... 27 PARTE II 2. ANÁLISE COMPARATIVA DOS CADERNOS CIENTÍFICOS ................................................. 29 2.1 Metodologia .................................................................................................................................... 29

2.1.1 Forma de composição: a monografia ....................................................................................... 30 2.1.2 Tipos de pesquisas ...................................................................................................................... 31 2.1.3 Universo e amostra ...................................................................................................................... 32 2.1.3.1 Folha de São Paulo: tradição e pioneirismo ........................................................................ 33 2.1.3.1.1 Folha Ciência: profissionalismo diário .............................................................................. 35 2.1.3.2 Correio da Paraíba: histórico de lutas ................................................................................... 35 2.1.3.2.1 Milenium: variedade semanal ............................................................................................ 37 2.2 Análises e comparações ............................................................................................................ 38 2.2.1 Análise da Folha Ciência ............................................................................................................ 39 2.2.2 Análise do Milenium .................................................................................................................... 42 2.2.3 Considerações finais da análise ............................................................................................... 44 CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 46 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 48 ANEXOS ................................................................................................................................................ 52 ANEXO A – Cadernos Folha Ciência ................................................................................................. 52 ANEXO B – Cadernos Milenium .......................................................................................................... 71 ...................................................................................................................................

.............................

INTRODUÇÃO

A relação entre Jornalismo e Ciência é mais íntima do que parece.

Informação e notícia são combustíveis de um, e ao mesmo tempo sinônimos do

outro. Ambos têm como meta, a busca incansável pela verdade.

Ao longo do tempo, muito se falou sobre o Jornalismo, suas características,

objetivos, funções, gêneros e definições, que variam de acordo com o ponto de

vista dos estudiosos. Da mesma forma, ainda não é consenso entre os cientistas e

pesquisadores o conceito de ciência e como classificá-la adequadamente. Várias

tentativas de conceituação divergem entre si, com distintas amplitudes, resultando

em diferentes origens históricas de caráter nacional e internacional. Mas, apesar

destes desencontros, existe um ponto de convergência: a comunicabilidade da

ciência.

As descobertas científicas, os avanços tecnológicos, cada vez mais ganham

espaço nos veículos midiáticos, sobretudo nos impressos. É neste cenário que

aparece o Jornalismo Científico (JC), fornecendo um tratamento adequado ao

vasto conteúdo produzido pela Ciência nos tempos atuais. Corresponde à

divulgação das inovações científicas e tecnológicas pelos meios de comunicação

de massa, segundo os critérios e o sistema de produção jornalístico.

O processo que deu origem ao JC foi iniciado pelo crescente interesse do

público por assuntos desta natureza. Os estudiosos determinam como marco

histórico à chegada do homem à Lua, em julho de 1969. Daí em diante, o

interesse por temas relacionados à tecnologia levou os jornais de todo o mundo a

criar editorias específicas, ou ampliar a cobertura das descobertas científicas e

suas relações com a qualidade de vida e o futuro da humanidade.

No Brasil, o precursor do Jornalismo Científico foi José Reis que, durante

mais de meio século (1947-2002), escreveu regularmente para a Folha de São

Paulo. Juntamente com outros profissionais, deu uma contribuição relevante ao

jornalismo e a divulgação científica, bem como à ciência nacional, destacando-se

como importante pesquisador.

O Jornalismo de Ciência vem crescendo e se profissionalizando em nosso

país. Nos últimos anos percebemos um aumento considerável no número de

publicações e no espaço dedicado à Ciência nos jornais e revistas de circulação

nacional. Neste contexto, as universidades brasileiras têm uma grande parcela de

contribuição, pois muitas delas realizam congressos e seminários, criam agências

de notícias científicas, enfim, estimulam os futuros profissionais do Jornalismo.

O nosso interesse pelo Jornalismo Científico justifica-se pela repercussão e

notoriedade conquistada pelo tema nos últimos tempos em nosso país. Além

disso, trata-se de um campo pouco estudado na Paraíba, que ainda não consta na

grade curricular do curso de Jornalismo da UFPB.

A escolha pela forma monográfica de construção deste projeto experimental,

deveu-se ao entendimento de que este é o formato mais adequado para expressar

as teorias e o vasto conteúdo que envolve o Jornalismo de Ciência, sobretudo na

mídia impressa.

As amostras para nossa pesquisa foram recolhidas dos jornais Folha de São

Paulo e Correio da Paraíba. Ambos possuem tradição e credibilidade em suas

regiões, são líderes de venda em seus respectivos estados e publicam cadernos

com matérias envolvendo o Jornalismo Científico. No decorrer deste trabalho

apresentaremos um pouco da história dos jornais citados, comprovando os

motivos pelos quais foram escolhidos.

Em nossa avaliação, o tema é de grande relevância para a sociedade

brasileira, visto que o conhecimento sobre as inovações aqui produzidas pode

suscitar reflexões sobre a política científica e tecnológica que desejamos para o

Brasil, para o Nordeste e para a Paraíba, hoje e nos próximos anos. Ou seja, pode

originar uma discussão ampla e mais elaborada sobre este processo produtivo e

suas implicações sociais.

O objetivo principal desta pesquisa é produzir uma análise comparativa entre

suplementos de Jornalismo Científico, veiculados nos jornais Folha de São Paulo

e Correio da Paraíba em 2006. Como objetivos secundários, temos: apresentação

do Jornalismo Científico realizado pelos jornais acima citados; análise da

qualidade editorial de seus suplementos sobre C&T; estabelecimento de

semelhanças e diferenças entre os cadernos científicos; comprovação da

importância deste tipo de Jornalismo para a comunidade científica e a sociedade

como um todo.

A partir da definição do nosso objeto de pesquisa, dividimos o trabalho em

duas partes. Na primeira, apresentamos informações gerais sobre o Jornalismo,

tais como: conceitos elaborados por diversos autores e seu desenvolvimento no

Brasil e no mundo. Ainda neste item, caracterizamos o Jornalismo de Ciência,

mostrando suas funções, objetivos, história e desafios.

Na segunda parte, trazemos dados históricos sobre os veículos de

comunicação pesquisados - Folha de São Paulo e Correio da Paraíba - e seus

respectivos cadernos científicos, de acordo com os objetivos específicos traçados

para o desenvolvimento da pesquisa. Também apresentamos nesta etapa os

procedimentos metodológicos e as análises do material escolhido.

E, finalmente, delineamos mais algumas considerações a respeito da

magnitude do Jornalismo Científico em meio ao campo da comunicação e do

jornalismo impresso na sociedade brasileira atual. O estabelecimento de novos

paradigmas e níveis de conhecimento para os leitores de jornais diários, fruto da

evolução contínua na transmissão das informações sobre a ciência moderna.

PARTE I 1. NOÇÕES PRELIMINARES 1.1 Fundamentos do Jornalismo 1.1.1 Definições e teorias gerais do Jornalismo

Ao examinarmos livros que possuem como tema o Jornalismo, observamos

que alguns deles nem se preocupam em fornecer uma conceituação clara ao

leitor. Por outro lado, a maioria apresenta definições que variam de acordo com o

enfoque de cada pesquisa.

Em linhas gerais, o Jornalismo é tratado como atividade profissional que

possui a notícia como matéria-prima, fundamento e objetivo de sua produção

diária, a partir dos elementos básicos envolvidos no processo de comunicação:

emissor, mensagem e receptor. Também é definido como uma profissão principal

ou suplementar das pessoas que reúnem, detectam, avaliam, e difundem as

notícias, ou que comentam sobre os acontecimentos contemporâneos, seguindo

critérios diversos.

Dines (1996, p. 48) afirma que o Jornalismo “é a busca de circunstâncias

novas”, sobretudo os periódicos de circulação massiva. “O Jornalismo diário é um

processo conjunto a interligar cada edição. A qualidade e as características de um

jornal são contínuas e superam a barreira das 24 horas” (Idem, p. 52).

Nos escritos de Jobim (1992, p. 32) é apresentado um conceito próximo da

noção básica de História. De acordo com ele, Jornalismo é “o passado mais

recente, o passado imediatamente anterior a hoje, o passado de ontem. Embora o

que provavelmente vai acontecer amanhã, no futuro mais próximo, seja também

Jornalismo”.

A investigação e a difusão - características de nossa atividade profissional -

são introduzidas por Carvalho & Martins (1990, p. 11), ao dizerem que o

Jornalismo é “a descoberta de onde estão às notícias, as novidades, e contá-las

às pessoas interessadas, usando para isso o jornal impresso, o rádio ou a

televisão”.

Como vimos até aqui, os conceitos de Jornalismo são numerosos e, além

disso, variam de acordo com o enfoque de cada pesquisador. Porém, ao assumir

a condição de ciência, toma contornos acentuados e bem visíveis, podendo,

assim, ser definido como o estudo do processo de transmissão de informações,

através de veículos de difusão coletiva, com características específicas de

atualidade, periodicidade e universalidade.

1.1.2 Gênese e evolução mundial do “periodismo”

A invenção da prensa de tipos móveis (prensa tipográfica) ocorreu em 1436,

segundo os escritos de Romero (1979), pelo alemão Johannes Gutenberg. O fato

impulsionou a criação dos primeiros jornais impressos. Portanto, esta criação é

mencionada ao longo do tempo como a semente que deu origem ao Jornalismo. E

foi a partir desta época que as informações e o conhecimento começaram a ter

uma divulgação de forma sistemática, para um grande número de leitores. Desde

então, a imprensa passou a ser considerada uma das maiores invenções da

humanidade.

Na primeira metade do século XV, época em que Gutenberg implantava os

tipos móveis na Europa, o mesmo fato acontecia no Extremo Oriente. Antes disso,

tudo era escrito a mão, e por este motivo nunca chegou a existir de fato um jornal.

Se não surgisse a impressão com tipos móveis, teria surgido em seu lugar outro processo de fácil divulgação dos escritos, pois foi a necessidade dessa divulgação, impulsionada pela inquietude intelectual e artística, na aurora da Renascença, que levou Gutenberg a descobrir a imprensa. (JOBIM, 1992, p. 70)

Os estudos de Albert & Terrou (1990, p. 4) revelam que “ao inventar em

Estrasburgo, no ano de 1438, a tipografia, que se difundiu com muita rapidez na

segunda metade do século XV, Gutenberg permitiu a reprodução rápida de um

mesmo texto.” Contudo, apenas no final do século XV as primeiras folhas

noticiosas (folhas volantes) apareceram na Europa, utilizando a prensa para

produzir informação. Relacionavam-se aos acontecimentos particulares e não

tinham edições constantes. De acordo com Pacheco (2004, p. 15), foi nesta época

que surgiram as gazetas, “folhas de notícias que relatavam acontecimentos

importantes da atualidade. Os pasquins, surgidos depois, falavam de

acontecimentos sobrenaturais, crimes, catástrofes, etc.”.

No século XVI, despontaram as folhas de caráter opinativo, denominadas

libelos, que tratavam de polêmicas religiosas e políticas. Até que no século XVII,

juntamente com a intensificação do comércio, surgiram os primeiros jornais e

revistas de notícias regulares.

As primeiras revistas foram: Avisa-Relation Oder Zeitung e Relation,

impressas em Wolfenbuttel e Strassburgo, respectivamente, no ano de 1609. Já o

primeiro jornal semanal teria surgido em 1607, na cidade de Amsterdã. Enquanto

o primeiro jornal de circulação diária (Leipziger Zeitung) teria aparecido na

Alemanha, em 1660 – de acordo com Romero (1979).

Segundo Bertol & Frosi (2004), durante o século XIX, a produção e

distribuição de notícias adquiriram aspecto diferente, configurando-se como

indústria jornalística. Foi um marco divisório para a imprensa mundial, pois nesse

período aconteceram grandes inovações nos jornais, como por exemplo: a

diversificação dos temas em categorias, o aumento das tiragens, entre outras.

Além disso, a população foi alfabetizando-se, criando, deste modo, um mercado

consumidor em constante expansão.

No século XX o Jornalismo experimentou uma fase de crescimento

vertiginoso, sobretudo no continente europeu. Devido às novas tecnologias de

produção e difusão do conhecimento, foi possível atingir um número muito maior

de pessoas ao redor do planeta. Nesta época surgiram as grandes corporações

midiáticas, buscando a cada dia transformar notícias em negócios, informações

em produto, público em consumidor.

E, finalmente, neste início do século XXI, o "cybermundo" consolidou a

transformação do modo de produção jornalística - com as notícias em tempo real,

"ao vivo" de qualquer lugar do planeta, a partir de alguns clicks em portais da

Internet. Aliás, as constantes alterações produzidas pela revolução informática

serão percebidas durante muitas gerações, seja no domínio sócio-econômico-

cultural, ou nos domínios da política e religião.

1.1.3 A chegada do Jornalismo ao Brasil

Da Europa, a imprensa foi exportada para as colônias em todo o mundo,

chegando ao Brasil com a família real. Entretanto, verifica-se um espaço de 308

anos entre a conquista do território e a instalação da imprensa no País (em 31 de

maio de 1808), quando Dom João fundou no Rio de Janeiro a Imprensa Régia.

O primeiro jornal brasileiro começou a circular em 10 de setembro de 1808. A Gazeta do Rio de Janeiro era um jornal de quatro páginas e se constituía um órgão oficial da administração portuguesa. Antes da Gazeta, porém, em 1º de junho de 1808, em Londres, Hipólito José da Costa tirava a primeira edição do Correio Brasiliense. Este era mensal, com 72 a 140 páginas e chegava ao Brasil escondido. Seu conteúdo era doutrinário, defendendo as idéias liberais e o abolicionismo, desagradando, assim, os interesses portugueses. (BERTOL & FROSI, 2004, p. 05)

Porém, de acordo com Melo (1973), existiam outros motivos para o atraso na

chegada da imprensa ao território brasileiro, já que em outras de suas colônias, os

portugueses até contribuíram para essa implantação. Os fatores sócio-culturais,

tais como: o analfabetismo das populações indígenas, a ausência de escolas ou

universidades, já que a natureza da colonização foi exploratória; e até mesmo os

setores burocráticos do governo eram precários e não necessitavam de

impressão. Ou seja, nada justificava qualquer investimento português em

imprensa, muito menos em jornalismo.

Além disso, o comércio e a indústria eram atividades embrionárias ou

inexistentes e, ainda, havia a questão da censura, imposta por todas as

metrópoles absolutistas da época à suas colônias.

A implantação da imprensa não constituiu uma iniciativa isolada, mas

vinculou-se a um complexo de medidas governamentais capazes de proporcionar

o apoio infra-estrutural para a normalização das atividades da Coroa Portuguesa,

aqui instalada de modo provisório. Por este motivo, somente com a mudança do

governo e da família real para o Brasil, as atividades culturais, o comércio e até a

burocracia governamental exigiam que fosse instalada a imprensa.

Enfim, a trajetória do Jornalismo Brasileiro no século XIX foi marcada pela

construção de uma nova cultura política. De jornais meramente opinativos e

bajulatórios da corte, passamos ao jornalismo partidário, engajado nas lutas

sociais. Surgiram então jornais abolicionistas, reforçando a função ideológica e

partidária que o jornalismo assumia naquela época. A abolição da censura prévia

por Dom Pedro I, em 1821, foi vital neste contexto. Logo depois, surge a primeira

versão da Lei de Imprensa, promulgada no ano de 1823.

Os jornais empresa do início do século XX também fizeram história no Brasil.

Este período foi marcado por iniciativas pioneiras na área do ensino da

comunicação, sobretudo, em função das mudanças pelas quais passava a

imprensa, evoluindo então para uma fase industrial, principalmente nas capitais do

país. O Brasil passava por transformações políticas, sociais e econômicas, e a

modernização viria a transformar o cenário urbano.

Em 1918, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), preocupada com o

preparo de profissionais, tentou criar aquela que seria a primeira Escola de

Jornalismo do país, baseada nos moldes das organizações norte-americanas.

Mas foi só em 1935 que funcionaria, na Universidade do Distrito Federal, o

primeiro curso superior de Jornalismo.

Durante o “Estado Novo”, a imprensa brasileira sofreu duros golpes. O pior

deles foi o surgimento da censura - a partir de 1939 - estruturada pelo

Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Porém, a expansão industrial do

jornalismo não foi interrompida, pois os recursos governamentais empregados na

publicidade dos atos oficiais beneficiaram os meios de divulgação.

Em 1945, a nação pôs um fim na ditadura. Foram abolidos os instrumentos

de opressão e a imprensa readquiriu sua plena liberdade. Anos depois, em 1953,

o governo criaria uma nova Lei de Imprensa.

O autoritarismo implantado pela ditadura, a partir de 1964, obrigou nossa

imprensa a publicar apenas “notas oficiais”. As redações funcionavam sob o clima

de tensão e a maioria dos jornalistas se permitia acrescentar apenas uma cabeça

ou lead às notícias que chegavam.

O sistema midiático brasileiro, como hoje o conhecemos, foi configurado e consolidou-se na década de 70. Esse período, que se inicia com o AI-5 e o lançamento do Pasquim irá se encerrar com a anistia e a greve dos jornalistas. As experiências jornalísticas do período são exemplares. É a época que O Estado de São Paulo publica “Os Lusíadas”; Veja lança uma edição sobre torturas; surge Opinião,

Movimento e outros jornais da imprensa alternativa. Enquanto a censura se abranda, os jornais se amoldam. A experiência mais rica, indiscutivelmente, é a reforma da Folha de São Paulo, conduzida por Cláudio Abramo. A crise da Veja é sintomática, mas permite o lançamento de Istoé e – pouco depois – da experiência frustrada do Jornal da República. Nesta década, temos a ditadura pura, a distensão e os primórdios da abertura. 1

No começo dos anos 80, o Jornalismo brasileiro ampliou sua ação de

contraponto à "agenda oficial", introduzindo valores e técnicas para nortear seus

textos, tais como: a investigação, a denúncia, a pluralidade informativa, a

informação conscientizadora, a relevância sócio-comunitária; enfim, despertando

nosso povo para os tempos de mudança.

A partir dos anos 90, observa-se um aprofundamento da subordinação do

Jornalismo à lógica capitalista. Por outro lado, a mídia passa a participar cada vez

mais da vida política do País, através de investigações e denúncias. O processo

de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo, por exemplo,

demonstrou a influência que os meios de comunicação nacionais podem exercer

sobre os jovens e toda a sociedade brasileira.

Com efeito, a história do Jornalismo no Brasil reflete a própria situação do

País. Não há mais censura nem repressão do Estado, porém os interesses

comerciais de cada publicação, que na maioria dos grandes veículos são omitidos,

prevalecem – em alguns casos – em detrimento a informação. ______________ 1 GENTILLI. O jornalismo brasileiro nos anos 70, in: www.ufrgs.br/gtjornalismocompos/doc2001/gentilli2001.rtf (acesso em 23/04/06) ....................................................................................................................................

............................ 1.2 Jornalismo Especializado em Ciência

Para entendermos melhor os conceitos relacionados ao Jornalismo

Científico, é conveniente uma introdução sobre o Jornalismo Especializado. Nos

escritos de Mesquita (1984, p. 178), encontramos a seguinte definição:

“Jornalismo Especializado é aquele que traduz todos os ramos do conhecimento

de forma técnica, com respaldo em sofisticadas sistematizações informativas que

sofrem constantes mutações”.

Portanto, a técnica empregada na construção das notícias e a

sistematização do conteúdo apresentado ao público são pontos-chave neste

contexto. Para Erbolato (1981), o Jornalismo Especializado compreende todas as

seções ou páginas diversas de um jornal. Com seu desenvolvimento, o público

leitor passou a ser considerado de acordo com sua especificidade, isto é, seus

interesses informativos. Como resultado deste fenômeno, houve o surgimento de

tipos especializados de Jornalismo, organizados em editorias como: economia,

cultura, esportes, ciência, entre outras.

A definição de Erbolato é complementada por Pacheco (2004, p. 20), ao

assinalar que: “o Jornalismo Especializado além de promover o intercâmbio de

informações e conhecimentos relativos à determinada atividade, contribui para o

crescimento e aprimoramento desta”.

1.2.1 Diferenças conceituais

De forma resumida, podemos dizer que Jornalismo Científico é a interface

entre a ciência – sua produção, seu funcionamento e suas aplicações – e o

público em geral. Melo (1973, p. 24), chama a atenção para o alcance do conceito,

dizendo que:

É um processo social que se articula a partir da relação (periódica/oportuna) entre organizações formais (editoras/emissoras) e coletividades (públicos/receptores), através de canais de difusão (televisão, rádio, cinema, jornal, revista) que asseguram a transmissão das informações (atuais) de natureza científica e tecnológica em função de interesses e expectativas (universos culturais ou ideológicos).

Ou seja, o Jornalismo Especializado em Ciência deve estar sempre

conectado com as características gerais do Jornalismo: atualidade, universalidade,

periodicidade e difusão.

Neste momento faz-se necessária uma diferenciação entre Divulgação

Científica e Jornalismo Científico. Embora estejam muito próximos não

correspondem à mesma coisa, apesar de certos autores discordarem. Pode-se

dizer que ambos se destinam ao “leitor comum”, e têm a intenção de democratizar

as informações (pesquisas, inovações, conceitos de ciência e tecnologia), mas a

primeira não é jornalismo.

O que distingue o Jornalismo Científico da Divulgação Científica é meramente uma questão de objetivo com relação ao comunicador da mensagem. (...) Não é o objetivo do comunicador ou mesmo o tipo de veículo utilizado, mas, sobretudo, as características particulares do código utilizado e do profissional que o manipula. (BUENO, 1985, p. 20).

Para Erbolato (1981), fazer Jornalismo de Ciência é levar as descobertas

científicas ao conhecimento da sociedade, de forma acessível, correta e sem

desvio da verdade. Por sua vez, a Divulgação Científica não deve fugir às regras

gerais de redação, necessitando apresentar-se com clareza e eliminar, sempre

que possível, a aridez do assunto com um toque de humor e graça.

O Jornalismo Científico também é definido como a especialização da

profissão jornalística nos fatos relativos à ciência, sobretudo no campo das

Exatas, Naturais e Biomédicas. Localiza-se nas proximidades da Comunicação

Científica e da Divulgação Científica, mas distingue-se destas, apresentando os

conteúdos científicos como notícias, produzidas por jornalistas e orientadas ao

grande público.

Na concepção de Burkett (1990), a prática do JC envolve duas definições. A

primeira designa-o como a divulgação de uma série de eventos científicos feitos

por cientistas. A segunda define-o como um meio de divulgação através do qual a

ciência e a medicina tenta abrir novos horizontes em seus campos.

Os aspectos práticos ficam mais claros em Erbolato (1981, p. 47), quando

afirma que o Jornalismo Científico pode ser desenvolvido de várias maneiras, tais

como: “editoriais, reportagens e entrevistas, podendo ainda o redator

especializado apresentar suas matérias em forma de flashs ou complementá-las

com desenhos e fotografias”.

Um outro tipo de divulgação que merece ser caracterizada é a Disseminação

Científica. Tem como público-alvo os especialistas, isto é, os próprios

pesquisadores e cientistas.

A Disseminação Científica manifesta-se nas revistas científicas, nos

materiais (comunicações, pesquisas e ensaios) apresentados em eventos

científicos e assim por diante. Logo, Jornalismo Científico, Divulgação Científica e

Disseminação Científica são conceitos diferentes e revelam amostras variadas do

processo de difusão de conhecimento sobre ciência e tecnologia.

1.2.2 Funções e objetivos do Jornalismo Científico

Na tentativa de caracterizar o Jornalismo de Ciência, alguns profissionais e

estudiosos da área estabeleceram suas funções e objetivos, que vão além do

nível técnico e revelam a essência da atividade.

Melo (1973), entende que essa atividade deve ser principalmente educativa;

dirigida à grande massa; promovendo a popularização do conhecimento das

universidades e centros de pesquisa; com uma linguagem acessível aos cidadãos

comuns; despertando, assim, interesse pelos processos científicos, e não apenas

pelos fatos isolados. Deve ainda discutir a política científica, incentivar os jovens a

buscar conhecimento e promover a educação continuada dos adultos.

Bueno (1985, p. 424) ressalta que as funções básicas do JC são:

informativa, educativa, social, cultural, econômica e político-ideológica. Defende

que os jornalistas que cobrem ciência e tecnologia dêem mais atenção aos

aspectos políticos embutidos nas ações de cientistas e governantes. Segundo o

autor, “como está estruturado atualmente, o Jornalismo Científico funciona como

instrumento de dominação”. Também se refere à transferência de tecnologia

estrangeira para o Brasil, que dificultaria a implantação de uma política científica

nacional. E complementa dizendo que:

A função do Jornalismo Científico, ou Jornalismo de Ciência como preferem alguns, é trazer à compreensão da sociedade quais as relações entre os acontecimentos, de forma a se oferecer inteligibilidade possível sobre ocorrências do cotidiano. (BUENO, 1985, p. 424)

Ao comparar os objetivos ideais do Jornalismo Científico, com aqueles

exercidos no país, outros pesquisadores também apontaram falhas no modo como

a ciência e a tecnologia são divulgadas. Para efeito de estudo, eles denominaram

o problema como “disfunções do Jornalismo Científico”, derivadas de obstáculos

encontrados pelos profissionais no cumprimento do dever.

As disfunções são identificadas pelo “almanaquismo”, que seria a tendência de reduzir as informações científicas e tecnológicas a meras curiosidades sobre a ciência, tais como registros de recordes e até piadas; pela ausência de uma mensagem didática em muitas matérias; pelo pouco respeito à exatidão científica, tanto na elaboração de um conceito quanto na apresentação de uma cifra ou medida; pela atenção desproporcional aos elementos secundários de uma informação científica, com o objetivo de aumentar a possibilidade de impacto junto aos leitores, e pela superficialidade, falta de documentação, improvisação e atropelo no aproveitamento das fontes. (HERNANDO apud. BUENO, 1985, p. 425)

Para realizar de fato um serviço educativo, o JC deve ser aperfeiçoado pelos

profissionais, com a utilização de instrumentos mais eficientes. Desta forma

estarão contribuindo para o desenvolvimento dos campos tecnológico, econômico,

social, educacional e cultural; diminuindo a dependência em relação a outros

países; colocando a ciência e tecnologia, a serviço de ideais humanistas;

conscientizando o público sobre as implicações de determinadas técnicas ou

políticas científicas; dando destaque para a crítica dos aspectos relacionados com

a preservação do meio ambiente e da qualidade de vida.

..........................................................................................................................

......................................

1.2.3 Origens do Jornalismo de Ciência

Sobre esta questão existem algumas controvérsias, devido aos conceitos

mencionados anteriormente. Alguns estudiosos afirmam que o Jornalismo

Científico apareceu no início do século XVII, quando foram fundadas as grandes

sociedades científicas, como a Royal Society, de Londres, e as academias

científicas, como as de Paris, Berlim e São Petersburgo.

Hernando (1970) concorda com essa versão, que aponta como jornal mais

antigo de divulgação científica o Philosophical Transactions, publicado a partir de

1665 pela Royal Society. Inclusive, esta comunidade é considerada como marco

inicial para os encontros de cientistas e especialistas. Ou seja, a partir dela, a

ciência passou a configurar-se como uma atividade social organizada.

Numa época em que os cientistas enfrentavam a censura da Igreja e do

Estado, Henry Oldenburg, secretário da Royal Society, estabeleceu precedentes

de cientistas funcionando como editores de periódicos da sociedade científica e

para publicações em vernáculo.

Ainda de acordo com Hernando (1970), logo após a publicação de

Philosophical Transactions, foi lançado London Gazette (1666) e, anos mais tarde,

Acta Eruditorum (1682), este último em Leipzig, Alemanha, em seguida à criação

da sociedade científica Academia Naturae Curiosum. Ele considera também a

Gazette de France como um dos primeiros períodicos a publicar ciência.

Contudo, vimos que divulgação científica é uma coisa e Jornalismo Científico

é outra, um caso a parte neste contexto. Portanto, ficamos com a teoria de que o

JC desenvolveu-se ao longo do tempo juntamente com os periódicos em geral,

como apresentamos anteriormente.

Já no século XX, as duas guerras mundiais contribuíram para o avanço do Jornalismo Científico na Europa e Estados Unidos. A aproximação entre cientistas e jornalistas resultou em um aumento da cobertura, porque por ocasião das guerras se destacaram as ciências. (PACHECO, 2004, p. 26)

Outro marco histórico do Jornalismo de Ciência foi à chegada do homem à

Lua, em julho de 1969. Porém, de acordo com Burkett (1990), foi mais

especificamente a partir da década de 80 que se observou uma explosão do

Jornalismo Científico em todo o mundo, inclusive no Brasil. Foi nesta época que

os principais jornais do país criaram editorias específicas para a ciência.

O pioneiro foi o Jornal do Commercio, da cidade do Recife-PE, que em junho

de 1989 instituiu a Editoria de Ciência/Meio Ambiente, um espaço diário dedicado

à cobertura de ciência, tecnologia e meio ambiente.

Por outro lado, é importante registrar que os primeiros jornais brasileiros já

publicavam matérias relacionadas à ciência, tais como O Patriota, em 1813; O

Nictheroy, em 1836; e O Guanabara, em 1850. Segundo historiadores, o Correio

Braziliense - primeiro jornal a circular no país (de 1808 a 1822) - já trazia em suas

páginas uma seção sobre ciências. O problema é que não existia a periodicidade

necessária para configurá-los como precursores do JC nacional. Por este motivo,

Amaral (1986, p. 107), afirma que “só depois dos primeiros transplantes em São

Paulo, pela equipe do Dr. Jesus Zerbini, é que alguns jornais brasileiros

despertaram para a ciência”.

Apesar de algumas divergências, pode-se dizer que nosso país possui certa

tradição no Jornalismo Científico. Inclusive, contamos com alguns pesquisadores

históricos, como o Prof. Dr. José Marques de Melo, que já percebiam

manifestações desta modalidade de Jornalismo no século XIX, em Hipólito da

Costa, fundador do Correio Braziliense.

Contudo, o educador e jornalista José Reis é apontado como precursor do

Jornalismo Científico no Brasil. Durante mais de meio século escreveu

regularmente para a Folha de São Paulo e juntamente com outros profissionais,

deu uma contribuição relevante ao Jornalismo e a Divulgação Científica, bem

como à ciência nacional, destacando-se como pesquisador.

Embora algumas iniciativas isoladas tenham pontuado aqui e acolá, apenas

recentemente a Academia descobriu a importância do JC e dedicou a ele espaço

merecido nos cursos de Jornalismo. Para se ter uma idéia, há pouco mais de duas

décadas, era defendida no Brasil a primeira tese sobre Jornalismo de Ciência

numa universidade. Uma novidade porque, àquela época, já se praticava por aqui

o Jornalismo Científico, com grande competência, inclusive, mas existiam poucos

estudos e pesquisas sobre o tema. 2

Na verdade, a exceção era mesmo a Escola de Comunicações e Artes

(ECA) da USP, onde, por iniciativa do professor José Marques de Melo, chefe do

Departamento de Jornalismo e Editoração, se promoveu o primeiro curso de

especialização na área, sob a responsabilidade de Calvo Hernando, um dos

patronos do JC ibero-americano. Desde então, a USP mantém o Núcleo José Reis

que promove, sistematicamente, cursos; edita publicações e realiza pesquisas em

Jornalismo Científico. José Reis também é o nome de um concurso nacional para

premiar iniciativas na área do Jornalismo e Divulgação Científica.

É possível afirmar que estamos num momento importante de transição e que

a tendência é o crescimento irreversível da presença do Jornalismo Científico na

universidade brasileira. Este espaço na Academia é fundamental porque permite

uma reflexão mais aprofundada sobre a prática do Jornalismo de Ciência, ao

mesmo tempo em que contribui para despertar novas vocações. Atualmente, em

função desta parceria mercado X universidade, o JC brasileiro ocupa posição

importante no cenário internacional e, com a Internet, tende a crescer,

consideravelmente, nos próximos anos.

Os grandes veículos de comunicação já praticam o JC na rede mundial, com

destaque para os jornais: O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo,

Jornal do Brasil, Jornal do Commercio, dentre muitos outros.

______________ 2 COMTEXTO COMUNICAÇÃO E PESQUISA. Jornalismo Científico é pauta na Academia,

in: www.jornalismocientifico.com.br (acesso em 30/03/06)

Temos ainda sites especializados, como o jornal eletrônico Comciência,

vinculado ao Labjor/Unicamp; o site Ciênciapress, da bióloga e divulgadora

científica Glória Malavoglia; o Portal do Jornalismo Científico, coordenado pelo

professor Wilson da Costa Bueno; o Infociencia.Net, dirigido pelo pesquisador

Marcelo Sabbatini; além do Observatório da Imprensa, que sempre traz ótimos

artigos.

E finalmente, não podíamos deixar de mencionar o trabalho desenvolvido

por algumas entidades, que buscam o engrandecimento e valorização do JC no

Brasil. Entre elas temos: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), a Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC) e a

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (Intercom).

Com efeito, existe uma esperança renovada na Divulgação Científica e no

Jornalismo de Ciência, para que possam, em breve, reivindicar um espaço e um

tempo mais generosos na mídia brasileira. Há também outros desafios além dessa

presença maior, mas, certamente, eles serão paulatinamente vencidos. A seguir,

faremos algumas colocações a este respeito.

1.2.4 Desafios do Jornalismo Científico

O Jornalismo Científico encontra-se num estágio importante, de reflexão

sobre sua função social por diferentes esferas da sociedade. O êxito da

participação dos cientistas brasileiros no Projeto Genoma, colocou a ciência

brasileira em evidência no cenário internacional.

No entendimento de Hernando (1970), o grande desafio do divulgador

científico ou do jornalista científico é a busca contínua pela harmonia entre ciência

e compreensão popular. O jornalista precisa ter conhecimento sobre as grandes

questões da ciência e os cientistas, por sua vez, devem perceber os problemas

pelos quais passa o informador na hora de realizar seu trabalho.

A previsão vem se confirmando, pois os jornalistas começam a preocupar-se

em melhorar o desempenho e ocupar o lugar de intérpretes da política científica e

tecnológica do país, abandonando a posição de meros tradutores da produção em

C&T. Para isso, estão buscando aperfeiçoamento em cursos de extensão e pós-

graduação. Os cientistas, por sua vez, percebem finalmente a relevância da

divulgação de sua produção e procuram, ainda que timidamente, entender a

necessidade de cooperação com os jornalistas.

Sem dúvida, passamos por uma etapa de mudanças na relação entre

cientistas e jornalistas, em que ambos têm muito a aprender. A perspectiva é de

um trabalho de parceria para melhorar a qualidade da divulgação, que não deve

se limitar aos saldos da produção científica, mas debater todo seu processo e

implicações sociais. Uma prova disso, é o número cada vez maior de jornalistas

científicos convocados para falar a grupos de cientistas sobre o processo de

produção da informação; e os cientistas, pela primeira vez, colocam-se na posição

de espectadores atentos.

As barreiras que a crise da educação brasileira impõe ao Jornalismo

Científico devem ser percebidas como desafios a serem vencidos em nome da

cidadania. Em nenhum momento da nossa história, divulgar C&T foi mais

importante. Porque a ciência e a tecnologia jamais afetaram tão profundamente a

vida dos cidadãos.

Os desafios do jornalismo científico no século XXI não são pequenos. Simplesmente porque a eles se vinculam interesses poderosos, situados nos campos da ciência e da indústria da comunicação. Cabe ao jornalista estabelecer parcerias, mobilizar consciências, consolidar a sua competência informativa, munir-se de coragem e espírito crítico para enfrentá-los. 3

Portanto, os principais desafios do Jornalismo de Ciência são: a relação

entre cientistas e jornalistas; a interpretação da política científica e tecnológica do

país; a quantidade e qualidade de cobertura da ciência na mídia brasileira; a

difusão e divulgação das notícias; os critérios da publicidade nos jornais (matérias

pagas); e a formação de um maior número de especialistas.

______________ 3 BUENO. Os novos desafios do Jornalismo Científico, in: www.jornalismocientifico.com.br

acesso em 30/03/06

..................................................................................................................................................................

PARTE II 2. ANÁLISE COMPARATIVA DOS CADERNOS CIENTÍFICOS 2.1 Metodologia Os procedimentos metodológicos empregados na realização do presente

trabalho consideram os veículos impressos como espaços ideais para a

divulgação científica em sua plenitude. De modo sistematizado e planejado,

construímos estratégias necessárias para alcançar os resultados esperados,

durante o período de quatro meses para conclusão do estudo.

Sendo assim, iniciamos uma pesquisa para levantamento bibliográfico na

área do Jornalismo e do JC, assim como, a coleta de matérias científicas

publicadas nos jornais que escolhemos como objeto de estudo. Ao todo, foram

reunidas 54 edições da Folha e 14 do Correio. Em seguida, selecionamos 06

edições do caderno “Milenium”, publicado pelo jornal Correio da Paraíba, no

período de janeiro a junho de 2006 – sendo uma edição de cada mês. Do caderno

“Ciência”, escolhemos 12 edições, publicadas no mesmo período – sendo duas

edições de cada mês. A idéia foi trabalhar com a proporção 2:1 (dois para um),

visto que o “Milenium” possui um maior número de páginas.

Após a leitura, organizamos os dados levantados em fichamentos para

consulta, selecionando e anotando conceitos importantes. A seguir, realizamos

uma filtragem em todo o material acumulado.

Como suporte teórico, utilizamos também outros periódicos especializados

em Jornalismo Científico, que facilitaram a análise discursiva e o aprofundamento

no tema proposto. Além disso, levantamos informações complementares e

atualizadas (disponíveis na Internet), bem como, através de seus produtores:

entidades, jornalistas e pesquisadores.

Na etapa seguinte, realizamos uma série de comparações entre as

reportagens e seus respectivos canais de difusão, estabelecendo criticamente as

semelhanças e diferenças de ordem formal e editorial. Analisamos de modo

qualitativo os elementos de cada página dos jornais, segundo as hipóteses do

nosso trabalho, verificando a presença da ciência e tecnologia. Ou seja, nosso

trabalho adota inicialmente uma linha bibliográfica, documentando os fenômenos

no processo de construção dos textos jornalísticos de ciência.

E, finalmente, apresentamos a conclusão do nosso estudo, convergindo para

a importância da formação de uma opinião pública consciente e participativa,

através dos grandes veículos midiáticos, no papel estratégico da ciência e

tecnologia para o desenvolvimento do País.

2.1.1 Forma de composição: a monografia

A monografia é um tipo de trabalho acadêmico que se caracteriza pela

abordagem circunscrita a um só tema (linha de pesquisa), tratado com

profundidade, a fim de apresentar todo seu conteúdo. Em outras palavras, é o

tratamento escrito de um determinado assunto que resulta da interpretação

científica, com a intenção de produzir uma contribuição original e/ou relevante

para o campo científico do qual faz parte.

A monografia consiste de um estudo bem desenvolvido, formal, discursivo e concludente. É uma exposição lógica e reflexiva, seguindo uma estrutura metódica que inclui: Introdução, Corpo de Discussão e Conclusão. Redigida em linguagem objetiva sobre assuntos preciosos, acerca dos quais o autor tem a oportunidade de expor suas idéias e conclusões. (FERREIRA, 1994, p. 22)

Ferreira (1994, p. 22) complementa a definição através do significado prático

do trabalho, dizendo que: “a monografia se refere a uma forma de documento

elaborado para atender às exigências dos cursos de graduação ou mesmo de pós-

graduação lato sensu (especialização)”.

Por isso, além do rigor científico, são exigidas normas de estruturação do

texto, com citação de fontes, referências, formatações, assegurando-se, assim, a

credibilidade da pesquisa e a reputação do investigador científico. De acordo com

Lima (2004), a monografia resulta de um processo que se constrói com um

método (científico) e com a prática eficaz do estudo.

Com efeito, a monografia é resultado de um tratamento escrito e

aprofundado de um tema específico, de maneira dissertativa e analítica,

apresentando e discutindo novas idéias, como nos explica Alves (2003).

2.1.2 Tipos de pesquisas

Ao longo do nosso trabalho encontramos inúmeras classificações sobre tipos

de pesquisa. Cada uma traz consigo critérios e angulações diferenciadas,

produzindo, assim, subcategorias de classificação conceitual. Além disso, muitas

se apresentam como sinônimos umas das outras, variando de um autor para

outro. A seguir, apresentamos algumas e seus respectivos conceitos.

A categoria que apareceu em praticamente todas as obras consultadas foi a

que se refere ao objetivo da investigação. Segundo ela, existem três grandes

grupos: estudos formulativos, sistemáticos ou exploratórios; estudos descritivos e

estudos experimentais.

Outra classificação bastante utilizada pelos autores de Metodologia

Científica baseia-se nos procedimentos adotados ou na natureza do estudo. Sob

este ponto de vista, ocorrem duas categorias: pesquisas qualitativas, também

conhecidas como etnográficas e pesquisas quantitativas.

Segundo a finalidade, as pesquisas podem ser classificadas de duas

formas: estudo puro, fundamental ou básico e estudo operacional ou aplicado.

Abramo (1979) cita outros critérios classificatórios de pesquisas na área das

ciências humanas: segundo os campos de atividade humana ou os setores de

conhecimento; segundo a utilização dos resultados; segundo os processos de

estudo; segundo a natureza dos dados; segundo a procedência dos dados;

segundo o grau de generalização dos resultados; segundo a extensão do campo

de estudo; segundo as técnicas e os instrumentos de observação; segundo os

métodos de análise; segundo o nível de interpretação.

Enfim, de acordo com as principais classificações apresentadas, definimos a

nossa pesquisa como: qualitativa, porque nos preocupamos em todos os

momentos com o significado, o processo e as características que envolvem o

Jornalismo Científico; exploratória, pois partimos de um objeto de pesquisa

praticamente desconhecido; pura e fundamental, na medida em que estudamos

relações entre fenômenos típicos da produção jornalística impressa.

2.1.3 Universo e amostra

No mundo contemporâneo, o Jornalismo de Ciência ganhou novas formas e

aumentou sua visibilidade nos grandes veículos impressos de comunicação.

Sobre esta perspectiva, Amaral (1986, p 108) revela que em “comparação com o

ano de 1938, o número de jornalistas científicos nos Estados Unidos centuplicou.

Àquela época, só 11 repórteres cobriam a convenção da American Association for

the Advancement of Science” (Associação Americana para o Avanço da Ciência).

Hoje em dia, a oferta de profissionais especializados na área de C&T ainda é

inferior à demanda pretendida pelos grandes jornais norte-americanos. Por outro

lado, a formação acadêmica destes jornalistas evoluiu consideravelmente,

ocasionando um alto nível de valorização pelo mercado. Mais uma vez, a questão

educacional foi de grande importância.

Foi recomendado às universidades e institutos de ensino superior ibero-americanos, que ensinem Comunicação Social, incluindo nos seus planos de estudo o Jornalismo Científico e efetuando cursos de especialização, pós-graduação ou de doutorado na matéria. (ERBOLATO, 1981, p. 49)

Como vimos anteriormente, aqui no Brasil vários jornais importantes

publicam cadernos específicos sobre ciência, com matérias produzidas por

jornalistas, caracterizando, assim, a presença do JC nestes veículos de mídia

impressa. Dentre os principais, temos: O Estado de São Paulo, Folha de São

Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e Jornal do Commercio/PE (o pioneiro).

Para efeito do nosso trabalho, resolvemos estudar o Jornalismo Científico

produzido por dois jornais: a Folha de São Paulo, de circulação nacional; e Correio

da Paraíba, líder de vendas em nosso Estado. Logo, estes periódicos compõem

nosso “universo de pesquisa”, definido em Ciências Sociais a partir de um tema,

do contexto (abrangência) em que se encontra inserido, dos subconjuntos

(amostras) e do processo comunicativo pelo qual é expresso.

Para execução deste estudo escolhemos uma amostra não-probabilística,

por conveniência, composta por edições da “Folha Ciência” e do “Milenium”,

publicadas entre os meses de janeiro e junho de 2006.

A nossa intenção foi estabelecer uma análise crítica a partir da comparação

entre os dois suplementos científicos, observando a qualidade editorial;

estabelecendo semelhanças e diferenças de nível informativo; demonstrando o

valor deste tipo de Jornalismo para a comunidade científica (nacional e local) e

para a sociedade em que vivemos.

2.1.3.1 Folha de São Paulo: tradição e pioneirismo

A história da Folha teve início em 1921, com a criação do jornal Folha da

Noite. Em julho de 1925, começou a circular o Folha da Manhã, edição matutina

da Folha da Noite. A Folha da Tarde foi criada 24 anos depois. Resultado: no dia

1º de janeiro de 1960, os três títulos da empresa juntaram-se, dando origem ao

jornal Folha de São Paulo. 1

Em 1967, a Folha deu início à revolução tecnológica e modernização do seu

parque gráfico, que a colocaram na liderança da imprensa diária brasileira anos

mais tarde. O jornal foi pioneiro na impressão offset em cores e na utilização do

sistema eletrônico de fotocomposição, no ano de 1971.

No ano de 1976, a Folha desempenhou um papel respeitável no processo de

redemocratização do Brasil, quando abriu suas páginas ao debate de idéias que

fervilhavam em nossa sociedade. Em 22 de junho daquele ano, começava a

circular "Tendências/Debates", que trazia textos de intelectuais e políticos

perseguidos pelo regime militar. Apesar disso, não constam registros sobre

invasões policiais na redação do jornal durante este período.

Em 1983, a Folha tornou-se a primeira redação informatizada na América do

Sul, com a instalação de terminais de computador para redação e edição de texto.

No ano seguinte, implanta o “Manual da Redação”.

____________

1 FOLHA ON LINE. História da Folha, in: www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/historia_folha.htm

acesso em 11/04/06. Uma década depois, a Folha já era dona do maior parque gráfico da América

Latina para a impressão de jornais. Em 1994, se tornaria o primeiro jornal

brasileiro a ter um banco de imagens digital. Em agosto do mesmo ano, a Folha

investiu em uma política de fascículos encartados ao jornal. O primeiro fascículo

lançado, o “Atlas Folha/The New York Times”, foi recorde de tiragem e vendas na

história dos jornais e revistas do país (1.117.802 exemplares). Esse número fez

com que a Folha fosse citada duas vezes no Guinness Book - O Livro dos

Recordes de 1996, como primeiro jornal brasileiro a superar a tiragem de um

milhão de exemplares e jornal de maior circulação no Brasil. 2

Em julho de 1995, começou a funcionar a Folha Web, o serviço de notícias

do jornal veiculado pela Internet. Dois anos depois, a Folha obteve o certificado de

qualidade ISO 9002, do Bureau Veritas Quality International (BVQI), órgão

internacional escolhido para ser o certificador. O diploma foi resultante de um

programa implantado pela Folha em março de 1994, que contou com o apoio da

consultoria Croft & Croft, especializada em sistemas de qualidade.

Em dois de abril de 1998, a Folha passou a publicar semanalmente, com

exclusividade no Brasil, um suplemento em português da revista norte-americana

''Time''. Um ano depois, mais precisamente em seis de agosto de 1999, começou

a publicar uma compilação semanal de reportagens e artigos do Financial Times,

o mais respeitado jornal econômico da Europa.

No ano 2000, o Folha WAP, serviço que disponibiliza noticiário e serviços do

Folha Online para telefones celulares, entrou em operação. Foi o primeiro produto

desse tipo no Brasil.

Enfim, para conhecermos um pouco mais da grandiosidade deste jornal,

basta mencionar que o Centro Tecnológico Gráfico-Folha (CTG-F) é a maior

gráfica de jornais da América Latina (28 mil metros quadrados) e a única do país

capaz de imprimir uma edição em cores em todas as páginas.

____________ 2 FOLHA ON LINE. História da Folha, in:

www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/historia_folha.htm acesso em 11/04/06. 2.1.3.1.1 Folha Ciência: profissionalismo diário

A Folha de São Paulo tem uma longa trajetória na área do Jornalismo

Científico. Um dos seus profissionais mais célebres foi o educador e jornalista

José Reis, apontado como pioneiro do JC no Brasil. Durante mais de meio século

ele escreveu regularmente para a Folha - na coluna "Periscópio" - prestando,

assim, uma grande contribuição ao Jornalismo e a Divulgação Científica nacional.

Ao longo do tempo, vários editoriais da Folha revelaram as preocupações da

empresa com os destinos da ciência em nosso país, sobretudo no campo das

políticas científica e tecnológica e da preservação ambiental.

O caderno “Folha Ciência” teve sua primeira edição publicada, no dia 31 de

março de 1989, passando a circular sempre às sextas-feiras. Em 16 de fevereiro

de 1992 passou a integrar o caderno “Mais”, suplemento especial publicado pela

Folha aos domingos. 3

Nos dias atuais, a página sobre “Ciência” circula diariamente, de segunda a

sábado, acompanhada pelo caderno “Mundo”, que traz o noticiário internacional.

2.1.3.2 Correio da Paraíba: histórico de lutas

O jornal Correio da Paraíba foi fundado em 5 de agosto de 1953, por

Teotônio Neto. O primeiro diretor foi Afonso Pereira, escritor que batizou o

periódico. Segundo informa Araújo (1986), a periodicidade do Correio era

semanal, passando a ser diária após alguns meses, devido ao sucesso alcançado

entre os leitores paraibanos.

Desde que entrou em circulação, o jornal primou pela variedade de pontos

de vista e pela liberdade de expressão.

____________ 3 FOLHA ON LINE. Círculo Folha, in:

www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/cadernos_da_folha.htm (acesso em 11/04/06)

O último dia do governo José Américo, que tinha assumido em 1950, foi todo documentado pelo Correio. Matéria completa com o flash-back dos momentos mais decisivos da administração: a estiagem no interior paraibano, o crédito para a agricultura, o apoio às comunicações. (ARAÚJO, 1986, p. 288)

No ano de 1958, uma seca prolongada estampava as manchetes dos jornais

nordestinos. E o Correio não ficou de fora, dando apoio irrestrito ao combate

daquele mal que vinha fazendo diversas vítimas por toda região.

De acordo com Araújo (1986), durante toda a década de 60, um dos

períodos mais tenebrosos para a imprensa nacional, o Correio da Paraíba teve

uma atuação exemplar na cobertura dos acontecimentos. “Se não podia ‘gritar’,

também não se ‘encolhia’. Tampouco parecia estar à venda ou a serviço da

ditadura armada. Revendo suas coleções, sentimos que, até 1968, era o melhor

jornal da Paraíba (...)”. (Idem, p. 290).

Contudo, no início dos anos 70, a qualidade editorial do Correio entrou em

declínio; situação que perdurou por algum tempo. O diretor da época, Soares

Madruga, associou a queda no desempenho a fatores econômicos. Ainda nos

anos 70 o jornal passou a publicar trabalhos de escritores paraibanos, em

folhetins. Dois romances de Fernando Silveira: “O cangaceiro” e “A cabeça de

João Batista”, foram publicados desta forma pelo Correio. Mas nem tudo eram

flores, pois o jornal passava por sérias dificuldades financeiras.

Mas apesar de tudo, na edição de 03 de julho de 1973, o jornal lança o

suplemento “Correio do Sertão”, que veio para prestigiar as notícias do interior da

Paraíba. A repercussão foi enorme em todo o Estado.

Nos anos 80 o Correio circula diariamente, com exceção das segundas-feiras. Aos domingos, traz a “Revista Nacional”, farto suplemento que circula em todos os Estados da Federação. Apesar de conservador, o Correio da Paraíba era um dos mais combativos jornais pessoenses, fazendo denúncias sérias através de suas páginas. Por conta disso, sofreu represálias, como o assassinato do sócio-proprietário Brandão, no dia 13 de dezembro de 1984. O crime caracteriza-se como mais um atentado à liberdade de imprensa; mais um massacre a jornalistas na Paraíba. (ARAÚJO, 1986, p. 295)

Os anos 90 são marcados pela entrada da nova equipe de editores, chefiada

pela jornalista Lena Guimarães. Com sua chegada, houve uma reformulação no

projeto editorial, dando origem a novos cadernos, tais como: “Homem”, “Mulher”,

“Milenium”, entre outros.

Na virada do século XX surgiram outros cadernos de informação, entre os

quais podemos citar: “Papo Cabeça”, “Religião” e “Mensagem de Deus para

Você”. Foi uma continuidade da segmentação do Correio da Paraíba.

2.1.3.2.1 Milenium: variedade semanal

O caderno “Milenium” teve sua primeira edição publicada em meados do ano

2000. Desde então, passou a circular aos domingos, trazendo 12 páginas com

muita informação e artigos científicos produzidos por pesquisadores locais. A

editoria estava sob a responsabilidade de Walter Galvão e as reportagens ficavam

a cargo de Chico Noronha (informação verbal) 4.

Com o passar do tempo e as mudanças no projeto editorial, o “Milenium”

teve que ser reduzido de 12 para 08 páginas e posteriormente passou de 8 para 6

folhas. A partir daí, passou-se a priorizar ainda mais a produção local, as

pesquisas desenvolvidas por cientistas paraibanos.

Nos dias atuais, o “Milenium” continua circulando nas edições dominicais do

jornal Correio da Paraíba. Sua equipe é composta pelos jornalistas: Jãmarri

Nogueira (editor), Hélder Moura (colunista de informática) e repórteres de outros

cadernos do Jornal, que colaboram produzindo reportagens especiais.

Segundo Nogueira (2006), o destaque proporcionado aos conteúdos

científicos pelo jornal Correio é enorme, visto que os leitores têm acesso as mais

importantes notícias internacionais sobre C&T, além das pesquisas brasileiras e

da Paraíba. Um fato que não é verificado com a mesma intensidade nos outros

jornais do Estado. “Não há nos concorrentes esta preocupação”, afirma o editor.

____________ 4 Informações fornecidas por Jãmarri Nogueira durante entrevista pessoal, em João Pessoa,

maio de 2006.

....................................................................................................................................................................

2.2 Análises e comparações

Para facilitar o entendimento, separamos algumas características básicas de

cada suplemento, organizadas em tópicos: tipos de matérias predominantes

(notícias ou reportagens); o espaço ocupado por estas, em relação ao conteúdo

publicitário; as principais fontes de informação.

Com o objetivo de evitar repetições, utilizaremos como sinônimos os termos:

caderno, suplemento e fascículo. Embora não representem com exatidão o

mesmo significado, possuem uma raiz semântica comum, no contexto do

Jornalismo impresso. Sendo assim, acreditamos que a compreensão desta análise

não será comprometida.

Em linhas gerais, a “Folha Ciência” organiza-se do seguinte modo: existe

uma reportagem principal – sempre produzida por um dos integrantes da equipe

de jornalismo da Folha – que pode vir sozinha, como na edição de 09/02/06 –

especial sobre a preparação do astronauta brasileiro Marcos Pontes – ou

acompanhada por notícias curtas, que gravitam em torno desta mais bem

elaborada. Um esquema semelhante também é verificado no “Milenium”, como

perceberemos adiante.

As notícias do “Milenium” ficam localizadas, em sua maioria, nas páginas

cinco e seis. As duas, por sua vez, também ficam reservadas para veiculação de

anúncios publicitários – geralmente ocupando meia página – juntamente com a

primeira folha do caderno, nas partes inferiores. Esse é o padrão gráfico seguido

pela editoria, que apesar de possuir mais espaço que o caderno “Ciência”, traz

menos peças comerciais. Chegam a ocupar, no máximo, 1/3 do “Milenium”, contra

¾ do caderno paulista.

O conteúdo estrangeiro sobre C&T – enviado por agências de notícias – é

utilizado com freqüência pela “Folha Ciência”. O suplemento recebe notícias da

“Reuters”, consulta as revistas “Nature” e “Science”, além dos jornais

“Independent” e “The New York Times”. Já o “Milenium”, tem como principal fonte

a Agência Folha, mas também recebe informações da Unicamp, Agência Notisa,

entre outras.

2.2.1 Análise da Folha Ciência

Antes de partirmos para considerações mais detalhadas, vamos apresentar

algumas características gerais sobre a “Folha Ciência”. Entre as 12 edições que

selecionamos, publicadas de janeiro a junho de 2006, observamos como ponto

básico o espaço ocupado pelo caderno de C&T na Folha de São Paulo. Ele

aparece logo após a “Folha Mundo”, que veicula as principais notícias

internacionais, diariamente. Esse fato pode ser interpretado como uma intenção

do jornal em classificar as descobertas e avanços científicos como “notícias

mundiais”, mesmo aquelas que resultam de pesquisas brasileiras. Ou seja, a

ciência é considerada universal, sem fronteiras, tão importante quanto as notícias

internacionais.

Na maioria das vezes, a “Folha Ciência” é formada por apenas duas

páginas: a primeira, traz notícias, fotos e ilustrações, produzidas pela equipe de

redação da Folha ou repassadas por agências internacionais de conteúdo, além

de anúncios publicitários que variam de tamanho a cada edição. A segunda é

reservada para anunciantes do jornal, que apresentam produtos e serviços em

toda extensão desta página.

Aliás, a parte publicitária da “Folha Ciência” é uma atração à parte, devido à

variação de espaço que é concedido aos anúncios de uma edição para outra. O

fenômeno varia entre extremos. Existem edições que não trazem publicidade na

primeira página do caderno, como verificamos nas edições de: 28/01/06; 09/02/06;

09/03/06; 06/04/06. Em outras, esta prática editorial chega a ocupar quase 90% da

primeira página do caderno, como foi o caso da edição de 24/02/06. Portanto, a

variação no espaço ocupado por anúncios, nas edições da “Folha Ciência”

selecionadas para pesquisa, fica entre ½ (metade do caderno) e ¾ (uma página e

meia).

Além dos anúncios, também aparecem em algumas edições, comunicados

oficiais de prefeituras e governos de estado. Nestes casos, o “anúncio oficial” não

possui o mesmo sentido utilizado pela publicidade. Ao contrário, aproxima-se de

um serviço de utilidade pública. De uma forma ou de outra, a presença deste tipo

de texto na “Folha Ciência” revela a credibilidade que o caderno possui junto ao

poder público.

O editor do caderno também produz matérias, com certa freqüência,

inclusive. Além dele, destacamos o trabalho dos jornalistas: Salvador Nogueira,

Reinaldo José Lopes e Marcelo Leite. Os conteúdos são veiculados com a clareza

necessária para que o “leitor comum” possa entender todo o conteúdo. Essa é

uma das características gerais do bom texto jornalístico, que deve ser

constantemente observada pelos profissionais que informam a respeito de ciência

e tecnologia.

Para auxiliar no quesito “clareza da informação”, a equipe da “Folha Ciência”

utiliza recursos como: intertítulos, caixas de texto (saiba mais), entre outros.

Porém, o destaque são as ilustrações e diagramas, especialmente desenvolvidos

para conferir maior riqueza de detalhes, tornando as reportagens mais atrativas

para o leitor - como vimos na edição de 28/01/06, na matéria “Tragédia da

Challenger completa 20 anos”.

Outra característica da “Folha Ciência” – que não ocorre no caderno

“Milenium” – é a constante presença de links para portais da Internet, relacionados

com as informações divulgadas nos textos, possibilitando aos leitores curiosos um

aprofundamento nos assuntos de C&T. Podemos citar várias edições que trazem

links: 09/03/06 – na matéria “Internet repatria obra clássica da botânica”; 06/04/06

– em uma notícia, intitulada: “Astronauta valeu o investimento, diz Lula em

conversa com Pontes”; 16/06/06 – na reportagem “Aves modernas surgiram na

água, indica novo fóssil”. Entretanto, a edição de 26/05/06 traz uma inovação: o

título de um artigo – “Interferência de RNA mata cobaias” – seguido pelo endereço

de website relacionado e uma fotografia ilustrativa.

A novidade não foi a única desta edição de 26/05/06, visto que, na última

semana do mês de maio, a Folha resolveu adotar um novo layout na parte

superior da primeira página dos caderno do jornal, inclusive modificando os títulos

de alguns deles. Foi assim que o caderno “Folha Ciência” passou a ser chamado

apenas de “Ciência”. A modificação no projeto gráfico foi realizada para facilitar a

leitura do jornal, através de iniciativas como o alinhamento à esquerda das

informações que orientam o leitor em cada suplemento, quanto ao título, data e

número da página. Essa característica vem sendo divulgada através do mais

recente anúncio televisivo da Folha.

A riqueza de temas ligados à ciência impressiona em algumas edições,

como verificamos na que foi publicada em 06/04/06, onde na mesma página

aparecem notícias relacionadas à: paleontologia, arqueologia e astronomia.

Na edição de 19/05/06, percebemos a preocupação do caderno “Ciência” em

aproximar uma informação específica, do universo conhecido pelo grande público.

O parágrafo inicial da reportagem “Garra revela velociraptor de Minas Gerais”, diz

o seguinte: “Uma só garra, de 5,5 cm de comprimento seria o suficiente para

confirmar que primos do sanguinário Velociraptor da série ‘Parque dos

Dinossauros’ habitaram Minas Gerais...”

O mesmo recurso aparece na edição de 26/05/06, na reportagem intitulada

“Capa da invisibilidade pode existir em teoria, revela estudo britânico”. A autora

inicia o texto dizendo: “Os fãs de ‘Harry Potter’ já podem ficar animados: a capa da

invisibilidade que permite ao bruxo andar incógnito por aí é algo que pode ser

obtido um dia...”

Nos dois casos, a intenção foi a mesma: prender a atenção do leitor sobre a

novidade apresentada, a partir da referência – no início dos textos – de uma

informação de domínio público, uma analogia. No caso, características de

personagens de filmes muito conhecidos, como: “Parque dos Dinossauros” e

“Harry Potter”.

A edição de 26/05/06 também se destaca por dois aspectos inusitados: a

publicação de um anúncio comercial exatamente no meio dos textos e a legenda

de uma fotografia utilizada como notícia, sob o título “Mudança de tempo”. Esse

procedimento passou a ser utilizado com a implantação do novo projeto gráfico,

adaptando os conteúdos para preencher melhor os espaços, aumentando,

consequentemente, a quantidade de notícias por página.

Por sua vez, a edição de 10/06/06 mostrou características inéditas: o

caderno “Ciência” veio ocupando três páginas da Folha; além disso, foi publicada

uma breve entrevista (nos moldes tradicionais). Todavia, o que chamou atenção

de verdade foi um gigantesco anúncio publicitário, que ocupava mais da metade

desta edição.

2.2.2 Análise do Milenium

O suplemento de ciência é publicado aos domingos no jornal Correio da

Paraíba e apresenta seis páginas por edição. São quatro edições por mês e

escolhemos para estudo um fascículo de cada – de janeiro a junho de 2006 –

totalizando, assim, 06 edições – dedicadas ao Jornalismo de ciência.

A principal característica que identificamos na amostra coletada, é a

presença de reportagens relacionadas à saúde na primeira e segunda página do

caderno. Das seis edições apreciadas, cinco trazem este tema como destaque,

através de matérias especiais, produzidas pela equipe do jornal. O fato pode ser

justificado pela funcionalidade das descobertas e o interesse do público acerca

deste tema, demonstrado através de telefonemas e correspondências para a

editoria. No processo de escolha dos temas que farão parte do caderno, sempre é

observada a relação: ciência / aplicação. É um atributo básico do Jornalismo

Científico, bastante perceptível no “Milenium”.

A matéria que fugiu ao padrão identificado foi publicada em 07/05/06, e

trouxe revelações sobre a Paleontologia. “Na rota dos dinossauros” mostrou aos

leitores a importância da Paraíba para os estudos da Pré-História, devido a

presença de aproximadamente 500 sítios arqueológicos em nosso Estado.

Em linhas gerais, pode-se dizer que o “Milenium” é um caderno sobre

ciência, tecnologia, e esoterismo. Além da reportagem principal, que

mencionamos anteriormente, existem notícias curtas e de tamanho mediano.

As notícias curtas estão concentradas na coluna “Plugue-se”, escrita por

Hélder Moura, que traz uma variedade de assuntos relacionados à informática e a

computação. É um dos destaques do caderno, pois conecta os leitores com os

lançamentos e novidades deste mercado, que se desenvolve cada vez mais,

despertando o interesse das pessoas. A “Plugue-se” concentra em apenas uma

página, todas as indicações de websites que aparecem no “Milenium”. Enquanto

no caderno “Ciência” os links apareciam em meio às notícias.

Assim, a coluna de Hélder Moura – localizada nas páginas de número quatro

do “Milenium” – funciona como se fosse um caderno específico sobre

computadores e afins, fato que ocorre em outros jornais, inclusive com a Folha de

São Paulo. A mistura de grandes temas da ciência, verificada no “Milenium”, não

prejudica o entendimento do leitor. Pelo contrário, em alguns casos as

informações se complementam, aproximando assuntos que parecem distantes.

As outras colunas que fazem parte do fascículo são as seguintes: “Saber

Viver”, escrita pelo Dr. Lair Ribeiro; “As tábuas da maçonaria”, publicada no último

domingo de cada mês; "O leitor quer saber", que aparece ocasionalmente; “Tudo

sobre cães”, escrita pela especialista do Kennel Clube da Paraíba, Vilênia

Toscano Cunha; além de uma coluna assinada pelo renomado escritor Paulo

Coelho. A seguir, vamos comentar cada uma delas.

O lado esotérico, místico e até sobrenatural do “Milenium”, aparece nas

colunas de Paulo Coelho e Lair Ribeiro, situadas nas terceiras páginas do

caderno. Caracterizam-se pelo uso da narrativa literária e conservam o estilo de

cada autor, com suas temáticas e impressões pessoais. Paulo Coelho passeia

com desenvoltura pela mitologia, religiosidade oriental, entre outros temas.

Enquanto Lair Ribeiro escreve frequentemente sobre auto-ajuda, motivação e

temas ligados ao crescimento pessoal/profissional.

A coluna “As tábuas da maçonaria” – segundo o editor do caderno, Jãmarri

Nogueira – está relacionada ao processo de segmentação do Correio da Paraíba,

buscando atrair leitores com perfis diversos.

Como sugere o título de "O leitor quer saber", a coluna apresenta, na página

três do “Milenium”, dúvidas e respostas para perguntas intrigantes – que fazem

parte do cotidiano – relacionadas à ciência, ou que possam ser explicadas com

base científica.

A utilitária “Tudo sobre cães”, veiculada na página seis do caderno em

estudo, revela os cuidados e procedimentos que devem ser tomados em relação

ao “melhor amigo do homem”, tão presente nos lares brasileiros. Um fato curioso

foi a publicação repetida do texto: “Cães em apartamento: Pode?”, que apareceu

nas edições de 07/05/06 e 04/06/06, com pequenas alterações de uma para outra

– presença de fotografia e diminuição de tamanho.

No “Milenium” de 26/02/06, a texto: “Contêiner adaptado é usado como

escritório”, parece deslocado no caderno científico, pois não apresenta grande

inovação tecnológica ou científica digna de realce ou interesse do grande público.

Ao contrário, parece ser apenas um típico caso de “matéria publicitária”, fruto de

algum release enviado pela empresa fabricante dos contêiners, interessada na

divulgação do seu produto para aumentar a clientela e, consequentemente, os

lucros.

Na edição de 05/03/06, a reportagem de capa – intitulada “Iluminação

neuronal” – foi escrita pelo próprio editor do “Milenium”. Logo, estamos diante de

mais uma semelhança com o caderno “Ciência” da Folha. Não é novidade que a

contenção de gastos tem levado as empresas a exigir dos seus funcionários uma

acumulação de funções, sobretudo quando há um quadro reduzido de

profissionais especializados.

No fascículo de 07/05/06 tivemos outro fato singular: a presença de uma

notícia sobre informática publicada fora da coluna “Plugue-se”. O texto “Papas do

software livre estarão em João Pessoa” – possivelmente baseado em um press

release – traz informações básicas sobre o “Encontro de Software Livre da

Paraíba” e indica o portal específico para que o leitor possa ampliar suas

informações por conta própria.

2.2.3 Considerações finais da análise

A comparação entre os cadernos “Ciência” e “Milenium” revelou a qualidade

editorial de cada publicação, o modo específico como as idéias são sistematizadas

e apresentadas aos leitores, o preenchimento dos espaços (arquitetura da

informação) e as fontes consultadas no processo noticioso.

A linguagem empregada no tratamento da ciência é uma preocupação

constante nos textos da Folha de São Paulo e do Correio da Paraíba. Tanto um

veículo como o outro, busca não levar o rigor científico ao extremo, evitando

restringir a quantidade de leitores capaz de entender por completo as informações

veiculadas. Entretanto, também se preocupam com o nível de cientificidade em

cada notícia, explicando as inovações em detalhes, de forma que a ciência possa

aparecer como destaque para o grande público. Enfim, a sistematização do

conteúdo científico nos jornais que pesquisamos, harmoniza clareza e exatidão na

dose certa.

No quesito preenchimento dos espaços, o “Milenium” possui melhor

desempenho. Seu maior número de páginas, em relação ao caderno “Ciência”,

facilita este aspecto positivo. Mas, além disso, parece dizer ao leitor em cada

edição que as notícias são mais importantes do que qualquer anúncio e merecem

ser tratadas com a profundidade necessária. A pequena variação do espaço

publicitário e da quantidade de anunciantes é uma boa medida para basearmos

nossa observação.

E para garantir o aprofundamento dos conteúdos a serem publicados, os

jornalistas do “Ciência” e do “Milenium”, e seus respectivos editores, fazem uso de

múltiplas fontes e bases de dados, tais como: entrevistas com pesquisadores,

consulta a portais da Internet e publicações especializadas. E ainda contam com o

material pré-fabricado pelas agências de notícias (nacionais e internacionais). A

reunião desta quantidade de informações produz, na maioria das vezes,

reportagens de grande valor para os leitores, que dificilmente encontrariam a

mesma riqueza de detalhes, em linguagem acessível, nos jornais concorrentes ou

em outros tipos de mídia.

Com efeito, o poder de um jornal de grande tiragem sobre a formação da

opinião pública não se limita a um tipo de leitor. Visto que essa influência é

exercida sob o aspecto da intensidade dos estímulos, na diversidade dos apelos à

consciência e ao sentimento do público, através da seleção, hierarquização e

formatação das notícias.

....................................................................................................................................

................................... CONCLUSÃO A pesquisa que realizamos nos forneceu bases sólidas para atingirmos os

objetivos propostos: apresentação do Jornalismo Científico realizado pelos jornais

Folha de São Paulo e Correio da Paraíba, através da exposição de características;

análise dos suplementos sobre ciência e tecnologia produzidos por estes veículos

impressos, revelando semelhanças e diferenças entre os cadernos “Ciência” e

“Milenium”, além da observação e anotação dos aspectos formais e de conteúdo

relativos a estes.

Nesta etapa de nosso estudo, vamos discorrer sucintamente sobre a

importância do JC para a comunidade científica e a sociedade como um todo,

cumprindo, assim, todas as determinações a que nos propomos na parte

introdutória deste trabalho.

Como vimos no Capítulo 1, entretítulo 1.2.2 - Funções e objetivos do

Jornalismo Científico, a grande missão do Jornalismo de ciência é democratizar a

informação científica junto ao maior número possível de pessoas. Para isso, é

imperativo que aconteça a tradução das idéias e conceitos científicos em uma

linguagem acessível.

Por outro lado, o JC não pode ficar restrito apenas a esta função. Precisa

adotar uma visão crítica e multidisciplinar acerca da própria ciência, relacionando-

a com políticas públicas, economia, educação, cultura e necessidades sociais.

O progresso da ciência depende direta ou indiretamente de sua

compreensão pelo público, pois ele fornece os representantes que traçam as leis e

as políticas, inclusive a científica. Essas, por seu turno, definem a quantidade de

recursos a serem aplicados nas pesquisas, que podem trazer benefícios para toda

a sociedade - seja ela local, regional, ou mundial. A questão-chave é que a

sociedade ainda não consegue mensurar a relevância da atividade científica para

sua vida e para todas as vidas do planeta. E nesse ponto, o Jornalismo pode

ajudar, junto aos cidadãos e governantes.

Em países como o nosso, onde o ensino de ciências é deficiente, deixando o

grande público despreparado para compreender o sentido das descobertas

noticiadas, o Jornalismo Científico surge como ferramenta para preencher lacunas

da formação educacional, através da exposição regular de variados tópicos

científicos. E essa formação é fundamental para que a sociedade possa participar

das decisões, exercendo a cidadania de forma plena e soberana.

Assim como todos os outros ramos do Jornalismo, o JC deve pautar suas

prioridades a partir dos assuntos que sejam de interesse público, informando com

qualidade interpretativa. Só assim, poderemos diminuir a dependência tecnológica

em relação a outros países. Uma vez que, não observamos por parte das

autoridades brasileiras, a intenção de "educar" a sociedade sobre o papel

estratégico que a C&T representa atualmente, tanto no cotidiano da vida humana,

quanto nas decisões políticas e econômicas.

O material analisado, feito pelos jornais Folha de São Paulo e Correio da

Paraíba, nos forneceu uma idéia do padrão jornalístico sobre ciência que os

leitores brasileiros consomem em outras regiões do Brasil. Um padrão que está

em processo de aprimoramento, adequando suas demandas ao público receptor,

interagindo com padrões externos – através de encontros entre profissionais da

área – buscando novos caminhos para cumprir seus objetivos e funções e

tentando superar desafios históricos.

O nível de (in)formação da opinião pública acerca de temas relacionados a

C&T cresceu bastante nos últimos anos, uma prova de que o trabalho dos

jornalistas vêm sendo bem feito, contando sempre com a colaboração dos

pesquisadores e especialistas, através de antigos e novos canais de difusão.

Portanto, é necessário que o Jornalismo de ciência realize – em cada

edição, em cada página, seja ela do caderno “Ciência”, do “Milenium” ou de outro

suplemento publicado em jornais brasileiros – uma avaliação do impacto social e

político das descobertas científicas e também lute pelo aproveitamento das que

contribuam para o bem da humanidade e para conservação do equilíbrio natural.

....................................................................................................................................

............................ REFERÊNCIAS ABRAMO, Perseu. Pesquisa em Ciências Sociais. In: Pesquisa Social: projeto e planejamento. São Paulo: TAQ, 1979. ALBERT, P. & TERROU F. História da imprensa. Coleção Universidade Hoje. São Paulo: [s.n.], 1990.

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............................ ANEXOS ANEXO A – Cadernos Folha Ciência ANEXO B – Cadernos Milenium