Jornalismo de credibilidade

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Para os jornalistas, credibilidade é tudo Os pilotos sabem voar aviões. Os futebolistas marcam gols. E os serralheiros abrem portas. Esse é seu ofício. Os jornalistas também têm um ofício: credibilidade. Se não é possível acreditar em um jornalista, seu trabalho não vale nada. Como parte de nosso esforço para informar leitores, espectadores e ouvintes sobre o que está acontecendo no mundo, nós jornalistas reportamos o que vemos e o que encontramos em campo. Não é pouca coisa - a credibilidade não é só nosso ofício, é nosso bem mais valioso. E se o que escrevemos ou transmitimos não reflete a realidade, as pessoas, obviamente, deixarão de confiar em nós.É claro que há outro tipo de jornalistas: os repórteres que são orgulhosamente independentes e que dizem o que veem, mesmo que doa ou seja impopular. Não têm medo de perguntar. Fazem tremer os poderosos. Investigam o que outros escondem. Lê-los e vê-los é uma obrigação. Esses são os verdadeiros jornalistas. O jornalismo é algo muito frágil; é uma simples questão de confiança. É algo quase religioso. Você acredita em um veículo ou não acredita. E se perder a confiança - como um vaso que se parte em mil pedaços - nunca mais voltará a recuperá-la. Entendo que nestes dias, diante dos milhões de dados disponíveis na Internet, é muito difícil saber em quem acreditar. Mas a tarefa do jornalista é selecionar a informação. Afinal, a principal diferença entre alguém que "tuiteia" ou lança mensagens através do Facebook ou que compartilha correntes com informações falsas? Um caso Mulher espancada após boatos em rede social morre em Guarujá, SP Ela foi agredida após ser acusada de praticar magia negra com crianças. Moradores registraram vídeos mostrando a agressão e postaram na web. Termino com uma anedota. Texto de Jorge Ramos Na cidade de Miami costumam matar Fidel Castro duas ou três vezes por ano. E ele sempre ressuscitou. Bom, um dia em um supermercado um casal de cubanos discutia os mais recentes rumores sobre a aparente morte de Fidel, sem perceber que eu estava atrás deles. "Dizem que Fidel morreu", ela disse. "Bem, enquanto eu não escutar no telejornal, não acredito", ele respondeu. Essa demonstração de confiança é enorme. Gigante. E nunca esqueço disso. O jornalismo é, no fundo, uma questão de credibilidade. Para nós, jornalistas, o mais importante é que acreditem em nós. Nada mais.

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Para os jornalistas, credibilidade é tudoOs pilotos sabem voar aviões. Os futebolistas marcam gols. E os serralheiros abrem portas. Esse é seu ofício. Os jornalistas também têm um ofício: credibilidade. Se não é possível acreditar em um jornalista, seu trabalho não vale nada. Como parte de nosso esforço para informar leitores, espectadores e ouvintes sobre o que está acontecendo no mundo, nós jornalistas reportamos o que vemos e o que encontramos em campo. Não é pouca coisa - a credibilidade não é só nosso ofício, é nosso bem mais valioso. E se o que escrevemos ou transmitimos não reflete a realidade, as pessoas, obviamente, deixarão de confiar em nós.É claro que há outro tipo de jornalistas: os repórteres que são orgulhosamente independentes e que dizem o que veem, mesmo que doa ou seja impopular. Não têm medo de perguntar. Fazem tremer os poderosos. Investigam o que outros escondem. Lê-los e vê-los é uma obrigação. Esses são os verdadeiros jornalistas.

O jornalismo é algo muito frágil; é uma simples questão de confiança. É algo quase religioso. Você acredita em um veículo ou não acredita. E se perder a confiança - como um vaso que se parte em mil pedaços - nunca mais voltará a recuperá-la. Entendo que nestes dias, diante dos milhões de dados disponíveis na Internet, é muito difícil saber em quem acreditar. Mas a tarefa do jornalista é selecionar a informação. Afinal, a principal diferença entre alguém que "tuiteia" ou lança mensagens através do Facebook ou que compartilha correntes com informações falsas? Um caso Mulher espancada após boatos em rede social morre em Guarujá, SP Ela foi agredida após ser acusada de praticar magia negra com crianças.Moradores registraram vídeos mostrando a agressão e postaram na web.

Termino com uma anedota. Texto de Jorge Ramos

Na cidade de Miami costumam matar Fidel Castro duas ou três vezes por ano. E ele sempre ressuscitou. Bom, um dia em um supermercado um casal de cubanos discutia os mais recentes rumores sobre a aparente morte de Fidel, sem perceber que eu estava atrás deles.

"Dizem que Fidel morreu", ela disse.

"Bem, enquanto eu não escutar no telejornal, não acredito", ele respondeu.

Essa demonstração de confiança é enorme. Gigante. E nunca esqueço disso. O jornalismo é, no fundo, uma questão de credibilidade. Para nós, jornalistas, o mais importante é que acreditem em nós. Nada mais.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves