Jornalismo do cidadão – quem és tu?
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Jornalismo do cidado quem s tu?
Frederico Correia
ndice1 Os antecedentes do jornalismo do cidado . . . . . . . 21.1 Internet evoluo Web 2.0 . . . . . . . . . . . . . . 31.2 Os blogs: histria e evoluo at actualidade . . . . 52 O que o jornalismo do cidado? . . . . . . . . . . . . 92.1 A participao do pblico nos media . . . . . . . . . 92.2 Definies de jornalismo do cidado . . . . . . . . . 123 Jornalismo do cidado: ameaas ou oportunidades para
o Jornalismo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183.1 Oportunidades Vs. Ameaas . . . . . . . . . . . . . 183.2 Avaliao crtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254 As fronteiras do jornalismo: uma problemtica para
alm do jornalismo do cidado . . . . . . . . . . . . . 264.1 A formao dos jornalistas . . . . . . . . . . . . . . 265 Concluso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 316 Referncias Bibliogrficas . . . . . . . . . . . . . . . 31
Mestrando em Cincias da Comunicao na Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal. E-mail: [email protected]
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ResumoH alguns anos atrs, comeou-se a reflectir sobre as alteraesintroduzidas pela Internet na funo do jornalista. Actualmente,tambm se abrem novas possibilidades ao cidado na sua rela-o com os media. Assim, a anlise das novas responsabilidadesassumidas pelo cidado no cenrio meditico passa a ser funda-mental para a sua compreenso. Neste sentido, pretendemos comesta investigao analisar criticamente as principais influncias daInternet no papel do jornalista e do prprio cidado.
Assim, esta reflexo iniciar-se- com a exposio das altera-es que proporcionaram o aparecimento do jornalismo do cida-do. Abordaremos tambm a participao que o pblico sempreteve nos meios de comunicao e quais os papis que agora as-sume no processo de comunicao. Alm disso, reflectiremossobre a diversidade de definies e conceitos sobre o fenmenoem causa, bem como os argumentos e opinies a favor e contrao jornalismo do cidado. Concluiremos este trabalho com umareferncia formao dos jornalistas e sua influncia na definiodas fronteiras do jornalismo.
1 Os antecedentes do jornalismo do cidadoActualmente, um qualquer cidado arrisca-se, munido de todoo material necessrio, a ser o primeiro a recolher informao, umafotografia, declarao ou at mesmo um vdeo de um determinadoacontecimento ocorrido em determinado local, hora e data. Mastransformar, tudo isto, um qualquer cidado num jornalista?
A evoluo tecnolgica a verdadeira causadora deste fen-meno. Anteriormente, um jornalista fazia-se acompanhar do seuequipamento bsico. O jornalista de imprensa com um bloco denotas e caneta, o da rdio com microfone e gravador e o de televi-so com cmara de vdeo. Hoje em dia, basta uma nova tecnologiade topo, como um telemvel 3G, para fazer tudo isso. Para a di-vulgao dos factos presenciados basta, ao qualquer cidado, o
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acesso Internet e a respectiva publicao, no necessitando paraisso de muito conhecimento informtico.
1.1 Internet evoluo Web 2.0Esta possibilidade de um qualquer cidado colocar uma infor-mao ou contedo na Internet apenas existe com a Web 2.0. Noentanto, correramos um enorme risco se assumssemos esta opi-nio como definitiva e segura pois, para alguns autores apelidadoscomo cpticos, sem Web 1.0 no existiria Web 2.0. De facto, estesgarantem que a Web 2.0 apenas usa caractersticas previamenteexistentes, agora evoludas.
Mostraremos, por isso, os dois versos da questo, mas semprecom o objectivo central de evidenciar a possibilidade concedidapela Web 2.0 de, atravs de um modo simples, prtico e eficaz, co-locar uma informao disponvel para todos aqueles com acesso aesta tecnologia Internet. O termo inovador para a Internet, Web2.0, surge logo aps o The Bursting of the bubble ou se prefe-rirmos dot-com boom1, que reflectiu uma quebra das empresasinstaladas no mercado online. A esta queda apenas sobreviveramalgumas empresas e todas elas com caractersticas em comum.
Surge, ento, o termo Web 2.0 pela empresa OReilly Mediaem 2003, fundada por Tim OReilly, a quem se atribui a autoriado termo. Este, j depois de publicar no site oficial da sua em-presa um texto intitulado What is Web 2.0, define de forma maisresumida que, para ele, a Web 2.0 is the business revolution inthe computer industry caused by the move to the internet as plat-form, and an attempt to understand the rules for success on thatnew platform. Chief among those rules is this: Build applicati-ons that harness network effects to get better the more people usethem. (OREILLY, 2006)
1 The Bursting of the bubble e dot-com boomso como muitos analis-tas, dos fenmenos da Internet, apelidam a quebra e encerramento de muitasempresas online em 2001. mesmo classificado como o ponto de mudana naWeb que originaria a emergncia do termo Web 2.0.
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Perante este conceito surgem vozes de oposio. Um dos maisacrrimos contestatrios da Web 2.0 Alex Hubner, que num textopublicado em Webinsider, intitulado Web 2.0 uma revoluo?Ento me deixem criticar, assume a seguinte opinio: a Web 2.0no trouxe nada de novo em termos de tecnologia e de idias enem uma mudana to expressiva ou revolucionria como dizem(e vendem). (HUBNER, 2007) O mesmo resume tudo seguinteequao: a velha Internet mais e o aumento no nmero de usuriotem como resultado a Web 2.0. Hubner assume ainda que asideias e regras da Web 2.0 j existiam. O que no existia eraum nmero significativo de usurios e de banda para justific-lase implement-las. (HUBNER, 2007)
Alex Hubner vai mais longe, dizendo que os especialistas daWeb 2.0 esto para a internet como os criacionistas esto para acincia. Por mais bvio que seja o facto das coisas simplesmenteevolurem, natural e continuamente, prevalecendo o que funcionaem detrimento do que no funciona (tal como Darwin teorizou),os especialistas da Web 2.0 entendem que as coisas s existemdepois de terem sido criadas, inventadas, nomeadas e, principal-mente, propagandeadas. (HUBNER, 2007)
Tambm em Portugal o cepticismo face ao novo conceito en-contra eco. Jorge Morgado Fernandes, num Editorial do Diriode Notcias, intitulado Os equvocos da admirvel nova Web, as-sume uma opinio que coloca algumas reticncias quanto s po-tencialidades da nova Web: Um dos equvocos mais perigososdos tempos que correm a associao implcita que est a serfeita entre o novo boom da Internet, a que se convencionou cha-mar Web 2.0, e a democracia, ou melhor, o aperfeioamento dademocracia. (FERNANDES, 2006) Fernandes ainda consideraque a to exaltada Web 2.0 , de um ponto de vista meramentequantitativo, um amontoado de lixo. O facto de cada um se poderexprimir no quer dizer que tenha, necessariamente, algo de til adizer comunidade. O YouTube disso um excelente exemplo.(FERNANDES, 2006)
Nestes debates de ideias, entre aquilo que uns aceitam como
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mudana e outros aceitam como reformulao, h quem considereque tudo aquilo que possvel fazer com as mudanas na Web medocre. Assim, Andrew Keen afirma: Milhes e milhes demacacos exuberantes (. . . ) esto a criar uma infinita floresta digi-tal de mediocridade. (KEEN cit.in AUCHARD, 2007) Ainda se-gundo Keen: Os Blogues (. . . ) minaram o nosso sentido do que verdadeiro e falso, do que real ou imaginrio. Hoje em dia, osmidos j no sabem a diferena entre notcias credveis de jorna-listas profissionais e o que lem em ZeNinguem.blogspot.com.(KEEN cit.in AUCHARD, 2007)
Porm, no menos correcto aceitar que, independentementedo nome utilizado, das causas ou origens deste novo fenmeno,a Internet veio possibilitar uma nova forma de comunicao, demuitos para muitos, que substitui a de um para muitos. Tudoisto vai ao encontro do que j perspectivava Francisco Cdimaem 1999, ou seja, a informao no circula mais em termos mo-nolgicos ou atravs de um fluxo de pirmide, mas sim em fluxosnetwork, matriciais, cada vez mais interactivos. (CDIMA, 1999)
Se, antigamente, o poder de transmitir informao estava re-servado apenas a um pequeno nicho de entendidos, actualmente,esta pertence a todos quantos tiverem disponibilidade e vontadede informar. Isto , anteriormente apenas certos cidados tinham apossibilidade de gerar informao e transmitir notcias, mas con-temporaneamente o mesmo no se verifica. A informao per-tence a quem a encontra e pode ser transmitida por todos, neces-sitando, para tal, apenas de uma ligao Internet.
1.2 Os blogs: histria e evoluo at actualidadeOs blogs so considerados por muitos autores os principais res-ponsveis pela modificao da forma de comunicar e informar.Nasceram como uma espcie de dirio online, mas aos poucosforam ganhando diferentes significados.
Tal como explica Lus Santos: O ano de 2003 foi o ano daemancipao do weblog como protagonista autnomo de mais
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uma das potenciais reas de expanso (. . . ). A mais popular fer-ramenta, Blogger, anunciou, logo em Janeiro, ter atingido o pri-meiro milho de utilizadores e um estudo desenvolvido pela Per-seus, estimava que at ao Vero de 2003 teriam sido criados 4,12milhes de weblogs em todo o mundo, dos quais apenas 1,4 mi-lhes poderiam ser entendidos como activos. (SANTOS, 2004)
No incio de 2007, o nmero de blogs rondava os 70 milhese permanecia a tendncia para este crescer. (FUMERO e ROCA,2007: 35) Fica assim, desde j, provado o peso desta ferramentavirtual no ciberespao. Talvez a facilidade com que os blogs e res-pectivos bloggers (utilizadores dos blogs) surgem to explosiva erapidamente seja justificada da seguinte forma: Aliada simplescriao, que no necessita de nenhum conhecimento tcnico, a fa-cilidade de actualizao e de publicao foi um dos factores quemais ajudou popularizao e vulgarizao dos blogs. (SIMO,2006)
A definio de blog, por tudo isto, tornou-se o mais abran-gente quanto se possa imaginar tal como quase todos os con-ceitos recentes do ciberespao. La definicin de blog (weblog obitcora), que va desde el simple diario personal en Internet, hastauna herramienta de expresin, comunicacin y socializacin, queha servido para tejer un complejo subespacio de comunicacin enla Red que conocemos como blogosfera. (FUMERO e ROCA,2007: 36)
H quem sugira que se deve dar constituio do blog o poderpara explicar qual a sua natureza. Tal como nos dizem AntonioFumero e Fernando Sez Vacas: La naturaleza del blog deberdefinirse a partir de la aplicacin que se le d en los diversos mbi-tos a una tecnologa que incorpora fundamentalmente una facili-dad de uso de la Web indita hasta el momento y que h generado(. . . ) numerosos espacios de oportunidades que aun tardaremosen llenar con las correspondientes innovaciones. (FUMERO eSEZ, 2006)
Ainda de acordo com estes dois autores, as definies podemser as mais variadas possveis, como se pode observar na figura 1.
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Figura 1 Opinies utilizadas por Fumero e Sez, 2006
Com a possibilidade da livre publicao de pensamentos einformao, estamos perante a referida comunicao de muitospara muitos. Surge uma nova maneira de comunicar e informar.O receptor opta. O receptor selecciona. O receptor define quasetudo (se no mesmo tudo). Com a sua maneira de pensar, suamaneira caracterstica de ver o mundo, ele tem a ltima palavraquanto ao tipo de informao que quer receber e quando a pre-tende receber. Assim, o receptor, pode assumir diversos papis:
ter uma postura passiva e ficar apenas com o papel de re-ceptor no processo de comunicao;
ser emissor, bastando, para tal, ter informao para trans-mitir;
ser comentador;
ser rudo no processo de comunicao bastando, para tal,falar sem ter nada para dizer exemplo deste modo departicipao na comunicao o denomindado spam.
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Este fenmeno, o spam, tornou-se num dos principais pro-blemas da comunicao electrnica em geral: o envio em massade mensagens no-solicitadas. Esse fenmeno ficou conhecidocomo spamming, as mensagens em si como spam e seus autorescomo spammers. (WIKIPDIA, 2007) Este fenmeno criou umavasta onda de protestos no ciberespao. Actualmente, comumcombater este tipo de lixo informtico que j possvel encontrarnum qualquer blog como simples comentrio.
No trabalho A exploso dos weblogs em Portugal: percepessobre os efeitos no jornalismo, Lus Santos diz o seguinte sobreaquilo em que se tornaram os blogs. Os weblogs tornaram-seespaos alternativos de comunicao, onde cada um pode ter a talvoz que tantas vezes lhe foi prometida. Sendo certo que poderexistir, na participao efectiva na blogosfera, tanto de projecodo ego como de voyeurismo, parece-nos no menos verdade que,apesar disso, as tais vozes esto l, no mais dos casos abertas discusso e em todos eles disponveis para escrutnio. (SAN-TOS, 2004)
Lus Santos fala-nos um pouco imagem do que escreveu TimJarret: the act of posting thoughts in a blog on the Internet (as op-posed to in a private document) enables others to hear that voice.If the bloggers words are heard, and others enter into dialog, theblogger has ceased to be a passive observer of the Internet and hasinstead become a creator of it, no texto Blogs providing voices.(JARRET, 2003)
Jos Luis Orihuela, numa entrevista no site PRNoticias, res-ponde da seguinte forma, pergunta o que um blog?: esun sitio web cuya estructura consiste en entradas individuales lla-madas historias, anotaciones o post, cada una de las cuales tieneasignada de forma automtica por el sistema de edicin una fe-cha de creacin y una direccin url permanente. Estas entradasse disponen mediante cronologa inversa y son autogestionadas.Es un medio personal en el que el no hay editores, ya que es elpropio bloger quien lo gestiona. No existe mediacin editorial.(ORIHUELA cit. in PRNoticias, 2006)
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Por tudo isto, a Internet permite encaixar na sua configura-o todos os perfis de utilizadores, tornando-se o mais abrangentemeio de comunicao, no apenas por todas as suas caractersti-cas, mas tambm pela componente inovadora capaz de proporci-onar ao qualquer cidado a oportunidade de interagir e deixara posio passiva imposta pelos restantes meios de comunicao.Uma outra vantagem, tambm preponderante, o carcter gratuitodos blogs, que tornam a proliferao em algo natural, inovador esem custo.
2 O que o jornalismo do cidado?
2.1 A participao do pblico nos mediaO rtulo de Notcia colocado quase sempre por um profissionalda comunicao, o Jornalista. Mas quais so os seus critrios deescolha do que ou no notcia? Como se defendem os cidadosdo modo de informar?
De acordo com Estrela Serrano, apesar do avano dos estu-dos sobre os media e o jornalismo , ainda, difcil definir, de umamaneira indiscutvel, as bases em que assentam as decises dosjornalistas sobre questes como, o que , ou no, notcia, a esco-lha de um ttulo em vez de outro, a procura de fontes adicionaisumas vezes e outras no. De facto, apesar do avano dos estu-dos sobre os media e o jornalismo , ainda, difcil definir, de umamaneira indiscutvel, as bases em que assentam as decises dosjornalistas sobre questes como, o que , ou no, notcia, a esco-lha de um ttulo em vez de outro, a procura de fontes adicionaisumas vezes e outras no. (SERRANO, 2002)
Contudo, desde sempre o pblico procurou exprimir e expor oque para si seria importante revelar, dar a conhecer. Neste ponto, aImprensa mostra-se como o meio onde so mais visveis as acesdos receptores das mensagens, encontramos facilmente, e aindana actualidade, as intituladas Cartas do Leitor. Mas quandose l Cartas do Leitor, associa-se, por defeito contemporneo,
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quilo que, todos os dias, vemos nos jornais dirios, como avisose alertas, crticas e desabafos sobre determinado assunto ou de-terminado acontecimento. Mas as Cartas do Leitor, durante oRegime do Estado Novo, quando a opresso era visvel e clara,foram uma oportunidade para os opositores do regime exprimi-rem as suas ideias e opinies, ou pelo menos tentarem porque, talcomo afirma Fernando Paulouro, era uma seco muito visada,porque o regime tinha a ideia de que era bom impedir que os cr-ticos se reproduzissem. (PAULOURO cit.in TEIXEIRA, 2007)
Assim, desde cedo, as Cartas do Leitor assumiram um pa-pel preponderante na expresso de opinies e alertas daquilo queos cidados consideravam importante para noticiar. Contempo-raneamente, quase impensvel um jornal, uma revista semanal,ou qualquer outro meio impresso no dar um espao, por maispequeno que seja, para serem publicadas as opinies dos seus lei-tores, o seu pblico. comum, portanto, ter-se seces como, attulo de exemplo, a newsmagazine Sbado, Do Leitor. Umaoutra newsmagazine de periodicidade semanal, a Viso, reservaespao a uma seco denominada Correio de Leitor. O jornalPblico denomina a seco reservada opinio dos leitores comoEspao Pblico, onde so colocadas as chamadas Cartas ao Di-rector. No jornal nacional Jornal de Notcias a seco destinadaaos leitores d pelo nome de Pgina do Leitor.
Porm, pode estar este meio em vias de extino? Pode ficarpara trs o tempo em que o pblico ficava em desvantagem, poisapenas recebia informao e dificilmente a questionava?
Como temos vindo a falar, a Internet, praticamente, impede opapel passivo do leitor ou receptor, j que obriga-o a debater, refu-tar ou contradizer determinada informao, notcia ou declarao,no de um modo passivo e por vezes moroso, como o Direito deResposta ou as Cartas do Leitor, mas de uma forma imediata.Tal como nos diz Joo Canavilhas, a mxima "ns escrevemos,vocs lem"pertence ao passado. Numa sociedade com acesso amltiplas fontes de informao e com crescente esprito crtico, apossibilidade de interaco directa com o produtor de notcias ou
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opinies um forte trunfo a explorar pelo webjornalismo. Numjornal tradicional, o leitor que discorda de uma determinada ideiaveiculada pelo jornalista limita-se a enviar uma carta para o jornale a aguardar a sua publicao numa edio seguinte, tendo habi-tualmente que invocar a Lei de Imprensa para o conseguir. Porvezes a carta s publicada dias depois e perde completamentea actualidade. (. . . ) No webjornal a relao pode ser imediata.A prpria natureza do meio permite que o webleitor interaja noimediato. (CANAVILHAS, 2001)
A opinio unnime e clara quanto ao facto de que a Internetrevolucionou o modo de se fazer imprensa. Na verdade, tal comodefende Rodrigo Fino, designer argentino, a mdia sempre foi ofiscal do poder, tendo a ltima palavra. Mas hoje, no caso do leitorde jornal, ele recebe muito mais informao do que antes, pelaInternet, TV, celular e rdio. Agora, ele passou a se tornar fiscalda mdia, pois tem capacidade de distinguir qualidade, enfoquesdiferentes. O controle da informao est no cidado. Isso mudoua relao da mdia com o leitor. Ao invs de "leitor", fica maiscorreto cham-lo de "audincia". Pois o cidado tem o poder deescolher, no s os veculos, mas agora tambm a plataforma:hoje o jornal, amanh ele muda para a Internet e, depois, para aTV. (FINO cit.in Opovo, 2007)
Num Seminrio Internacional de Jornalismo Online, realizadoem So Paulo2, onde o tema principal seria a adaptao dos profis-sionais de comunicao nova realidade digital, Rosental Calmonviria a sublinhar de forma clara o que acima expusemos, quanto imposio da Internet no comportamento do receptor: Nestenovo sistema miditico, da era digital. O receptor tambm emis-sor, com poder e controle sobre o contedo. O jornalismo estdeixando de ser monoplio do jornalista. O jornalismo tem quedescer de seu pedestal, pois no mais feito de cima para baixo.(CALMON cit.in MediaOn, 2007)
2 MediaOn, 1o Seminrio Internacional de Jornalismo Online realizado emSo Paulo entre 12 e 14 de Junho de 2007, na sede do Ita Cultural.
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2.2 Definies de jornalismo do cidadoEste ponto serve como ligao ao tema principal do nosso traba-lho o Jornalismo do Cidado atravs do aprofundar do con-ceito de webjornalismo.
Inicialmente, a utilizao da Internet, por parte dos profissi-onais das rdios, televises e jornais, para difundir informaosubvalorizava as potencialidades deste novo meio em franca ex-panso e afirmao. Era apenas um colocar online tudo que estavaimpresso, falado ou documentado, sem mais recursos ou apoiosmultimdia, que hoje dinamizam e so praticamente indispens-veis ao webjornalismo.
Com a mudana e a captao da mensagem implcita nas po-tencialidades deste meio, fomos assistindo ao progresso. JooCanavilhas introduziria desta forma o novo termo: com o apa-recimento da internet verificou-se uma rpida migrao dos massmedia existentes para o novo meio sem que, no entanto, se tenhaverificado qualquer alterao na linguagem. O chamado "jorna-lismo online"no mais do que uma simples transposio dosvelhos jornalismos escrito, radiofnico e televisivo para um novomeio. Mas o jornalismo na web pode ser muito mais do que oactual jornalismo online. Com base na convergncia entre texto,som e imagem em movimento, o webjornalismo pode explorartodas as potencialidades que a Internet oferece, oferecendo umproduto completamente novo: a webnotcia. (. . . ) Afirmar-seque "a rdio diz, a televiso mostra e o jornal explica"no maisdo que constatar que cada meio tem as suas prprias narrativas elinguagem. E a ser assim, a internet, por fora de poder utilizartexto, som e imagem em movimento, ter tambm uma lingua-gem prpria, baseada nas potencialidades do hipertexto e cons-truda em torno de alguns dos contedos produzidos pelos meiosexistentes. (CANAVILHAS, 2001)
Por tudo isto, Joo Canavilhas introduz um novo conceito quesubstituir o ento emergente termo jornalismo online. AngleMurad afirma que o conceito de jornalismo encontra-se relacio-nado ao suporte tcnico e ao meio que permite a difuso das no-
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tcias. Da derivam conceitos como jornalismo impresso, telejor-nalismo e radiojornalismo (MURAD, 1999). Canavilhas lana otermo, que adoptaremos para este trabalho. , pois, com natura-lidade que se introduz agora o conceito de webjornalismo e node jornalismo online, esclarece o mesmo autor (CANAVILHAS,2001).
Tal como acontece com quase todos os conceitos recentes dociberespao, ainda no foi encontrada uma definio simples econcreta para webjornalismo. Mas j so aceites, unanimemente,determinadas caractersticas como pertencentes ao webjornalismo.Por exemplo, Joo Simo considera que a actualizao cons-tante, a interaco com os leitores atravs de links e dos coment-rios bem como a possibilidade de poder enviar o texto por e-mailso alguns dos elementos do webjornalismo aceites por todos.(SIMO, 2006)
Mas ser possvel confundir os conceitos webjornalismo e jor-nalismo do cidado? O que h de comum entre os dois? Quais osseus protagonistas?
Voltando, mais uma vez, a repetir que os conceitos que sur-gem com este novo, inovador e revolucionrio meio de comuni-cao esto em constante mutao e no encontraram ainda e,quanto a ns, jamais encontraro um conceito definitivo e delimi-tado, no poderemos definir exactamente o que o jornalismo docidado, que na sua forma original surge como citizen journalism.
Este fenmeno, apenas possvel com o surgimento da Inter-net e principalmente com as alteraes que, como j explicmos,tornaram possvel a utilizao de capacidades antes desconheci-das ou no existentes, apelidado das mais diversas formas. Noentanto, todas as denominaes coincidem na base de que o cida-do, que pode ser ou no profissional de jornalismo, desempenhaa funo de transmitir e difundir informao. Algumas das ex-presses utilizadas so: networked journalism, participatory jour-nalism, open source journalism, we media, grassroots journalisme participatory media. Teremos de dizer que algumas destas ex-presses no so pacificamente aceites como sinnimas, ou seja,
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com o mesmo significado. So por vezes consideradas sucessorase mais correctas que as anteriores, pelos seus respectivos defenso-res. Mais uma vez, abster-nos-emos de fazer juzos de valor entreos vrios conceitos e apoiaremos o nosso trabalho nas definiesmais bem concebidas.
O movimento original teve o seu incio nos Estados Unidoscom duas variantes, a public e civic journalism, que Alzira Abreu(ABREU, 2003) explica da seguinte forma: O primeiro foi umaresposta perda de leitores da imprensa escrita na concorrnciacom os canais de televiso, e tambm uma maneira de impedir ocontrole, cada vez maior, das mquinas partidrias sobre o de-bate poltico na mdia. Esse novo jornalismo pretendia imporuma nova agenda de opinio e se tornar o intrprete dos cida-dos quanto hierarquia dos problemas e escolha das soluespela comunidade. O civic journalism nasceu na dcada de 1970por iniciativa de um industrial de petrleo, que decidiu financiarprojetos de jornalismo tendentes a enaltecer os valores democr-ticos. Desenvolveu-se a partir dessa experincia, orientado paramobilizar, dar a palavra aos cidados comuns e aos responsveispor associaes e comunidades. Baseado na afirmao dos proce-dimentos democrticos, esse movimento, considerava o confrontode opinies o motor das escolhas e da deliberao na comunidadee apresentava o jornalista como o animador dessa atividade. Essemovimento representava a democracia participativa, direta, queservia de referncia nesse tipo de jornalismo. (ABREU, 2003)
Um dos defensores da no igualdade dos termos Jeff Jar-vis que fundamenta, da seguinte forma, a utilizao de networkedjournalism: I carry some of the blame for pushing citizens me-dia and citizen journalism as terms to describe the phenome-non we are witnessing in this new era of news. Many of us werenever satisfied with the terms, and for good reason. They implythat the actor defines the act and thats not true in a time whenanyone can make journalism. (JARVIS, 2007)
Jarvis argumenta ainda que in networked journalism, the pu-blic can get involved in a story before it is reported, contributing
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facts, questions, and suggestions. The journalists can rely on thepublic to help report the story; well see more and more of that,I trust. The journalists can and should link to other work on thesame story, to source material, and perhaps blog posts from thesources. After the story is published online, in print, wherever the public can continue to contribute corrections, questions,facts, and perspective . . . not to mention promotion via links. Ihope this becomes a self-fulfilling prophecy as journalists realizethat they are less the manufacturers of news than the moderatorsof conversations that get to the news. (JARVIS, 2007)
Dan Gillmor um dos principais protagonistas no pensamentoe debate de ideias sobre estas novas possibilidades criadas pela In-ternet e, na introduo do seu livro We The Media, alerta para oseguinte: news was being produced by regular people who hadsomething to say and show, and not solely by the official newsorganizations that had traditionally decided how the first draft ofhistory would look. This time, the first draft of history was beingwritten, in part, by the former audience. It was possibleit wasinevitablebecause of new publishing tools available on the In-ternet.
No livro Assessing Public Journalism, dos autores EdmundLambeth, Philip Meyer e Esther Thorson, encontramos uma visodo que pode ser considerado como um jornalismo que procura osseguintes pontos:
listen systematically to the stories and ideas of citizenseven while protecting its freedom to choose what to cover;
examine alternative ways to frame stories on important com-munity issues;
choose frames that stand the best chance to stimulate citizendeliberation and build public understanding of issues;
take the initiative to report on major public problems in away that advances public knowledge of possible solutionsand the values served by alternative courses of action;
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pay continuing and systematic attention to how well andhow credibly it is communicating with the public. (LAM-BETH, MEYER e THORSON, 1998: 17)
Num outro livro intitulado We Media: How Audiences areShaping the Future of News and Information, Shayne Bowman eChris Willis definem jornalismo participativo da seguinte forma:The act of a citizen, or group of citizens, playing an active role inthe process of collecting, reporting, analyzing and disseminatingnews and information. The intent of this participation is to pro-vide independent, reliable, accurate, wide-ranging and relevantinformation that a democracy requires. (BOWMAN e WILLIS,2003)
Catarina Moura caracteriza o site Slashdot como algo entreuma webzine e um frum e considera que este constitui o in-cio da era do jornalismo open source, o que implica, desde logo,permitir que vrias pessoas (que no apenas os jornalistas) escre-vam e, sem a castrao da imparcialidade, dem a sua opinio,impedindo assim a proliferao de um pensamento nico, como opode ser aquele difundido pela maioria dos jornais, cuja objectivi-dade e imparcialidade so muitas vezes mscaras de um qualquerponto de vista que serve interesses mais particulares que apenaso de informar com honestidade e iseno o pblico que os l.(MOURA, 2002)
Vejamos o que escreve Scott Knowles no seu blog neXtknode.There are different types of journalism. The journalism thatblogging brings to the table is a singular person, gonzo style. Inthe flesh, without hierarchical control. And to the point of severalin the story, blogging is participatory journalism. I would evencall it conversational journalism. Conversations do not hold thesame characteristics as broadcast communication. I would arguethat there is a mutual understanding between reader and writer inmuch the same way that our real world debates and converses.(KNOWLES, 2003)
Num texto publicado online, intitulado como What is Parti-
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cipatory Journalism?, J.D. Lasica divide aquilo que considera ascategorias em que se divide o jornalismo participativo.
audience participation at mainstream news outlets (Dis-cussion forums; Staff Weblogs; Articles written by readers;etc);
independent news and information Web sites;
full-fledged participatory news sites (citizen-reporters con-tribute a significant amount of material such OhmyNews);
collaborative and contributory media sites (examples: Slash-dot, Kuro5hin and Metafilter, wich mesh the interface ofWeblogs and discussion boards, users contribute editorialcontent (some of which would be appropriate for a newspa-per or magazine) as well as links to news stories and ratings;
other kinds of "thin media";
personal broadcasting sites (video broadcast sites such asDaytonabeach-live.com). (LASICA, 2003)
Num jornal Sul Coreano, OhmyNews, o jornalismo do cidado explicado em poucas palavras, por Munish Nagar, num textocom o ttulo Citizen Journalism: A Great Platform, da seguinteforma: Citizen journalism has changed the outlook of the entiresituation, where everyone, whether a beginner or an experiencedjournalist, can work and get published equally.(NAGAR,2007)
Depois de explorados vrios conceitos para o fenmeno jorna-lismo do cidado, podemos concluir que existem igualdades como Webjornalismo, mas teremos de admitir que tambm existemdiferenas.
Ser que ficmos, apesar das mais variadas opinies, com umconceito definido sobre este fenmeno? Ou continuar para nscomo algo que no sabemos definir, mas que quando encontra-mos sabemos o que ? Funcionar, ento, este modelo como um
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auxiliar do jornalismo e do profissional do jornalismo? Estarodispostas as empresas de comunicao a aceitar um papel maisactivo por parte dos leitores? Quais as disponibilidades existente?Mas existem apoios ou crticas a este fenmeno? Ou ser queexistem ambas as situaes?
3 Jornalismo do cidado: ameaas ouoportunidades para o Jornalismo?
3.1 Oportunidades Vs. AmeaasComo temos vindo a salientar, a mudana e, at mesmo, o assu-mir de diferentes papis no modelo de comunicao tem levado aque as alteraes surjam de forma rpida. Acompanham, assim,a evoluo do mais recente meio de comunicao a Internet emconstante mutao. Juntamente com o fenmeno jornalismo docidado, vo surgindo os cpticos e os confiantes e convictos de-fensores do fenmeno, um pouco imagem do que acontece coma Web 2.0, que anteriormente expusemos.
Cada vez mais se multiplicam os rgos de comunicao so-cial que, aproveitando a sua verso online, vo alargando o seucontedo com os contributos dos leitores/cyber-utilizadores. Sohabituais as mensagens persuasivas que apelam participao co-lectiva num determinado portal. Encontramos isso mesmo atravsde uma simples pesquisa sobre jornalismo do cidado por um mo-tor de busca ou ento j dentro dos prprios sites.
Jay Rosen apela da seguinte forma adeso do leitor ao siteAssignment Zero, com um ttulo no mnimo sugestivo: CitizenJournalism wants you! O autor comea por dizer: Welcome toAssignment Zero. Its pro-am journalism in the open style madepossible by the web. This is a collaboration among NewAssign-ment.Net, Wired and those who choose to participate.
Em Globo.com a mensagem clara: todo o contributo serbem visto. No texto introdutrio publicado no site, com o t-tulo Agora voc pode publicar sua notcia no G1, a inteno
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clara: Os leitores do G1 agora tm um lugar cativo no portal.Est no ar, em verso de testes, a pgina de jornalismo colabo-rativo VC no G1. Agora voc, internauta, vai poder colaborarcom a cobertura dos principais fatos que acontecem no Brasil eno mundo escrevendo suas prprias notcias, enviando fotos e v-deos de acontecimentos que voc presenciou em sua cidade. EmEstado.com.br o texto ainda mais persuasivo. Este deixa claroque o colaborador at poder ser ressarcido pela colaborao. Sevoc tem um celular com mquina fotogrfica embutida, ou vivecom uma cmera digital a tiracolo, abra os olhos e fique esperto.A partir de agora suas fotos podem ser publicadas no Estado,no Jornal da Tarde, no portal www.estadao.com.br ou vendidaspela Agncia Estado para jornais e revistas de todo o planeta. Evoc pode at ganhar por isso, como se fosse um reprter foto-grfico profissional. Em Portugal o site da estao de televisoSIC tambm guarda um espao para o seu leitor numa secoprecisamente chamada Jornalismo do Cidado.
Para a criao de um novo site, OhmyNews, o seu mentor, ojornalista Oh Yeon Ho, usou a expresso every citizen is a re-porter e a verdade que o site , neste momento, uma refernciainternacional no que diz respeito ao jornalismo do cidado e temsido alvo de vrias anlises.
Mas ser que se pode esperar jornalismo ou apenas fontes no-ticiosas? Qual a sua importncia? Ser possvel fazer webjorna-lismo em blogs?
Em resposta pergunta se possvel fazer webjornalismo numblog, Joo Simo responde que possvel , no entanto dificil-mente se praticar mas ser possvel porque os blogs ofere-cem duas das mais importantes necessidades do webjornalismo;a actualizao constante, renovao de informao, e a interac-o com os webnautas. (SIMO, 2006) Para a mesma ques-to, Lus Santos diz-nos que teremos de ver a questo a partirde dois pontos: Se pensarmos na vertente tcnica, os weblogsparecem encaixar na perfeio com as exigncias do tempo jor-nalstico presente, potenciam um espao de sinergias multimdia
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e corporizam um novo conceito de produo de texto apelativo eadaptvel s exigncias formais do jornalismo. Se olharmos paraos aspectos de contedo, percebemos nos weblogs menos pontosde contacto com o jornalismo do presente, mas talvez uma even-tual visualizao do que se lhe pode vir a pedir: texto cuidado,ligao s fontes, formatao menos rgida, estilo mais prximoda voz humana, maior personalizao e menor intermediao.(SANTOS, 2004)
Jay Rosen, em 2004, defendia os blogs em relao ao jorna-lismo e jornalistas, num texto publicado no seu site, por entre umvasto rol de ideias que blogging is not journalism, but whereasjournalism is on the Web, blogging is deeply of it, and so bloggersare ahead of journalists in learning what the Web is for, and howits ecology works. (ROSEN, 2004) Por sua vez, Rebecca Bloodacaba por ser mais comedida na sua opinio expondo algo quetem tanto de essencial nesta questo como de importante, numtexto publicado no seu blog Rebeccas Pocket. Participatory me-dia and journalism are different, but online they exist in a sharedmedia space. There are tremendous synergies possible betweenthe two. (BLOOD, 2004)
O Editor-chefe do CNN.com, Kurt Muller, numa entrevista aosite Portal Imprensa afirma contar com a colaborao dos cyber-utilizadores. Ns temos nossa equipe de reportagem e jorna-lismo, mas contamos tambm com o material enviado por nossosinternautas. Muller diz ainda que a audincia Online quer estarenvolvida no processo da notcia. Por meio dos blogs e dos co-mentrios que os internautas fazem, ns damos a eles a chance departicipar e recontar a histria de outro ponto de vista. Acredi-tamos que nossos internautas tero uma viso dos fatos diferenteda nossa e, como no somos os nicos a disponibilizar notciasna Internet, queremos facilitar a vida de nosso internauta para queele encontre especificamente aquilo que do seu interesse, mos-trando, desta forma, a necessidade de dar espao de manobra aoleitor para tambm este ter um papel activo inerente ao funcio-namento da Internet. (MULLER cit.in DUARTE, 2007)
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Jay Rosen um dos mais conhecidos defensores do denomi-nado jornalismo do cidado, mas tambm um comedido pensa-dor. Num texto publicado no seu site, Bloggers vs. Journalistsis Over, ele claro quanto ao que se deve pensar sobre o jorna-lismo participativo: The question now isnt whether blogs canbe journalism. They can be, sometimes. It isnt whether bloggersare journalists. They apparently are, sometimes. We have toask different questions now because events have moved the storyforward. By events I mean things on the surface we can see,like the tsunami story, and things underneath that we have yet todiscern. (ROSEN, 2005)
O texto de Rosen em que o autor defende o fim da guerra en-tre bloggers e jornalistas poderia servir de mote para a entrevistaconcedida por Antnio Granado em JornalismoPortoNet, durantea qual refere que os post so sobretudo apontadores para leiturase no jornalismo. O jornalismo uma coisa um bocadinho dife-rente: utilizar as tcnicas jornalsticas para fazer uma notcia confirmar a informao, haver uma investigao prpria, um tra-balho prprio. Eu limito-me a apontar para outros rgos de co-municao social, isto no fazer jornalismo. Quanto muito, faoanlise, mas no jornalismo. Em Portugal, no conheo nenhumblog que faa jornalismo. De vez em quando, h um outro blogque d notcias em primeira-mo. (GRANADO cit.in COELHOe PALHARES, 2005)
Tambm de acordo com o anterior pensamento estar JosLuis Orihuela, que afirma: los blogs no son periodismo, ni nu-evo ni viejo; no hay, en la inmensa mayora de los blogs, la msmnima intencin por hacer periodismo ni los bloggers son con-siderados como periodistas. Lo que tienen los blogs es, por unaparte, un impacto sobre la esfera de la comunicacin pblica, yaque son cauces para hacer periodismo. En estos cauces figuranperiodistas en plantillas de diferentes medios de comunicacinescribiendo en blogs oficiales de estos medios o blogs persona-les. An as, un periodista puede tener su propio blog, pero no leda la condicin de periodista el hacho de trabajar en este formato,
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sino una formacin especfica. (ORIHUELA cit. in PRNoticias,2006)
Neil Henry declara: In the age of "new"media, this rollbackin "old"media may be among the most drastic in recent memory,but it is nothing new to the public. Indeed, across the countrynewspapers have suffered enormous financial losses over the pastdecade, with far fewer professionals today covering the news lo-cally, nationally and internationally as a result of the industryscontraction. (. . . ) When journalists jobs are eliminated, espe-cially as many as The Chronicle intends, the product is inevitablyless than it was. The fact is there will be nothing on YouTube, orin the blogosphere, or anywhere else on the Web to effectively re-place the valuable work of those professionals. (HENRY, 2007)
Existem alguns autores que poderamos denominar de anti-citizen journalism. Vejamos o que escreveu Chris Carroll acercadisto: for Gillmor epigone and imitators (not for Gillmor him-self), there was a new hero, the citizen journalist, struggling againsta bad guy called the traditional journalist. In fact a very bad guythis old journo: outdated, working for a mainstream media dis-gusting, isnt it? -, linked to corporate interests, limited by thenewsroom horizon, not very well connected (nor well educated)and with no knowledge of what can interest average people! Mo-reover, truth and accuracy were no longer his cup of tea, emoposio Carroll descreve, assim, os praticantes do jornalismo docidado: On the contrary, the citizen journalist had so many qua-lities: as a newcomer, he was young, fresh, innocent, independent,with a lot of new ideas on journalism and democracy and on topof that a real love of truth. (CARROLL, 2006)
No seu texto, intitulado From citizen journalism myth to citi-zen journalism realities, o autor diz-nos ainda que este perfil idealde cidado-jornalista apenas existe para alguns bloggers e in-mera depois aquilo que considera uma realidade diferente ondesurgiram quatro categorias de jornalismo do cidado, mas comfew links between them:
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the citizen journalist who owns a digital camera or a ca-mera phone and sends shootings to a news organisation du-ring a major event (tsunami, London bombing. . . ) or a localcar accident;
the citizen journalist who wants to cover its local or virtualcommunity and produce targeted content;
the citizen journalist who is a militant and campaigns forpolitical reasons. How Eason Jordan was fired from CNNby infuriated bloggers in January 2005, was a good exampleof biased citizen journalism;
the citizen journalist who is eager to participate to a con-versation with professional journalists and bloggers. Newsis just the beginning says Jeff Jarvis and, in some cases, itis true.
Concluindo o seu raciocnio, no doubt something new hasappeared in the last two years and that traditional newsrooms willhave to deal with these new citizen journalists. But the idea thatthere is an essence of citizen journalism as replacing the so-called traditional journalism is dead. (CARROLL, 2006)
Na segunda edio do programa Cronicamente Vivel3, a jor-nalista e directora de contedo do site UOL, Mrion Strecker, dei-xou clara a sua opinio: No o fato de todo mundo ter acessoa ferramentas de publicao, num ambiente internacional comoa Internet, que vai transformar todo ser humano em jornalista.Parece-me um pouco desagradvel quando portais do primeirapgina s para dizer que esto aceitando o contedo do pblicoe que so democrticos. Enchem a bochecha para falar esta pa-lavra: democracia. E publicam com quatro dias de atraso umanotcia velha e pior escrita, que j tinha sido publicada com muito
3 Decorreu no ms de Abril de 2007 em So Paulo, foi a segunda edio doprograma Cronicamente Vivel, que este ano tem como tema A Informao e aImaginao na Internet.
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mais preciso dias atrs por um veculo profissional. (STREC-KER cit.in UOL, 2007)
Englobaramos neste ponto a opinio de Nicholas Lemann,um olhar crtico sobre o jornalismo do cidado, num artigo quemerece uma leitura cuidada e que em anlise colocamos os se-guintes excertos. O ttulo claro, Amateur Hour - Journalismwithout journalists, no qual refere que: citizen journalists aresupposedly inspired amateurs who find out whats going on in theplaces where they live and work, and who bring us a fuller, richerpicture of the world than we get from familiar news organizati-ons, while sparing us the pomposity and preening that journalistsoften display. Depois coloca uma pergunta, que define comodifcil. What has citizen journalism actually brought us? Itsa difficult question, in part because many of the truest believersare very good at making life unpleasant for doubters, through re-lentless sneering. Thus far, no traditional journalist has beensilly enough to own up to and defend the idea of belonging toan lite from which ordinary citizens are barred. (LEMANN,2006) Acrescenta ainda: In fact, what the prophets of Internetjournalism believe themselves to be fighting againstjournalismin the hands of an enthroned few, who speak in a voice of phony,unearned authority to the passive massesis, as a historical phe-nomenon, mainly a straw man.(Idem)
Lemann continuaria com the most fervent believers in thetransforming potential of Internet journalism are operating notonly on faith in its achievements, even if they lie mainly in thefuture, but on a certainty that the old media, in selecting what topublish and broadcast, make horrible and, even worse, ignoblymotivated mistakes. They are politically biased, or they are ig-noring or suppressing important stories, or they are out of touchwith ordinary peoples concerns, or they are merely passive trans-mitters of official utterances. The more that traditional journalismappears to be an old-fashioned captive press, the more providen-tial the Internet looks. (Ibidem)
Nicholas Lemann termina com o seguinte pargrafo: jour-
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nalism is not in a period of maximal self-confidence right now,and the Internets cheerleaders are practically laboratory speci-mens of maximal self-confidence. They have got the rhetoricalupper hand; traditional journalists answering their challenges of-ten sound either clueless or cowed and apologetic. As of now,though, there is not much relation between claims for the possi-bilities inherent in journalist-free journalism and what the peopleengaged in that pursuit are actually producing. As journalism mo-ves to the Internet, the main project ought to be moving reportersthere, not stripping them away. (LEMANN, 2006)
s questes anteriormente levantadas poderemos juntar umaoutra: quem so os responsveis pelos textos publicados? Masquem manda, se no h responsveis, se no h uma hierarquia?Para Rodrigo Galiza e Miguelli Simioni, a responsabilidade deveser dividida: Encontrar um culpado no caso de irresponsabili-dade no jornalismo cidado parece ser um impasse. Ao mesmotempo que o "cidado jornalista" o autor do erro, o meio decomunicao possui responsabilidades quanto ao material publi-cado. (GALIZA e SIMIONI, 2007)
Joan Connell, produtor executivo da MSNBC.com, num texto,j acima enunciado, de JD Lasica defende: I would submit that(the newsroom) editing function really is the factor that makesit journalism, mostrando a necessidade, em sua opinio, de umeditor entre os autores e os leitores. (CONNELL cit.in AUSCANNENBERG, 2003)
3.2 Avaliao crticaTentamos expor todas as opinies acerca deste tema, mais ou me-nos convictas, mais ou menos acrrimas, mais ou menos aceit-veis. Por um lado existe quem noticie sem ser jornalista, masdar isso direito ao desgnio de jornalista? Ou ser que devere-mos aceitar apenas como um cidado habilidoso, que funda-mentar a notcia assinada por um profissional, atravs de decla-
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raes ou fornecimento de complementos de notcia (fotografias,vdeos, etc.)?
Ser possvel imaginar que um dia sero somente jornalis-tas do cidado a informar-nos? Olharamos para a notcia eclassificvamo-la como verdadeira e credvel, negvel e menti-rosa ou um misto de tudo isto?
Tal como dissemos anteriormente, o jornalismo do cidadocontinuar como mais um conceito que sabemos da sua existn-cia (isto, de facto, inegvel), reconhecemos e distinguimos a suapresena ou ausncia, mas no podemos arriscar uma definio,sem esperar um reparo ou mesmo uma oposio nossa arriscadadefinio caracterstica esta comum a qualquer fenmeno da In-ternet.
4 As fronteiras do jornalismo: uma problemticapara alm do jornalismo do cidado
4.1 A formao dos jornalistasMas se at agora se ouviu falar, ao longo deste trabalho, em jor-nalismo do cidado como no aceite por alguns, pois no tem cre-ditao acadmica e capacidade creditada para tal funo, o queacontece em Portugal com muitos jornalistas?
A Lei n.o 1/99 de 13 de Janeiro, que aprova o Estatuto doJornalista e, no Artigo 1o do Captulo I, Definio de jornalista,o Jornalista definido como sendo aquele que, como ocupaoprincipal, permanente e remunerada, exerce funes de pesquisa,recolha, seleco e tratamentos de factos, notcias ou opinies,atravs de texto, imagem ou som, destinados divulgao infor-mativa pela imprensa, por agncia noticiosa, pela rdio, pela tele-viso ou por outra forma de difuso electrnica. O ponto dois domesmo artigo refere-se que no constitui actividade jornalstica,o exerccio de funes referidas no nmero anterior, quando de-sempenhadas ao servio de publicaes de natureza predominan-temente promocional, ou cujo objectivo especfico consista em
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divulgar, publicar ou, por qualquer forma, dar a conhecer institui-es, empresas, produtos ou servios, segundo critrios de opor-tunidade comercial ou industrial.
Ainda no mesmo captulo da mesma lei, no Artigo 5o, Acesso profisso, estipulado o seguinte com o ponto 1: A profissode jornalista inicia-se com um estgio obrigatrio, a concluir comaproveitamento, com durao de 24 meses, sendo reduzido a 18meses em caso de habilitao com curso superior, ou a 12 me-ses em caso de licenciatura na rea da comunicao social ou dehabilitao em curso equivalente, reconhecido pela Comisso daCarteira de Jornalista.
Mas o que haver em comum entre estes estagirios e umqualquer blogger que considere estar a fazer jornalismo? Certo que, em alguns blogs, existe um responsvel assumido, mas po-dero estes vir a avaliar um estagirio respeitando o ponto doisdo Artigo 5o: o regime do estgio, incluindo o acompanhamentodo estagirio e a respectiva avaliao, ser regulado por portariaconjunta dos membros do Governo responsveis pelas reas doemprego e da comunicao social? Sim e no? E porque sim eporque no?
Falemos ento na formao dos jornalistas. Em Portugal co-nhecida a existncia de vrios profissionais com Carteira Profissi-onal do Jornalista, sem qualquer habilitao acadmica superior.
Para podermos ter uma ideia mais concreta, apresentamos al-guns dados referentes a um estudo realizado por dois investiga-dores, Salom Pinto da Silva e Jorge Marinho, publicado no siteObservatrio de Imprensa, num artigo com o ttulo Inqurito aoslicenciados em Jornalismo4. A maior parte dos jornalistas dos
4 O projecto de investigao Integrao Profissional dos Licenciados emJornalismo e Cincias da Comunicao a Situao do Porto foi desen-volvido por Salom Pinto da Silva e Jorge Marinho entre 2005 e 2007,e procura caracterizar os jornalistas licenciados em Jornalismo, Cinciasda Comunicao (CC) ou Comunicao Social (CS) e os chefes de redac-o dos mass media do Grande Porto / Portugal. Pode ser consultadoem http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=431DAC004(consultado entre 20 e 27 de Junho de 2007).
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rgos de informao do Grande Porto / Portugal no possui umCurso Superior e s 35,49 por cento tm uma Licenciatura emJornalismo, Cincias da Comunicao ou Comunicao Social.Entre estes licenciados, 52,71 por cento entendem que seria til acriao de uma associao para defender os seus interesses pro-fissionais. Apresentamos alguns dos resultados de um inquritorealizado em 2006, no mbito de um projecto de investigaodo Centro de Estudos das Tecnologias, Artes e Cincias da Co-municao da Universidade do Porto / Portugal. (MARINHO eSILVA, 2007)
No artigo O Ensino do Jornalismo visto pelos Jornalistas,Joo Correia diz o seguinte: de uma forma simplista, podemospensar de que um lado esto os defensores da boa "tarimba", queacreditam que o talento jornalstico no pode ser ensinado nasacademias j que a prtica e a experincia, me de todos os sa-beres, fornecero os elementos essenciais aos profissionais paraexercerem o seu mester com arte e sabedoria. Do outro, surgemos tericos que afirmam que sem uma cuidada preparao tica,deontolgica, filosfica, sociolgica, cultural e tcnica, o jorna-lista no est preparado para exercer a sua profisso. A preto ebranco, as posies poderiam resumir-se a estas duas. (COR-REIRA, 1998)
Neste sentido colocamos dois pontos de vista divergentes, deduas profissionais, entrevistadas no mbito da realizao desteprojecto. Entrevista que poder ser lida na ntegra em anexo aeste trabalho.
A primeira opinio de uma Jornalista de 29 anos com Car-teira Profissional h mais de seis anos mas sem licenciatura.Esta diz-nos, acerca da existncia de Jornalistas com CarteiraProfissional do Jornalista, sem qualquer licenciatura ou com umalicenciatura no englobada na rea da Comunicao Social, comorefere o Artg 5o Capitulo II da LEI N.o 1/99, DE 13 DE JA-NEIRO, o seguinte: No creio que seja essencial para o exer-ccio da profisso, at porque a maioria dos cursos de jornalismoexistentes no pas so de base terica, em que a maioria das ca-
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deiras servem apenas para fornecer ao aluno algum background anvel de cultura geral, conhecimentos que podero ser adquiridosfacilmente por um qualquer autodidacta.
No sentido oposto est a opinio de uma outra profissional,formada em Jornalismo e Comunicao pelo Instituto Politcnicode Portalegre e que possui Carteira Profissional do Jornalista hcinco anos. Se no h, por exemplo, professores, polcias e ad-vogados no habilitados para o efeito, tambm o ttulo de jorna-lista, mais exactamente a carteira profissional, deveria ser limi-tado queles que se prepararam previamente para assumir essafuno, tomando conhecimento dos seus deveres e direitos e prin-cipalmente da legislao que regula a nossa actividade. Na minhaopinio a Comisso da Carteira Profissional de Jornalistas deveriaponderar com mais cuidado a atribuio desse ttulo.
Nelson Traquina diz, no seu livro A Tribo Jornalstica umaComunidade Transnacional, que para Ruellan o jornalismo uma profisso flou, no sentido em que os jornalistas foram in-capazes de delimitar o seu territrio de trabalho de uma formaigual aos mdicos e aos advogados. Ainda de acordo com Ruel-lan a carteira profissional serve um mito fortemente ancoradono esprito do pblico e mesmo dos jornalistas: a existncia deuma estrutura fivel que garante a qualidade e a integridade dosjornalistas, porque faz crer na existncia de uma barreira que ga-rante a qualidade mas que no existe na prtica. (RUELLANcit.in TRAQUINA)
Na opinio da nossa primeira entrevistada (com Carteira Pro-fissional mas sem curso), as cadeiras mais prticas ensinam tc-nicas facilmente apreendidas em algumas semanas de prtica efec-tiva em qualquer rgo de comunicao. Ao nvel da escrita, bvio que o jornalista tem que ter boas bases de portugus paraescrever bem, mas no apenas no curso de jornalismo que seaprende portugus. Mas um suplemento experincia (Estudo)no ser mais vantajoso? Afinal, possvel dispor de um estatutodenominado trabalhador estudante.
Nelson Traquina entrevistado por Mozahir Salomo, no site
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Observatrio de Imprensa, questionou com irnica: Por que osestudos tericos contribuem pouco para melhorar o jornalismo?E responde de forma rspida: Deve ser porque os jornalistas lempouco sobre eles. E continua alertando que o jornalismo estcada vez sendo mais criticado precisamente pelo papel importanteque tem e isso, por si s, j denota a necessidade de compe-tncias especficas para que o profissional possa corresponder sexigncias.(TRAQUINA cit.in SALOMO)
Uma terceira entrevistada para a realizao deste trabalho li-cenciada em Comunicao e Relaes Pblicas e diz que gostariade ser Jornalista, mas no h vagas.
Esta nossa entrevistada no poupou crticas Comisso daCarteira Profissional de Jornalista. No faz muito tempo, em queuma pessoa, independentemente da sua formao acadmica, po-deria solicitar a carteira profissional, escrevendo qualquer coisapara um jornal. Acho que a Comisso Nacional da Carteira Pro-fissional deveria ser mais rigorosa e criteriosa na atribuio dottulo de jornalista.
A nossa segunda entrevistada (com Carteira Profissional e cur-so) vai mais longe e alerta para o seguinte: os poucos direitos ebenefcios que advm da utilizao da carteira profissional devemser atribudos a quem realmente tem conscincia clara dos seus li-mites sob pena de estarmos a impulsionar cada vez mais o sensa-cionalismo e at uma espcie de jornalismo leviano, uma situaoque se afigura de grande gravidade tendo em conta o poder dosrgos de comunicao social na opinio pblica e na sociedadeem geral.
Ser mesmo fundamental esta reflexo? Com a situao ac-tual, o jornalismo est bem ou deviria sofrer alteraes? Que tipode alteraes? Continuaro a existir dois grupos de defensores deideias diferentes? Qual ser mais forte? A Seleco Natural, queDarwin enunciou, talvez se encaixe neste quadro e se encarreguede definir o mesmo!
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5 ConclusoCremos que, quanto existncia de um fenmeno, independente-mente do termo empregue na sua denominao, jornalismo do ci-dado, citizen journalism, participatory journalism ou open sourcejournalism, estamos em total acordo.
Quanto causa, ou melhor, o impulsionador do mesmo, tere-mos de enunciar, como principal, a possibilidade de assumir, porparte de um qualquer cidado, um papel diferente daquele que,at h bem pouco tempo, era conhecido pelo receptor no processode comunicao.
Teremos de deixar a definio de jornalismo de cidado comoalgo no incgnito, mas de definio muito abrangente, tal comotodos os restantes conceitos (referidos ou no neste trabalho), quesurgiram com esta nova tecnologia Internet. De igual modo,todos eles sero facilmente reconhecidos e identificados. Sobreestes conceitos, alguns autores apontaro definies, outros con-testaro, refutaro ou completaro, mas todos reconhecem a suapresena.
Jornalismo do cidado: fundamental ou no? Preferimos di-zer que inevitvel e que se poder sempre tornar til. Quantoa se este tomar controle sobre o Jornalismo, somos perempt-rios em dizer que no. Ser impossvel, apesar de alguns erroscometidos por algum jornalismo contemporneo. Acreditamosque jamais inspirar confiana do leitor um jornalismo do cida-do onde o carisma de rigor e iseno ainda no esto vincados edeterminados.
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Os antecedentes do jornalismo do cidadoInternet -- evoluo Web 2.0Os blogs: histria e evoluo at actualidade
O que o jornalismo do cidado?A participao do pblico nos mediaDefinies de jornalismo do cidado
Jornalismo do cidado: ameaas ou oportunidades para o Jornalismo?Oportunidades Vs. AmeaasAvaliao crtica
As fronteiras do jornalismo: uma problemtica para alm do jornalismo do cidadoA formao dos jornalistas
ConclusoReferncias Bibliogrficas