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Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão José Pedro Santos Oliveira julho de 2018 O Fenómeno da Cultura Pop em Portugal: Exploração do Processo de Compra de Produtos José Pedro Santos Oliveira O Fenómeno da Cultura Pop em Portugal: Exploração do Processo de Compra de Produtos UMinho|2018

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Universidade do MinhoEscola de Economia e Gestão

José Pedro Santos Oliveira

julho de 2018

O Fenómeno da Cultura Pop em Portugal: Exploração do Processo de Compra de Produtos

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José Pedro Santos Oliveira

julho de 2018

O Fenómeno da Cultura Pop em Portugal: Exploração do Processo de Compra de Produtos

Trabalho efetuado sob a orientação da Professora Doutora Elisabete Maria Sampaio Sá

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Marketing e Estratégia

Universidade do MinhoEscola de Economia e Gestão

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Declaração

Nome: José Pedro Santos Oliveira

Endereço Eletrónico: [email protected]

Telefone: 914 582 657

Número do Bilhete de Identidade: 14305874

Título da Dissertação: O Fenómeno da Cultura Pop em Portugal: Exploração do

Processo de Compra de Produtos

Orientador: Professora Doutora Elisabete Maria Sampaio Sá Mestrado em Marketing e Estratégia

Ano de Conclusão: 2018

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO

APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO

ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, __/__/____

Assinatura: _____________________________________________________________

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Agradecimentos

Aos meus pais, por acreditarem em mim e por toda a compreensão neste longo

processo. À minha mãe, por toda a paciência e ajuda nos momentos mais complicados.

Ao meu pai, por todo o tempo dispensado para ajudar a encontrar o caminho certo e por

ter sido um pilar neste trabalho de dissertação.

À Raquel por toda a ajuda, dedicação e paciência, mas principalmente por nunca

me ter deixado desistir.

À minha orientadora, Professora Doutora Elisabete Sá, por ter abraçado este

desafio diferente e por todo o incentivo e ajuda.

A todos os entrevistados que partilharam as suas experiências e perderam uns

minutos do seu tempo, de modo a tornar esta investigação possível.

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Resumo

Título: O fenómeno da Cultura Pop em Portugal: Exploração do processo de compra

de produtos

O presente trabalho de investigação tem como propósito explorar a visão dos

consumidores de produtos relacionados com a Cultura Pop, analisar as suas motivações

e processo de compra. Deste modo, a dissertação pretende explorar o simbolismo que

estas pessoas atribuem aos objetos, perceber os padrões de compra e as contribuições que

os produtos têm aos olhos do consumidor. A literatura sobre o tema revelou-se escassa,

pelo que o presente estudo pretende contribuir para aumentar o conhecimento nesta área.

O estudo inicia-se com uma perspetiva teórica, que aborda os conceitos chave inerentes

ao tema. A pergunta de pesquisa que guia esta investigação é a seguinte: “Qual a origem

do interesse do consumidor pela área da Cultura Popular, quais os fatores psicossociais e

motivações envolvidas no processo de decisão de compra e quais as contribuições destes

produtos após a sua aquisição?”.

Devido à natureza exploratória desta investigação, realizou-se um estudo

qualitativo, onde participaram 38 consumidores de produtos de Cultura Pop, que foram

entrevistados durante os quatro dias da Comic Con Portugal 2017. Os resultados

concluem que as emoções estão presentes no processo de compra e as origens do interesse

começam nos primeiros anos de vida do consumidor.

Palavras-Chave: Pop Culture; Consumo Simbólico; Consumo por Impulso;

Colecionismo

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Abstract

Title: The Pop Culture phenomenon in Portugal: Exploring the process of buying

products

The purpose of this research is to explore the consumers' perception of products

related to Pop Culture about their motivations and consumption process. This way, the

dissertation intends to explore the symbolism that these people attribute to the objects, to

understand the consumption patterns and the contributions that the products have in the

eyes of the consumer. The literature on the subject has been scarce, so the present study

intends to contribute to increase the knowledge in this area. The study begins with a

theoretical perspective, which addresses the key concepts inherent to the theme. The

research question guiding this research is: "What is the origin of consumer interest in the

area of Pop Culture, what are the psychosocial factors and motivations involved in the

purchasing decision process and what are the contributions of these products after their

acquisition?".

Due to the exploratory nature of this research, a qualitative study was carried out,

involving 38 consumers of Pop Culture products that were interviewed during the four

days of Comic Con Portugal 2017. The results conclude that emotions are present in the

purchasing process and the origins of interest begin in the first years of the consumer life.

Keywords: Pop Culture; Symbolic Consumption; Impulse Consumption; Collecting

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ÍNDICE GERAL

Agradecimentos ............................................................................................................... iii

Resumo ............................................................................................................................. v

Abstract ........................................................................................................................... vii

ÍNDICE GERAL ............................................................................................................. ix

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................... xi

ÍNDICE DE TABELAS .................................................................................................. xi

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

2. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................... 7

2.1. Cultura Pop e Sociedade de Consumo .................................................................. 9

2.2. Valor Hedónico da Compra e Consumo Simbólico ............................................ 10

2.3. Elementos Individuais e Psicossociais ................................................................ 11

3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 17

3.1. Pergunta de pesquisa, objetivos e modelo teórico ............................................... 19

3.2. Abordagem de pesquisa ....................................................................................... 21

3.3. Procedimento de recolha de dados ...................................................................... 22

3.4. Amostra ............................................................................................................... 24

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ....................................................... 35

4.1. Relação da pessoa com o objeto e valor simbólico ............................................. 37

4.1.1. Origem do interesse da aquisição de elementos da Cultura Pop ................. 37

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4.1.2. Representações do objeto ............................................................................. 40

4.2. Processo de compra ............................................................................................. 45

4.2.1. Planeamento de Compra ............................................................................... 46

4.2.2. Motivos da compra ....................................................................................... 49

4.3. Após-compra ....................................................................................................... 54

4.3.1. Reação Pós-Compra ..................................................................................... 54

4.3.2. Significado Emocional da compra ................................................................ 59

4.3.3. Contribuição do Produto ............................................................................... 61

5. CONCLUSÃO ............................................................................................................ 67

5.1. Principais conclusões do estudo .......................................................................... 70

5.2. Limitações ........................................................................................................... 71

5.3. Estudos Futuros ................................................................................................... 72

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 73

APÊNDICES .................................................................................................................. 79

Apêndice I – Guião da Entrevista ........................................................................... 81

Apêndice II – Codificação das Entrevistas ............................................................. 83

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo Teórico e Proposições de Pesquisa ................................................... 32

Figura 2 - Estrutura de Análise ....................................................................................... 43

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Idade dos Entrevistados ............................................................................. 26

Tabela 2 - Região de Proveniência dos Entrevistados ............................................... 27

Tabela 3 - Origem do Interesse ................................................................................... 28

Tabela 4 - Representações do Objeto .......................................................................... 28

Tabela 5 - Planeamento de Compra ............................................................................ 28

Tabela 6 - Reação Pós-Compra ................................................................................... 29

Tabela 7 - Motivo de Compra ...................................................................................... 29

Tabela 8 - Significado Emocional da Compra ........................................................... 29

Tabela 9 - Contribuição do Produto ........................................................................... 30

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1. INTRODUÇÃO

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A Cultura Pop (Popular) é, atualmente, uma tendência em crescimento no nosso

país. Prova disso é o sucesso protagonizado por eventos como a Comic Con Portugal,

que contou com a presença de 72.981 visitantes em 2016, mais 20.000 do que no ano de

2015 (Eurogamer, 2017), capazes de juntar áreas como os filmes, as séries televisivas, a

arte, a banda desenhada e os videojogos em dias repletos de interessados. Assim, lado a

lado com o crescimento deste fenómeno em Portugal, o mercado dos objetos, produtos e

merchandise relativos ao tema também tem vindo a notar uma maior procura, como é

possível verificar pelos números apresentados pela Funko (Forbes, 2017) e pelo

aparecimento de lojas especializadas, de que é exemplo a Shop4Nerds.

Objetos como bonecos, estátuas, vestuário e action figures começaram a ser mais

comuns e mais procurados no nosso quotidiano, tal como é possível comprovar com o

constante crescimento e alargamento dos Funko Pop Figures (Forbes, 2017), uma

companhia ligada à réplica de personagens ligadas à Cultura Pop, mas que as produz num

estilo próprio (que já cobre propriedades como filmes, séries televisivas, música e

videojogos). Para além disso, estes produtos começaram a marcar presença noutras lojas

não especializadas na matéria como FNAC, Worten e Media Markt, sendo que até no

mercado dos videojogos, estas figuras começaram a ter utilidade, servindo como

conteúdo adicional aos videojogos. Neste caso são bonecos, denominados Amiibo,

capazes de conectar às consolas para adicionar alguma matéria opcional.

A investigação nesta área apresenta algumas lacunas e oportunidades. Primeiro,

trata-se de um assunto pouco explorado a nível mundial, sendo que esta situação se agrava

no que diz respeito a estudos portugueses. Isto acontece devido à falta de artigos

científicos relacionados com o tema, como é possível verificar quando se pesquisa por

“Pop Culture” e “Popular Culture” em bases de dados subscritas pela Universidade do

Minho, como a B-On, Google Scholar e SCOPUS. O mesmo acontece quando se pesquisa

por “Pop Culture Products” e “Pop Culture Consumption”.

Em particular, a origem do fenómeno e o conceito da Cultura Pop são ainda pouco

claros (Fedorak, 2009; Strinati, 2008). Alguns autores admitem que se trata da cultura do

dia-a-dia, tendo existido desde o aparecimento do homem (Fedorak, 2009), enquanto

outros apenas apontam para a época do pós-segunda guerra mundial (Strinati, 2008), mais

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propriamente com a emergência do cinema de Hollywood, considerado um dos

desenvolvimentos mais significativos no aparecimento da Cultura Pop (Strinati, 2014).

Deste modo, e tendo identificado a lacuna na literatura académica, pretendeu-se

implementar um estudo com foco nas motivações de compra de produtos inerentes à

Cultura Pop, mais especificamente, nos fatores psicossociais envolvidos no processo de

decisão de compra. Desta forma, a pergunta de pesquisa que visa ser respondida nesta

investigação é a seguinte:

“Qual a origem do interesse do consumidor pela área da Cultura Popular, quais os

fatores psicossociais e motivações envolvidas no processo de decisão de compra e quais

as contribuições destes produtos após a sua aquisição?”

A resposta a esta pergunta pretende contribuir para aumentar o conhecimento

acerca do comportamento de consumo que, segundo Hirschman e Holbrook (1982), é

muito mais complexo, imaginativo e emocional do que aquilo que a pesquisa tradicional

do Marketing nos explica. Deste modo, o primeiro objetivo deste estudo passa por

compreender a origem do interesse dos consumidores por produtos relacionados com a

Cultura Pop. Em segundo lugar, pretende-se identificar se existe um planeamento no que

diz respeito à aquisição destes produtos e quais as motivações que guiam o consumidor.

De seguida, é um objetivo deste estudo perceber a relação do consumidor com o produto,

para além de compreender o significado que tem para o mesmo. Por último, pretende-se

perceber como o consumidor se sente após adquirir um novo produto e de que modo esta

compra contribui para a sua vida.

A dissertação que se propõe aqui fazer tem como intuito abordar essa tendência

de consumo em Portugal e conhecer as motivações de compra dos produtos relacionados

com a Cultura Pop, tentando perceber o que leva o consumidor a despender certas

quantidades de dinheiro em produtos simbólicos. Não sendo um bem de primeira

necessidade, nem destinado a resolver uma necessidade básica, como por exemplo, a

alimentação, estes produtos normalmente funcionam como decorações. Podemos afirmar

que se trata de produtos de especialidade (Kotler e Armstrong, 2007), visto terem

características singulares pelas quais um significativo grupo de compradores está disposto

a fazer um esforço especial de compra (Kotler e Armstrong, 2007). O consumidor

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procura, em cada objeto, características e elementos que reforcem o seu ideal de

identidade e expressão (Lübeck, Hopner e Silva, 2015). Assim, proporciona-se a

oportunidade de descobrir se a tendência de consumo na Cultura Pop é influenciada pelo

desejo de acompanhar tendências, seguir novas modas e ver novos produtos e inovações

(Horváth e Adigüzel, 2017).

Pelo seu caráter exploratório, a pesquisa segue uma abordagem qualitativa, tendo-

se privilegiado a entrevista como ferramenta de recolha dados. Para a análise e

interpretação dos resultados, recorreu-se à análise de conteúdo.

A restante dissertação está organizada da seguinte forma: em primeiro lugar foi

feita a revisão de literatura, de modo a melhor compreender academicamente este tema.

Nesta secção, abordou-se três grandes temas: Cultura Pop e Sociedade de Consumo;

Valor Hedónico da Compra e Consumo Simbólico; e Elementos Individuais e

Psicossociais.

De seguida, foi elaborada a metodologia, de modo a definir a abordagem ao tema.

Optou-se por uma abordagem qualitativa, que na prática resultou em 38 entrevistas com

consumidores de produtos relacionados com a Cultura Pop.

Por último, realizou-se a análise de dados, com a finalidade de perceber os

resultados obtidos. Neste ponto, foram definidos códigos e encontrados padrões para que

fosse possível formular conclusões sobre o estudo.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

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2.1. Cultura Pop e Sociedade de Consumo

A Cultura Popular é um reflexo da existência da civilização humana (Newkirk,

2002) e é um fenómeno que pode ser observado através de uma perspetiva popular (Faeni,

2016). A existência de uma nova cultura é muitas vezes considerada como uma nova

situação para uma comunidade (Williams, 2011). Portanto, o fenómeno que prevaleceu

na comunidade tende a ser considerado um novo desafio que traz impactos para o

desenvolvimento futuro da comunidade (Berkhout, et.al, 2002).

Uma sociedade influenciada por esta cultura é, também, alvo de produtos e bens

que são reflexo da mesma, até porque esta pode afetar o desenvolvimento e as motivações

de compra (Horváth e Adıgüzel, 2017). Assim, surge a procura de objetos relacionados

com este fenómeno, de modo a satisfazer o desejo do consumidor, com produtos de

características hedónicas e emocionais (Gilovich, Kumar e Jampol, 2015). Quando

tomamos consciência que vivemos num mundo desenvolvido, também temos que saber

que isso é sinónimo de pertença a uma sociedade consumista (Gilovich, Kumar e Jampol,

2015).

Hoje vivemos numa sociedade de consumo, onde o cidadão está em constante

contacto com bens do seu interesse, até porque o ato de comprar é uma atividade crucial,

acessível e socialmente aprovada (Horváth e Adıgüzel, 2017). No nosso quotidiano, o ser

humano divide o seu capital em bens de necessidade e produtos, cujo objetivo não é

essencial para a sua sobrevivência (Fuat Firat, Dholakia e Venkatesh, 1995). O

comportamento do consumidor é influenciado pelas condições socio-político-económicas

que o rodeiam (Fuat Firat, Dholakia e Venkatesh, 1995) e raros são os objetos que hoje

se oferecem isolados, sem apresentar um contexto de superficialidade.

No seguimento desta ideia, transformou-se a relação do consumidor com o objeto

(Baudrillard, 1998). Desta forma, produtos, serviços e bens surgem no quotidiano

moderno, apenas com o objetivo de posse para o ser humano (Lübeck, Hopner e Silva,

2015). Na ótica do comportamento do consumidor, entende-se que o valor de um produto,

bem ou serviço não reside somente na sua funcionalidade, mas também no significado

emotivo que o mesmo tem para o comprador e do contexto onde se encontra inserido

(Lübeck, Hopner e Silva, 2015). Para além disso, importa perceber que o valor também

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se encontra nos significados que os objetos têm para o individuo (Lübeck, Hopner e Silva,

2015). O simbolismo desses objetos pode ser percebido de forma diferente por alguns

consumidores (Luna-Cortés, 2017).

2.2. Valor Hedónico da Compra e Consumo Simbólico

Deste modo, a relação entre o objeto e o indivíduo pode ser vista de duas

perspetivas: na perspetiva do valor utilitário, que tem a ver com a funcionalidade, a

tangibilidade e as decisões racionais que levam o consumidor a escolher um certo produto

e a do valor hedónico, ligado ao simbolismo, à estética, à psicologia e à emoção no

consumo (Lübeck, Hopner e Silva, 2015). Uma vez que o valor hedónico está ligado às

perceções individuais, é mais subjetivo que o valor utilitário (Babin, Darden, e Gri¬ffin,

1994). O valor hedónico está ligado ao prazer e à excitação aquando da presença de

determinados produtos, sendo a busca pelo prazer o principal objetivo e motivação na

procura de produtos desta categoria (Lübeck, Hopner e Silva, 2015).

Assim, surge o conceito de consumo simbólico, definido como a aquisição de

produtos focados em qualidades, para além de atributos funcionais ou valores comerciais,

e com capacidade para transferir e comunicar significados culturais (McCraken, 1987).

Este tipo de consumo tem vindo a ser analisado por diferentes perspetivas desde a década

de 1980. No entanto, a maior parte da pesquisa examina duas variáveis: a identidade dos

consumidores e o significado dos produtos na sociedade (Luna-Cortés, 2017). Por um

lado, estuda-se a interação simbólica entre os consumidores e os produtos que compram,

ou seja, o consumo simbólico de objetos tangíveis. Por outro lado, existe a importância

dada pelos consumidores a experiências memoráveis (Luna-Cortés, 2017). Deste modo,

as empresas devem satisfazer as necessidades dos clientes, oferecendo produtos de

qualidade acompanhando bons serviços, já que a exigência pela emoção é cada vez maior

na mentalidade do comprador (Serra, 2013). Assim, os clientes reforçam a sua identidade

em todos os produtos que adquirem (Flügel, 1930; James, 1890).

O mundo, particularmente as culturas ocidentais, estão a conhecer uma nova

perspetiva de vida e da condição humana (Firat e Venkatesh, 1993). O hedonismo

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começou a ganhar importância e prioridade como resposta à pós-modernidade e este

conceito assenta no prazer de viver e na gratificação que cada momento proporciona (Firat

e Venkatesh, 1993). Relativamente a esta ligação e relação entre o consumidor e o objeto,

é possível afirmar que a essência do produto não se encontra somente no objeto, ou seja,

o Homem atribui um significado ao bem e aspetos como o valor hedónico ajudam a

explicar questões relacionadas com a busca pela exclusividade do produto consumido, o

seu significado simbólico, a excitação emocional que provoca e a evocação imaginária a

ele associada (Lübeck, Hopner e Silva, 2015). O valor hedónico define-se pela

materialização de desejos, o que se traduz num aglomerado de emoções que surgem

aquando do momento de consumo (Miller, 2000; Bardhi e Arnould, 2005). O processo de

consumo de um produto desta natureza concede uma associação positiva ao ato (Forsythe,

Butler e Kim, 1991). Desta forma, o interessado em produtos desta dimensão tem

tendência a ser mais consumista (Scarpi, 2006).

O valor simbólico permite adicionar qualidades e defeitos que podem não estar à

vista de todos. Quando um produto tem estas qualidades/defeitos simbólicos refletem

tendências ou valores estéticos que podem influenciar a aquisição do mesmo (Creusen e

Schoormans, 2005). Como exemplo, uma pessoa pode gostar da aparência física do

produto, mas pode não o adquirir se o associar a certas conotações negativas simbólicas

(Creusen e Schoormans, 2005). Neste caso, o verdadeiro valor do produto não está

somente no objeto, mas sim no valor emocional e na relação entre o comprador e o artigo,

juntamente com a importância que lhe é atribuída (Grubb e Grathwohl, 1967).

2.3. Elementos Individuais e Psicossociais

O humor (Kim, Park e Schwarz, 2010) e as emoções (Lerner e Keltner, 2000;

Loewenstein e Donoghue, 2004) são fatores de influência na motivação de um utilizador

aquando do uso de um certo produto, sendo também apontados como um efeito de

compra. O orgulho é outro elemento determinante na compra de certos produtos (Firat e

Venkatesh, 1993). Um exemplo são as conotações atribuídas a uma certa ação, como a

compra de chocolate, cuja conotação é oposta à aquisição de uma inscrição no ginásio,

visto que o consumidor procura, cada vez mais, a identidade pessoal, sendo reconhecido

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pelos outros através daquilo que consome (Firat e Venkatesh, 1993). As diferenças das

escolhas e experiências de consumo moldam o ser humano e tornam-no único (Firat e

Venkatesh, 1993).

Os efeitos morais também podem servir de influência ao comportamento de

compra. O prazer é visto como essencial para o estímulo de uma compra por impulso,

seguido do sentimento de pouca reflexão e da excitação (Bashar, Ahmad e Wasig, 2013).

Assim, surge a conclusão de que a compra impulsiva ajuda a ampliar os sentimentos

acima referidos. Porém, um estado de espírito negativo não é visto como entrave a uma

compra por impulso, dado que o consumidor vê na aquisição uma forma de lhe levantar

o espírito. A utilização do produto gera bem-estar em momentos de depressão (Lübeck,

Hopner e Silva, 2015). Contudo, este tipo de consumo pode ser visto como uma compra

impulsiva, que resulta numa aquisição espontânea, sem reflexão e imediata (Lübeck,

Hopner e Silva, 2015). Este tipo de compra pode ser crónica e repetitiva, mas gera prazer,

gratificação e é vista como a resposta a eventos ou a sentimentos negativos que reduzem

a angústia e a ansiedade (Jung, 2017). Os motivos que levam a uma compra impulsiva

podem ser fisiológicos, ambientais, sociais e psicológicos (Hassay e Smith 1996).

Desta forma, é possível afirmar que o consumidor procura o “novo”, podendo ter

na sua posse um objeto mais antigo que é capaz de satisfazer as mesmas necessidades e

os mesmos desejos (Baudrillard, 1998). Deste ponto de vista, uma sociedade de consumo

surge lado a lado com uma sociedade de desperdício, onde existe a constante substituição

de bens por outros cujos benefícios e regalias são idênticos (Baudrillard, 1998). Assim, o

consumidor desperdiça, gasta e consome sempre além da estrita necessidade, pela simples

razão de que é no consumo do excedente e do supérfluo que tanto o indivíduo como a

sociedade, se sentem não só existir, mas viver (Baudrillard, 1998). Isto significa que o

cidadão tem a necessidade de ostentar o novo e consumir muito mais do que aquilo que

realmente necessita (Baudrillard, 1998).

Os tipos de produtos consumidos e a satisfação que estes nos provocam podem

melhorar o bem-estar da sociedade e enriquecer a vida de quem os consome através da

felicidade proporcionada (Gilovich, Kumar e Jampol, 2015). Assim, surge o conceito de

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reciclagem na sociedade moderna, onde os produtos vão sendo constantemente

substituídos e reciclados, dando lugar a novas entradas (Baudrillard, 1998).

No ramo destes produtos, existe uma tendência para procurar o exclusivo e o

limitado, visto que, por vezes, existem produtos muito restritos a nível mundial e a

necessidade de exclusividade é definida como a perseguição de uma individualidade em

relação aos demais membros do grupo social (Lübeck, Hopner e Silva, 2015). Assim, esta

aquisição tem a finalidade de desenvolver a identidade pessoal e social, relacionando-a

com o consumo de certos produtos (Tian, Bearden, e Hunter, 2001).

Neste contexto, o consumo simbólico está ligado ao consumo de experiências e

os consumidores, movidos pela necessidade de conferir simbolismo às coisas que

compram, agem de modo a projetar os símbolos após o consumo de experiências (Luna-

Cortés, 2017). Estas ações podem ser motivadas pela intenção de mostrar aos outros que

se está a viver uma experiência (Luna-Cortés, 2017). Assim, o consumidor precisa de

mostrar aquilo que compra e as sensações que experimenta para reforçar a sua identidade

(Belk, 1988). Apesar disto, a compra de produtos simbólicos ainda não está muito

estudada no contexto académico, aquando da sua ligação ao consumo de experiências

(Luna-Cortés, 2017), podendo ser considerado um gap na literatura, o que poderá resultar

numa linha interessante de investigação. O conceito de consumo de experiências pode ser

definido como o consumo de sensações e memórias num ambiente capaz de as criar

(Gazley e Waitling, 2015).

Todavia, fatores biológicos também podem causar esta tendência (Faber e

O’Guuinn 2008). Holbrook, (2000) afirma que a relação entre bens/serviços e

experiências aplica-se a qualquer tipo de consumo, isto porque um simples bem material

pode tornar-se numa experiência. Exemplo disso é o açúcar que se transforma numa

sobremesa saborosa. Os produtos podem ser adquiridos impulsivamente, e os

consumidores envolvem-se em compras de impulso na ocasião (Chen e Wang, 2015).

Neste contexto, uma das complexidades do consumo de experiências reside na

identidade de cada um. Isso significa que os indivíduos têm a necessidade de demonstrar

à sociedade que os bens têm como base as suas próprias experiências e história pessoal

(Chatzidakis e Lee, 2013). Deste modo, as identidades dos consumidores são formadas

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pelas experiências vivenciadas, que dizem respeito às que já ocorreram e às que ainda

ocorrerão (Luna-Cortés, 2017). Para além disso, o comportamento do consumidor está

ligado à sua identidade. Portanto, o consumo de uma experiência futura poderá ter como

base o que os indivíduos esperam de si mesmos e o que eles pensam que outros esperam

deles (Serra, 2013).

Existe ainda uma possível relação entre a identidade e o consumo da experiência,

uma vez que os consumidores se olham como heróis duma história que é formada pelas

experiências (Holbrook, 1997). As ações do indivíduo são guiadas por um propósito, de

modo a construir experiências pessoais, o que acabará por definir a identidade dessa

mesma pessoa (Carú e Cova, 2003). Com o crescimento da importância do consumo

experiencial, as empresas como a Disney ou a Starbucks conseguem atrair mais

consumidores através da organização de experiências memoráveis (Holbrook, 2000).

Os produtos relacionados com a Cultura Popular também contêm uma

característica relacionada com a socialização e com a comunicação, uma vez que podem

ser vistos como meios influenciadores de comportamento entre vários grupos sociais

(Grubb e Grathwohl, 1967). O consumo destes produtos ganha mais importância, uma

vez que o indivíduo acredita que o objeto adquirido contém um reconhecimento público

positivo junto do seu grupo social (Lübeck, Hopner e Silva, 2015). Um objeto desta

natureza é visto como algo de cariz social, graças ao simbolismo que carrega, ajudando

no processo de socialização entre o comprador e outras pessoas cujos interesses são

idênticos (Lübeck, Hopner e Silva, 2015).

Deste modo, surge a ideia que estes objetos devem ser visualizados como

“personagens unitários”, detentores de diferentes significados, que se destacam a partir

da relação entre o objeto e os indivíduos que classificam o objeto (Grubb e Grathwohl,

1967). Assim, surgem como formas de comunicação dirigidas a pessoas do mesmo grupo

social que acabam por influenciar o comportamento entre os elementos deste mesmo

grupo (Grubb e Grathwohl, 1967).

Todos estes fatores são consensuais no que diz respeito ao colecionismo, fator

chave no âmbito de produtos da Cultura Pop, definido como o ato de consumo de bens,

estabelecendo uma ligação entre o indivíduo e o mundo material (Pearce, 1995;

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Formanek, 1991; Belk, 1988). A ação de colecionar é um processo ativo de seleção por

meio de emoções (Belk, 1995). O colecionador procura uma sensação de segurança de

foro psicológico, devido a sensações de insegurança geradas em alturas de maior

fragilidade, como a infância (Zolfagharian e Cortes, 2011).

Assim, colecionar pode ser visto como um ato nostálgico ou uma tentativa de

remendar ou compensar a insegurança sentida na infância, atribuindo um significado

simbólico a objetos, remetendo para sentimentos de segurança (Lübeck, Hopner e Silva,

2015). Este tipo de consumo é muito mais do que uma simples satisfação de necessidades:

trata-se de um fornecedor de significados para a vida do sujeito (Belk 1988).

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3. METODOLOGIA

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3.1. Pergunta de pesquisa, objetivos e modelo teórico

O estudo das tendências no consumo de bens relacionados com a Cultura Pop

peca por escassez de investigações e é importante que se tenha cada vez mais elementos

para compreender os consumidores da sociedade moderna (Lübeck, Hopner e Silva,

2015). A presente investigação pretende contribuir para aumentar o conhecimento nesta

área, procurando a resposta para a seguinte questão de pesquisa:

“Qual a origem do interesse do consumidor pela área da Cultura Popular, quais os

fatores psicossociais e motivações envolvidas no processo de decisão de compra e quais

as contribuições destes produtos após a sua aquisição?”

Com a resposta a esta questão pretende-se atingir os seguintes objetivos:

- Compreender a origem do interesse dos consumidores por produtos relacionados

com a Cultura Pop.

- Identificar a existência de um planeamento, no que diz respeito à aquisição destes

produtos e quais as motivações que guiam o consumidor

- Perceber a relação do consumidor com o produto, para além de compreender o

significado que tem para o mesmo.

- Perceber como o consumidor se sente após adquirir um novo produto e de que

modo esta compra contribui para a sua vida.

Tendo em conta a referida pergunta de pesquisa e os objetivos da investigação e com base

no conhecimento oferecido por estudos anteriores, descrito na seção de Revisão da

Literatura, o estudo segue o seguinte modelo de análise:

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Figura 1 - Modelo Teórico e Proposições de Pesquisa

Com base na literatura, sugerem-se as seguintes proposições de pesquisa:

P1. A ligação histórica com o objeto, por exemplo, com origem na infância e as

associações e significados positivos associados ao objeto aumentam a relação emocional

com o mesmo, sendo que o valor simbólico se sobrepõe ao valor material.

P2. Quanto maior for a relação emocional com o objeto, menos planeada e mais impulsiva

é a compra, e menor é a sensibilidade ao preço.

P3. A compra do objeto com forte valor simbólico contribui, por um lado para o reforço

da identidade pessoal e, por outro para a um maior sentimento de pertença a um grupo.

Dentro da pesquisa qualitativa, existe uma divisão nas técnicas de recolha de

dados em dois grupos: as técnicas diretas ou interativas e as técnicas indiretas ou não-

interativas (Aires, 2015). Este autor coloca a entrevista como uma técnica direta, podendo

ser utilizada para fins comerciais, políticos e científicos, para além de poder ter uma

duração variável. A entrevista tem como objetivo explicar mais do que aquilo que

compreende, minimizando os erros, através da obtenção de respostas racionais, dentro de

um formato pergunta/resposta, em que se espera que o entrevistado seja o mais verdadeiro

possível (Aires, 2015). Assim, existem critérios de validade para as investigações

qualitativas, destacando-se a credibilidade, que define como o valor da verdade entre os

dados recolhidos e a realidade; a aplicabilidade, como o grau em que as conclusões da

Relação da pessoa

com o objeto

(valor simbólico)

Influências

Decisão e processo

de compra

Após compra

(perceções dos

efeitos no

indivíduo)

P1

P2 P3

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investigação podem ser aplicadas; a consistência, definida como a repetição de

informações nos participantes; e, por último, a neutralidade, que são dados não

enviesados pelo investigador (Öhman, 2005).

3.2. Abordagem de pesquisa

O design de pesquisa indicado para o trabalho em questão assenta numa

abordagem exploratória. Esta escolha acontece devido ao carácter deste design, onde se

investiga um problema com carência de histórico de pesquisas, de modo a procurar um

fio condutor, padrões, ideias e hipóteses (Theodorson e Theodorson, 1970). Esta

abordagem permite a escolha de técnicas mais adequadas para a pesquisa, respondendo a

questões onde é necessário maior realce e detalhe (Piovesan e Temporini, 1995). A

escolha de uma investigação com teor exploratório pode ocorrer devido à curiosidade do

investigador ou porque este deseja uma compreensão mais rica do fenómeno de interesse

do que um estudo descritivo direto poderia fornecer (Polit e Hungler, 1987). Esse motivo

é particularmente saliente quando um tópico ou área pouco explorada está a ser

investigada, para o qual nenhuma teoria pode ser identificada e considerada eficaz ou

satisfatória (Polit e Hungler, 1987).

Este design permite tanto o uso de métodos qualitativos como quantitativos

(Piovesan e Temporini, 1995). Contudo, no caso desta dissertação, o uso dos métodos

qualitativos ajudará a perceber melhor o sentimento do consumidor (Márquez e Delgado,

2017), e o que o guia na compra de um produto não considerado fundamental para a sua

vida. Estudos qualitativos diretos ou indiretos geram informações ricas (Nancarrow,

Nancarrow e Page, 2002). Além disso, a pesquisa qualitativa fornece uma visão

aprofundada das várias perspetivas de fenómenos organizacionais e motivações para

ações (van Rijnsoever, 2017), para além de permitir que os fenómenos humanos sejam

explorados em pormenor (Öhman, 2005).

Desta forma, a abordagem qualitativa foi a escolha nesta investigação, uma vez

que realça os valores, as crenças, as representações, as opiniões, atitudes e, usualmente,

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é empregada para que investigador compreenda os fenómenos caracterizados por um alto

grau de complexidade interna do fenómeno pesquisado (Ribeiro, 2008).

Atualmente, a pesquisa qualitativa está muito presente nas ciências humanas e

sociais e pretende compreender um determinado fenómeno e tudo o que o envolve

(Chizzotti, 2003).

3.3. Procedimento de recolha de dados

Para a recolha de dados recorreu-se à entrevista pessoal uma vez que permite

explorar os pontos de vista, experiências, crenças e/ou motivações dos indivíduos em

assuntos específicos (Gill, Stewart, Treasure & Chadwick, 2008). Os mesmos autores

defendem que as entrevistas são uma ferramenta adequada quando se pretende investigar

um fenómeno sensível e pouco detalhado, no qual os participantes podem não estar

disponíveis para falar sobre ele dentro de um grupo.

A entrevista é uma das técnicas mais pertinentes, quando o investigador quer obter

informações a respeito do seu objeto, que permitam conhecer atitudes, sentimentos e

valores subjacentes ao comportamento (Ribeiro, 2008). Uma das principais

características da entrevista é o facto de ser complexa e depende de fatores internos e

externos, como por exemplo, do conhecimento e habilidades do entrevistador, da relação

que se cria entre entrevistador e entrevistado e da personalidade do entrevistado (Ribeiro,

2008). Existem três tipos de entrevistas: estruturadas, semiestruturadas e livres. Neste

caso de estudo, o tipo que mais se adequa é a semiestruturada, uma vez que, “as questões

são formuladas de forma a permitir que o sujeito discorra e verbalize seus pensamentos,

tendências e reflexões sobre os temas apresentados” (Ribeiro, 2008).

É importante que o entrevistador conheça bem a estrutura da entrevista para que

pareça um processo mais natural (Gill, Stewart, Treasure & Chadwick, 2008). Além

disso, Ribeiro (2008) explica que a cordialidade resulta numa relação de confiança e dessa

forma, o sucesso da entrevista estará mais perto de ser conseguido. A partilha de

experiências e emoções está subjacente a este tipo de pesquisa, onde o investigador retira

significados do que é transmitido (Chizzotti, 2003).

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A entrevista é fundamental quando se pretende obter informações pragmáticas,

assentes nas experiências sociais e individuais dos participantes, sendo que as questões

se referem a comportamentos passados, presentes e futuros (Aires, 2015). Uma

investigação qualitativa assenta nas experiências vividas pelos participantes, enfatizando

o comportamento humano e a interação social, através da exploração da qualidade e não

da quantidade (Öhman, 2005). Esta abordagem permite que o investigador descubra não

só o pensamento e as ideias do indivíduo, mas também a forma como agiu ou age quando

exposto a determinado tema (Aires, 2015), visto que a realidade não é a mesma para todas

as pessoas, que a experimentam de maneira diferente (Öhman, 2005).

Não existe nenhum método certeiro que leve os entrevistados a confiar no

entrevistador e a partilhar as suas experiências, mas Arsel (2017) sugere que se estabeleça

uma conexão antes de o gravador ser ligado, através de uma explicação do procedimento

da entrevista e do que o entrevistador espera do entrevistado. Para esta ligação resultar, é

necessário também explicar em que consiste o estudo e explicar a razão do interesse no

tema, de modo a mostrar o lado mais humano e envolver o entrevistado (Arsel, 2017).

Deste modo, o entrevistado deve sentir-se confortável com o tema, de modo a que as

respostas sejam o mais naturais possível. Os entrevistados devem ter uma ideia ampla

sobre a pesquisa em que estão a participar sem conhecerem os conceitos para que estes

surjam naturalmente nas suas respostas (Arsel, 2017). Estas indicações foram seguidas

neste trabalho pelo investigador.

De modo a responder à pergunta de pesquisa e aos objetivos referidos em cima e

tendo em conta a abordagem de pesquisa adotada, optou-se pela realização de entrevistas

a consumidores deste tipo de produto, de modo a melhor explorar as motivações que

guiam o interesse do consumidor até à aquisição final. As entrevistas são fundamentais

quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de

universos sociais específicos (Duarte, 2004). Assim, foram conduzidas entrevistas a

pessoas que se interessam pela Cultura Pop e que estão dispostos a comprar estes

produtos, ou que já o fizeram no passado.

As entrevistas foram realizadas durante o Comic Con Portugal, evento presente

na Exponor (Leça da Palmeira, Matosinhos) durante os dias 14, 15, 16 e 17 de dezembro

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de 2017. O Comic Con Portugal é o evento de Cultura Pop com mais expressão em

território luso, tendo contado com 187 convidados de diversas nacionalidades, 206

conteúdos e 405 atrações, dispersas por quatro dias e durante este evento, contou com

100.748 visitantes (Comunidade de Cultura e Arte, 2018). As entrevistas foram

direcionadas a pessoas interessadas em estátuas, action figures e réplicas de elementos

(que são os elementos melhor representativos das personagens) relacionados com a

Cultura Pop e que se encontravam nas imediações dos postos de venda dos produtos em

questão.

Durante o decorrer das entrevistas, foi perguntado aos entrevistados (Apêndice 1)

a origem do interesse para a compra destes objetos, a relação entre a pessoa e o produto,

o planeamento de compra, a reação pós compra, motivo que os leva a adquirir um produto

desta natureza, o significado do objeto e, por último, a contribuição do produto na vida

do indivíduo. As perguntas foram previamente definidas, contudo é perfeitamente

correto, e desejável, rever as perguntas durante uma entrevista (Arsel, 2017). Foram ainda

recolhidos alguns dados mais diretos, de modo a melhor situar a amostra. Deste modo,

foi recolhida a informação da idade do comprador, a sua naturalidade, a data da primeira

compra, a frequência de aquisição de novos produtos, a dimensão da coleção já obtida e,

por último, o valor da mesma.

3.4. Amostra

De modo a escolher uma técnica de amostragem que fosse ao encontro do objetivo

desta investigação, escolheu-se a amostragem intencional (purposive sampling)

(Robinson, 2014). Assim sendo, o investigador adota uma estratégia intencional na

captação e escolha de elementos de amostra, de modo a encontrar perspetivas diferentes,

linhas de pensamento únicas e opiniões que vão de encontro à temática estudada

(Robinson, 2014). Ao utilizar esta técnica, o investigador pôde escolher os indivíduos a

entrevistar, aproveitando o maior evento de Cultura Popular do país, o Comic Con 2017,

para conversar com pessoas juntos às lojas que vendiam produtos relacionados com a

temática.

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Um ponto fundamental na implementação de uma estratégia de entrevistas é

definir o número suficiente das mesmas. O processo de amostragem é um dos elementos

essenciais neste tipo de investigação (Onwuegbuzie & Leech, 2007) e, por isso, é

necessário selecionar uma amostra que vá ao encontro das questões e objetivos de

pesquisa (Onwuegbuzie & Leech, 2007). Se alguns autores afirmam que 15 é o número

mínimo de entrevistas necessárias (Bertaux, 1981), outros assumem que seis a 12

entrevistas podem ser o suficiente (Guest, Bunce e Johnson, 2006) para se atingir a

saturação teórica. Dworkin (2012) refere que vários artigos e livros sugerem entre cinco

e 50 participantes nos estudos qualitativos. Assim, não existe consenso para o tamanho

da amostra na consulta qualitativa (Patton, 1990), apesar de se defender que a amostra

qualitativa costuma ser mais reduzida que a quantitativa (Marshall, 1996). Normalmente,

quando se trata de pesquisa qualitativa, o objetivo do investigador não é generalizar os

resultados, mas sim conseguir compreender um fenómeno, o que o leva a selecionar uma

amostra propositada que permite atingir essa perceção (Onwuegbuzie & Leech, 2007).

Este tipo de amostra define-se como amostragem intencional (Onwuegbuzie e

Leech, 2007). Por sua vez, não sendo a generalização o objetivo desta investigação, o

tamanho da amostra não se revela tão crucial como afirmam Onwuegbuzie e Leech,

2007). Uma declaração geral da pesquisa qualitativa sobre o tamanho da amostra é que a

recolha e análise de dados deve continuar até o ponto em que não surjam novos códigos

ou conceitos, ponto este em que é atingida a saturação teórica (van Rijnsoever, 2017). Já

Fontanella et al. (2011) consideram que existe saturação teórica quando o investigador

percebe que não vão surtir mais elementos novos através da interação com o campo de

pesquisa. Em muitos estudos, o tamanho da amostra é frequentemente selecionado de

maneira aparentemente arbitrária, sem grande justificação fornecida para o esquema de

amostragem (Onwuegbuzie & Leech, 2007). Deste modo, segundo os mesmos autores,

os investigadores esforçam-se para retirar o maior significado possível dos dados que

possuem.

Em termos de quantidade de entrevistados para tornar a amostra viável, o

investigador recorreu ao estudo de Patton, que defende que o número de elementos

depende do objetivo do estudo, do que se pretende descobrir e da credibilidade da amostra

(Patton, 1990). Relativamente à saturação teórica, o investigador utilizou as ideias de van

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Rijnsoever (2017), que defende que esta é atingida quando os novos conceitos

encontrados não acrescentam informações novas e pertinentes aos padrões já descobertos.

Assim sendo, não existe um número de entrevistas previamente definido para a

elaboração de uma amostra (van Rijnsoever, 2017). No presente trabalho, a saturação

teórica foi atingida na trigésima primeira entrevista, quando o entrevistado afirma que a

compra de um produto significa uma experiência nova.

Assim, realizaram-se 38 entrevistas, entre 14 e 17 de dezembro de 2017, com uma

duração média de 9 minutos.

A amostra foi selecionada de entre compradores de merchandise e produtos

relacionados com a Cultura Popular. Os entrevistados tinham entre 18 e 47 anos, apesar

da grande maioria das entrevistas ter sido realizado a pessoas com cerca de duas décadas

de vida (Tabela 8). A proveniência dos entrevistados também variou, apesar de regiões

como o grande Porto e grande Lisboa se destacarem em relação às demais (Tabela 9).

Foram entrevistados 38 consumidores de objetos ligados à Cultura Popular, sendo que a

totalidade das entrevistas decorreu durante o Comic Con Portugal, edição de 2017, na

Exponor (Matosinhos).

Tabela 1 - Idade dos Entrevistados

Idade Nº de Consumidores

20 ou menos 9

21 aos 30 23

31 aos 40 5

41 ou mais 1

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Tabela 2 - Região de Proveniência dos Entrevistados

Região Nº de Consumidores

Porto 17

Lisboa 9

Braga 4

Amarante 2

Penafiel 1

Felgueiras 1

Leiria 1

Coimbra 1

Aveiro 1

Bragança 1

Um fator fundamental para fazer parte da amostra previamente definida seria a

compra (única ou contínua) de action figures, réplicas ou estátuas de elementos da

Cultura Pop. Assim, de acordo com os resultados obtidos, os elementos em foco nas

entrevistas efetuaram a primeira compra em produtos da área entre 1995 e 2017. Apesar

de existir muita discrepância na frequência de compra destes produtos, em média pode-

se afirmar que são adquiridos de forma trimestral, ou anual, que foram as frequências

mais referidas. Ainda assim, existem registos de compras mais frequentes, como

aquisições semanais. A maioria dos entrevistados têm entre 1 e 40 produtos, sendo que a

resposta não foi consensual, tendo chegado a coleções de centenas de objetos.

Durante a análise de dados foi necessário elaborar a transcrição da totalidade das

entrevistas, a fim de melhor compreender os padrões entre elas. Fontanella et al. (2011)

recomendam que as entrevistas gravadas devem ser transcritas integralmente, ideia

partilhada com Gill, Stewart, Treasure e Chadwick (2008) que defendem que assim se

evitam desvios do que foi ou não dito. De modo a estudar estas conversas com os

consumidores, procurou-se encontrar semelhanças e diferenças entre elas e categorias e

códigos de classificação das narrativas. Os códigos encontrados estão divididos em sete

dimensões, conforme as tabelas 3 a 9.

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Tabela 3 - Origem do Interesse

Códigos Frequência

Infância 22

Reflexo de filmes e séries 17

Adolescência 5

Influência familiar 9

Influência de amigos 6

Após eventos 1

Media 1

Tabela 4 - Representações do Objeto

Códigos Frequência

Admiração pelas

personagens 21

Colecionismo 16

Objetos estéticos 10

Estilo de vida 8

Parte de mim 4

Fonte de inspiração 2

Investimento 1

Divertimento 1

Obsessão 1

Tabela 5 - Planeamento de Compra

Códigos Frequência

Compra pensada e

planeada 28

Possível compra por

impulso 10

Compra de oportunidade 9

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Tabela 6 - Reação Pós-Compra

Códigos Frequência

Satisfação 35

Noção de desnecessário 12

Remorso 5

Cumpre expetativas 3

Orgulho 3

Euforia 2

Tabela 7 - Motivo de Compra

Códigos Frequência

Ligação a uma

personagem 38

Ligação à área 6

Raridade 6

Estética e qualidade 4

Tabela 8 - Significado Emocional da Compra

Códigos Frequência

Alegria 24

Nostalgia 23

Afetividade 14

Orgulho 12

Amor 4

Felicidade 4

Euforia 4

Vaidade 3

Amizade 2

Aprendizagem 1

Inspiração 1

Experiência 1

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Tabela 9 - Contribuição do Produto

Códigos Frequência

Lembrança de

momentos/Nostalgia 18

Auxílio na criação de laços

sociais 15

Reflexo de identidade 13

Felicidade 9

Suporte emocional 9

Tendo em conta a pergunta de pesquisa e os objetivos do estudo e tendo como

guia o modelo teórico definido, foram colocadas aos entrevistados questões com o

objetivo de explorar o valor simbólico do objeto, o seu processo de compra e o reação

pós-compra. Em particular, pretendeu-se compreender a relação da pessoa com o objeto,

nomeadamente explorando a origem do interesse pelo mesmo e os significados que lhe

são atribuídos; as motivações e o processo de compra dos produtos e, por último, os

sentimentos e emoções após a compra. A Figura 2 apresenta a estrutura das dimensões de

análise do estudo e os códigos e subcódigos extraídos dos dados em cada uma delas.

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Relação com o

objeto

(valor simbólico)

Origem do

interesse

Representações

do objeto

Infância

Reflexo de filmes e séries

Adolescência

Influência da família

Influência de Amigos

Media

Após Eventos

Admiração pelas

Personagens

Colecionismo

Estilo de Vida

Objetos Estéticos

Fonte de Inspiração

Investimento

Divertimento

Obsessão

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32

Processo de

compra

Planeamento de

Compra

Compra Pensada e Planeada

Possível Compra por Impulso

Compra de Oportunidade

Motivo de

Compra

Ligação à Área

Ligação a uma Personagem

Raridade

Estética e Qualidade

Após Compra

Reação Pós-

Compra

Satisfação

Noção de Desnecessário

Remorso

Cumpre Expetativas

Orgulho

Euforia

Contribuição do

Produto

Lembrança de Momentos

Criação de Laços Sociais

Reflexo de Identidade

Suporte Emocional

Felicidade

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Figura 2 - Estrutura de Análise

Este esquema foi fundamental, uma vez que as entrevistadas foram analisadas de

forma a interpretar as emoções e formas de pensar dos entrevistados. Deste modo,

pretendeu-se elaborar um estudo mais ligado a um campo menos palpável. “Existem dois

campos na análise de conteúdo: “o campo objetivo, em princípio mais palpável; e o campo

simbólico, ou seja, naquilo que não está aparente na mensagem” (Campos, 2004).

Segundo o mesmo autor, a criação deste esquema não só é importante, como é a segunda

fase da análise de conteúdo. Seguindo esta lógica, a análise de conteúdo será indutiva

(Elo e Kyngäs, 2008). Durante este processo, o investigador optou pela elaboração de

códigos categorizados, com o objetivo de agrupar informação similar e melhor analisar a

totalidade dos conceitos encontrados nas entrevistas.

Significado

Emocional da

Compra

Afetividade

Nostalgia

Alegria

Amor

Aprendizagem

Amizade

Felicidade

Vaidade

Inspiração

Orgulho

Euforia

Após Compra

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34

Relativamente à análise de cada uma das entrevistas, é necessário interpretá-las e

agrupá-las em diversas categorias (Duarte, 2004). Quando se efetua este tipo de análise,

o objetivo é a descrição de um fenómeno de maneira a compreendê-lo e aumentar o

conhecimento (Elo e Kyngäs, 2008). A codificação foi fulcral no desenrolar desta análise,

uma vez que a totalidade da informação recolhida aquando das entrevistas não é toda

relevante para o estudo em questão (Duarte, 2004). Deste modo, é necessário perceber

aquilo que realmente nos interessa, de modo a eliminar o desnecessário e codificar os

conceitos mais importantes para a nossa temática (Duarte, 2004).

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

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37

4.1. Relação da pessoa com o objeto e valor simbólico

Para perceber as motivações de consumo das pessoas, é necessários perceber a

relação do consumidor com o objeto. Desta forma, começou-se por perceber de onde

surge o interesse por esta área. Posteriormente, percebe-se a representação que estes

objetos têm para as pessoas.

4.1.1. Origem do interesse da aquisição de elementos da Cultura Pop

Infância: Após analisar as respostas, foi possível concluir que a infância é o fator

que mais contribui para a origem do interesse pela aquisição de produtos da Cultura

Popular (em 38 entrevistados, 22 apontaram o período da infância como um dos

elementos mais preponderantes do interesse). O interesse que tem a génese na infância é

frequentemente despertado por séries televisivas, livros ou filmes que marcaram esse

período na vida dos entrevistados. Como referem os entrevistados “Eu vejo uma anime

desde que começou, ou seja, desde a minha infância e continuo a acompanhar com o

mesmo gosto” (Ent#1); “A infância desempenhou um papel fundamental, nomeadamente

no gosto pela saga Harry Potter, da qual possuo mais objetos” (Ent#2). A infância tem,

assim, um papel crucial neste tipo de consumo, representando o ponto de partida para

muitos colecionadores e apaixonados pela área, como destaca um dos entrevistados: “A

infância teve uma grande influência no início do meu interesse, já que foi nessa altura que

conheci estes produtos e que os comecei a adquirir” (Ent#3).

Influência da família: Contudo, apesar de a infância ser o elemento mais

preponderante nas respostas, existem outros fatores que merecem destaque. Se o princípio

do interesse nasceu nos primeiros anos de vida das pessoas, também é importante destacar

a influência da família para despertar e fomentar a paixão pela área, como refere um dos

entrevistados: “Os meus irmãos mais velhos sempre jogaram videojogos. Eu, por

consequência, comecei também. A partir desse momento surgiu a afinidade por peluches

e coisas que pudesse reconhecer em merchandising (como personagens de jogos) e ainda

hoje é assim” (Ent#5). De acordo com a análise dos dados recolhidos, a combinação entre

o momento da infância, juntamente com a influência familiar são dois fatores muito

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38

comuns na origem do interesse pelo consumo de bens desta categoria. Num total de 38

entrevistas, verificou-se este fenómeno em oito delas. “O início do meu interesse

começou através dos desenhos animados que via quando era criança. Assim, os meus pais

ofereceram-me a primeira banda desenhada do Wolverine”. “Sempre tive um gosto

especial por banda desenhada. Este gosto foi incutido pelo meu avô materno e por um

tio” (Ent#34 e Ent#31).

Reflexo de filmes e séries: Através da união destes dois elementos, verificou-se

que os entrevistados incluem sentimentos e emoções quando definem a origem do

interesse na área da Cultura Pop. “Eu, em pequena, sempre adorei esta área apesar de não

associar os desenhos animados à Cultura Pop. No entanto, comecei a ver Naruto com o

meu primo e amei o que vi. Só a partir do oitavo ano é que comecei a descobrir melhor

esta área. Tenho interesse nos produtos porque me trazem um sorriso à cara de cada vez

que os vejo na minha prateleira” (Ent#19). Contudo, esta resposta igualmente permite

concluir que o interesse nesta área também é fortemente influenciado pela visualização

de filmes, séries televisivas e desenhos animados, para além da interação com videojogos

e leitura de banda desenhada. “O interesse começou quando tive conhecimento do

lançamento destes produtos, mas inicialmente teve origem no momento em que comecei

a ver a anime, ou seja, desde a minha infância” (Ent#1). A combinação dos conceitos de

infância com o reflexo dos filmes, séries, desenhos animados, banda desenhada e/ou

videojogos é, desta forma, influenciador na origem do interesse. Na análise dos dados

recolhidos através das entrevistas foi possível verificar a união destes fatores com alguma

frequência (em nove ocasiões). “Já existe desde criança, mais ou menos desde os 6/7 anos,

quando comecei a ver anime e a jogar videojogos frequentemente” (Ent#6). “Na infância,

através de fenómenos mundiais como Harry Potter, interesse que se foi prolongando com

o aparecimento do Marvel Cinematic Universe e do conhecimento da saga Star Wars”

(Ent#25).

A relação entre a infância e a influência das séries, filmes, desenhos animados,

banda desenhada e videojogos também foi visível nesta análise, sendo que a junção destes

pontos pode levar ao colecionismo. “O interesse começa pela ligação que tenho a certas

séries, filmes ou jogos. Por exemplo, tenho ligação de infância e atuais a várias sagas de

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videojogos que me fazem adquirir um objeto de colecionismo para que possa decorar os

meus espaços com eles e, assim, manter a conexão a esses mesmos interesses” (Ent#38).

Deste modo, é perfeitamente plausível concluir que, apesar da influência familiar

e do reflexo de séries, filmes, desenhos animados, banda desenhada e videojogos ser

muito importante (estando presente em 17 respostas), a infância é o fator com mais

presença e, inevitavelmente, com mais peso e influência na origem do interesse dos

indivíduos na aquisição de elementos da Cultura Pop.

Adolescência: Paralelamente a estas respostas, surgiram, em menor quantidade,

outros motivos de origem do interesse como a adolescência, a influência através de laços

sociais, após interesse recente, após eventos na área, e mesmo o efeito dos media. A

análise dos dados das entrevistas permitiu-nos comprovar que a adolescência teve

influência em cinco respostas. “O interesse nestes produtos começou desde a

adolescência. A infância teve influência, na medida em que foi nessa altura que surgiu a

minha paixão por este fenómeno, mas só se materializou na adolescência” (Ent#7). “Não

sei o que me levou a começar a comprar, pois tinha aproximadamente 12 anos. Talvez

por gostar muito do Senhor dos Anéis. Mas mais do que a infância, foi na adolescência

que apareceu o interesse” (Ent#27).

Influência dos amigos: Os laços sociais e as amizades também mostraram o seu

peso na motivação dos entrevistados, estando em evidência em seis respostas. “A infância

no meu caso não tem ligação nenhuma, no entanto, creio que ter amigos com os mesmos

gostos gera uma maior vontade e maior interesse” (Ent#37). “Desde a adolescência,

quando os meus outros colegas começaram a receber fan art ou merchandise de anime”

(Ent#23). “Comecei a colecionar assim que tive possibilidades para tal. Tinha vontade de

fazer um pequeno expositor para amigos e família. Já o facto de ter um trabalho fixo e

não ter grandes despesas para pagar foi importante, mas como é óbvio os amigos/as foram

a grande influência” (Ent#22).

Efeito de eventos: Contudo, aquando da análise das entrevistas, encontrou-se dois

pontos inéditos, o surgimento do interesse por estes objetos somente após conhecer e

presenciar o Comic Con Portugal, edição de 2015: “Comecei a colecionar em 2015

quando visitei a Comic Con Portugal pela primeira vez. Gosto das referências da Cultura

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Pop que os colecionáveis fazem e da forma como me aproximam da realidade das

mesmas” (Ent#11). No decorrer das entrevistas, foi referido que o interesse pode não ter

origem na infância, nem através de influências externas. Neste caso, surgiu na compra

recente de um objeto, fruto de o ter encontrado de forma aleatória: “Não tenho hábito de

comprar merchandising. Foi recentemente aquando da compra de uma figura Funko Pop,

que simplesmente vi e gostei” (Ent#26). Estes dois tópicos foram referidos somente numa

ocasião.

Media: Por último, surgiu uma resposta solitária, mas não menos relevante, que

sugere que os órgãos de comunicação social se apresentam como um fator influenciador

de grande peso. “Não há nada com mais influência que os media, principalmente nesta

fase da vida. Considero que o meu interesse também surgiu graças a eles” (Ent#29).

Após a análise dos dados recolhidos, relativos somente a esta questão, a saturação

teórica foi atingida no momento da entrevista número 29, que declarou que a origem do

interesse surgiu fruto da influência constante dos media.

4.1.2. Representações do objeto

A segunda categoria de exploração da relação entre o consumidor e o objeto e a

atribuição do seu valor simbólico refere-se às representações do objeto no quotidiano do

comprador. Através desta categoria, pretende-se perceber como o consumidor vê o objeto,

se o considera uma aquisição normal, um objeto de colecionismo, ou mesmo um produto

que se destacará na sua vida. Por último, pretende-se com esta investigação perceber se o

consumo de elementos da Cultura Pop pode ser considerado um estilo de vida.

Admiração pelas Personagens: Após a recolha e análise dos dados das entrevistas,

percebeu-se que a maioria dos entrevistados defendem que têm uma relação de admiração

pelas personagens de uma série, filme, desenhos animados, banda desenhada e/ou

videojogo, usando-a como justificação para a aquisição de elementos representativos da

mesma. Esta evidência repetiu-se em 21 respostas. Exemplos significativos de entrevistas

cujas respostas provam este ponto são: “Para mim representam as personagens que

admiro e sigo a sua aventura desde pequeno, por isso é que coleciono” (Ent#1); “Tenho

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uma relação de admiração e de muita proteção, extrema até. Muitos dos produtos

encontram-se ainda embalados. Os que já não o estão, tento protegê-los ao máximo. Entre

os produtos de destaque tenho os artigos da minha série preferida, Doctor Who” (Ent#2);

“São objetos de personagens que admiro e que decoram a minha casa, devido à forte

ligação que tenho com os meus filmes e séries preferidas” (Ent#17).

Colecionismo: Todavia, se a admiração pelas personagens é o fator mais referido

nas entrevistas, no que diz respeito à relação entre o produto e o consumidor, também

importa sublinhar outros pontos recorrentes na análise de dados. Num total de 38

entrevistas, o conceito de colecionismo apareceu em 16 ocasiões. Ainda assim, deve-se

referir que colecionismo acolhe a coleção de uma série de objetos relacionados com o

mesmo assunto (por exemplo, a coleção de todas a personagens de um filme) como o

conjunto de elementos representativos de várias áreas (como filmes, séries, banda

desenhada…). Nestas 16 vezes os entrevistados assumem que têm uma relação de

colecionismo com os objetos: “É mesmo um caso de colecionismo. Gosto muito de ver

tudo o que compro exposto e no sítio correto” (Ent#9); “Para um colecionador ou amante

de uma série ou filme, é com nostalgia que podemos ver o que está exposto e material de

algo que vimos ou ouvimos no passado” (Ent#10). “Trata-se de colecionismo. No meu

caso, compro pontualmente, com base em coleções que vão saindo e com base no

interesse que tenho neste preciso momento por uma dada saga. Representam para mim

uma ligação a partes de Cultura Pop que aprecio e que quero relembrar, são objetos pelos

quais tenho algum nível de afeto” (Ent#38).

Objeto Estético: O terceiro conceito mais representativo nas respostas recolhidas

foi o de objeto estético, ou seja, os produtos são adquiridos com o sentido de ocupar um

espaço na casa, como se fosse uma decoração. Este elemento destacou-se em dez

entrevistas. “São aquisições pontuais, objetos estéticos que servem para decorar o meu

espaço” (Ent#23). “São parte de um hobby que gosto de investir. Uso-os para os ter

presentes na minha casa” (Ent#20). “Tenho todos os meus colecionáveis expostos e faço

questão de partilhar os mesmos nas redes sociais. Esta adoração levou-me a criar um

instagram próprio para a partilha de fotos da coleção de uma forma mais elaborada”

(Ent#11). Este tópico representa um interesse no produto que vai para além da admiração,

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mas tem como objetivo rechear um espaço físico com estes elementos, apesar de alguns

serem vistos como aquisições pontuais, cuja finalidade é servir de decoração.

Apesar de os três pontos acima referidos serem os mais comuns ao longo das

respostas, existem outros que merecem igual atenção por terem reunido um número

interessante de réplicas, ou por se destacarem das declarações mais utilizadas. Desta

forma, surgem os conceitos de “estilo de vida” (oito entrevistas), “parte de mim” (quatro

entrevistas), “fonte de inspiração” (duas entrevistas), “obsessão” (uma entrevista),

“investimento” (uma entrevista) e “divertimento” (uma entrevista).

Estilo de Vida: Oito entrevistados chegaram à conclusão que a compra contínua e

frequente de produtos desta natureza pode resultar na implementação do conceito de

“estilo de vida”. Assim, após analisar os dados recolhidos, é possível afirmar que a

admiração pelas personagens, ou desejo de colecionismo, pode resultar numa forma de

abraçar um novo estilo de vida. “Colecionismo, sem dúvida. Muitos dos produtos

encontram-se ainda embalados. E sinto que sim, pode ser considerado um estilo de vida.

No meu caso, frequentemente, deixo dinheiro de lado a pensar na compra dos produtos”

(Ent#2). “A partir do momento em que estão em exposição pela casa, penso que se pode

considerar um estilo de vida” (Ent#17). Contudo, existem declarações que aceitam e

compreendem o conceito de estilo de vida relacionado com a Cultura Pop, mas que

defendem que tais comportamentos não são para todos. “Pode ser estilo de vida, mas para

um pequeno grupo. Um nicho. No meu caso são "mimos", prendas que ofereço e recebo

em referência a gostos em comum” (Ent#14). Uma outra resposta presente refere que este

conceito ainda está pouco implementado em Portugal, principalmente nas faixas etárias

menos jovens: “Considero isto como um hobby saudável apesar de ainda ser um pouco

taboo” (Ent#16).

Parte de Mim: Porém, algumas entrevistas indicam-nos que certos consumidores

não referem a aquisição como algo banal, afirmando mesmo que os produtos fazem parte

da sua identidade. Isto eleva esta prática de consumo a um nível emocional e sentimental

superior. “Estes são produtos que estimo imenso e que fazem parte da minha casa e da

minha vida há já muito tempo. Inicialmente, quando era mais nova penso que não

entendia realmente a forma como a aquisição destes produtos me influenciava” (Ent#3).

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Existem outros exemplos desta visão, que partilham deste sentimento no momento de

compra: “Vejo-os como algo que representa os meus gostos. Poder ver as minhas figuras

de ação e reviver as series é muito gratificante. Compro merchandise como uma maneira

de satisfação própria, auto gratificação” (Ent#6). Mais tarde é referida a mesma

motivação e relação com este tipo de objetos, afirmando ainda que o colecionismo pode

levar a uma conexão mais profunda, chegando a ser um estilo de vida muito próprio, com

a sua identidade, espelhada em todas as compras: “São aquisições para coleção que

acabam por ter um grande valor para mim. Neste sentido, penso que possa ser considerado

um estilo de vida para aqueles que têm coleções sobre as mais variadas temáticas. São

definitivamente um reflexo da minha identidade. Um pedaço de mim fica espelhado em

cada compra que faço” (Ent#7).

Fonte de Inspiração: Uma prática distinta, mas repetida em duas entrevistas, foi

a utilização destes objetos como fonte de inspiração. Esta opção refere-se ao uso dos

produtos como forma de aumentar o alento e a criatividade do indivíduo. “São coisas que

analiso esteticamente enquanto consumidor. Pode-se dizer que funciona como

inspiração” (Ent#5). “Ajudam com o próprio processo criativo, inspirando-me” (Ent#23).

Obsessão, Investimento, Divertimento: Por último, as últimas três escolhas que

não se inserem nas categorias anteriores foram a relação de “obsessão” entre o

consumidor e o objeto, a visão do produto como um “investimento” e, finalmente, como

“divertimento”. No caso da relação obsessiva, o consumidor já visualiza a compra destes

produtos como “aquisições normais” (Ent#28), considerando-se um “fã com obsessão

média-alta” (Ent#28). Relativamente à visão do objeto como um investimento, mas

também como divertimento, o entrevistado vê o produto como algo que o diverte, que

cada aquisição o deixa “alegre e vaidoso” (Ent#31), mas que, “devido ao alto custo,

raridade e qualidade, acaba por se tornar um investimento” (Ent#31).

Após analisar os padrões nas respostas a esta pergunta, percebeu-se que a

admiração pelas personagens leva à aquisição do produto. Contudo, esta ação, ao ser

repetida, suporta o conceito de colecionismo. Esta conclusão é conseguida através de oito

entrevistas, onde os entrevistados referem que têm uma relação de admiração por uma

certa personagem, mas que é finalizada com a compra de mais objetos, tornando-se um

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colecionador. “Adoro Marvel e comecei a colecionar figuras (Funko Pop) de personagens

da mesma. Neste momento já tenho mais algumas coisas. Acaba por ser colecionismo,

visto que gosto muito de ver tudo o que compro exposto e no sítio correto” (Ent#9). De

acordo com esta declaração, o colecionismo pode ser visto como a evolução da admiração

por uma personagem. “Trata-se de uma relação de admiração pessoal pela série ou boneco

em si. Para um colecionador, ou amante de uma série ou filme, é com nostalgia que

podemos ver o que está exposto” (Ent#10). “O que leva à compra é o facto de gostar das

personagens. Vejo as minhas aquisições como início de uma coleção, principalmente

quando falo da coleção Funko Pop. Creio que é um consumismo misturado com valor

emocional” (Ent#37).

Um outro padrão encontrado é a conjugação entre a admiração pelas personagens

e o estilo de vida, que se refere à compra de figuras ilustrativas da Cultura Pop e à sua

exposição por diversos locais. Este padrão é comum a seis entrevistas. “Comecei a

comprar porque gostava das séries ou filmes e queria ter algo em casa que me lembrasse

dos mesmos. São objetos de personagens que admiro e que decoram a minha casa, devido

à forte ligação que tenho com os meus filmes e séries preferidas” (Ent#17). “O interesse

deve-se ao facto de gostar muito das séries/filmes/livros e querer ter artigos que mostrem

isso. Queria ter todos os livros em português e inglês original. Tento ter os Funko Pop

das personagens favoritas e usar t-shirts para mostrar aos outros os nossos gostos.

Basicamente, representam algo que eu gosto e que me deixa em paz quando entro naquele

mundo” (Ent#18). “Tudo surge devido àquele sentimento que os filmes e as personagens

plantam em mim. Tenho uma relação imaculada, sem que ninguém possa tirar, por

exemplo, as Action Figures e os Funko Pops das caixas, porque gosto de os ter protegidos.

Os produtos são de coleção para mim e sim, concordo que sejam um estilo de vida”

(Ent#30). Posteriormente, é visível que estas respostas também permitem concluir que

para ser considerado um estilo de vida, tem de existir uma compra repetida, mesmo que

não seja frequente, ao ponto de atingir o desejo de colecionismo e, no final, constituir um

estilo de vida. Deste modo, estes conceitos também podem ser conjugados, sendo

evidentes em quatro entrevistas.

Em suma, apesar de não existir concordância nas respostas, a saturação teórica

apenas foi encontrada aquando da trigésima primeira entrevista, quando o entrevistado

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refere os produtos como investimento e divertimento. Estes conceitos não tinham sido

introduzidos anteriormente e não se verificou nenhuma novidade até ao final das

entrevistas.

Primeiro, verificou-se que a origem do interesse por estes produtos radica na

infância e no conhecimento que o consumidor absorveu nesse período, o que corresponde

à primeira proposição de pesquisa: “a ligação histórica com o objeto, por exemplo, com

origem na infância aumenta a relação emocional com o mesmo, sendo que o valor

simbólico se sobrepõe ao valor material”. Assim, o consumo de produtos relacionados

com esta temática acaba por trazer memórias de momentos passados, o que justifica a

nostalgia como um fator fundamental na aquisição. Paralelamente, a lembrança destes

episódios aumenta a carga emocional inerente ao objeto, fomentando a relação entre o

consumidor e o produto. Portanto, o valor simbólico sobrepõe-se ao valor material. Neste

particular, acompanhamos Lübeck, Hopner e Silva (2015) que afirmam que o consumo

destes produtos pode ser visto como um ato nostálgico ou uma tentativa de remendar ou

compensar a insegurança sentida na infância, atribuindo um significado simbólico a

objetos, remetendo para sentimentos de segurança. As associações que o consumidor

atribui ao objeto e o significado que o mesmo tem para ele contribuem para uma relação

forte entre ambos. De acordo com os resultados obtidos, o consumidor vê o produto como

uma réplica de uma personagem que admira, ficando satisfeito no momento em que

adquire o objeto. Assim, atribui significados ao produto, relacionados com a alegria,

nostalgia, afetividade e orgulho.

4.2. Processo de compra

Após perceber o que originou o interesse nestes produtos, importa perceber todo

o processo de compra, de modo a descobrir se se trata de algo planeado ou impulsivo. De

seguida, dentro deste processo, o intuito deste trabalho é descobrir as motivações de

consumo.

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4.2.1. Planeamento de Compra

De seguida, objetiva-se perceber se estes produtos eram passíveis de ser

comprados através de um processo pensado e planeado, através de compras de

oportunidade ou, por último, devido a impulsos que guiam o consumidor.

Assim, de acordo com a codificação dos dados, foram criadas três códigos para

agrupar a totalidade das entrevistas. Deste modo, num total de 38 respostas, 28 afirmaram

que planeiam e pensam cuidadosamente antes de adquirir um novo produto; 10

entrevistados garantiram que já efetuaram compras por impulso; e, em menor número, 9

consumidores confessaram que procuram novos produtos quando surgem certas

oportunidades.

Compra pensada e planeada: É legítimo concluir que a grande maioria dos

consumidores afirma adotar um estilo mais calculista na aquisição de produtos

relacionados com a Cultura Pop. De acordo com as respostas, este comportamento deve-

se, maioritariamente, ao alto custo do objeto e à grande variedade de escolha de produtos.

De entre a grande amplitude de respostas, apresentam-se vários exemplos que suportam

esta afirmação, como: “Levo já ideias definidas daquilo que quero e adquiro os produtos

nos quais estava interessada” (Ent#3); “Sim, procuro sempre ter uma ideia definida do

que quero comprar e não opto por outros produtos” (Ent#4); “Quando quero comprar

algo, é porque decidi previamente na minha cabeça o que quero, ao ponto de fazer contas

ao ordenado” (Ent#5).

Contudo, há outros entrevistados que defendem que, antes da aquisição de novos

produtos, é necessário estudar o objeto e o valor do mesmo: “Por norma tenho uma ideia

daquilo que pretendo comprar. Costumo adquirir aquilo que tenho em mente até porque

normalmente tratam-se de produtos caros (Ent#7); “Normalmente estudo o que quero

comprar. Tento ter em conta a variedade, preço e qualidade. Por vezes são decisões

difíceis devido a vários fatores, por exemplo, quando uma personagem tem várias figuras

disponíveis, com vários preços e de qualidade diferente” (Ent#16). Segundo estas

respostas, o motivo que leva ao planeamento de compra mais rigoroso tem a ver com a

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variedade de produtos disponíveis e com os preços dos objetos, que podem ser

considerados elevados.

Possível compra por impulso: Apesar da grande maioria dos entrevistados

defender que a compra deve ser pensada e planeada, existe ainda quem assuma que já

comprou (ou compra) produtos por impulso (dez entrevistados), ou porque surgem como

uma oportunidade que não querem deixar escapar (nove entrevistados).

Um dos motivos apontados para a compra por impulso é a raridade do objeto, “Já

aconteceu comprar de forma impulsiva, mas são momentos raros e terá sido devido à

escassez do item” (Ent#5) ou “99% do que compro está definido, só algo muito raro ou

uma grande surpresa me afasta disso” (Ent#10). Contudo, pode ser concluído que a

compra por impulso poderá estar ligada a objetos de menor dimensão monetária, o que

permitirá uma reação mais impulsiva e menos ponderada: “No meu caso só fiz compras

por impulso em objetos pequenos e, sobretudo, baratos” (Ent#7). Todavia, a grande

maioria das compras por impulso aparentam ser casos esporádicos, sendo que o

consumidor procura planear previamente a compra e só acaba por sucumbir à tentação de

comprar impulsivamente em momentos raros: “Tanto posso levar uma ideia fixa do que

vou comprar, como posso acabar por ver algo numa montra e acaba por adquirir esse

objeto” (Ent#19); “Tenho sempre como objetivo seguir a lista de desejos mas, no entanto,

é difícil cingir-me apenas a isso, acabando sempre por adquirir outras coisas” (Ent#37);

“Há ideias quanto ao tema da compra, mas, por vezes, não quanto ao produto. A análise

é importante para determinar se vale a pena fazer a compra. É quase inevitável acabar por

comprar outros produtos” (Ent#25).

Um outro ponto que pode servir de distinção no processo de compra é o formato

da loja, seja online ou física. Para alguns, é mais fácil adquirir produtos de forma

impulsiva num espaço físico, sendo que as lojas online implicam maior rigor no processo

de compra: “Se for online, é raro comprar mais do que estou à procura. Se for em

loja/eventos, compro um pouco mais do que devia” (Ent#36).

Contudo, durante o processo de entrevista, foi possível encontrar casos que

raramente compram um produto depois de refletir, acabando por preferir adquirir o que

mais gostam no momento do processo de compra. “Raramente sei o que vou comprar. Eu

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funciono puramente por compra impulsiva” (Ent#27); “A maioria das compras são por

impulso, seja em lojas físicas ou online” (Ent#18).

Compra de Oportunidade: Na análise das entrevistas, para além das respostas e

dos conceitos já analisados, surgiu um outro que, apesar de ser semelhante com a compra

impulsiva apresenta algumas diferenças: a compra de oportunidade. Neste caso, o

comprador não consome de forma impulsiva, visto que pode ser planeada, mas acaba por

adquirir um objeto porque surgiu de forma imprevista, “se tiver acabado um jogo de que

gostei muito e me aparecer merchandising desse jogo, a probabilidade de comprar é 10

vezes mais do que se me aparecer numa loja” (Ent#38). Um outro exemplo é o

aparecimento de uma promoção ou desconto. Neste caso, o consumidor pode já estar

atento a um certo produto e planear esperar que o mesmo baixe de preço. Contudo, quando

surge a oportunidade de compra, o consumidor avança e aproveita o desconto:

“Normalmente, quando vejo algo muito barato, em boas condições e de boa qualidade,

compro” (Ent#6).

Isto também pode acontecer com o lançamento de novos produtos, que não

estavam disponíveis anteriormente. Uma justificação seria a resposta: “Muitas vezes

trata-se de uma coisa que aparece, não que eu procure. Mas não compro sem que haja

justificação a nível de qualidade/preço” (Ent#14); “No fundo, trata-se de um hobby.

Compro caso goste do produto e não seja a um preço muito inflacionado” (Ent#20).

A compra de oportunidade também pode ser detetada na presença em eventos,

como o próprio Comic Con. Um consumidor pode dirigir-se a uma banca sem um objeto

em mente, avaliar o que se encontra disponível e, se encontrar algo que lhe chame à

atenção, proceder para a compra: “Opto sempre por impor um limite de preço a gastar no

evento e, conforme esse limite, avalio o produto de interesse e se vale o custo” (Ent#8);

“Normalmente não levo ideia definida, vejo o que há e no fim, se surgir uma

oportunidade, escolho o que quero comprar” (Ent#21); “Raramente levo uma ideia

definida. Procuro ver tudo e ver o que se destaca mais. Normalmente são coisas do meu

gosto pessoal que se destacam por serem engraçadas ou fofas ou baratas” (Ent#24).

Em termos de relações entre os tópicos, como já foi sendo referido anteriormente,

a maioria das pessoas compra um produto após fazer uma análise e ponderar na compra.

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Todavia, há pessoas (nove) que admitem comprar objetos após pensarem no assunto, mas

admitem que já consumiram por impulso. Contudo, não há registos da junção dos

conceitos da compra ponderada, com a compra de oportunidade. O mesmo pode ser dito

da compra de oportunidade, juntamente com a compra por impulso.

Neste tópico, a saturação teórica foi encontrada na sexta entrevista, uma vez que

as respostas foram idênticas no decorrer das mesmas. Na entrevista em questão deparou-

se pela primeira vez com o conceito de compra de oportunidade.

4.2.2. Motivos da compra

Um dos pontos-chave nesta investigação prende-se com o motivo que leva o

consumidor a adquirir um produto desta natureza. Segundo os dados recolhidos, as razões

podem ser quatro: ligação à área, ligação aos personagens, raridade do produto, qualidade

e estética do objeto. Nesta seção é possível afirmar que houve um consenso absoluto: num

total de 38 entrevistas, todos os entrevistados afirmaram que o motivo que os leva a

adquirir um produto relacionado com a Cultura Pop é o apreço e a ligação a uma ou várias

personagens, sejam elas de uma série, filme, videojogo ou banda-desenhada. A viagem

destas personagens, as aventuras partilhadas com o comprador e toda a nostalgia referente

às mesmas acaba por ser o ponto mais forte que leva o consumidor a concluir a transação.

Ligação à Personagem: Uma vez que existiu um consenso absoluto, existem

diversas respostas capazes de justificar esta escolha. Contudo, apesar de toda a

concordância, existem motivos distintos que levam o consumidor a dizer que foi a ligação

com uma personagem que serviu de incentivo à de compra de um produto. Logo, o

entrevistado afirma que tudo depende do nível da ligação à personagem. No fundo, se

gostar da mesma, tem mais probabilidades de adquirir um objeto relacionado.

Contudo, se a figura lhe for indiferente, é certo que não irá proceder à compra de

algo que não o motive. “Claro que se não gostar das personagens e não gosto da anime,

não compro nada relacionado com ela” (Ent#1). A mesma premissa é utilizada noutra

entrevista, onde é possível verificar que a aquisição existe quando o comprador se

identifica com a personagem e com o objeto. “Tem sempre a ver com a personagem em

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si. Em termos gerais, uma personagem de quem eu goste ou com que me identifique acaba

por ser uma prioridade para mim” (Ent#14).

Porém também surgem pontos de vista diferentes – o que o entrevistado aprendeu

com a personagem em questão e o seu significado, a nível emocional. “Ligação

emocional, sem dúvida. A raridade não me move, move-me o que tal significa para mim,

o que me ensinou” (Ent#2). Existem outras características ligadas à relação emocional

entre um comprador e um objeto. “A escolha acaba por prender-se mais com motivos

emocionais do que com o resto. É algo que me leva a sonhar até a altura em que vi a

personagem pela primeira vez e me leva a pensar no que me fez gostar dela” (Ent#10).

Uma resposta desta natureza mostra que a compra de um produto relacionado com esta

temática vai muito além de um simples capricho, revelando que advém de laços antigos

relacionados com memórias de momentos felizes.

Apresenta-se, ainda, um outro bom exemplo desta ideia, que mostra a relação

especial entre o consumidor e a personagem replicada num objeto, “Gosto de colecionar

estes produtos principalmente porque quando olho para a minha compra sinto-me sempre

feliz e tem um certo gosto vê-la todos os dias no meu cantinho. Compro estes objetos e

faço coleções porque sei o aquele anime, jogo ou serie significam para mim” (Ent#19).

Há também quem defenda que só avança para uma compra em produtos desta natureza

se tiver a certeza que o sentimento que tem pela personagem estiver expresso no objeto

em questão. “Uma ligação emocional diria que é relevante. Só compro um objeto deste

se esperar sentir alegria e diversão, por exemplo” (Ent#29).

Porém, também é possível afirmar que, devido à variedade de produtos

relacionados com a Cultura Pop, nem sempre é possível comprar tudo o que se deseja,

mesmo que exista uma forte ligação emocional ao produto. “Existe sempre um conjunto

de vários fatores. Por exemplo, apesar de eu gostar de “The Lord of the Rings”, ou de uma

personagem específica da saga, não quer dizer que vá comprar tudo o que vejo, quer seja

dos livros, DVD ou Action Figures. Porque também tenho outros gostos, e então tento

equilibrar os produtos que compro” (Ent#34).

Deste modo, é possível concluir que a totalidade dos consumidores dão prioridade

à ligação que poderão ter com uma determinada personagem. Contudo, ainda se

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verificaram mais três conceitos que poderão ter importância e peso numa compra. Em

termos de reincidências, seis pessoas referiram que, para além da ligação emocional às

personagens, também é importante ter uma ligação mais abrangente, saindo da

personagem em si e abraçando toda a série, videojogo, filme, livro ou banda-desenhada.

Ligação à Área: Saliente-se a ligação à área; para alguns, o gosto e a motivação

na compra vai além de um simples personagem. Neste caso, o conceito de colecionismo

também está inerente na resposta. “A mim, o que me motiva é a ligação ao programa

(anime) em si. Claro que se não gostar das personagens e não gosto da anime, não compro

nada relacionado com ela” (Ent#1). Esta resposta é condizente com a opinião de outras

opiniões das entrevistas, visto que defendem os mesmos princípios (Ent#7 e Ent#17). A

ideia é reforçada, visto que se afirma que a motivação advém de fatores distintos, como

a ligação a uma personagem, mas também a todo o ambiente e história criados pela série

e área. “Sou motivado por certas personagens, séries, jogos, ou mesmo até a raridade do

objeto. Existem vários fatores que me motivam, como toda a atmosfera envolvente de

uma série” (Ent#6).

Todavia, inclui-se um conceito novo. Segundo a resposta, o que motiva este

consumidor é, não só a relação com uma certa personagem, mas também a relação com o

“Fandom”, termo usado para referir uma subcultura composta por fãs do mesmo tema,

onde são incutidas características de empatia e camaradagem entre os membros. “A

motivação principal é a ligação emocional com a personagem, mas também com o

Fandom relacionado” (Ent#18). Esta resposta revela que o consumidor pode não só ser

influenciado por uma personagem ou pelo mundo que a envolve, mas sim pelo conjunto

de fãs da mesma temática. Deste modo, é evidente que a compra de objetos desta natureza

tem influência nas ações e nos laços sociais dos seus compradores.

Raridade: Dentro das motivações de compra existiu um ponto que gerou alguma

controvérsia – a raridade de um produto como influenciador numa aquisição. Apesar de

seis entrevistados assumirem que se interessam por produtos limitados a um número

reduzido de unidades, outros afirmaram que a raridade do produto não tem qualquer

influência numa compra. “A raridade não me move” (Ent#2); “Raridade para mim não

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vale. Comprar algo porque é raro e pode valorizar é uma aposta, não uma compra

emocional de algo que gostamos” (Ent#29).

Porém, apesar de existirem críticos de compras ligadas à raridade do produto,

também existem outros a favor deste tipo de aquisições e que o costumam fazer. Se se

defende que “a raridade é um aspeto motivador numa compra” (Ent#5 e na Ent#6), a

raridade também pode ser um incentivo para terminar uma certa coleção. “Normalmente

compro por ligação às personagens que gosto, mas também já comprei por saber do seu

valor e da sua raridade, de modo a se enquadrar na minha coleção” (Ent#9). Um outro

ponto de vista sugere que os produtos mais raros podem ter um design mais apelativo e

uma qualidade e estética acima da média. “Claro que a raridade de um produto serve

como influência, pois cada produto é feito em quantidades limitadas e muitas vezes são

produtos de design superior e que têm muito mais qualidade que a merchandise normal”

(Ent#23). Esta resposta é idêntica a uma ideia defendida anteriormente, visto que salienta

que a qualidade do produto pode estar associada ao número de unidades fabricadas, que

poderão ter mais precisão e atenção nos detalhes.

Estética e Qualidade: Por último, quatros entrevistas referiram que um dos

motivos que influencia a compra destes produtos é a estética e a qualidade dos mesmos.

Isto significa que, se o produto apelar ao sentido visual do comprador, terá mais

probabilidade de ser comprado. Há ainda quem refira que passa largos períodos de tempo

a examinar os produtos e a analisar a qualidade dos objetos, de modo a tomar uma decisão.

“Tenho tendência a pensar bem no que quero comprar antes de o fazer, analiso todas as

lojas e perco algum tempo a analisar o valor do produto. De um modo geral, a estética e

o material de um objeto poderão influenciar a compra” (Ent#8). Percebe-se que o

entrevistado adquire um produto se gostar do aspeto do mesmo, visto que um dos seus

objetivos passa por partilhar fotografias do mesmo nas redes sociais, logo a qualidade do

produto é inquestionável. “Tenho todos os meus colecionáveis expostos e faço questão

de partilhar os mesmos nas redes sociais. Esta adoração levou-me a criar um instagram

próprio para a partilha de fotos da coleção de uma forma mais elaborada. O que me leva

a adquirir um produto destes? Acaba por ser a ligação à personagem ou então se

simplesmente gostar do aspeto do colecionável” (Ent#11). Para outros, a aparência destes

objetos é muito importante, uma vez que assumem que estarão dispostos a comprar se o

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aspeto lhes agradar. “Normalmente compro por razões de ligação emocional à

personagem, mas muitas vezes compro simplesmente porque acho fofo ou bonito”

(Ent#27). Por último, conclui-se que um produto com qualidade inquestionável terá maior

procura e recetividade por parte destes fãs que dão valor à estética “Normalmente, tenho

uma ideia do que quero, e tento manter os padrões elevados quanto à qualidade e

oficialidade do produto. Assim, a qualidade do produto é importante para mim” (Ent#31).

Em termos de combinações e conceitos interligados, neste ponto percebemos que

todos os conceitos se relacionam com a ligação emocional à personagem. Quando se fala

da combinação entre a ligação a uma personagem e a ligação à área, verificaram-se seis

respostas, onde se respondeu que o charme de uma personagem é importante, mas não

fica atrás de toda a atmosfera de uma série. A raridade de um produto também foi

combinada com a ligação a uma personagem em seis ocasiões. Neste caso, os

entrevistados tanto compram produtos de personagens que os marcaram, mas também

procuram destacar-se, adquirindo objetos raros e limitados a nível global. Por último, em

quatro entrevistas, surgiu a combinação entre a estética e qualidade de um objeto com a

ligação emocional a uma personagem. Nesta situação, o comprador procura produtos

relacionados com as personagens que aprecia, mas dá prioridade aos objetos que

apresentem uma qualidade e um sentido estético superior.

A saturação teórica foi encontrada na oitava entrevista, quando o entrevistado

refere a qualidade e estética de um produto como motivação para concluir uma compra.

A segunda proposição “quanto maior for a relação emocional com o objeto,

menos planeada e mais impulsiva é a compra” não se verificou. Hassay e Smith (1996)

apontam que os motivos que levam a uma compra impulsiva podem ser fisiológicos,

ambientais, sociais e psicológicos. Contudo, apesar de existir uma relação forte entre o

consumidor e a personagem admirada, o consumo acaba por ser um ato pensado e muito

planeado. Tal deve-se ao facto de o consumidor ter noção que o produto não é essencial.

Acresce que o consumidor não ignora que estes objetos têm, por vezes, um preço elevado,

o que justifica uma maior racionalidade e planeamento de compra. Assim, apesar do

consumidor admitir compras por impulso ou de oportunidade, estas acabam por ser

episódios raros e secundários que, frequentemente, levam ao remorso.

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4.3. Após-compra

Neste ponto, pretende-se entender qual a reação do consumidor após o processo

de compra. Deste modo, é possível descobrir o significado que estes produtos têm para o

consumidor e quais as contribuições destes objetos na vida do indivíduo.

4.3.1. Reação Pós-Compra

Ao longo da entrevista também foi abordado o tema da reação pós compra. Com

esta pergunta pretendia-se saber como é que os consumidores se sentiam após gastar um

determinado valor num produto de Cultura Pop. Foi possível encontrar respostas

distintas, sendo que alguns dos entrevistados explicaram que ficavam totalmente

satisfeitos, enquanto outros assumiam a noção da falta de utilidade da compra, chegando

ao ponto de pensarem que tomaram uma decisão errada e ficarem com remorsos.

Deste modo, foram encontrados diversos conceitos inerentes à reação do

consumidor: “Euforia”, “Orgulho”, “Satisfação”, “Cumprimento de Expetativas”,

“Noção de Desnecessário” e “Remorso”.

Após a codificação das entrevistas foi detetado que a maioria dos consumidores

fica satisfeito após realizar a compra nesta área, uma vez que 35 afirmaram que ficam

contentes na grande maioria das suas aquisições. Contudo, também é significativo o

número de indivíduos que, apesar de realizar a aquisição, tem noção que se trata de um

consumo desnecessário (doze entrevistados partilham dessa opinião). Dentro dos 38

entrevistados, somente cinco afirmaram terem ficado com remorsos no processo de pós

compra. Em menor número, mas não deixando de ser importante, três pessoas afirmam

que a compra destes produtos já é normal, dizendo que cumpre as expetativas previamente

definidas. Outras três declararam que já ficaram orgulhosos aquando do consumo destes

produtos, sendo que somente duas ficaram eufóricas neste momento posterior à aquisição.

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Satisfação: Em relação ao conceito que reuniu mais concordância e adesão por

parte dos entrevistados, existem diversas entrevistas que ilustram este conceito, como por

exemplo: “É sempre mais um passo até ao fim e quero saber como vai ficar [no final da

coleção]. Acho que vai valer a pena” (Ent#1). Um outro entrevistado afirma mesmo que,

uma vez que tenta analisar todos os pormenores e possibilidades de uma aquisição, acaba

por ter a certeza daquilo que deseja e, no final, sente-se sempre satisfeito. “Tenho

tendência a pensar bem no que quero comprar antes de o fazer [a compra]. Analiso todas

as lojas e perco algum tempo a analisar o valor do produto, pelo que nunca senti que fiz

a compra errada. Como imponho um limite de preço a gastar, não sinto que gaste dinheiro

desnecessário. De um modo geral, sinto-me satisfeita com as compras que faço” (Ent#8).

Por último, existe quem defenda que, se se é realmente fã desta área, a aquisição de um

produto deste género nunca é dinheiro mal empregue, trazendo sempre mais-valias para

o quotidiano de comprador. “Nunca achei que fiz a compra errada. Se gostamos realmente

do que estamos a comprar, nunca é dinheiro desnecessário” (Ent#18).

Noção de Desnecessário: Contudo, apesar da esmagadora maioria dos indivíduos

afirmar que se sente satisfeita com a aquisição destes produtos, existe um número

significativo de compradores (doze) que, apesar de ficar contente com o que compra, tem

noção que é um bem desnecessário. Existem diversas razões atribuídas à noção de

dinheiro mal-empregado, como o preço do produto e a impulsividade da compra. “Já

houve vezes que senti que gastei dinheiro desnecessariamente, nomeadamente em coisas

que ultrapassam cinquenta euros. Isso acontece quando compro impulsivamente (quando

acontece, que já não é muito frequente)” (Ent#5). Um outro exemplo é quando se afirma

que se gosta mesmo do objeto ou da área que está relacionado é mais fácil não sentir que

se trata de algo desnecessário. “Sim, já me aconteceu. Penso que gastei dinheiro num

produto pouco necessário para a minha vida. Mas se gostar mesmo nem penso nisso”

(Ent#14). Um fator que pode levar a esta noção pode ser, não só a impulsividade de uma

compra, mas também a ânsia de colecionismo, quando se está a começar a adquirir

objetos. “Infelizmente nem sempre acertamos no que queremos e só aprendemos com o

erro. Quanto a dinheiro desnecessário acontece a todos, por vezes através de compras

impulsivas. Por exemplo, vemos uma figura de uma personagem que nem apreciamos

muito, mas está com um preço excelente. Depois acabamos por concluir que a compra foi

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completamente desnecessária. Felizmente isto acontece mais no princípio do

colecionismo, quando ainda não percebemos nada sobre colecionar” (Ent#16).

Remorso: Os outros pontos referentes a esta temática não reuniram tanto consenso

dos entrevistados. Contudo, ao analisar os resultados obtidos, cinco das pessoas inquiridas

admitiram que já sentiram que fizeram a compra errada, acabando por ter sentimentos de

arrependimento, onde o inquirido afirma que “após comprar um objeto e depois de passar

algum tempo acabei por sentir alguns remorsos” (Ent#10). Isto pode acontecer quando a

necessidade de colecionar encontra um produto com um preço mais elevado.

No decorrer do estudo das entrevistas, afirma-se que nem sempre se acerta à

primeira no que realmente se deseja e é inevitável gastar dinheiro desnecessário”

(Ent#16). Segundo este comprador, isto surge graças ao desejo de colecionar, aliado ao

impulso de ver algo menos comum, que normalmente se associa a preços mais elevados,

porém, por vezes sente-se que se fez a compra errada, e que isso é normal. Porém,

considera que “as compras mais caras são muito ponderadas” (Ent#17).

Um outro ponto de vista revela-se quando se compara as aquisições de Cultura

Pop a todas as outras compras. “Sim, tanto já me senti muito realizada com uma compra

como já me arrependi, é como todo o resto das compras que faço” (Ent#20). Por último,

volta a surgir a ideia que as compras por impulso podem estar ligadas ao sentimento de

arrependimento e remorso. Contudo, tudo funciona com pouca regularidade, sendo que

as compras satisfatórias superam as negativas. “Já tive ocasiões em que senti que estava

a desperdiçar dinheiro em objetos inúteis e que poderia estar a investi-lo noutra coisa.

Mas acontece mais quando compro impulsivamente” (Ent#38).

Orgulho: Os restantes três tópicos que os entrevistados referiram também não

reuniram muitos dados, mas contribuem para adicionar variedade às respostas. Três

entrevistados referiram que se sentem orgulhosos após comprar um objeto relacionado

com a Cultura Pop. Para exemplificar o conceito de orgulho no pós-compra, afirma-se

que em objetos desta temática nunca se sentiu qualquer remorso ou arrependimento,

muito pelo contrário. “No que toca a merchandise Geek, não, nunca. Normalmente, sinto

uma sensação de orgulho e de euforia” (Ent#6). Fala-se igualmente de um sentimento

pós-compra de felicidade e orgulho, que consegue após visualizar a sua coleção.

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“Normalmente gosto de olhar para o que comprei quase como se tivesse orgulho.” (Ent#9)

Outro exemplo da relação de proximidade entre o comprador e o objeto, mostrando

novamente uma ligação de orgulho e boa disposição após a compra seria “Normalmente

sinto-me feliz com a nova aquisição, e com vontade de a estimar, já que tenho hábito de

manter os objetos durante muitos anos sem que fiquem com danos” (Ent#5).

Cumpre Expetativas: Três outros entrevistados afirmaram que ficavam satisfeitos

com a aquisição em questão, mas foram mais sérios nas suas respostas, declarando que

as compras realizadas na área da Cultura Pop cumpriam com as expetativas. “Na maioria

das vezes sinto-me bem depois da compra, no sentido em que o produto corresponde às

minhas expetativas” (Ent#4). O mesmo padrão foi verificado, “Nunca senti que gastei

dinheiro desnecessário pois decido atempadamente aquilo que pretendo, pelo que vai

sempre ao encontro das minhas expetativas” (Ent#7). Reforça-se este fenómeno com

“Como imponho um limite de preço a gastar, não sinto que gaste dinheiro desnecessário.

De um modo geral, sinto-me satisfeita com as compras que faço” (Ent#8).

Euforia: O derradeiro conceito encontrado nesta série de respostas foi o de

euforia, que juntou dois entrevistados. Neste ponto, o comprador não se sente satisfeito e

feliz por adquirir um novo produto, mas atinge um estado eufórico, ficando ainda mais

entusiasmado com a compra. Um exemplo perfeito deste conceito onde o consumidor

afirma que o sentimento pós compra é inqualificável e inexplicável. “Sinto uma felicidade

imensa, visto que, normalmente, quando compro algo de Cultura Pop, é algo que ando a

“namorar” há muito tempo. Nunca senti tal!” (Ent#2). Na análise das restantes entrevistas

só se verificou uma repetição desta resposta, “No que toca a merchandise Geek, não,

nunca senti que fizesse a compra errada. Normalmente, sinto uma sensação de orgulho e

de euforia” (Ent#6).

Em termos de misturas de conceitos, neste ponto, existem duas conjugações

interessantes que reuniram a maioria das respostas. A que conseguiu alcançar um maior

consenso foi a junção dos sentimentos de satisfação com a noção que a compra era

desnecessária. Num total de 38 entrevistas, onze pessoas afirmaram que ficavam

agradados com a compra, apesar de saberem que a mesma era supérflua. Dentro deste

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leque de respostas, existem algumas muito interessantes que servem para exemplificar

esta conjugação de conceitos.

Há ainda quem admita que a compra destes produtos é desnecessária. Contudo,

acredita que no final, a coleção vai valer o esforço. “É sempre desnecessário, mas

continuo a gostar de completar a coleção. É sempre mais um passo até ao fim e quero

saber como vai ficar. Acho que vai valer a pena” (Ent#1). Surge outro bom exemplo

destes conceitos, refletindo a felicidade e satisfação do comprador, apesar de ter noção

que o dinheiro podia ser empregue em algo mais necessário, “normalmente sinto-me feliz

com a nova aquisição, e com vontade de a estimar, já que tenho hábito de manter os

objetos durante muitos anos, sem que fiquem com danos. Já houve vezes que senti que

gastei dinheiro desnecessariamente, nomeadamente em coisas que ultrapassam cinquenta

euros” (Ent#5).

Verifica-se que quando se realmente gosta do produto que se adquire, há felicidade,

apesar da sensação de ser algo supérfluo e pouco fundamental no quotidiano. “Sim, penso

que gastei dinheiro e não era um produto necessário para a minha vida. Mas se gostar

mesmo nem penso nisso” (Ent#14). É possível verificar uma outra forma de pensar no

que diz respeito a uma nova aquisição. Segundo esta entrevista, apesar de nunca ter

existido um sentimento de arrependimento, o consumidor questiona-se sobre a utilidade

do objeto, uma vez que já possui vários produtos idênticos. “Sempre fui muito ponderada

com aquilo que compro. Nunca me arrependi, mas já cheguei a pensar: "Onde vou agora

usar ou pôr isto?" ou "Já tenho tantos bonecos destes, para que quero mais?” (Ent#19).

Em síntese, a ideia comum a todo o conjunto de entrevistas recolhidas é

justamente aquilo que aqui se defende: “Talvez tenha gasto dinheiro desnecessariamente,

mas fico feliz por ter aquilo que queria” (Ent#24).

A segunda conjugação de conceitos que conseguiu reunir algum consenso nas

entrevistas foi semelhante à primeira. Contudo, neste caso, verificou-se a combinação dos

conceitos de satisfação e de remorso, o que representa um patamar mais intenso,

comparativamente ao conceito de noção de desnecessário. Esta junção de conceitos foi

notória em cinco entrevistas, sendo que uma resposta modelo foi encontrada numa

entrevista. Nesta resposta, o consumidor afirma, por norma, ficar feliz com as compras

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efetuadas, mas já houve momentos em que assumiu desperdiçar tempo e dinheiro em

objetos que não considera que tenham a devida importância. “No geral sinto-me bem com

as compras, no momento e depois ao ver as peças no dia-a-dia. No entanto, já tive ocasiões

em que senti que estava a desperdiçar dinheiro em objetos inúteis e que poderia estar a

investi-lo noutra coisa” (Ent#38).

É normal existirem situações em que se fica agradado e satisfeito com uma

aquisição, mas também acontece sentir-se arrependimento em certos momentos. “Sim,

tanto já me senti muito realizada com uma compra como já me arrependi, é como todo o

resto das compras que faço” (Ent#20). Ainda assim, uma vez que estas compras podem

atingir valores económicos elevados, existe alguma ponderação que reduz o sentimento

de arrependimento e as compras erradas, “Às vezes arrependo-me, mas como na grande

maioria das vezes não tenho muito dinheiro para gastar, as compras mais caras são muito

ponderadas” (Ent#17).

A saturação teórica foi encontrada logo na décima entrevista quando, pela

primeira vez, se fala em remorso após uma aquisição. Depois desta resposta, os

entrevistados usaram conceitos já utilizados anteriormente, não contribuindo para a

diversidade de ideias.

4.3.2. Significado Emocional da compra

Uma das questões exploradas relativamente às fases após a compra relaciona-se

com o significado da compra de um objeto específico para o consumidor. Neste tópico,

pretendia-se saber como o comprador vê o objeto, após ter passado um período de tempo.

Uma vez que as emoções e os sentimentos das pessoas são singulares, acabamos por nos

deparar com doze tipos de respostas diferentes. Os significados escolhidos pelos

entrevistados para explicar os seus sentimentos foram: Afetividade, Nostalgia, Alegria,

Amor, Aprendizagem, Amizade, Felicidade, Vaidade, Inspiração, Orgulho, Euforia e

Experiência.

Alegria: Neste leque de emoções, existiram algumas que juntaram mais respostas

nas entrevistas. De acordo com os dados recolhidos, a maioria dos entrevistados diz ficar

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alegre com as compras que realiza. Contudo, esta pergunta acabou por ser algo direta e

os entrevistados apenas elegeram o sentimento, não explicando o seu porquê. No caso da

Alegria, esta emoção reuniu 24 respostas. Assim, as pessoas entrevistadas mostraram que

ficam alegres após comprar um produto, não atingindo um patamar de felicidade extrema,

mas sentem-se satisfeitas e contentes com a nova aquisição.

Nostalgia: Contudo, a Nostalgia também se encontra presente na mente do

consumidor, levando-o a reviver momentos passados, muito relacionados com a infância,

com a adolescência, ou com situações felizes. O sentimento de nostalgia foi encontrado

em 23 entrevistas.

Afetividade: De seguida, 14 entrevistados assumiram um sentimento de

proximidade com o objeto, mostrando que não se trata de uma compra banal. Assim, este

conjunto de pessoas declararam que sentem Afetividade pelo produto, explicando que se

trata de algo especial e único nas suas vidas.

Orgulho: No decorrer da análise destes dados foi possível aferir que 12

entrevistados afirmaram ter Orgulho nas compras de produtos desta natureza, o que os

leva a querer mostra-los no seu meio social.

Amor, Felicidade e Euforia: Depois, com um menor número de respostas (4 cada)

surgiram os conceitos de Amor, Felicidade e Euforia. Aqui, os entrevistados afirmam que

sentem amor por alguns dos seus objetos e estimam-nos com o maior cuidado possível.

Outros dizem ficar felizes com as compras que fazem, mas que este sentimento se mantem

quando olham e veem o produto na sua prateleira, ou no cantinho da sua casa. Por último,

existem os compradores que se sentem eufóricos aquando da compra e que têm

necessidade de mostrar isto às pessoas que os rodeiam. Isto pode acontecer com pessoas

que dão mais importância a objetos de alguma raridade.

Vaidade: No decorrer das entrevistas, 3 pessoas admitiram que compram este tipo

de produtos por Vaidade, ou seja, por um sentimento estético. Acabam por adquirir estes

objetos para fazer combinações no seu espaço e para mostrar aos amigos ou nas redes

sociais.

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Amizade: Depois, dois entrevistados dizem que estes produtos são mais do que

simples objetos e, após serem adquiridos comportam-se como amigos. Estas respostas

garantem um grau de amizade entre o consumidor e o objeto, proveniente da importância

que o comprador atribui à personagem e à ligação emocional que construiu enquanto via

uma série/filme, lia um livro ou jogava um videojogo.

Experiência, Aprendizagem e Inspiração: Por último, e com somente uma

resposta, surgiram os conceitos de Experiência, Aprendizagem e Inspiração. Aqui, o

consumidor acaba por sentir que vive uma experiência na compra de cada objeto, sendo

que serve de reflexo à experiência vivida na visualização da série/videojogo/livro. Em

termos de aprendizagem, o comprador afirma que o mais importante são as lições que

retira das aventuras da personagem em questão, revendo-as no objeto que compra. No

conceito de inspiração, o consumidor afirma que utiliza estes objetos como fonte de

inspiração, o que até pode libertar o fluxo criativo ou servir de incentivo para a vida

profissional do entrevistado.

O último conceito (Experiência) foi somente encontrado na trigésima segunda

entrevista, atingindo assim a saturação teórica. Este sentimento é conseguido quando o

comprador vê as suas aquisições como uma experiência, sendo na aquisição do objeto

como na sua referência a um filme, série, videojogo ou livro.

4.3.3. Contribuição do Produto

A última questão prendia-se com a contribuição do produto comprado para o

consumidor, ou seja, que benefícios traria para a pessoa após ser adquirido. Através da

análise das respostas a esta questão foi possível reunir seis conceitos, que estavam

presentes na totalidade das entrevistas: Felicidade, Lembrança de Momentos/ Nostalgia,

Suporte Emocional, Reflexo da Identidade e Auxílio na Criação de Laços Sociais.

Lembrança de Momentos: Apesar do conceito de nostalgia ser recorrente ao longo

desta análise, volta a ser importante nesta questão. Assim, 18 entrevistados afirmaram

que os produtos relacionados com a Cultura Pop permitem que o consumidor se lembre

de momentos passados e os “volte a viver”. Assim, o comprador olha para os objetos e

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recorda momentos felizes, muitas vezes ligados à infância, adolescência ou outros

episódios do passado. Surge a ideia que estes produtos ajudam no crescimento da pessoa

e que são formas de se lembrar de outros momentos: “Muitas vezes lembro-me de quem

sou graças a certas personagens ou acontecimentos, o que aprendi, o quanto cresci com

aquilo” (Ent#2). E completando a afirmação anterior, explicando que existe um

acompanhamento destes produtos ao longo da vida, o que ajuda na formação do

consumidor. “São produtos que me acompanham desde os meus sete anos de idade e, por

isso, fizeram parte de vários marcos diferentes e da minha história de vida” (Ent#3).

Contudo, o conceito de nostalgia vai além da infância e, deste modo, o consumo

destes produtos pode servir como interruptor de lembranças distintas de diferentes

momentos da vida do consumidor, “Algumas das minhas aquisições são lembranças de

momentos de infância, outras fazem-me lembrar de bons momentos com amigos. Mas

existem algumas que me relembram de momentos menos bem conseguidos, que também

servem para crescer” (Ent#22).

As restantes respostas acabam por se encaixar nestas três ideias apresentadas

anteriormente: são produtos que relembram o comprador de momentos passados,

normalmente ligados a alturas felizes. Contudo, funcionam também como auxílios no

crescimento da pessoa, ajudando a ultrapassar momentos mais delicados. Assim, estão

constantemente presentes na vida do comprador.

Criação de Laços Sociais: O segundo conceito que criou mais consenso nas

respostas refere que estes objetos ajudam a criar laços sociais, ajudando o comprador a

interagir com outras pessoas e a encontrar indivíduos com os mesmos gostos. Este

conceito surgiu em 15 respostas, garantindo que estes produtos ajudam a conceber tópicos

de conversa com pessoas com os mesmos interesses. “Claro que ajuda a criar laços com

quem se encontra no mesmo barco” (Ent#2). Esta ideia mostra ser consensual,

“Definitivamente, estes objetos ajudam encontrar alguém com gostos semelhantes e

partilhar as vivências acerca desta mesma saga. Assim, acabamos por criar temas de

conversa, processos de identificação e, consequentemente, laços” (Ent#3). Há quem

afirme que estes objetos são mais do que recordações pessoais ou ligadas a amigos, que

estes produtos ajudam a obter novos amigos ou mesmo a reforçar o grau de amizade que

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tem com outros. “Fazem-me lembrar de bons momentos com amigos, mas também de

momentos menos bem conseguidos. Como é óbvio ajuda a criar laços, fortalecendo as

amizades existentes, e até mesmo a fazer novos amigos” (Ent#22).

É mesmo referido que estes produtos foram fundamentais na vida social, ajustando

não só a identidade da pessoa, mas também guiando a sua vida social. “Certamente de

alguma forma moldaram a minha identidade e a minha vida social. Não seria igual, nem

seria quem sou, se não tivesse interesse por esta área” (Ent#4). Surgem consumidores que

afirmam que não compram deste tipo de produtos para si, mas sim para oferecer a

familiares ou amigos. Deste modo, os produtos servem para fortalecer amizades. “Assim

consigo ajudá-los a ficarem mais felizes, logo também acabo por ficar mais feliz”

(Ent#33).

O facto de certas pessoas verem estes objetos como uma coleção ou como

produtos de exposição permite também criar laços sociais. “Faz-me feliz ver a minha

coleção exposta e saber que quando alguém a vê (pela primeira vez ou não), mesmo não

estando dentro do tema, fica maravilhado” (Ent#11). Deste modo, a aquisição destes

produtos pode servir de auxílio social, não só com pessoas com os mesmos interesses,

mas também com indivíduos alheios à área da Cultura Pop.

Reflexo de Identidade: De seguida, os entrevistados apontaram estes objetos como

reflexos da sua identidade, revendo-se nas personagens, ou utilizando-as como modelo a

seguir no dia-a-dia. Este conceito foi referido em 13 ocasiões. Os objetos adquiridos têm

de ser um reflexo da identidade do comprador. “Sem dúvida! Move-me o que tal significa

para mim, o que me ensinou” (Ent#2). “São, sem dúvida, algo marcante de toda a minha

vida e, acima de tudo, são o reflexo da minha personalidade e identidade” (Ent#30).

Aparece igualmente quem reconheça traços da personalidade em algumas das suas

aquisições, mostrando que é importante ter esta ligação com o objeto. “Existem alguns

valores e traços que encontro na minha personalidade que revejo nestes produtos”

(Ent#3). Surgem respostas que sugerem a importância deste conceito e desta relação entre

o objeto e o comprador. “Certamente que, de alguma forma, estes produtos e as

personagens a que correspondem moldaram a minha identidade” (Ent#4). Reforçada a

ideia de que cada compra tem um pouco da identidade do comprador. “São

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definitivamente um reflexo da minha identidade. Um pedaço de mim fica espelhado em

cada compra que faço” (Ent#7).

Um outro ponto refere que estes produtos têm peso em algumas escolhas que faz

no quotidiano. “São um reflexo do que gosto e das minhas escolhas. Por vezes uso estes

bonecos como “balança” para decidir o que devo fazer” (Ent#18). Por outro lado, surge a

ideia que estes produtos também podem servir como algo que permita valorizar a pessoa,

fazendo-a sentir-se bem consigo mesma. “Servem para eu ter coisas que gosto, para

valorizar os meus gostos e de certa forma a mim mesma” (Ent#24).

Felicidade: Os últimos dois conceitos obtiveram o mesmo número de respostas

nas entrevistas realizadas: nove. Começando pela “Felicidade”, os entrevistados

afirmaram que a aquisição destes produtos os deixa mais felizes, melhorando o seu

humor. Há consumidores que afirmam que no momento da aquisição sentem-se muito

felizes, sentimento este que não é facilmente replicado. “Fico muito feliz quando compro

um objeto novo. É muito complicado lembrar-me de momentos onde fico assim feliz”

(Ent#1). “Faz-me feliz ver a minha coleção exposta e saber que quando alguém a vê fica

maravilhado, seja pela primeira vez (ou não) e mesmo não estando dentro do tema”

(Ent#11).

Surge também a explicação do bem-estar proporcionado pela posse de produtos

desta natureza, explicando que estes não são muito diferentes de outros objetos.

“Normalmente não são coisas que contribuem tanto socialmente, mas mais no sentido de

me deixar feliz por estar rodeada de coisas que gosto. São coisas que me melhoram a

qualidade de vida em momentos parados, no sentido que olho para elas e penso "isto é

giro, ainda bem que comprei". São mais coisas que estimo, assim como estimo um casaco

por gostar dele, ou um caderno ou um bom livro” (Ent#5). Depois, é percetível que existe

concordância com a ideia anterior. Nesta resposta, percebe-se que estes objetos permitem

que, ao serem visualizados, o utilizador se sinta feliz. Por outro lado, ao mostrar a sua

coleção a outras pessoas, sente orgulho próprio e felicidade no rosto dos outros. “Não me

ajuda necessariamente, mas quando estou a arrumar e a organizar a minha coleção fico

orgulhoso do que tenho e por norma isso faz as pessoas ficarem contentes. O mesmo

acontece quando mostro a minha coleção aos meus amigos” (Ent#9).

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Poderá ainda ser entendida a aquisição destes produtos como uma forma de auto

gratificação, valorizando os seus gostos pessoais. “Servem para eu ter coisas que gosto,

para valorizar os meus gostos e de certa forma a mim mesma” (Ent#24).

Suporte Emocional: Um outro conceito que surgiu com o mesmo número de

respostas que a ideia anterior foi o suporte emocional que estes produtos contêm. Segundo

estas respostas, estes produtos ajudam o consumidor a ultrapassar alguns obstáculos no

seu dia-a-dia, tornando mais fáceis certos momentos negativos.

Para alguns, estes objetos ajudam a superar momentos menos positivos, uma vez

que, olhando para eles, o entrevistado “lembra-se de quem é”. Por outro lado, recordar os

ensinamentos das personagens representadas nos produtos é uma forma de ajudar a

superar alturas complicadas. “É sem dúvida um suporte. Muitas vezes lembro-me de

quem sou graças a certas personagens ou acontecimentos, o que aprendi, o quanto cresci

com aquilo. Para além disso ajuda a esquecer certas coisas que acontecem na nossa vida”

(Ent#2). Esta ideia é reforçada: “Em certos momentos podem servir de suporte emocional,

levando-me a reler os livros ou a rever episódios ou filmes” (Ent#18).

São referidos os mesmos pontos explicados acima, com a inclusão de um conceito:

estes objetos são vistos como um refúgio. “São um suporte pois recorro a eles e refugio-

me naquele mundo e nas histórias daquelas personagens sempre que me sinto mal. É

difícil de ver estes objetos de outra forma” (Ent#3). Uma outra forma de ver estes

produtos espelha-se na afirmação “estes produtos ajudam a manter a calma” (Ent#12).

Dentro deste ponto, há quem defenda que estes produtos são uma forma de escapar

à realidade, "Trata-se de um “escape” à realidade, porque ajuda e muito nos maus

momentos” (Ent#16).

No que diz respeito à conjugação de conceitos, a junção que conseguiu maior

consenso nas respostas foi o sentimento de reflexo na identidade e a lembrança de

momentos. Assim, a recordação destes momentos acaba por ser um momento de reflexo,

onde o comprador pensa em episódios (positivos e negativos) passados, que servem de

lição para o futuro. De certo modo, fica explicado que estes momentos ajudam a moldar

a identidade das pessoas. Um outro fator que pode mudar a forma de ser destes indivíduos

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é o facto de pensarem no que estes objetos significam para eles e o que aprenderam antes

de tomaram algumas decisões.

Uma outra combinação seria a influência na identidade do comprador com a

criação de laços socias. Se alguns produtos influenciam a forma de ser das pessoas,

também influenciam a forma como criam laços sociais. Uma vez que estes produtos

ajudam a aprofundar certos gostos e a acumular outro conhecimento na área da Cultura

Pop, é possível que os interesses se alinhem com os de outras pessoas. Deste modo, estes

produtos também são vistos como iniciadores de conversas, através de métodos

tradicionais ou das redes sociais, como foi admitido ao longo das entrevistas.

A última combinação encontrada digna de registo foi entre os conceitos de suporte

emocional com lembrança de momentos. Desta forma, estes objetos ajudam os seus

compradores a ultrapassar momentos delicados através de possíveis lembranças passadas

de situações que tanto podem ser positivas, como de aprendizagem.

Em termos de saturação teórica, foi conseguida logo aquando da terceira

entrevista, quando o entrevistado referiu a influência destes produtos na personalidade de

comprador. Posteriormente, todas as respostas vieram consolidar os conceitos

previamente encontrados.

A terceira e última proposição de pesquisa “a compra do objeto com forte valor

simbólico contribui, por um lado, para o reforço da identidade pessoal e, por outro, para

um maior sentimento de pertença a um grupo” foi verificada no estudo. Há um valor

simbólico do produto, uma vez que o consumidor assume que estes objetos têm um forte

valor metafórico, mostrando admiração pela personagem, alegria e afetividade aquando

do consumo. Paralelamente, o consumidor admite que estes produtos também têm uma

função social, visto que podem ajudar a desbloquear conversas com indivíduos que

partilhem dos mesmos gostos e interesses. De acordo com Lübeck, Hopner e Silva (2015),

o consumo destes produtos ganha mais importância, uma vez que o indivíduo acredita

que o objeto adquirido contém um reconhecimento público positivo junto do seu grupo

social. Para além disso, o consumidor afirma que estes objetos são reflexos da sua

identidade, ajudando a construi-la, mas que também são um suporte emocional nos

momentos mais complicados.

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5. CONCLUSÃO

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A realização deste trabalho permitiu-nos conhecer e compreender melhor o

fenómeno da Cultura Pop, em Portugal, e suportou-nos três das proposições de pesquisa

elaboradas para esta investigação. Uma das preposições elencada (a terceira) não

conseguiu ser provada.

Relativamente aos padrões que foram encontrados nesta análise dos dados

recolhidos, é possível concluir que a origem do interesse em produtos relacionados com

a Cultura Pop começa (maioritariamente) na infância, quando os consumidores viam

certos programas, jogavam certos jogos, ou liam certos livros, o que os influenciou no

sentido de prestarem mais atenção a esta temática. A partilha deste novo conhecimento

no seu contexto social também foi importante para o aumento da intensidade do interesse.

Através desta sequência, nasceu o interesse nestes produtos, o que levou ao

consumo dos mesmos. Deste modo, o consumidor, na maior parte dos casos, reflete no

produto que pretende adquirir e planeia a sua compra. Contudo, admite que existe

momentos onde o consumidor não consegue planear a compra, permitindo uma aquisição

por oportunidade, ou por impulso.

Uma vez que o consumidor gasta algum tempo a pensar e planear as suas

aquisições, acaba por ficar satisfeito com o desenrolar da compra, reagindo positivamente

no pós-compra. Contudo, apesar de este consumidor ter noção de que comprou algo não

essencial, fica feliz, orgulhoso, ou mesmo eufórico com a sua compra, o que confirma

que há um ganho emocional relevante neste tipo de compras (literatura). Este processo de

aquisição é fruto de uma admiração que o consumidor tem por certas personagens de

determinados universos e, por vezes, do desejo de aumentar a coleção de elementos que

já tem. Assim, a admiração por alguma personagem surge lado a lado com o

colecionismo.

Sendo que o consumidor admira certos personagens, também ficou explícito que

se revê e identifica com elas. Esta foi, de forma unânime, uma garantia dada pela

totalidade dos entrevistados, sendo que a identificação com os valores inerentes a uma

personagem, replicados nestes produtos, são a principal motivação de aquisição. Isto leva

o consumidor a sentir uma panóplia de emoções, como alegria, nostalgia e afetividade

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com a sua compra. Este resultado mostra também que este tipo de compras funcionam

como um reforço da sua identidade, tal como referem Flügel (1930) e James (1890).

Por último, a aquisição destes produtos tem diversas contribuições para o

consumidor, sendo que a lembrança de momentos passados e nostálgicos provou ser o

mais recorrente. Contudo, estas compras também tiveram influência na criação de laços

sociais, uma vez que servem para destrancar conversas entre pessoas que partilham os

mesmos interesses, reforçando estudos anteriores que salientam esta função da compra

(Lübeck, Hopner e Silva, 2015). Tudo isto acaba por resultar num conforto emocional,

que ajuda o consumidor em momentos delicados (Lübeck, Hopner e Silva, 2015).

5.1. Principais conclusões do estudo

A principal conclusão deste estudo demonstra que as motivações para o consumo

de produtos relacionados com a Cultura Pop advêm da infância e de momentos

nostálgicos, que permitem ao consumidor um óbvio revivalismo. Deste modo, e

respondendo à pergunta de pesquisa, a infância é assumida como a principal causa da

origem do interesse, juntamente com a admiração que o consumidor assume por

determinadas personagens.

De seguida, e respondendo aos fatores psicossociais e motivações envolvidas no

processo de compra, o consumidor procura meticulosamente o consumo destes produtos.

Contudo, admite compras menos pensadas e condicionadas por impulso, para encontrar

objetos menos comuns e que vão de encontro à admiração que o mesmo assume por certas

personagens. Todavia, apesar de existirem compras pensadas e de impulso, o consumidor

fala em sentimentos de alegria, nostalgia e afetividade quando está a comprar um produto.

Em relação à última parte da pergunta, o consumidor afirma que, por norma, fica

satisfeito quando consegue comprar aquilo que procura. A admiração que sente pelas

personagens acaba por se refletir na própria personalidade do indivíduo e mesmo na

criação de laços sociais com pessoas que partilham dos mesmos interesses. Deste modo,

o consumidor acredita que a aquisição destes produtos resulta numa panóplia de

benefícios, como a possibilidade de pensar em momentos passados e felizes. Contudo,

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quando se compra produtos desta natureza e quando se tem uma ligação tão profunda ao

objeto, é possível encontrar conforto emocional nestes artigos, capazes de ajudar a

ultrapassar momentos mais complicados e delicados.

5.2. Limitações

Nesta parte serão identificadas as principais limitações do presente estudo. A

primeira limitação assumida prende-se com o facto deste tema ser (ainda) pouco estudado.

Numa primeira fase, foi bastante complicado encontrar artigos académicos e trabalhos

científicos que justificassem a escolha desta temática. Os autores que foram encontrados

foram fulcrais para a estruturação e desenvolvimento deste estudo. Contudo, esta

limitação também serviu de motivação para a continuação do trabalho, visto que acabou

por se tornar num estudo que julgamos inovador e pouco trabalhado no mundo

académico.

A segunda limitação prendeu-se com a dificuldade em encontrar público que

encaixasse no perfil da amostra, o que significa que o público tem características mais

específicas e os resultados não são facilmente transferíveis para outros consumidores da

Cultura Pop. Contudo, a escolha acabou por recair no Comic Con Portugal 2017,

convenção que juntou milhares de participantes e que tinham interesse pela temática

estudada neste trabalho. Sem a presença neste evento, seria quase impossível encontrar

pessoas com estes interesses, que estivessem disponíveis para uma entrevista pessoal.

Outra limitação prende-se com o facto de este estudo ser qualitativo. Este tipo de

análise de dados não permite obter uma generalização (Patton, 1990). Contudo, devido à

falta de literatura já apontada, o foco desta investigação nunca foi a uma generalização,

nem testar teorias previamente encontradas. O objetivo deste trabalho esteve sempre

ligado à análise qualitativa, pretendendo mostrar as crenças dos participantes, uma vez

que existem poucas ideias preconcebidas (Gerhardt, 2009), muito graças às limitações ao

nível da literatura.

Por último, para além de ser um estudo com alguma subjetividade do investigador,

característica essa que distingue a pesquisa qualitativa da quantitativa (Gerhardt, 2009),

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assumimos as nossas limitações, a começar por possuirmos uma formação inicial

diferente da área deste mestrado. Tentámos transformar esta “ameaça” numa

“oportunidade” e o percurso que fizemos, não isento de falhas, deixa-nos satisfeitos.

5.3. Estudos Futuros

O estudo da Cultura Pop apresenta múltiplas possibilidades de abordagem. Se,

como já afirmámos, é uma temática ainda pouco estudada, tal possibilita estudos mais

intensivos (profundos) ou extensivos (abrangentes). No nosso trabalho entrevistámos,

sobretudo, indivíduos entre os 21 e os 30 anos; mas, qual será a perceção de um público

com idade mais avançada? Haverá diferenças por sexo?

As entrevistas ocorreram num contexto específico – a Comic Con Portugal; uma

alternativa interessante seria realizar este estudo fora deste ambiente singular e, em lojas

especializadas, tentar abarcar um público diferenciado, mas interessado por este

fenómeno de cultura popular.

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APÊNDICES

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Apêndice I – Guião da Entrevista

Idade: ____ Naturalidade: __________ Data da primeira compra: _________

Sexo: _________

Frequência das compras: _____________

Dimensão da coleção/número de objetos: __________

Ideia geral do valor (€) da coleção: ________

Questão Aprofundamento

1. Quando e como

começou o interesse nestes

produtos?

Fale-me do porquê no interesse nestes produtos. Pensa que a

infância tem influência na aquisição e interesse por estes produtos?

Houve influência de outros (amigos, colegas…)

2. Qual a relação que tem

com estes produtos? O que

representam para si

Vê-os como? São aquisições normais? Colecionismo? Produtos de

destaque?

Sente que este interesse pode ser considerado um estilo de vida?

3. Fale-me do processo de

compra. Já leva uma ideia

definida do que quer

comprar?

Tem necessidade de analisar o produto?

Consegue manter o rigor e comprar aquilo que decidiu ou acaba por

adquirir outros produtos?

4. Como se sente depois da

compra?

Sente que comprou aquilo que queria? Já alguma vez sentiu que fez

a compra errada, ou que gastou dinheiro desnecessário?

5. O que o leva a escolher

um produto?

Ligação emocional à personagem? À série/jogo/filme? Raridade do

produto?

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6. Fale-me do significado

que estes produtos têm para

si. Que emoção associaria?

Alegria? Afetividade? Amizade? Amor? Arrependimento?

Orgulho? Euforia? Nostalgia? Vaidade? Outra?

7. De que modo é que este

tipo de produto contribui

para a sua vida?

Podem ajudar e servir de suporte a momentos menos bons? São

lembranças de certos momentos da infância? São um reflexo da sua

identidade? Ajuda a criar laços com outras pessoas dentro do seu

ciclo social?

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Apêndice II – Codificação das Entrevistas

Entrevista Sexo Idade

#Ent1 Masculino 24

#Ent2 Masculino 23

#Ent3 Feminino 25

#Ent4 Feminino 21

#Ent5 Masculino 22

#Ent6 Feminino 18

#Ent7 Masculino 23

#Ent8 Masculino 24

#Ent9 Masculino 24

#Ent10 Feminino 32

#Ent11 Masculino 27

#Ent12 Masculino 20

#Ent13 Feminino 18

#En14 Masculino 23

#Ent15 Feminino 25

#Ent16 Feminino 39

#Ent17 Feminino 47

#Ent18 Feminino 26

#Ent19 Masculino 18

#Ent20 Feminino 18

#Ent21 Masculino 20

#Ent22 Feminino 26

#Ent23 Masculino 26

#Ent24 Masculino 18

#Ent25 Masculino 18

#Ent26 Feminino 25

#Ent27 Feminino 27

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84

#Ent28 Masculino 22

#Ent29 Masculino 27

#Ent30 Masculino 28

#Ent31 Feminino 31

#Ent32 Feminino 23

#Ent33 Masculino 37

#Ent34 Feminino 22

#Ent35 Feminino 22

#Ent36 Feminino 31

#Ent37 Feminino 18

#Ent38 Masculino 23