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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE FLÚOR EM NOVOS DENTIFRÍCIOS NO MERCADO BRASILEIRO JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES MANAUS 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

FACULDADE DE ODONTOLOGIA

ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE FLÚOR EM NOVOS

DENTIFRÍCIOS NO MERCADO BRASILEIRO

JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES

MANAUS

2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

FACULDADE DE ODONTOLOGIA

JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES

ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE FLÚOR EM NOVOS

DENTIFRÍCIOS NO MERCADO BRASILEIRO

Orientadora: Profª Drª Maria Augusta Bessa Rebelo

MANAUS

2011

Monografia apresentada à Disciplina de TCC II

da Faculdade de Odontologia da Universidade

Federal do Amazonas como requisito parcial

para obtenção do título de Cirurgião-Dentista.

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REALIZAÇÃO:

APOIO:

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JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES

ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE FLÚOR EM NOVOS

DENTIFRÍCIOS NO MERCADO BRASILEIRO

Aprovado em 10 de novembro de 2011.

BANCA EXAMINADORA

Profª Drª Maria Augusta Bessa Rebelo – Presidente

Universidade Federal do Amazonas

Profo Dr Leandro de Moura Martins, Membro

Universidade Federal do Amazonas

Profª MSc. Luciana Mendonça da Silva, Membro

Universidade Federal do Amazonas

Monografia apresentada à Disciplina de TCC II

da Faculdade de Odontologia da Universidade

Federal do Amazonas como requisito parcial

para obtenção do título de Cirurgião-Dentista.

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Aos meus pais, Valdirene Cardoso de

Freitas e Jonas da Silva Gomes pelo

exemplo de vida, por estarem sempre ao

meu lado, por serem alicerces para a

minha formação e fundamentais nessa

conquista tão almejada.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus pela dádiva da vida. Por me guiar sempre por caminhos de luz e me

conceder bênçãos sem medida.

Aos meus pais, Jonas e Valdirene, que com muito carinho e apoio não mediram esforços

para que eu chegasse até esta etapa da minha vida e a conseguisse concluir. Pelos valores que

me ensinaram e por tornarem possível a concretização desse sonho.

Ao meu irmão Jonas Júnior, pelo carinho, ajuda e compreensão. Por ser um amigo fiel, um

verdadeiro exemplo de homem na minha vida. Alegra-me muito o coração em saber que

somos irmãos, por compartilharmos vários momentos juntos e por saber que posso contar

sempre com você.

A minha orientadora - Profª. Maria Augusta Bessa Rebelo - pela paciência na orientação e

pela atenção dispensada, requisitos fundamentais para a execução e conclusão deste TCC. Por

ter me proporcionado aprendizados não somente acadêmicos, como também de vida. Enfim

considero a senhora um exemplo de ser humano e de docente.

A Profª. Nikeila Chacon de Oliveira Conde, exemplo de experiência e competência,

tornando-a uma profissional modelo. Agradeço pelo apoio no desenvolvimento da pesquisa

laboratorial e pela contribuição científica proporcionada.

A Profª. Janete Maria Rebelo Vieira por ter me indicado a Profª. Maria Augusta Bessa

Rebelo a fim de realizarmos o Projeto de Iniciação Científica (PIBIC) que deu inicio ao

presente TCC. Além disso, por ser uma profissional que luta por causas não tão valorizadas

por muitos cirurgiões-dentistas, mas que tenta mudar essa realidade através da formação de

novos profissionais, mostrando no ambiente acadêmico os caminhos certos a serem

percorridos e consequentemente, criando uma nova mentalidade sobre a saúde pública, área

que tanto necessita de mudanças positivas.

A Profª. Adriana Corrêa de Queiroz por ter realizado a análise estatística dos dados do

presente TCC. É uma profissional muito admirada e querida por todos.

Ao Prof. Emílio Carlos Sponchiado Jr, pelos ensinamentos transmitidos na disciplina de

TCC I e II e também pelo exemplo de profissional.

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Aos professores da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas, que

foram imprescindíveis na minha formação.

A todos os técnicos administrativos e funcionários da conservadoria.

A minha eterna dupla Thaysa Nogueira de Melo. Uma pessoa admirável com a qual

compartilhei tantos momentos e que estão gravados na minha memória. Foram tantas

descobertas, desafios, conquistas, medos, incertezas, alegrias... Um conjunto de sentimentos

que somente nós dois sabemos. Não consigo expressar com palavras tudo o que você

representou no decorrer desses 05 anos. É com o coração muito emocionado que posso

resumi-la de forma bastante simples em uma palavra ESPECIAL.

Aos amigos de turma. Em especial a Cristóvão Sávio, Maria Tereza, Dayane Oliveira, Mara

Sevalho, Tamiris Ferreira, Manuelle Ferreira, Guilherme Cândido, Alzemira Mascarenhas,

Hamanda Shayana, Mariana Figueiredo, Greicileide Braga, Geisy Rebouças, onde nossos

caminhos se cruzaram diante de um ideal comum. Além disso, aos amigos da faculdade

Andreza Belfort e Ronan Esashika.

Ao CNPq pela bolsa concedida.

Aos professores integrantes da banca examinadora, por aceitarem participar e opinar neste

trabalho, deixando sua honrosa contribuição.

Enfim a todos que direta ou indiretamente fazem parte dessa história. Meu carinho e muito

obrigado!

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RESUMO

O dentifrício fluoretado é considerado o método mais simples e racional de uso do flúor,

complementando as deficiências mecânicas da escovação e estabelecendo um controle físico-

químico no desenvolvimento da cárie dentária. Entretanto, o requisito mínimo para que um

dentifrício tenha potencial anticárie é ter uma formulação com fluoreto na forma solúvel e

estável com concentração adequada. Diante disso, e considerando a introdução de novos

dentifrícios no mercado, o presente estudo se propôs a analisar a concentração de flúor em

dentifrícios comercializados localmente, avaliando as distintas formas desse componente, tais

como: flúor total (FT); flúor solúvel total (FST); flúor iônico ); flúor ionizável e flúor

insolúvel (Fins). Para tal, foram adquiridas as seguintes marcas de dentifrícios: Even®; Colgate

Shrek®; Colgate Total 12

®; Colgate Max White

®; PreviDent

®; Close up

® ; Sorriso

® e Crest

®

(padrão ouro). Além disso, o estudo avaliou a concentração de flúor presente no dentifrício

Ice Fresh®, distribuído na rede municipal de saúde. Os dentifrícios foram adquiridos em

triplicata e as amostras de cada tubo, em duplicata. Para a análise, utilizou-se um eletrodo

específico para íon flúor, ORION 96-09, previamente calibrado com soluções padrões

conhecidas em concentrações de 2,0 a 32,0 ppmF . Os resultados obtidos para FST e FT

foram, respectivamente: Colgate Total 12® (1.356,37±41,46 e (1.386,87±17,07), Colgate Max

White® (1.394,47±32,16 e 1.342,33±52,26), Crest

® (1.134,00±21,74 e 1.086,03±44,67),

Colgate Shrek®

(1.037,23 ±171,81 e 1.075,53±50,04), Even®

(938,07±77,28 e

1.083,73±37,49), Close Up®

(1298,32±66,53 e 1.192,66±16,89), Ice Fresh® (1.037,23±171,81

e 1217,13±344,39), Sorriso® (1.182,66±69,32 e 1306,85±146,25) e PreviDent

®

(4.976,41±102,95 e 4595,02±135,09). Conclui-se que os dentifrícios fluoretados analisados e

comercializados na cidade de Manaus estão de acordo com a Portaria nº 79 de 2000 do

Ministério da Saúde, Brasil e, a maioria, apresentou concentração de flúor suficiente para

interferir no processo de desenvolvimento da cárie dentária bem como do que foi relatado no

rótulo.

Palavras-chave: dentifrícios, flúor, cárie dentária.

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SUMMARY

The dentifrice is considered the most simple and rational use of fluoride, complementing the

shortcomings of mechanical brushing and establishing a physical-chemical control in the

development of dental caries. However, the minimum requirement for an anticaries potential

toothpaste is to have stable and soluble forms of fluoride, in adequate concentration.

Therefore, considering the introduction of new toothpastes on the market, this study analyzed

the concentration of fluoride in commercially dentifrices available, assessing the different

forms of this component, such as total fluoride (TF); total soluble fluoride (TSF); fluoride ion

); fluorine ionizable fluoride and insoluble fluoride (Fins). Following brands of toothpastes

were acquired: Even®

; Colgate Shrek®; Colgate Total 12

®; Colgate Max White

®; PreviDent

®;

Close up®

; Sorriso® and Crest

®(gold standard). In addition, the study assessed the

concentration of fluoride in toothpaste IceFresh ®, distributed in municipal health system.

Dentifrices were acquired in triplicate and samples of each tube in duplicate. For the analysis,

a specific fluoride ion electrode was used, Orion 96-09, previously calibrated with known

standard solutions at concentrations from 2.0 to 32.0 ppm F . The results for FT and FST

were: Colgate Total 12® (1.356.37±41.46 and 1.386.87±17.07), Colgate Max White

®

(1.394.47±32.16 and 1.342.33±52.26), Crest® (1.121.75±6.72 and 1.086.03±42.00), Colgate

Shrek® (1.037.23 ±171.81 and 1.075.53±50.04), Even

® (938.07±77.28 and 1.083.73±37.49),

Close Up®

(1298.32±66.53 and 1.192.66±16.89), Ice Fresh® (1.037.23±171.81 and

1217.13±344.39), Sorriso® (1.182.66±69.32 and 1306.85±146.25) and PreviDent

®

(4.976.41±102.95 and 4595.02±135.09). The results suggested that the dentifrices tested and

marketed in the city of Manaus are attending Brazilis Ordinance 79 of 2000 Ministry of

Health and most of them present adequate fluoride concentration for caries control as well as

what is reported on the label.

Keywords: toothpaste, fluoride, dental caries.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADA: American Dental Association;

CDTA: ácido diaminociclohexanotetra-acético;

et al.: e outros abreviatura de “et alli”);

HCl: ácido clorídrico;

F : flúor iônico;

FT: flúor total;

FST: flúor solúvel total;

Fins: flúor insolúvel;

MFP: monofluorfosfato;

NaF: fluoreto de sódio;

NaCl: cloreto de sódio;

NaOH: hidróxido de sódio;

ppm: partes por milhão;

ppmF : partes por milhão de íon fluoreto;

rpm: rotação por minuto;

TISAB II: tampão acetato 1,0 M, pH5,0, contendo NaCL 1,0 M, CDTA 0,4%.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Dentifrícios analisados na pesquisa;

Figura 02: Eletrodo específico para o íon flúor, ORION 96-09;

Figura 03: Analisador de íons, ORION 720-A;

Figura 04: Desprezo da fração inicial do dentifrício, aproximadamente 03 cm;

Figura 05: Pesagem de 100 miligramas de dentifrício em balança de precisão eletrônica;

Figura 06: Agitação da solução: dentifrício mais água deionizada;

Figura 07: Imersão em banho-maria a 45ºC durante 01 hora;

Figura 08: Centrifugação da suspensão durante 10 minutos a 3000 rpm;

Figura 09: Ilustração gráfica das médias das concentrações de Flúor Solúvel Total (FST)

encontradas e do valor relatado pelo fabricante.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Média (Desvio-padrão) da concentração (ppmF ) de flúor total, flúor solúvel total,

flúor iônico, flúor ionizável e porcentagem de flúor insolúvel encontradas nos dentifrícios

analisados;

Tabela 02: Comparação entre médias da concentração (ppmF ) de flúor total, flúor solúvel

total e concentração (ppm) relatada pelo fabricante nos dentifrícios analisados. (Médias

seguidas por letras distintas, diferem entre si ao nível de significância de 5%).

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SUMÁRIO

RESUMO

SUMMARY

LISTA DE ABREVIATURAS

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral .......................................................................................................................... 17

2.2. Objetivos específicos ............................................................................................................... 17

3. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................................. 18

4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................................ 38

4.1. Materiais................... ................................................................................................................ 38

4.2 Métodos....................... .............................................................................................................. 39

5. RESULTADOS .......................................................................................................................... 46

6. DISCUSSÃO............ ................................................................................................................... 48

7. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 52

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 53

9. APÊNDICE................. ................................................................................................................ 55

10. ANEXO ......... ........................................................................................................................... 56

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1. INTRODUÇÃO

A cárie dentária é uma doença infecto-contagiosa, de caráter multifatorial, sendo um

processo dinâmico resultante do desequilíbrio nos fenômenos de desmineralização e

remineralização que ocorrem na interface dente-biofilme dentário, que se caracteriza pela

destruição progressiva e localizada do dente (CURY, 2002).

Há vários métodos de prevenção e controle da cárie dentária, sendo o flúor o mais

utilizado e eficaz. Com relação ao mecanismo de ação, este elemento químico é capaz de

ativar a reposição iônica em dentes com lesões de mancha branca e com lesões incipientes de

cárie, assim como, de reduzir a perda mineral do esmalte de dentes hígidos (ARAÚJO et al.,

2002; BATISTA; VALENÇA, 2004; CAMPOS et al., 2005; MOREIRA et al., 2007).

Vale ressaltar que o flúor age reduzindo a solubilidade do esmalte por sua simples

ação dinâmica no meio líquido na lesão de cárie e não pela ação estática incorporado em

concentração não significativa no esmalte. O flúor quando em contato com o elemento

dentário resulta na formação de depósitos de fluoreto de cálcio nas superfícies do esmalte,

dentina e cemento. Estes depósitos atuam como um reservatório de flúor na cavidade bucal,

frente ao processo de desmineralização e remineralização, sendo totalmente dependente das

variações do pH do meio (CHAVES; VIEIRA-DA-SILVA, 2002; CURY, 2002;

ALBUQUERQUE; LIMA; SAMPAIO, 2003; ALVES; SILVA, 2004; BATISTA;

VALENÇA, 2004; TENUTA; CURY, 2005).

A descoberta de que o mecanismo de ação do flúor é tópico conferiu enorme

importância a veículos capazes de disponibilizá-lo por essa via. Os dentifrícios, que até a

década de 60 exerciam papel meramente cosmético, elevaram-se à categoria de agentes

preventivos. São considerados os principais produtos que contém flúor sendo, portanto, as

formulações químicas de prevenção odontológica mais utilizados pela população. Observa-se

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no mercado nacional um grande número de marcas e formulações de dentifrícios que são

intensamente difundidos nas propagandas pelos meios de comunicação. Isso explica o

crescente consumo desses produtos que possibilitam reduções nos índices de cárie dentária

constatados em vários países, fato este evidenciado através de relevantes estudos

epidemiológicos (NARVAI, 2000; CAMPOS et al., 2005; MOREIRA et al., 2007).

Os dentifrícios tem um papel terapêutico importante, particularmente na prevenção e

no controle do desenvolvimento da cárie dentária. Isto tem sido atribuído ao flúor agregado

às formulações. As principais formas de flúor usadas nos dentifrícios são o Monofluorfosfato

de Sódio (MFP) e o Fluoreto de Sódio (NaF). As concentrações de flúor que encerram as

diferentes formulações variam em torno de 1.100 a 1.500 ppmF ¯, podendo ser utilizadas

menores concentrações em dentifrícios infantis (CURY, 2002; CURY et al., 2010; CAMPOS

et al., 2005; MELO et al., 2008; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

A legislação sobre o flúor preconizada pelo Ministério da Saúde determina que o

dentifrício fluoretado deve conter o elemento flúor na quantidade de pelo menos 600 ppmF ¯

após 01 ano da data de fabricação e pelo menos 450 ppmF ¯ no restante do seu prazo de

validade. Além disso, a legislação atual não determina que o flúor deva estar obrigatoriamente

na sua forma solúvel, ou seja, aquela que é capaz de interferir no processo dinâmico da cárie

dentária (NARVAI, 1998).

A utilização do dentifrício fluoretado representa um método simples e racional de

combate à doença cárie dentária, principalmente em populações que não tem acesso a água de

abastecimento fluoretada, considerada uma importante medida de saúde pública (CURY et al.,

2004).

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Observa-se que, na cidade de Manaus, a água de abastecimento público não é

fluoretada, portanto é fundamental considerar a importância dos métodos tópicos de grande

abrangência como no caso do dentifrício fluoretado (CONDE; REBELO; CURY, 2003).

Por isso, torna-se necessário a realização de estudos que avaliem a concentração de

flúor presente nos dentifrícios comercializados na cidade de Manaus, a fim de avaliar se os

valores de flúor apresentados pelos fabricantes das diferentes marcas comerciais

correspondem à realidade, assim como observar se o flúor presente nestes produtos é solúvel

para intervir nos fenômenos da doença cárie dentária. Além disso, a investigação terá por

objetivo avaliar se os dentifrícios fluoretados comercializados localmente obedecem às

legislações vigentes, que regulamentam a concentração de flúor nos mesmos.

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2. OBJETIVOS

2.1 Geral:

Analisar a concentração de flúor em dentifrícios comercializados na cidade de Manaus.

2.2 Específicos:

Determinar a concentração de flúor total (FT);

Determinar a concentração de flúor solúvel total (FST);

Determinar a concentração de flúor iônico (F ¯);

Determinar a concentração de flúor insolúvel (Fins).

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3. REVISÃO DE LITERATURA

Narvai (1998) discorre a respeito da vigilância sanitária e saúde bucal no Brasil. Inicia o

artigo tratando dos diferentes conceitos de vigilância sanitária, porém deixa claro que os

formuladores desses conceitos concordam sempre quanto ao papel fundamental do Estado

nessa área. O autor prossegue direcionando o assunto para saúde bucal e afirma que as ações

de vigilância sanitária estão mudando de foco, visto que se observa o deslocamento de ações

do consultório odontológico para o ambiente, considerado em sentido amplo. Refere que no

âmbito da saúde bucal coletiva e da área de atuação odontológica, as ações de vigilância

sanitária abrangem três dimensões: os estabelecimentos de prestação de serviços

odontológicos, os alimentos e bebidas e os produtos para higiene bucal. Com relação a estes,

citam-se a escova dental, o fio dental e os dentifrícios fluoretados. Estes últimos são

considerados os principais produtos fluoretados, pois são utilizados por praticamente toda a

população mundial. Segundo o autor, mais de 05 bilhões de tubos de dentifrícios são

consumidos anualmente em todo o mundo. O flúor presente no dentifrício é considerado o

principal agente de interesse em termos de vigilância sanitária, sendo comprovado que a

presença do íon está associado à menor incidência de cárie dentária na população. O autor

deixa claro a importância de o dentifrício apresentar flúor reativo e também a necessidade dos

produtos apresentarem informações referentes à fórmula química do composto de flúor

utilizado, sua concentração em ppm, as respectivas indicações, o modo de usar, a data de

fabricação e o prazo de validade. Para isto, é importante o controle e fiscalização desses

produtos, com o objetivo de serem eficazes em termos de promoção de saúde da população.

Narvai (2000), por meio de uma revisão, analisou o binômio cárie dentária e flúor: uma

relação do século XX. Inicialmente, o autor apresenta uma contextualização histórica e

informa nomes de pesquisadores que entraram para a história da saúde pública. Em seguida,

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fala a respeito da doença cárie dentária e do padrão alimentar do homem no decorrer dos anos.

Posteriormente, o autor instrui a respeito do flúor, da água fluoretada e fluoretação da água.

Ressalta a importância do mecanismo de ação do flúor que é tópico e sobre o dentifrício

fluoretado. Com relação a este veículo de flúor, até os anos 60 o mesmo possuía papel

meramente cosmético, sendo posteriormente elevado a categoria de agente preventivo. O

autor esclarece que no final do século, praticamente todos os dentifrícios comercializados no

Brasil continham íon fluoreto e que é crescente o consumo desse produto nos últimos anos.

Revela ainda a importância de haver um controle de qualidade dos produtos fluoretados à

venda no país, visto que a população necessita de flúor ativo para intervir no processo da cárie

dentária. É importante então a vigilância sanitária de flúor, tanto referente aos dentifrícios

fluoretados quanto com relação à fluoretação da água. Por fim, o autor sintetiza que o uso do

flúor, em especial através dos dentifrícios fluoretados, tornou possível beneficiar milhões de

pessoas, livrando-as da cárie ou diminuindo a severidade dessa doença.

Chaves; Vieira-da-Silva (2002) realizaram uma meta-análise sobre a efetividade da

escovação com dentifrício fluoretado na redução da cárie dentária, com o objetivo de calcular

o efeito das diferentes hipóteses testadas. Foram revisados artigos publicados sobre a

efetividade dos dentifrícios com flúor no controle da cárie dentária no período compreendido

entre 1980 e 1998. Para avaliação da qualidade dos artigos, foram utilizados os critérios de

rigor metodológico de Kay & Locker após serem submetidos a um comitê de experts formado

por pesquisadores I-A do CNPq. Dos 43 artigos identificados, 51,2% atingiram os critérios de

rigor metodológico propostos. O cálculo do tamanho do efeito da intervenção de cada estudo

foi feito a partir das diferenças de resultados entre os grupos de teste e controle. O efeito

global foi calculado para cada agrupamento de estudos segundo as hipóteses testadas. Os

resultados mostraram que: o aumento da concentração do flúor parece estar associado com o

aumento do efeito; o maior percentual de redução de cárie foi verificado na comparação entre

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dentifrícios fluoretados e aqueles sem flúor; a adição de anti-microbianos, diferenças nos

sistemas abrasivos e diferenças nos princípios ativos não aumentam a efetividade dos

mesmos. Os resultados evidenciaram que as maiores reduções de cárie foram encontradas nos

estudos com escovação supervisionada. A síntese confirmou a importância da escovação com

dentifrício fluoretado no controle da cárie dentária. Contudo, aponta para uma ênfase nos

aspectos medicamentosos relacionados ao controle da doença, em detrimento de ações

educativas específicas. A heterogeneidade de resultados indica que sejam considerados os

contextos de implantação das práticas preventivas no processo de sua avaliação.

Cury (2002) no livro Odontologia Restauradora – Fundamentos e Possibilidades do

autor Baratieri Luiz Narciso et al., escreveu o capítulo Uso do Flúor e Controle da Cárie

Como Doença. Neste, esclarece os meios de usar flúor tópico, com ênfase aos dentifrícios

fluoretados. Segundo o autor, o declínio da doença cárie dentária observado nos países

desenvolvidos é decorrente do aumento do consumo desse meio de uso tópico de flúor. Neste

contexto, enquadra-se o Brasil, pois a partir de setembro de 1988, ano no qual se iniciou a

agregação de flúor aos dentifrícios mais vendidos, percebeu-se o declínio da doença cárie nos

brasileiros. Atualmente, há cerca de 30 marcas de dentifrícios fluoretados no mercado, sendo

que apenas cinco deles representam 90% das vendas. Todos estes dentifrícios são fabricados

no estado de São Paulo e são comercializados nas cinco regiões brasileiras. Após pesquisas

sobre a avaliação do flúor presente nos mesmos, observou-se que de norte a sul do país, quem

escova os dentes está usando flúor para o controle do desenvolvimento da cárie dentária.

Segundo normas brasileiras, a concentração máxima de flúor nos dentifrícios deve ser de

1500 ppmF ¯ (0,15% de F), concentração importante para garantir uma maior quantidade de

flúor ativo no produto. Entretanto, o autor afirma que o mais importante não é a concentração

de flúor que está sendo utilizada, mas sim a freqüência de escovação pelo indivíduo. Desta

forma, o flúor presente no meio bucal reduz a perda mineral do esmalte do dente íntegro, ou

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ajuda a saliva a repor minerais perdidos quando o dente é exposto à atividade de cárie.

Entretanto, a eficiência do flúor é maior quanto menor a quantidade de mineral a ser reposta.

Assim, observa-se que a regularidade da escovação com dentifrício fluoretado, resulta na

remoção mecânica do biofilme, associado à exposição do flúor no meio bucal, interferindo

então na dinâmica do processo de cárie. O autor esclarece que o flúor dos dentifrícios, à

semelhança de qualquer forma de uso de flúor, é importante tanto para crianças como para

adultos e age tanto no esmalte como na dentina. Porém, para que o indivíduo apresente

proteção total contra a cárie dentária, é importante que o mesmo tenha higiene bucal regular e

faça uso do dentifrício fluoretado. Caso contrário, se fizer uso do flúor, mas apresentar má

higiene bucal a sua proteção é parcial. Além disso, refere que uma grande quantidade de água

para lavar a boca após a escovação com dentifrício fluoretado reduz seu benefício no controle

da cárie. Por outro lado, em muitas situações clínicas o uso isolado de dentifrício fluoretado

não permite o controle da cárie dental. Assim, a associação com outros meios de usar flúor,

e/ou controle químico de placa dental, tem sido recomendada.

Araújo et al. (2002) avaliaram a ação do fluoreto de dentifrícios sobre o esmalte

dentário. Para isto, utilizou-se esmalte dentário humano em pó, no qual se testou a eficácia do

íon fluoreto contido em quatro dentifrícios teste, comparados à ação dos dentifrícios controle,

sem fluoreto. Os dentifrícios fluoretados apresentavam variação de 1100 a 1500 ppmF ¯.

Amostras de esmalte tratadas por cada dentifrício foram submetidas, individualmente, à ação

de pH 6,8, 6,0, 5,0 e 4,0, tendo as taxas do cálcio liberado, determinadas colorimetricamente,

traduzindo o grau de proteção do esmalte dentário pelo íon fluoreto. Para a realização do

estudo, foram selecionados dentes humanos permanentes, recém-extraídos, que passaram por

rigorosa limpeza, secagem, trituração e tamisação. O esmalte dentário em pó foi submetido à

ação dos seis dentifrícios sob a forma de soluções, na proporção de uma parte de cada produto

para três partes de água deionizada. A ação do dentifrício seguia o seguinte protocolo:

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exposição ao esmalte dentário em pó durante 20 minutos, sob forte agitação mecânica,

automática, seguindo-se de sucessivas centrifugações a 3.000 rpm e ressuspensão dos

sedimentos em água deionizada. Aos sedimentos finais obtidos, foi adicionado o tampão

acetato 0,2 M para o ajuste dos valores de pH necessários à realização dos testes com os

dentifrícios. Após a centrifugação a 3.000 rpm, durante 10 minutos, os sedimentos de esmalte

foram descartados e, em alíquotas dos sobrenadantes coletados, foram determinadas as taxas

do cálcio total liberado do esmalte dentário humano devidamente tratado pelos dentifrícios e

submetido aos diferentes valores de pH, a fim de avaliar o grau de desmineralização dessa

estrutura dentária. Em seguida, realizaram-se as análises bioquímicas e estatísticas. Os

resultados são apresentados como médias e erros padrão da média. Os resultados

experimentais comprovam que o fluoreto de sódio contido no dentifrício teste revelou maior

proteção do esmalte, apesar da menor concentração deste fármaco em relação ao

monofluorfosfato de sódio e à associação fluoreto de sódio e monofluorfosfato de sódio,

contidos nos demais. Portanto, observa-se a necessidade da continuidade das experimentações

utilizando os dentifrícios utilizados pela população em geral, a fim de realizar o controle de

qualidade dos diversos produtos que são lançados no mercado freqüentemente.

Albuquerque et al. (2003) avaliaram a utilização de dentifrícios fluoretados por crianças

de 02 a 05 anos de idade, em creches e escolas na cidade de João Pessoa-PB. Para isto, 13

perguntas presentes em questionário específico foram direcionadas a pais ou responsáveis

legais pelas crianças devidamente matriculadas em escolas particulares e creches públicas do

município e que utilizavam dentifrício fluoretado durante a escovação. A amostra final

constou de 295 questionários, sendo 167 de instituições públicas e 128 de instituições

particulares. Os resultados foram analisados no programa estatístico SPSS v.10.0, sendo

utilizadas freqüências e os testes do qui-quadrado e Kruskal-wallis. Os dados mostraram que

crianças de escolas privadas (83,6%) utilizavam mais o dentifrício infantil do que as das

Page 23: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

23

creches públicas (46,7%). Nas instituições públicas, o uso de dentifrício infantil e adulto foi

quase equivalente (46,7% e 48,5% respectivamente). A escovação dental é realizada pelos

pais e/ou responsáveis em 63,3% das crianças nas instituições particulares e em 54,5%, nas

instituições públicas. Com relação à freqüência diária de escovação, verificou-se que nas

escolas privadas 43,8 % das crianças escovavam os dentes 03 vezes ao dia. Nas creches

públicas 44,8% escovavam 02 vezes ao dia. Constatou-se que, nas instituições particulares e

públicas, 57,8% e 50,9% das crianças, respectivamente, utilizavam quantidade média de

dentifrício. Quando questionadas sobre a ingestão de dentifrício fluoretado durante a

escovação, 57% dos pais ou responsáveis de crianças de instituições privadas responderam

que a criança não engolia o dentifrício. Tais resultados assemelham-se dos encontrados nas

creches públicas, onde 55,6% dos pais relataram que a criança não ingeria o dentifrício

durante a escovação. Com relação à idade em que as crianças iniciaram a utilização do

dentifrício fluoretado, observou-se que as crianças das instituições particulares (51,5%) e

públicas (64,9%) iniciaram o uso de dentifrício fluoretado muito cedo, entre 01 e 02 anos de

idade. Ao questionar se a criança consultou um cirurgião-dentista, constatou-se que 57,6% das

crianças das instituições particulares o fizeram e 64,4% das crianças das instituições públicas

nunca visitaram um cirurgião-dentista. Com relação àquelas crianças que já receberam

alguma informação sobre a quantidade de dentifrício que deve ser colocada na escova,

observou-se que a maioria das crianças/pais de ambas as instituições (particulares – 56,3%;

públicas – 82,5%) não receberam tal informação. Os autores concluíram que as crianças

estudadas iniciaram o uso de dentifrício fluoretado em idade precoce, antes do recomendado,

usando uma quantidade maior do que a indicada e reforçam a importância da supervisão da

escovação das crianças pelos pais ou responsáveis e o acompanhamento pelo cirurgião-

dentista.

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24

Conde; Rebelo; Cury (2003) avaliaram a concentração e estabilidade do fluoreto em

dentifrícios vendidos em Manaus, Amazonas, Brasil. Para isto, analisaram-se seis dentifrícios

nacionais e um importado, adquiridos no comércio da cidade de Manaus. As concentrações de

fluoreto total (FT), fluoreto solúvel total (FST), MFP, e de fluoreto insolúvel (Fins) dos

dentifrícios foram determinadas. Para a análise de cada dentifrício, 12 tubos foram divididos

em dois grupos. O primeiro grupo, composto de 06 tubos de cada marca, foi mantido sob ar

refrigerado, enquanto que o segundo grupo foi armazenado a temperatura ambiente. As

análises para os dois grupos, foram realizadas no momento da aquisição dos dentifrícios e

depois de 4, 8 e 12 meses, a temperatura ambiente (28,9+-1,16°C) e sob ar refrigerado (26,3+-

0,88°C). Para a análise, realizou-se a curva de calibração com solução padrão de fluoreto

variando de 0.5 a 4.0 µg −/ml. A análise em duplicata foi obtida com o uso de eletrodo

específico para íon fluoreto (Orion 96-09) e um analisador de íons (720A). O delineamento

experimental utilizado levou em consideração os seguintes fatores: dentifrício, temperatura e

tempo de armazenamento. Os resultados, expressos em ppm, mostraram que todos os

dentifrícios tinham uma expressiva concentração (µgF/g; p/p) de fluoreto solúvel total quando

da aquisição. Entretanto, a maioria deles não se mostrou estável quando do armazenamento. A

maior perda ocorreu à temperatura ambiente, atingindo valores de 40%. Os autores concluem

que embora a concentração de fluoreto total encontrada em todos os dentifrícios esteja de

acordo com a portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), dependendo

das condições de armazenamento a perda de fluoreto solúvel pode comprometer o efeito

anticárie de alguns dentifrícios e isto não está contemplado pela portaria brasileira em vigor,

visto que a mesma somente especifica a concentração do dentifrício, sem levar em

consideração a qualidade do mesmo, ou seja, se o flúor é solúvel tendo efeito na prevenção

e/ou controle da cárie dentária.

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25

Batista; Valença (2004) realizaram uma revisão de literatura sobre dados referentes à

utilização de dentifrícios fluoretados por crianças, tornando possível elaborar algumas

recomendações para o seu uso, prevenindo e/ou diminuindo o risco de desenvolvimento da

fluorose dentária. Os autores informam que são muitos os produtos fluoretados disponíveis

para aplicação tópica, dentre os quais se citam: dentifrícios, soluções para bochecho, géis e

vernizes. O flúor presente nesses produtos é utilizado para o controle e prevenção da doença

cárie dentária. Mecanismos que favorecem a formação de depósitos de fluoreto de cálcio

(CaF2) sobre as superfícies de esmalte, dentina e cemento, interferem diretamente no

processo de desmineralização e remineralização. Os dentifrícios fluoretados são considerados

os responsáveis pelo declínio da prevalência da cárie dentária, observado não só nos países

industrializados, como também em alguns em desenvolvimento. Esses produtos oferecem

uma freqüência regular de exposição ao fluoreto, tendo sido observado um sincronismo

temporal entre o seu consumo e o declínio da doença cárie. Entretanto, devem ser utilizados

com cautela pelas crianças, em razão do risco de desenvolver a intoxicação crônica, ou seja, a

fluorose dentária. Para isto, é necessário que crianças pequenas devam ter sua higiene bucal

realizada e/ou supervisionada pelos pais ou responsáveis, utilizando concentrações reduzidas

de dentifrícios, com o objetivo de reduzir o risco de ingestão do produto fluoretado. É

importante a atuação do cirurgião-dentista no sentido de orientar os pais ou responsáveis no

que se refere principalmente à época de introdução de dentifrícios e a quantidade a ser

utilizada em cada idade. Os autores concluem que os dentifrícios fluoretados são importantes

para intervir no processo da cárie dentária, devendo ser utilizado com cautela na população

pediátrica, com o objetivo de evitar o desenvolvimento da fluorose dentária. Para isso, é

importante a supervisão e o auxílio no ato da escovação, utilizando sempre pequena

quantidade do dentifrício fluoretado.

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26

Cury et al. (2004) avaliaram a importância dos dentifrícios fluoretados no declínio da

doença cárie dentária na população brasileira, tendo como base investigações epidemiológicas

e fatos históricos, levando em consideração também a fluoretação da água e a expansão de

programas preventivos, considerados fatores importantes para o declínio da doença cárie

dentária. Os autores apresentam uma contextualização histórica do surgimento dos

dentifrícios fluoretados, seguido da avaliação sobre o consumo dos mesmos pela população

brasileira. Além disso, esclarecem as resoluções do Ministério da Saúde, de 1989 e 1994,

sobre a concentração de flúor nos dentifrícios. Em seguida, avaliam a qualidade dos mesmos,

por meio de um levantamento realizado nos anos 1986, 1989, 1990, 1994/1996 e 2001, no

qual se determinou a disponibilidade e a estabilidade da concentração de flúor em 17

dentifrícios fabricados no sudeste brasileiro e comercializados em todo o território nacional.

Todos os dentifrícios são fabricados na região Sudeste e distribuídos no restante do país.

Observa-se que a disponibilidade e estabilidade do fluoreto são mantidas, independentemente

da região onde o dentifrício é comprado, evidenciando que toda a população brasileira recebe

o benefício. Os quatro dentifrícios que representam as principais vendas (responsáveis por

80% do total) possuem o carbonato de cálcio como abrasivo, que é abundante no Brasil, e

monofluorfosfato de sódio como fonte de flúor, permitindo uma formulação com potencial

para interferir no desenvolvimento da doença cárie. Os dentifrícios a base de carbonato de

cálcio, foram testados in vitro e in situ, sendo demonstrado que o carbonato de cálcio pode

potencializar o efeito do flúor presente no dentifrício, provavelmente por sua propriedade de

reforçar a concentração de cálcio na placa. Independente do abrasivo utilizado, os estudos in

vitro e in situ demonstraram que os dentifrícios fluoretados comercializados no Brasil são

capazes de interferir no controle da cárie dentária. Os autores concluem que a fluoretação da

água, a expansão de programas de prevenção nas escolas, assim como o uso de dentifrícios

fluoretados são os métodos responsáveis pelo declínio da cárie dentária observado na

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população brasileira nas últimas décadas. O Brasil, por ser um país com grandes contrastes

nas condições socioeconômicas, necessita da expansão dos métodos de prevenção da doença

cárie, com o objetivo de atingir a maior parte da população. Além disso, é necessário o

investimento do governo brasileiro em pesquisas referentes a esse assunto, com o objetivo de

determinar a eficácia dos diferentes métodos de controle da cárie dentária.

Alves; Silva (2004) avaliaram a curva de permanência do flúor na saliva após o uso de

dentifrícios fluoretados em crianças de alta e baixa prevalência de cárie. A metodologia do

estudo foi composta por duas etapas. Na primeira delas, realizou-se um estudo piloto,

efetuado com o objetivo de determinar as formulações dentifrícias a serem testadas na outra

etapa. Esta segunda etapa consistiu de um estudo com trinta crianças que não utilizavam água

de abastecimento público fluoretada, cuja faixa etária era de doze anos, divididas em dois

grupos. Foram testados os dentifrícios que apresentaram os melhores resultados no estudo

inicial, os quais apresentavam formulações de flúor a base de Fluoreto de Sódio (NaF) e

Monofluorfosfato de Sódio (MFP). Para o teste de cada um deles, foi realizado um intervalo

de duas semanas, no qual a criança utilizava um dentifrício não-fluoretado. O programa de

computador STATIVIEW + GRAPHICS®, versão 1.02 e o nível de significância de p=0,05

foram utilizados para a análise estatística. Verificou-se que o valor do flúor na saliva aumenta

rapidamente após o uso de dentifrício fluoretado e retorna gradualmente a concentração

inicial dentro de 40 a 60 minutos. Além disso, detectou-se que o dentifrício Signal Kids® a

base de fluoreto de sódio, com 1000 ppmF ¯, apresentou uma concentração média de flúor

salivar maior que Kolynos Super Branco®, cuja formulação continha Monofluorfosfato de

Sódio. Não se observou diferenças significativas entre as crianças quando usaram os mesmos

produtos. Além disso, detectou-se que há uma correlação inversa entre a taxa de fluxo salivar

e a retenção de flúor na cavidade bucal.

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28

Campos et al. (2005) realizaram um estudo com o objetivo de determinar in vitro, o

grau de proteção do esmalte dentário humano pelo flúor, frente à queda do pH aos níveis

críticos. O estudo avaliou sete dentifrícios-testes fluoretados, comparativamente à ação do

dentifrício controle, sem fluoreto. As taxas do cálcio e do fosfato liberados do esmalte tratado

pelos dentifrícios e influenciados pela queda do pH, foram determinadas por espectrometria

de emissão atômica com plasma indutivamente acoplado. A extração e o isolamento do

esmalte dental humano utilizado nas experimentações tiveram como referência a técnica de

separação dos tecidos dentais, baseada na densidade dos mesmos. O estudo da influência do

íon fluoreto presente nos dentifrícios sobre o esmalte dental humano, submetido à variação do

pH (pH 4.5, 5.5, 6.0, 6.8 e 7.8), baseou-se na técnica preconizada por Tastaldi (1963),

adaptada por Araújo (1996). As taxas do cálcio e do fosfato total, liberados do esmalte

previamente tratado pelos dentifrícios, são expressas em miligramas por decilitro, em função

do tempo de 20 minutos (mg Ca2+ / dl / 20min). Os dados estão apresentados como médias e

erros-padrão da média. As médias dos diversos grupos foram comparadas por análise de

variância (One-way ANOVA - Teste de Tukey, nível de significância 5%) de medidas

repetidas, levando-se em consideração a comparação entre o pH e as concentrações de cálcio

e fosfato liberados do esmalte dental humano. Posteriormente, foi determinada correlação de

Pearson entre as taxas do cálcio e do fosfato. Os resultados mostraram que: os dentifrícios

que contêm MFP parecem induzir a proteção do esmalte dentário humano em pH 7,8, 6,8 e

6,0, quando comparados com o dentifrício-controle não fluoretado; o dentifrício que contém

MFP a 1.200 ppmF ¯ parece induzir a proteção do esmalte dentário humano frente aos valores

de pH 7,8, 6,8, 6,0, 5,5, 4,5, ao ser comparado com o dentifrício-controle, contudo essa

proteção é menos efetiva nos valores de pH abaixo do nível considerado crítico para o esmalte

dental humano (pH 5,5 e 4,5); os dentifrícios-testes com NaF em concentrações entre 1.000

ppmF ¯ e 1.200 ppmF ¯ parecem induzir a proteção do esmalte dentário humano com mais

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intensidade, uma vez comparados aos que contêm MFP em concentrações mais altas – 1.500

ppmF ¯. Nota-se ainda uma correlação negativa, estatisticamente significativa, entre as taxas

do cálcio e do fosfato liberados do esmalte dental humano nos níveis de pH 4.5, 5.5, 6.0 e 6.8,

ainda que protegido pelo fluoreto, entretanto, no pH 7,8, essa correlação não foi

estatisticamente significativa. Os resultados sugeriram uma maior proteção do esmalte pelos

dentifrícios que contêm fluoreto de sódio, em relação aqueles que continham

monofluorfosfato de sódio, e uma correlação negativa entre as taxas do cálcio e do fosfato

liberados do esmalte dental humano.

Tenuta; Cury (2005) no livro Odontopediatria – bases científicas para prática clínica

escreveram o capítulo Fluoreto: da Ciência a Prática Clínica. Neste, inicialmente os autores

esclarecem as interações entre os elementos dentários e o meio ambiente, assim como

apresentam as conseqüências desses processos. Em seguida, no tópico o papel do fluoreto na

prevenção da cárie dentária, os autores descrevem sobre a importância do flúor presente

constantemente na cavidade bucal, estando livre para interferir no processo de

desmineralização e remineralização do esmalte-dentina, sendo então efetivo na redução da

doença cárie e afirmam que o flúor deve estar presente na cavidade bucal de todos os

indivíduos, independente de faixa etária, a fim de que o íon apresente efeito preventivo e

terapêutico. Neste contexto, os autores continuam o capítulo falando a respeito dos meios de

utilização do fluoreto, dividindo-os em meios comunitários e auto-uso de fluoreto. Os meios

comunitários se referem aos métodos coletivos, entre eles a água fluoretada e o fluoreto

naturalmente presente na água e em alimentos. Com relação aos meios de auto-uso de

fluoreto, que são os meios individuais, citam-se as soluções para bochecho fluoretadas, as

gomas de mascar contendo flúor, os suplementos de flúor e os dentifrícios fluoretados. Estes

últimos são considerados os responsáveis pela diminuição dos índices de cárie observados

hoje em todo mundo, mesmo em países ou regiões que não possuem água fluoretada.

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30

Referente ao Brasil, os autores esclarecem que a redução dos índices de cárie dentária tem

sido marcante e que o ano de 1989 é considerado, para fins epidemiológicos, como o ano no

qual grande parte dos brasileiros passou a ter acesso a dentifrícios fluoretados. A utilização

freqüente desses produtos associa a remoção de biofilme a um aumento nos níveis de fluoreto

na saliva por cerca de 40 minutos. Os dentifrícios fluoretados apresentam duas formulações

de flúor, que são o fluoreto de sódio (NaF) ou monofluorfosfato de sódio (MFP).

Independente da formulação utilizada, a ação na cavidade bucal será a mesma, pois ambos

liberam o íon flúor. Com relação à legislação que regulamenta os dentifrícios, a mesma

determina apenas que eles tenham no máximo 1500 ppm de flúor, não exigindo que esse flúor

seja solúvel, ou seja, flúor ativo para intervir no processo de cárie dentária.

Moreira et al. (2007) realizaram um estudo com o objetivo de identificar o perfil de

consumo de dentifrícios por 130 pacientes da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).

Para isto participaram do estudo pacientes com média de idade de 44 anos, que estavam

recebendo atendimento odontológico nas clínicas odontológicas da ULBRA. O procedimento

experimental teve início com a aplicação de questionário referente ao perfil do uso de

dentifrícios. O questionário envolvia perguntas referentes aos hábitos de usos de dentifrícios,

freqüência de escovação, as razões que levaram o paciente a escolhê-los e as propriedades

consideradas importantes. Em seguida, foram apresentados aos pacientes embalagens de

dentifrícios disponíveis no comércio, estando os mesmos com etiquetas referentes aos

respectivos preços. Após isso, cada paciente escolheu apenas um dentifrício, sendo

posteriormente argüido das razões que o levaram à sua escolha. Entre cada paciente, a ordem

das embalagens dos dentifrícios era alterada, sendo sempre anotada a nova seqüência

formada. Os resultados do presente estudo foram analisados por distribuição de freqüência das

respostas do questionário e da escolha do dentifrício. As perguntas abertas foram agrupadas

por freqüência das respostas mais prevalentes. Evidenciou-se que 99,2% dos pacientes

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utilizavam os dentifrícios diariamente, enquanto somente 0,8% relataram a sua utilização

esporadicamente. Quando questionados sobre o que os levava a ter escolhido determinado

dentifrício, 36,9% afirmaram que o preço seria a principal razão. Quando questionados sobre

as funções mais freqüentemente atribuídas aos dentifrícios, 77,7% afirmaram que os mesmos

são importantes para limpar os dentes, 36,9% para prevenir doenças bucais, 28,5% contra

mau-hálito, 20% para dar bom gosto na boca, 13,8% para clarear os dentes, 13,1% para tratar

inflamação gengival, 6,9% para remover manchas e somente 0,8% acham que o dentifrício

não tem utilidade. Observa-se que o fato de o paciente já usar o dentifrício foi a principal

razão da escolha (26,2%), as informações contidas na embalagem influenciaram a escolha em

20,8%, o sabor influenciou em 17,7%, o preço em 3,8% e a indicação do dentista em 3,1%.

Conclui-se que a utilização dos dentifrícios é alta, que os pacientes reconhecem a sua

utilidade, mas que o papel do dentista na escolha é pequeno, frente a outros fatores que

influenciam nessa escolha.

Davies (2008) avaliou a evidência clínica de dois dentifrícios com concentração de flúor

de 2800 e 5000 ppmF ¯, comercializados somente com prescrição, e indicados para pacientes

com alto risco a doença cárie dentária. A eficácia de dentifrícios com alto teor de flúor foi

testada in situ, in vitro e por meio de estudos clínicos. Com relação ao estudo in situ, utilizou-

se dentes seccionados, expostos a dentifrícios com concentrações de 0, 1100 e 2800 ppmF ¯.

Verificou-se que a quantidade de desmineralização diminuiu com o aumento na concentração

de flúor. Em um estudo in vitro, os dentes submetidos a alternados ciclos de desmineralização

e remineralização foram expostos a dentifrícios contendo 0, 250, 1100 e 2800 ppmF ¯.

Detectou-se a presença de cavitações nos dentes com lesões de cárie expostos ao placebo,

entretanto os dentes tratados com 2800 ppmF somente desenvolveram lesões de manchas

brancas quase imperceptíveis. Foram realizados ensaios clínicos controlados randomizados,

no qual avaliou-se a eficácia de dentifrícios fluoretados com concentrações de 2500-2800

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ppm F ¯. Apenas um estudo não conseguiu demonstrar que um dentifrício contendo 2500

ppm F ¯ foi mais eficaz do que um contendo 1000 ppm F ¯. Um ensaio clínico controlado,

que envolveu crianças com idade entre 11 e 14 anos, comparou dentifrícios contendo 1000,

1500 e 2500 ppmF ¯. Houve uma associação altamente significativa entre a concentração de

flúor e acréscimo de cárie (p <0,001) após dois e três anos. O dentifrício com concentração de

2500 ppmF ¯ possibilitou uma redução de 18% no acréscimo de cárie, quando comparado

com o dentifrício com 1000 ppmF ¯. Um ECR (ensaio clínico randomizado) que comparou

dentifrícios com 1100 ppmF ¯ e 2800 ppmF ¯, em crianças entre 7 e 15 anos, relatou que o

dentifrício com 2800 ppm F ¯ produziu redução de 15% no índice CPO quando comparado

com o dentifrício com 1100 ppm F ¯. Uma meta-análise de seis ensaios clínicos, envolvendo

crianças com idades entre 6 e 15 anos que tinham utilizado dentifrício contendo 1100, 1700,

2200 e 2800 ppmF ¯, demonstrou que o dentifrício com 2800 ppmF ¯ apresentou um CPOS

significativamente inferior quando comparado ao dentifrício controle com 1100 ppm F ¯.

Entre diversos estudos com dentifrícios na concentração de 5000 ppmF ¯, destaca-se o estudo

no qual comparou-se dentifrícios contendo 1250, 2500 e 5000 ppmFem

crianças. O resultado demonstrou que, após três anos, utlizando dentifrício com 5000 ppmF ¯

houve redução da cárie dentária quanto comparado com concentrações mais baixas. Os

resultados sugerem que os dentifrícios com concentrações de flúor de 2800 e 5000 ppmF ¯

apresentam eficácia clínica e experimental comprovada, sendo indicados para adolescentes,

adultos e idosos com maior risco de cárie dentária.

Melo et al. (2008) investigaram a concentração salivar de flúor em pré-escolares após a

escovação dentária com dentifrício a base de fluoreto de sódio (NaF) de concentração padrão

(1100 ppmF ¯) e baixa (500 ppmF ¯) de flúor, empregando a técnica transversal de colocação

do produto na escova. Participaram do estudo 11 crianças de ambos os sexos, com idade

variando de 04 anos e 09 meses a 05 anos e 06 meses. O estudo teve início com o

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esclarecimento aos pais ou responsáveis sobre a natureza, riscos e benefícios do estudo. A

análise foi dividida em duas fases, sendo que ambas foram submetidas aos seguintes

procedimentos: a) 1ª fase – utilização durante uma semana de dentifrício de concentração

padrão de flúor à base de NaF com 1100 ppmF ¯ ; b) 2ª fase - utilização durante uma

semana de dentifrício de baixa concentração de flúor à base de NaF com 500 ppmF ¯.

Respeitou-se um intervalo de uma semana entre as fases. As amostras foram coletadas ao final

de cada fase experimental nos seguintes tempos: antes da escovação, imediatamente após e

depois de 15, 30 e 45 minutos. Para a determinação do teor de flúor presente na saliva

empregou-se a técnica da microdifusão facilitada por hexametildisiloxano. A análise

estatística foi feita pela análise de variância ANOVA e pelo teste t de Student (p<0,05). A

concentração salivar de flúor encontrada foi significativamente maior, em todos os tempos,

quando se utilizou o produto de concentração padrão. A comparação entre a concentração do

halogênio encontrada antes da escovação e imediatamente depois mostra que no dentifrício

padrão houve um aumento de 6,8 vezes (0,19 x 1,29µgF/ml) e, no de baixa concentração, 20,5

(0,02 x 0,41µgF/ml). Os dados encontrados sugerem que a escovação dentária com ambos os

produtos promove aumentos relevantes na concentração salivar de flúor, porém estudos

longitudinais são necessários para verificar o resultado clínico desta medida.

Ministério da Saúde (2009) elaborou o guia de recomendações para o uso de fluoretos

no Brasil. Neste, avaliou-se os meios coletivos de uso do flúor, entre eles o uso dos

dentifrícios fluoretados. A utilização dos mesmos tem sido considerado fator responsável pela

redução do índice de cárie dentária observado na população mundial. No Brasil, o ano de

1989 é considerado, para fins epidemiológicos, como o ano na qual grande parte dos

brasileiros passou a ter acesso a dentifrícios fluoretados. Para isto, é importante que o

indivíduo exponha a cavidade bucal freqüentemente ao flúor do dentifrício, visto que após a

escovação, a concentração de flúor na saliva permanece por cerca de 40 minutos. Além disso,

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o flúor permanece mais tempo no meio bucal, devido à formação de fluoreto de cálcio na

superfície do dente e devido a presença de flúor no biofilme dentário. Desta forma, observa-se

a importância do flúor presente na cavidade bucal, pois o mesmo interfere no fenômeno de

des- e remineralização. O manual técnico esclarece os dois tipos de compostos fluoretados

presente nos dentifrícios, que são o fluoreto de sódio (NaF) ou monofluorfosfato de sódio

(MFP). Embora o composto fluoretado não interfira na eficácia do dentifrício, os demais

componentes da formulação devem ser compatíveis para impedir a formação de flúor

insolúvel, ou seja, que não é eficaz para o controle da doença cárie. Ressalta ainda a utilização

de dentifrícios com baixa concentração de fluoretos (500 ppmF ¯) para crianças em idade pré-

escolar, reduzindo os riscos de fluorose dentária. Entretanto, a concentração de flúor

adicionada aos dentifrícios, usualmente em torno de 1.100 ou 1.500 ppmF ¯ , tem efeito sobre

a prevalência de cárie na população brasileira. No Brasil, as normas que regulamentam os

dentifrícios (Resolução nº 79 de 28 de agosto de 2000) determinam apenas que eles tenham

no máximo 0,15% de F (1.500 ppm de flúor). Infelizmente, a legislação não requer que esse

fúor esteja na forma solúvel de íon fuoreto ou íon monofuorfosfato (FPO3), ou seja, o

importante para a prevenção e/ou controle da doença cárie dentária. Além disso, ressalta que

um fator importante a ser levado em consideração é a estabilidade do flúor após

armazenamento a temperatura ambiente.

Cury et al. (2010) avaliaram a concentração de flúor solúvel presente nos dentifrícios

usados por crianças brasileiras. Para isto, foram analisados dentifrícios que eram utilizados

por 206 crianças, moradoras de Montes Claros, no sudeste do país, com a faixa etária

variando de 09 meses a 04 anos. Quando mais de três crianças usavam dentifrícios da mesma

marca, 03 tubos eram aleatoriamente selecionados para a análise. Quando 03 ou menos

crianças estavam usando um tipo, todos os tubos eram analisados. Avaliaram-se 30 marcas

comerciais de dentifrícios que foram classificados com uma letra simples (26 marcas) ou um

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35

código de duas letras (04 marcas), de acordo com a percentagem do consumo pelas crianças.

Foram determinadas as concentrações de flúor total (FT), de flúor solúvel total (FST),

representando o iônico mais o ionizável na forma de monofluorfosfato de sódio (MFP) e de

flúor solúvel na forma iônica (FI). A partir destas análises foram calculadas as concentrações

de MFP e a % de F insolúvel (Fins). As análises em duplicata foram realizadas conforme

descrito: 90 a 110 mg de dentifrício foram pesadas (± 0,01 mg), homogeneizadaem 10,0 mL

de água deionizada e duplicatas de 0,25 mL da suspensão foram transferidos para tubo de

ensaio para análise de FT. O restante da suspensão foi centrifugada (3.000 g, 10 min, rt) para

obter o flúor ligado ao abrasivo. Duplicatas de 0,25 mL do sobrenadante foram transferidos

para tubos de ensaio para determinar as concentrações de FST e FI. Para a avaliação de FT e

FST, 0,25 mL de HCl 2,0 M foi adicionado, e depois de 1 hora a 45ºC, as amostras foram

neutralizadas com 0,5 mL de NaOH 1,0 M e com 1,0 mL de TISAB II (1,0 M de tampão

acetato, pH 5,0, contendo 1,0 M NaCl e 0,4%, CDTA). Para os tubos FI, 0,50 mL de NaOH

1,0 M foi adicionado e tamponado com 1,0 mL de TISAB II e 0,25 mL de HCl 2,0 M. Para a

análise, utilizou-se um eletrodo específico para o íon flúor, acoplado a um analisador de íons,

previamente calibrado com valores de 0,06 a 8.0 ppm de flúor, preparados com os mesmos

reagentes das amostras. A regressão linear entre concentração de F padrão e mV foi

construído utilizando o programa da Microsoft Excel, calculando-se também a concentração

de F em cada dentifrício, em ppmF ¯. Os coeficientes de variação de análises repetidas

(duplicadas) foram inferiores a 2%. A análise foi feita em triplicata, quando menos de 3 tubos

de dentifrícios estavam disponíveis. Os resultados demonstraram que a maioria dos

dentifrícios usados (96%) continham fluoreto e em 84% desses a concentração de FT

encontrada estava de acordo com a declarada na embalagem. Em 78% dos cremes dentais

fluoretados, a concentração de FST encontrada foi igual ou superior a 1000 ppmF ¯, variando

de 422,3 a 1432,3 ppmF ¯ (média ± DP de 1017,6 ± 239,4). Os dados mostram que a maioria

Page 36: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

36

dos cremes dentais usados pela amostra de crianças brasileiras possui concentração de flúor

potencialmente ativo para controlar a doença cárie dentária.

Walshet al. (2010) realizaram revisão de literatura sistemática com meta-análise na qual

avaliaram diferentes concentrações de flúor em dentifrícios utilizados por crianças e

adolescentes na prevenção da doença cárie dentária. Como critérios de seleção utilizaram-se

ensaios clínicos randomizados comparando dentifrícios fluoretados com placebo ou

dentifrícios fluoretados de diferentes concentrações em crianças até 16 anos de idade com um

período de acompanhamento de pelo menos 01 ano. Com relação a inclusão de estudos, a

extração de dados e avaliação da qualidade foram realizadas de forma independente e em

duplicata por dois membros da equipe de revisão. As medidas de efeito primário foram: o

fator de prevenção fração, o incremento de cárie do grupo controle menos o incremento de

cárie do grupo de tratamento, expresso como proporção do incremento de cárie no grupo

controle. Foram utilizados modelos reservados como meta-análise de rede, rede de meta-

regressão ou meta-análise. Fontes potenciais de heterogeneidade foram especificados a priori

e examinada através de efeitos aleatórios por meio de meta-análise de regressão nos casoa

apropriados. Com relação aos resultados, há alguma evidência de uma relação dose-resposta

em que a fraçao de prevenção aumentou com o aumento da concentração de flúor a partir da

linha de base, embora isso nem sempre tenha sido estatisticamente significante. Outros seis

estudos avaliaram os efeitos da concentração de flúor na dentição decídua, com resultados

ambíguos dependente da concentração de flúor.O cumprimento do regime de tratamento e

outros efeitos indesejáveis foram avaliados em apenas uma minoria dos estudos. Esta revisão

confirma os benefícios do uso de creme dental com flúor na prevenção da cárie em crianças e

adolescentes quando comparado ao placebo, mas apenas de forma significativa para a

concentração de flúor de 1000 ppm e acima. Os efeitos relativos da cárie preventiva de flúor

de diferentes concentrações aumentam com maior concentração de flúor. A decisão do que os

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37

níveis de flúor a ser usado para crianças menores de 06 anos deve ser balanceada com o risco

de fluorose.

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38

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Materiais

- Ácido clorídrico (HCl) 2M;

- Agitador;

- Água deionizada;

- Analisador de íons (ORION 720-A);

- Balança digital (Denver Instrument Company - AA-200);

- Centrífuga clínica;

- Eletrodo específico para íon flúor (ORION 96-09);

- Espátula nº 24;

- Frascos Becker 100 ml;

- Frascos para banho-maria;

- Hidróxido de sódio (NaOH) 1M;

- Pipeta de 1 ml, 5 ml e 10 ml;

- TISAB II (Total Ionic Strenght Adjustor Buffer: tampão de ajuste de pH, força iônica e

descomplexante);

- Tubo de centrífuga de polipropileno;

Page 39: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

39

4.2 Métodos

4.2.1 Delineamento experimental

O estudo foi do tipo experimental in vitro. Para tal, foram testados oito dentifrícios

fluoretados adquiridos no comércio da cidade de Manaus, das seguintes marcas comerciais:

Colgate Shrek®; Colgate Total 12®; Colgate Max White

®; PreviDent

®; Even

®; Close up

®;

Sorriso®; Crest

® (como padrão ouro). Além disso, testou-se o dentifrício Ice Fresh

®,

distribuido nas Unidades Básicas de Saúde da Família de Manaus.

Foram adquiridas 3 bisnagas de cada marca dos dentifrícios (Figura 01), cujas amostras

foram feitas em duplicata.

4.2.2 Determinação da concentração de flúor nos dentifrícios

A concentração de flúor nos dentifrícios foi determinada utilizando um eletrodo

específico para flúor, ORION 96-09 (Figura 02) acoplado a um analisador de íons, ORION

720-A (Figura 03), calibrados com padrões conhecidos em concentrações de 2,0 a 32,0 ppmF.

Figura 01 – Dentifrícios analisados na pesquisa.

Page 40: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

40

Esse potenciômetro fornece um valor de milivoltagem que corresponde à diferença de

potencial entre o líquido contido no interior do eletrodo (solução de 10 ppmF ¯ em KCL como

condutor da corrente elétrica) e a solução analisada.

4.2.2.1 Preparo das amostras

A fração inicial do dentifrício, equivalente a 3 centímetros, foi desprezada (Figura 04).

Em seguida, foi pesado 100 mg de dentifrício em um tubo de centrífuga de polipropileno com

o auxílio de uma balança de precisão eletrônica digital (Figura 05), ao qual adicionou-se 10

ml de água deionizada. A amostra foi agitada com o auxílio de um agitador, por

aproximadamente 2 minutos, até a homogeneização total do dentifrício (Figura 06).

Figura 03 - Analisador de íons, ORION 720-A.

Figura 02 - Eletrodo específico para o íon flúor, ORION 96-09.

Page 41: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

41

Figura 07 – Imersão em banho-maria a 45ºC durante 01 hora.

Figura 04 – Desprezo da fração inicial do dentifrício, aproximadamente 03 cm.

Figura 05 – Pesagem de 100 miligramas de dentifrício em balança de precisão eletrônica.

Figura 06 – Agitação da solução: dentifrício mais água deionizada.

Figura 08 – Centrifugação da suspensão durante 10 minutos a 3000 rpm.

Page 42: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

42

4.2.2.2 Determinação da Concentração de Flúor Total (FT)

Da suspensão preparada, foi transferido 0,20 ml para outro tubo de ensaio de

polipropileno e adicionado 0,20 ml de HCl 2M. Após 1 hora em banho-maria à 45°C (Figura

07), adicionou-se 0,40 ml de NaOH 1M e 0,80 ml de TISAB II, conforme demonstrado no

fluxograma seguinte:

100 mg de dentifrício

10 ml de H2O deionizada

SUSPENSÃO

0,20 ml da suspensão

0,20 ml HCl 2M

1h/45°C em

banho-maria

0,40 ml de NaOH 1M

0,80 ml de TISAB II

ANÁLISE

4.2.2.3 Determinação da Concentração de Flúor Solúvel Total (FST)

A suspensão foi centrifugada em centrífuga clínica (Figura 08), por 10 minutos à 3000

rpm e, posteriormente, transferido 0,20 ml do sobrenadante para um tubo de ensaio de

polipropileno. Em seguida, foi acrescentado ao tubo 0,20 ml de HCl 2M e, após hidrólise por

1h à 45°C em banho-maria (Figura 07), 0,40 ml de NaOH 1M mais 0,80 ml de TISAB II e

fez-se a leitura potenciométrica, conforme fluxograma abaixo:

Page 43: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

43

100 mg de dentifrício

10 ml de H2O deionizada

SUSPENSÃO

Centrifugar a 3000 rpm por 10 min

SOBRENADANTE

0,20 ml do sobrenadante

0,20 ml HCl 2M

1h/45°C em

banho-maria

0,40 ml de NaOH 1M

0,80 ml de TISAB II

ANÁLISE

4.2.2.4 Determinação da Concentração de lúor Iônico ˉ)

Foi transferido um volume de 0,20 ml do sobrenadante para um tubo de ensaio de

polipropileno, e acrescentado 0,80 ml de TISAB II mais 0,40 ml de NaOH 1M e 0,20 ml de

HCl 2M para sua leitura, conforme o fluxograma:

100 mg de dentifrício

10 ml de H2O deionizada

SUSPENSÃO

Centrifugar a 3000 rpm por 10 min

SOBRENADANTE

0,20 ml do sobrenadante

0,80 ml de TISAB II

0,40 ml de NaOH 1M

0,20 ml de HCl 2M

ANÁLISE

Page 44: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

44

4.2.2.5 Determinação da Concentração de Monofluorfosfato (MFP)

Foi obtido através da aplicação da fórmula matemática:

Dessa forma foi determinada a concentração do flúor ionizável.

4.2.2.6 Determinação da Concentração de Flúor Insolúvel (Fins)

Obtido através da aplicação da fórmula:

4.2.3- Análise Estatística

Os dados coletados foram tabulados em uma planilha eletrônica do programa Excel, sendo

analisados por estatística descritiva e inferencial por meio do teste de Kruskal-Wallis e as

comparações de dois tratamentos por meio do teste de Tukey, ao nível de 5% de significância.

MFP = FST - Fiônico

Fins = Ftotal - ( Fiônico + Fionizável )

Page 45: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

45

O fluxograma a seguir descreve de forma sucinta a metodologia utilizada para a

confecção das amostras, a fim de se analisar as concentrações de flúor total, flúor solúvel total

e flúor iônico.

FT = flúor total;

FST = Flúor Solúvel Total;

Fins = Flúor Insolúvel;

FI = Flúor Iônico.

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46

5. RESULTADOS

Dentifrícios Flúor Total

Flúor

Solúvel

Total

Flúor

iônico

F Ionizável % Flúor

Insolúvel

Close up® 1192,66

(16,89)

1298,32

(66,53)

1356,91

(41,11)

- 0,53

(0,92)

Colgate Shrek® 1075,53

(50,04)

1037,23

(171,81)

1100,63

(39,12)

- 6,77

(11,72)

Colgate Total

12®

1386,87

(17,07)

1356,37

(41,46)

1456,17

(32,84)

- 2,2

(1,77)

Colgate Max

White®

1342,33

(52,26)

1394,47

(32,16)

1374,00

(32,71)

- 0

(0,00)

Even®

1083,73

(37,49)

938,07

(77,28)

314,93

(91,71)

623,10

(163,35)

13,50

(4,95)

Ice Fresh® 1217,13

(344,39)

1037,23

(171,81)

1100,63

(39,12)

445,06

(55,34)

-10,42

(9,29)

PreviDent®

4595,02

(135,09)

4976,41

(102,95)

4973,26

(132,77)

- -8,32

(1,30)

Sorriso® 1306,85

(146,25)

1182,66

(69,32)

121,30

(8,49)

1061,36

(74,80)

8,79

(10,59)

Crest®

(padrão)

1086,03

(44,67)

1134

(21,74)

1153,73

(43,01)

- 0,53

(0,92) Tabela 1. Média (Desvio-padrão) da concentração (ppmF ¯) de flúor total, flúor solúvel total, flúor iônico, flúor

ionizável e porcentagem de flúor insolúvel encontradas nos dentifrícios analisados.

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47

Dentifrícios Agente Flúor Total

Flúor Solúvel

Total

Esperado p

Close up® NaF 1192,66 a

1298,32 a b 1450 b 0,004

Colgate

Shrek®

NaF 1075,53 a 1037,23 a 1100 a 0,879

Colgate Total

12®

NaF 1386,87 a b

1356,37 a 1450 b 0,011

Colgate Max

White®

NaF 1342,33 a 1394,47 a b

1450 b 0,025

Even®

MFP 1083,73 a b 938,07 a 1500 b

0,004

Ice Fresh® MFP 1217,13 a

1037,23 a

1500 a

0,050

PreviDent®

NaF 4595,02 a

4976,41 a

5000 a

0,050

Sorriso® MFP 1306,85 a b

1182,66 a

1450 b

0,025

Crest®

(padrão)

NaF 1086,03 a 1134,00 a 1100 a

0,232

Tabela 2. Comparação entre médias da concentração (ppmF ¯) de flúor total, flúor solúvel total e concentração

(ppm) relatada pelo fabricante nos dentifrícios analisados. (Médias seguidas por letras distintas, diferem entre si

ao nível de significância de 5%).

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

Relatado FST

Figura 9 – Ilustração gráfica das médias das concentrações de Flúor Solúvel Total (FST)

encontradas e do valor relatado pelo fabricante.

Page 48: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

48

6. DISCUSSÃO

O dentifrício fluoretado é considerado o principal método de prevenção da cárie

dentária, sendo considerado o veículo fluoretado responsável pelo declínio desta doença

constatado em vários países, inclusive no Brasil. Entretanto, para que o produto seja efetivo

em termos de prevenção e controle da doença cárie, é necessário que o mesmo apresente flúor

disponível na sua formulação, ou seja, flúor solúvel quer seja na forma iônica ou ionizável

(NARVAI, 2000; ARAÚJO et al., 2002; CONDE; REBELO; CURY, 2003; CURY et al.,

2004).

Encerram, em suas formulações, o Fluoreto de Sódio (NaF) ou o Monofluorfosfato de

Sódio (MFP). O flúor na forma iônica de NaF é agregado a dentifrícios contendo a sílica

como abrasivo, enquanto que o flúor na forma ionizável de MFP é compatível quimicamente

com o abrasivo carbonato de cálcio (ALVES; SILVA, 2004; CURY et al., 2004; CAMPOS et

al., 2005; TENUTA; CURY, 2005).

O presente estudo in vitro avaliou o teor de flúor das seguintes marcas de dentifrícios:

Close up®, Crest

®, Colgate Shrek

®, Colgate Total 12

®, Colgate Max White

®, PreviDent

®,

Even®, Sorriso

® e Ice Fresh

®. Ao rótulo, observou-se variação quanto à formulação de flúor

dos mesmos, sendo que os 06 primeiros dentifrícios possuem o composto NaF como a forma

de flúor ativo, enquanto os dentifrícios Even®

, Sorriso® e Ice Fresh

® apresentam-se sob a

forma de MFP.

Além disso, detectou-se que os dentifrícios analisados, com exceção da marca

PreviDent®, apresentam variação da concentração de flúor, sendo a mesma de 1100 a 1500

ppmF ¯ conforme o preconizado pelos fabricantes das distintas marcas comerciais. Desta

forma, conclui-se que os dentifrícios analisados estão de acordo com a resolução nº 79 de 28

Page 49: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

49

de agosto de 2000 do Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que

estabelece um teor máximo de 1500 mg g-1 (0,15%) para a concentração total de flúor em

qualquer de suas formas nos dentifrícios (ANVISA, 2000; CURY, 2002).

Isto é fundamental para garantir que os dentifrícios mais vendidos mantenham suas

concentrações de flúor ativo durante o prazo de validade, pois esses dentifrícios com elevada

concentração de fluoreto contêm carbonato de cálcio como abrasivo, o qual com o decorrer

do tempo reage com o flúor, diminuindo a quantidade ativa do produto. Desta forma, os

dentifrícios que contêm MFP necessitam de elevadas concentrações com a finalidade de

garantir maior quantidade de flúor ativo contra a doença cárie dentária, compensando a

quantidade de flúor que é inativado pelo abrasivo durante o armazenamento do produto

(ANVISA, 2000, CURY, 2002; NARVAI, 2000)

Entretanto, destaca-se que a necessidade de ter flúor solúvel nas formulações

permanece ignorada, conforme o determinado na Portaria nº 79 de 2000, que aboliu o termo

solúvel das especificações. Desta forma, torna-se possível a comercialização de produtos

contendo concentrações aquém de flúor solúvel, assim como possibilita a utilização do

dentifrício com fluoreto na forma insolúvel, sendo portanto ineficaz no controle da cárie

dentária visto que não haverá liberação do agente terapêutico durante a escovação (CONDE;

REBELO; CURY, 2003; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009; PERES et al., 2009).

Todavia, estudos periódicos têm demonstrado que a concentração de fluoreto solúvel na

maioria dos dentifrícios comercializados no Brasil está de acordo com o ideal em termos de

prevenção e controle da cárie dentária. Segundo as especificações mínimas exigidas pela

American Dental Association (ADA), para promover esses efeitos o dentifrício necessita

apresentar flúor disponível, estável e reativo (CURY, 2004).

Page 50: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

50

A concentração mínima de 1000 ppmF ¯ quimicamente solúvel é requerida, a fim de

que a formulação apresente o efeito anticárie com evidência científica (WALSH et al., 2010).

O resultado do presente estudo mostra que 100% dos dentifrícios analisados possuem

concentração de FST maior do que 1000 ppmF ¯.

O estudo em questão também avaliou a concentração de flúor do dentifrício PreviDent®,

que possui NaF como a forma de flúor ativo, com concentrações de flúor da ordem de 5000

ppmF ¯. Os resultados demonstraram que essa marca comercial apresenta o produto em

quantidade compatível com o relatado pelo fabricante. Dentifrícios como este, com elevadas

concentrações de flúor são vendidos somente sob prescrição odontológica, sendo indicados

para pacientes com elevado risco a doença cárie dentária (ROBIN, GILL, 2008).

Logo, através da leitura dos resultados do presente estudo, detectou-se que 80% dos

dentifrícios adquiridos mostraram valores de concentrações ótimas de flúor, estando de

acordo com os valores especificados na embalagem pelos fabricantes. O dentifrício Even, a

base de MFP, apresentou-se com concentração de flúor solúvel total (FST = 938,07 ppmF ¯ )

e flúor total (FT = 1083,73 ppmF ¯ ) abaixo do recomendado pelo fabricante (1500 ppmF ¯ ).

Deve-se levar em consideração que os dentifrícios que possuem a sílica como abrasivo

são mais estáveis, apresentando então flúor disponível para intervir no processo da doença

cárie. Por outro lado, como já referido, o MFP presente nos dentifrícios com o passar do

tempo sofre hidrólise, ou seja, o flúor ligado covalentemente ao fosfato é liberado e acaba

reagindo com o cálcio do abrasivo carbonato de cálcio, formando fluoreto de cálcio dentro da

bisnaga, ou seja, produzindo flúor insolúvel que é cárie inativo. Portanto, esse fato explica o

porquê dos dentifrícios com MFP possuírem concentrações máximas de flúor, ou seja, para

compensar a perda da substância terapêutico resultante do envelhecimento do produto

(CONDE; REBELO; CURY, 2003; TENUTA, CURY, 2005).

Page 51: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

51

Esta preferência do carbonato de cálcio frente à sílica nos produtos brasileiros

consiste no fato de que o Brasil tem matéria prima de qualidade e quantidade

farmacocinética para produzir e comercializar o dentifrício com menor preço. Isso explica o

fato de os dentifrícios brasileiros mais populares encerrarem em suas formulações o MFP com

o sistema abrasivo carbonato de cálcio (TENUTA; CURY, 2005).

No Brasil, a maioria dos estudos referente aos dentifrícios são realizados no estado

de São Paulo, local onde são fabricados. Entretanto, ainda que em menor proporção, também

são realizados estudos nas diferentes regiões brasileiras. Estes demonstram que há diferenças

na concentração de flúor ativo dependendo da região do país, sendo que nas regiões Norte e

Nordeste os valores são significativamente inferiores. Embora as concentrações mínimas

observadas sejam aceitáveis, suspeita-se que há, nessas regiões, condições inadequadas de

transporte e armazenamento dos produtos, expondo-os a temperaturas elevadas e,

conseqüentemente, promovendo um processo precoce de “envelhecimento” do dentifrício

com perda da estabilidade do flúor, reduzindo o flúor solúvel ativo no produto (CONDE;

REBELO; CURY, 2003; TENUTA;CURY, 2005)

Desta forma, é extremamente importante a continuidade de controles com vistas a

subsidiar, cada vez mais, os dados da literatura científica que tratam da eficácia protetora do

fluoreto de sódio e do monofluorfosfato de sódio, em face da importância de se obterem

respostas preventivas e terapêuticas frente a cárie dentária, bem como contribuir para o

adequado controle da qualidade industrial desses produtos.

Page 52: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

52

7. CONCLUSÃO

Os dentifrícios fluoretados analisados e comercializados na cidade de Manaus estão

atendendo a Portaria nº 79 de 2000 do Ministério da Saúde, Brasil, porém alguns mostraram

valores inferiores à concentração que é considerada como capaz de interferir no

desenvolvimento da cárie dentária. Diante disso, recomenda-se o controle de forma

sistemática da concentração de flúor em dentifrícios.

Page 53: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

53

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 54: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

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NARVAI, Paulo Capel. Cárie dentária e flúor: uma relação do século XX. Ciência & Saúde

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ROBIN, M Davies; GILL, M Davies. High Fluoride Toothpastes: Their Potential Role in a

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Page 55: JOSÉ FELIPE DE FREITAS GOMES.pdf

55

APÊNDICE

Dentifrícios Flúor Total

Flúor

Solúvel

Total

Flúor iônico F Ionizável % Flúor

Insolúvel

Esperado

Close up® 1: 1175,39

2: 1209,15 3: 1193,45

Média:1192,66

DP: 16,89

1: 1222,66

2: 1347,71 3: 1324, 58

Média:1298,32

DP: 66,53

1: 1316,01

2: 1356,49 3:1398,22

Média:1356,91

DP: 41,11

-

1: 0

2: 1,6 3: 0

Média:0,53

DP: 0,92

1450

Colgate

Shrek®

1: 1053,6

2: 1040,2

3: 1132,8 Média:1075,53

DP: 50,04

1: 839,6

2: 1121, 1

3: 1151 Média:1037,23

DP: 171,81

1: 1089,2

2: 1068,5

3: 1144,2 Média:1100,63

DP: 39,12

-

1: 20,3

2: 0

3: 0 Média:6,77

DP: 11,72

1100

Colgate

Total 12®

1: 1392, 9 2: 1367, 6

3: 1400, 1

Média:1386,87 DP: 17,07

1: 1365, 8 2: 1311

3: 1392,3

Média:1356,37 DP: 41,46

1: 1486,2 2: 1421,1

3: 1461, 2

Média:1456,17 DP: 32,84

-

1: 1,9 2: 4,1

3: 0,6

Média:2,2 DP: 1,77

1450

Colgate

Max

White®

1: 1283,6

2: 1359,7 3: 1383,7

Média:1342,33

DP: 52,26

1: 1376,3

2: 1375, 5 3: 1431,6

Média:1394,47

DP: 32,16

1: 1353,2

2: 1357,1 3: 1411,7

Média:1374,00

DP: 32,71

-

1: 0

2: 0 3: 0

Média:0

DP: 0

1450

Even®

1: 1066,8

2: 1057,7 3: 1126,7

Média:1083,73

DP: 37,49

1: 862,9

2: 934 3: 1017,3

Média:938,07

DP: 77,28

1: 420,7

2: 266,7 3: 257,4

Média:314,93

DP: 91,71

1: 442, 2

2: 667,3 3: 759, 8

Média:623,10

DP: 163,35

1: 19,1

2: 11,7 3: 9,7

Média:13,50

DP: 4,95

1500

Ice Fresh® 1: 1351, 25

2: 825,86

3: 1474,29 Média:1217,13

DP: 344,39

1: 839,6

2: 1121,1

3: 1151 Média:1037,23

DP: 171,81

1: 1089,2

2: 1068,5

3: 1144,2 Média:1100,63

DP: 39,12

1: 475,74

2: 381, 18

3: 478, 26 Média:445,06

DP: 55,34

1: -0,22

2: -18,39

3: -12,64 Média:-10,42

DP: 9,29

1500

PreviDent®

1: 4729,09

2: 4597, 03

3: 4458, 94

Média:4595,02 DP: 135,09

1: 5092,69

2: 4939, 70

3: 4896, 84

Média:4976,41 DP: 102,95

1: 5126,08

2: 4907,52

3: 4886, 19

Média:4973,26 DP: 132,77

-

1:-7,6885

2:-7,4541

3:-9,8208

Média:-8,32 DP: 1,30

5000

Sorriso® 1: 1140,47

2: 1365,06 3: 1415,03

Média:1306,85

DP: 146,25

1: 1153,35

2: 1261,82 3: 1132,80

Média:1182,66

DP: 69,32

1: 130,72

2: 114,23 3: 118,95

Média:121,30

DP: 8,49

1: 1022,632

2: 1147,586 3: 1013,857

Média:1061,36

DP: 74,80

1:-1,12985

2:7,563288 3:19,94496

Média:8,79

DP: 10,59

1450

Crest®

(padrão)

1: 1047,5

2: 1135

3: 1075,6 Média:1086,03

DP: 44,67

1: 1126,5

2: 1117

3: 1158,5 Média:1134,00

DP: 21,74

1: 1104,6

2: 1172

3: 1184,6 Média:1153,73

DP: 43,01

-

1: 0

2: 1,6

3: 0 Média:0,53

DP: 0,92

1100

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ANEXO