José Gabriel da Costa: Trajetória de um brasileiro, Mestre e Autor da União do Vegetal

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    Jos Gabriel da Costa:Trajetria de um brasileiro, Mestre e Autor da Unio do Vegetal

    Srgio Brissac

    1. Introduo

    Este texto visa traar a trajetria de Jos Gabriel da Costa, fundador da Unio do Vegetal, erelacion-la com aspectos da especificidade cultural brasileira. Acompanhando o percurso de sua vida, possvel tecer uma ampla rede de relaes com diversas configuraes culturais presentes na sociedadebrasileira. Este texto restringir-se- a uma breve exposio dessa trajetria, atravs do recurso s poucasfontes de informao disponveis, limitando-se a apontar somente algumas possveis linhas deinvestigao, a serem desenvolvidas oportunamente1[1].

    Em 22 de julho de 1961, Jos Gabriel da Costa, chamado por seus discpulos de Mestre Gabriel,fundou a Unio do Vegetal, a UDV, na Amaznia, em regio prxima fronteira entre o Brasil e aBolvia. . Como centro da atividade religiosa do grupo est a ingesto da Hoasca ou Vegetal, ch obtido apartir de duas plantas, um cip denominado mariri,Banisteriopsis caapi, e um arbusto chamado chacrona,Psychotria viridis. No ano de 1965, Jos Gabriel da Costa mudou-se para Porto Velho, onde consolidou aUnio recm-fundada. Em 1967, aps incidentes de perseguio policial ao grupo em Porto Velho, encaminhada a constituio de uma entidade civil, primeiramente denominada Sociedade BeneficenteUnio do Vegetal, adotando depois o nome definitivo de Centro Esprita Beneficente Unio do Vegetal.Ainda em vida de Mestre Gabriel, foi fundado o ncleo de Manaus e em 1972, um ano aps seufalecimento, j se inaugurou o ncleo de So Paulo. Em 1998, havia em torno de 70 ncleos espalhadospor todo o Brasil, totalizando aproximadamente 7 mil scios.

    2. Jos, o menino de Corao de Maria

    No dia 10 de fevereiro de 1922, na localidade de Corao de Maria, prxima a Feira de Santana,Bahia, nasce Jos Gabriel da Costa. Filho de Manuel Gabriel da Costa e Prima Feliciana da Costa, Josnasce em uma numerosa famlia de treze irmos: Joo, Dionsio, Otaclio, Pedro, Romo, Maria,Mida, Jos Gabriel, Sinh, Alfredo, Antnio, Maximiano, Hiplito2[2]. No livro Unio do Vegetal:

    Hoasca; Fundamentos e Objetivos, o nico texto editado para o grande pblico at o momento pelainstituio, apenas trs pginas tratam da vida do fundador da UDV. Assim, tivemos de buscarinformaes junto a parentes e outras pessoas que com ele conviveram, alm de pesquisar no jornal AltoFalante, do Departamento de Memria e Documentao da UDV.

    Segundo seus parentes, desde pequeno, Jos j se destacava como algum especial. Contam queainda criana, ele auxiliou uma mulher com dificuldades de parto. O beb se encontrava mal posicionado

    e a parteira temia que morressem me e filho. Jos entra no quarto, manda todos sarem, tranca a porta elogo em seguida a destranca. Quando o menino abre a porta, simultaneamente nasce a criana.

    Na dcada de 20, o menino Jos cresce em um meio rural fortemente marcado pelo catolicismopopular. Uma recordao que narram de sua infncia que o garoto ia aos domingos igreja de suacidade e levava com ele um barbante. Durante a missa, amarrava as pessoas umas s outras, pelospassantes das roupas, sem que elas percebessem3[3]. Nas chamadas, hinos entoados durante o ritual da

    1[1] Este texto integrar a minha dissertao de mestrado no Programa de Ps-graduao em Antropologia Socialdo Museu Nacional - UFRJ, a respeito dos Discpulos da Unio do Vegetal na realidade urbana brasileira.2[2]

    Depoimento de Antnio da Costa, irmo de Jos Gabriel da Costa, ao autor, em 4 de novembro de 1995.3[3] DEPARTAMENTO DE ESTUDOS MDICOS DA UDV. Texto do Programa Oficial do II Congresso em Sade.Hoasca e desenvolvimento integral do ser humano. Campinas, 1993. p. 1. O texto continua: Jos Gabriel daCosta - Mestre Gabriel - era esse menino. Fundou a Unio do Vegetal para continuar unindo as pessoas.

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    UDV, h referncias constantes a Jesus e a vrios santos catlicos: a Virgem da Conceio, So JooBatista, a Senhora Santana, So Cosmo e So Damio.

    Aos 13 anos de idade, em 1935, Jos vai trabalhar em Salvador. Emprega-se em diversosestabelecimentos comerciais. Aos 18 anos, presta servio militar voluntariamente na Polcia Militar daBahia, chegando em poucos meses patente de cabo de esquadra. Segundo seu irmo Antnio,atualmente tambm mestre na UDV, Jos Gabriel conheceu todas as religies, conheceu os terreiros deSalvador, andou por todas as religies procurando a realidade4[4]. Segundo outro mestre, Jos iniciou nacincia esprita com apenas 14 anos. Provavelmente, esta informao refere-se participao de Josem terreiros de candombl, e no em centros kardecistas, com os quais entretanto ele tambm entrou emcontato, s que posteriormente, ainda quando morava em Salvador.

    Segundo o pesquisador Afrnio Patrocnio de Andrade, Jos Gabriel freqentou sesses espritaskardecistas na Bahia5[5] . Foi, alis, em Salvador que teve incio o espiritismo kardecista no Brasil, no anode 1865. Lus Olmpio Teles de Menezes fundou nesse ano o centro esprita Grupo Familiar doEspiritismo6[6]. De acordo com Patrocnio de Andrade, certos temas recorrentes na Unio do Vegetalpoderiam ter sido colhidos do espiritismo kardecista. Antes de mais nada, a viso reencarnacionista, um

    dos eixos fundamentais da viso de mundo da UDV. Assim como o lema Luz, Paz e Amor,denominado o smbolo da Unio, poderia provir dos temas espritas da luz interior, da paz deesprito e do amor ao prximo (ou caridade). A prpria nfase na Unio freqente entre osespritas no Brasil.7[7]

    3. O capoeirista

    Segundo declaraes de familiares, o jovem Jos foi considerado pelos prosadores populares umdos melhores da regio. Como cantador repentista teve sucesso inclusive em Alagoas e Sergipe. Tambmse destacou na capoeira, chegando a ser considerado um dos melhores do Nordeste. O livro de RuthLandes,

    A cidade das mulheres, nos auxilia a traar um panorama dos ares soteropolitanos da dcada de

    30, que Jos tantas vezes respirou. A autora levada por Edison Carneiro para assistir uma capoeira. Eladescreve detalhadamente a seqncia do jogo, e em certo momento, observa: silenciados os ecos dodesafio, terminada a rodada, os dois homens andavam e corriam sem descanso em sentido contrrio aos

    ponteiros do relgio, um atrs do outro, o campeo frente com os braos levantados8[8]. interessantenotar que no ritual da UDV a circulao das pessoas no salo se faz tambm no sentido anti-horrio, poiseste o sentido da fora. Na capoeira, Jos cultiva uma srie de habilidades postas em prticaposteriormente, em suas experincias de incorporao nos toques de caboclo como Sulto das Matas. Domesmo modo, tais habilidades tambm foram exercitadas como Mestre da UDV.

    Evocadora desse ambiente capoeirista a cantiga de domnio pblico gravada por Nara Leo, svezes tocada em sesses da UDV:

    Minino, quem foi teu mestre?Meu mestre foi Salomo.A ele devo dinheiro,saber e obrigao.

    4[4] Depoimento de Antnio da Costa. Idem.5[5] ANDRADE, Afrnio Patrocnio de. O fenmeno do ch e a religiosidade cabocla. Um estudo centrado na Uniodo Vegetal. Dissertao de Mestrado na Ps-Graduao em Cincias da Religio do Instituto Metodista de EnsinoSuperior. So Bernardo do Campo, 1995. p. 170.6[6] GIUMBELI, Emerson Alessandro. O cuidado dos mortos: os discursos e intervenes sobre o Espiritismo e a

    trajetria da Federao Esprita Brasileira (1890-1950). Dissertao do PPGAS - UFRJ, 1995. p. 29. Ver tb.KLOPENBURG, Boaventura. O espiritismo no Brasil. Petrpolis, 1960. p. 25.7[7] ANDRADE, Afrnio Patrocnio de. Idem.8[8] LANDES, Ruth. A cidade das mulheres. Rio de Janeiro, 1967. p. 117. O grifo nosso.

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    O segredo de So Cosmequem sabe So Damio, ol

    gua de beber, camaradagua de beber, ol

    gua de beber, camarada

    faca de cortar, olFaca de cortar, camarada,Ferro de engomar, olFerro de engomar, camaradaPerna de brigar, olPerna de brigar, camarada.

    Minino, quem foi teu mestre?9[9]

    Parece estar relacionada capoeiragem a deciso do jovem Jos de viajar da Bahia para o Norte.De acordo com relato de seu filho Carmiro da Costa, em 1943 Jos envolve-se num conflito. Um amigoseu, de nome Mrio, tem o p pisado por um policial. Jos Gabriel compra a briga do Mrio. Este foge

    e os policiais seguram Jos. Num golpe de destreza, ele consegue se desvencilhar dos policiais. Seguepara um navio, para onde tinha ido se refugiar o amigo Mrio. Os dois se alistam no Exrcito daBorracha e rumam para o Norte no navio Par, da frota do Lloyd Brasileiro. Chegando a Manaus,embarcam no navio Rio Mar, com destino a Porto Velho, onde chegam no dia 13 de setembro de 1943.Os dois vo juntos para o trabalho na seringa e fazem um pacto de amigo, de s se separarem pelamorte. No seringal, Jos Gabriel cumpre at o fim esse pacto, cuidando de Mrio, que adoece comleishmaniose. Chega a carregar Mrio nas costas por vrios quilmetros. Quando o doente morre, seuamigo sozinho o enterra na floresta.10[10] Tudo indica que Mrio era companheiro de capoeira de JosGabriel. No mundo da capoeiragem na poca, a tica dos grupos sublinhava a importncia dasolidariedade e fidelidade entre os camaradas. E eram freqentes os conflitos entre os grupos, com apolcia ou com indivduos de outros segmentos da sociedade. Em dissertao acerca da capoeira no Rio

    de Janeiro de 1890 a 1937, Antonio Pires afirma que as relaes de conflito e solidariedade nacapoeiragem estiveram permanentemente relacionadas com os conflitos mais gerais da sociedade11[11].Parece que j se esboa nesse tempo a preocupao de Jos Gabriel com a justia. Sua participao nacapoeiragem em Salvador no conflita com seu engajamento profissional, primeiramente comocomercirio e depois como enfermeiro. Como observa Antonio Pires quanto capoeira no Rio, a maioriados capoeiras comprovaram manter vnculos com o mundo do trabalho, descaracterizando o esteretipode vadios construdo em relao a eles.12[12]

    4. O seringueiro do Exrcito da Borracha

    9[9] Cf. outra cantiga semelhante, recolhida por Edison Carneiro:Minino, quem foi teu mestre?quem te ensin a jog?- S discipo que aprendoMeu mestre foi MangangNa roda que ele esteve,outro mestre l no h.In: Folguedos tradicionais. Rio de Janeiro, 1974. p. 138.10[10] Depoimento de Carmiro da Costa, filho de Jos Gabriel da Costa, ao autor, em 4 de novembro de 1995.11[11]

    PIRES, Antonio Liberac Cardoso Simes. A capoeira no jogo das cores: criminalidade, cultura e racismo naCidade do Rio de Janeiro (1890-1937). Dissertao de mestrado em Histria - UNICAMP . Campinas, 1996. p.143.12[12] Idem, p. 201.

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    Chegando no Territrio de Guapor, atual Estado de Rondnia, Jos Gabriel se insere numambiente com uma configurao ecolgica e scio-cultural bem distinta da Cidade de Salvador. Oextrativismo da borracha, depois de seu perodo de boom, entre 1890 e 1912, havia em seguidaatravessado uma fase de declnio, devido concorrncia no mercado internacional da borracha extrada nasia. Com a Segunda Guerra Mundial, apresentou-se a necessidade de borracha para os exrcitos

    Aliados. Com a assinatura de acordos com os Estados Unidos, o Governo Vargas iniciou uma amplacampanha de recrutamento de trabalhadores, principalmente nordestinos, para a extrao gomfera noNorte. Foi criado o SEMTA, Servio Especial de Mobilizao de Trabalhadores para a Amaznia, que,somente no ano de 1943, encaminhou 13 mil pessoas, segundo dados oficiais 13[13].

    No mesmo ano de 1943, Jos Gabriel integra essa massa de trabalhadores nordestinos que selanam como brabos nos seringais amaznicos. Brabo gente que nunca cortou seringa, nunca andouna floresta. Sofremos muito, como brabo - declara Pequenina, esposa de Jos Gabriel14[14]. O sofrimentodaqueles homens, submetidos a condies de vida e trabalho extremamente penosas, em um ambientedesconhecido, sem o auxlio governamental prometido pela propaganda oficial, ficou bem marcado namemria dos sobreviventes da batalha da borracha. A antroploga Lcia Arrais, que est elaborando

    sua tese de doutorado a respeito dos soldados da borracha, recolheu o seguinte depoimento, de um Sr.Chico, ex-soldado da borracha, que bem se assemelha ao da esposa de Jos Gabriel: .... a casa dele erabem pequenininha num tinha onde a gente dormir. Dormimo no teto mermo. Carapan! Carapan, Lcia!e agora, a comida? Tudo brabo, tudo... a gente j tinha deixado a Companhia [SEMTA] j... A fiquemoa sofrendo.. fiquemo jogado que nem cachorro na beira do rio... [Qual?] era o Solimes acima de Tef.A eu disse: ombora pessoal! vamo meu povo!, bora cuidar!, bora se virar.15[15] Arrais observa queaqueles que conseguiram sobreviver a condies to adversas foram homens de significativa intelignciae iniciativa, que conseguiram adaptar seus esquemas de percepo e recursos cognitivos nova realidadeem que se encontravam: Numa atitude de quem vive em estado de autodefesa permanente, o Sr. Chicodiz: ombora pessoal! bora se virar!. E ento escolhem uma linha de ao onde predomina a iniciativa e acoragem. Onde prevalece a concentrao dos recursos da percepo, da memria e da ateno para dirigir

    esforos na descoberta de meios capazes de resolver a questo.16[16]

    Jos Gabriel foi um desses homensde aguda inteligncia e destreza, que no somente conseguiu sobreviver como chegou a ser consideradopelos seus companheiros como o Tuxua, o seringueiro que coletava maior quantidade de seringa naregio. Tais xitos eram acompanhados de dureza e sofrimento, como quando Jos Gabriel pisou emuma arraia, e teve de passar um ano e dez meses sem poder andar, de muleta.17[17]

    5. O og do terreiro de Chica Macaxeira

    Depois de trabalhar um tempo no seringal, Jos Gabriel muda-se para Porto Velho, onde ficatrabalhando como servidor pblico, enfermeiro no Hospital So Jos. Conhece, em 1946, RaimundaFerreira, chamada Pequenina, com quem se casa no ano seguinte. Em Porto Velho, Seu Gabriel atendiapessoas em sua casa, pois jogava bzios. Mais tarde, se torna Og e Pai do Terreiro de So Benedito, de

    13[13] Em 13 de agosto de 1946, Paulo de Assis Ribeiro, Chefe do SEMTA, declarou CPIacerca dos soldados da borracha ser esse o nmero de pessoas encaminhadas Amaznia.Depoimento publicado no Dirio Oficial de 24 agosto de 1946. Dado informado pelaantroploga Lcia Arrais.14[14] Entrevista de Mestre Pequenina e Mestre Jair. In: ALTO FALANTE, Jornal do Departamento de Memria eDocumentao da UDV. Braslia, agosto-outubro 1995, p. 6.15[15] In: ARRAIS, Lcia. No captulo Dados ignoradosda tese de doutorado em elaborao arespeito dos soldados da borracha para o Programa de Ps-graduao em Antropologia Social

    do Museu Nacional, da UFRJ. Agradeo autora por me possibilitar o acesso a esse texto,ainda indito.16[16] ARRAIS, Lcia. Idem.17[17] Entrevista de Mestre Pequenina e Mestre Jair. Idem, p. 6.

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    Me Chica Macaxeira18[18]. Esse terreiro foi citado por Nunes Pereira19[19], que o visitou, possivelmenteem meados da dcada de 60 ou no incio dos anos 70. O pesquisador maranhense reconhece o terreiro dePorto Velho como sendo da tradio mina-jeje, oriundo da Casa das Minas. Os toques, inegavelmente,tinham a rtmica que me era familiar no s da Casa das Minas, de So Lus do Maranho, como doBogum de Me Valentina, em Salvador, Estado da Bahia.20[20]

    surpreendente descobrir que Nunes Pereira encontrou no Terreiro de Chica Macaxeira umainovao no ritual mina-jeje, o uso da ayahuasca. E isso, sem dvida, para estimular , paralelamente,com os cnticos rituais e com a voz sagrada dos tambores, ogs e gs, o estado de transe, a possesso queligam os Voduns do panteo daomeano ou do ioruba s gonjais e noviches que o cultuam21[21]. Ora, notempo em que Jos Gabriel l trabalhava como Og, no havia utilizao da ayahuasca no culto, tanto queele somente viria a conhecer a bebida anos depois, no seringal. Assim, legtimo deduzir que a Me-de-Terreiro Chica Macaxeira conheceu a ayahuasca atravs de seu antigo Og e Pai-de-Terreiro Jos Gabriel.Quando Nunes Pereira visitou o terreiro, o conjunto dos cnticos era l denominado Doutrina daAyahuasca. Nomes de santos catlicos, nalguns desses cnticos, se misturaram com os dos Vodunsmina-jejes, tais como Xang, Bad, Avrqute, e os ditos Baro de Gor, Sulto das Matas, Marangal,

    Jatpequare, Tindarer, etc.

    22[22]

    significativo que nos anos 60 ou 70 haja a presena do Sulto dasMatas na lista das entidades do terreiro, j que, como se ver adiante, Jos Gabriel recebia esse cabocloquando trabalhava num terreiro que armou no seringal, nos anos 50.

    6. O Sulto das Matas e os xams da fronteira boliviana

    At 1950, Jos Gabriel morava com Pequenina em Porto Velho. O casal j tivera dois filhos:Getlio e Jair. Alm de trabalhar como enfermeiro, ele tinha tambm uma taberna de bebidas. E gostavade poltica. Diante dos dois partidos que disputavam o governo do Territrio de Guapor, o de Rondon eo de Alusio, Jos Gabriel era pr-Rondon. No entanto, seu candidato perdeu, e ele foi perseguido em seuemprego pblico no hospital. Tendo de se afastar de seu trabalho, Jos resolve voltar para o seringal. E

    sua mulher discorda: Eu disse: No, o que isso? Eu no nasci no seringal, em mato. No quero criarmeus filhos sem saber ler e escrever. Ele disse: porque eu vou atrs de um tesouro. Mas eu era umapessoa de cabea cheia de muitas coisas e achei que era riqueza material que ele ia achar, e ns ia enricar,ter uma vida de rosa. Ento, quando ele disse que ia, eu disse: Ento, vamos. Ento eu digo que essetesouro que ele encontrou junto comigo e os dois filhos, pra mim, um tesouro to maravilhoso quedinheiro nenhum no paga essa felicidade. (...) Ento, esse tesouro, que a Unio do Vegetal, tem meamparado.23[23] Nestas palavras de Mestre Pequenina e provavelmente tambm na afirmao de JosGabriel, poder-se-ia detectar a presena dos motivos ednicos que povoaram o imaginrio das populaesque se defrontaram com a floresta amaznica. Nos sonhos e anseios dos nordestinos pobres que se lanamna aventura da borracha ecoam ainda as buscas das estranhas coisas deste Brasil: do Eldorado, daLagoa do Vupabuu, ou da serra anunciada por Filipe Guilln, que resplandece muito e que, por esseseu resplendor era chamada sol da terra 24[24]. Posteriormente, o sonho do tesouro a ser encontrado naselva resignificado, passando a expressar a Unio do Vegetal, que nasce da floresta, de um lquidotambm dourado, denominado por vezes de ch misterioso25[25].

    18[18] Entrevista do Conselheiro Paixo. In: ALTO FALANTE, Jornal do Departamento de Memria eDocumentao da UDV. Braslia, abril-junho 1995, pp. 8-9.19[19] PEREIRA, Nunes. A casa das minas. Contribuio ao estudo das sobrevivncias do culto dos voduns dopanteo daomeano, no estado do Maranho, Brasil. Petrpolis, 1979, 2a. ed. pp. 121-143. 223-225.20[20] Idem, p. 223.21[21] Idem, p. 142.22[22] Idem, p. 143. O grifo nosso.23[23]

    Entrevista de Mestre Pequenina e Mestre Jair. In: ALTO FALANTE, Jornal do Departamento de Memria eDocumentao da UDV. Braslia, agosto-outubro 1995, p. 7.24[24] HOLANDA, Sergio Buarque de. Viso do paraso. So Paulo, 1994. pp. 36-37.25[25] Artigo: Convico do Mestre. In: O ALTO MADEIRA. Jornal. Porto Velho, 7 de outubro de 1967.

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    No seringal Orion, Jos Gabriel abriu o terreiro no qual recebia o caboclo Sulto das Matas.Como recorda Mestre Pequenina, vinha gente de tudo quanto era seringal26[26] consultar o Sulto dasMatas. E ele curava as pessoas, assim como indicava o lugar certo onde se encontrava caa. Adaptando-sea um novo contexto scio-ecolgico-cultural, Jos Gabriel dirige um rito sincrtico afro-indgena, no qualo valor simblico da floresta, que perpassa toda a vida dos seringueiros, fica evidente. Tal rito, designado

    pelo filho de Jos Gabriel simplesmente como macumba27[27]

    , parece assemelhar-se pajelana caboclaamaznica28[28], uma forma de xamanismo no-indgena na qual tem importncia fundamental a noo deincorporao do curador por entidades espirituais que agem atravs dele para a cura dos doentes. Noentanto, certamente permaneciam marcantes nos toques do Seringal Orion os elementos religiosos afrosvivenciados anteriormente por Jos Gabriel, seja na Bahia, seja em sua participao no Terreiro de SoBenedito de Porto Velho.

    Mais tarde, quando j esto em outro seringal, Pequenina fica sabendo de um ch: o pessoal visso, v aquilo, o cara falou at com o filho depois de morto29[29]. Ela fala a Jos Gabriel e ele vai pedir och ayahuasca a quem o distribua no lugar. Mas o homem disse que no dava o Vegetal praquele baianoque sabe aonde as andorinhas dormem30[30]. Tempos depois, no seringal Guarapari, numa colocao

    chamada Capinzal, na regio da fronteira boliviana, Jos Gabriel recebe pela primeira vez o ch de umseringueiro chamado Chico Loureno, no dia 1 de abril de 1959. Chico Loureno representa umatradio indgena-mestia de uso xamnico da ayahuasca que se espalha por uma ampla regio daAmaznia ocidental. Tal tradio designada posteriormente pela UDV como a dos Mestres daCuriosidade. A se inicia nova etapa na trajetria de Jos Gabriel.31[31]

    7. O Mestre e Autor da Unio do Vegetal

    Jos Gabriel bebe apenas trs vezes o ch com Chico Loureno. Logo depois, viaja por um mspara levar um filho doente a Vila Plcido, no Acre, e quando retorna traz um balde com o cip mariri e afolhas de chacrona que colheu no caminho. Diz mulher: Sou Mestre, Pequenina, e vou preparar o

    mariri32[32]. Segundo seu filho Jair, nesse perodo o Mestre Gabriel no deixou a macumba no. Elefazia uma Sesso de Vegetal e uma de umbanda.33[33]

    Somente em 1961 ele reuniu as pessoas e disse: Eu quero falar pra vocs que tudo que o Sultodas Matas fez eu sei: Sulto das Matas sou eu.34[34] Este um dos momentos mais importantes de rupturade Jos Gabriel com a tradio religiosa qual estava ligado anteriormente. Ao postular para si mesmo opoder antes atribudo entidade Sulto das Matas, o agora Mestre Gabriel nega a incorporao dos cultosde caboclo e configura o transe que ser tpico da Unio do Vegetal: a burracheira. A burracheira, quesegundo Mestre Gabriel significa fora estranha, a presena da fora e da luz do Vegetal naconscincia daquele que bebeu o ch. Assim, trata-se de um transe diverso, no qual no h perda daconscincia, mas sim iluminao e percepo de uma fora desconhecida. H uma potencializao dos

    sentimentos, das percepes e da conscincia do indivduo.

    26[26] Entrevista de Mestre Pequenina e Mestre Jair. In: ALTO FALANTE, Jornal do Departamento de Memria eDocumentao da UDV. Braslia, agosto-outubro 1995, p. 7.27[27] Entrevista de Mestre Pequenina e Mestre Jair. Idem, p. 9.28[28] Cf. MAUS, Raymundo Heraldo. Padres, Pajs, Santos e Festas: Catolicismo popular econtrole eclesistico. Belm: CEJUP.29[29] Entrevista de Mestre Pequenina e Mestre Jair. Idem. p. 7.30[30] Ibidem. p. 7.31[31] Haveria muito a observar acerca da tradio vegetalista amaznica, o que transbordariao mbito desta breve exposio da trajetria de Jos Gabriel da Costa. Prefiro remeter aos

    textos de Luis Eduardo Luna e Edward MacRae citados na bibliografia.32[32] Ibidem. p. 8.33[33] Ibidem. p. 9.34[34] Ibidem. p. 9.

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    Em seguida, Mestre Gabriel e sua famlia se mudam para o seringal Sunta. No dia 22 de julho de1961, ele rene as pessoas para um preparo de Vegetal. Nesse dia, o Mestre Gabriel declara criada aUnio do Vegetal. Ou melhor, afirma que a UDV foi recriada, j que ela teria existido no passado, quandoele mesmo teria vivido em outra encarnao. No dia 6 de janeiro do ano seguinte, Mestre Gabriel se renecom doze Mestres da Curiosidade no Acre, em Vila Plcido. Numa sesso, eles reconhecem Gabriel

    como o Mestre Superior. Finalmente, no dia 1 de novembro de 1964 realizada uma sesso na qual oMestre Gabriel afirma que fez a Confirmao da Unio do Vegetal no Astral Superior. Logo depois, em1965, ele se muda para Porto Velho, para l consolidar a nascente instituio. Apenas seis anos depois, sedeu o falecimento de Jos Gabriel da Costa, no dia 24 de setembro de 1971.

    8. Concluso

    Descrevendo-se em largos traos a vida de Jos Gabriel da Costa, fica patente a sua participaonuma larga seqncia de configuraes culturais muito prprias da sociedade brasileira: o catolicismopopular rural do interior da Bahia, a capoeiragem e os cultos afro-brasileiros de Salvador, a vida sofridade seringueiro na Amaznia, a experincia de incorporao dos cultos de caboclo, o transe xamnico dohoasqueiro, e, finalmente, a atuao carismtica do fundador de um novo movimento religioso.

    A maleabilidade, a destreza, a vivacidade e a ginga da capoeira contriburam para que JosGabriel viesse a elaborar uma inovadora sntese de diversos elementos culturais e religiosos, num cultoprofundamente adaptado realidade scio-cultural amaznica. E no apenas adaptado a esta, mas comvirtualidades para se expandir por todo o Brasil, exatamente por ser constitudo por uma criao vigorosaque se apropriou de configuraes provenientes de diversas regies brasileiras.

    O que ensina Gilberto Freyre pode inspirar a concluso deste texto: Verificou-se entre ns umaprofunda confraternizao de valores e de sentimentos. Predominantemente coletivistas, os vindos dassenzalas; puxando para o individualismo e para o privatismo, os das casas-grandes. Confraternizao quedificilmente se teria realizado se outro tipo de cristianismo tivesse dominado a formao social do Brasil;um tipo mais clerical, mais asctico, mais ortodoxo; calvinista ou rigidamente catlico; diverso dareligio doce, domstica, de relaes quase de famlia entre os santos e os homens, que das capelaspatriarcais das casas-grandes, das igrejas sempre em festas - batizados, casamentos, festas de bandeirade santos, crismas, novenas - presidiu o desenvolvimento social brasileiro.35[35] Jos Gabriel da Costa,nascido nessa sociedade propensa a hibridismos, plena de plasticidade e inclusividade, elabora uma novareligio que tambm doce, na medida em que privilegia o sentir e propicia ao indivduo espao paraque ele prprio construa suas reinvenes criativas.

    * * *

    Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais e pelo Centro de Estudos

    Superiores da Companhia de Jesus (CES), em Belo Horizonte, Licenciado em Filosofia pela PontifciaUniversidade de So Paulo e Bacharel em Teologia pelo CES, o autor atualmente faz o Mestrado doPrograma de Ps-graduao em Antropologia Social do Museu Nacional, da Universidade Federal do Riode Janeiro. Desde 1992 vem estudando a Unio do Vegetal, e o tema de sua dissertao ser a respeitodos discpulos urbanos da UDV.

    35[35] FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. Rio de Janeiro, 1992, 31a. ed. p. 355.

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    BIBLIOGRAFIA

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  • 8/2/2019 Jos Gabriel da Costa: Trajetria de um brasileiro, Mestre e Autor da Unio do Vegetal

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    JORNAIS

    1. ALTO-FALANTE. Jornal do Departamento de Memria e Documentao da UDV. Braslia.a) Mar / Jul 92 - CONFEN libera ch por unanimidade.b) Dez 92 / Jan 93 -No relato dos pioneiros, o perfil do Mestre.c) Jan / Jul 93 - pp. 10-13 - Entrevista com M. Nonato.d) Ago 93 / Fev 94 - pp. 8-10 - Entrevista com M. Ccero.e) Mar / Abr 94 - pp. 6-9 - Entrevista com M. Sidon.f) Mai / Jun / Jul 94 - pp. 8-11 - Entrevista com M. Pernambuco.g) Ago / Set / Out 94 - pp. 6-9 - Entrevista com M. Roberto Souto.h) Nov / Dez 94 / Jan 95 - pp. 6-9 - Entrevista com M. Manoel Nogueira.i) Abr / Jun 95 - pp. 8-11 - Entrevista com Cons. Paixo.

    j) Ago / Set / Out 95 - pp. 6-9 - Entrevista com M. Pequenina e M. Jair.l) Nov / Dez 95 / Jan 96 - pp. 4-5 - Entrevista com M. Monteiro.m) Fev / Set 96 - pp. 8-11 - Entrevista com M. Florncio.

    2. CORREIO BRAZILIENSE. Braslia.a) 10 de julho de 1996. Caderno Cidades, p. 4 - Ch Hoasca inofensivo sade.

    3. O ALTO MADEIRA. Porto Velho.a) a) 6 de outubro de 1967. Artigo: Convico do Mestre.