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JOTA KAMERAL

PEÇA DE TEATRO

O NEGRO NA MÍDIA

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PERSONAGENS

Afrodescendente – João Candido ou Joana Candido

Afrodescendente – Antonio ou Antonia

Afrodescendente – Damião ou Damiana

Diretor – Solano (afro)

Diretora – Aciata (afro)

Estagiária atendente de recepção – Lucíola (branca)

Supervisora – Iara (branca)

Filho legitimo do diretor – Augusto (afro)

Narradora

Âncora 1

Âncora 2

FIGURANTES

BRANCOS

F1 – Roberto ou Roberta

F2 - Mario ou Maria

F3 - Mariano ou Mariana

F4 - Talhes ou Thais

NEGROS

F5 - Alberto ou Albertina

F6 - Geraldo ou Geralda

F7 - José ou Josefa

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F8 – Olívio ou Olivia.

CENÁRIO

Uma sala de espera de seleção de um estúdio de um Canal de

Televisão.

Cadeiras para os candidatos - um balcão de atendimento – Pano de

fundo com o nome e o logotipo da rede de televisão – Um cesto com

várias revistas para serem folheadas.

Cenário adicional simulando uma tela de t.v para simular a

reportagem de uma pesquisa que será lida pelos âncoras,

NOME DO CANAL DE TV.

REDE PLANETA DE TELEVISÃO – DEPARTAMENTO DE

PRODUÇÕES E MARKETING.

TEMÁTICA

A questão dos afrodescendentes na mídia – O preconceito existente no

caso das adoções por casais negros – Preconceito racial reverso no

ponto de vista do afrodescendente e conflitos recorrentes. A questão da

adoção das crianças indígenas. No final da peça estão os textos que

foram utilizados em um determinado momento a fim de si mostrar os

créditos.

CENA 1

MÚSICA

LOCUTOR - Palavras-Chave: Mídia; Opinião Pública; Racismo

“Os meios de comunicação são rodas de fiar o mundo moderno e, ao usar

estes meios, os seres humanos fabricam teias de significados para si

mesmos. (THOMPSON, 2002, p. 19)”

“Nos principais meios de comunicação de massa os negros ainda

continuam sendo associados a antigos estereótipos como a “mulata

sensual”, o “bandido” ou o “negro malandro”; e a profissões consideradas

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socialmente inferiores, como empregadas domésticas e jardineiros. Nas

campanhas publicitárias são raros os rostos de pele escura”.

CENA 2

LUCÍOLA – (Assim que a leitura termina, a recepcionista Lucíola, que

portará um crachá com a sua identificação com o logotipo da TV. deverá

estar sentada e assim que os personagens vão entrando, receberá a

papelada conferindo e repetirá sempre para cada personagem que está

entregando o documento) Por favor, aguardem assim que tiver o retorno,

chamarei pelo nome. (assim que recebe todas as documentações, entra para

levar toda a papelada e retorna sentando em sua cadeira e simula estar

trabalhando no computador).,

F1 – ROBERTO – Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

F2 - MARIO - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

F3 – MARIANO - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

F4 – TALHES - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

F5 - ALBERTO - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

F6 - GERALDO - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

F7 – JOSE - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

F8 – OLIVIO - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

JOAO CANDIDO - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

ANTONIO - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

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DAMIAO - Entra, entrega os documentos com o currículo para a

recepcionista e, atendendo a indicação dela senta em uma cadeira.

CENA 3

Depois de alguns minutos o telefone toca, Lucíola entra e logo em seguida

retorna com as papeladas, confere uma a uma e começa a chamar os

candidatos.

LUCÍOLA – (chama) - Senhor Roberto!

ROBERTO – Levanta, vai até o balcão.

LUCIOLA – (Entrega o documento) Por favor, pela porta de entrada.

ROBERTO – Guarda os documentos e sai do palco.

LUCÍOLA – (chama) - Senhor Mario!

MARIO – Levanta, vai até o balcão.

LUCIOLA – (Entrega o documento) Por favor, pela porta de entrada.

MARIO – Guarda os documentos e sai do palco.

LUCÍOLA – (chama) - Senhor Mariano

MARIANO – Levanta, vai até o balcão.

LUCIOLA – (Entrega o documento) Por favor, pela porta de entrada.

MARIANO – Guarda os documentos e sai do palco.

LUCÍOLA – (chama) - Senhor Thales

THALES – Levanta, vai até o balcão.

LUCIOLA – (Entrega o documento) Por favor, pela porta de entrada.

THALES – Guarda os documentos e sai do palco.

LUCÍOLA – (chama) - Senhor Alberto!

ALBERTO – Levanta, vai até o balcão.

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LUCIOLA – (Entrega o documento) Por favor, pela porta dos fundos.

ALBERTO – Guarda os documentos e sai do palco.

LUCÍOLA – (chama) - Senhor Geraldo!

GERALDO – Levanta, vai até o balcão.

LUCIOLA – (Entrega o documento) Por favor, pela porta dos fundos..

GERALDO – Guarda os documentos e sai do palco.

LUCÍOLA – (chama) - Senhor José!

JOSÉ – Levanta, vai até o balcão.

LUCIOLA – (Entrega o documento) Por favor, pela porta dos fundos.

JOSÉ – Guarda os documentos e sai do palco.

LUCÍOLA – (chama) - Senhor Olívio!

OLIVIO – Levanta, vai até o balcão.

LUCIOLA – (Entrega o documento) Por favor, pela porta dos fundos.

OLIVIO – Guarda os documentos e sai do palco.

LUCÍOLA – Os candidatos, senhores João Cândido, Antônio e Damião, foi

solicitados para que esperem mais um pouco para a entrega dos resultados.

CENA 4

(João Cândido, Antônio e Damião permanecem conversando entre si e

lendo as revistas e comentando, enquanto Lucíola atende os telefonemas e

fica digitando no computador.)

(À medida em que as placas vão passando João, Antônio e Damião

começam a demonstrar impaciência, olhando toda hora para o relógio.)

(Passa uma placa com os dizeres: São decorridos vinte minutos de espera).

(Logo em seguida outra placa com: São decorridos quarenta minutos de

espera.)

(Outra placa com: São decorridos setenta e sete minutos de espera)

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JOÃO CÂNDIDO – (Levantando e indo até o balcão) – Senhorita, já se

passaram uma hora e dezessete minutos da saída do último candidato e

nada de chamar a gente.

LUCÍOLA – Não posso fazer nada ainda, pois, dependo do O.K lá dentro.

DAMIÃO – ( auxiliando o João também se levanta e vai até o balcão) –

Acho que é uma falta de respeito para com a gente que é afrodescendente.

ANTÔNIO – (Também se levantando) – É isso mesmo! Vocês atenderam

primeiramente os candidatos brancos e só depois é que atenderam os

candidatos negros! Isso é um absurdo. Está comprovado por que neste

canal de TV quase não se vê negros trabalhando!

LUCÍOLA – Não é um problema meu! É do sistema! Eu apenas faço o meu

trabalho que é recepcionar os candidatos e despachá-los de acordo com as

ordens lá de dentro. Acho que, se vieram entregar os currículos se

candidatando à uma vaga de emprego nesta empresa de comunicação, se

não tiverem paciência quanto a espera da resposta, procurem outra empresa

pois estão na empresa errada!

JOÃO CÂNDIDO –(Levantando e indo até o balcão) Bem já se vê! Você

só está aqui porque é branca! Aposto que qualquer um dos quatro

candidatos negros que saíram pelas portas dos fundos são mais capacitados

do que você!

LUCÍOLA – Com certeza! Para eles serem indicados para saírem pelas

portas dos fundos é a prova disso!

ANTÔNIO – Você é uma branca prepotente e mal criada. Quero falar com

o seu chefe, imediatamente!

LUCÍOLA – (Aciona o telefone) Iara, estou tendo problemas com os três

candidatos que estão esperando há muito tempo. Eles estão nervosos! Por

favor, venha até aqui para tranquiliza-los ou resolver este imbróglio! Não

sei o real motivo da demora!

CENA 5

IARA – ( Entra na sala de recepção) – Bom dia senhores! Qual é o

problema?

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JOÃO CÂNDIDO – Acho uma falta de respeito para os afrodescendentes!

Já sabemos que esta emissora é racista! Agora, desrespeitar e humilhar o

negro já é por demais nojento!

IARA – Mas, qual é a falta de respeito e onde está a humilhação?

ANTONIO – Há mais de uma hora que estamos a espera de uma resposta e

nada.

IARA – Um pouco de paciência não faz mal a ninguém!

DAMIAO – A senhorita diz isso porque é branca! Nunca precisou esperar

mais de trezentos anos de história para tentar reconquistar a nossa liberdade

de fato! Aposto que sói conseguiu trabalhar aqui porque, com certeza,

sentou no colo do chefe!

IARA – De fato sentamos muito no colo dele mas isso não vem ao caso!

ANTONIO – Nós três estudamos nas melhores Universidades nos

formamos, eu fiz doutorado em Lisboa e estagiei na Rádio de Lisboa!

DAMIÃO – Eu fiz doutorado em Johanesburgo, estagiei na British

Broadcasting Corporation of London!

JOAO CANDIDO – Eu, além de ter feito doutorado em Harvard estagiei na

NBC. E você, onde estudou?

IARA – Estudei na USP, e fiz pós aqui mesmo.

JOAO CÂNDIDO – Tá vendo, sem a qualificação que nós temos ela está

trabalhando em uma grande emissora, acho eu porque é branca, bonitinha,

e como bem falou, sentou no colo do chefão!

IARA – (sem perder a calma) – Senhores, sentei muito no colo do chefão e

sinto muitas saudades daquela época! Ter qualificações acadêmicas é muito

importante para a vida profissional mas, se não tiver o essencial não

adiantará nada para continuar a vida nesta nossa sociedade!

JOAO CANDIDO - O quê..........!!!!!( irritado e incrédulo) Está dizendo

que não adianta ter tudo isso se não tivermos o essencial!!! A cor branca

acho eu!!!

IARA – Eu não disse isso! Não ponha palavras na minha boca!

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JOAO CANDIDO – Vamos processá-la por racismo declarado senhorita!

ANTONIO – A emissora é racista! Os brancos foram atendidos primeiro e

saíram pela porta da frente. Os negros foram atendidos depois e saíram pela

porá dos fundos. Uma verdadeira discriminação.

IARA – Pelo jeito vocês poderão também sair pela porta dos fundos! Aliás,

eu o que eu desejo de coração!

ANTONIO – A senhora é um branquela insolente e que debocha muito dos

negros!

IARA – O senhor acabou de usar de racismo reverso contra mim!

JOÃO CÂNDIDO – Quer dizer que nos defender de preconceito agora é

racismo reverso! Até parece que em um mundo construído de ideologia

branca o negro tenha a capacidade de fazer racismo reverso! (debochando)

AUGUSTO –(entrando alegre sorridente) – Olá maninhas do meu coração,

passei aqui apenas para dar uns abraços em vocês. (beija Lucíola, beija

Iara, abraça e faz carinhos) .

ANTONIO – (dirigindo-se a Iara) - A recepcionista é sua irmã?

IARA – Sim.

ANTONIO – Tá explicado. Além de brancas, são irmãs: nepotismo total

nesta emissora.

JOAO CANDIDO – O rapaz é seu irmão adotivo?

LUCÍOLA – Claro que não. Ele é filho do nosso pai e da nossa mãe!

DAMIÃO – Um dos seus pais é branco e o outro é negro. Vocês devem ser

enteadas de um deles.

IARA – Nossos pais são negros e nós duas somos filhas adotivas.

DAMIÃO – Deixe de brincadeiras! Sempre tirando uma com a nossa cara!

Nesta nossa sociedade casal negro adotando branco é mais uma piada!

JOAO CANDIDO – Agora entendi, isso aqui é a pegadinha do Faustão!

Estamos fazendo papel de palhaços, estão gozando com a nossa cara!

DIRETOR SOLANO ( Entra no palco ) –Bom dia rapazes!

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TODOS – Bom dia.

CENA 6

DIRETOR SOLANO – Sou o diretor deste núcleo. Isso aqui não é uma

pegadinha do Faustão não. É de fato uma seleção séria. Ouvi tudo pelo meu

monitor interno o que se passou aqui. Faz parte da seleção e do projeto que

estamos implantando na emissora.

IARA – Vocês já estavam previamente escolhidos como os quatro

candidatos que saíram pela porta dos fundos.

LUCÍOLA – A turma que saiu pela porta dos fundos vai para o novo

estúdio onde o projeto será trabalhado.

IARA – A turma que saiu pela porta da frente vai trabalhar em um projeto

no estúdio localizado na central de produções.

CENA 7

DOUTORA ACIATA – (Entra) – Bom dia pessoal

TODOS – Bom dia!

ACIATA – E sou esposa do diretor, mãe das meninas e do Augusto. Vocês

foram escolhidos para dirigirem os três núcleos criados recentemente que

estarão sobre a minha supervisão. Primeiramente passaremos um vídeo

com um noticiário para depois vocês entenderem a temática do nosso

trabalho embrionário.

AUGUSTO – (pega o controle remoto e liga o aparelho)

CENA 8

A armação simulando um monitor( led) é colocado, e entram os âncoras 1 e

2.

Ancora 1

Adoções por casal branco predominam

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FABIO GUIMARÃES ROLIM

DA EQUIPE DE TRAINEES

De cada 100 mulheres que fazem adoção formal, somente 3 são

negras. Em relação aos homens, 14 são negros a cada 100.

Os dados foram obtidos pela psicóloga e professora Lídia Weber,

da UFPR (Universidade Federal do Paraná), que pesquisou 311

famílias adotivas espalhadas por 105 cidades brasileiras.

Pelo levantamento, 96,2% das mães são brancas, 3,1% são pardas, e

0,2% são pretas. Entre os pais, 85,5% são brancos, 12,8% são

pardos, e 1,2%, pretos.

Ancôra 2

Há menos negros adotando que crianças negras sendo adotadas, o

que indica que parte das crianças negras estejam sendo tiradas dos

orfanatos por pais brancos.

Para Lídia, a pequena presença de pais negros nos números das

adoções pode ser explicada pela marginalização social e econômica

desse segmento da população.

ÂNCORA 1

.

Roberto da Silva, 42, pedagogo e autor do livro "Filhos do

Governo", sobre internos da Febem, concorda e afirma que o

principal na adoção das crianças é a disponibilidade de afeto e não

de dinheiro. Segundo ele, os movimentos negros deveriam se unir

em torno da questão da adoção.

"Se os negros querem espaço na universidade e no mercado de

trabalho, por que não tratar questões como adoção e abandono

infantil na perspectiva de uma questão étnica?", pergunta Silva.

ANCORA 2

Crianças do Sul

A pesquisadora Lídia Weber também fez um levantamento em

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Curitiba, entre 1990 e 1995, que mostrou que 75% das crianças

disponíveis eram adotadas por casais dos Estados do Rio de Janeiro

e São Paulo. A escolha pelo sul do país para adoção, segundo ela,

fundamenta-se numa esperança de encontrar mais crianças brancas

disponíveis para adoção do que em outros Estados.

.

ANCORA 1

Funai proíbe adoção de crianças indígenas abandonada

A Vara da Infância e da Adolescência da Comarca de Campo Grande, no

Mato Grosso do Sul, autorizou judicialmente a adoção de crianças

indígenas que estavam em abrigos em Dourados. Elas eram impedidas de

ser adotadas por não-índios devido à restrições estipuladas pela Funai. A

fundação alega que as crianças perderiam sua "identidade cultural". Sem

opção de famílias indígenas, essas crianças permaneciam por muito tempo

nos abrigos, muitas vezes passando toda a infância e juventude nesses

locais, sem a chance de conviver com uma família ou terem um lar.

ANCORA 2

A adoção das crianças indígenas por famílias sem etnia indígena estão

sendo autorizadas pelo Judiciário, conforme o Estatuto da Criança e do

Adolescente, depois de analisadas caso a caso como manda a lei.

De acordo com a Promotora de Justiça da Infância e Juventude, Fabrícia de

Lima Barbosa, no caso de famílias interessadas e que estão habilitadas na

Comarca depois de preencherem todos os requisitos estipulados pela Vara

da Infância, a Funai é comunicada e se, abstendo de tratar o assunto, a

criança vai para o cadastro de adoção.

AUGUSTO – (SIMULA DESLIGAR O MONITOR)

(ANCORA 1 E ANCORA 2 SAEM DO PALCO E A ARMAÇÃO É

RETIRADA)

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SOLANO – Rapazes, vocês viram pelo vídeo toda a problemática no caso

das adoções envolvendo negros e índios.

ACIATA – Ao tentarmos adotar as meninas, por sermos negros, chegamos

até a sermos presos sob a acusação de pertencermos a uma quadrilha de

tráfico de crianças brancas. Tráfico internacional

SOLANO – Questionaram o fato de sermos negros querendo adotar

crianças brancas. Pareceu a eles o cúmulo do absurdo!

ACIATA – Claro que nesta adoção não foi uma preferência por meninas

brancas. Elas eram filhas de um casal catador de lixo que sempre estava na

frente da universidade. Fizemos amizades com eles.

SOLANO – Viajamos para ao Inglaterra através de uma bolsa concedida

por uma ONG para cursos complementares e, ao retornarmos ficamos

sabendo que um motorista bêbado atropelou o casal matando-os e

machucando uma das meninas. Com a morte do casal de catadores de lixo,

sem parentes que aparecessem para reivindicar a guarda das meninas, elas

foram para um abrigo. Ao descobrirmos, tentamos adotar as órfãs porque

já as conhecíamos e gostávamos muito delas e elas da gente.

ACIATA – Com pesar nós desistimos. Dois anos depois me ligaram do

orfanato dizendo que as meninas não foram adotadas porque a mais velha

ficou com defeito na perna e a mais nova não aceitava ir sem a irmã mais

velha. A Iara não teve os cuidados médicos adequados! Quando fomos a

Cuba, conseguimos uma autorização para que ficasse lá com um casal de

amigos negros e médicos e depois de oito meses o problema da perna fora

sanadao.

IARA – Por várias vezes alguém adotou a Lucíola, mas ela fingia de

deficiente mental como eu ensinava e ela era devolvida. Ai apareceu papai

e mamãe e nos adotou e estamos felizes. Por isso sentei muito no colo

deles!

ANTONIO – Sofreram preconceitos no decorrer dos anos?

ACIATA – Solano e eu fomos proibidos de participarmos de reuniões no

colégio por sermos negros por parte dos pais de alunos, afinal de contas era

uma escola só de brancos. Chutamos o pau da barraca na mídia e as mães

acabaram foi ficando nossas amigas, depois de muitas pendengas..

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DAMIAO – A senhora disse que era uma escola só de brancos!

ACIATA – Sim. Até a confusão que aprontei para matricular o Augusto na

mesma escola. Seria o primeiro negro nela. Foi um rebu danado! Mas

conseguimos já que a ,com muita luta conseguimos mudar a cabeça dos

pais de alunos e hoje a escola é multirracial e se transformou na mais

importante da cidade. É uma referência nacional e internacional.

SOLANO – Certa vez fui buscar as meninas e de repente chegou a policia.

Sem saber o porquê, fui levado a delegacia. Fui acusado de querer

sequestrar as meninas já que, como pai, não precisava de autorização.

Achavam que eu fosse motorista da família.

IARA- Nós não ficamos sabendo de nada. Mamãe chegou com a imprensa

e só depois tomamos conhecimento do entrevero.

SOLANO – Vamos deixar de conversa fiada por hoje e vamos ao que

interessa. Vocês foram escolhidos e coordenarão os núcleos que visam

inserir a maior quantidade de afros descentes na mídia. Não será uma tarefa

fácil!

ACIATA – Chega de associar os produtos de consumo em massa apenas à

classe dominadora.

ANTONIO – É verdade! Folheamos as revistas e não achamos nenhum

comercial com atores e modelos negros. Só nos anúncios de universidades,

do governo etc.

DAMIAO – Poucos índios na mídia também.

JOAO CANDIDO – Iara e Lucíola, desculpa pelo meu destempero.

IARA – Eu é que peço desculpas, não sabia que papai e mamãe estavam já

preparando vocês para entrarem no clima do projeto.

SOLANO – Pessoal, vamos almoçar com o vice- diretor da empresa,

assinar o contrato com vocês e a partir do que aconteceu aqui já quero que

montem uma história parecida com essa de hoje que, aliás, foi bem real.

LOCUTOR – Assim termina a peça, mas, ainda está faltando a mensagem

final. Em determinado momento se falou no “essencial” O essencial é cada

pessoa assumir a sua raça e cor e o que há de melhor dentro de si, buscando

o seu espaço competindo sim, mas jamais olhando o outro como um

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inimigo. Precisamos viver em um mundo multicolorido. Conviver com as

diversidades só servirá para fortalecer a sociedade. Claro que é uma utopia.

“ Mantivéramos firmes! No povo buscáramos a força e a razão.

Inexoravelmente como uma luta que ninguém trava, vencemos. Mas a

verdade lá está escrita . Foi aprendida por nós. Não basta que seja pura e

justa a nossa causa. É necessário que a justiça e a pureza existam dentro de

nós.”

AGOSTINHO NETO – POEMAS DE ANGOLA

fim

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Palavras-Chave: Mídia; Opinião Pública; Racismo

Os meios de comunicação são rodas de fiar o mundo moderno e, ao usar estes meios, os

seres humanos fabricam teias de significados para si mesmos. (THOMPSON, 2002, p. 19)

A Mídia brasileira apresenta-se hoje como um meio ímpar para grande parte da população, no

tocante a busca de informações. Mas além de informar ela forma opiniões, define valores,

comportamentos, moda, isto é, determina em um raio bastante extenso, o que é "certo" ou

"errado" em nossa sociedade.

É nesse sentido que estes veículos de comunicação de massa podem assumir uma nova

postura, que muitas vezes pode ser massacrante para uns e justiceira para outros: o racismo,

além da declarada guerra ideológica contra as políticas de ação afirmativa, que trazem em seu

bojo a promoção da igualdade aos negros no Brasil, colocando assim as vítimas de um longo

processo histórico (os negros e seus descendentes) no banco dos réus.

Este trabalho tem como objeto principal a análise da Mídia brasileira como instrumento de

racismo e interdição do negro no contexto das ações afirmativas.A partir destas percepções,

problematizaremos a respeito de como alguns meios de comunicação de massa, têm se

apropriado de respaldos teóricos e argumentos persuasivos, para combater as políticas de

ação afirmativas, dentre esses meios, o maior alvo tem sido o debate acerca de cotas para

estudantes negros ingressarem nas Universidades.

Este estudo pretende analisar a utilização da Mídia escrita como instrumento de racismo e

interdição do negro nas políticas de ações afirmativas; identificar quais interesses ideológicos a

Mídia escrita apresenta em seu combate contra as ações afirmativas; verificar como os

instrumentos ideológicos de combate às políticas públicas, utilizados pela Mídia escrita, afetam

a implementação de ações afirmativas que favorecem os afro-descendentes[4] e discorrer

sobre como a Mídia escrita interfere na formação da opinião pública, no que diz respeito às

questões étnico-raciais conforme os seus interesses.

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Partindo desse pressuposto podemos levantar a hipótese de que a Mídia contribui para a

manutenção da elite branca brasileira no poder, através do combate ideológico à

implementação de ações afirmativas para negros. Assim, levantamos algumas questões que

nortearão este estudo, como: Que interesses a Mídia defende ao criticar as políticas de ações

afirmativas? Como a Mídia interfere na formação de opiniões públicas contra as políticas de

ações afirmativas? De que forma a manipulação de informações afetam a implementação das

políticas de ações afirmativas?

Diante desses questionamentos, percebemos a necessidade de estudar este tema, tendo como

foco principal conhecer os mecanismos e motivações que a Mídia tem se apropriado para

cumprir o seu "papel", no contexto das ações afirmativas. Nesse sentido, o objeto deste estudo

pretende analisar as relações de poder, o discurso dos dominantes, como instrumento

ideológico de combate às políticas de inclusão do negro e dos afro-descendentes.

O negro na mídia

Por Francisco Fernandes Ladeira em 18/11/2014 na edição 825

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Em 20 de novembro comemoramos o Dia da Consciência Negra. A escolha da data não foi

por acaso. Remete à morte do líder negro Zumbi dos Palmares, ocorrida em 1695.

Conforme é do conhecimento de todos, os negros foram arrancados de suas terras na

África e escravizados durante mais de três séculos e meio no Brasil. Após a abolição da

escravatura, os negros libertos não receberam qualquer tipo de assitência estatal,

transformando-se em verdadeiros párias da sociedade brasileira. Segundo o sociólogo

Florestan Fernandes, o afrodescendente também foi excluído da nascente “sociedade de

classes” no Brasil, pois não exerceu a função de proletariado (destinada ao imigrante

europeu) e muito menos ocupou posições de capitalista. Lembrando um clássico samba-

enredo da Estação Primeira de Mangueira, apesar de livres do açoite e da senzala, os

negros continuam presos na miséria da favela.

Sendo assim, o Dia da Consciência Negra é uma data para lembrar a resistência dos

cativos à escravidão e refletir sobre a atual situação do elemento de cor em nosso país,

principalmente a maneira pela qual ele é retratado na mídia hegemônica. Nesse sentido,

não é preciso uma longa análise hermenêutica para constatar que nos principais meios de

comunicação de massa os negros ainda continuam sendo associados a antigos

estereótipos como a “mulata sensual”, o “bandido” ou o “negro malandro”; e a profissões

consideradas socialmente inferiores, como empregadas domésticas e jardineiros. Nas

campanhas publicitárias são raros os rostos de pele escura.

Libertação inconclusa

O nefasto estereótipo da mulher de cor associado à libido, por exemplo, encontrou nos

meios de comunicação de massa um terreno fértil para a sua propagação. Nas principais

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telenovelas da Rede Globo, geralmente as atrizes negras interpretam a mulher de vida

fácil, a “gostosona” ou a amante. Em 2004, a primeira trama protagonizada por uma atriz

negra (Tais Araújo) trazia o tendencioso título de A Cor do Pecado (evidentemente que o

“pecado” em questão é a luxúria). Conforme bem lembrou Daniel Oliveira, em artigo no

jornal O Tempo, a televisao brasileira não possui um único autor de teledramaturgia negro.

“Muito já foi falado sobre a quase inexistência de protagonistas e atores não-brancos nas

novelas, ou a baixa diversidade dos elencos. Mas pouco ainda se discute sobre a raiz

desse alvejamento: a ausência de negros roteiristas e diretores, nas posições de real

controle criativo dessas produções”, enfatizou Daniel. Já o maior símbolo do carnaval da

emissora da família Marinho é a “mulata Globeleza”, que costuma se apresentar de uma

maneira extremamente sensual. Não obstante, o polêmico seriado Sexo e as Nêga, que

estreou recentemente, ao exibir várias cenas de mulheres negras em situações libidinosas,

só vem a corroborar a tese de que, em pleno século 21, a grande mídia brasileira ainda

continua sendo norteada por um sexismo racista herdado do período escravocrata.

Além da estigmatização em telenovelas, os negros também são ridicularizados nos

programas de humor (o famoso “politicamente incorreto” nada mais é do que um

eufemismo para disseminar preconceitos), tratados de maneira humilhante nos programas

policiais e encontram em publicações da imprensa conservadora (principalmente na

revista Veja) um importante obstáculo para as suas principais causas e reivindicações

(como o sistema de cotas raciais e políticas sociais para a população mais pobre). Em

suma, mais de trezentos anos após a sua morte, a luta de Zumbi dos Palmares pela

verdadeira libertação do negro continua atual

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Adoções por casal branco predominam

FABIO GUIMARÃES ROLIM DA EQUIPE DE TRAINEES

De cada 100 mulheres que fazem adoção formal, somente 3 são negras. Em

relação aos homens, 14 são negros a cada 100.

Os dados foram obtidos pela psicóloga e professora Lídia Weber, da UFPR

(Universidade Federal do Paraná), que pesquisou 311 famílias adotivas

espalhadas por 105 cidades brasileiras.

Pelo levantamento, 96,2% das mães são brancas, 3,1% são pardas, e 0,2% são

pretas. Entre os pais, 85,5% são brancos, 12,8% são pardos, e 1,2%, pretos.

Há menos negros adotando que crianças negras sendo adotadas, o que indica

que parte das crianças negras estejam sendo tiradas dos orfanatos por pais

brancos.

Para Lídia, a pequena presença de pais negros nos números das adoções pode

ser explicada pela marginalização social e econômica desse segmento da

população.

Paulo Sérgio dos Santos, 41, presidente do Angaad (Associação Nacional dos

Grupos de Apoio à Adoção), acredita que a marginalização não deveria ser

considerada pelos negros como um obstáculo à adoção.

"Se a comunidade negra buscasse fortalecer a proposta e a levasse adiante,

muitos problemas poderiam ser minimizados", diz ele, que é filho adotivo.

Roberto da Silva, 42, pedagogo e autor do livro "Filhos do Governo", sobre

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internos da Febem, concorda e afirma que o principal na adoção das crianças é

a disponibilidade de afeto e não de dinheiro. Segundo ele, os movimentos

negros deveriam se unir em torno da questão da adoção.

"Se os negros querem espaço na universidade e no mercado de trabalho, por

que não tratar questões como adoção e abandono infantil na perspectiva de

uma questão étnica?", pergunta Silva.

Representantes de movimentos negros discordam. Para Sueli Carneiro, 51,

presidente da ONG Geledés - Instituto da Mulher Negra, os negros têm a

adoção incorporada em sua estrutura familiar de uma maneira informal.

Ela cita as famílias negras às quais se agregam frequentemente crianças de

outras famílias. "A família burguesa nuclear ainda é um modelo distante da

maioria da nossa população", diz Sueli.

Ivanir dos Santos, 47, que se considera "afrodescendente" e é presidente do

Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), concorda com

Sueli. Para ele, as adoções informais são muito comuns não só entre as

comunidades negras, mas também em outras camadas mais pobres da

sociedade brasileira.

Ivanir acredita que, nos casos de adoção formal, existe preferência por crianças

brancas e que isso serve para desmistificar a democracia racial do Brasil.

"Se o dado de raça e cor não fosse importante, as pessoas adotariam crianças

negras, pois são as que mais precisam de ajuda", afirma o presidente do Ceap.

Crianças do Sul

A pesquisadora Lídia Weber também fez um levantamento em Curitiba, entre

1990 e 1995, que mostrou que 75% das crianças disponíveis eram adotadas por

casais dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A escolha pelo sul do país

para adoção, segundo ela, fundamenta-se numa esperança de encontrar mais

crianças brancas disponíveis para adoção do que em outros Estados.

Santos, do Angaad, considera "restritivo" o perfil determinado pelo adotante

brasileiro. Para ele, o processo de adoção é lento não por morosidade da

Justiça, mas porque os pais exigem que as crianças sejam brancas.

Lídia concorda. "Existem pessoas que estão há mais de dois anos na fila só

porque querem um bebê com até três meses, menina e branca. Alguns preferem

nem adotar", conta a psicóloga.

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outra

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universidade

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Funai proibe adoção de crianças indígenas abandonadas Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com

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A Vara da Infância e da Adolescência da Comarca de Campo Grande, no Mato

Grosso do Sul, autorizou judicialmente a adoção de crianças indígenas que

estavam em abrigos em Dourados. Elas eram impedidas de ser adotadas por

não-indios devido à restrições estipuladas pela Funai. A fundação alega que as

crianças perderiam sua "identidade cultural". Sem opção de famílias indígenas,

essas crianças permaneciam por muito tempo nos abrigos, muitas vezes

passando toda a infância e juventude nesses locais, sem a chance de conviver

com uma família ou terem um lar.

A adoção das crianças indígenas por famílias sem etnia indígena estão sendo

autorizadas pelo Judiciário, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente,

depois de analisadas caso a caso como manda a lei.

De acordo com a Promotora de Justiça da Infância e Juventude, Fabrícia de Lima

Barbosa, no caso de famílias interessadas e que estão habilitadas na Comarca

depois de preencherem todos os requisitos estipulados pela Vara da Infância, a

Funai é comunicada e se, abstendo de tratar o assunto, a criança vai para o

cadastro de adoção.

O juiz da Infância, Zaloar Martins, explica que antes de serem indígenas, essas

crianças são brasileiras e que, portanto, têm o direito de terem um lar. Ele

lembra que há cerca de 10 anos a Funai realizava o cadastro de famílias

indígenas interessadas na adoção, mas o serviço foi extinto porque a entidade

entendeu não ser de sua responsabilidade atuar nesta frente.

“O problema disso é que as crianças são levadas para os abrigos e ficam

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abandonadas lá. Não aparece nenhuma liderança indígena ou parente

interessado em adotar estas crianças. Alguns que apareceram nós chegamos a

ter graves problemas”, disse juiz.

Zaloar esclarece que a Legislação diz que a criança indígena vítima de violência e

que está nos abrigos deve ser preferencialmente adotada por família indígena.

“Porém, esgotadas todas as possibilidades, defendemos que a criança deve ir

para o Cadastro Nacional da Adoção, como acontece com as demais crianças

não-índias. Em Dourados há casos de meninas com 18 anos que passaram a vida

toda no abrigo por falta de outra opção, o que contraria o Eca”, destacou.

A foto Tânia Rêgo, da Agência Brasil e está fora de contexto.

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