Judô - Ética e Educação

download Judô - Ética e Educação

of 158

Transcript of Judô - Ética e Educação

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    1/158

    Muri de Carvalho

    J a d

    tica e educao

    m busca dos princpios perdidos

    1

    uMr

    V i t r i a / E S 2 D 7

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    2/158

    R

    kitor

    Rubens Sergio Rasseli

    V ick-R kitor

    Reinaldo Centoducatte

    S h C R K T A R l A l ) K C l l . l '1 ' R A

    Rosana Paste

    Coordenadora d a F.oii k s

    Elia Marli Lutas

    C O N S I

    .I

    H O

    E D I T O K I A I .

    Fernando Mendes Pessoa Cleonara M. Sdiwatz

    Joo Luiz Calnion Nogueira da Gama Jos Armnio Ferreira

    Juara Gorski Brill.es Maria Cristina C. Leandro Pereira

    Maria Jos Vieira Matos Selma Blom Margotto

    Francisco Mauri Waldir Cintra de Jesus Jnio r

    Mareio Paulo Gzepak

    R

    eviso

    Tnia (Canabarro e Regina Gama

    D

    ksk.n

    Anaise Perro ne

    Editora da Univers idade Federal do Espri to Santo

    Av. Ferna ndo Ferrari , 514 - CEP 29075-91 - Goiabeiras - Vitria - ES

    Tel: (27) 3335-78 52 edutes(y>yahoo.com .br

    Dados Internacionais de CiUalogao-na-publica

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    3/158

    A G R A D E C I M E N T O S

    St

    w

    A g r a d e o o s e n s i n a m e n t o s , p e l o p o u c o q u e p o s s a m t e r s i d o

    a u f e r i d o s p o r m i m , t r a n s m i t i d o s p o r u m a p l i a d e d e v e r d a -

    d e i r o s m e s t r e s d o j u d , u m c o l e t i v o d e Hiishi m o d e r n o s q u e

    t iv e a o p o r t u n i d a d e m p a r d e e n c o n t r a r e m m i n h a l a b u t a

    d i r i a , p r o c u r a n d o c o n s t r u i r u m r a m i n h o (D):

    Sensei e Kodanslia M i g u el S u g a n u m a , co n s c i n ci a h u m i l d e

    p o r e x c e l n c i a , c o m q u e m a p r e n d i o a p r e n d e r a e n f r e n t a r e

    a a r t e d e p e r d o a r o s a r r o u b o s d a j u v e n t u d e .

    Sensei e Kodanslia M i l t o n L o v a t o , a m i g o q u e m e e n s i n o u o

    q u e d e v e r i a f a z e r n a h o r a c e r t a e o q u e n o d e v e r i a f a z e r

    p a s s a d o o m o m e n t o c e r t o. E , l a m e n t a v e l m e n t e , t e v e u m a t e r -

    c e i r a i d a d e i n e s p e r a d a e c h e i a d e s u r p r e s a s n a d a a g r a d v e i s .

    E n f i m , n o s d e i x o u

    Sensei

    H i k a r i K u r a c h i [o m e s t r e d o s m e s t r e s ] , G e o r g e M e h d i

    [ u m m e s t r e i m b a t v e l r e s p o n s v e l p e l o m e u p r i m e i r o D a n ] ,

    K a z u o Y o s h i d a , E u r i c o V e r s a r i e L e o p o l d o d e L u c c a , p e l a

    s a b e d o r i a e e n s i n a m e n t o s a m i m r e p a s s a d o s , m i n h a e t e r n a

    g r a t i d o .

    Sensei e a m i g o I l e l o s i o F e r r e i r a , c o m q u e m a v a n c e i n a a r t e

    d e e n f r e n t a r t a m b m n o s o l o e o p r i n c p i o d a s o l i d a r i e d a d e

    m a n i f e s t o n a h o r a p r e c i s a .

    Sensei A d e l i n o J o s d e S o u s a M e n d e s , p e l o c o l e g u i s m o e p e l o

    e x e m p l o d e h u m i l d a d e .

    Sensei V e r a L c i a S u g a i pe l a s f o r t e s c o n s i d e r a e s e c o n s e -

    lh o s so b r e o s cam in h o s ad o tad o s p o r m im n a f in al izao d o

    p r e s e n t e l iv r o e q u e , d e u m a c e r t a f o r m a , i l u m i n a r a m p o n t o s

    c e g o s e p r e c o n c e i t o s o c i d e n t a i s n a m i n h a a p r o x i m a o c o m

    a c u l t u r a j a p o n e s a .

    Sensei e Kndansha V i n c i u s R u a s F e r r e i r a d a S i l v a , c a m a r a d a ,

    am ig o , " i r m o " m a i s v e lh o , o p a i q u e n o t i v e . Gen e r o so e a

    e x t r a v a s a r b o n d a d e t le q u e m , p o r i n c o n t v e i s h o r a s , " s o r v i "

    m u i t o d e s u a s a b e d o r i a i g n o r a d a p e l a i n s c i c n c i a e p e l o s e c -

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    4/158

    t a r i s m o m r b i d o d o s " t c n i c o s d o s a b e r " d a e d u c a o f s i c a .

    P e l o q u e m e e n s i n o u s o b r e o Bushid, seu s a sp ec to s t e r i co s

    c p r t i co s p o s to s 110 q u o t id i an o d e cad a u m d e n s . E n f im ,

    p e l a s r e p r i m e n d a s e c o n s i d e r a e s f i n a i s s o b r e e s t e l i v r o s e m

    a s q u a i s s e r i a a p e n a s u m p r o j e t o , o m e u m u i t o o b r i g a d o p e l a

    s o l i d a r i e d a d e e m p r e s t a d a .

    A t o d o s , m e u s s i n c e r o s a g r a d e c i m e n t o s .

    A P R E S E N T A O

    w

    E m s e u g a b i n e t e n o P r o j e t o B r a s i s / B r a s i l d o D e p a r -

    t a m e n t o d e L u t a s d a E s c o l a d e E d u c a o F s i ca e E s -

    p o r t e s d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e i r o n a

    U F R J , n o s i d o s d o s a n o s 8 0 d o s c u l o X X , u m P r o f e s s o r

    d e e d u c a o f s i ca , M e s t r e e C o o r d e n a d o r d e i n i c i a o

    p e s q u i s a c ie n t f i c a , d o c e n t e d o c u r s o d e P s - g r a d u a -

    o d e J u d , m e d i t a s o b r e o d e s t i n o d o e n s i n o d o j u d

    c o m o a t i v i d a d e e d u c a t i v a q u e ne c e s s i ta d e u m p r o f u n -

    d o d i s c e r n i m e n t o ( h i s t ri c o , f i l o s f i c o , d i d t i c o , p e d a -

    g g i c o e p o l t i c o ) p a r a q u e n o s e j a m o b s c u r e c i d o s o s

    r e a i s o b j e t i v o s d a e d u c a o . E l e n o c o m o o s t c n i c o s

    e p r o f e s s o r e s f o r a d o m b i t o d a c i n c ia e d a t e c n o l o -

    g i a q u e , p o r e q u v o c o o u p o r c o n h e c i m e n t o s u p e r f i c i a l ,

    i n a d v e r t i d a m e n t e v m t r a n s f o r m a n d o , n o s e u i m a g i n -

    r i o , c r i a n a s e a d o l e s c e n t e s p r a t i c a n t e s d e j u d c o m o

    s e t i v e s s e m p o d e r e s s o b r e - h u m a n o s , p r i n c i p a l m e n t e

    q u a n d o s e t r a t a d e t r e i n a m e n t o p r e c o c e . R e c o m e n d a o

    r e s p e i t o p e l a i n d i v i d u a l i d a d e b i o l g i c a .

    E s s e p r o f e s s o r a q u e m e r e f i r o h m u i t o t e m p o e s t p r e -

    o c u p a d o c o m o d e s v i o d a e d u c a o , u t i l i z a n d o c o m o

    m e i o d e e n s i n o o j u d . F a l o d o D o u t o r e m E d u c a o

    ( r e a ci e c o n c e n t r a o F i l o s o f i a e H i s t r i a d a E d u c a o )

    M u r i d e C a r v a l h o q u e a p r e n d e u a c u l t i v a r a f i l o s o f i a e

    a c i n c i a c o m o u m m e i o d e v e r m a i s l o n g e , m a i s c l a r o e ,

    s o b r e t u d o , p a r a s e n ti r m a i s f u n d o o s e u s e n t i m e n t o d e

    Sensei

    1

    , u m a v ez q u e n a s u a p r t ic a , v a i g r a d a t i v a m e n t e

    ' P a l a v r a r e s p e i t o s a q u e i n d i c a p r o f e s s o r . I n d i c a ( a n t o r e s p e i t o , q u e

    n e m o p r p r i o p r o f e s s o r n o p o d e u s - l a r c l e r i n d o - s e a s i m e s m o . E

    u t i l i z a d a p a r a d e t e r m i n a r o m a i s a l t o g r a u p r e s e n t e 1 1 0

    Do-j.

    T t u l o d a m a i s a l t a h o n r a n o e n s i n o d o B u d .

    A t cn i ca o ra l .

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    5/158

    a o s m n i m o s d e t a l h e s , r e p a s s a n d o o s e u s a b e r e e n r i -

    q u e c e n d o c o m p r a z e r e p a c i n c i a a s e u s a l u n o s . P a r a o s

    Slhan-, M u r i a t i n g i u o kuchi-waza*.

    M u r i d e C a r v a l h o u m d o s m a i s o r i g i n a i s e e s t i m u -

    l a n t e s p r o f e s s o r e s e u d i r i a , e u m d o s m a i s d e s t a c a d o s

    p r o p o n e n t e s d o m o v i m e n t o i n t e l e c tu a l d a d ia l t ic a

    m a r x i s t a , u s a n d o - a p a r a r e v i g o r a r 110 s e i o d a e d u c a o

    f s ic a e d o s e s p o r t e s o e s t u d o d a f i l o s o f i a , d a c i n c i a , d a

    c u l t u r a e d a p o l t i c a , c o m o s i s t e m a f o r a d a i d e o l o g i a d o -

    m i n a n t e ; p a r t i c i p a t i v o , o b j e t i v o e l e g t i m o , c o n s u b s t a n -

    c i a n d o a s c o n c e p e s d a s f i l o so f i a s o c i d e n t a i s e o r i e n -

    t a i s d a n d o n f a s e a o s p r i n c p i o s d a t i c a e d a p o l t i c a n a

    e d u c a o , a c e n t u a n d o o p a p e l q u e d e s e m p e n h a m n a

    v i d a s o ci a l e c o m o d e v e m s e r a d e q u a d a m e n t e e s t u d a -

    d a s , n u m a t e n t a t i v a d e e s c l a r e c i m e n t o s i s t e m t i c o d o s

    p r p r i o s c o n c e i t o s d e s t a s d i s c i p l i n a s e m s u a s r e l a e s

    c o m o c o m p o r t a m e n t o r e a l d o s i n d i v d u o s e g r u p o s n o

    m o m e n t o d e s u a s r e l a e s c o m a e d u c a o e o e n s i n o

    ( d o j u d ) .

    E s t e l i v r o d e M u r i e m s e u s s e is c a p t u l o s b r i l h a n t e -

    m e n t e e s c r i t o s c h e g a e m b o a h o r a , e n r i q u e c e a e s c a s s a

    . ^ b i b l i o g r a f i a e m p o r t u g u s , n o s q u a i s s o t r a t a d a s a s v -

    r i as d i m e n s e s d o e n s i n o d o j u d . L a c u n a p r e e n c h i d a

    c o m p r o f u n d i d a d e . R e l a c i o n a - s e d e f o r m a t r n s d i s c i -

    p l i n a r c o m a h i s t r i a , a f il os of ia , a p o l t i c a , a p e d a g o g i a

    b u s c a n d o a e s s n ci a p e r d i d a d o j u d .

    M a s a l i n h a d e p e n s a m e n t o m a u r i s t a , e x p o s t a a o l o n g o

    d o s e u l i v r o r e v e l a u m a v i g o r o s a c o e r n c i a n a t r a n s m i s -

    s o a o l e i t o r d e i d i a s o r i g i n a i s q u e c o l o c a m ' J u d : t i c a

    e E d u c a o / e m b u s c a d o s p r i n c p i o s p e r d i d o s " n o p l a n o

    d o s b o n s l i v r os d e filo sofia , r e c o m e n d a m o s c o m e n t u s i a s -

    m o a o s s o c i l o g o s h i s t o r i a d o r e s , c i e n t i s t a s p o l t ic o s , p r o -

    f e s s o r e s u n i v e r s i t r i o s d e j u d , e s p o r t i s t a s e j u d o c a s .

    I t a i p u ( R J ) , 1 3 d e m a r o d e 2 0 0 7 .

    Professor Doutor Vincius Ruas Ferreira da Silva

    N D I C E

    I N T R O D U O 1 3

    P O S F C I O 2 3

    P R I M E I R A P A R T E

    TICA E IDEOLOGIA 37

    P r o m i o 3 7

    Captulo 1

    UMA COMPREENSO IDIOSSINCRTICA

    52

    U m a e x p o s i o f i l os f i c a e p o t i c a s u c i n t a 5 9

    U m p o u c o m a i s d a h i s t ri a d o J a p o 6 8

    O s a m u r a i : e n t r e o p c o e o r e a l 7 4

    V i r t u d e m i l i t a r : u m a a n a l o g i a o c i d e n t a l 8 5

    O p r e c e p t o r 9 1

    O r o u n i n 9 4

    m o r a l c o n s p u r c a d a , o seppuku 9 6

    Captulo 2

    PRINCPIOS OU V IRTUDES TICAS

    100

    I n t r o d u o ] 0 0

    O j u d o c a d i a n t e d o Bushid 11 2

    U m a a n t i n o m i a 1 17

    I ) a t i c a co l e t i v a t i c a d o in d iv d u o 1 1 9

    O t i m i s m o i n g n u o 1 27

    A l u t a d o g u e r r e i r o : 1 4 3

    O s i m b o l i s m o 1 5 5

    O Ob i 1 5 6

    O Keiko-gui 1 6 0

    O n da Caixa 162

    O Do-j 1 6 3

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    6/158

    Captulo 3

    JUD E IDEOLOGIA 166

    So b r e a i d eo lo g ia 1 6 6

    A i d e o l o g i a d o m e r c a d o 1 6 8

    A i d e o l o g i a d o j u d 1 7 3

    S E G U N D A P A R T E

    SOBRE A EDUCAO 184

    P r o m i o 1 8 4

    Captulo 1

    O EMBATE PEDAGG ICO 199

    Sa lv em n o ssa s c r i an as 2 0 5

    A i d e o l o g i a d a a p t i d o n a t u r a l 2 1 1

    Ao s in t e r e sse s d a m i n o r i a o s i n t e r e sse s d a m a io r i a 2 2 1

    P o s s i b i l i da d e s p e d a g g i c a s 2 3 0

    A i m p e r t u r b a b i l i d a d e d a c o n s c i n c i a 2 4 4

    A d i f ci l o p o 2 5 0

    A ec l ip se d a r azo 2 6 0

    Captulo 2

    ASPECTOS ESQUECIDOS 263

    O a s p e c t o m o t o r 2 6 3

    Captulo 3

    O

    SENSEI

    275

    GUISA DE CONCLUSO 299

    GLOSSRIO 303

    REFERNCIAS 309

    I N T R O D U O

    m 2 0 0 2 r e e n c o n t r e i o s Sensei M i g u e l S u g a -

    n u m a e M i l t o n L o v a t o , d o i s m o d e r n o s Sa -

    I Smurai

    2

    , c o m q u e m ti v e a o p o r t u n i d a d e d e

    conviver l pelos idos dos anos 60 do sculo pas-

    sado, na Associao Mizuki e Associao Cul tural

    de J u d Bom Re t i ro (So Paulo , Capi t a l) e na es -

    cola de Educao Fs ica da Fora Pbl ica de So

    Paulo . Sobre es t e acontec imento nos vem l em-

    b r a n a u m a p a s s a g e m d e M i y a m o t o M u s a s h i (In

    YOSHIKAWA, 1999, p . 971) que bem re t ra t a os

    r e e n c o n t r o s q u e a l t e r a m n o s s a f o r m a d e v e r e p e n -

    sar a vida:

    D e v e h a v e r d i f e r e n a s e n t r e o q u e e u a c r e d i t o q u e s e j a

    a m i n h a i m a g e m p b l i c a e a r e a l o p i n i o q u e o p b l i c o

    f a z d e m i m . N o e n t a n t o , s o r a r a s as o p o r t u n i d a d e s

    d e v e r - s e a s i p r p r i o p e l o s o l h o s d o s o u t r o s : s p o s s o

    [ l h e s ] s e r g r a t o , q u a n d o p e n s o q u e [ v o c s ] m e d e r a m

    e s s a o p o r t u n i d a d e e n q u a n t o e u d o r m i t a v a .

    Jd

    ~'Em

    japons o verbete Samurai utilizado tanto para o singular quanto

    para o plural, isto . num item ou noutro o verbete no alterado como

    acontece com o portugus. Neste trabalho preferimos assumir a forma ja-

    ponesa e, portanto, no utilizamos o plural aportuguesado.

    Murt de orvalho 1 3

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    7/158

    Em dezembro de 2003, em For t a l eza , soubemos da

    m o r t e d o p r e c l a r o a m i g o e j u d o c a H u g o G o m e s

    Rip ard o [o me lho r a t le t a de ju d d o Es tado do Ce-

    a r de todos os t empos ] e do descaso da Federao

    C e a r e n s e d e J u d d i a n t e d o s eu f a l e c im e n t o . L a -

    mentave lmente , t em s ido as s im: enquanto v ivas e

    a tuantes a s pes soas s o louvadas (nem todas ) , i na -

    t ivas so l anadas soc iedade como bagao d e cana

    da qua l toda s e iva fo i re t i rada . Quando mor tas en-

    t o s o re l ega das ao p do esquec im ento . Tr i s t e so-

    c i e d a d e , t r i s t e s h o m e n s e m u l h e r e s q u e e s q u e c e m

    to fac i lme nte s eus mor tos . Ah E que sobre sua

    m e m r i a t r i p u d i a m .

    De vol t a a Campinas (SP) , aps a lguns encont ros

    fora e nos enc on t ros da L iga c ie Ju d Paul i st a co m

    os

    Se-nsei

    Migue l Suganuma, Mi l ton Lova to , Durva l

    Ren te e Yoshio Anra ku , e no Rio de J an e i ro com os

    Sensei Vincius Ruas e Maurcio Sabat t ini , com os

    qua i s mant ivemos longas conversas sobre o jud ,

    a soc iedade e sobre "o esp r i to comba t ivo dos que

    t r i l ham o cam inh o das a rt e s de comba te" , s en t imos

    a neces s idade de esc rever a lgumas pginas sobre

    a re l ao en t re o Jud e oBushid, uma espc ie de

    c r t i ca e cont r ibu io da " t i ca guer re i ra" ao jud

    como proces so educa t ivo de c r i anas e de adoles -

    centes .

    Pa ra ns as v i ses de mundo numa dada soc iedade

    so condic ionadas por uma "equao ex i s t enc ia l "

    d e t e r m i n a d a p e l a p o s i o q u e o s h o m e n s e m u -

    lhe res ocupam na es t ru tura soc ia l . O fa to de pe r -

    tencer a uma ou a outra c lasse social predispe e ,

    na maior i a das vezes de te rmina , a cada pes soa , t e r

    da pr pr i a soc iedade a v is o que cor resp on de aos

    A M a u n de w uatho

    i n t e res ses da c l a s se qua l pe r t ence ou qua l e s t

    v i n c u l a d a .

    H i s t o r i c a m e n t e , h o m e n s e m u l h e r e s s o c o n d i -

    c ionados pe los in t e res ses de c l a s se s em que d i s to ,

    gros so modo, t enham consc inc ia , po i s a a t i tude

    e s p o n t n e a a s s u m i d a e m r e l a o e s t r u t u r a s o c i a l

    c o n s i s t e e m c o n s i d e r - l a u m p r o d u t o d a n a t u r e z a

    e no da h i s tr i a . Numa soc iedade capi t a l i s t a , s e r

    r i co t o na tura l quanto t e r e s t e ou aque le t ipo

    f s i co a re f l e t i r a impos io do consumo conspcuo .

    Antes de qua lquer re f l exo c r t i ca , c r i anas e ado-

    l e s c e n t e s s o q u a s e q u e i m p e d i d o s d e d e s e n v o l -

    v e r o e s t g i o d o p e n s a m e n t o a b s t r a t o , c o m o q u e

    aque les que nasce ram na c l as se oper r i a cons ide -

    r e m n o r m a l e n a t u r a l s u a p o b r e z a , su a c o n d i o d e

    o p r i m i d o s e a e x t o r s o f e i t a n u m f u t u r o p r x i m o

    sobre s eu t raba lho .

    C a d a h o m e m e c a d a m u l h e r p e r t e n c e m , n e c e s s a -

    r i amente , a uma de te rminada c l as se soc ia l , e s t e o

    pres supos to ex i s t enc ia l , i nc lus ive de toda ideologia ,

    t r a d u z i d a e m t e r m o s d e i d i a s c l a r a s n o c a m p o d a

    c o n s c i n c i a . E m se t r a t a n d o d a i d e o l o g i a d o m i n a n -

    te as idias veiculadas no so claras , obscuras , sob

    a s q u a i s a b u r g u e s i a t e m u m d u p l o p a p e l : e x e r c e r

    e j u s t i f i c a r s u a d o m i n a o e c o n f o r m a r o s d o m i n a -

    d o s p a r a q u e a c e i t e m o p r o c e s s o d e d o m i n a o .

    A i n d a q u e n o t e n h a m o s c o n s c i n c i a o u n o q u e i -

    r a m o s a ce i ta r , t o d o s so m o s m e m b r o s o u " r e p r e s e n -

    t an tes " de uma de te rminada c l as se soc ia l : da domi -

    n a n t e o u d a su a a n t p o d a , o p r o l e t a r i a d o . D e s t a r t e ,

    no podemos ev i t a r que a t i ca sob a qua l pauta -

    mos nos sa conduta , bem como os ju zos de va lor

    q u e e n u n c i a m o s a r e s p ei t o d o m u n d o e d o h o m e m

    M d u r i d e o r u a / h o 1

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    8/158

    no mundo, ref l i ta o jogo de interesses da classe so-

    c i a l ma te r i a l e in t e l ec tua lmente dominante .

    A i d e o l o g i a d o m i n a n t e d e s d o b r a d a e m i d i a s c o n -

    fusas , i nve r t idas , cor responde rac iona l i zao e

    jus t i f i cao no dos in t e res ses em gera l , mas dos

    interesses e privi lgios da classe que tem em suas

    mos o poder de decidir , a c lasse qual por ca-

    minhos d ive rsos a ma ior pa r t e da soc iedade es t

    v inculada .

    Es ta condio ex i s t enc ia l "de te rmina" que a forma

    como cada pes soa pensa e s e repor t a soc iedade ,

    suas re l aes soc ia i s e de produo , como enten-

    de a h i s tr i a cons t ru da sob a g ide da cont rad io

    ou das lutas sociais de classe, da conciliao ou da

    colaborao en t re a s c l a s ses h i s tor i camente an t i t -

    t i c a s , d e m o n s t r a c l a r a m e n t e c o m o c o n d i c i o n a d a

    precoce e inconsc ien temente pe los in t e res ses de

    c las se , g ros so modo, da c l a s se dominante e , c i r -

    cuns tanc ia lmente , da c l a s se dominada .

    E n t r e t a n t o , o " c o n d i c i o n a m e n t o " l e v a d o a t e r m o

    pe los ma i s d ive rsos mecani smos de d ivulgao e

    inculcao de id ias , p re fe renc ia lmente a s id ias

    da c l as se dominante , no consegue fura r o ce rco

    dia l t i co da cont rad io . Pari passu com as idias

    ens inadas que ra t i f i cam os pro je tos e in t e res ses da

    c las se dominante , ou t ras surgem como re f l exo dos

    in te res ses e demandas da c l a s se soc ia l suba l t e rna

    ou do anse io do conjunto dos opr imidos .

    N o j og o h e d i o n d o d a s o c ie d a d e d o c o n s u m o c o n s -

    p cuo , somos , em l t ima ins t nc ia , condic ionados

    pe la ideologia dom inan te [e , como j d i s s emo s ,

    c i rcuns tanc ia lmente a t acados por sua an t t e se ] que

    expl c i t a e impregnada , marca e demarca nos sa

    S M u r i de atoalho

    c o n d u t a e n o s s o p e n s a m e n t o . T o d a v i a , c o m o m e m -

    b r o s a ti v os d o j o g o j o g a d o , p r o c u r a n d o i n v e r t e r a

    d i r e o d a r o l e t a , s e m p r e q u e n o s p r o n u n c i a m o s

    em pbl i co sobre a ao dos profes sores de jud

    ou sobre o d i s curso hegemnico na educao f s i -

    ca , nos vem l embrana o "Sone to 70" de Shakes -

    p e a r e :

    P o r q u e m e u v e r s o n o s e e n c h e d e f o r a n o v a ?

    P o r q u e n o v a r i a , p o r q u e s e e s q u i v a a m u d a r ?

    P o r q u e , p a s s a d o o t e m p o , n o s e r e n o v a m e u o l h a r ,

    C o m n o v o s m t o d o s e n o v a s a l i a n a s ?

    P o r q u e a i n d a e s c r e v o a q u i l o , o m e s m o d e s e m p r e ,

    E e s c o n d o a i n v e n o n o m u l t i f o r m e s e m p r e i g u a l ?

    D e s o r t e q u e c a d a p a l a v r a r e p e t e o m e u n o m e

    E m o s t r a o n d e n a s c e u e d e o n d e s e o r i g i n a .

    O i n q u i si t r i o " s h a k e s p e a r e a n o " r e v e r b e r a e m n o s -

    sa consc inc ia de ixando-nos s em poss ib i l idade de

    r e s p o n d e r p o r q u e , p e l o m e n o s , n o s s o " o l h a r n o

    s e r e n o v a c o m n o v o s m t o d o s " , e p o r q u e c o n t i n u -

    amos a e sc rever e d i ze r "o mesmo" , o "de s empre" ,

    s e m e s c o n d e r , p r o c u r a n d o d e s v e l a r q u e o m u l t i -

    f or me s e m p r e i g u al a f o r m a m a n h o s a e n c o n t r a -

    da pe los in t e l ec tua i s conse rvadores pa ra ocul t a r

    s eu compromis so pol t i co com a c l a s se dominante .

    Cada pa lavra e sc r i t a e d i t a , a l m de repe t i r o nos -

    s o n o m e , m o s t r a o n d e n a s c e m o s , d e o n d e s o m o s

    o r i u n d o s , q u a l a n o s s a c o n c e p o d e m u n d o e

    q u a i s o s p r i n c p i o s q u e d e f e n d e m o s .

    C o n t i n u a m o s c o n j u g a n d o v e r b o s a r r a n h a d o s , m a s

    n o s u p e r a d o s p e l o t e m p o h i s t r i c o , p o s t o q u e

    s e u s p r e s s u p o s t o s p e r m a n e c e m c a d a v e z m a i s v i -

    vos . Por que s e r que nos esquivamos mudana ,

    no renovamos nos so o lha r , nos sa concepo de

    Muri de orvalho 1

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    9/158

    m u n d o , n e m n o s i n t e r e s s a m o s p e l o s " n o v i d a d e i -

    ros " m todos?

    Aqui nos vem l embrana a fa l a de um prec la ro

    m i l it a r c u jo c o d n o m e Daguineau, diz e le : em nos-

    s a j u v e n t u d e o s j o v e n s s o n h a v a m e m t r a n s f o r m a r

    o m u n d o ; o s o p o r t u n i s t a s e o s c o r r u p t o s e r a m m i -

    norias , os agiotas , aqueles que viviam a extrai r sua

    luxr i a da mis r i a a lhe ia , exec rados e exc lu dos da

    vida soc ia l Lamentave lmente , e s se t empo pas sou ,

    e nes te , a exceo virou a regra .

    Pos to , nos so l abor t eor t i co pe rma ece enc imado

    e m d u a s c o n h e c i d a s p e r g u n t a s :

    por onde comear

    e o que fazer?

    S e m r e s p o n d - l a s p e r m a n e c e m o s s e m s a b e r p o r

    que ag imos , como agimos , como pensamos de

    d e t e r m i n a d o m o d o . I g n o r a n d o a h i s t r i a , l i m i -

    t amo-nos a reproduz i r os va lores e a s normas de

    conduta c i a c l a s se dominante . Por t an to , prec i so

    a ten ta r pa ra a s pa lavras de um sbio a l emo de

    barba es t ranha do s culo XIX, pa ra quem as id ias

    dominantes de uma poca e ram as id ias da c l a s se

    dominante , po i s a c l a s se que t em em seu poder ou

    em suas mos os me ios de produo mate r i a l , t em

    t a m b m o p o d e r m a t e r i a l e o s m e i o s d e p r o d u o

    intelectual em suas mos .

    Quanto a i s to , pensamos no haver dvidas . No

    temos dvidas No obs tan te , a s sen tad a sobre doi s

    p i l a res d ive rg entes h i s tr i ca e soc ia lmente c ons t ru -

    dos , a soc iedade bras i l e i ra cont inua ge rando nu-

    anas e f ragmentaes com o in tu i to de confundi r

    a forma de ocul t ao da rea l idade . Ass im, nenhu-

    ma dvida nos assal ta , pois :

    Q Mauri de arvalhu

    S e m d v i d a o n o s s o t e m p o p r e f e r e a i m a g e m c o i s a , a

    c p i a a o o r i g in a l , a r e p r e s e n t a o r e a l i d a d e , a a p a r n -

    c i a ao se r . . . E l e co n s id e r a q u e a iluso sag r ad a , e a ver-

    dade p r o f a n a . E m a i s : a s e u s o l h o s o s a g r a d o a u m e n t a

    m ed id a q u e a v e r d ad e d ec r e sce e a i l u so c r e sce , a t a l

    p o n t o q u e , p a r a e l e , o cmulo da iluso f i c a s e n d o o cmu-

    lo do sagrado ( F E U E R B A C H , 1 9 8 6 , p . 3 2 - 3 3 ) .

    A o c o n t r r i o d o s q u e v i v e m a " s e p a r a o c o n s u -

    mada" , o que somos co inc ide t an to com a nos sa

    p r o d u o , c o m o q u e p r o d u z i m o s , q u a n t o c o m o

    m o d o c o m o p r o d u z i m o s . O q u e s o m o s d e p e n d e

    d a s c o n d i e s m a t e r i a i s d e n o s s a p r o d u o , s o m o s

    o s p r o d u t o r e s d e n o s s a s p r p r i a s r e p r e s e n t a e s ,

    id ias , pensamentos e t eor i a s . A nos sa consc inc ia

    no pode s e r ou t ra co i s a s eno "o s e r consc ien te ,

    e o s e r dos homens o s eu proces so de v ida rea l "

    (MARX, 1989, p .28-37) . Somos a s n t ese de todas

    as re laes sociais .

    P a r a n s , a b a s e d a e s t r u t u r a o d o p e n s a m e n t o ,

    c o m o d a g n o s e o l o g i a [ t e o r i a d o c o n h e c i m e n t o ] , d a

    f i losof i a e do conhec imento c i en t f i co [ep i s t emolo-

    g ia ] , a s cende da t e r ra ao cu , mani fes t ando-se de

    m od o op os to pe rspec t iva f i losf ica idea l i st a q ue

    desce do c i i t e r ra . Acordes com aque le s b io de

    b a r b a e s t r a n h a :

    N o p a r t i m o s d a q u i l o q u e o s h o m e n s d i z e m , i m a g i -

    n a m o u r e p r e s e n t a m , d o s h o m e n s p e n s a d o s , i m a g i n a -

    d o s e r e p r e s e n t a d o s ; p a r t i m o s d o s h o m e n s r e a i s e , a

    p a r t i r d o s e u p r o c e s s o d e v i d a r e a l , e x p o m o s t a m b m

    o d e s e n v o l v i m e n t o d o s r e f l e x o s i d e o l g i c o s e d o s e c o s

    d e s s e p r o c e s s o d e v i d a ( M A R X , 1 9 8 9 , p . 3 7 ) .

    Sobre es se des ide ra to , no t ra t amos de expl i ca r a

    pr t i ca soc ia l do jud a pa r t i r da id ia que t emos

    des ta "a r t e de comba te" , mas de expl i ca r a s forma-

    Jd

    M u ri d e a r oa l ho 1 9

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    10/158

    es ideolgicas - i d ias , pensamentos , t eor i a s sobre

    o ju d - a par t i r d a prt ica social e materia l do s ho-

    m e n s , f a z e n d o j u d . O s q u e p r e d i c a m o c o n t r r i o

    as sumi ram a i luso sobre "o rea l como resu l t ado

    do pensamento , que s e encont ra em s i mesmo, s e

    aproxima em s i mesmo e s e movimenta por s i mes -

    mo" (MARX, 1983, p.219).

    Pe rpas sados pe lo r id cu lo dout r in r io do d i s cur -

    so dominante sobre a d ive rs idade ideolgica ou a

    p lura l idade de id ias e de mtodos , pe lo

    ecletismo,

    a

    g r a n d e m a i o r i a d o s p r o f e s s o r e s d e j u d q e c o n h e -

    cemos ( I ) p re fe rem no "escovar a fe ra a cont rape-

    lo" , ( II) prat icam ges tos c ivi l izados e conservadores

    enquanto s o in t rans igentes e in to le ran tes com a

    c r t i ca or todoxa ; ( I I I ) s eguem em suas caminhadas

    como aprendizes dos "profe tas " de dez centavos ,

    reproduz indo es tpidas a t i tudes vaz ias de s en t ido

    p e d a g g i c o .

    Para ns es t bem claro, como dir ia Vol ta i re (2001),

    ser preciso manter a cr t ica implacvel aos mestres

    que prodiga l i zam suas impos turas e em sua inpc ia

    rec i t am a rgumentos e svaz iados de s en t id e s ign i -

    f icado. No ju d , no precisam os de profetas capazes

    de fa l a r do dese r to e conta r o que s abem de um

    passado mal v iv ido e o que pensam do porv i r

    P rec i s amos de militantes reeducados e capazes de

    vive r e l eva r a t e rmo a e r rad icao da mis r i a do

    mundo, "de ident i f i ca r a s novas formas de explo-

    rao e sof r imento , e de organiza r , a pa r t i r des sas

    formas , p roces sos de l ibe r t ao , p rec i s amente por -

    que t m par t i c ipao a t iva em tudo i s so" (NEGRI ,

    2 0 0 1 , p . 2 3 ) .

    Prec i s amos de militantes q u e p r e g u e m e r e a f i r m e m ,

    M a u r i d e a r u a / h o

    c o n t r a a c o n c e p o d e m u n d o h e g e m n i c a n e s t e

    pa s , a imbr icao do jud com a pol t i ca , a econo-

    mia e a ideologia , p rocurando l iv ra r e s t a "a r t e de

    combate" do az inhavre pol t i co dos pol i t i cas t ros .

    P r e c i s a m o s d e militantes q u e r e p o r t e m q u e a

    e d u -

    cao pol t i ca n o j u d , a o c o n t r r i o d a e d u c a o

    of i c i a l , no pode e no deve s e r uma s imples e bem

    a z e i t a d a p e a d a m a q u i n a r i a d e r e p r o d u o s o c i a l ,

    mas ca ixa de res sonnc ia das cont rad ies soc ia i s

    da sociedade capi ta l is ta na qual a luta de classe

    con t ra c l a s se s eu mb i l e cen t ra l . O ju d com o

    escola pa ra a v ida - caminho do guerre iro - p o d e

    se r um e lemento h i s tr i co e po l t i co no proces so

    revoluc ionr io ed i f i cao da soc iedade soc ia l i s t a .

    Es tas inicia is e s inceras palavras podem levar os le i -

    t o r e s s u s p e n s o d a l e i t u r a e m a n d a m e n t o , p o r

    c o n s i d e r a r e m t r a t a r - s e d e u m l i v r o p a n f l e t r i o a

    m i s t u r a r j u d e s o c i a l i s m o , p o r t a n t o , a f a z e r p r o -

    paganda pol t i ca pa r t id r i a . Todavia , venc ido o

    preconce i to in i c i a l cont ra o panf l e t r io , com ce r t e -

    z a c o m p r e e n d e r o p o r q u e f iz em o s e st e i n t r i t o e ,

    o b v i a m e n t e , c o n s e g u i r o e n t e n d e r m e l h o r o a u t o r

    e suas pre t enses .

    Face aos emba tes que s e ag igantam na v ida quot i -

    d iana do bras i l e i ro , na pre t enso de esc rever ma i s

    um l ivro fomos acomet idos de um ins l i to t emor

    dian te do fa to de que as t e ses que procuramos de -

    fender nes t e t ex to s o polmicas medida que t ra -

    t a m d a r e l a o t n u e e p r o f u n d a e n t r e J u d , t i c a

    e Educao , no d i s soc iados dout ra re l ao com a

    pol t ica , a economia e a f i losofia .

    A

    e d u c a o p o l t i c a ,

    t a l c o m o a e n t e n d e m o s ,

    p r o c e s s o p e d a g g i c o p r o d u t o e c o n d i o d a l u t a

    M u r i de orvalho 2

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    11/158

    de classes . Por is to, e legemos duas provocaes to-

    madas de emprs t imo a um c ios ma i s ve lhos or -

    cu los da Academia a l em e que t o bem re t ra t am

    a a t u a o d e m u i t o s d o s p r o f e s s o r e s d e j u d q u e

    conheo, salvo raras excees :

    I . Q u e m c o n s i d e r a p r i m e i r o a s r v o r e s , e s o m e n t e e s t

    p e n d e n t e d e l a s , n o s e d c o n t a d e t o d o o b o s q u e , s e

    p e r d e e s e d e s n o r t e i a d e n t r o d e l e " , i s t o , " p o r c u l p a

    d as r v o r e s , n o se v o b o sq u e ( HE GE L , 1 9 7 6 , p . 2 5 ) .

    I I . Domaligno se livraram.; o mal ficou; e o m a l n o v e v e -

    z e s p i o r q u e a n t e s , p o r q u e n e l e s e c o n f i a s e m n e n h u -

    m a su sp e i t a n em c r t i c a . . . ( HE GE L , 1 9 9 5 , p . 1 9 ) .

    2 2 M f iuri dv arualho

    P 0 S F C I 0

    / " g u a n d o t e r m i n a m o s e st e l iv ro , d i r ig i d o t a n-

    l

    c%

    | t o a o s a ca d m i c o s c o m o a o s n o a c a d m i -

    ^ f c ^ > c o s i n t e r e s s a d o s n o e s t u d o e c o m p r e e n s o

    d a r e l a o e n t r e Buskid, J u d , t i c a e E d u c a o ,

    e n t e n d e m o s s e r n e c e s s r i o c o n s t r u i r a s l i n h a s q u e

    s e s e g u e m l o g o a b a i x o e q u e e x p r e s s a m n o s s a p r e -

    o c u p a o n o a p e n a s c o m a p r t i c a d o j u d , m a s ,

    f u n d a m e n t a l m e n t e , c o m o p r o c e s s o e d u c a c i o n a l Jad

    e m a n d a m e n t o n e s t e p a s f o r m a o d e u m h o -

    m e m e d e u m a m u l h e r c r t i c o s e r e v o l u c i o n r i o s .

    A s s u m i n d o a c o n d i o d e p r o f e s s o r d e j u d , p a r a

    q u e m a p r t i c a e a t e o r i a e s t o p e r f e i t a m e n t e i m -

    br i cadas , t emos como a t r ibu to pol t i co a a r t e da

    p r o v o c a o o u d a querela. M a s c l a m a m o s a p a c i n -

    c i a d o s l e i t o r e s p a r a q u e ' n o s e p e r c a m n o r e d e -

    m o i n h o d o q u e e s c r e v e m o s , p o i s n o s o m o s e s p e -

    c i a l i s t a s e m n a d a , n e m e m n i n g u m , s o m o s a p e n a s

    um t ipo de su je i to que gos ta de s e me te r no que

    no de sua conta , uma espc ie c l e pensador in -

    t r a n s i g e n t e S o m o s u m p r o f e s s o r p r o d u t o d e u m a

    s o c i e d a d e d e s p e d a a d a , s u a t e s t e m u n h a , p o r q u e

    i n t e r i o r i z a m o s s e u d e s p e d a a m e n t o e , e n q u a n t o

    ta l , somos um produto h i s tr i co (SARTRE, 1994) .

    M u vi ci e o r va l ho 2 3

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    12/158

    No somos aque le t ipo de profes sor que s e v l an-

    ado na cons t ruo a rb i t r r i a ou a exe rc i t a r - s e so-

    bre uma d ia l t i ca imaginria, a o c o n t r r i o , m o n t a -

    d o n a r e a l i d a d e o b j e t i v a , p e r s p e c t i v a n d o s e m p r e

    a an l i s e concre ta da rea l idade concre ta na qua l

    a t emt i ca em ques to t em os s eguin tes pr inc p ios

    com o ponto de pa r t ida :

    I . No so os pensamentos e os dese jos de homens

    e mulheres que fazem da v ida e das c i rcuns tnc ias

    mate r i a i s condies econmicas que formam a base

    de todas da todas as manifes taes intelectuais das

    s o c i e d a d e s h u m a n a s .

    I I . C a d a m o d o d e p r o d u o o u c a d a f o r m a d e s o -

    c i edade t em as suas prpr i as id ias e s aberes que

    lhes so inerentes .

    Em face da observada dispora social que se des-

    cor t ina e sob a " s eparao consumada" t raba lha -

    mos duas h ipteses : p r ime i ra , os profes sores de

    jud , com ra ras excees , cor roboram sem que

    d i s t o t e n h a m c o n h e c i m e n t o c o m a m a n u t e n o d a

    pol t i ca e da ideologia da c l a s se dominante des t e

    pa s v i a pr t i ca pedaggica do jud; s egunda , o

    jud um apara to ideolgico (e repres s ivo) mani -

    p u l a d o p a r a " e m b r i a g a r " a j u v e n t u d e m a n t e n c l o - a

    t ranqi l a numa cul tura s em sobres sa l to neces s r i a

    es tabi l idade da sociedade capi ta l is ta .

    Pos tas a s h ipteses pe rguntamos : o que que

    a p r e n d e m o s [ e n s i n a m o s ] n o e c o m o j u d ?

    A p r e n d e m o s / e n s i n a m o s a l g u m savoir-faire tcnico

    (caminhar, rolar , projetar , imobi l izar . . . ) ou rudi-

    m e n t o s d e

    saberes

    "c i en t f i cos " (compos io corpo-

    ral , l imiar de lactato, idade biolgica. . . desrespei ta-

    M a u / t de aruolho

    da) . No aprendemos as c i nc ias , mas a consumi r

    resu l t ados "c i en t f i cos " ; no aprendemos a c i nc ia

    v iva , mas uma "c inc ia mor ta" e s em pre tenso em

    l e v a n t a r p r o b l e m a s q u e d e v e m s e r r e s o l v i d o s e m

    prol de todos .

    Nes te s en t indo , sus t en tamos duas t e ses :

    T e s e 1 - O j u d n o p o d e e n o d e v e s e r e n t e n d i -

    d o , u n i c a m e n t e , c o m o l c u s d e r e p r o d u o d a s r e -

    l aes soc ia i s de produo , ignorando-se que ne le

    t ambm se mani fes t a como fa tor des sas re l aes a

    lu ta de c l a s ses na qua l e s t o obje t ivos an tagnicos

    aos da "ordem" es t abe lec ida .

    Tese 2 - O s profe s sores de ju d , l imi t ados po r

    in te res ses e spontneos e imedia tos de c l a s se , no

    c o n s e g u e m u l t r a p a s s a r , n a c o n s i d e r a o d o s p r o -

    blemas sociais especf icos , o plano da superf c ie e o

    l imite das apa rn cias . Por is to, com ra ras exce es , 1

    no con seg uem escapa r im pre gn a o da ideolo- Jd

    g i a d o m i n a n t e c o m a q u a l c u m p r i r o a c o n t e n t o

    s u a s t a r e f a s c o m o q u a d r o s a u x i l i a r e s n a e x p l o r a o

    e e x t o r s o d a s n o v a s g e r a e s d e t r a b a l h a d o r e s .

    N o o b st a n te , o j u d p o d e d e s e m p e n h a r u m a i m -

    p o r t a n t e t a r e f a n o d e s e n v o l v i m e n t o m u l t i f a c e t a d o

    dos s e res humanos . Pa ra i s to ns , p rofes sores de

    j u d , d e v e r e m o s t r a b a l h a r p a r a q u e b r a r n o s s a s

    p r p r i a s c a d e i a s q u e n o s p r e n d e m a o s i n t e r e s s e s

    d o c a p i t a l m a i s f o r t e m e n t e d o q u e P r o m e t e u a c o r -

    r e n t a d o a o s R o c h e d o s d o C u c a s o .

    prec i so t e r c l a ro que a pe rspec t iva hegemnica

    n o j u d c o a d j u v a v e lh a s c o n c e p e s d e m u n d o e

    v e l h o s p a r a d i g m a s . s i n t o m t i c o q u e t o d a r a d i c a -

    l i d a d e s e j a i m e d i a t a m e n t e d e s q u a l i f i c a d a m e d i -

    M d u r de arvaho 2 5

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    13/158

    da que a prt ica ideolgica e pedaggica judos t ica

    es t enc imada no s imples "educar" pa ra a obedi -

    nc ia , submis so e ace i t ao volunt r i a da s e rv ido

    aos in t e res ses de u rna c las se dom ina nte d i s so lu ta .

    pos sve l coadju var a cons t ru o co le t iva da cons -

    cincia infant i l e adolescente para cr i t icar , afrontar ,

    r e p t a r , r o m p e r g e r a n d o e s p a o s d e v e r d a d e i r a l i -

    be rdade enquanto cons t ruo h i s tr i ca e co le t iva?

    Se no levarmos em conta a s ignif icao social do

    a to de educar , acabamos masca rando os rea i s ob-

    j e t ivos soc ia i s da educao e , no tadamente , da sua

    impor tnc ia na moderna d iv i s o do t raba lho .

    Diss imulando as des igualdades sociais e as lutas

    por e l a s engendradas , co locamos as ques tes so-

    ciais como sendo especf icas ou inerentes a essa

    r e a d o c o n h e c i m e n t o h u m a n o , i s o l a n d o - a s d a r e -

    a l idade econmica , soc ia l e cu l tura l , e camuf lamos

    o p a p e l d a e d u c a o n a m a n u t e n o d o j o g o d a s

    foras cons e rvad oras ou jog o da d i re i t a .

    Ass im, cons ide rando a neces s idade de subs t i tu i r

    o m todo t rad ic iona l de es tudo das id ias sobre o

    j u d e d o p r p r i o j u d p o r o u t r o m t o d o , a b r a n -

    gente , h i s tr i co e d i a l t i co , nos vem mente quo

    superf ic ia l e pobre o conhecimento f i losfico, po-

    l t ico e his trico produzido sobre e nes ta "arte de

    c o m b a t e " . O c o n h e c i m e n t o a f i r m a d o c o m o i m p r e s -

    c i n d v e l c o m p r e e n s o d o j u d e s u a p r p r i a

    p r t i c a , a i n d a q u e m u l t i f a c e t a d o , p a r a d o x a l m e n -

    te r i co apesa r da profunda c r i s e de va lores na qua l

    todos es t amos submersos , re f l exos da decadnc ia

    moral da sociedade bras i le i ra .

    A abordagem do jud art iculado com a f i losofia

    S M u r i de

    a t o a l h o

    dia l t i ca , s a lvaguardadas as d i fe renas t er i cas e

    metodolgicas de cada uma des sas reas do co-

    n h e c i m e n t o h u m a n o , i n d i s p e n s v e l c o n s t r u o

    d a

    reflexo crtica

    e da nova s ignif icao das idias

    p e d a g g i c a s e m a n d a m e n t o n a p r t i c a j u d o s t i c a .

    Loca l i za r a s cont rad ies en t re o pensa r e o ag i r ,

    a l m d e s e r r e l e v a n t e s o c i a l m e n t e , d e f u n d a m e n -

    t a l i m p o r t n c i a e im p r e s c i n d v e l c o m p r e e n s o d a

    joga ta soc ia l , po l t i ca e pedaggica que s e desenro-

    la t a m b m n o j u d .

    D e v e m o s r e p o r t a r n o h a v e r e s t u d o s q u e r e l a -

    t em se na d iv i s o do t raba lho o profes sor de jud

    um in te l ec tua l ou um t raba lhador . Def in ida t a l

    condio h i s tr i ca , uma ques to pol t i ca s e reve la :

    a quem se rve e cont ra quer r i l u t a o profes sor de

    j u d ?

    S o b a s l e n t e s d e u m a o u t r a c o n c e p o d e m u n d o

    a n t i t t i c a c o n c e p o d e m u n d o d o m i n a n t e n a s o -

    c i e d a d e e n o j u d , a n a l i s a m o s a p r t i c a p e d a g g i c a

    d o j u d , d a q u a l s o m o s p a r t e o r g n i c a , p a r a e v i-

    d e n c i a r o s f u n d a m e n t o s t i c o s d e s s a p r t i c a , b e m

    c o m o o s p r e s s u p o s t o s d a d i m e n s o p o l ti c a d o p r o -

    c e s s o e d u c a c i o n a l , p o r e n t e n d e r m o s c o m o i m p r e s -

    c i n d v e i s c o m p r e e n s o d o m o d e l o e d u c a c i o n a l

    of i c i a l impos to soc iedade bras i l e i ra e a condic io-

    n a r o e n s i n o d o j u d .

    A e d u c a o p a r a o t r a b a l h o o u e d u c a o t e c n o l -

    g ica deve s e r , desde mui to cedo , combinada com a

    educao in t e l ec tua l e a educao f s i ca (exe rc c ios

    gins t icos ou mil i tares) . Essa educao, ta l como

    a e n t e n d e m o s , u m t r i p - e d u c a o i n t e l e c t u a l ,

    educao f s i ca , educao pol i t cn ica - que " t rans -

    m i t e o s p r i n c p i o s g e r a i s d o p r o c e s s o d e p r o d u o

    Muri de orvalho 1

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    14/158

    e , ao me sm o t e m po , in ic i a a c r iana e o jove m no

    e m p r e g o e m a n e j o p r t i c o s d o s i n s t r u m e n t o s e l e -

    menta res de todos os ramos do t raba lho" (MARX,

    1988, v. 17, p.18).

    Es se t r ip educac iona l co loca r os educandos em

    pa tamares gnoseolgicos super iores aos da bur -

    gues ia . Contudo, as a t ividades f s icas les ivas sa-

    de [ t a l como, por exemplo , a compe t i o precoce

    o n d e o i m p o r t a n t e v e n c e r o u v e n c e r q u a l q u e r

    cus to] prec i s am se r r igorosamente negadas , veda-

    das a todos os indivduos at os 17 anos - suposto

    l imi t e do fechamento das zonas de c resc imento dos

    ossos longos .

    E s t i m u l a d o p e l a s o c i e d a d e d o c o n s u m o c o n s p c u o

    e es t r ibado n a pe rspec t iva t rad ic iona l e no t ecn ic is -

    m o , o j u d p e r m a n e c e r c o a d j u v a n d o a f r a g m e n -

    t a o d a p r t i c a p e d a g g i c a e c o n t i n u a r e n r e d a -

    do na t e i a da educao conse rvadora

    A a f i r m a o a c i m a g e r a l m e n t e e n t e n d i d a c o m o

    "heres i a" , po i s o jud t e r i a s ido ed i f i cado numa

    perspect iva para a lm dos interesses das c lasses

    l i t igantes na soc iedade feuda l j apo nes a : do ju d

    foram banidas a luta de classes e as contradies

    sociais , por is to, e le no comporta no seu inter ior

    nenhuma a luso s t eor i a s e pedagogias do con-

    fl i to, manifes taes incontornveis da luta de clas-

    ses.

    Aps a lguns e in t e rminve i s shi-ai (combates) teo-

    r t i c o s , o p t a m o s p o r t r a b a l h a r c o m u m a i n t e r p r e -

    t ao d i fe renc iada da pecul i a r ao s enso comum dos

    Sensei:o jud co mo p ar t e dos "apare lhos ideolgi -

    cos de Es tado escolar e cul tural" , por is to mesmo,

    l u g a r o n d e o c o r r e m t a m b m c o n t e n d a s e n t r e a s

    12

    Muri de arualho

    formas de in t e res ses de c l a s ses ande jando os Do-j.

    A r i g o r , e s t a m o s q u e r e n d o r e c u p e r a r d u a s v e l h a s

    propos tas que s e exc luem: a lu t a de c l a s ses va i ao

    jud (como tem ido escola) e a luta de classes es t

    t am bm no ju d (como t em es t ado na escola ) .

    N o e n t e n d e m o s o j u d ( c o m o a e d u c a o ) f o r a d a

    luta de classes e o Do-j ( igua lmente a e scola ) como

    lcus de ens ino t cn ico depurado da pol t i ca que ,

    po r de f in io , na da t e r i a a ve r com o ju d . N o

    t ra t amos de co loca r a fora ou na mar ra a lu t a de

    c las ses no in t e r ior da pr t i ca pedaggica do jud .

    Tra tamos , s im, de en tender a lu t a de c l a s ses t am-

    bm ocor rendo na ao pedaggica vez que e l a [a

    luta de classes] tem s ido o motor his trico do uni-

    verso das sociedades c lass is tas .

    O ju d co m o escola de educ ao n o a " i lha de

    p u r e z a " q u e a l g u n s i m a g i n a m s er . A e d u c a o d e -

    senvolv ida na sua pr t i ca ( t cn ica ) que i ram ou no

    ace i t a r , a to pol t i co , t a re fa de pa r t ido (embora

    n o d e v a m o s c o n f u n d i r a e d u c a o c o m a p o l t i c a

    e c o m o P a r t i d o ) . F a z e n d o u s o d e u m a l i n g u a g e m

    r e c m - c h e g a d a a o j u d , a o p r o f e s s o r d e j u d ( ta l

    c o m o o s o u t r o s p r o f e s s o r e s ) es t v e d a d a t o d a n e u -

    t r a l i d a d e , o u

    e d u c a

    a favor da burgues ia cont ra o

    p r o l e t a r i a d o o u , r e e d u c a d o , e d u c a a f a v o r d o p r o -

    l e t a r i a d o c o n t r a a b u r g u e s i a .

    L a m e n t a m o s d i z er , o j u d p e l a p r t ic a d a c o m p e -

    t i o precoce es t imula a desunio en t re a s pes soas

    - a t l e t a s , d i r igentes e to rcedores - chegando ao c-

    m u l o d e o u v i r m o s a f i r m a e s d e s e u s p r o f e s s o r e s

    q u e a c o m p e t i o ( a d e s u n i o ) u m a s p e c t o i n d e -

    l v e l d a " n a t u r e z a " h u m a n a .

    Cont ra a t e se que a f i rma apenas a compe t i o e no

    M d u r i de arualho 14

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    15/158

    o gregar i smo como aspec tos inde lve i s da "na ture -

    z a " h u m a n a , n o e s t a m o s a p r o p o r u m a e d u c a o

    cent rada na igua ldade en t re a s c l a s ses , no es t a -

    mos a pred ica r a pos s ib i l idade da ha rmonia en t re

    o capi t a l e o t raba lho t o a l a rdeada pe los in t e l ec -

    tua i s soc ia i s democra tas . No a igua ldade en t re

    as c lasses um contra-senso lgico ou imposs vel de

    real izar , mas a abol io das c lasses , o verdadeiro

    segredo da t rans formao soc ia l .

    Ass im, um pro je to rea lmente novo de educao ou

    u m a v e r d a d e i r a r e f o r m a p e d a g g i c a ( n a ' q u a l t o -

    dos os e spor t es e s t a ro inse r idos ) deve pa r t i r de

    f o r m a a d e q u a d a d o s i n t e r e s s e s e d e m a n d a s i n t e -

    l ec tua i s e mora i s do pro le t a r i ado e t raba lhadores

    assalar iados .

    Espec i f i camente , s e o ind iv idua l i smo e a "compe-

    t i o precoce" , d i s fa radas com a t iv idades ld icas ,

    p e r m a n e c e m c o m o p i l a r e s d a e d u c a o i n f a n t i l n o

    j u d p o r q u e n e s t a r e a d o c o n h e c i m e n t o h u m a -

    no t rava -se h anos uma lu ta s ecula r pa ra supera r

    a d iv i s o en t re os que fa l am, mandam e de tm o

    p o d e r [ d a s F e d er a e s e d a C o n f e d e r a o } e a q u e -

    l es o u t r o s q u e a p e n a s p r a t ic a m , r e p e t e m o u r e p r o -

    du ze m o que lhes fo i e ens ina do . E a lu t a dos ho-

    mens das pa lavras e dos homens da pr t i ca , a lu t a

    ent re os t er i cos e os emp r i cos que pe rmanece no

    inter ior das re laes sociais judos t icas .

    Uma tese central rege nossa mo ao redigir es tas

    l i n h a s : o h o m e m e a m u l h e r q u e s e q u e r f o r m a r

    devem se r , a um s t empo, cu l tos , p rodut ivos e

    m o r f o l o g i c a m e n t e s i m i la r es . A p r o p s i t o , d e v e m o s

    dize r no s e r ve rdade que o juc l , s egundo a dom

    vigente nes t a soc iedade , s e rve aqui s i o de uma

    M a u r i de orvalho

    consc inc ia c idad

    3

    , consubs tanc iao do d i logo

    ent re os igua i s , me lhora a au to-es t ima e a s re l aes

    soc ia i s impresc in dve i s a ou t r i f i ca o des t a soc ieda-

    de.

    N o s e p o d e f a l a r d e u m a c o n s c i n c i a c i d a d q u a n -

    do as id ias pedaggicas pos tas em pr t i ca no jud ,

    bem como a t ra j e tr i a po l t i ca e acadmica dos

    profes sores de juc l , no s o pos tas c r t i ca como

    ques to re l evante de es tudo . Por i s to , cons ide ra -

    mos neces s r io ev idenc ia r a ex i s t nc ia de um ce r to

    " s a d i s m o " p e d a g g i c o e u m p e c u l i a r p e d a n t i s m o

    d i d t i c o v a z a n d o a p r t i c a p e d a g g i c a j u d o s t i c a .

    A an l i s e des ses do i s e l em ento s ind i sp ensv e l re-

    flexo crtica sobre a l i gao dos profes sores de jud

    com a pol t i ca dominante nes t a soc iedade . A refle-

    xo crtica no ju d ou sobre e l e , s ign i f ica ana l i s a r e

    c o m p r e e n d e r , e m p r i m e i r o l u g a r , a c o n c e p o d e

    m u n d o d o m i n a n t e d e f o r m a u n i t r i a e c o e r e n t e e ,

    em segundo lugar , a s "es t ra t i f i caes" consol idadas

    nos movimentos soc ia i s , de te rminadas pe la d iv i s o

    d o t r a b a l h o , r e f l e t i n d o - s e t a m b m n a s d i v e r s a s

    pr t i cas e spor t ivas .

    J

    Essa forma de consc inc ia a inda no ' consc inc ia de c la sse ' , pois

    p e r m a n e c e n o s l i m i t e s a n i m a l e s c o s d o ' s e n t i m e n t o d e s i ' e s e r e c u s a

    c h e g a r a o c a m p o d i a l t i c o d a ' c o n s c i n c i a d e s i ' . N a v e r d a d e , o d i s -

    cur so sobre a c idadania e scamote ia a lu ta de c la sse contra c la sse e

    t e r g i v e rs a s o b r e o s e r po s s ve l a t o d o s o s h o m e n s e m u l h e r e s a t i n g i r

    e s s e e s t g i o s o c i a l e n q u a n t o p e r d u r a r a o p r e s s o d o c a p i t a l s o b r e

    o t r a b a l h o . O p r e s s o , p a r a s i t i s m o e e x t o r s o s o a n t i n o m i a s d a c i -

    d a d a n i a a p e n a s r e a l i z v e l n u m a s o c i e d a d e s e m c l a s s e s , s o c i a l i s t a e

    c o m u n i s t a .

    Muri de arvalhn 3

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    16/158

    A s s u m i r a

    reflexo crtica

    p r e s s u p e n o d e i x a r n a

    s o m b r a o p e n s a m e n t o p e d a g g i c o , m a s a p r e s e n -

    t a r u m a nova a t i t u d e c o m o s u p e r a o d o m o d o d e

    p e n s a r p r e c e d e n t e , o n d e o s f e n m e n o s s o e n t e n -

    d idos como s n tese de ml t ip l as de te rminaes .

    O m u n d o , t a l c o m s e n o s a p r e s e n t a , u m m u n -

    do c l a ro-escuro , de ve rdade e engano. Ento , r i -

    g o r o s a m e n t e , o m u n d o d o j u d , c o m o a p r p r i a

    s o c i e d a d e , e n c e r r a c o m o e l e m e n t o f u l c r a l o d u p l o

    sent ido: idias sem fatos (o

    teoricismo)

    e fa tos sem

    idias (op raticismo).

    P r o c u r a n d o e l i m i n a r e s s e d u p l o s e n t i d o , d e s v e l a -

    mo s a rea l ida de obje t iva reve lan do sua es snc ia a t

    e n t o e s c o n d i d a . I m e r s o n o m u n d o r e a l o n d e a

    h i s tr i a dos hom ens concre tos s e e fe t iva , no t ra t a -

    m o s d e i n t r o d u z i r ex-novo c incia na vida indivi-

    d u a l d o s p r o f e s s o r e s d e j u d , a p e n a s e t o s o m e n -

    te exe rc i t a r a c r t ica nu ma a t iv idade j ex i s t en te ,

    Jd bem com o evidenc ia r a re l ao ocul t a pe lo du pl o

    sent ido , en t re id ias pedaggicas , j ud , f i l osof i a e

    pol t ica .

    Nesta perspect iva, no h fatos sem idias , no

    exis te prt ica sem teoria e vice-versa , o

    teoricismo

    ( teoria sem prt ica) e o praticismo (pr t i ca s em teo-

    r ia) so tentat ivas de dissociao do indissocivel , a

    t eor i a da pr t i ca , e impedi t ivos compreenso da

    rea l idade obje t iva .

    Ana l i s ando as id ias pedaggicas do jud , s eus a s -

    pectos pol t icos e his tricos predicados por seus

    p r o f e s s o r e s c o m o d o g m a s e r g u i d o s p a r a e n e v o a r

    a conscincia infant i l e ra t i f icar uma concepo de

    m u n d o a p o u c a d a e c a m b a i a , e a s s u m i n d o a d e f e s a

    da i l imi t ada for t a l eza da razo , en tendemos que o

    U

    3 2 M a u r i de orvalho

    profes sor de jud como espec ia l i s t a do s aber pr -

    t i co reprova em s i mesmo se r o " se r que s empre

    nega" . O " sempre nega" no s ign i f i ca t rao de ca -

    r t e r , m a s p r o c e d i m e n t o i n d i s p e n s v e l a o p e n s a -

    mento f i losfico e c ient f ico.

    A s si m , o u o p r o f e s s o r d e j u d p e r m a n e c e n a c o n -

    d i o d e e n s i n a n t e d e savoir faire, t cn ico do s aber

    e ace i t a a ideologia dominante na qua l o un ive rsa l

    es t a s e rv io do pa r t i cu la r , p ra t i ca a au tocensura

    e s e a f i rma como um se r apol t i co e agns t i co , ou

    c o n s t a t a o p a r t i c u l a r i s m o d a i d e o l o g i a d o m i n a n t e ,

    no s e s a t i s faz com a condio suba l t e rna , recusa

    s u a m u t i l a o e o b r i g a d o a p o r e m q u e s t o a e d u -

    c a o q u e o f o r m o u .

    Nes tas duas pos s ib i l idades , o profes sor de jud

    ou coadjuva a cons t ruo de consc inc ias c r t i cas ,

    e l e g e n d o u m c o n h e c i m e n t o c i e n t f ic o a se m a n i f e s -

    tar contra todos os mitos , mis t i f icaes e todas as

    mani fes t aes do idea l i smo f i losf i co , ou a juda a

    g e r a o d e c o n s c i n c i a s c o n s e r v a d o r a s , a c e i t a n d o

    a r e d u o d e t u d o e d e t o d o s c o n d i o d e m e r -

    cador i a .

    S e m u m c o m p r o m i s s o p o l t i c o e x p l c i t o , o p r o f e s -

    sor de ju d o lv ida as cont rad ies soc ia is in e re n te s

    soc iedade capi t a l i s t a bras i l e i ra , exace rbadas nes -

    t e s culo , e nega-se a pa r t i c ipa r do proces so ind i s -

    p e n s v e l a o e q u a c i o n a m e n t o :

    ( I ) d a m a n i p u l a o g e n t i c a d o s e r h u m a n o , e s p e -

    c ia lmente o trabalhador e o atleta, a ob je t iva r ma i s

    resu l t ados e ma i s luc ros ;

    ( I I ) d o t r a t a m e n t o q u m i c o c o n d i c i o n a n t e d a s b a -

    ses b io lgicas do despor to ;

    M u r i d e a r u n i h o

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    17/158

    ( I I I ) das imagens e das pul ses dos a t l e t a s s endo

    ent regues ao sor t i l g io da mis t i f i cao das massas

    p e l a p r o p a g a n d a p o l t i c a , p a r t e d o e s t r a t a g e m a

    das mul t inac iona i s do mate r i a l despor t ivo e dos e r -

    gognicos , enf im, da inds t r i a cu l tura l ;

    (IV) do fato de que as escolhas colet ivas e o que-

    re r comum foram t rans fe r idos pa ra a s dec i ses dos

    ca r to las e t ecnocra tas ;

    (V) da inques t ionve l ev idnc ia de que a consc i -

    ncia individual e a conscincia colet iva foram

    "manie tadas" pe lo c lcu lo f r io e ego s t a da rac io-

    na l i dad e c i en t fi ca , f azen do com qu e os a t l e t as no

    u l t r a p a s s e m o e s t g i o p r i m r i o d o " s e n t i m e n t o d e

    s i " e /ou da consc inc ia ingnua .

    Reve la r e s se compromis so t raba lha r no apenas

    I I a desc r i o h i s tr i ca do jud , sua apa rn c ia , ma s

    $ " f u n d a m e n t a l m e n t e s u a d i m e n s o p o l t i c a , s u a s

    Jd causa s his tricas e suas con ex es f i losficas un ive r-

    sais.

    C a m i n h a n d o e n t r e o s l im i t es p e d a g g i c o s d o e s p e -

    t c u l o e o e s p e t c u l o d a p e d a g o g i a , o j u d p e r m a -

    n e c e m a n i p u l a d o c o m o m a i s u m a p r t i c a a l i e n a -

    o da infncia e da adolescncia . Entre a i luso e a

    esp eran a que s e des fez na es t e i ra do mis ti c i smo, o

    jud p od e s e r um a pr t i ca do t ipo "Meig-no-hashi

    4

    ,

    p o n t e e n t r e a i lu s o e a c o m p r e e n s o " ( Y O S H I K A -

    WA, 1999, p. 1(504).

    E s ta p o n t e , n a e d u c a o p e l o j u d , c u m p r e d u a s

    funes bs icas da maior re levncia social : em pri -

    3.

    8

    3

    ' A p a l a v r a Mrig c c o m p o s t a d e d o i s i d e o g r a m a s : me i [o u iitayoi:

    p e r p l e x i d a d e , d v i d a , i lu s o ] eg n |o u satnri: c o m p r e e n s o , e n t e n d i -

    m e n t o , d e s p e r t a r d a c o n s c i n c i a , i l u m i n a o ] ( Y O S H 1 K A V V A , 1 9 9 9 ,

    n.lfi(W).

    3 4 M ur i dc orv a lho

    m e i r o l u g a r, a f o r m a o d o c i d a d o , d e c o r r e n t e d e

    sua emanc ipao in t e l ec tua l e sua l ibe r t ao econ-

    m i c a ; e m s e g u n d o l u g a r, i m p r e g n a o d a i d e o l o g i a

    c o n t r a - b u r g u e s a c o m o l i n h a t e r i c a c o m p r e e n s o

    e t r a n s f o r m a o d e s u a " a l d e i a " e d o m u n d o .

    Apesa r da ausnc ia de uma casu s t i ca e s t a t s t i ca

    q u e c o n f i r m e n o s s o s e n t i m e n t o d e p e s s i m i s m o s o -

    b r e o j u d , e s te s e n t i m e n t o u m r e f l e x o d e c o m o

    o j u d v e m s e n d o e n s i n a d o n o s g r a n d e s c e n t r o s

    des te pa s sob a pe rspec t iva "ms t i co- re l ig iosa" . En-

    quanto pr t i ca soc ia l , h i s tr i ca da tada , e s t a "a r t e

    d e c o m b a t e " p e r m a n e c e a r e f e r e n d a r o a u t o r i t a -

    r i smo, o ind iv idua l i smo, a compe t i t iv idade , a fa l s a

    "neut ra l idade" pol t i ca e a s pr t i cas buroc r t i cas

    medieva i s ve r i f i cve i s por v i a emp r i ca .

    P o r n o t e r s u p e r a d o a c o n c e p o a u t o r i t r i a d e

    m u n d o , o a m b i e n t e d o j u d , p o r r e f l e t i r o p r o j e -

    to capi ta l is ta (consol idado no f inal do sculo XIX,

    pe t r i f i cad o com a ideologia l ibe ra l no fina l do

    sculo XX e no in c io do s culo XXI rea f i rma sua

    d e l i q e s c n c i a ) , v i s a i m p e d i r q u e o u t r a f o r m a d e

    p e n s a r o m u n d o e a s r e l a e s s o ci ai s a d e n t r e o Do-

    j

    e pen e t re -na consc inc ia in fan t i l e a dolesc ente .

    A p s e s c r e v e r e s t e l i v r o , d e i x a r e m o s c o n s i g n a d o

    q u e a f u n o p r e c p u a d a p r t i c a p e d a g g i c a d o

    jud , ao longo da sua h i s tr i a , t em s ido inculca r

    a i d e o l o g i a d o m i n a n t e p o r d i v e r s o s c a m i n h o s . S

    i n t e r p r e t a o m e c a n i ci s ta e a d e f o r m a o c i e n t fi c a

    p o d e m t e n t a r r e d u z i r e s s e f e n m e n o c u l t u r a l a o s

    seus aspectos biolgico e sociolgico, via discurso

    p e d a g g i c o .

    A insc inc ia sobre a rea l idade d inmica da h i s tr i a

    e s o b r e o c r e s c i m e n t o e d e s e n v o l v i m e n t o h u m a -

    Muri de orvalho

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    18/158

    n o s , f az co m q u e o s p r o f es so r es d e ju d , co m r a r a s

    e x c e e s , i n c u l q u e m n a s c r i a n a s e a d o l e s c e n t e s

    a n i c a i d e o l o g i a q u e c o n h e c e m , a i d e o l o g i a b u r -

    g u e s a . P a r a e s s as c r i a n a s e a d o l e s c e n t e s e d u c a d a s

    n essa p er sp ec t iv a id eo l g ica , a s r e la es so c ia i s d e

    p r o d u o l h e s p a r e c e m p e r e n e s , i m v e i s , e t e r n a s .

    Em co n seq n c ia d i s to , a s p o l t i cas p b l icas p a r a

    o s esp o r tes so ace i tas co mo d d iv as d e g o v er n o s

    [ M i n i s t r i o d o s E s p o r t e s , F e d e r a e s e C o n f e d e r a -

    o ] q u e , em tese e s em tese , e s to p r eo cu p ad o s

    co m o b em- es ta r e a s a d e d as c r ian as e ad o les -

    cen tes d es te p a s .

    N a d a m a i s e n g a n o s o

    Vila Velha(ES) , 17 de ju lho de 2006.

    Jd

    3 6 * Muri de orvalho

    P R I M E I R A P A R T E

    T I C A E I D E O L O G I A

    P r o m i o

    O v e r d a d e i r o Bushi p o d e se r

    C o m p a r a d o a flores d e c e r e j e i r a s , q u e s e v o

    m a i s l e v e b r i s a , s e m a m e n o r r e l u t n c i a , e m p l e n a

    florao. D o m e s m o m o d o q u e e l a s , o v e r d a d e i r o

    Bushi d e s p e d e - s e d a v i d a b r a v a m e n t e q u a n d o s e u

    m o m e n t o c h e g a d o , n o s e a g a r r a v i d a a q u a l -

    q u e r c u s t o " ( Y O S H I K A W A , 1 9 9 9 , p . 9 4 3 ) .

    N o p r e t e n s o n e m o b j e t i v o d e s t e t r a b a l h o

    5

    f a z e r

    u m a e x p o s i o i n q u e s t i o n v e l , m a s p r o c u r a r c o l o -

    c a r e m c h e q u e " v e r d a d e s a b s o l u t a s " e t e s e s i m u t -

    v e is d o t i p o , n o h r e l a o e n t r e j u d e e c o n o m i a

    p o l t i ca ; e su sc i ta r a p o lmica co mo u ma ao in -

    t e l e c t u a l n e c e s s r i a d e t e r m i n a d a r e a l i d a d e o n d e

    p r e v a l e c e m d e f o r m a e s i d e o l g i c a s e p a c t o s e s -

    p r i o s .

    ' 'Trabalho - cm l inguagem f i losf ica (1)hegeliana o p ro ces s o p o r

    meio do qual o 'esp r i to ' humano, ao colocar nos objetos externos

    todas as suas potencial idades subjet ivas

    (subjetivao),

    d es co b re e d e -

    s en v o l v e p l en am en t e a s u a p r p r i a r ea l i d ad e ; ( I I ) marxista toda

    a t i v i d ad e co n s c i en t e e p l an e j ad a n a q u a l o s e r h u m an o , ao m es m o

    tempo cm que ext rai da natureza os bens capazes de sat i s fazer suas

    necess idades mater iai s , cr i a as bases de sua real idade sociocul tural

    i m p r i m i n d o n o p ro d u t o s u as ca r ac te r st i cas p ecu l i a r e s

    (

    objetivaro).

    Muri de arualho * 3 ~7

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    19/158

    P a r a u m a m e l h o r c o m p r e e n s o c i o j u d , n o s p r o -

    p u s e m o s f a ze r u m a s u c in t a a b o r d a g e m s o b r e a s u a

    re lao com a ti ca e a educao pol t i ca , t r i l ha nd o

    o

    d ,

    u m a v e r e d a p a r a o sa b er , u m m o v i m e n t o q u e

    nos l eva na d i reo do mul t i forme pa ra ne le ag i r

    e ne le t r iunfa r , ao menos em ce r t a medida . Nos -

    so ag i r uma ex t roverso na tura l que s a nos sa

    consc inc ia to rna de l ibe rada .

    A e x t r o v e r s o d e l i b e r a d a n o s i m p u l s i o n a a p e n s a r

    qu e a re lao en t re ju d e t ica pod e s ign i f ica r u m

    t remendo equvoco medida que a t i ca o i l o d i s -

    curso t i co , s egundo o s enso comum, es t mui to

    di s t an te da re l ao profana com es t a "a r t e c l e com-

    bate" . Mas se atica a c inc ia que es tu da a mo ra l ,

    sua na tureza , sua h i s tr i a e a s t endnc ias do s eu

    desenvolv imento , do pape l do bem e do mal , do

    dever e da consc inc ia na v ida dos homens e mu-

    lhe res , en to , e s t an do o ju d ac ima do bem e do

    mal , no haver i a nenhuma re l ao en t re e l e e a

    tica ou a moral .

    >Ia cont ramo da t e se que a f i rma a inexi s t nc ia da

    re l ao ac ima c i t ada , en tendemos que a tica r e f e -

    re - s e ava l i ao normat iva das aes e do ca r t e r

    de indivduos , grupos e c lasses sociais [que con-

    d ic ionam as ma i s d ive rsas ca tegor i as prof i s s iona i s

    e as mais diversas facetas da cul tura nacional ou

    alien] e s e o jud , com o ins t ru me nto ideo lgico in-

    t e r fe re no desenvolv imento das aes e do ca r t e r

    dos ind iv duos , podemos d ize r en to que t i ca e

    jud guardam uma razove l e e s t re i t a re l ao .

    P r e o c u p a d o s c o m o j o g o e s d r x u l o q u e s e d e s e n -

    volve nes ta sociedade e nos esportes nela prat ica-

    dos , ond e pr inc p ios s oa b a n d o n a d o s ao be l -praze r

    M a u r i de orvalho

    d e s r d i d o s i n te r e s s es , n o s s o e s t u d o e s t e n c i m a d o

    n u m a c o n c e p o d e m u n d o e d e s o c i e d a d e n a q u a l

    a t ica uma discipl ina da f i losofia e c incia que

    t e m a m o r a l c o m o ' o b j e t o ' d e e s t u d o . D e s t e m o d o ,

    a t i ca propr i amente d i t a a t eor i a ou a c i nc ia

    q u e e s t u d a o c o m p o r t a m e n t o m o r a l d o s h o m e n s

    e mulheres em soc iedade . O obje to da t i ca um

    d e t e r m i n a d o t i p o d e a t o h u m a n o , o u se j a , u m t i p o

    de a to consc ien te e vo lunt r io "dos ind iv duos que

    a f e t a m o u t r o s i n d i v d u o s , d e t e r m i n a d o s g r u p o s s o -

    c i a i s ou a soc iedade em seu conjunto" (VASQUEZ,

    1982. p . 12-14).

    M o r a l

    {mores)

    q u e r d i z e r c o s t u m e s , u m c o n j u n t o d e

    n o r m a s o u r e g r a s d e c o m p o r t a m e n t o a d q u i r i d o s e -

    g u n d o o h b i t o d e u m a d e t e r m i n a d a s o c i e d a d e, i st o

    , modo de s e r dos homens soc ia lmente cons t ru -

    dos . Relat ivo moral , ethos s ignif ica modo de ser ,

    ca r t e r , cos tume , cons t ru do/adqui r ido soc ia lmente

    p o r h o m e n s e m u l h e r e s d e d e t e r m i n a d a s o c i e d a d e .

    Morese

    ethos

    co n f l u e m p a r a u m c o m p o r t a m e n t o q u e

    n o d a d o n a t u r a l m e n t e m a s q u e , p o u c o a p o u c o ,

    v a i s e n d o c o n s t r u d o e i n c o r p o r a d o n o h b i t o d o s

    indiv duos que compem es sa soc iedade .

    P a r t i n d o d o h u m a n o , o c o n s t r u d o , a d q u i r i d o e

    c o n q u i s t a d o p e l o s h o m e n s s o b r e o q u e h n e l e

    d e p u r a n a t u r e z a , o b s e r v a m o s o c o m p o r t a m e n t o

    m o r a l

    como o

    q u e " p e r t e n c e s o m e n t e a o h o m e m

    m e d i d a q u e , s o b r e s u a p r p r i a n a t u r e z a ( e n t e n -

    d i d a n o c o m o a l g o a priori o u p r o v i d e n c i a d a p o r

    u m d e m i u r g o , m a s c o n d i o d e . . . c o n s t r u i n d o - s e ) ,

    c r i a e s t a s egunda na tureza , da qua l faz pa r t e a sua

    a t iv idade mora l " (VSQUEZ, 1982, p .14) .

    E n t e n d i d a atica como a c i nc ia da mora l , sua pa r -

    M d u r i d e a r u a / h o

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    20/158

    Jud

    t i cu la r idade mai s impor tan te cons i s t e em es t a r in -

    t i m a m e n t e l i g a d a t r a n s f o r m a o r e v o l u c i o n r i a

    do m un do e a lu t a pe la organizao soc ial j us t a e

    p e l a fo rm a o d o in d i v d u o h a r m o n i o s a m e n t e d e -

    senvolv ido , mora l e humani s t a . Mas , o que que

    d e t e r m i n a o c o n t e d o d a m o r a l e e m q u e c o n s i s t e

    o s ign i f i cado da obr iga tor i edade e do impera t ivo

    de suas exigncias?

    N e n h u m e s t u d i o s o o u p e s q u i s a d o r p o d e s e f u r t a r

    discusso dessa ques to bs ica, a t ica , sua solu-

    o d e p e n d e d e s u a posio filosficae o seu e nca -

    m i n h a m e n t o r e v e l a s u a

    concepo

    de mundo e o seu

    compromisso

    poltico. Ent re t an to , da pe rspec t iva ac i -

    m a e m e r g e m a l g u m a s f o r m a s d e p e n s a r a m o r a l

    e /ou a mora l idade .

    Em pr im ei ro lugar , h f i lsofos e in t e lec tua i s pa ra

    quem a base da mora l idade es t exc lus ivamente no

    sujeito

    , no ind iv duo , no homem

    abstrato

    c o m o s e u

    nico c r i ador , de mane i ra que a fon te da mora l i -

    dade , o ra a in t e l ignc ia "esc la rec ida" e o dever

    s \ ib l ime des se ind iv duo , ora a sua boa vontade ,

    C o m p a i x o f i rm e e a n o b r e d i g n i d a d e ( o u d i g n i d a -

    de dos "nobres "? ) .

    Es sa concepo peca por subjetivisnw m e d i d a q u e ,

    por no s e r capaz de expres sa r o contedo obje t i -

    v o d a m o r a l , p r e f e r e i n t e r p r e t - l a c o m o a r b i t r a r i e -

    dade pes soa l , ego smo, capr i cho , mpe to ind iv idu-

    al . Sobre a subjetividade n o s v e m l e m b r a n a u m a

    longa s en tena de Be l insk i

    6

    , a p o n t a d a p o r S o d r

    " B E L I N S K I , Y i s s a v i o n. G r i g o r i e v d i . ( 1 8 1 I - I H 4 8 ) . l i l s o f o m a t e r i a -

    l i s t a e d e m o c r a t a r e v o l u c i o n r i o r u s s o , c r t i c o l i t e r r i o e p u b l i c i s t a ,

    a n i m a d o r d a l u t a c o n t r a a e s c r a v i d o p e l a l i b e r d a d e d o c a m p o n s

    o p r i m i d o .

    4 G Mauri de ai valho

    (1968, p .25) , t r ansc r i t a aqui

    in totuni:

    N e n h u m p o e t a p o d e s e r g r a n d e p o r si m e s m o e p a r a

    s i m e s m o ; n e m p e l o s s e us p r p r i o s s o f r i m e n t o s , n e m

    p o r s u a p r p r i a f e l i c i d a d e ; o g r a n d e p o e t a a q u e l e

    c u j o s s o f r i m e n t o s e f e l i c i d a d e e s t o p r o f u n d a m e n t e

    i m p l a n t a d o s n a s o c i e d a d e e n a h i s t r i a e q u e , p o r -

    t a n t o , o r g o e o r e p r e s e n t a n t e d a s o c i e d a d e , d a

    p o c a , d a h u m a n i d a d e . N o h c o m o o p e q u e n o p o -

    e t a , q u e i n f e l i z p o r s i m e s m o e p a r a s i m e s m o ; m a s ,

    t a m b m , o n i c o a o u v i r s e u s u s s u r r o q u e n o p o c l e

    e n t e n d e r n e m a s o c i e d a d e , n e m a h u m a n i d a d e . ( . .. )

    N s n o s o m o s ' c o n t r a ' a s u b j e t i v i d a d e . A c r e d i t a m o s ,

    s i m p l e s m e n t e , q u e a s u b j e t i v i d a d e e o s s e n t i m e n t o s

    h u m a n o s n o s e r e d u z e m a o s a t o s n a t u r a i s d e b e b e r ,

    d e c o m e r ( e o r e s t o ) , a o s i n s t i n t o s e l e m e n t a r e s , n o

    m a i s d o q u e s a b s t r a e s s o l i t r i a s . A c r e d i t a m o s q u e

    a m e l h o r p a r t e d o h o m e m a q u e l a q u e e l e e n g a j a a

    servio d a l i b e r d a d e e d a d i g n i d a d e d o s o u t r o s h o m e n s .

    E p a r t i c u l a r m e n t e d a q u e l e s q u e s o p r i v a d o s d e l a s ,

    h o j e . N o s o m o s ' c o n t r a ' a s u b j e t i v i d a d e , m a s c o n t r a

    o i n d i v i d u a l i s m o - e c o n t r a a a s s i m i l a o q u e s e q u e r

    f a z e r e n t r e u m a e o u t r o . C o n t r a o i n d i v i d u a l i s m o q u e ,

    p r e c i s a m e n t e , r e s t r i n g e e e m p o b r e c e a s u b j e t i v i d a d e ,

    a p e r s o n a l i d a d e .

    E m s e g u n d o l u g a r , h o u t r o s q u e p r o c u r a m a s b a s e s

    supra-subjetivas

    d a m o r a l , c o n f e r i n d o - l h e s s e n t i d o e

    s i g n i fi c a d o e m a n a d o s d a v o n t a d e d e u m d e m i u r g o

    que , em l inguagem pla tnica , o a r t e so d iv ino , o

    p r i n c p i o o r g a n i z a d o r d o u n i v e r s o q u e m o d e l a e

    organiza a ma t r i a ca t i ca preexi s t en te a t ravs da

    imi tao de mode los e t e rnos e pe r fe i tos .

    Pa ra e s ses , e s t na re l ig i o todo o l egado da mora l

    as sentada no "bem faze r" soc r t i co che io de sof r i -

    m e n t o e t e n t a o . C o n f e r i r u m a t r i b u t o d i v i n o

    m o r a l d e t u r p a r e s u b e s t i m a r ( i n t e n c i o n a l m e n t e

    o u n o ) o s u j e i t o d a m o r a l i d a d e , o h o m e m , e n v e -

    n e n a n d o - o c o m u m " o p i c e o " - r e l i g i o , c a r n a v a l

    M u r i d e a r u o / h o A

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    21/158

    e espor t es - e com a prd ica conse rvadora da to-

    l e r n c i a p a r a f a z e r a d o r m e c e r s u a v o n t a d e d e l u -

    t a r pe la igua ldade , pe la l i be rdade e pe la fe l i c idade

    reais .

    Em te rce i ro lugar , ex i s t em os que cons id e ram a mo -

    r a l i d a d e c o m o m e r a r e s s o n n ci a d a n e c e s s i d a d e d e

    i n s t a u r a o d a " o r d e m " , e m v e z d e c o m p o r t a m e n -

    to f luente da luta . Nes ta perspect iva, a moral idade

    s u r g e c o m o produto da soc iedade (uma ca tegor i a

    a b s t r a t a ) q u e r e p r i m e c o m a a j u d a d a p r p r i a m o -

    ral os desejos e interesses "egos tas" dos indivdu-

    o s . P o r n o c o n s e g u i r e m c a m i n h a r p a r a a l m d a

    e s p e c u l a o , o t e r c e i r o g r u p o d e p e n s a d o r e s n o

    chega a abordar a de te rminao de c l a s se , h i s t-

    r ica e social , da moral . Os ideal is tas subjet ivos no

    c o n s e g u e m p r o s p e r a r e m su a s i d e a e s: p e r d e r a m

    de v i s t a o pape l revoluc ionr io e t rans formador da

    mora l e o s eu va lor na v ida dos oper r ios e dos

    t raba lhadores a s sa la r i ados .

    Se ace i t a rmos a t e se onde as id ias dominantes

    e cada poca s o as id ias da c l a s se dominante ,

    e n t o , p o d e m o s p o s t u l a r s e r a tica, e n q u a n t o u m

    conjunto de id ias ba l i zadoras de condutas mora i s

    a t ica (e a moral) da c lasse dominante ut i l izada

    p a r a m a n t e r o s d o m i n a d o s s em so b r e ss a lt o . M e s m o

    po rq ue , no s e jus t i f i ca a ex i s tnc ia de um a mo ra l

    puramente f i losf i ca , e specula t iva e dedut iva d i -

    vo rcia da da cincia e da real idad e objet iva. A r i -

    g o r, o c o m p o r t a m e n t o m o r a l p r p r i o d o h o m e m

    enquanto ser his trico, social e prt ico e que faz

    hi s tr i a , i s to , s e r que t rans forma consc ien temen-

    te a na tureza que o ce rca e que faz des sa mesma

    n a t u r e z a u m m u n d o a s u a m e d i d a e a s u a m a n e i r a ,

    M iur i de e i r ua /ho

    t r a n s f o r m a n d o s u a p r p r i a n a t u r e z a .

    O d i s curso sobre a ex i s t nc ia de uma tica dissocia-

    d a d a v i d a m a t e r i a l d o s h o m e n s e m u l h e r e s i g n o -

    rados como se res h i s tr i cos , soc ia i s e pr t i cos que

    t r a n s f o r m a m a n a t u r e z a e p o r e l a s o t r a n s f o r m a -

    dos , n o pas sa de re tr i ca ra t i f icao do jo go es -

    c u s o d a p o l t i c a d o m i n a n t e e c o n d e n a o d e t o d o s

    o s c o m p o r t a m e n t o s e i d i a s a n t a g n i c a s a o s t e n t -

    cu los a s f ix i an tes dos apa ra tos repres s ivos do Es ta -

    d o . . . b u r g u s .

    A n o s s o j u l g a m e n t o , a t ic a d e v e s er a b o r d a d a a

    part i r de pressupostos f i losficos dialticos e histri-

    co s

    sobr e o con t ing ente e o neces s r io , sobre a n e -

    ces s idade e a l i be rdade . Pa ra ns , o d i s curso t i co

    tem por base no a e speculao mas a rea l idade

    concre ta , a pr t i ca soc ia l - ma te r i a l e e sp i r i tua l -

    d e h o m e n s e m u l h e r e s c o n c r e t o s .

    A tica s o b r e a q u a l f a l a m o s t e m p o r p r e s s u p o s t o

    u m a c o n c e p o d e m u n d o q u e p r o p i c i a a t o d o s

    ns uma v i s o to t a l do homem enquanto s e r soc ia l ,

    h i s tr i co e c r i ador . So os homens que cons t roem

    s u a s p r p r i a s - n o r m a s d e c o n d u t a s e d e c o n v v i o ,

    t raduz idas e ma te r i a l i zadas em re l aes soc ia i s

    n e c e s s r i a s a o d e s e n v o l v i m e n t o e m a n u t e n o d e

    u m a d e t e r m i n a d a e t a p a d o d e s e n v o l v i m e n t o s o c i a l

    e h i s tr i co ou de uma formao soc ioeconmica . E

    s e a m a i o r i a d o s h o m e n s e m u l h e r e s , c o m o n a polis

    grega c l s s i ca , encont ra - s e exc lu da do proces so ou

    da d inmica soc ia l de produo , en to , a t i ca , que

    s u b j a z o c o m p o r t a m e n t o d o g r u p o o u c l a s s e s o c i a l

    dominante nes t e pa s , s pode s e r a t i ca da mino-

    ria l icenciosa.

    A t i ca s t em va l idade pr t i ca s e for compreendi -

    Muri de orvalho

  • 7/23/2019 Jud - tica e Educao

    22/158

    da como Cato his trico, pois ass im como as socie-

    dades sucedem umas s ou t ras , t ambm as mora i s

    concre tas , e fe t ivas , s e sucedem e subs t i tuem umas

    s out ras . Se a mora l en tendida como uma cons -

    t ruo his trica , por conseguinte , a t ica [a c incia

    d a m o r a l ] n o p o d e c o n c eb -l a c o m o d a d a d e u m a

    vez pa ra s empre , mas t e r de cons ide r - l a como

    u m a s p e c t o d a r e a l i d a d e h u m a n a m u t v e l c o m o

    t e m p o e , o b v i a m e n t e , c o m a s t r a n s f o r m a e s i m a -

    nentes s soc iedades humanas .

    A mora l idade , s e j a e l a qua l for ou de que ordem

    for , s e r s empre de te rminada soc ia l e h i s tor i ca -

    mente . Logo, o s eu contedo obje t ivo t raduz o ca -

    rter (I) das re laes sociais de produo, (II) das

    r e l a e s d e p r o p r i e d a d e d o s m e i o s d e p r o d u o ,

    (III) da interao entre di ferentes c lasses sociais ,

    ( IV) das formas de d i s t r ibu io , t roca , consumo

    etc .Tomando a t i ca da minor i a d i s so lu ta como a

    t ica do capi ta l is ta , e la af i rma e refora a manu-

    teno do esc ravo as sa la r i ado , o pro le t r io , for t e -

    p ien te a t re l ado ao ca r ro do capi t a l pe los gr i lhes

    f o r j a d o s p o r H e f s t o .

    Alm de ex ig i r e ra t i f i ca r o s eu apr i s ionamento e a

    sua tor tura d i r i a , a t i ca preva len te nes t a soc ieda-

    de , por caminhos d ive rsos , impe a subse rv inc ia

    e a pa rc imnia do pro le t a r i ado burgues ia ; ex i -

    ge o consenso e a ace i t ao da sua explorao e

    opres so; inculca o s en t imento de s e rv ido volun