Jules Rimet se torna real na primeira Copa Pr i m a C o p ... · O Brasil caiu no Grupo 2, ao lado...
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JUIZ DE FORA • domingo, 21 de Março de 2010
15EsportesJF HOJE
Pr i m a C o p a !•Obra máxima de
Jules Rimet se torna
real na primeira Copa
do Mundo, disputada
no Uruguai, em 1930
Renato Salles
O ano de 1930 deixou um legado indelével
nos mais diversos setores da sociedade. Du-
rante o decorrer daqueles 365 dias, Mickey
Mouse foi visto pela primeira vez em uma tira de
jornal. No Brasil, Washington Luís foi deposto
da Presidência da República, em Outubro,
naquela que fora chamada a Revolução de 30.
Enquanto um presidente caía, outro vinha ao
mundo: José Sarney. O cinema mundial viu
nascer astros como Clint Eastwood, Gene Ha-
ckman, Sean Connery e Steve McQueen. Na
TV brasileira, Lima Duarte, Carlos Zara, Ar-
mando Bógus, Jece Valadão e o mito Sílvio
Santos. O choro de Ray Charles foi sua primeira
'música', ainda na maternidade. As inteligên-
cias de Ferreira Goulart e Paulo Francis tiveram
suas primeiras sinapses, enquanto a de Arthur
Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes,
findava o livro de sua história. No desporto, São
Paulo Futebol Clube e Fast Clube, de Manaus,
foram fundados. Porém, no mundo da bola, a
contribuição mais brilhante foi a materialização
do sonho maior de Jules Rimet, então pre-
sidente da Fifa: a Copa do Mundo de 1930.
E como muita ideia boa no mundo, o
primeiro Mundial só foi realizado para tentar
equacionar um problema. Após os Jogos Olím-
picos de 1928, onde existiram várias divergências
quanto às condições de amadores de alguns
jogadores, ficou decidido: o futebol estava fora
das Olimpíadas de 1932. A Fifa - entenda-se
Jules Rimet - não se fez de rogada e decidiu criar
seu próprio torneio entre países. A Copa era um
embrião, que nasceria dois anos mais tarde.
Atual Bicampeão Olímpico, o Uruguai foi
escolhido para sediar o evento. O Mundial seria
também uma celebração ao centenário da
independência uruguaia. Sem tempo hábil
para elaborar qualquer tipo de torneio qua-
lificatório, as seleções participantes foram con-
vidadas. Os europeus esvaziaram a compe-
tição. De imediato, Itália, Espanha, Hungria,
Alemanha e Suíça declinaram do convite. Um
dos principais motivos seria a longa viagem,
que, naquele tempo, só era possível em navios
e durava cerca de 15 dias. Mais tarde, foi a vez
de Áustria, Inglaterra e a então Tchecos-
lováquia pularem do barco. Assim, o torneio
que contaria com 16 equipes teve apenas 13.
Do Velho Continente, quatro países atra-
vessaram o Oceano Atlântico. Três por in-
fluência de Jules Rimet. A França, país de
nascimento do então presidente da Fifa; a
Bélgica, de Rodolphe Seeldrayers, dirigente da
Fifa e braço-direito de Rimet, e a Bélgica, onde
o mandatário também movia seus pauzinhos.
Além da Romênia, que havia recém-empos-
sado Carol II, um rei fanático por futebol.
O ‘bloco americano’ foi formado por:
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Estados
Unidos, México, Paraguai, Peru e Uru-
guai - o país-sede.
•A Seleção do
Uruguai formada
com: Mascheroni,
Nasazzi, Ballesteros,
Fernández, Andrade
e Gestido (em pé),
Dorado, Scarone,
Castro, Cea e Iriarte
(agachados): os
primeiros campeões
da História das
Copas do Mundo.
Rola a pelota para o primeiro Mundial
Com apenas 13 participantes, a formação dos
grupos foi, digamos, ‘meio’ torta. Uma chave com
quatro componentes e outras três com três equipes.
O Grupo 1 foi ‘agraciado’ com quatro seleções:
Argentina, Chile, França e México. As duas últimas
seleções tiveram o privilégio de realizar o primeiro
jogo da História dos Mundiais. E coube ao francês
Louis Laurent a honraria do primeiro gol em uma
Copa do Mundo, aos 19 minutos do primeiro
tempo, na vitória de sua seleção por 4 a 1.
Apesar do bom início francês, a Ar-
gentina, de Stábile - o primeiro goleador da
História das Copas, com 8 gols -, levou a
melhor, venceu suas três partidas (1 a 0, na
França; 6 a 3, no México; e 3 a 1 sobre o Chile)
e carimbou o passaporte para as Semifinais.
O Brasil caiu no Grupo 2, ao lado de
Bolívia e Iugoslávia. Os europeus foram su-
periores e, também com 100% de aprovei-
tamento (vitória de 2 a 1 sobre o Brasil e 4 a 0
contra a Bolívia), garantiram vaga na fase
decisiva da Copa.
A principal força do futebol na época e
donos da casa, o Uruguai estava no Grupo 3,
juntamente com Romênia e Peru. A Celeste
Olímpica não encontrou maiores dificuldades
para se classificar e bateu os sul-americanos
por 1 a 0 e os europeus por 4 a 0.
No Grupo 4, Paraguai e Bélgica foram
coadjuvantes, dos protagonistas, os Estados
Unidos, que, reforçados por ingleses e es-
coceses, venceram seus dois duelos pelo mes-
mo placar: 3 a 0, sobre paraguaios e belgas.
Vieram as Semifinais e os jogos foram
decididos pelo mesmo placar: sonoros 6 a 1
fizeram as alegrias de Uruguai e Argentina, que
deram show e golearam Estados Unidos e
Iugoslávia, respectivamente.
URUGUAI VENCE A BATALHA
“Victória ou muerte”! Era o lema dos tor-
cedores argentinos, que, aos montes, invadiam
Montevidéu, atravessando o Rio da Prata em
barcas superlotadas. Uruguai e Argentina re-
editavam a final das Olimpíadas de 1928, ven-
cida pelos uruguaios. Assim, a esquadra ar-
gentina adentrou o gramado do Estádio Olím-
pico sedenta por vingança. Contudo, em vez de
mordiscar um prato frio, acabou queimando a
língua e o filme diante do bom futebol apre-
sentado pelos donos da casa, que, de virada,
aplicaram 4 a 2, diante de uma ensandecida turba
de cerca de 93 mil torcedores. A Celeste
Olímpica demonstrou sua supremacia - ao me-
nos, nos idos dos Anos 30 - e recebeu das mão de
Jules Rimet a Copa do Mundo, troféu que mais
tarde receberia o nome de seu idealizador e
acabaria derretida por um ladrão de galinhas
qualquer no Brasil. Aos argentinos, nem ‘vic-
tória’, nem ‘muerte‘. Apenas as batatas.
BRASIL TÍMIDO
Repleto de alcunhas portentosas como País
do Futebol e Pentacampeão, o Brasil teve um
início tímido ao escrever o primeiro capítulo de
sua história nas Copas. Por conta do bairrismo -
que ainda hoje se faz presente e nocivo -, os
brasileiros perderam na véspera. No duelo entre
Rio de Janeiro e São Paulo, nenhum vencedor.
Explica-se: para o Mundial, foi formada
uma ‘comissão selecionadora’ composta por
cariocas. Enciumada, a Associação Paulista de
Esportes Atléticos solicitou a inclusão de um
de seus quadros, no que foi negada. Em
represália, a Apea não permitiu que 15 jo-
gadores que atuavam no futebol paulista -
entre eles Friedenreich -, que formavam a nata
do futebol tupiniquim, integrassem a Seleção.
O único dissidente foi o atacante Araken, que
se passou por atleta do Flamengo.
Resultado: enfraquecido, o Brasil foi der-
rotado em sua estreia contra a Iugoslávia, por 2
a 1. Coube a Preguinho, marcar o primeiro gol
brasileiro em Mundiais. Em seu segundo jogo, a
primeira vitória, na goleada por 4 a 0 sobre a
Bolívia. Moderato (2) e Preguinho (2) as-
sinalaram. Pouco adiantou, pois, como a Iu-
goslávia já havia vencido a Bolívia, também por
4 a 0, dias antes, o Brasil já estava eliminado.