Julho-Agosto 2011suplemento

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Política PÁG. 5 Especial PÁG. 6 E 7 Cidade PÁG. 4 Saúde PÁG. 9 Comportamento PÁG. 11 Campus PÁG. 3 Empresários locais buscam adaptar tendências lançadas em desfiles internacionais para se diferenciar no mercado. Mesmo distante dos grandes centros, a cidade conta com número Moda local recria estilos para o público juiz-forano Equipamento criado pela UFJF será produzido comercialmente Pesquisa PÁG. 8 Servidores da saúde, educação e segurança unificaram suas queixas ao Governo de Minas em busca de mais benefícios e melhores salários. Suplementos podem causar transtornos à saúde Vários setores se unem em greve Acordo inédito tem o objetivo de estabelecer parceria para de- senvolvimento de pesquisas e tecnologia de detecção de frau- des em leite. Aliar projetos ambientais ao bem-estar da população é o grande desafio Prefeitura retoma obras para contrução da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) União Indústria e ampliação do processo de despoluição do Rio Parai- buna. No entanto, ainda é preciso en- frentar os problemas sociais gerados Discussões sobre modalidades de ingresso buscam resolver insegurança provocada pelo Enem. Cursinhos reclamam de procedimento da UFJF enquanto estudantes demonstram insa- tisfação. Banda larga móvel enfrenta problemas em Juiz de Fora Mudanças no processo seletivo da UFJF para 2013 Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora, Agosto de 2011 | Ano 46 | Nº 215 Jornal de Estudo pela ETE de Barbosa Lage. Moradores do bairro reclamam do mau cheiro no local e afirmam que a poluição do ar tem causado transtornos respiratórios, queda na movimentação do comércio e desvalorização dos imóveis. Nesse ano mais de cem recla- mações já foram feitas ao Pro- con. Usuários se queixam da ve- locidade e da falta de disponibi- lidade do serviço oferecido. A fim de melhorar o desempe- nho físico, jovens utilizam subs- tâncias químicas sem orienta- ção médica. Os princiais riscos são problemas renais, cardíacos e aumento da gordura corporal. Um grande desafio aos poetas locais Mesmo com as facilidades tecnológicas, jovens escritores juiz-foranos enfrentam obstáculos para a promoção de sua poesia além dos limites da cidade. Cultura PÁG. 12 Foto: Angélica Simeão Foto: Divulgação Catadores tem um papel importante no processo de reciclagem, mas não são valorizados pelas autoridades e tampouco reconhecidos socialmente. Foto: Paula Duarte expressivo de indústrias dedicadas a esse segmento. Ao todo são 980 empresas filiadas ao Sindivest, unidas pelo objetivo de fortalecer o setor têxtil com produtos de qualidade e preços competitivos.

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Campus pág. 3 Pesquisa pág. 8 Cidade pág. 4 Cultura pág. 12 Saúde pág. 9 Especial pág. 6 e 7 Política pág. 5 Discussões sobre modalidades de ingresso buscam resolver insegurança provocada pelo Enem. Cursinhos reclamam de procedimento da UFJF enquanto estudantes demonstram insa- tisfação. Acordo inédito tem o objetivo de estabelecer parceria para de- senvolvimento de pesquisas e tecnologia de detecção de frau- des em leite. Foto: Divulgação Foto: Paula Duarte

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Política pág. 5

Especial pág. 6 e 7

Cidade pág. 4

Saúde pág. 9

Comportamento pág. 11

Campus pág. 3

Empresários locais buscam adaptar tendências lançadas em desfiles internacionais para se diferenciar no mercado. Mesmo distante dos grandes centros, a cidade conta com número

Moda local recria estilos para o público juiz-forano

Equipamento criado pela UFJF será produzido comercialmente

Pesquisa pág. 8

Servidores da saúde, educação e segurança unificaram suas queixas ao Governo de Minas em busca de mais benefícios e melhores salários.

Suplementos podem causar transtornos à saúde

Vários setores se unem em greve

Acordo inédito tem o objetivo de estabelecer parceria para de-senvolvimento de pesquisas e tecnologia de detecção de frau-des em leite.

Aliar projetos ambientais ao bem-estar da população é o grande desafioPrefeitura retoma obras para contrução da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) União Indústria e ampliação do processo de despoluição do Rio Parai-buna. No entanto, ainda é preciso en-frentar os problemas sociais gerados

Discussões sobre modalidades de ingresso buscam resolver insegurança provocada pelo Enem. Cursinhos reclamam de procedimento da UFJF enquanto estudantes demonstram insa-tisfação.

Banda larga móvel enfrenta problemas em Juiz de Fora

Mudanças no processo seletivo da UFJF para 2013

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora, Agosto de 2011 | Ano 46 | Nº 215

Jornal de Estudo

pela ETE de Barbosa Lage. Moradores do bairro reclamam do mau cheiro no local e afirmam que a poluição do ar tem causado transtornos respiratórios, queda na movimentação do comércio e desvalorização dos imóveis.

Nesse ano mais de cem recla-mações já foram feitas ao Pro-con. Usuários se queixam da ve-locidade e da falta de disponibi-lidade do serviço oferecido.

A fim de melhorar o desempe-nho físico, jovens utilizam subs-tâncias químicas sem orienta-ção médica. Os princiais riscos são problemas renais, cardíacos e aumento da gordura corporal.

Um grande desafio aos poetas locais Mesmo com as facilidades tecnológicas, jovens escritores juiz-foranos enfrentam obstáculos para a promoção de sua poesia além dos limites da cidade.

Cultura pág. 12

Foto: Angélica Simeão

Foto: Divulgação

Catadores tem um papel importante no processo de reciclagem, mas não são valorizados pelas autoridades e tampouco reconhecidos socialmente.

Foto: Paula Duarte

expressivo de indústrias dedicadas a esse segmento. Ao todo são 980 empresas filiadas ao Sindivest, unidas pelo objetivo de fortalecer o setor têxtil com produtos de qualidade e preços competitivos.

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Agosto de 2011Jornal de EstudoOpinião2

Expediente

Editorial

Artigo

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de ForaProduzido pelos alunos de Técnica de Produção em Jornalismo Impresso

Reitor: Prof. Dr. Henrique Duque de Miranda Chaves FilhoVice-Reitor: Prof. Dr. José Luiz Rezende Pereira

Diretora da Faculdade de Comunicação: Profª. Drª. Marise Pimentel MendesVice-Diretor da Faculdade de Comunicação: Prof. Dr. Paulo Roberto Figueira LealCoordenador da Faculdade de Comunicação diurno: Profª. Ms. Letícia Barbosa Torres AmericanoCoordenadora da Faculdade de Comunicação noturno: Profª. Ms. Eduardo Sérgio Leão de Souza

Chefe do Dept. de Jornalismo: Profº. Drº. Boanerges Balbino Lopes FilhoProfessores orientadores:Prof. Dr. Wedencley Alves, Profª. Ms. Janaina Nunes, Profª. Ms. Simone MartinsEstágio docência: Flávia Lopes

Projeto Gráfico: Karolina Vargas e Poliana CabralMonitoria: Felipe ZschaberReportagem e Diagramação: Amanda Antunes, Ana Luiza Maia, Bruna Pfeiffer, Camila Guedes,Guilherme Landim, José Renato Lima, Laís Mesquita, Lorena Goretti, Mariana Brandão, Paula

Tiragem: 1.000 exemplaresEndereço: Campus Universitário de Martelos, s/n – Bairro Martelos 36036-900Telefones: (32) 2102-3601 / 2102-3602

Duarte, Rafael Melo, Rafael Simão, Rayan Siqueira, Thauan Monteiro, Andréia Oliveira, Carlos Alexandre, Diego Casano-vas, Edmo Olavo, Fred Castro, Gustavo Araújo, Janaina Morais, Luiza Sansão, Mariana Melo, Naira Gabry, Rafael Rezende, Renato Itaboray, Tainá Costa e Victor Henriques

Por mais que se questione o slo-gan da atual administração, as

ações da “Nova Juiz de Fora” levam à reflexão sobre o futuro do municí-pio. A frase soa um tanto exagerada, tendo em vista que a cidade não se transformou tanto como a propagan-da da Prefeitura sugere. No entanto, as prioridades elaboradas pelo Exe-cutivo, valorizando certos proble-mas em detrimento de outros tantos, apontam para o que se transformará Juiz de Fora em pouco tempo, com alguns problemas resolvidos, e ou-tros tantos agravados, devido ao des-caso atual.

Entre várias questões que pode-riam ser pensadas, uma que é vista com preocupação é a preservação do meio ambiente. O assunto parece ser incômodo para os políticos, que tal-vez tenham chegado à conclusão de que solucionar problemas ambientais dá menor visibilidade do que refazer o asfaltamento das ruas da cidade. Em busca dessa visibilidade, as obras são feitas em horários de pico, para a população inteira perceber que a Prefeitura está investindo, de alguma forma. Seja lá qual o motivo, o fato é que a “Nova Juiz de Fora” não inclui, até o momento, programas de cunho ecológico.

A única notícia apresentada com empolgação pelo prefeito, em plena comemoração dos 161 anos da cida-de, foi a liberação da verba para a construção de uma nova estação de tratamento de esgoto. No entanto, o projeto faz parte de uma “velha” Juiz de Fora - foi iniciado em 2006 e paralisado pela Polícia Federal, após suspeita de irregularidade.

A falta de ação da Prefeitura, porém, tem despertado uma série de ações exemplares na busca pela resolução das carências na estrutu-ra da cidade. Hoje, 83 organizações não-governamentais (ONGs) pro-curam suprir as necessidades dos cidadãos. As áreas de atuação são várias, como educação ou profis-sionalização, relação de gênero/mu-lher, assistência social, assistência à criança e ao adolescente e, claro, aquelas preocupadas com o meio ambiente, como a AMA-JF. O au-mento do trabalho voluntário é uma demonstração da insatisfação da população com o desempenho dos políticos locais, além de apresentar uma capacidade de reação positiva. Mas será que ações isoladas sem envolvimento do poder público são suficientes para termos, realmente, uma Nova Juiz de Fora?

A “Nova” Juiz de Fora

Juiz de Fora tem problemas muito de-licados a serem resolvidos na questão

ambiental. Há poucos anos, por exemplo, havia o plano de construir um condomínio fechado na Mata do Krambeck. A medida foi amplamente combatida pela população, através de passeatas e abaixo-assinados. E, graças à mobilização popular, o condomí-nio não foi construído.

O lixo em Juiz de Fora não é devi-damente tratado, mas já foi muito pior. A trajetória do lixo, como pode ser percebi-do na reportagem especial desta edição, é tortuosa. Passa pelo desrespeito às leis ambientais, que têm origem nas más admi-nistrações (que se mantêm há décadas no poder), que atrofiam sua capacidade por meio de decisões equivocadas.

Atualmente, nossa cidade (e conse-quentemente nós mesmos) paga pelas nos-

Meio ambiente: Muito já foi feito, mas ainda há muito a realizar

Charge: D

iego Casanovas

O retorno do saudoso bolachão

sas escolhas na hora de ir às urnas e pelos nossos maus costumes. Antes de cobrar das instituições, devemos avaliar se a nos-sa conduta individual é favorável ao meio ambiente.

A história da cidade com relação à coleta seletiva feita com regularidade é recente. E conseguir que a questão do lixo, assim como outras questões gover-namentais, sejam executadas com quali-dade, depende, acima de tudo, da mobili-zação popular, que começa com a atitude individual. As melhorias em relação aos cuidados com o meio ambiente irão se firmar apenas se ocorrer uma integração entre as empresas responsáveis pelas co-letas, Prefeitura, população e ambienta-listas. O trabalho necessita de várias me-didas que não funcionam isoladamente; procedimentos eficazes e planejados são fundamentais para que Juiz de Fora al-cance resultados positivos na questão da preservação ambiental.

As atitudes equivocadas de boa parte

Edmo OlavoGustavo Araújo

Algumas tecnologias morrem com o tempo, como as máquinas de escre-

ver, câmeras analógicas e os disquetes. Outras continuam vivas, mesmo com o surgimento de alternativas melhores, mais fáceis, baratas, eficientes e compactas.

Atualmente, a nova geração musical é representada pelo o mp3. Porém, ainda é possível encontrar pessoas que não perde-ram o encanto pelo antigo vinil, também conhecido como “bolachão”. Embora considerados como raridades, há quem não dispense uma vitrola, um bom LP, e

até colecionam exemplares dessa antiga mídia. Quem curte, afirma que o velho “disco” não perde em nada para as mídias modernas. Pelo contrário, existem pessoas que dizem que o vinil tem mais qualidade de som, melhor reprodução musical, e des-perta mais fascínio que os modernos CDs.

A indústria fonográfica já ganhou muito dinheiro ao substituir os remotos “bolachões” pelos discos compactos di-gitais. Mas, ironicamente, o tiro acabou saindo pela culatra, porque um formato digital e altamente reprodutível e gravá-vel como o CD criou condições perfeitas para a pirataria na internet. Na era do vinil essa realidade era bem diferente: os LPs

Andréia OliveiraCarlos Alexandre

da população ajuda a agravar tais proble-mas, o simples ato de jogar um pedaço de papel em um rio já ocasiona um impacto ambiental significativo. É preciso educar a população e mostrar que pequenos erros podem gerar problemas muito maiores, pois são as atitudes de cada indivíduo que vão fazer toda a diferença em um futuro bem próximo. Os investimentos em reci-clagem são ferramentas que podem dar muito certo, uma vez que esse trabalho filtraria boa parte do lixo coletado. Isso iria ajudar a diminuir a grande quantidade de lixo depositado nos aterros sanitários. As autoridades devem trabalhar de ma-neira ativa para que projetos favoráveis ao meio ambiente sejam concretizados e bem executados. Portanto, o que falta para Juiz de Fora é o comprometimento de to-dos. Identificar o problema e criar medidas para resolvê-lo é uma ação que deve ser tomada imediatamente, pois as agressões ao meio ambiente são constantes e total-mente destrutivas.

não sofreram com o problema da cópia. O retorno do vinil, muitas vezes, está

no valor sentimental e nostálgico que as pessoas atribuem ao que é bom, ou foi bom e não querem que seja esquecido.

Dentro dessa nova tendência e de olho no público predisposto a consumir, alguns artistas como as cantoras Pitty, Fernanda Takai e a banda Iron Maiden, atualmente, estão recorrendo à tecnologia do passado. Mas, mais do que dar respos-ta a este saudosismo do público, a volta do vinil vem dando um possível fôlego e representando uma luz no fim do túnel para a cada vez menos lucrativa indústria fonográfica.

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Jornal de Estudo CampusAgosto de 2011

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Ações sociais para aquecer o inverno de Juiz de ForaCamila Guedes

Campanhas realizadas no Critt e na Facom da UFJF arrecadam doações para instituições beneficentes da cidade

Com a chegada do in-verno é hora de tirar os agasalhos do fundo do

guarda-roupa para encarar o frio de Juiz de Fora. Mas a realidade não é assim para todos. A cida-de possui muitos desabrigados e famílias carentes, que precisam de doações para sobreviver às madrugadas geladas da estação. Segundo dados da Universidade de Tecnologia de Queensland, Austrália, pesquisas realizadas em todo o mundo constatam que no inverno aumenta o número de mortes por doenças cardiovascu-lares e pulmonares. Alguns dos motivos para essa estimativa se-ria a falta de proteção contra o frio e o uso de roupas inadequa-das para baixas temperaturas.

Movidos por esta causa, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) promove campa-nhas para incentivar a solidarie-dade da comunidade acadêmica e da população em geral. Pelo sexto ano consecutivo, o Centro Regional de Inovação e Trans-ferência de Tecnologia (Critt) da UFJF lança a sua Campanha de Inverno. O objetivo é arre-cadar agasalhos, roupas, calça-

dos, alimentos não-perecíveis e materiais de higiene pessoal e de limpeza a serem doados para instituições beneficentes da ci-dade. No ano passado, foram ar-recadadas 3.358 peças (roupas, agasalhos, cobertores, calçados, e itens diversos de uso pessoal), 1.140 kg de alimentos e produtos de higiene e limpeza, 262 brin-quedos e livros. Os itens foram doados para três locais: Funda-ção Maria Mãe, Grupo Casa e Grupo Semente. Este ano, as do-ações serão encaminhadas para

as mesmas instituições.O diretor do Critt, Luiz

Carlos Tonelli, ressaltou a im-portância da parceria dentro do Campus. “Contando com a par-ceria das empresas juniores da UFJF, unidades acadêmicas e das empresas incubadas no Critt, a expectativa é superar o resul-tado da campanha anterior e ba-ter o recorde de arrecadações.” Tonelli convida a comunidade de Juiz de Fora a participar da Campanha de Inverno, deixan-do suas doações em um dos 27

postos de coleta espalhados pela Universidade.

Comunicação e solidariedadeParalelamente à campanha

do Critt, um grupo de alunos da disciplina Comunicação Comu-nitária, da Faculdade de Comu-nicação da UFJF, realizou neste primeiro semestre a Campanha do Agasalho, com o objetivo de arrecadar agasalhos, cobertores, meias e tocas para as mais de 250 famílias atendidas pela Associa-ção Beneficente Mão Amiga. A

UFJF pretende estabilizar modelo de seleçãoJosé Renato LimaRayan SiqueiraThauan Monteiro

Conselho de Graduação vem debatendo modalidades de processo seletivo a serem adotadas em 2013

Ser ou não ser, eis a ques-tão. A indecisão de Ham-let bem que poderia ser

transferida da peça para o dia a dia do vestibulando brasileiro. Se não bastasse a dúvida de ter que escolher uma profissão para o resto da vida, nos últimos anos, o estudante teve sua aflição acres-cida por problemas no Enem e, no caso específico da UFJF, por um número grande de modalida-des de ingresso (vestibular, Pism, cotas e Enem).

A UFJF realiza entre os me-ses de junho e outubro uma série de debates com a comunidade sobre o processo de ingresso para 2013. Segundo o pró-reitor de Graduação, Eduardo Magro-ne, o debate servirá para esclare-cer e chegar a um consenso sobre o melhor método de avaliação. “Nosso objetivo é estabilizar o modelo de ingresso para que o aluno possa se preparar melhor. Em razão das muitas modalida-des de entrada, o estudante não sabe onde apostar suas fichas. Estabilizando o tipo de ingresso, ele poderá se preocupar só em estudar”, afirmou.

Para o diretor de educação

do curso Cave, Nelson Ragazzi, o processo vigente apresenta sérios inconvenientes. “O atual proces-so não é ruim, o problema é que o Enem acontece muito cedo, e as-sim fica difícil de preparar o alu-no. O ideal é que o Enem deixasse de ser no meio do ano e passasse para o final. Mas sem dúvida a indecisão de qual modelo é o pior de tudo, pois gera a insegurança do aluno”, declarou.

Ragazzi também reclamou da data marcada para a discussão da Universidade com os cursi-nhos e escolas e do método de discussão adotado. “O debate será apenas no final de outubro. Nós já tivemos experiências ante-

riores de discussões, e nelas não houve debate, e sim um comuni-cado. Espero que dessa vez pos-samos debater o assunto”, disse o diretor.

Dificuldades de escolhaO candidato ao curso de me-

dicina, para as vagas reservadas a alunos de escola pública, Ramón Brandão, 19 anos, admitiu a pre-ocupação em relação ao modelo a ser adotado. “Espero que a UFJF não faça como Viçosa, que não adote o SiSU. O sistema é horrí-vel, eu posso ir parar lá na Ama-zônia e não tenho condições de estudar fora. Penso que o melhor é o vestibular convencional”, de-

sabafou. Já o concorrente e colega de

quarto de Ramón, Filemon Gar-cia, 18, faz críticas ao Exame Na-cional do Ensino Médio (Enem). “A prova avalia todo mundo por baixo. Além disso, os critérios de redação são duvidosos. Fica tudo muito aberto. Isso deixa a gente desconfiado. Eu penso que, ao in-vés de o Governo ficar gastando dinheiro com o Enem, devia me-lhorar a educação de base. Assim as cotas seriam desnecessárias”, bradou o jovem.

O Sistema de Seleção Unifi-cada, SiSU, é uma plataforma in-formatizada gerenciada pelo Mi-nistério da Educação, por meio

da qual as universidades conve-niadas selecionam seus alunos a partir da nota do Enem. O candi-dato se inscreve para a universi-dade que deseja, no curso de sua escolha, e depois as notas são comparadas. As maiores entram. Deste modo, um estudante do Sul pode passar para uma universi-dade no Nordeste. Além disso, este ano, os interessados tiveram muitas dificuldades de se inscre-ver no SiSU devido à sobrecarga do sistema.

O Enem também apresentou muitos problemas nos últimos anos. Em 2009, a prova vazou antes da hora. Em 2010, passou por problemas de impressão de provas e gabaritos, além de sus-peitas de vazamento do tema da redação. O Enem foi criado, du-rante o governo FHC, pelo minis-tro Paulo Bernardo, para ser um meio de avaliação da qualidade do ensino e não um processo se-letivo. De lá pra cá tem se trans-formado em prova de ingresso.

Todos esse problemas, junta-mente com as recentes pérolas do MEC, como o kit gay e a carti-lha orientando os professores a aceitarem erros de gramática e de concordância dos alunos, têm desgastado o ministro Fernando Haddad, que por indicação de Lula, deve ser o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo.

Grupo Semente recebe doações da Campanha de Inverno do Critt de 2010; foram arrecadados alimentos, agasalhos e brinquedos

Os estudantes Filemon Garcia e Ramón Brandão preferem o modelo tradicional de ingresso universitário

Foto: Divulgação/Critt

Foto: Thauan Monteiro

cada período, os alunos realizam trabalhos voluntários com orga-nizações beneficentes de Juiz de Fora, como o desenvolvimento de ferramentas de comunicação e a busca pela interação entre a população carente e a sociedade em geral.

A estudante Gisele Rocha, integrante da turma, contou como foram os trabalhos junto à comunidade. “Nós arrecada-mos presentes para as crianças na Páscoa, mantivemos o blog do Mão Amiga, que já existia, e fizemos a parceria com eles para a Campanha do Agasalho”. A ideia inicial da Campanha, como conta Gisele, “era um ‘pedágio solidário’ em prol das famílias assistidas pelo Mão Amiga. Como não são todas as pessoas que andam com agasalhos no carro para doar, decidimos en-tão divulgar melhor essa ideia, possibilitando aos doadores que a boa ação pudesse ser realizada da sua própria casa”. Seja dentro da sala de aula ou fora dela, não há dúvidas de que ser solidário é um dever de cada cidadão. Faça você também a sua parte, sendo inverno ou verão, sempre haverá alguém esperando pela sua aju-da.

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Agosto de 2011Jornal de EstudoCidade4

ONGs da cidade focam em áreas diferentes das nacionaisEdmo OlavoGustavo Araújo

Organizações de Juiz de Fora têm como prioridade a assistência social e o auxílio à criança e ao adolescente

De acordo com a últi-ma pesquisa realizada pela Associação Bra-

sileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG), realizada com 951 ONGs por todo o Brasil, a maior parte de-las tem como áreas de atuação educação ou profissionalização (12,72% - 121 ONGs) e rela-ção de gênero/mulher (10,93% - 104 ONGs). Tais números não correspondem às estatísticas locais. Em cadastro realizado pela Prefeitura de Juiz de Fora, de 83 ONGs da cidade, 21 de-las (25,3%) atuam na área da assistência social. O número se repete na contabilização de or-ganizações trabalhando na área de assistência à criança e ao adolescente. Segundo o cientis-ta social René Eberle, a diferen-ça entre as estatísticas nacional e local deriva do fato de que “as necessidades sociais variam de região para região. Isso também varia de acordo com a motiva-ção da formação das ONGs. Em

Juiz de Fora, muitas delas pos-suem motivação de fundo reli-gioso, o que justifica os núme-ros encontrados pela pesquisa da Prefeitura”.

Motivação para o voluntariadoTrabalhadora mais antiga

do Instituto Bruno (ONG que trabalha no atendimento gratui-to a pessoas com surdoceguei-ra e paralisia cerebral), Sônia Marta Norberto conta que co-nheceu o instituto há sete anos. Ela passou a frequentar a fim de levar o filho Gunther, que é de-ficiente, para fazer tratamento. “Fui conhecendo o trabalho que era ali realizado e vi que eles precisavam de voluntários; en-tão resolvi ajudá-los”, diz ela. Hoje, o Instituto Bruno possui duas unidades no Bairro Jardim Glória. “O Instituto é a minha segunda casa; aqui eu convivo com os outros funcionários, com os familiares dos assistidos e aprendo como voluntária a participar do desenvolvimento das pessoas, principalmente das crianças. Tenho prazer em aju-dar todos os dias”, conta Sônia.

Morador de rua há cinco

anos, João Carlos da Silva é atendido constantemente pela Sociedade Beneficente Sopa dos Pobres. “Graças a Deus, eles sempre aparecem. Ainda mais nesse frio, eles ajudam bastan-te”, diz ele. A Sopa dos Pobres é a mais antiga ONG de Juiz de Fora. Ela está na ativa desde 1910 e foi registrada como ins-tituição em 1931. Ela é manti-da desde o começo com ajuda da população e do empresaria-do local. Segundo a presidente da instituição Vanda Fonseca, “toda ajuda é muito válida para a manutenção da distribuição da sopa. Alimentos, dinheiro, rou-

pas, sapatos ou ajuda humana. Tudo vai ser aproveitado”.

Definição de ONGEm um primeiro momen-

to, pode-se conceituar a ONG, como “um grupo social sem fins lucrativos, caracterizado por ações de solidariedade no cam-po das políticas públicas e pelo exercício de pressões políticas em defesa de nichos excluídos das condições da cidadania”. Ou seja, segundo a definição de René Eberle, as organiza-ções não-governamentais são iniciativas formadas por pesso-as em defesa de algo público,

Serviço de banda larga é motivo de reclamaçõesEdmo OlavoGustavo Araújo

Internet móvel disponível em JF se torna alvo de críticas devido a baixa velocidade e cobertura restrita

A chegada da tecnologia 3G causou expecta-tiva nos internautas

juiz-foranos. O novo recurso de navegação veio com a in-tenção de tornar os serviços mais eficientes. Internet móvel é a nova tendência em muitas cidades brasileiras, porém a desenvoltura desses serviços no município ainda apresenta obstáculos para funcionar com um aproveitamento máximo.

Notebooks, tablets e ce-lulares são alguns dos dispo-sitivos que utilizam a internet móvel. Este avanço tecnológi-co proporcionou uma agilidade na troca de informações, mas muitos usuários ainda não es-tão satisfeitos com a qualidade da internet disponibilizada na cidade. É o caso do professor Carlos Teixeira, que diz não conseguir conectar a internet em seu aparelho celular; “eu sempre tento conectar no meu trabalho e não consigo, parece que o sinal fica fraco quando estou em determinados luga-res, ele oscila muito”, afirma.

Reclamações no ProconDe acordo com o Procon,

do início deste ano até meados de junho, 111 reclamações já

foram registradas por clientes descontentes com os serviços de internet móvel, e a tendência é que esse número aumente cada vez mais se as empresas não re-alizarem melhorias na qualida-de da cobertura local. A asses-

soria do Procon informou que a maior parte das reclamações são de usuários que não conse-guem captar sinal nos aparelhos celulares. O estudante Roberto Chagas comprou um modem de uma operadora e até hoje não

utilizou as vantagens oferecidas no plano que aderiu. “A internet do meu modem é de 1 MB, mas eu nunca cheguei a essa veloci-dade. Faço vários testes e nunca alcança, estou pagando por um serviço que não uso”, reclama.

Os dados da Agência Na-cional de Telecomunicações (Anatel) revelam que há mais de 48 mil pontos de acesso à banda larga fixa em Juiz de Fora. Mas para o especialis-ta em telecomunicações Jor-dan Nascimento, o serviço oferecido na cidade ainda é de baixa qualidade. Para ele, modificações podem ser fei-tas, mas os resultados só virão de maneira gradativa. Alguns especialistas consideram o projeto do Governo federal de beneficiar cidades mineiras com a banda larga uma das alternativas possíveis, pois, Juiz de Fora também está in-cluída no Plano Nacional de Banda Larga e deve receber o sistema até o fim deste ano. Este projeto visa massificar a oferta de acessos banda larga e promover o crescimento da capacidade da infraestrutura de telecomunicações do país.

Uma pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa e De-senvolvimento em Telecomu-nicações (CPqD), um dos mais conceituados polos de tecno-logia do mundo, mostrou uma deficiência nos aparatos tec-nológicos de Juiz de Fora. Na pesquisa, concluída em 2011, o município sequer entrou no ranking das cidades mais digi-talizadas do país.

Instituto Bruno: ONG da cidade já possui duas unidades no bairro Jardim Glória

Juizforanos estão insatisfeitos com os serviços de internet móvel da cidade e procuram opções mais baratas e eficientes

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

com ações que vão além das ações possíveis pelo Estado. De acordo com o advogado Ramiro Prata, “não há qualquer menção na Lei relacionado às ONGs. O que pensamos como ONGs são organizações do terceiro setor, tais como cooperativas ou asso-ciações. O que é regulamentado são as OSCIPS (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público), de acordo com a Lei 9.790, de 23/03/99”.

Como os conceitos são mui-to semelhantes, a OSCIP, como qualificação, segundo Ramiro, “é opcional, o que significa di-zer que as ONGS já constituídas podem optar por obter a qualifi-cação e as novas, podem optar por começar já se qualificando como OSCIP”.

Para tal qualificação, é necessário que a organização tenha CNPJ, estatuto registra-do em cartório, declaração de isenção do imposto de renda, além de ata de eleição e posse da gestão atual da instituição. A partir disso, pode-se mandar o requerimento de qualificação como OSCIP ao Ministro de Es-tado da Justiça.

Claudia Toledo, professora

“Eu utilizo a internet móvel

em minha casa e não tenho

porque reclamar, funciona

muito bem.”

Edson Montessi, técnico de informática

“Infelizmente em Juiz de Fora

a internet móvel ainda é ruim.”

Raíssa Delgado,comerciária

“Eu já utilizei vários dos

serviços disponíveis e

sempre tive problemas.”

Opiniões

Page 5: Julho-Agosto 2011suplemento

Jornal de Estudo PolíticaAgosto de 2011

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Mobilização política cresce entre jovens Amanda Antunes

Ações que estimulam o interesse pelo assunto são essenciais para construir uma sociedade crítica e cidadã

Organizando passeatas, tomando as ruas com a cara pintada. Foi assim

que, em agosto de 1992, estudan-tes expressaram sua indignação e exigiram o impeachment do en-tão presidente Fernando Collor de Mello. A luta obteve sucesso e mostrou o poder de mudança que eles tinham nas mãos. E hoje, essa militância ainda existe? Para o sociólogo Pedro Souza Jorge, sim: “Há um desinteresse pela po-lítica tradicional, partidária. Isso é decorrente da não adequação dos partidos ao comportamento dessa geração, que preza pelo dinâmico, pelo rápido. Mas os jovens têm encontrado outras formas de se manifestar, expondo suas opiniões pelas redes sociais e desenvolven-do projetos via internet”.

O episódio dos caras-pintadas exemplifica bem a importância da ação juvenil no exercício da cida-dania. Contudo, essa não é a úni-ca forma de participação na vida política da sociedade. É isso que aprendem os membros do Parla-mento Jovem, um projeto do Go-verno de Minas Gerais que tem o objetivo de estimular o envol-vimento de estudantes do Ensino

Médio com a agenda sociopolítica de seu município.

Juiz de Fora é uma das 12 cidades mineiras que implementa-ram o projeto. Aqui o Parlamento Jovem teve sua primeira edição no ano passado e, segundo o sociólo-go Sérgio Dutra, responsável pelo programa, já é possível enxergar resultados práticos: “É evidente a mudança no comportamento dos estudantes entre o primeiro encon-tro e a reunião de votação das pro-postas. Eles passam a se envolver com as questões da cidade”.

Essa mudança também é sentida pelos participantes. Alu-no do segundo ano do Ensino Médio no Colégio dos Jesuítas, Arthur Avelar, 17 anos, fala sobre sua experiência: “É importante a formação de consciência política para as pessoas não ficarem com a ideia de que democracia é ape-nas votar. Aqui nós aprendemos que ela também é exercida pelo fato de sabermos analisar direi-to, saber como funcionam o go-verno e a formação de leis, para poder opinar criticamente e agir”. Já para a estudante Sara Lempk Ferreira, 17, da Escola Estadual Antônio Carlos, houve uma mu-dança de postura: “Eu não gos-tava de política, nem sabia o que era. Mas aqui percebi que não é só corrupção, como muita gente

pensa”. O Parlamento Jovem ocorre

em duas etapas, uma municipal e outra estadual. Na primeira, todas as cidades desenvolvem propostas acerca de um tema. O da edição de julho de 2011 é “Drogas, como prevenir”. Os encontros são feitos nos próprios colégios. Com as propostas formuladas ocorre uma assembleia na Câmara Municipal e de lá apenas seis propostas são encaminhadas para a etapa esta-dual, em agosto, em Belo Hori-zonte. Segundo Sérgio Dutra, as propostas podem seguir por dois caminhos: “Elas são encaminha-das para a Comissão de Partici-pação Popular da Assembleia de Minas. Se o projeto se enquadrar como objeto de lei, a ação é enca-

minhada como iniciativa popular. Se ele se enquadrar como ação do poder executivo estadual, então é incluído no programa plurianual de gestão”.

Formação cidadã na escolaO professor de história Le-

nilson Araújo, do Colégio dos Jesuítas, ressalta a importância de conhecer a rotina de funciona-mento de órgãos políticos, como a Câmara Municipal de Vereadores: “A maioria das pessoas não sabe quais são os procedimentos reali-zados para a discussão e votação de uma lei, eu mesmo só fui co-nhecer depois de formado. Isso é tão importante que deveria ser en-sinado nas escolas”. Recentemen-te a preocupação com a formação

Participantes do Parlamento Jovem votam proposta na Câmara Municipal

Foto: Flávia Cadinelli

política dos estudantes brasileiros levou o governo a implementar no currículo do Ensino Médio as disciplinas Filosofia e Sociologia. “O trabalho é mais contextualiza-do, voltado para discussões que possam surtir efeitos práticos”, afirma Pedro Souza Jorge.

Outra iniciativa que busca in-serir temas políticos no cotidiano de adolescentes é realizada por in-tegrantes do Programa de Ensino Tutorial da Faculdade de Comu-nicação da UFJF (PET-FACOM). O projeto Cultura Política é de-senvolvido na Escola São Vicente de Paulo, no Bairro Borboleta. As atividades tiveram início em mar-ço do ano passado, com alunos do nono ano do Ensino Fundamental. Segundo o bolsista Cícero Villela, as oficinas são fundamentais para a formação cidadã dos jovens: “A maior parte da informação que recebemos, dos valores que prezamos, é adquirida pela TV, vem daquilo que chega até nós pelos meios de comunicação. E, na maioria das vezes, essa infor-mação já vem contaminada por uma visão política, o que dificul-ta a formação de um consciência crítica própria. O nosso trabalho é mostrar para esses jovens que existem outras perspectivas, que o que eles pensam e fazem tem valor”.

Conjuntura explica aumento de greves no paísPaula Duarte

Várias categorias cruzaram os braços porque a expansão da economia não vem se refletindo em melhoria salarial

No início do ano, os ope-rários da construção civil entraram em gre-

ve no Norte do Brasil. O movi-mento atraiu a atenção nacional porque o setor econômico está em alta. Em junho, o vídeo da professora Amanda Gurgel atin-giu mais de um milhão de exi-bições no Youtube. Ela critica as condições de trabalho dos educadores em audiência pú-blica no Rio Grande do Norte. A professora ganhou espaço no “Domingão do Faustão”, termi-nando sua fala pedindo aplau-sos aos professores em greve. Semanas mais tarde, o país vol-tou a discutir as consequências de outra greve: 400 bombeiros que manifestavam por reajuste salarial foram presos. No dia seguinte, 1.200 pessoas protes-taram contra a ação da polícia.

A professora Victória Melo, representante da Central Sindi-cal e Popular Conlutas, conside-ra que “nos últimos anos o Bra-sil vive uma expansão econômi-ca, porém a classe trabalhadora não se beneficia do aumento da riqueza, não tem aumento de sa-lários, nem direitos”. De acordo com o cientista político Diogo Tourino, “a situação em Minas Gerais é péssima, a situação da educação é ridícula, com o piso salarial muito baixo.” Sobre a conjuntura nacional, ele apon-tou a diferença entre os gover-

nos de Lula e Dilma. Enquanto o primeiro se preocupou com a reposição de direitos, o atual “inevitavelmente, tem essa ex-pansão estagnada”.

Victória entende que “fe-nômenos como Amanda Gurgel acontecem, pois o que ela dis-se reflete a realidade de todo o país: baixos salários, retirada de direitos e precarização”. Por outo lado, Tourino compreen-de que os novos mecanismos, como a internet, potencializam a difusão de informações. Assim como a sindicalista, ele afirma que o fato de uma professora falar de problemas concretos da categoria foi responsável pela abrangência de sua audiência. Já sobre a greve dos bombei-ros, a sindicalista acredita que “as reivindicações se refletem nacionalmente pela referência da categoria, além da solidarie-dade em resposta à truculência do governador Sérgio Cabral, o que gera aumento na conscien-tização”.

Revindicação de diversos setoresOs servidores da Saúde

são a terceira categoria a entrar em greve no estado. A Polícia Civil funciona com 50% do contingente desde o dia 12 de maio, os professores estaduais cessaram as atividades no dia 8 de junho. Os três setores anun-ciaram a unificação dos movi-mentos.

O delegado Marcelo Arms-trong, dirigente do Sindicato

dos Servidores da Polícia de Minas Gerais (SindPol) afirma que no “estado com a terceira arrecadação do país, os salários são um desrespeitos aos servi-dores”. Ele apontou o progra-ma Choque de Gestão, do Go-verno de Minas, como elemen-to de “sucateamento da saúde, educação e segurança”. A ini-ciativa do Choque de Gestão começou no primeiro mandato de Aécio Neves em 2002 com o intuito de erradicar as dívidas públicas do estado.

O professor Júlio Sezar Lang, explicou a reivindicação da categoria do cumprimento

do piso salarial de R$1.597,00 ao lugar dos R$1.320,00 pagos atualmente. De acordo com o membro do comando de gre-ve, o fato de o Supremo Tribu-nal Federal (STF) ter julgado como ilegal o pagamento de salários abaixo do piso impul-sionou o movimento dos fun-cionários da educação.

No dia 21 de junho, acon-teceu o segundo ato unificado entre polícia e funcionários da educação, em Juiz de Fora. Os manifestantes aproveitaram a reunião de autoridades e polí-ticos no Fórum Técnico sobre Segurança nas Escolas para

protestar. Além da unidade nos atos, os sindicalistas con-firmam que estarão juntos nas negociações com o Governo. De acordo com o SindPol, são esperados 25 mil trabalhadores para a assembleia unificada em Belo Horizonte.

Segundo o representante da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (Anel), Fe-lipe Fonseca, “hoje a educação no país vive uma grande crise e os penalizados são os trabalha-dores e os estudantes, por isso temos o compromisso de de-fender o direito de não se pagar pela educação”.

Foto: Paula Duarte

Professores e policiais civis unificaram suas revidicações e realizaram manifestação durante fórum que reunia autoridades de MG

Page 6: Julho-Agosto 2011suplemento

tam de tratamento adequado para que sejam removidas as impurezas e assim possam ser devolvidos ao meio ambiente sem causar danos à natureza e à saúde humana.

Geralmente o próprio meio ambiente possui a capacida-de de decompor a matéria or-gânica presente na água. No entanto, este não dá conta da enorme quantidade de efluen-tes, exigindo um tratamento mais eficaz. Nesse caso, as ETEs basicamente reproduzem a ação natural de maneira mais rápida.

Agosto de 2011Jornal de EstudoEspecial6

Juiz de Fora carece de ações mais efetivas em prol do meio ambienteJuiz de Fora trata apenas 12% do esgoto, políticas ambientais ainda não são a prioridade do município e associação de catadores de materiais recicláveis necessita de investimentos

Mariana MelloRenato Itaboray

A quantidade de lixo jo-gada em lugares irregulares aumenta a cada dia em Juiz de Fora. Só no Rio Paraibuna são coletados, semanalmente, dez toneladas de pneus, sacolas plásticas, pedaços de madeira, caixas e restos de alimento ao longo do trecho que corta a ci-dade.

Com o objetivo de promo-ver gradualmente a despolui-ção do Rio Paraibuna, a Esta-ção de Tratamento de Esgoto (ETE) de Barbosa Lage está no centro de uma polêmica en-tre os moradores do bairro por provocar por causa dos efei-tos da poluição do ar. O mau cheiro produzido pela emissão de gases do material tratado é apontado como responsável pela desvalorização dos imó-veis, a redução do movimento no comércio e o aparecimento de doenças.

De acordo com relato da vizinhança, é difícil até mesmo comer e dormir. “Estas esta-

ções tinham que ser constru-ídas bem longe da população, ninguém consegue ter uma boa qualidade de vida, convivendo com este mau cheiro”, declara a lojista Marilene Matos, mo-radora no local há cinco anos.

Umas das medidas aponta-das pela Cesama para minimi-zar a dissipação do mau cheiro será o plantio de 400 mudas de árvores na frente da estação, formando uma “cortina verde”. Além disso, serão instalados novos equipamentos capazes de diminuir a emissão dos ga-ses. No entanto, não há pre-visão para efetivação dessas e outras ações.

O projeto Eixo Paraibu-na, que prevê a construção da Estação de Tratamento União Indústria, está paralisado des-de 2006, quando a Polícia Fe-deral detectou irregularidades no processo. No entanto, com a comemoração do aniversá-rio da cidade, no último 31 de maio, o prefeito Custódio Mattos anunciou a retomada das obras, assim que concluí-da a fase de licitação. Além da

construção desta ETE, será ne-cessária ainda a implantação de um sistema de bombeamento e coletores que levarão o esgoto até a estação.

Segundo a assessoria da Companhia de Saneamento Municipal (Cesama), estão sendo implantados novas tu-bulações de água e esgoto em vários locais da cidade, princi-palmente na Região Norte. O projeto em desenvolvimento consiste na ampliação da capa-cidade de vazão da estação de ETE Barbosa Lage.

A coleta de esgoto na cida-

ETE Barbosa Lage é o motivo da polêmica entre moradores do bairro e a Companhia de Saneamento Municipal

Foto: Divulgação

de atinge 98,09% da população e, de acordo com a assessoria da Cesama, só não consegue alcançar a todos devido ao grande número de loteamentos que não são registrados pela prefeitura, mas que precisam ser assistidos. “Encontrar essas moradias e implantar rede de água e esgoto é o mais impor-tante,” ressalta a assessoria da Cesama.

Para entender a importân-cia das ETEs vale lembrar que esgoto, efluente ou resíduos líquidos provenientes de in-dústrias e domicílios necessi-

Pesquisas da Fundação SOS Mata Atlântica, do Projeto Águas de Minas, realizado pelo

Instituto Mineiro de Gestão de Águas (IGAM), e estudos de professores da UFJF revelam que os níveis de poluição no Rio Paraibuna são elevados. Os índices de material flutuante é alto, o de coliformes fecais é muito alto e, em alguns pontos, a cor também sofre alteração. De acordo com as análises, são vários parâ-metros que precisam ser monitorados e me-lhorados.

Outra importante causa de poluição são os resíduos industriais. A presença acima do to-lerável de elementos como ferro, manganês, cádmio, ferro e fósforo, como apontado no úl-timo relatório divulgado pelo IGAM, apontam para a poluição provocada pela atividade in-dustrial, principalmente nas áreas siderúrgica, metalúrgica e têxtil, além de papel/papelão, alimentícia, farmacêutica, colchão, curtume (couro) e cirúrgica.

O diretor executivo da ONG AMA-JF, Theo-doro Correa, afirma que é difícil estimar quan-to tempo de vida útil o Paraibuna ainda tem. Mas, seguindo este processo de poluição e de-gradação, em dez anos pode se tornar difícil a reversão da sua qualidade.

Em 2010, a SOS Mata Atlântica realizou análises em 43 rios brasileiros. Os monitora-mentos foram feitos em corpos d’água de 12 estados brasileiros das regiões Sudeste, Cen-tro-oeste e Nordeste, mas nenhum obteve re-sultado positivo.

Para realizar essa análise, a equipe utilizou um kit de monitoramento desenvolvido pelo Programa Rede das Águas, da própria ONG. O kit classifica a qualidade das águas em cinco níveis de pontuação: péssimo (de 14 a 20 pon-tos), ruim (de 21 a 26 pontos), regular (de 27 a 35 pontos), bom (de 36 a 40 pontos) e óti-mo (acima de 40 pontos). De acordo com os parâmetros analisados, o índice da qualidade da água do Rio Paraibuna obteve 25 pontos, sendo considerada ruim.

A AMA-JF possui uma parceria com a SOS Mata Atlântica desde 2009. No ano passado, a parceria deu origem a esse trabalho de análise das águas do Paraibuna. Em julho deste ano, mais uma vez será realizada a coleta de amos-tras para verificar a qualidade da água.

Efetivamente, ainda são pequenas as ações tomadas para a revitalização do rio. Até agora já foram feitas duas estações de tratamento, localizados nos bairros Barreira do Triunfo e Barbosa Lage.

Atualmente, a Cesama trata cerca de 12% do esgoto gerado em Juiz de Fora. O número

já mostra um avanço, tendo em vista que há dois anos apenas 1% ganhava tratamen-to. Ainda assim, o grande passo esperado pela população é a construção da Estação de Tratamento União Indústria. Com a sua inauguração, a previsão é de que 70% dos 700 litros de esgoto produzidos por segun-do na cidade seja tratado.

O projeto foi assinado em 2006, em uma parceria entre a Caixa Econômica, res-ponsável pela liberação de mais de R$60 milhões, e a prefeitura, que investirá R$7 milhões. Porém, uma ação da Polícia Fe-deral detectou irregularidade no processo, paralisando as obras. O processo licitatório foi reaberto e a retomada das obras anun-ciada.

De acordo com Theodoro Correa, no comitê do Paraiba do Sul - CEIVAP exis-te recurso para a revitalização do Parai-buna. No entanto, a Prefeitura deve se habilitar para isto, apresentando proje-tos específicos. “Deve haver um esfor-ço coletivo de sensibilização e posterior mobilização em torno do rio. Pro-pomos uma ampla campanha de conscientização da necessidade de preservar o Paraibuna, junto com a Prefeitura e os organismos privados”, ana-lisa.

Danos ao Rio Paraibuna podem se tornar irreversíveisRafael RezendeTainá Costa

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Jornal de Estudo Especial 7

Um largo histórico de lutas políticas contra a poluicão ambientalJanaina Morais

De acordo com dados da Cesama, segunda-feira, um dia após a

tradicional feira da Avenida Brasil - trecho recordista de retirada de descartes - é o dia mais crítico. Só nesta área são recolhidos, a cada semana, de 30 a 40 sacos de 80 litros de entulho.

O destino dado ao lixo sempre foi uma preocupação para várias cidades. As dificul-dades dos municípios do estado para atenderem as diretrizes da Lei Nacional de Resíduos Só-lidos, que exige adequações na coleta e no tratamento do lixo, como a construção de aterros sanitários, é constantemente tema de debate nas Câmaras Municipais.

Juiz de Fora também tenta se adequar às diretrizes da Lei Nacional de Resíduos Sólidos. Em 2010 a cidade ganhou seu primeiro aterro sanitário, mas até conseguir este espaço, pas-sou por fortes embates entre políticos e ambientalistas.

O ambientalista e atual presidente do Grupo Ecológi-co Salvaterra (GES), Wilson Acácio, durante vários anos acompanhou de perto o dile-ma que envolvia a questão do lixo em Juiz de Fora, próximo ao Salvaterra. “Eu costumo di-zer que, na questão ambiental, Juiz de Fora tem uma ‘cabeça de burro’ enterrada. Eu nun-ca vi, nestes anos todos como

ambientalista, uma cidade com tanta dificuldade de respeitar as leis ambientais”.

A história do lixão Sal-vaterra tem início em 1987, quando o município, por meio do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb), utilizou para destinação do lixo urbano uma área localizada às margens da rodovia BR-040, denominada de Sítio Bethânia, localizada onde hoje é o Park Sul, em Matias Barbosa.

Em dezembro de 1998, o proprietário do terreno fez uma interdição para finalizar o contrato e, em janeiro de 1999, todo o lixo da cidade passou a ser lançado neste local, com a proposta de se criar um aterro sanitário.

De 1999 a 2004, em um processo que gerou polêmica - por ter sido considerado ile-gítimo pelos ambientalistas - foram obtidas todas as licenças ambientais necessárias para o referido Aterro Sanitário, cuja operação só veio a ocorrer, de fato, em maio de 2005, cinco anos depois que a área já esta-va sendo impactada.

Líderes ambientalistas rea-lizavam ações constantes para alertar a cidade e a Prefeitura do crime ambiental que estava acontecendo na região. Wilson Acácio lembra que o local era uma área de preservação am-biental, com mais de 20 minas, algumas delas de água mineral. “O chorume advindo do lixo contaminou todo o solo e tam-bém o córrego Salvaterra e o

Rio do Peixe, afluente do Rio Paraibuna, sem falar nos vários animais das fazendas locais que morreram intoxicados pela água”, reforça.

Durante o processo para a obtenção das licenças, o Grupo Salvaterra participou de todas as reuniões da Câmara Muni-cipal e até realizou audiências no próprio lixão, procurando mostrar e comprovar cienti-ficamente o crime ambiental que estava acontecendo. Mas em um processo considerado duvidoso, pelos integrantes da GES, o lixão conseguiu as li-cenças ambientais necessárias para continuar funcionando.

Em 2004, o grupo denun-ciou para a imprensa que o li-xão corria riscos de desabar, e quatro dias depois o esperado aconteceu. “Não tinha drena-gem de água, chorume, nada. Aquela quantidade de lixo compactada poderia explodir a

qualquer momento, então quan-do aconteceu, tudo desceu con-taminando a reserva. Teve local onde o lixo acumulou quatro metros de altura, tudo mistura-do: lixo hospitalar, doméstico e industrial. Foi um desastre”, disse Wilson Acácio.

O diretor de Operações da Demlurb, Fabiano Rezende, admite que o lixão no Salva-terra foi mal administrado. “O grande problema de Juiz de Fora, na época, é que não tinha local para se colocar o lixo, e a região foi escolhida no desespero. Poderia ter sido resolvido mais rápido, mas lu-tas políticas da administração prejudicaram o caso do lixão. Faltou entrosamento dos ór-gãos públicos e das organiza-ções ambientais.”

Só em abril de 2010 é que as 450 toneladas/dia de lixo da cidade começaram a ser devida-mente compactadas, no Aterro

Coleta de lixo: Separar resíduos secos e úmidos facilita o trabalho dos funcionários do Demlurb

Foto: Divulgação

Sanitário de Dias Tavares. Fa-biano disse que a realidade do lixo em Juiz de Fora só passou a melhorar quando o serviço foi terceirizado. “A prefeitura não é qualificada; esse tipo de serviço tem que cair na mão de outras pessoas. Quando uma máquina de uma empresa que-bra, imediatamente é reposta, mas na prefeitura não, há pro-cessos de licitação demorados, que nem sempre conseguem o melhor equipamento”.

Mesmo não sendo a favor da terceirização, Wilson Acácio afirma que o Aterro Sanitário funciona dentro da cientificida-de e fica satisfeito em saber que a luta dos ambientalistas não foi em vão. “A prefeitura con-tinua recolhendo e transportan-do o lixo, mas quem administra o aterro é a Vital Engenharia, que também é responsável pela recuperação da área impactada no Salvaterra.”

Estima-se que a vida útil do Aterro Sanitário seja

de 25 anos, mas ter um espaço adequado para o depósito de resíduos não resolve por com-pleto a questão do lixo. Há uma opinião compartilhada tanto por ambientalistas quanto por re-presentantes da Prefeitura, de que é preciso reciclar, reduzir e reutilizar o lixo.

O diretor de Operações da Demlurb acha que a reciclagem ainda é algo novo para o Brasil, e acrescenta que ainda se fazem necessárias campanhas de cons-cientização da população. “Juiz de Fora recicla 7% do lixo, en-quanto a média do país é de 3% a 4%. Reciclar é muito difícil, nunca vi nenhuma cidade aqui no Brasil que conseguisse reci-clar um grande montante, por isso é tão importante reduzir o lixo em casa.”

O presidente do Grupo

Salvaterra avalia que a cons-cientização da população ainda é pouca. “Precisa haver uma reeducação das pessoas. A po-pulação precisa entender que para a reciclagem surtir efeito é preciso cooperar nas pequenas ações: separando o lixo de casa antes de jogar fora, utilizando sacola ecológica quando for às compras, reutilizando materiais como plástico e vidro. Isso pre-cisa ser transformado em há-bito, assim como beber água”, conclui o ambientalista.

Juiz de Fora tem dois tipos de coleta seletiva: uma é feita pelo Demlurb, que entrega o material considerado reciclável nas associações de catadores de papel, e a outra é feita pelos próprios catadores. Na cidade, existe em média dois mil cata-dores, contando os autônomos que não estão ligados a nenhu-ma associação. Na Associação

dos Catadores de Papel de Juiz de Fora (ASCAJUF), são se-parados 13 tipos de materiais, que são selecionados, pesados e vendidos para atravessadores que vão comercializar direta-mente com as empresas fora da cidade.

A presidente da ASCAJUF, Janaina Aparecida Silva, re-clama da falta de investimento da governamental em relação à reciclagem. “A prefeitura já apresentou algumas propostas de melhoria para a associação, mas estas propostas nunca sa-íram do papel. Nós sabemos que existem leis de incentivo federais e estaduais, mas não existem leis municipais. Sabe-mos, por exemplo, que há uma lei federal que determina que a Universidade deve doar mate-riais, como papeis ou papelão, para os catadores. Há um tem-po tentamos articular esta tro-

ca com o reitor, mas não con-seguimos. As poucas leis que existem não são respeitadas”, afirma Janaina.

Wilson Acácio acha que para haver mudanças significa-tivas, o país precisa de homens públicos interessados na ques-tão. “Apoiar a causa ambiental não é o mesmo que ir contra o

progresso, ao contrário do que muitos afirmam. Nós lutamos pelo desenvolvimento sustentá-vel, queremos que a máquina do governo e as questões ambien-tais caminhem lado a lado. Só assim podemos construir uma sociedade mais justa e iguali-tária, que atenda o interesse de todos”.

Os três R’s devem continuar na moda

Agosto de 2011

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agosto de Jornal de EstudoEspecial6

Agosto de 2011Jornal de EstudoPesquisa8

UFJF estabelece acordo de cooperação técnicaCarlos Alexandre

Iniciativa tem como objetivo desenvolver pesquisas e tecnologias para o mercado de leite e derivados

Em junho, a Polícia Fede-ral e o Ministério Públi-co estadual deflagraram

uma operação na Zona da Mata devido à ocorrência de adultera-ção no leite tipo C. Nas cidades de Leopoldina e Campo Belo, foram encontrados produtos com água, açúcar e cloretos, o que os torna impróprios ao consumo humano. Para evitar este e ou-tros problemas, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) celebrou, recentemente, um con-vênio de cooperação técnica com a empresa de Cataguases, Tex Tech Soluções Eletrônicas. O objetivo é atender as demandas do setor de leite e derivados por novos equipamentos que pos-sam auxiliar no monitoramento da qualidade do que é produzido pelo setor, consumido no país e exportado.

Esse acordo inédito para a UFJF pretende estabelecer uma parceria, no sentido de desen-volver metodologias, e em uma etapa posterior, equipamentos para a detecção de fraudes em leite. A ideia central é transfe-rir as tecnologias desenvolvidas

pela Universidade para comer-cialização.

Segundo a professora do doutorado em física do Instituto de Ciências Exatas (ICE), Maria José Valenzuela Bell, a iniciativa surgiu através de várias etapas. A pesquisadora explica que, no início, os estudos estavam sendo realizados graças aos financia-mentos da Fapemig, CNPq e do Programa de Incentivo à Inova-ção - este uma parceria entre a UFJF, Embrapa e Sebrae. “A união entre essas três institui-ções abriu, definitivamente, as portas para as primeiras intera-ções com as indústrias interes-sadas.” Ainda de acordo com a professora, os primeiros contatos possibilitaram o conhecimento das necessidades do setor e das empresas de uma forma geral. “Neste contexto, a Tex Tech se mostrou interessada em comer-cializar nosso primeiro protótipo e os produtos que viéssemos a produzir.”

A professora destaca, tam-bém, que para a UFJF é impor-tante estabelecer parcerias com empresas para o desenvolvimen-to de novas tecnologias e inova-ção, especialmente em setores que têm grande importância re-

gional, como é o caso do leite e derivados. “É importante lem-brar que Minas Gerais é o maior produtor de leite do Brasil e há grande interesse em exportação do produto com selo de qualida-de, na qual as fraudes não têm espaço.”

O Milk TechEsse acordo é resultado do

sucesso do equipamento cha-mado de “Milk Tech”, desen-volvido pelo estudante do dou-torado em física do ICE, Wes-

ley Willian Gonçalves do Nas-cimento, pela professora Maria José Valenzuela Bell e pelo professor Virgílio de Carvalho dos Anjos. O aparelho detecta adulteração no leite por adição de água ou uso de reconstituin-tes, via monitoramento de pro-priedades elétricas.

Segundo o doutorando, “a partir desse projeto, as indústrias que utilizavam os processos de crioscopia, a verificação pelo ponto de congelamento, e o de densidade passarão a ter uma

forma mais prática, portátil e ba-rata de verificar a existência de adulteração”.

Nascimento ressalta, tam-bém, que o “Milk Tech” verifica fraudes no leite de uma forma prática e eficiente, e que o prin-cipal diferencial está na porta-bilidade. A tecnologia é capaz de funcionar durante horas com uma bateria recarregável. “Ele será uma arma muito poderosa contra fraudes, já que poderá ser levado ao lado do tanque, pelo próprio motorista, por exem-plo.”

O Milk Tech dispõe de uma sofisticada eletrônica, que o deixa supersensível e eficiente. “Utilizado de maneira correta consegue-se perceber uma adi-ção mínima da ordem de 0,5% de água, com resultados alta-mente reprodutivos. Cada medi-da dura cerca de cinco segundos e o resultado mostrado é, na ver-dade, uma média de mais de mil análises”, afirma o estudante.

Segundo o pesquisador, o Milk Tech é mais prático do que os atuais aparelhos. “Com um display colorido e de fácil limpe-za, não requer grandes cuidados com a manutenção, podendo ser utilizado por qualquer pessoa”.

Maria José e Wesley, pesquisadores que criaram o equipamento que detecta a adulteração

Foto: Secom/UFJF

Kit para diagnostico de câncer revoluciona mercadoDiego CasanovasFred Castro

Método inovador para identificar o câncer de mama é o primeiro a atingir 100% de precisão em resultado

H á cerca de cinco anos o médico mastologista Geraldo Sérgio Vitral

incomodado com o a eficácia de 90% do processo de diag-nóstico de câncer de mama, resolveu se enveredar pela pes-quisa de um método mais efi-caz. Em parceria com a profes-sora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Nádia Rezende Barbosa Raposo, Ge-raldo desenvolveu, o chamado “Kit Estéril”.

Feito à base de um polí-mero sintético, um tipo de si-licone, o produto contém 100% de precisão, evitando muitas mutilações decorrentes de ci-rurgias para retirada de nódu-los ou remoção das mamas por conta do avanço do câncer. A técnica permite a marcação de lesões mamárias não detectá-veis por palpação durante o procedimento cirúrgico, com o uso de ultrassonografias ou mamografias.

A pesquisa começou como parte de sua tese de mestrado em mastologia, fase em que foi elaborada desde a parte teóri-ca até a pré-clinica, com testes realizados em animais para comprovar a segurança e a via-bilidade técnica do produto. A etapa seguinte, já como parte

de sua pesquisa de doutora-mento, iniciou-se com a fase clínica e a aplicação de testes em humanos.

Nádia Rezende ressalta as vantagens do produto. “Uma das inúmeras vantagens da substância utilizada é que ela não se dispersa pela mama, di-ferentemente do processo atu-al, cuja cirurgia pode extrair partes maiores dessa região do corpo.” Segundo a professo-ra a problemática do processo convencional, encontra-se na dispersão do complexo de iodo (produto usado na identifica-ção da área afetada) pelo tecido mamário, dificultando o êxito do procedimento. “Com uma eficácia de 90%, o complexo iodado deixava 10% a desejar, essa diferença é muito críti-ca, pois esse paciente tem que passar por novas intervenções

cirúrgicas e rehospitalização.” Nádia destaca também o custo do produto como outro benefi-cio. O preço do Kit é acessível e reduz também os custos do paciente, que não precisa mais passar por internações e novas intervenções cirúrgicas, devido aos 100% de eficácia.

A realizaçãoA criação do Kit só foi pos-

sível porque os pesquisadores inscreveram o trabalho no Pro-grama de Incentivo à Inovação (PII), do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) da UFJF, responsável pela manutenção da política institucional de es-tímulo à proteção de criações, inovações, licenciamento, de-pósitos de patentes e transfe-rências de tecnologia. Com essa ação foi possível iniciar

o processo de patenteamento e de transferência de tecnolo-gia para a empresa produzi-lo. O kit foi lançado com o nome BLD Marker Kit Marcador Te-cidual para Cirurgia Radioguia-da, já está sendo produzido pela empresa Saldanha Rodrigues Ltda., com representação em São Paulo e Manaus e será co-mercializado pela empresa Ra-diopharmacus, de Porto Alegre (RS). O produto recebeu no iní-cio deste ano a certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela liberação e certificação de novos produtos sob vigilância sanitária no país. O lançamento do Kit ocorreu no evento mais importante de saúde nas Amé-ricas, a Hospitalar 2011 – 18ª Feira Internacional de Produ-tos, Equipamentos, Serviços e Tecnologia para Hospitais, La-boratórios, Farmácias, Clínicas e Consultórios.

Para o idealizador do pro-jeto Geraldo Sérgio Vitral, a aprovação valoriza o que é produzido no âmbito da UFJF, demonstrando que produ-tos criados na instituição têm aplicabilidade e inserção no mercado. “Isso gera novos pro-dutos, novas ideias e cria uma projeção internacional para a universidade.” Ainda segundo Sérgio, o kit é o primeiro pro-duto desenvolvido pela UFJF que chega ao mercado com a aprovação da Anvisa. “Atingir este ponto no desenvolvimento de um projeto não é fácil, espe-ro que essa conquista sirva de estímulo para outros pesquisa-dores”, comenta Vitral. Além da comercialização, os estudos para a criação do “Kit Estéril” foram publicados em um ca-pítulo do livro “1º tratado de Mastologia”, editado pela So-ciedade Brasileira de Mastolo-gia, em setembro de 2010.

Kit estéril chega ao mercado no 2° semestre; UFJF vai receber os royalties por 20 anos

Foto: Divulgação

PremiaçõesMesmo antes de sua comercialização, o “Kit Estéril” já conquistou diversos prêmios nacionais e internacionais. Um deles foi o Prêmio Latino-americano de Inovação, a premiação nacional da Jornada Paulista de Radiologia, rea-lizada na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conquistou tam-bém em 2008 no Idea do Product Global, realizado em Aus-tin, no Texas (EUA), o segundo lugar na categoria global, e o primeiro em inovação tecnológica, em uma disputa com 18 universidades dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Suécia, Irlanda, Brasil, Portugal, Espanha e Colômbia.

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Jornal de Estudo SaúdeAgosto de 2011

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Suplementos podem trazer efeitos indesejadosRafael MeloRafael SimãoValentim Júnior

Falta de informação por parte dos usuários é a principal causa de usos indevidos das substâncias

A busca pelo corpo per-feito é obsessão de mui-tas pessoas. Por isso, as

academias estão sempre cheias e surgem novas dietas a cada dia. E para quem procura o crescimento muscular, a utilização de suple-mentos alimentares é uma opção bastante procurada.

Os suplementos alimentares são compostos preparados arti-ficialmente, com alta concentra-ção de certas substâncias: podem ser hiperprotéicos, hipercalóri-cos, aminoácidos, dentre outros. Originalmente, a função deles é proporcionar uma melhor reposi-ção energética para os indivíduos que gastam um número mais alto de calorias do que a maioria das pessoas, como conseqüência da prática de atividades físicas. Mas nem sempre as pessoas sabem

exatamente o que utilizar, o que algumas vezes pode gerar resulta-dos inesperados e desagradáveis.

Os erros mais comunsUm dos suplementos mais

utilizados e também mais testa-dos cientificamente é a creatina. A creatina é uma substância pro-duzida pelo fígado humano, e que pode ser encontrada na carne bo-vina. Apesar dos vários estudos já realizados a esse respeito, a nutricionista Evelyne Rocha ex-plica o erro mais comum: “Os pa-cientes procuram a creatina com a intenção de obter um cresci-mento muscular mais acelerado. Porém, esse não é o efeito atingi-do. A creatina gera um aumento de força e disposição física, rapi-damente. Ideal para a realização de exercícios com maior intensi-dade”. O que pode gerar um en-gano nas pessoas é o fato de que a creatina gera acúmulo de água no tecido muscular, o que produz um certo inchaço nas áreas traba-

lhadas na academia. Isso faz com que se pense que os músculos estão crescendo, como explica Evelyne: “A pessoa percebe que sua silhueta aumentou, mas nem tudo é músculo. Assim que o uso é interrompido, esse acúmulo de água é perdido e os membros ‘murcham’, ficando somente o real ganho muscular”.

O estudante Rodrigo Dutra, 23 anos, foi um deles: “Depois de usar a creatina três meses, eu estava com o corpo que conside-rava ideal. Mas parei de tomar e de malhar por causa das férias, e voltei a ficar magro como antes”. Para evitar esse tipo de erro, Eve-lyne aconselha: “É sempre bom consultar um nutricionista antes, que pode dizer qual é a dieta mais adequada para cada caso, evitan-do que situações desagradáveis aconteçam.”

O risco real: os anabolizantesBuscando resultados rápidos

e significativos, algumas pessoas

recorrem ao uso de anabolizan-tes. Em sua maior parte, eles são derivados da testosterona, que é o hormônio masculino. Apesar de gerar um aumento significativo de massa em um curto espaço de tempo, os anabolizantes trazem riscos para a saúde dos usuários, como explica o médico clínico geral Renato Vaz: “O uso dessas substâncias pode causar sobre-carga renal, disfunções cardíacas e um aumento inesperado de gor-dura corporal”. O grande proble-ma está na falta de conhecimento aprofundado sobre o assunto, ex-plica Vaz: “Não existem estudos suficientes sobre a dosagem cor-reta e os efeitos colaterais, o que

faz com que as pessoas receitam umas para as outras, na base da suposição”.

As academias mais concei-tuadas da Juiz de Fora possuem uma opinião claramente contrária ao uso de anabolizantes, como explica Alan Pimentel, professor da Fortes Academia: “Nós desa-conselhamos nossos alunos a uti-lizarem anabolizantes. Os riscos são grandes, não vale a pena”.

Pimentel dá a melhor dica para aqueles que querem ter um corpo bonito: “A melhor manei-ra de ganhar massa muscular é praticando exercícios físicos re-gularmente, tendo uma vida sau-dável”.

Comercialização livre dos suplementos acaba resultando em consumo inadequado

Foto: Rafael Simão

Testes definem eficácia de medicamentosBruna Pfeiffer

Prática da bioequivalência avalia a diferença na composição de remédios de marca, genéricos e similiares

A população brasileira é consumidora de três tipos de medi-

camentos: os de marca, os genéricos e os similares. A questão duvidosa da maioria dos consumidores é sobre a eficácia dos dois últimos, por não serem originais. O medicamento genérico é um remédio idêntico ao produto de marca, ou seja, tem rigo-rosamente as mesmas ca-racterísticas e efeitos sobre o organismo do paciente. A garantia é dada pelo Mi-nistério da Saúde que exige testes de bioequivalência farmacêutica para aprová-los. Já o similar é garanti-do somente pelo fabricante e pode não conter a mesma fórmula. Os genéricos e os similares são mais baratos que os de marca.

Os testes de bioequi-valência servem para com-provar se dois produtos de idêntica fórmula farmacêu-tica são absorvidos em igual quantidade pela corrente

sanguínea e na mesma ve-locidade pelo organismo de quem consome. Segundo o clínico geral e geriatra Car-los Silva, o Governo garante por lei que o genérico tem a mesma fórmula dos de mar-ca e não hesita em receitar para os seus pacientes, mas faz uma ressalva em rela-ção aos similares: “Sempre receito genéricos por serem mais baratos. Já os simila-

res, só receito quando tenho conhecimento do laborató-rio”.

Quebra de patenteO laboratório produtor

do medicamento tem di-reito de exclusividade de produção por um determi-nado tempo. Após esse pe-ríodo, variável de acordo com cada remédio, ocorre a chamada quebra de patente,

que consiste na quebra da exclusividade em produ-zir o medicamento. “Nesse caso, outros laboratórios copiam essa fórmula e fa-zem o genérico com o nome do seu princípio ativo”, ex-plica Carlos Silva. O remé-dio similar passa pelo mes-mo procedimento da quebra de patente. “A diferença é que não precisam passar por todos os testes de bio-

equivalência, podendo re-sultar em efeitos colaterais diferentes.” Além disso, pode acontecer de o médi-co receitar o remédio ori-ginal e o farmacêutico dar ao paciente um genérico ou similar, desde que tenha o mesmo princípio ativo. “É importante que o paciente fique atento e exija o que está prescrito na receita”, ressalta.

Segundo a estudante Marcella Leite, usuária de medicamentos de marca ou genéricos, o seu organismo não reage bem aos similares. “Não gosto de usar remé-dios similares porque eles

só têm a garantia do fabri-cante e não do Ministério da Saúde. Além disso, tive efeitos colaterais diferentes quando tomei, como náuse-as e vômito.” Já para a pro-fessora Jovelina Nóbrega, o similar não é um problema e não apresenta diferença no efeito. “Uso medicamentos similares desde que o médi-co indique e confie no labo-ratório, além de serem mais em conta”.

Marcella prefere os remédios genéricos, enquanto Jovelina não se importa em fazer uso dos medicamentos similares

Foto: Bruna Pfeiffer

Hipercalóricos: Compostos de carboidratos, proteínas e gorduras, que visam a adequação desses nutrientes à dieta de praticantes de atividade física. Normalmente, possuem alto valor calórico, ideal para o aumento de peso corporal.

Aminoácidos de cadeia ramificada: São formulados a partir de concentrações variadas de aminoácidos, utilizados principalmente para a melhoria do condicionamento físico.

Hiperproteicos: Apresentam em sua composição a predominância de proteínas, podendo ser de diversas fontes (Ex: proteína do soro do leite, proteína isolada da soja, etc). Sua principal função é promover a síntese muscular.

Creatina: Substância produzida pelo fígado, tem sido amplamente utilizada na suplementação. Sua função é o aumento de força e velocidade nos esportes.

Principais Suplementos e suas Funções

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Agosto de 2011

Jornal de EstudoEsporte10

Fechamento de clube prejudica prática de hipismoLuiza Sansão

Cidade perde importantes competições nacionais; amantes da equitação, contudo, continuam praticando o esporte

A cidade perdeu, em 2009, seu principal centro para a prática

de equitação: o Clube Hípico e Campestre de Juiz de Fora. Com isso, o município deixou de atrair importantes competi-ções de hipismo - com pessoas que vinham de várias partes do mundo - e também negócios no setor, que movimentavam a economia da cidade.

O Clube Hípico e Cam-pestre foi, por muito tempo, palco de diversas competições regionais, nacionais e até mes-mo internacionais de hipismo. Segundo o desenhador Nacio-nal Oficial da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), Sérgio Villaça, o fechamento não só trouxe prejuízos para quem trabalhava e usufruía do clube diariamente. “O fim das atividades afetou professores, alunos e pacientes que viviam o esporte hípico e também pes-soas que vinham de fora para competir no melhor centro hípi-co do estado e um dos melhores do Brasil. Foi uma perda para o hipismo”, afirma o professor, que deu aulas de equitação no

clube por longa data. Para ele, a maior causa do fechamento do clube foi a perda de poder aqui-sitivo na região, já que o esporte tem alto custo.

Hoje existe apenas um centro hípico de destaque na cidade, o Vale dos Anjos, onde os professores Marco Aurélio Daldegan e Daniel Meirelles ministram aulas de equitação para pessoas de todas as idades. Maria Madalena de Bastos Fer-reira Costa tem apenas 14 anos e pratica o esporte há dez. “Co-mecei a gostar de cavalo quan-do montava em hotéis e iniciei as aulas quando minha mãe me pôs na escolinha de equitação, aos 4 anos”, conta a menina, que já participou de competi-

ções internas e de um Campeo-nato Mineiro. “Não gosto muito de competir, gosto mesmo é de praticar, como hobby.” Segundo Daniel Meirelles, entre os prati-cantes, com idades que variam de 6 a 50 anos, os objetivos são diversos. “Temos alunos que vêm apenas para aprender a montar a cavalo melhor na fa-zenda com os pais; aqueles que optam mais pelo lado esportivo, que são geralmente os mais jo-vens; e temos os que vêm para aliviar o estresse e usam a equi-tação mais como uma terapia”, diz o professor.

Clássico e ruralSegundo Villaça, a diferen-

ça substancial entre a moda-

lidade clássica e a rural do hi-pismo está na composição dos obstáculos (no caso do salto) e na figuras (no caso do adestra-mento). “No salto clássico os obstáculos são artificiais e no rural são naturais. No adestra-mento clássico e na autoesco-la, as figuras são geométricas e harmônicas e algumas reme-tem a movimentos criados para combate a cavalo, pois o animal era a melhor máquina de guerra em tempos passados. E no rural, as figuras são copiadas da lida com gado nas fazendas, como nas rédeas e doma vaqueira es-panhola”, esclarece.

A equoterapia como curaA equitação não é consi-

derada somente um exercício físico. Montar cavalo também é indicado para pessoas com de-ficiência, por contribuir para a saúde mental, além da física. A equoterapia (equitação terapêu-tica) é hoje uma atividade reco-mendada por especialistas em diversos casos. Segundo a As-sociação Nacional de Equote-rapia (Ande - Brasil), a modali-dade é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem inter-disciplinar nas áreas de saúde,

Na corda bamba com o slacklineNaira Gabry

Presente há pouco mais de um ano em Juiz de Fora, a prática ganha cada vez mais adeptos de todas as idades

Em Juiz de Fora o sla-ckline começou a ser praticado há aproxi-

madamente um ano nas praças e, principalmente, no campus da UFJF. Inicialmente, cerca de dez pessoas começaram a praticar o esporte na cidade, e hoje já passam de cem prati-cantes, além dos que, ao ver os esportistas se equilibrando, se aproximam para tentar andar e acabam se apaixonando. Entre os praticantes de ocasião nas praças e parques estão muitas crianças que, por serem natu-ralmente curiosas, acabam tro-cando, por alguns momentos, as brincadeiras tradicionais pela prática do slackline.

De acordo com o publici-tário e praticante do esporte, Thiago Godoy, “força, equi-líbrio e principalmente con-centração e persistência são os principais requisitos exigi-dos para a prática do slackli-ne, já que o praticante precisa se manter sobre a fita e com o tempo começar a arriscar algumas manobras”. Thiago lembra que, “com a prática do slackline, nós acabamos perce-bendo mudanças em nosso dia

a dia e até mesmo nas crianças, que ficam mais concentradas e atentas às tarefas que estão realizando”. Ainda segundo Thiago, qualquer pessoa pode praticar o esporte, porque não existe limite de idade, altura ou peso.

Já sobre o local ideal para a prática do slackline, Thiago considera que “o campus da universidade é o melhor local para se praticar o esporte na cidade, já que existe seguran-ça, grama bem cortada, água, estrutura, clima esportivo e muitas árvores. Se possível, também, uma superfície macia, já que há risco de quedas”.

O também publicitário Pietro Barreto, que pratica o slackline há cerca de quatro meses, ressalta que o que mais o atraiu no início foi a plásti-ca do esporte, já que é muito bonito de se ver. Assim ele co-meçou a treinar e a tentar as manobras, se desafiando a todo o momento. Pietro ainda desta-ca que: “apesar de praticar há pouco tempo, o treino quase diário faz com que a evolução e a vontade de conseguir fazer novas manobras seja natural”. O publicitário afirma que o es-porte tornou-se parte indispen-sável em sua vida.

O slackline surgiu nos anos 80 na Califórnia (EUA) quan-do, devido ao mau tempo, os escaladores começaram a re-alizar manobras sobre as cor-rentes do estacionamento do parque onde escalavam, aper-feiçoando técnicas de equilí-brio e concentração. Logo as correntes foram trocadas por fi-tas planas e os praticantes pas-saram a amarrá-las nas árvores e a treinar a travessia de uma árvore a outra. Surgia então o esporte que hoje é conhecido Slackline (corda bamba) e que rapidamente se espalhou con-quistando adeptos no mundo todo. No Brasil o esporte che-gou em 2010, sendo praticado em parques e praias de todo o país, principalmente no Rio de Janeiro, tendo se tornado par-te da cultura e da paisagem da cidade.

Em Juiz de Fora os adep-tos do slackline encontram no blog (www.orangotangos-lackline.com.br) informações sobre o que está acontecendo em relação ao esporte não só em Juiz de Fora como em todo país, além de poderem trocar experiências, adquirir equipa-mentos e assistir vídeos dos “equilibristas” sobre a corda bamba.

Aluna pratica hipismo clássico no centro de equitação Vale dos Anjos, em Juiz de Fora

Criança praticando o Slackline: não há restrição de idade para iniciar no esporte

Foto: Luiza Sansão

educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicosso-cial de pessoas com deficiência e com necessidades especiais. Segundo Villaça, a prática é uma das terapias com mais re-sultados positivos para diversos níveis de deficiência. “Além de promover o benefício físico e mental, faz o papel de incluir o paciente no meio social, através do esporte paraolímpico.”

O professor explica que a técnica é milenar. “O método, já aconselhado pelo grego Hi-pócrates (458 a 377 a.C.) no seu livro terapêutico Das Die-tas, emprega o cavalo como instrumento de ajuda para o desenvolvimento da força, tô-nus muscular, flexibilidade, re-laxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamen-to da coordenação motora e do equilíbrio.” Podem ser tratadas com equoterapia pessoas com deficiências provenientes de ca-sos como paralisia cerebral, aci-dente vascular cerebral (derra-me), trauma crânio encefálico, lesões medulares, síndromes, autismo, psicoses, transtorno de déficit de atenção e hiperativi-dade (TDAH), ou com defici-ência visual, auditiva, fobias e estresse.

Como praticar o SlacklinePara se praticar o esporte só é necessário adquirir a fita de poliéster e a catraca, equipamento que é responsável por tencionar a fita, além de dois pontos onde a fita deve ser presa. Existem diversas variações do slackline sendo que as principais são: “waterline” (slackline sobre água); “hi-ghline” (slackline em grandes alturas, como por exemplo, montanhas e pontes), que evoca uma sensação de adre-nalina. Também existem “longline” (slackline de distância longa, normalmente acima de 30 metros) e o mais pra-ticado que é o “trickline” (slackline somente para fazer manobras).

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Jornal de Estudo ComportamentoAgosto de 2011

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Em busca de uma identidade para a moda localMesmo fora do eixo Rio-São Paulo, confecções produzem tendências e impulsionam a criação de empregos

Muitas vezes quem com-pra uma peça de roupa não imagina o proces-

so que aquele produto passou até chegar às prateleiras. Para uma coleção ser lançada são meses e meses gastos em pesquisa, via-gens, desenhos, ajustes, produção e costura. Apesar dos grandes pro-dutores de moda do Brasil estarem localizados em São Paulo e no Rio de Janeiro, Juiz de Fora também

conta com número expressivo de indústrias dedicadas a esse seg-mento. O Sindicato das Indústrias do Vestuário de Juiz de Fora (Sin-divest JF) reúne empresários da categoria com o objetivo de trocar experiências e inovar o setor. Hoje o Sindivest conta com uma média de 980 empresas filiadas entre mi-cros, pequenas, médias e grandes.

Criar uma coleção se torna mais difícil a cada ano. “O pri-meiro alerta de tendências aconte-ce nos lançamentos das coleções europeias, pois enquanto aqui é inverno lá já é verão. Depois

procuro observar as semanas de moda de São Paulo e do Rio de Janeiro, que trazem um pouco do que se viu na Europa adaptado ao gosto brasileiro. Só então parto para a criação”, afirma uma das proprietárias da malharia Keeper, Rita Rebouças.

Quem pensa que o mundo da moda é só glamour está enganado. A produtora Aline Firjam ressalta: “Nunca temos horários fixos e há sempre muito trabalho”. Outro ponto importante é a atualização. Segundo ela, quem está envolvi-do com moda precisa estar ligado

em cabelo, maquiagem, teci-dos e também ficar de olho nas tendências lançadas em eventos como São Paulo Fashion Week e Fashion Rio. Aline é estilista, mi-nistra cursos na área de moda e é produtora do Fashion Days, sema-na de moda que reúne confecções e lojistas locais.

Rita acredita que a moda juiz-forana acaba sendo mais influen-ciada pela carioca por conta da proximidade e da facilidade de re-posição de estoque dos tecidos. “A entrega dos fornecedores paulistas é mais demorada”, disse. Para ela, o gosto do juiz-forano ainda é mais clássico e, por isso, algumas tendências demoram mais a serem absorvidas na cidade.“Não temos muito mais o que inventar. Hoje a moda está muito mais ligada a ‘como se usar’ do que ao que se vai usar propriamente”, considera

Confecções locais movimentam economia

No final do século XIX, Juiz de Fora possuía mais de 160 indús-trias e era vista como polo têxtil, chegando a ser chamada de Man-chester Mineira, em referência à famosa cidade industrial inglesa. Assim como em todo o Brasil, as empresas daqui sofreram com as transformações econômicas ocor-

Costureiras trabalham no salão de confecções das Malhas Keeper; produção juiz-forana é inspirada nas tendências mundiais

Foto: Divulgação ridas na década de 90, mas, desde 2005, a cidade vem tentando se fortalecer no mercado nacional. Em parceria com o locais estão buscando se organizar melhor para vender mais e oferecer pro-dutos com preço acessível e boa qualidade. “Parcerias como essa são de extrema importância para o desenvolvimento de Juiz de Fora. Quando nos unimos conseguimos gerar mais renda e consequente-mente melhorar a qualidade de vida de nossa população”, decla-rou.

Empresária do setor, Rita acredita que o comércio de Juiz de Fora está crescendo cada vez mais e que os consumidores estão tendo mais opções de lojas para comprar. A opinião é comparti-lhada por Vandir. No entanto, ele ressalta que o consumidor ainda precisa valorizar mais o produ-to local, pois esse é o principal ponto para o desenvolvimento da indústria. “Conseguimos criação recorde de empregos, investimen-tos e melhores salários. Tudo isso reflete no dia a dia do comércio. Temos uma variedade imensa de lojas, o consumidor não precisa viajar para realizar suas compras. Muito pelo contrário, Juiz de Fora tem recebido consumidores de ou-tras cidades”, afirma.

Qual terapia é a mais indicada para você?Guilherme Landim Mariana BrandãoPaula Duarte

Gestalt, Junguiana, Psicodrama: O sucesso depende da escolha certa e do bom relacionamento com o profissional

As diferentes formas de psicoterapias, com seus nomes complicados,

deixam as pessoas em dúvida na hora de escolher a qual recorrer. Algumas nem sabem que existe diferença no modo com que cada psicólogo conduz uma terapia. Para cada caso há um tratamento, às vezes até a associação de mais de um tipo conforme indicação. O mais importante é se sentir bem com a terapia e com o pro-fissional escolhido para revelar seus sentimentos. “A identifica-ção de qual terapia se deve fazer ocorre muito mais por afinidade e demanda. É preciso saber o que você quer. Se deseja se conhecer a fundo, ter um autoconhecimen-to, ou se quer deixar de ter um medo, tirar algum trauma, por exemplo”, afirma a psicóloga e

especialista em gestão de pesso-as Natália Ribeiro.

Os pacientes estão buscan-do terapias que solucionem seus problemas mais rápido, porém isso pode não dar certo para todos. O ideal é que o próprio psicólogo identifique a necessi-dade de seu paciente e o oriente da melhor forma. A demanda de cada um é diferente, e o mesmo tratamento possui duração distin-ta para solucionar os problemas. Natália diz que o fato de as te-rapias de curta duração serem as mais procuradas não quer dizer que as psicanalíticas estão fora de moda, apenas são um pouco mais longas e seus resultados, mais demorados

As terapias mais conhecidas são a freudiana, que busca ofere-cer autoconhecimento e explora-ção do inconsciente, e a terapia cognitiva que desafia o paciente a superar seus traumas. Mas quan-do o paciente desconfia que tem

algum problema orgânico que afeta o

psicológico, ele deve considerar a ajuda de um psiquiatra. “O psicó-logo também pode fazer encami-nhamentos para esse profissional e vice-versa, salvo quando o psi-quiatra já é psicoterapeuta, então ele pode fazer os dois atendimen-tos”, afirma o psicólogo Emanuel Brick, mestrando na Pós-Gradu-ação em Psicologia Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

A diferença entre psicotera-pia e psiquiatria é que o psiquia-tra pode indicar medicamentos para os pacientes, já os psico-terapeutas não. Emanuel expli-ca que os psicoterapeutas são formados em psicologia e os psiquiatras têm que passar pelo curso de medicina e fazer resi-dência na área de psiquiatria. O preço de uma análise é de R$70 por sessão mas esse valor pode variar se o terapeuta for muito famoso ou se seu currículo for extenso. O preço é sempre algo a combinar com o paciente. De-pende de cada caso, de cada psi-

coterapeuta e da região onde o psicólogo trabalha.

Freudiana – Criada por Sigmund Freud, considerado o pai da psica-nálise, busca significados para o inconsciente. É baseada na inves-tigação de situações vividas na infância, sonhos, palavras e ações. O tratamento não tem prazo de duração e pode se estender por toda a vida.Indicações: Autoconhecimento, sensação de não-adaptação e des-vios de personalidade

Junguiana – Desenvolvida por Carl Jung, baseada em fatores co-muns encontrados no coletivo, chamados de arquétipos. Seu obje-tivo é fazer com que a pessoa entenda sua personalidade. A medida que a terapia evolui o paciente fica mais confiante. Os sonhos são bastante explorados nas sessões.Indicações: Timidez, fobias, depressão, síndrome do pânico, insegu-rança, nervosismo, ansiedade e agressividade.

Gestalt – A teoria se baseia no fato de que nada pode ser compre-endido isoladamente. O ser humano está conectado com a natureza, com as pessoas que se relaciona e o meio em que vive. Os pacientes não recorrem ao passado para solucionar seus problemas, mas se focam no presente para atingir seus objetivos.Indicações: Transtornos de humor, alimentares e de ansiedade, com-pulsões, vício em drogas e esquizofrenia.

Psicoterapia breve – Busca resolver problemas mais específicos e resolver crises emocionais. O paciente deve estar motivado para co-laborar nas sessões e obter o resultado em menor tempo.Indicações: Fobia social, depressão, transtornos alimentares, uso de drogas e baixa motivação.

Psicodrama – Trata os problemas através da encenação teatral. Os pacientes reproduzem situações conflituosas para reviver uma expe-riência ou se colocar na pele de outra pessoa, afim de enxergar um novo lado da situação.Indicações: Desordens sexuais, fobias, traumas, abuso de drogas e problemas de relacionamento.

Os tipos de terapia e suas indicações

Amanda AntunesLaís MesquitaLorena Goretti

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agosto de Jornal de EstudoEsporte10 Jornal de EstudoCultura 12 Jornal de EstudoCultura 12

Agosto de 2011

A poesia juiz-forana está em declínio?José Renato LimaThauan MonteiroRayan Siqueira

Na era da informação poetas novos buscam os meios alternativos para a divulgação da própria obra

Quando falamos de poesia em Juiz de Fora, o pri-meiro nome que vem à

memória é Murilo Mendes. Com uma obra reconhecida como clás-sico brasileiro e apreciada inter-nacionalmente, o poeta é um dos poucos casos de sucesso incon-teste da literatura juiz-forana fora dos limites da cidade. Atualmen-te, a comunidade universitária, já apelidada um dia de “Atenas Mineira”, sofre com a pouca im-portância nacional de sua arte lite-rária. Afinal, onde estão os nossos poetas?

Desde 1995, a prefeitura deci-diu investir na cultura local com a criação da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura. Recursos ad-ministrados pela Fundação Cultu-ral Alfredo Ferreira Lage (Funal-fa) são destinadas ao incentivo de diversas manifestações culturais, como dança, teatro, artes plásticas e literatura. No entanto, no que se refere aos poetas, a Lei a despeito

de publicar novas obras há anos, ainda não revelou nenhum talento com reconhecimento incontestá-vel para além da – nas palavras de Manuel Bandeira - “tão docemen-te provinciana” Juiz de Fora.

Para a escritora, jornalista e consultora da Lei Murilo Mendes, Marilda Ladeira, isso não é ver-dade. “Juiz de Fora foi escolhida eminentemente para ter talento, e nós temos escritores saindo da cidade sempre, como o Luiz Ru-ffato, Edimilson Pereira e Fernan-do Fiorese”, contesta. No entanto,

o dramaturgo e teatrólogo, José Luiz Ribeiro, fundador do Grupo Divulgação que completa 45 anos de atividade em 2011, percebe de-ficiências em poetas lançados pela Lei. “Hoje a lei publica poesias de artistas sem maturidade. Obras juvenis e imaturas. Isso acontece porque os grandes poetas não são mais lidos, não existe mais um ambiente onde circula a alta cultu-ra poética como havia anos atrás, são os meninos que escrevem sua própria poesia sem prestar con-tas”, explica.

A rotina dos novos poetasO juiz-forano Luiz Fernando

Priamo teve o seu livro “Involun-tário” publicado pela Lei Murilo Mendes. É um dos integrantes da Eco Performances poéticas, atu-almente o grupo mais bem orga-nizado para promoção da poesia local. Questionado a respeito das dificuldades de divulgação dos poetas fora dos limites da cidade, Luiz Fernando, reconheceu o pro-blema e viu como saída a dedica-ção pessoal: “A lei trabalha só com a produção e não com a distribui-ção. A distribuição fica restrita à cidade, ir para fora fica a cargo do proponente. Nós lidamos com um mercado editorial difícil, em que as grandes editoras normalmente abrem espaço para as indicações de poetas já consagrados”.

Diante dos desafios de uma época de muita informação e poucos leitores, Luiz Fernando acredita em alternativas como a internet, ponto de encontro virtu-al entre os novos poetas. “O blog facilita que você se divulgue para o mundo. Você trabalha sua pró-pria publicidade ali, além de fazer contatos”. A falta de interesse atu-

al pela apreciação da poesia como uma forma independente de arte, e a decadência de sua função na educação do brasileiro cria outra importante interferência para o crescimento de um poeta. “Não tem quase ninguém que lê poesia. Nós conseguimos com o Eco, tra-balhando com a leitura do poema, um suporte a mais para a divul-gação do poeta. Em um evento recente, colocamos 120 pessoas para ouvir poesia, um número sig-nificativo para Juiz de Fora.”

Resgatar o interesse do pú-blico pela poesia, em um estilo moderno de l’art pour l’art, parece a melhor caracterização da nova poesia juiz-forana em surgimento em torno do grupo Eco Perfor-mances. O conceito do crítico li-terário americano, Harold Bloom, da “ansiedade de influência”, isto é, uma vontade de eternizar-se pela arte, não se aplica a Luiz Fernando. “Eu gosto de escrever, mas não me vejo entre os grandes poetas, nem tenho essa pretensão. Nós da Eco não somos um movi-mento poético, queremos colocar a poesia em circulação, em movi-mento”, diz.

O poeta Luiz Fernando Priamo recitando uma de suas poesias em performance do grupo Eco

Foto: Thais Thomaz

A arte de colecionar discos de vinilAna Luiza Maia

Os remanescentes históricos de uma época em que a boa música brotava em todos os jardins

Engana-se quem dava o velho vinil como mor-to. Em plena era digital,

quando a indústria fonográfica se pega boquiaberta com a mul-tiplicação das trocas de arquivo pela internet e a inevitável der-rocada do CD, os antigos bola-chões ressurgem no interesse dos cada vez mais exigentes co-lecionadores e fãs da boa músi-ca. Como que para zombar des-sa nova era super carregada de pen-drives, o vinil chega a todo vapor, num misto de nostalgia e abandono do já ultrapassado dis-quinho cromado.

Som diferenciado que reflete as ondas do áudio original, sem distorcer os sons de transição repentina (como bateria e trom-pete), sem perder nenhum tipo de informação. De acordo com especialistas, o resultado propa-gado por um toca-discos é um som analógico, perfeito. Além da sonzeira, o vinil ganha ainda mais espaço pelos títulos que não existem no formato digital, e pelas artes gráficas bem traba-lhadas nas capas dos discos.

São muitos os motivos para se colecionar o disco preto me-tálico, e o gosto pela procura de raridades e artistas desconheci-dos é o que impulsiona os mú-sicos Walner Del Duca e Pedro Paiva.

Os gostos, motivos e coleçõesWalner Del Duca tem 25

anos, é músico e viu brotar a von-tade de colecionar os bolachões muito cedo, “na minha casa não se escutava muito vinil, o gosto por colecionar adquiri mesmo sozinho. Quando eu era meni-no, juntava umas moedinhas e trocava pelos discos”. O músico nunca contou quantos vinis tem e, quando perguntado, diz que cada aquisição tem uma história que vale a pena ser lembrada. Entre as raridades, Walner possui na sua coleção alguns vinis da extinta gravadora pernambucana Rozemblit. Os bolachões fica-ram famosos pela dificuldade de se encontrar cópias já que, após uma enchente do Rio Capibaribe, quase todos os exemplares foram perdidos. Alguns dos seus, o dis-co “São Paulo” de Tom Zé, vale em torno de 400 reais.

Pedro Paiva é integrante do Vinil é Arte, coletivo de Juiz de Fora que se apresenta exclusi-vamente com discos de vinil. O grupo, com dez anos de estrada, nasceu “da vontade de fazer com que o universo dos colecionado-res dos bolachões fosse ampla-mente compartilhado. Foi um encontro de amigos amantes do vinil”, lembrou Pedro. O também músico alega que a opção de usar esse tipo de formato de mídia se deu por ser a forma mais íntegra e sincera de apresentar um trabalho

minucioso de pesquisa musical, além de ser sua paixão desde a primeira vitrolinha portátil, ainda na infância.

Quando perguntado do con-traste gerado pelo vinil, do anti-go com o novo, Pedro responde: “o impacto da sonoridade, do formato e da aparelhagem causa certa reação, tanto na geração que viveu o mercado musical da era dos discos, quanto nas gerações posteriores. O traba-lho do Vinil é Arte é desistituir a música da época e os rótulos originais e diluir em um repertó-rio que apresenta características atemporais e com novos valores agregados”.

Pedro Paiva, um dos integrantes do “Vinil é Arte”, mostra a coleção do grupo que conta com mais de 12 mil discos

Foto: Acervo Pessoal

Foram muitas as tentativas de se fazer uma gravação de áudio. Os primeiros registros em mídia magnética foram os obtidos em cilindros, em 1877. Em 1887 um imigrante alemão que morava nos Estados Uni-dos, Emile Berliner, registrou uma patente para o sistema de gravação baseado em um disco achatado, ao invés do frágil e pesado cilindro. Bastou, como pontapé a uma efervescência musical ampla e mais facilmen-te comerciável. No ano de 1948 surgiu o vinil, substituindo os chamados goma-laca de 78 ro-tações. Mais leves, mais male-áveis e com maior resistência a

choques, quedas e manuseio, os discos de vinil foram consi-derados os melhores, também pelo fato de reproduzirem um número superior de músicas - ao invés de uma canção por face - além de serem sempre muito elogiados pela excelente qualidade sonora.

Contudo, no final da déca-da de 1980 e inicio da década de 1990, chegou ao mercado um novo modelo de mídia que prometia maior capacidade, durabilidade e clareza sonora. Os compact discs, ou CDs, fi-zeram dos discos de vinil algo obsoleto e quase extinguiram os bolachões do circuito.

História musicada

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Projeto quer diagnóstico de estresse no HUAmanda AntunesLaís MesquitaLorena Goretti

Psicólogos e a Direção de Gestão de Pessoas propõem técnicas de relaxamento para os colaboradores

“ Para a pessoa que traba-lha com vida

e morte é difícil conseguir manter distanciamento o tem-po todo.” afirma a professora de Psicologia do Trabalho da UFJF, Edelvais Keller. Pen-sando nisso, está sendo im-plantado o Programa de Pre-venção em Stress para a Qua-lidade de Vida no Trabalho, em parceria com a Direção de Gestão de Pessoas do HU e coordenado pela professora Edelvais.

Doutora em psicologia, Edelvais construiu sua tese sobre o estresse de trabalha-dores hospitalares e considera que essa carga pode afetar in-clusive quem não atua em ser-viços clínicos, como no admi-nistrativo, por exemplo. No entanto, a diretora de Gestão de Pessoas do HU, Elazir Pa-letta, lembra que não se sabe qual é ou se há um alto índi-ce de pessoas acometidas por esse mal dentro do HU. “O foco do projeto é o bem-estar dos colaboradores, por isso acreditamos que irá detectar e propor alternativas”, explica.

“A pesquisa propõe um diagnóstico biopsicossocial com foco no estresse segun-do a psicologia do trabalho”, revela Edelvais. O objetivo é conhecer o estado geral de saúde dos trabalhadores hos-pitalares para entender quais são e como os “agentes es-

tressores” influenciam tanto no trabalho quanto na vida pessoal, bem como a forma com que encaram isso no dia a dia.

De acordo com Edelvais, a pesquisa utiliza aspectos teóricos sobre estresse, pro-moção da saúde e qualidade

de vida. Na primeira etapa, já iniciada, acadêmicos de psicologia entrevistam em média dois trabalhadores de cada setor das duas unidades do HU (Dom Bosco e Santa Catarina). A partir dos resul-tados, serão implementadas as formas adequadas de enfren-

tamento ao estresse. “Vamos aplicar exercícios e técnicas de relaxamento estimulando a reflexão e um olhar cuida-doso para si mesmo. Por isso, criamos mais um nome para o projeto, Grupo de Relaxa-mento e Enfrentamento do Stress”, conta a professora.

Foto: Cristiane Delgado/Divulgação

Da direita para esquerda, Profª Edelvais Keller, a Direção de Gestão de Pessoas e as acadêmicas de psicologia em encontro para apresentação do projeto.

Mercado de animação cresce em Juiz de Fora

O mercado de ani-mação no Brasil e também em Juiz de

Fora tem crescido a cada dia. Essa evolução é verifi-cada na participação de vá-rios expoentes em competi-ções nacionais e até mesmo fora do país. Neste ano, o publicitário juiz-forano Yuri Romualdo d’Avila está inscrito no Concurso Na-cional de Animação para a Internet (CCBB), integrado ao 19° Festival Internacio-nal de Animação do Brasil, o Anima Mundi. O tema do evento é Água e ocorrerá durante o mês de julho nos dias 15 e 24 no Rio de Ja-neiro e 17 e 31em São Pau-lo.

O juiz-forano participa-rá pela primeira vez do con-curso com a animação “An-tes Água do que Nunca”. “Os outros participantes usaram imagens de tornei-ras e de donas de casa la-vando roupa. Eu pensei na água como construção do mundo para diferenciar o

meu trabalho”, explica Yuri sobre a especificidade do seu projeto. Para a criação do trabalho, o publicitário utilizou de modelagem em 3D e também efeitos espe-ciais de edição.

Além disso, as inspi-rações para fazer o vídeo foram os problemas dos recursos hídricos da Ter-ra. “Eu fiz a animação em três meses e acabei na data limite, mas o resultado fi-nal ainda não estava como eu queria. Como o prazo de entrega foi expandido para mais um mês, eu tive a oportunidade de aperfei-çoar e melhorar a produção final”, conta. A expectativa, após grande divulgação, se-gundo d’Avila é ficar entre os 15 finalistas.

Objetivo do concurso e busca de patrocínios

O principal objetivo do conurso é incentivar o sur-gimento de animadores e produtores no mercado bra-sileiro. Além disso, com o tema água é possível trazer uma questão bastante discu-tida na sociedade atual, in-centivando o uso consciente dos recursos naturais.

Um dos principais desa-

fios para os trabalhos serem concluídos é a falta de pa-trocínio. Embora em franca ascensão, os profissionais ainda encontram dificulda-des em receber apoio. “O trabalho fica limitado aos programas que nós temos em casa, além de ocupar muito tempo. Com o apoio, o trabalho seria bem me-nor.”

Histórico da animação28 de outubro é o dia

internacional da Animação, porque foi neste dia, em 1892, que Emile Reynaud realizou a primeira proje-ção do seu teatro óptico em Paris. Foi uma exibição pública de imagens anima-das (desenhos animados) do mundo. Desde 2002, são realizados eventos para comemorar a data em vá-rios países. Entre eles está o Brasil, representado por várias cidades, com Juiz de Fora também presente na rota. “Em Juiz de Fora temos várias opções para realizar estes eventos como o Centro Cultural Bernar-do Mascarenhas, Museu de Artes Murilo Mendes e o apoio da FUNALFA. Fa-

zemos exibições em que as pessoas podem apreciar ani-mações que são diferentes do que normalmente vimos na TV ou no cinema”, ex-plica Alessandro Driê, um dos principais expoentes da animação na cidade. Ele é graduado em Cinema e TV pela Universidade Salga-do de Oliveira, em Juiz de Fora, desenhista autodidata e cartunista

Existem também as ani-mações experimentais rea-lizadas por artistas plásti-cos e também comerciais de TV. “O interesse é cada vez

maior, tanto pela presen-ça do público nos eventos realizados na cidade quan-to a realização de oficinas durante os festivais. Esta tendência é um reflexo do que está ocorrendo em todo o país, fundamentalmente pela acessibilidade às fer-ramentas de criação, temos a cada ano um aumento ex-pressivo de produções””, ressalta Driê.

Alexandre Driê utiliza o computador como ferramenta para fazer suas animações

Foto: Angélica Simeão

Rafael MeloRafael SimãoValentim Júnior

Setor em expansão utiliza ferramentas tecnológicas para fazer criações publicitárias e obtém sucesso

Abril 2011

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Jornal de Estudo Comportamentoagosto de

11Jornal de EstudoSuplemento JE14Julho de 2011

Praça da Estação recebe novos investimentosGuilherme Landim

Revitalização busca conferir uma nova imagem ao espaço, focando principalmente mudanças na infraestrutura

O investimento é de R$2,5 milhões e já foi encami-nhado um projeto para

captação de verba ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e ao Ministério Público para tentativa de aprova-ção pela lei Rouanet. Em entrevista coletiva o prefeito Custódio Mattos afirmou que R$1,5 milhão já está garantido pela MRS e que aguarda o restante do patrocínio através do Ministério da Cultura. O prefeito também informou que o valor ce-dido pela empresa ferroviária fa-vorece o processo de aprovação do projeto pela lei Rouanet.

Quem passa pela Praça Dr. João Penido, conhecida como Pra-ça da Estação, na correria diária e muitas vezes não percebe suas be-lezas e com a mudança vai ter mais motivos para admirar esse espaço que tem a maior concentração de edifícios tombados de Juiz de Fora, ao todo são 9 edifícios tombados em fachada e volumetria. Segun-do o Secretário de Administração e Recursos Humanos, Vitor Val-verde “a primeira etapa do projeto é a demolição do edifício situado entre a Estação Central e os arma-zéns Rede Ferroviária Federal SA (RFFSA), na Avenida Francisco Bernardino. A demolição do pré-dio é para que se tenha visão da estação Ferroviária da Leopoldina.

Segundo o representante regional do Instituto de Arquitetos do Brasil, Marcos Olender “a demolição do prédio em estilo moderno desva-loriza o patrimônio da cidade, pois independente da época cada prédio tem seu valor”.

A proprietária da Estação Cul-tural Estúdio de Danças Silvana Marques ressalta a importância do espaço para a história da cidade “Como a estação era um ponto de entrada de Juiz de Fora, pela praça transitaram muitas pessoas de dife-rentes classes sociais em diferentes épocas e isso deve ser levado em consideração.” Silva Marques dei-

xou seu estabelecimento na zona sul da cidade para ir se manter na praça da estação afirmando ser um lugar que faz parte de sua vida pois por ali passava todos os dias para ir ao centro além do fato de que seu pai já teve um bar por lá. A pro-prietária da escola de danças tem uma preocupação com as pessoas que freqüentam a praça a afirma “a mendicância é uma presença forte na praça e essa característica acaba por trazer um aspecto negativo ao lugar que muitas vezes é denomi-nado como parte baixa da Halfeld”. Outra mudança que preocupa Sil-vana Marques é a proximidade com

o Restaurante Popular que também atrai muitos mendigos.

Outros projetos Foram criadas duas comissões

para estudarem a viabilização de projetos na Praça da Estação, uma formada pela Secretaria de Planeja-mento e Desenvolvimento Econô-mico, Secretaria de Administração e Recursos Humanos, Secretaria de Obras, Secretaria de Atividades Urbanas, Secretaria de Transpor-te e Trânsito além da Secretaria da Fazenda e outra formada pela Fu-nalfa, Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico e

Secretaria de Administração e Re-cursos Humanos. A subsecretária da Funalfa, Silvana Barbosa faz parte dessas comissões e afirmou que está sendo feito um projeto para pintura das fachadas dos prédios históri-cos juntamente à iniciativa privada. As comissões realizam reuniões mensais para estudar as melhores opções, as quais devem apresentar aos proprietários dos edifícios na praça em outubro. A representante da Funalfa afirma que deve manter-se a alma do lugar valorizando as pessoas que convivem na praça e afirma que “A Praça da Estação tem um potencial artístico e cultural e te-mos que valorizar essa característica realizando projetos com as pessoas que convivem na praça, pensar nos moradores de rua e nas prostitutas que fazem parte do lugar e não tem para onde ir, na verdade temos que capacitá-los”.

Além da pintura as comissões estudam fazer mudanças na Ilu-minação, no piso, nos bancos e na jardinagem que atrapalha a visão dos edifícios históricos e não é pla-nejada. Segundo Silvana Barbosa “a intenção é valorizar o espaço durante o dia e também torná-lo mais simpático.” Para Marcos Olender a reforma é importante, porém deve se ter cuidado para que o lugar não fique descarateri-zado e ainda afirma que “Juiz de Fora é uma cidade de porte médio que pensa de forma provinciana”.

A revitalização visa mudar o conceito negativo de “parte baixa” que se tem da Praça, a qual carrega grande parte da história da cidade

Foto: Paula Duarte

Pesquisa iniciada na UFJF é desenvolvida na NoruegaAndreia Oliveira

Pesquisador mineiro cria modelo computacional que simula o funcionamento do coração humano

Com o número cada vez maior de pessoas com doenças relacionadas

ao coração, vários estudos e associações entre diferen-tes áreas surgem para buscar soluções e tratamentos mais modernos para quem sofre de doenças cardíacas. Foi com o objetivo de modernizar o tra-tamento das doenças cardía-cas, que o pesquisador minei-ro Bernardo Lino de Oliveira, formado em engenharia elétri-ca, pela Universidade Federal de Juiz de Fora desenvolveu um estudo, durante o curso de mestrado da UFJF, unindo en-genharia e medicina.

Intitulado ”Modelagem quantitativa da eletromecâni-ca do tecido cardíaco huma-no”, o trabalho propõe salvar e facilitar a vida de pessoas que sofrem com doenças e complicações do coração. O estudo possibilita, também, a realização de testes com no-vas drogas, a compreensão de fenômenos e problemas mais complicados, por meio da re-

produção do comportamento do músculo cardíaco.

“O objetivo é estudar e de-senvolver novos modelos para o acoplamento eletromecânico de células e tecidos cardíacos, em especial do ventrículo es-querdo humano”.

Bernardo explica que o tra-balho foi longo e precisou ser dividido em etapas. Na primei-ra, segundo o pesquisador, foi desenvolvido um novo modelo para a eletromecânica dos mi-ócitos cardíacos do ventrículo esquerdo humano (células do tecido muscular responsáveis pela contração do músculo) e a incorporação deste modelo em simulações de maior esca-la. “A partir daí, foi possível ‘imitar computacionalmente’ os fenômenos cardíacos, des-de o nível microscópico das células e outras estruturas subcelulares, até o nível ma-croscópico, como a propaga-ção elétrica no ventrículo e a contração muscular.”

Reconhecimento internacionalPara dar continuidade aos

estudos, o pesquisador ganhou apoio de um grupo de pesquisa-

dores noruegueses do “Simula Research Laboratory”. Atual-mente, Oliveira está morando em Oslo, na Noruega, onde conta com recursos financei-ros e tecnologia de ponta, para dar continuidade ao trabalho. “As facilidades encontradas aqui são salários bem supe-riores às baixíssimas bolsas do Brasil, além de uma ótima infraestrutura que te permite

se preocupar exclusivamente com sua pesquisa. O acesso a computadores e equipamentos de uma maneira geral é mais avançado do que os utilizados no Brasil, o que contribui mui-to com meus estudos”.

Há apenas uma semana em Oslo, ele conta, que ain-da não fez grandes avanços na pesquisa, mas está muito satisfeito pela oportunidade

“Candidato está mais exigente”, afirma o Pró-Reitor de Graduação Eduardo Magrone

Foto: Alexandre Dornelas/UFJF

conquistada. O pesquisador ressalta também, a importân-cia de novas pesquisas serem desenvolvidas nessa área. “As ciências exatas podem contri-buir com a medicina na ajuda da compreensão de fenômenos biofísicos encontrados no cor-po humano, além de auxiliar no desenvolvimento de novas drogas, equipamentos e técni-cas de diagnóstico”, conclui.

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Abril 2011

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Brigas entre grupos rivais ocorrem à luz do diaMichelle Valle

Cada vez mais rotineiras, as rixas entre jovens causam medo e apreensão na população de Juiz de Fora

As brigas entre grupos rivais já se tornaram acontecimentos roti-

neiros no dia a dia de Juiz de Fora. Seja nos portões dos co-légios, nas festas de rua ou nos shoppings da cidade, os confli-tos ocorrem a qualquer hora do dia e têm assustado moradores e pais de estudantes. Uma des-sas brigas culminou na morte de um estudante de 16 anos, na porta da Escola Estadual Estevão de Oliveira. O fato levou as autoridades a tomar providências, como o reforço do policiamento na hora da sa-ída das aulas, e a reativação do Grupo de Operações Especiais (GOE).

Segundo a Polícia Militar, a falta da oportunidade e o de-sejo de impor respeito podem ser as causas da violência. Na cidade, são muitos os bair-ros cujos jovens se juntam formando seus “bondes”. De acordo com a assessora de re-lações públicas da PM, capitão Kátia Moraes, os grupos são formados por moradores entre 13 e 22 anos de idade. Ainda, segundo ela, a grande maioria possui uma base familiar pro-blemática e é proveniente de classes sociais menos favore-

cidas. Mas ela alerta que mui-tos jovens com boas condições financeiras também participam da rixa. “Temos problemas com (jovens da) a classe média também, que, de certa forma, para se firmarem, também fa-zem isso”.

Não existem motivos cer-tos para tais rivalidades e a re-gião central de Juiz de Fora é o principal ponto de encontro desses grupos. Muitos desses jovens espelham–se em grupos criminosos de outros estados.

A comerciante Denise Silva relata que os confrontos começam sem qualquer mo-tivo aparente e que os jovens não possuem limites. “Eles quebram vidraças, atiram pe-dras sem querer ver quem está passando na hora. Já tive pre-juízos com produtos roubados na hora da confusão e um vi-dro quebrado. Eles só param quando a polícia aparece.”, informou Denise.

Sabendo das áreas de maiores ocorrências, capitão Kátia alega que a polícia tenta inibir os confrontos fazendo operações especiais nos locais. “Quando recebemos a infor-mação de brigas, rapidamente, são enviadas viaturas para o lo-

cal. A polícia chega e os jovens se dispersam”, afirma.

Fim de bailes não reduz vio-lência

Em 2009 o Ministério Pú-blico entrou com pedido de fim dos bailes funks no centro de Juiz de Fora. A decisão foi tomada tendo em vista o alto grau de violência nesses espa-ços de lazer. Porém, a medida não foi suficiente para sanar o problema das rixas em Juiz de Fora.

O integrante de um grupo

da Zona Norte, que não quis se identificar, não soube informar a origem das rivalidades, mas afirmou que já participou de conflitos por causa de boné, dinheiro, garotas e até sem mo-tivo.

Os incidentes se repetem nas escolas e a falta de respeito assusta professores e funcioná-rios. Na escola Afonso Maria de Paiva, no bairro Santa Cruz, muitos alunos e professores estão temendo frequentar as aulas. De acordo com a vice-diretora, Neusa Oliveira, um

Autoescolas disputam espaço nas ruas da cidadeVictor Henriques

Como anda a relação entre motoristas e aprendizes de direção no trânsito da cidade de Juiz de Fora

Juiz de Fora possui hoje quase 185 mil veículos circulando pelas ruas. Este

número coloca a cidade em quarto lugar entre as 15 maio-res frotas de veículos do Esta-do de Minas Gerais, ficando atrás apenas de Belo Horizon-te, Uberlândia e Contagem. E a tendência é de que este número continue a crescer. A dinamiza-ção da economia local e a faci-lidade na aquisição de veículos – e aqui se enquadram carros e motos novos ou usados - atra-vés dos financiamentos ofere-cidos pelas concessionárias e linhas de crédito abertas pelos bancos são alguns dos fatores que possibilitam, a um número cada vez maior de comprado-res, a aquisição de um veículo.

Devido às facilidades e à grande procura por habi-litação, é comum a motoris-

tas e pedestres encontrarem um enorme fluxo de carros de aprendizes de direção pelas ruas da cidade. Mas como anda a interação – e integração – en-tre motoristas e aprendizes?

Durante as aulas prá-ticas, os instrutores ensinam aos aprendizes as técnicas de direção e como se comportar nas diversas situações de trân-

sito. Mas nem sempre os mo-toristas legalmente habilitados utilizam o que aprenderam durante as aulas para saberem como lidar com o aprendiz. O proprietário e instrutor de uma autoescola de Juiz de Fora, Ga-briel Alves Filho, ressalta que a teoria e a prática deveriam ser ensinadas simultaneamente para que o conhecimento seja incorporado completamente pelos alunos e acabe por não ser esquecido. “Parte do curso de legislação deveria vir em conjunto com a prática de dire-ção. Teoria e prática ao mesmo tempo. A grande maioria dos alunos acha o curso monótono, reclamam e quando vão pra aula prática muitas vezes não se lembram de nada que estu-daram”, diz.

Gabriel ressalta ainda que os instrutores devem ado-tar posturas que influenciem

positivamente o aluno, para que a formação seja conscien-te. “O professor tem de ser paciente. Uma discussão em trânsito ou um tratamento mais ríspido para com o aluno pode prejudicar e muito o proces-so prático de aprendizagem. Agindo assim, ele pode acabar influenciando negativamente o aluno ou até mesmo aumentar o medo com relação ao trânsi-to”.

A aprendiz Lailla Du-arte afirma que, além do nervo-sismo que afeta o aluno duran-te as aulas, os motoristas não possuem a paciência e compre-ensão necessárias para auxiliar o aprendizado. “Já passei por vários momentos de tensão enquanto aprendia. Apesar de a maioria respeitar quem está aprendendo, alguns motoristas buzinam, não respeitam a dis-tância entre os carros, xingam.

Eles não se lembram que um dia eles foram alunos tam-bém”.

Outra situação que chama a atenção sobre o pro-cesso de habilitação é em rela-ção aos locais onde se realizam as aulas de direção. São diárias as reclamações de morado-res dos bairros Monte Caste-lo, Bandeirantes, Nova Era e Parque Guarani, por causa dos inúmeros carros de autoescola que estacionam em frente a ga-ragens, locais proibidos e por-tas de escolas, dentre outros. “A gente acorda por causa do barulho, tem que ficar procu-rando o dono do carro que fica parado na porta da garagem. E eu acho também que quem está aprendendo não podia ficar di-rigindo na frente de escola. E se acontece um acidente com uma criança?”, diz Francine Helena de Sousa, moradora do bairro Monte Castelo.

A escolha dos locais onde acontecem as aulas e exames é de responsabilidade da Delegacia de Trânsito e de-pende da demanda de alunos nas autoescolas e fluidez do trânsito nos locais. Além disso, eles devem oferecer segurança tanto para motoristas quanto para pedestres e também con-dições de treino das diversas manobras a que estarão sujei-tos os aprendizes no trânsito da cidade.

grupo de jovens tem causado pânico na saída do turno da tarde. “Eles roubam, chutam, forçam brigas. A polícia não fica todos os dias na porta, aí eles agem. É um bando de dez meninos que não querem e também não deixam os outros aprender”, acrescenta.

ProgramasAs autoridades tentam

amenizar os problemas rea-lizando projetos sociais vol-tados para o mercado pro-fissional, como o Programa Municipal de Atendimento a Adolescentes (Promad) e a Casa da Menina Artesã. Da-nilo Dias, 18 anos, participou do Promad e hoje trabalha na Unimed. O estudante pretende agora fazer vestibular para ad-ministração e investir na área. Ele diz que ficava nas ruas do bairro Linhares e que o traba-lho o levou para um caminho diferente do de alguns cole-gas. “O Promad foi uma opor-tunidade importante na minha vida. Dificilmente eu iria con-seguir um emprego desses se não tivesse passado por este programa da Amac. Minhas chances seriam muito reduzi-das”, ressalta.

Os alunos interessados em se habilitar, devem cumprir uma carga de 45 horas de aulas teóricas, quando têm a possibilidade de aprender sobre legislação de trânsito, primeiros socorros, mecânica, meio ambiente e direção defensiva. Além das aulas, os alunos devem se submeter ao exame físico e psicológico, primeira etapa do processo, e, após ser aprovado no exame de legislação, cumprir uma carga mínima de 20 horas de aulas práticas de direção, sendo que destas, 20% devem ser realizadas no período noturno. A partir da aprovação no exame prático, o aprendiz recebe em seu endereço residencial a Permissão Para Dirigir (PPD) válida por um ano. Se, durante este primeiro ano, o motorista não cometer nenhuma infração grave (5 pontos) ou gravíssima (7 pontos) ou ainda não for reincidente em 2 infrações médias (4 pontos), ele fica apto a requerer sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

No bairro São Mateus, grupos se encontram nas localidades próximas aos bares

No bairro São Mateus, grupos se encontram nas localidades próximas aos bares