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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS CURSO DE HISTÓRIA JULIANA CARNEIRO BARBOSA “PELA HORA DA MORTE”: Os efeitos da Segunda Guerra Mundial no custo de vida em São Luís São Luís 2005

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS

CURSO DE HISTÓRIA

JULIANA CARNEIRO BARBOSA

“PELA HORA DA MORTE”: Os efeitos da Segunda Guerra Mundial no custo de vida em São Luís

São Luís 2005

JULIANA CARNEIRO BARBOSA

“PELA HORA DA MORTE”: Os efeitos da Segunda Guerra Mundial no custo de vida em São Luís

Monografia apresentada ao Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão, para a obtenção da graduação em História Licenciatura Plena. Orientadora: Profª Elizabeth Sousa Abrantes

São Luís 2005

JULIANA CARNEIRO BARBOSA

“PELA HORA DA MORTE”: Os efeitos da Segunda Guerra Mundial no custo de vida em São Luís

Monografia apresentada ao Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão, para a obtenção da graduação em História Licenciatura Plena.

Aprovado em ___/___/2005

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Prof ª Elizabeth Sousa Abrantes (Orientadora) Mestre em História

Universidade Estadual de Maranhão

_____________________________________

Prof.ª Maria de Lourdes Lauande Lacroix. Mestre em História

Universidade Estadual de Maranhão

_____________________________________ Prof. Alan Kardec Mestre em História

Universidade Estadual de Maranhão

À Deus.

À minha família, em especial a minha

mãe Leda meu alicerce.

Às minhas irmãs que me apoiaram

em todos os momentos.

AGRADECIMENTOS

À Deus pelo dom da vida

À minha família pelo carinho, apoio e paciência, sabendo entender as angústias e

irritabilidade dos momentos difíceis.

À minha mãe, grande amiga, por acompanhar a minha luta não permitindo que eu

desistisse no meio do trajeto.

Ao meu pai pelo carinho e apoio.

Ao meu esposo por estar presente em todos os momentos, pelo amor e cuidado.

À Íris Guaraci, Raimunda Ascenção,e as minhas cunhadas por me incentivarem

sempre e acreditarem em mim.

Aos meus irmãos, em especial, à Fatinha e Jussara por disponibilizarem tempo,

momento precioso, de suas vidas agitadas para me ajudarem.

Aos meus amigos do curso de História, em especial, à Márcia, Elzimar e Yankee por

estarem presentes nesta caminhada.

À minha amiga Carmem companheira constante. Como posso esquecer nossos

momentos nos arquivos e bibliotecas da cidade?

À professora Elizabeth Abrantes pela paciência e orientação precisa, por ser uma

profissional comprometida e competente, um exemplo a ser seguido.

Aos professores do curso de História pelos ensinamentos, carinho e compreensão.

A todos que direta ou indiretamente ajudaram na realização desse trabalho, meus

profundos agradecimentos.

“Poucas capitães, no Brasil terão uma vida tão cara como a nossa, aqui desde os aluguéis até cosinheira, pela manhã, compra com difficuldade no mercado, tudo é pela hora da morte.”

O GLOBO

RESUMO

Estudo sobre o custo de vida em São Luís no período da Segunda Guerra Mundial

(1939 a 1945), objetivando relacionar os efeitos dessa guerra européia na sociedade ludovicense, com seu impacto sobre o mercado interno dos gêneros de primeira necessidade da população. A Segunda Guerra Mundial deixou marcas em praticamente todos os países, uns mais profundamente do que outros. No Maranhão seus reflexos estiveram relacionados ao aumento das exportações interestaduais dos gêneros alimentícios e a diminuição das importações, provocando crise no mercado interno. Problemas internos de infra-estrutura do Estado contribuíram ainda mais para o agravamento da situação, marcada pelo problema do abastecimento, com elevação dos preços dos transportes, dos gêneros alimentícios e a especulação de comerciantes que se aproveitavam da conjuntura para obter vantagens, lesando a população, especialmente a mais pobre, que vivia de rendimentos mínimos.

Palavras-Chave: Segunda Guerra Mundial. Custo de Vida. Sociedade. São Luís.

ABSTRACT

This is a study about the cost of living in São Luís during the Second World War (from 1939 to 1945), relating the effect of this European war in São Luís society, its consequence in the domestic market of basic necessities stuffs of the population. The Second World War has left consequences in almost all the countries, in some of them it can be seen more clearly than the others. In Maranhão we could see the consequences related to the increase of exportations of foodstuffs to other states and the decrease of importations, leading to crises in the domestic market. Problems of infrastructure in the state contributed much more for the worsening of the situation, related to the supplying crisis, the increase of transportation fare, foodstuffs and also the speculation of businessmen that took advantage from this situation, conning the population, especially the poor people that lived with minimum wages. Key words: Second World War, cost of living, society, São Luís.

SUMÁRIO

p.

1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 09

2 A ECONOMIA MARANHENSE DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL......................................................................................................... 12

2.1 As Exportações e Importações Maranhenses durante a Segunda Guerra Mundial.............................................................................................................. 18

3 O CENÁRIO URBANO: décadas de 30 e 40.................................................. 21

4 “PELA HORA DA MORTE”: os efeitos da Segunda Guerra Mundial no custo de vida em São Luís................................................................................. 32

4.1 Racionamento do Consumo e Elevação dos Preços........................................ 41

4.1.1 Pagando mais caro para andar a pé: a crise dos combustíveis............................ 41

4.1.2 Sem Pão e Sem Açúcar....................................................................................... 46

4.1.3 E Como Fica o Papa – Arroz? A Escassez de Arroz e do Pão - da - Terra........ 49

4.1.4 O Problema da Carne Verde................................................................................ 52

4.1.5 Outros Gêneros: Manteiga e Café....................................................................... 53

5 CONCLUSÃO................................................................................................... 55

REFERÊNCIAS.................................................................................................. 57

ANEXOS............................................................................................................. 62

1 INTRODUÇÃO

A Segunda Guerra Mundial deixou marcas profundas nas sociedades mundiais. No

Brasil, seu efeito favorável foi sentido no setor industrial, com uma considerável elevação da

produção para substituir as importações. A economia brasileira vinha passando por

transformações do seu sistema produtivo, com a crise do setor agro-exportador. Na década de

1930, “tal crise se acentuou e precipitou consideravelmente, abrindo novas e largas

perspectivas para transformação final daquele sistema durante a Segunda Guerra Mundial”.

(PRADO JÚNIOR, 1998, p.301).

Assim, durante a Segunda Guerra Mundial intensificou-se no Brasil ainda mais o

processo de nacionalização da economia, ou seja, uma produção voltada para o mercado

nacional, para as necessidades próprias da população brasileira, uma vez que a guerra

provocou desestruturação do mercado mundial, deixando o Brasil desabastecido de produtos

importados e fazendo com que o mercado interno se visse obrigado a recorrer à produção

nacional. Com a diminuição das importações e aumento das exportações, houve um melhor

equilíbrio da balança comercial.

Em conseqüência do aumento das exportações e declínio das importações desaparecerá momentaneamente o sintoma mais expressivo pelo qual se manifestam as contradições do nosso sistema econômico, a saber, o desequilíbrio crônico da balança de pagamentos no exterior. (PRADO JÚNIOR, 1998, p.303)

A população mais pobre ficava de fora dos benefícios econômicos obtidos nesse

período. A classe trabalhadora sofria o ônus deste progresso, pois, os donos das fábricas viam

na exploração da força de trabalho e no pagamento de baixos salários uma maneira de

adquirirem um lucro extra que provocava, conseqüentemente, uma maior acumulação

capitalista.

Também no Maranhão foram sentidos os efeitos da Segunda Guerra Mundial,

especialmente na capital, onde produtos de grande necessidade do consumo da população,

10

dada sua escassez ou especulação dos comerciantes, atingiram preços exorbitantes,

provocando um aumento do custo de vida.

Este trabalho pretende verificar os efeitos do conflito europeu de 1939 a 1945 na

sociedade ludovicense, especialmente no aumento do custo de vida da população, destacando

os fatores que contribuíram para o aumento de preços.

No primeiro capítulo apresenta-se a situação da economia maranhense nas

primeiras décadas do século XX até a Segunda Guerra Mundial, destacando a crise da

produção agrícola e da indústria têxtil e a posição do babaçu na economia. Apresenta-se o

quadro das exportações e importações, tanto internacionais como interestaduais.

O segundo capítulo é um panorama da sociedade ludovicense nas décadas de 1930

e 1940, destacando aspectos como emprego, moradia, além de enfocar algumas

transformações no espaço e nos serviços urbanos à disposição da população da capital

maranhense.

Finalmente, no último capítulo, analisam-se os fatores que provocaram o aumento

de preços dos gêneros de primeira necessidade em São Luís relacionados à conjuntura da

Segunda Guerra Mundial. Apresenta-se a crise de abastecimento da capital, as medidas de

racionamento do governo, a especulação dos comerciantes com suas estratégias para burlar a

legislação e lesar o consumidor.

A quase inexistência de trabalhos científicos que façam um paralelo entre a

Segunda Guerra Mundial e a história econômica e social do Maranhão, ou mais

especificamente de São Luís, torna essa problemática bastante relevante para a historiografia

maranhense. Até o momento, somente o historiador Mário Meireles, no volume 4, da obra

“História do Comércio do Maranhão”, dedicou um capítulo para tecer breves comentários a

respeito dos reflexos da Segunda Guerra Mundial no custo de vida em São Luís. O presente

estudo, portanto, além de ampliar o debate sobre a temática dos efeitos da Segunda Guerra em

11

São Luís, pretende chamar a atenção para a relação entre a história mais global e a história

regional.

Para esta pesquisa foram utilizadas fontes primárias variadas: censos

demográficos, jornais de São Luís da primeira metade do século XX, falas e relatórios de

governadores, relatórios da Associação Comercial do Maranhão, as quais se encontram nos

acervos do IBGE, da Biblioteca Pública Benedito Leite, Arquivo Público do Estado do

Maranhão e Associação Comercial do Maranhão.

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2 A ECONOMIA MARANHENSE DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Ao iniciar o século XX a economia maranhense passava por um processo de

reorganização da produção, resultante da crise final do sistema agroexportador. Diferente do

sudeste em expansão com a produção cafeeira, o Maranhão não possuía mais um produto

agrícola de consumo universal, interno e externamente, que pudesse garantir o

desenvolvimento do Estado. A produção do algodão e do açúcar havia declinado, embora

para o primeiro produto ainda estivesse garantido o mercado interno das fábricas têxteis.

Entre as medidas de reestruturação da economia estava o parcelamento da

propriedade rural, com a produção agrícola de alimentos na pequena propriedade familiar,

principalmente do arroz, feijão, milho e mandioca, produtos básicos da dieta alimentar do

maranhense, além de uma pequena criação de gado bovino e de pequenos animais.

(FEITOSA, p. 39)

O campo maranhense - cultivado por pequenos produtores rurais, após a abolição da escravatura, trabalhando em regime de arrendamento ou parceria e geralmente sob total domínio dos ‘Senhores de Terra’, muitos destes também comerciantes - continuava a ser o lócus preferencial de sobrevivência da população regional. (RIBEIRO JÚNIOR, 2001. p. 76).

A pequena produção também enfrentava sérias dificuldades, desde o investimento

à sua comercialização. O percurso feito pela produção agrícola maranhense, com um grande

número de intermediários entre o produtor e consumidor final, encarecia o preço do produto e

impedia que o pequeno produtor vislumbrasse melhores lucros, ficando sozinho com os riscos

da produção.

Os excedentes gerados nesse processo são concentrados por uma cadeia de intermediários que vai desde o agente quitandeiro, o comerciante urbano, o caminhoneiro ao usineiro do arroz. Os mesmos não investem na produção, pois não desejam assumir os riscos costumeiramente vividos pelo processo produtivo. (FEITOSA, p.27).

Durante a conjuntura da Primeira Guerra Mundial, a produção de alimentos da

agricultura maranhense voltou-se para o abastecimento das áreas urbanas do nordeste e outras

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regiões brasileiras, principalmente com a exportação de arroz. Nesse período a

comercialização do babaçu também ganhou impulso, uma vez que esse produto passou a ser

aproveitado para fins industriais, levando ao melhoramento da economia e ao equilíbrio da

balança comercial. (MEIRELES, 2001)

O Maranhão possuía a maior reserva de babaçuais1 do Brasil, embora sua

produção fosse subutilizada. Pelo território maranhense se estendiam grandes florestas de

babaçu, ao longo dos rios, vales, encostas e regiões planas. Apesar dessa abundância e da

utilidade de toda a palmeira, das folhas ao fruto2, a extração do babaçu acontecia de maneira

totalmente rudimentar, com a quebra do coco sendo feita com machado e a coleta manual,

recolhendo os frutos caídos ao pé das palmeiras. O extrativismo do babaçu representava para

as famílias do pequeno produtor agrícola uma atividade de complementação de suas rendas,

sendo feita paralelamente à produção agrícola e exercida pelas mulheres e crianças.

(FEITOSA, p. 36)

A extração do babaçu trouxe grandes lucros para o Maranhão, especialmente para

os agentes negociadores, o mesmo não acontecendo com os trabalhadores diretos. Era

vendido para outras regiões do Brasil e para o exterior. Na década de 1930, o babaçu ocupava

uma posição expressiva na pauta das exportações maranhenses, “estando entre os quatros

produtos que respondiam pelo equilíbrio da economia, superando em quantidade exportada o

algodão em pluma, produto que por mais de cem anos ocupou o lugar mais destacado”.

(RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1938,

p.18-19).

1 Isto se explica “pelo fato de ficar a maior parte do território maranhense numa zona de transição entre a floresta amazônica e o nordeste castigado pelas secas, oferecendo, assim, o melhor clima do país para conservação e multiplicação das palmeiras de babaçu, vegetal próprio dos climas tropicais, com maior possibilidade de produção nas regiões com menor variação de temperatura...”. (JORGE, Miécio. Álbum do Maranhão, 1950, p.19). 2 Do babaçu tudo se aproveita: a amêndoa para preparação de alimento: leite e azeite, o mesocarpo utilizado para fins medicinais, a casca que pode ser transformada em carvão metalúrgico, alcatrão, ácido pirolenhoso, álcool metílico e etc. e as folhas ou palhas que são utilizadas para coberta e envaramento, no processo de construção e também na confecção de objetos artesanais ( FEITOSA, p. 30)

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Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o babaçu passou a sofrer repentinas

baixas na exportação para o mercado externo, especialmente o europeu. Segundo o relatório

do governo, a explicação para essa queda era o fechamento do mercado europeu, em

conseqüência da guerra, que estava levando as indústrias americanas a reduziram suas

atividades, passando, por isso a precisarem de menor volume dessa matéria-prima.

(RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1940,

p.21)

A diminuição na procura do babaçu foi diretamente sentida nos centros de

produção.3 Outro fator que afetou a exportação do babaçu foi a entrada do Brasil no conflito,

aumentando o risco da guerra submarina. Também a crise de combustível impedia a saída do

produto para os mercados estrangeiros, provocando uma prolongada retenção do produto na

Praça de São Luís.

O prejuízo daí resultante orça por mais de dez mil toneladas do produto em referência no valor comercial de cerca de vinte e três milhões de cruzeiros. Com efeito, em 1942 apenas exportamos 30.575.416 quilos da preciosa amêndoa, quando no antecedente, a preços 50% inferiores aos atuais, vendemos para fora do Estado 41.041.586 quilos. E o desfalque vai ser maior ainda, pois serão talvez necessários mais de seis meses de transações regulares, para que os produtores se restabeleçam inteiramente do choque recebido na safra passada. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1942. P.61).

Tentando controlar esta difícil situação, o governo brasileiro assinou um acordo

com o governo norte americano para facilitar o comércio de amêndoas e de óleo de babaçu. O

acordo continha cláusulas como a fixação, por dois anos, do preço do produto, também a

garantia de pagamento das quantidades adquiridas, independentes de embarque, na hipótese

de ausência de navios dentro do prazo de noventa dias que se seguirem imediatamente à

compra. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO,

1942, p.61). Com isso o governo pretendia assegurar a cotação estável da principal

3 Foram extraídas em 1940 apenas 41.353 toneladas, contra 51.515 toneladas no ano de 1939. (RELATÓRIO

DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1940).

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mercadoria da economia maranhense, prevenido os riscos das retenções forçadas dos estoques

como estava acontecendo.

O quadro a seguir mostra a exportação do babaçu durante o conflito mundial, onde

pode ser observada uma queda da quantidade exportada durante os anos do conflito, em parte

compensada pelo aumento dos preços nos mercados consumidores.

TABELA I - Exportação de Babaçu

ANO QUILO VALOR 1940 41.353.561 CR$ 39.455:313 1941 41.041.586 CR$ 52.155:505 1942 30.575.416 CR$ 59.857:954 1943 26.127.821 CR$ 48.203:558 1944 31.739.150 -

Fonte: Relatório do Governo do Estado do Maranhão de 1940 e IBGE Balança Comercial, 1944.

Um outro aspecto importante para entender a situação da economia maranhense na

primeira metade do século XX é a condição da indústria têxtil, cuja concentração do parque

fabril estava em São Luís. A desorganização definitiva da grande exploração agrícola,

especialmente a algodoeira, levou muitos proprietários rurais e, especialmente os

comerciantes, a buscarem uma alternativa de acumulação na indústria têxtil.

A existência local de matéria-prima, o algodão, contribuiu para o estabelecimento

das fábricas de tecido, além da tecnologia disponível no mercado externo e a existência de um

mercado interno fruto do crescimento urbano. O setor têxtil empregava, em 1890, cerca de

“1.550 operários numa população de 29.308”. (RIBEIRO JÚNIOR, 2001, p.71).

A euforia industrial que tomou conta de São Luís no final do século XIX durou

pouco, embora as fábricas que se estabeleceram nesse período tenham funcionado até meados

do século XX. A retração do mercado devido à concorrência com outros estados, bem como

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problemas de ordem tecnológicos, gerenciais, financeiros, trabalhistas levaram a uma crise

que se tornou mais profunda a partir de 1930.4

Como é sabido, o Maranhão vive ainda do que produzem sua lavoura e suas indústrias extrativas. Logo depois da abolição da escravatura, criou-se no Estado a indústria de fiação e tecelagem. Produzíamos, ao tempo, ótimo algodão, e tudo indicava que a indústria nascente viria a constituir, em futuro próximo, a linha mestra da nossa estrutura econômica. As onze fábricas de tecido que então se constituíram e passaram a funcionar, justificava plenamente essa esperança. Mas aconteceu o contrário. A nova indústria não dispunha de capital suficiente para desenvolver-se. Os próprios estabelecimentos fabris foram levantados com recursos captados na economia popular, pelas sociedades anônimas que se incorporaram para tal fim. Esgotada a fonte do numerário, antes de consolidada a indústria, ficou esta exposta às conseqüências das bruscas oscilações dos mercados, em condições desfavoráveis, portanto, para competir com as congêneres dos Estados do sul. E por isso não prosperou de modo a influir, decisivamente, como se esperava, na economia maranhense. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1940, p. 20).

Durante a segunda guerra mundial a base da economia maranhense continuava

sendo a extração do babaçu, o que causava preocupação ao governo porque essa produção era

realizada de maneira rudimentar, em bases frágeis. Portanto, inquietava o fato.

de estarem a economia e as finanças do Estado dependendo de uma indisciplinada, incerta e fugidia indústria de extração manual de frutos silvestres, exercitada, além de tudo, não por uma classe devidamente organizada, com responsabilidades definidas no seio da comunhão, mas pela massa extremamente movediça dos habitantes do interior que não alcançaram melhor meio de vida. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1941, p.22).

A agricultura e a indústria que deveriam ser os pilares da economia estavam em

dificuldades. A falta de credito agrícola, a má qualidade das sementes empregadas, impedindo

a produção de tipos valorizados que pudessem alcançar preços compensadores no mercado

externo e interno, a carência de transportes fáceis e baratos para os centros de consumo, eram

os principais fatores apontados para o declínio das colheitas. (RELATÓRIO DO

INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1941, p. 29). Quanto aos

transportes, apontava-se a falta de estradas para levar a produção dos roçados aos centros

comerciais como um entrave que dificultava o desenvolvimento da agricultura, tornando-se a

4 Para aprofundar melhor essa questão da indústria têxtil ver MELO, Maria Cristina Pereira. O Bater dos Panos. São Luís: SIOGE, 1990.

17

melhoria das vias de transportes uma medida de urgência. (RELATÓRIO DO

INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1938).

A preferência pela extração do babaçu em relação ao cultivo da terra era explicada

pelos riscos e dificuldades de toda ordem que cercavam a lavoura, a qual não conseguia

comparecer ao mercado com preço compensador, a exemplo do babaçu que estava com uma

cotação mais vantajosa. Por outro lado, a extração do babaçu não era bem aproveitada,

ocorrendo um grande desperdício desse produto, com a utilização de apenas 8% do coco.

Assim, de “128 mil toneladas de amêndoas exportadas em 1941, deixaram de ser aproveitadas

1.472.000 toneladas de casca que, se transformadas em carvão metalúrgico, alcatrão, ácido

pirolenhoso, álcool metílico e etc. Produziriam grandes lucros para o Estado” (RELATÓRIO

DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1941, p.18-19).

Assim, para que a extração do babaçu se tornasse uma atividade estável e

largamente produtiva para economia do Estado, era necessário que esta indústria fosse

organizada de modo a poder aproveitar todo o coco por processos mecânicos, sendo

integralmente industrializado no próprio território maranhense, em usinas aparelháveis para

extração dos seus subprodutos.

No dia em que estivermos convenientemente aparelhados para extrair, dentro das nossas fronteiras, não somente o óleo da amêndoa, mas todos os subprodutos desse prodigioso fruto da flora maranhense, nos colocaremos, sem esforço, entre as unidades da federação que maior influência exercem na economia do país. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1938, p.19).

Apesar do destaque do babaçu ainda nesse período, a Segunda Guerra Mundial,

provocou alguns desequilíbrios para a economia maranhense, como destacou o próprio

governo:

O conflito armado cria, é certo, a cada passo [...] problemas novos e dificuldades irremovíveis, devido à excessiva depreciação de nossos produtos, ocasionado [...] pela perda dos mercados europeus; além disso, que a falta quase absoluta de navegação para os próprios países americanos que se haviam constituído compradores exclusivos [...] provoca [...] prejuízos de extensão imprevisível; finalmente que, por outro lado, o custo de vida, aumentando dia para dia [...] passou também a constituir motivo de sérias preocupações. (RELATÓRIO DO

18

INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1941, p.21). (grifo nosso).

2.1 As Exportações e Importações Maranhenses durante a Segunda Guerra Mundial.

As exportações maranhenses oscilaram muito durante o conflito mundial, devido a

perda dos mercados europeus. A guerra submarina e falta de combustíveis impediam a

circulação dos navios, agravando ainda mais a circulação das exportações, chegando alguns

produtos a estragarem nos armazéns dos portos segundo os relatórios oficiais do período.

TABELA II – Exportações Maranhenses

ANO QUANTIDADE VALOR 1939 92.810.455 Kg CR$ 101.675.820,30 1940 71.477.496 Kg CR$ 89.259.833,40 1941 77.368.690 Kg CR$ 121.491.709,40 1942 74.519.281 Kg CR$ 143.188.175,80 1943 80.986.594 Kg CR$ 147.010.693,50

Fonte: RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO. Apresentado ao

Presidente da República do Brasil: 1940 a 1943.

No ano de 1941 as exportações maranhenses apresentaram um crescimento se

comparada ao ano anterior. A produção da indústria extrativa correspondeu a 63,20 %,

enquanto a agricultura contribuiu com apenas 10 % do total das exportações. Os produtos

agrícolas tiveram pouca participação no volume das exportações do Estado, com o

crescimento do volume exportado de alguns produtos, a exemplo do arroz, e a expressiva

decadência de outros, como é o caso do algodão, que chegou a exportar nesse ano de 1941

apenas 1,84 % de todo o volume exportado. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL

DO ESTADO DO MARANHÃO, 1941, p.29).

O ano de 1942 foi marcado pela entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial,

contra as nações do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). No campo das exportações, logo nos

primeiros meses de 1942 estas tiveram uma queda, ficando alguns produtos impossibilitados

19

de chegarem aos mercados consumidores, como explica o relatório do Interventor Paulo

Ramos:

Os entraves impostos pela guerra marítima às linhas de navegação internacional, e a carência de combustível que se ressentiam, já aquele tempo os carros, de tração mecânica empregados no serviço de transportes no interior, imobilizaram a produção nos paióis e nas fábricas, impedindo a entrega dos gêneros vendidos, e, com isso dificultando a renovação as capitais. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1942, p.60).

Enquanto os produtos principais da economia sofriam queda nas exportações, o

mesmo não ocorria com novos produtos como a farinha de mandioca e o milho.

Com a farinha ocorreu um fato inédito de haver comparecido aos mercados, em 1941 com 700.331 quilos no valor oficial de CR$ 312.346,50, apenas, e, no ano imediato, com 9.036.401 quilos, no valor de CR$ 5.597.876,50, o que vale dizer 1.792%. O milho teve ascensão mais modesta, porém, ainda assim, digna de nota. De fato, tendo figurado o quadro das exportações de 1941, com 600 toneladas, no valor oficial de CR$ 201.392,00 apresentou-se no de 1942, com 2.850 toneladas, no valor de CR$ 1.175.410,50. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1942, p.67).

Já o aumento das exportações verificado em 1943 deveu-se principalmente à venda

de animais vivos (aves e gado) e de gêneros alimentícios. (RELATÓRIO DO

INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1943, p.60).

TABELA III - Exportações Interestaduais

ANO QUANTIDADE PREÇO 1940 41.535.984 Kg - 1941 52.072.942 Kg - 1942 60.219.344 Kg CR$ 114.720.463,00 1943 - CR$ 120.815.019,20

Fonte: RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1940 a 1943.

TABELA IV - Exportação Internacional

ANO QUANTIDADE PREÇO 1940 29.941.512 Kg CR$ 28.726.434,20 1941 25.295.748 Kg CR$ 34.895.857,90 1942 14.299.937 Kg CR$ 28.467.712,80 1943 - CR$ 26.195.673,30

Fonte: RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1940 a 1943.

Assim, ao analisar a tabela das exportações interestadual e internacional se observa

que ocorreu um aumento da quantidade exportada para outros Estados da federação enquanto

a exportação internacional diminuiu. Este aumento das exportações nacionais se processou

20

por causa da procura por parte de outros Estados pela produção maranhense, especialmente

daqueles estados mais dedicados à produção industrial. A diminuição das exportações

internacionais estava diretamente relacionada aos efeitos da guerra, a exemplo da guerra

submarina que impedia a circulação dos navios nos portos maranhenses.

Quanto às importações para o mercado maranhense durante o conflito mundial,

pelos dados dos relatórios oficiais observa-se um considerável declínio das importações

internacionais e um crescimento das importações interestaduais.

TABELA V - Importação Internacional

ANO QUANTIDADE PREÇO 1938 5.501.530 Kg CR$ 11.473.452,60 1940 1.915.650 Kg CR$ 6.105.250,00 1941 3.095.613 Kg CR$ 12.575.675,70 1942 - CR$ 4.016.676,70 1943 - CR$ 1.713.280,10

Fonte: Relatório do Governo de 1940 a 1943.

TABELA VI - Importação Interestadual

ANO QUANTIDADE PREÇO 1938 19.999.471 Kg CR$ 60.387.104,10 1940 28.517.477 Kg CR$ 75.176.345,00 1941 30.042.090 Kg CR$ 86.008.194,40 1942 - CR$ 105.648.558,20 1943 - CR$ 110.568.466,00

Fonte: Relatório do Governo de 1940 a 1943.

21

3 O CENÁRIO URBANO: décadas de 30 e 40

O início do século XX em São Luís foi marcado pelos efeitos da crise final da

economia agro-exportadora. Era possível observar nas condições das habitações da cidade, a

exemplo de muitos sobrados que antes ostentavam a opulência dos seus proprietários e que

estavam sendo transformados em cortiços para habitação das camadas populares, a queda do

poder aquisitivo da elite ludovicense. A instalação das fábricas têxteis também deixava

marcas na fisionomia da cidade, à medida que provocava o aumento demográfico e a

suburbanização, com o conseqüente aumento dos limites da urbe, pois nos arredores das

fábricas surgiam bairros proletários como: Madre Deus, Fabril, Cambôa e Anil.

Durante muitos séculos os limites da cidade permaneceram quase inalterados. A

utilização do espaço urbano ocorria sem um planejamento efetivo.

Os grupos ocupavam a área central da cidade que não por acaso era a mesma desde período de sua fundação, ou seja, correspondente à área da igreja do Desterro, os trechos da Avenida Pedro II e Praça Benedito Leite, prosseguindo em direção à atual Rua Grande até o início da Avenida Presidente Vargas. (BARROS, 2001, p. 33).

Diferentemente do que ocorreu em outras capitais brasileiras, onde os

administradores urbanos procuraram implementar uma política de modernização que resultou

na destruição de construções antigas, da época colonial e imperial, com o alargamento das

ruas e avenidas, construção de novos prédios, em São Luís não ocorreu essa transformação

radical do espaço urbano. O diferencial será buscado muito mais no culto ao passado para

demonstrar sua singularidade5, sem o recurso do “bota abaixo” que caracterizou, por exemplo,

a reforma de Pereira Passos no Rio de Janeiro.6

5 Sobre essa idéia da singularidade que resultou na construção do mito da fundação francesa de São Luís, ver LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A Fundação Francesa de São Luís e Seus Mitos. 2.ed. rev e ampl. São Luís, 2002. 6 Pereira Passos ficou conhecido com prefeito do “Bota - abaixo”. Sobre essa reforma do espaço urbano no Rio de Janeiro que levou à demolição de vários prédios da época colonial e imperial ver CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

22

A partir da década de 30, na conjuntura política da Era Vargas, uma nova onda de

modernização vai se espalhar pelo Brasil e diversas cidades brasileiras vão passar por

reformas estruturais que objetivavam enquadrá-las nos padrões das cidades modernas. Em

São Luís, tanto o governo municipal como o estadual promoveu reformas na estrutura das

urbes. Em 1939, o Prefeito Neiva de Santana promoveu reformas na cidade e diversos

casarões e igrejas coloniais do centro de São Luís foram demolidas com a finalidade de alagar

ruas e avenidas. Entre estas, “a igreja Nossa Senhora da Conceição dos Mulatos, localizada na

Rua Oswaldo Cruz, principal artéria comercial de São Luís”. (BARROS, 2001, p. 41)

Segundo o interventor Paulo Ramos, “no Maranhão tudo estava por fazer”.

Também envolvido pelas idéias modernizadoras realizou um conjunto de obras de

melhoramentos na capital do Estado. Em seu relatório de 1939 justificava essa remodelação

afirmando que a maioria das ruas de São Luís possuía o traço de trezentos anos estabelecido

pelo colonizador, quando ali só circulavam carroças, por isso as obras empregadas na capital

tinham o objetivo de modernizá-la.

A remodelação por que vem passando os logradouros da cidade, a abertura de novas avenidas, o alargamento de estreitas e tortuosas ruas traçada a trezentos anos pelos colonizadores, o serviço de calçamento e recalcamento do perímetro urbano e outros que ainda estão a vista de todos, dizem eloqüentemente da transformação ultimamente na política administrativa do município da capital.( RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1939, p.18.).

Durante a administração de Paulo Ramos (1936 a 1945) as principais obras

realizadas pelos governos municipal e estadual foram: plano rodoviário; reforma do palácio;

construção do palácio da educação, da colônia de psicopata, do pronto socorro Getúlio

Vargas, do palácio do comércio, da sede do poder judiciário, quartel de bombeiros;

construção de avenidas (Getúlio Vargas, 10 de Novembro); alargamento, pavimentação e

reformas de vias públicas (Pedro II, Parque Urbano Santos, Avenida Gomes de Castro, Rua

José Augusto Corrêa e outras.); reformas de praças (Antônio Lobo, Gonçalves Dias, João

Lisboa, Saudade); construção da Praça Duque de Caxias; do quartel do exército; reformas no

23

Hospital Geral, no Mercado Central, nos Armazéns da Recebedoria do cais e Biblioteca

Pública. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO,

1938 a 1943).

Estas obras mudaram a fisionomia de São Luís e possibilitaram a oferta de alguns

serviços de infra-estrutura urbana. A administração do prefeito Neiva de Santana também

sobressaiu no início da década de 1940 no que diz respeito às obras de embelezamento,

modernização e higienização da cidade.

Além de outros serviços municipais que se efetuam presentemente através da cidade acham-se em franco andamento, constituindo motivo de plena e justificada satisfação para a coletividade maranhense, as obras do Parque que a municipalidade havia planejado construir a Praça Marechal Floriano diariamente, os trabalhadores da prefeitura finalizam na sua faina anônima de embelezamento da cidade, mais uma etapa dessa obra de alto calor estético com que o prefeito Neiva de Santana quer dotar a nossa capital. Esse como numerosos outros serviços de vulto que tem assinalado a administração Neiva de Santana constitui uma prova imperecível do esforço, boa vontade e especial cuidado que dedica à nossa [cidade] ‘urbs’ o seu atual governante, cujas atividades estão sempre orientadas no sentido de modernizar, higienizar e tornar mais encantadora a capital do Estado, até onde permite as condições financeiras dos cofres municipais e as circunstâncias da guerra. (Diário do Norte, São Luís, n. 114, p. 02, 16 de agos. de 1941.). (grifo nosso)

Assim, sempre que se referiam às obras empregadas na capital do Estado, os

poderes públicos justificavam sua importância pelo grande valor estético que iram

proporcionar à cidade. Em diversas reportagens de jornais e falas dos governantes se observa

que a preocupação primordial do governo era com o enquadramento de São Luís no molde

das cidades modernas, daí a elaboração de um plano de reformas urbanísticas que visava dar

uma nova fisionomia para a cidade.

Velhas praças, de construção centenária, desniveladas e mal calçadas, tornaram-se aprazíveis logradouros; ruas estreitas e tortuosas, traçadas ainda nos tempos coloniais, foram alargadas ou transformadas em modernas avenidas; o antigo caminho grande, única via de acesso ao interior da ilha e que nunca tinha merecido os cuidados da administração local, começou a receber magnífica pavimentação e está sendo cuidadosamente arborizada. A cidade passou, em suma, a ostentar uma nova fisionomia, bem diferente daquela que lhe imprimiram os colonizadores e que conservava até pouco tempo. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1940, p.61)

Um fato que chama a atenção nesse plano de reformas urbanísticas que tinha a

preocupação com a modernização, higienização e embelezamento da cidade, é que se limitava

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principalmente às áreas nobres do centro da cidade, deixando os bairros populares fora deste

projeto. Por isso, a população pobre ficava sem os benefícios provenientes das melhorias da

infraestrutura urbana, sendo constantes nos jornais diversas reclamações sobre as condições

dos bairros populares. Eram comuns reclamações sobre a situação sanitária, o saneamento e as

condições de moradia da população pobre:

Estiveram, ontem, nesta redação, alguns moradores da travessa da Trindade e ruas dos Banqueiros e Graça Aranha, que vieram formular por nosso intermédio, um apelo às autoridades sanitárias, no sentido das mesmas fazerem extinguir alguns focos de ‘carapañas’ existentes naquelas vias, geradas pelas águas estagnadas ali existentes. Acrescentaram os reclamantes, que tal fato, vem oferecendo perigo às crianças residentes naqueles trechos as quais estão sendo atacadas de impaludismo, ocasionada pela picada dos carapañas. (O Globo, São Luís, n.248, p. 06, 01 de maio de 1940.)

O saneamento da zona suburbana de S. Luís é medida que se impõe à bem do desenvolvimento da nossa capital e amparo à sua população. Os nossos subúrbios crescem dia a dia, assim como se multiplicam em pouco tempo. Sem olhar para o problema das suas habitações, na maioria semelhantes ao tipo indesejável do ‘mocambo’ pernambucano, basta um passeio a qualquer deles para se conhecerem os seus arruados de largura escassa, tortuosos, cheios de socavões. E há subúrbios situados nas vizinhanças de pântanos. A falta de estradas de acesso a esses núcleos de população é evidente. Pode-se dizer que só há uma estrada o Caminho Grande. Os efeitos que se observam nos subúrbios sanluisenses vêem do passado. Não se ligou importância, não se prestou atenção à formação desses núcleos. E estes foram nascendo e crescendo ao Deus dará. Tratemos de corrigir, na medida do possível, as conseqüências de um descaso que foi extremamente prejudicial a S. Luís. ( Diário do Norte, São Luís, n.70, p. 02, 04 de jul. de 1940.).

Pela reclamação a seguir, observa-se o descaso do poder público com as áreas de

habitação popular, os subúrbios, e ausência dos serviços de “modernização” que as

autoridades públicas faziam questão de publicizar.

É sempre bom que a gente relembre as coisas esquecidas. Estrela do Norte, populoso bairro deste município, ao contrario do que era, está com as ruas transformadas em verdadeiros quintais abertos. O mato crescido. E, se ainda tivéssemos no inverno, sapos, pirilampos e mosquitos, em orquestrações assustadoras, espantariam os moradores e visitantes daquele subúrbio. Como Estrela do Norte está esquecido, relembro às autoridades competentes, que ali a população é numerosa, e além de tudo, a limpeza pública é exigida em todos os cantos. As ruas de Estrela do Norte estão intransitáveis. Todos os transeuntes vivem desconfiados de que, por aqueles matos, anda alguma cobra ou bicho mordedor. É bom que se relembre desse subúrbio presentemente esquecido. Antes, no entanto, de uma reclamação, é melhor informar o que há de verdade, justamente sobre o que se refere o presente assunto.Eis, pois, sem dúvida, uma boa informação a bem da coletividade. (Diário do Norte, São Luís, n. 74, p. 03, 10 de jul. de 1941).

25

No João Paulo, bairro periférico da cidade, a situação apresentada na queixa

abaixo mostra como as posturas municipais eram desrespeitadas e não havia vigilância das

autoridades para garantir o cumprimento da legislação. A população pobre, já carente de boas

condições de moradia, ainda precisava conviver com animais em condições que traziam sérias

ameaças à saúde pública.

Até, para os lados do ‘Come Vivo’, já pela imediação do Caratatiua, no João Paulo, está sendo feita uma criação de porcos que sérios prejuízos podem trazer à saúde pública. E’ que os animais andam a solta pelas estradas furando cercas e varando quintais. Ora, acontece que aquelas casas são casas de pobre, tapadas de meassabas e cófos, separando as várias propriedades. Os porcos nada respeitam, fossam tudo e, por toda parte, fazem sentir sua devastação. Há uma medida municipal que estabelece normas para criação de suínos. Essa medida deveria ser rigorosamente observada, pois, é salutar. Pois, não é isso justamente o que se espera acontecer de agora por diante, punindo-se os contraventores que, infelizmente são muitos, naquelas bandas. (Diário do Norte, São Luís, n. 1069, p. 04, 02 de out. de 1943.)

Quanto ao lazer, a população pobre também se ressentia de espaços onde pudesse,

de maneira barata, realizar a recreação de seus filhos. O preço dos transportes também era

outro obstáculo para os que viviam na periferia e pretendiam freqüentar algum parque ou

praça do centro da cidade.

‘S. Luís, como as demais capitais brasileiras, não tem senão poucas praças’. Dai à dificuldade de se proporcionarem às crianças de nossa terra diversões ao ar livre. O problema de um grande parque situado em lugar aprazível, saudável e destinado aos folguedos da criança de nossa capital é árduo. [...] Um operário para levar três filhos, no domingo, ao parque, terá de pagar cr$ 3,20 de passagens, no ‘caradura’. E isto não será um passeio ao alcance do bolso do pobre. Dispondo de pontos muito pitorescos, encantadores mesmos, no interior da ilha, a população da capital dificilmente os procura, aos domingos, porque o transporte é caro. Praias deliciosas, sítios onde há riachos de água límpida e fria, tudo isto está muito além da realidade que um dinheiro disponível para um passeio dominical. (Diário do Norte, São Luís, n. 264, p. 05, 07 de fev. de 1941)

Diante destas reclamações, se observa como as autoridades públicas tratavam com

descaso os bairros populares, excluídos do projeto de modernização da cidade, e só

indiretamente recebiam algum benefício. As populações suburbanas viviam em estado de

abandono, as ruas que serviam esses bairros geralmente não eram calçadas, não existia

saneamento básico para as áreas mais periféricas da cidade, os animais viviam a solta e as

26

moradias eram as mais precárias possíveis, feitas de barro e cobertas com palhas. No centro

da cidade, a população pobre se amontoava em casebres ou em antigos casarões

transformados em habitação coletiva, os cortiços.

Outro fator a ser destacado é que apesar das obras dos poderes públicos terem

incluído nesse período das décadas de 30 e 40 a construção do palácio da educação, da

colônia de psicopatas e do ponto socorro Getulio Vargas, obras de grande valor para a

população ludovicense, a maioria destas obras se limitava à construção e reforma de vias

públicas. Quando o governo se referia a uma obra como o Palácio da Educação, sede do Liceu

Maranhense tentava justificar a sua importância pelo grande valor estético que iria

proporcionar à cidade, muito mais que pelo seu valor educacional.

Na vitrine de um dos estabelecimentos comerciais da Rua Oswaldo Cruz está em exposição a ‘maquete’ do novo edifício destinado ao palácio da educação. Trata-se de suntuoso prédio, de planta moderna preenchendo todas as exigências técnicas e urbanísticas da nova concepção de construções. Esse escolar edifício revela, por outro lado o gosto pelas soluções duradouras, e por isso mesmo, definitivas. Invertendo na sua construção uma soma vultuosa, o governo quis, [...], fazer uma obra que pudesse servir não apenas a época que vivemos, mas à posterioridade, desobrigando o estado de novos dispêndio em torno de um mesmo problema. A ‘maquete’ exposta, afirmando nas suas linhas elegantes, a imponência do magnífico palácio, não é, entretanto, uma utopia, um projeto a se realizar. As paredes do novo edifício já se erguem adiantadas e, em breve, num local saudável e apropriado, pela sua situação, para as construções escolares, teremos um palácio da educação, dos mais completos de todo o norte do país. (O Globo, São Luís, n. 243, p. 02, 25 de abril de 1940).

Pode se observar nesse comentário uma preocupação do governo com o caráter

faraônico da obra, que pudesse marcar de vez a fisionomia da cidade e, certamente do seu

governo, tornando esta obra inesquecível.

Outra construção foi a da colônia de psicopatas, construída para tratamento dos

doentes mentais, ao mesmo tempo em que retirava das ruas estas pessoas consideradas

inadequadas ao convívio social e prejudiciais à estética da cidade, comprometendo sua

modernização.

27

Nesse mesmo sentido foi o encaminhamento do Interventor Paulo Ramos nos anos

de 1940 com relação às prostitutas, que tinha o objetivo de confiná-las em um único local da

cidade, que não ameaçasse a ordem pública e a moral das famílias.

[...] fortemente respaldado nos poderes ditatórios que o garantiam no Palácio dos Leões, concordou com o seu chefe de polícia Flávio Bezerra, em confinar as raparigas numa zona só delas. E assim, a venerada irmandade, por toda a cidade, em casas consideradas suspeitas, de mistura a vetustos sobrados da tradicional família maranhense, viu-se concentrada, de repente, em quatro quarteirões e algumas vielas de inestimável valor arquitetônico e cultural, que abrangiam as ruas da Estrela, Palma, 28, entre outras. (REIS, 2002)

Apesar das medidas de reformas urbanas atingirem bem pouco a população mais

pobre, esta participava igualmente dos tributos pagos ao poder público para uso em benefício

coletivo. Por exemplo, a população era obrigada a pagar um imposto municipal referente ao

calçamento de ruas.

Decreto-lei nº 126, de 9 de dezembro de 1944 . Regula a cobrança da contribuição de calçamento neste município. O prefeito municipal de São Luiz, usando das atribuições que a lei lhe confere, nos termos da lei federal nº 1202, de 8 de abril de 1939. DECRETA art 1° A contribuição de proprietários de imóveis situados em logradouros públicos calçados pela prefeitura de São Luis corresponderá, em conjunto, a 50% [cinqüenta por cento] do custo total das obras de calçamento. S 1º - Incluirá o custo total a que se refere este artigo, alem, do calçamento propriamente dito, o preparo da base, os meios fios, as bocas de lobo e as caixas de raio, com os respectivos ramais, para o escoamento de águas pluviais, não compreendendo, porém, o coletor geral, murros de arremo e outras obras de arte. Art 5º A contribuição de calçamento será paga de uma só vez ou em oito prestações trimestrais juntamente com o imposto predial e territorial, e estará sujeita aos mesmos acréscimos e multas de mora destes. (Diário do Norte, São Luís, n. 01, p. 03, 14 de abril de 1940.)

Na primeira metade do século XX, o Maranhão era um Estado com forte

concentração populacional na zona rural. Em 1940 sua população era de 1.235.169 habitantes,

sendo que 1.049.617 estavam concentrados na zona rural, ou seja, 85% da população. Já a

cidade de São Luís possuía uma população de 86.546 habitantes. (IBGE, 1944).

A população urbana com empregos formais estava concentrada principalmente no

comércio e na indústria. Segundo o censo do IBGE de 1944, os 44 estabelecimentos

comerciais empregavam 899 pessoas, sendo 804 do sexo masculino e 95 do sexo feminino. Já

os 40 estabelecimentos industriais empregavam 4.235 pessoas, sendo 1.820 do sexo feminino

28

e 2.415 do sexo masculino. Nestes números é possível perceber a diferença dos sexos nos

empregos urbanos, com uma presença incipiente de mulheres no comércio, enquanto na

atividade industrial existia uma quase equivalência, apesar das operárias receberem salários

mais baixos.

O salário mensal dos empregados da indústria variava de CR$ 199,00 à CR$

2.000,00, no entanto, a maioria, 66% dos empregados, recebia de CR$ 200,00 a CR$ 399,00.

Para efeito de comparação, o salário mínimo estabelecido para São Luís em 1944 era de CR$

200,00 mensal. (IBGE, 1944).

São Luís possuía uma pequena oferta de serviços públicos. Tinha 10

estabelecimentos bancários, seu serviço telefônico contava com um total de 890 aparelhos,

sendo que 794 estavam a serviço de particulares. Era a única cidade do Maranhão que contava

com esse serviço. A rede de esgoto sanitário tinha uma pequena extensão de 38.440 metros

que servia apenas 126 logradouros e 4.212 prédios. (IBGE, 1943).

Devido sua pequena extensão, o serviço de esgoto era bastante precário, não

atendendo toda a população. Assim, muitos habitantes da cidade moravam em ruas com

esgotos a céu abertos o que provocava graves prejuízos à saúde dos moradores.

Estiveram, ontem, nesta redação alguns moradores da travessa da Trindade e ruas dos Barqueiros e Graça Aranha, que vieram formular por nosso intermédio um apelo às autoridades sanitárias, no sentido das mesmas fazerem extinguir alguns focos de’carapanãs’ existentes naquelas vias geradas pelas águas estagnadas ali existentes [...]. (O Globo, São Luís, n.248, p. 06, 01 de maio de 1940.).

A iluminação elétrica não se estendia a toda cidade, apenas 118 logradouros e

4.592 domicílios possuíam este tipo de iluminação (IBGE, 1943). A energia era fornecida de

forma bastante deficiente, sendo comum faltar energia em São Luís, por isso eram freqüentes

reclamações nos jornais sobre este serviço prestado pela Ulen.7

Mais uma vez a Ulen abusa da paciência e boa vontade dos consumidores de energia e força elétrica.

7 Empresa americana que possuía o monopólio dos serviços urbanos de São Luís para o fornecimento de água, esgoto, iluminação e transporte (bondes de tração elétrica e a prensa de algodão).

29

Após o aumento do preço nos bondes ontem sem da a menor satisfação, suspendeu o fornecimento de força. E quando os prejudicados reclamam pelo telefone, em vez de uma resposta delicada ou uma explicação do caso, ouvia-se o seguinte: - O senhor não viu que faltou energia? Algum motivo houve para isso. Boa resposta para os prejudicados, não há duvida. Quem ficar com suas maquinas paradas horas e horas que trate de adivinhar o motivo e sofra o prejuízo [...]. O motivo do prejuízo. (Diário do Norte, São Luís, n.340, p. 04, 06 de jan. de 1943.).

Em 1945, a cidade enfrentava uma crise no abastecimento de energia, com

irregularidade no fornecimento de energia elétrica, havendo cortes diários do serviço de

iluminação e ruas ficavam meses sem o fornecimento. A empresa fornecedora utilizava a

conjuntura mundial para se justificar.

Como é de conhecimento publico, vem frequentemente faltando força e luz na cidade ocasionando este fato, muitas vezes, a paralisação do tráfego de bondes. Falta de mangue As constantes paralisações das nossas caldeiras – iniciou o administrador da Ulen - são decorrentes da falta de mangue. Com o encarecimento do custo de vida – continuou – mais da metade dos homens que se dedicam ao corte e fornecimento de mangue, empregaram-se em outros trabalhos muito mais rendosos. Muitas embarcações, por sua vez que transportavam mangue, abandonaram esse serviço passando à condução de gêneros [...]. Houve, assim, grande redução no fornecimento de combustível. (Diário do Norte, São Luís, n. 3220, p. 04, 21 de abril de 1945.)

Quanto ao abastecimento de água, apenas 6.155 prédios e 206 logradouros eram

servidos de água (IBGE, 1943). O serviço da Ulen, empresa responsável pelo fornecimento da

água, era constantemente criticado pela população. No ano de 1943, diante da crise no

abastecimento de água, a população ansiava pelo inverno para amenizar o problema, como

ficou expresso na reportagem do jornal O Globo.

Felizmente o tempo está apresentando hoje prenúncios de inverno agora mais do que nunca ansiosamente esperado pela nossa população. Cena lógica da crise de água em São Luís foi a que deparamos ontem ao passar a reportagem de ‘O Globo’ pela vila operária, populoso bairro do subúrbio

sanluizense. Diversas pessoas vieram ao encontro do repórter em plena rua desabafando a queimar roupa: Como é que não teremos mais água? Porque continuamos pagando a Ulen quando nada recebemos em troca? Enquanto o precioso ‘liquido’ vinha pela encanação velha, ainda pingava à noite, agora colocaram um cano mais grosso e falta água de vez. Tendo que comprar água; apenas para cozinhar e só uma vez ao dia para também as primeiras necessidades e apenas com a promessa de esperar o inverno. (O Globo, São Luís, n. 1858, p. 04, 08 de nov. de 1943.).

30

No ano de 1945, São Luís possuía um total de 242 logradouros públicos, sendo

172 pavimentados. Essa pavimentação era feita de diferentes materiais: concreto, asfalto ou

macadame simples (16), paralelepípedos (39), pedras irregulares (87) e saibro (30). (IBGE,

1945)

Ruas calçadas e limpas, com redes de esgotos, só eram possíveis nas principais

áreas do centro da cidade. A maioria dos bairros populares possuía ruas sem nenhuma

pavimentação, sujas e com animais transitando livremente junto com a população. (Diário do

Norte, São Luís, n. 74, p. 03, 10 de jul. de 1941.).

Os transportes de passageiros de São Luís eram feitos através de ferrocarris. A

extensão das linhas tinha 18 km, com um total de 17 carros de passageiros. No ano de 1942,

segundo dados do IBGE, transportaram 10.607 passageiros. Porém, os bondes existentes não

eram suficientes para servir toda a população. Havia nos jornais reivindicações por ônibus

para atenderem as necessidades da população.

O Maranhão tem coisas que só ele mesmo. Haja vista o serviço de ônibus. São Luiz precisa de vários veículos desse gênero porque nem só os nossos bondes elétricos não são de grande lotação com ainda é escasso o seu número. Em vez de vários ônibus, temos, porém, no serviço urbano, um único, fazendo a linha de São Pantaleão. Não seria aconselhável a Ulen, assim como faz a Light em Fortaleza, instituir um serviço de auto - ônibus em São Luís? Numa cidade que precisa de transportes, tal serviço não daria prejuízo, provavelmente ofereceria antes bons lucros. Faltam-nos principalmente transportes do bairro comercial para o centro da cidade e destes para os subúrbios. O caso do bairro comercial poderia ser resolvido com a descida até lá do bonde da linha ‘Gonçalves Dias’. (Diário do Norte, São Luís, n. 01, p. 03, 14 de abril de 1940.)

Os bondes também se encontravam em péssimo estado de conservação, eram

comuns linhas passarem horas interrompidas devido problemas mecânicos nos bondes.

(Diário do Norte, 01/02/1940, p.4).

Outro grave problema que também atingia a população de São Luís nesse período,

décadas de 30 e 40, era o da moradia, “os preços dos alugueis eram elevados devido à

pequena quantidade de casas para alugar. Além disso, as condições dos prédios eram

31

precárias”. Diário do Norte, São Luís, n. 337, p. 04, 02 de jan. de 1940. Essa situação

estrutural se agrava na conjuntura da guerra mundial que ocorria na Europa, mas que direta ou

indiretamente afetava vários países, incluindo o Brasil. Seja diretamente efeito da guerra,

como nos casos dos preços dos transportes, ou por especulação daqueles que queriam tirar

algum proveito do momento, a situação do custo de vida, principalmente para a população

mais pobre de São Luís ficou mais difícil, como tentaremos demonstrar no próximo capítulo.

32

4. “PELA HORA DA MORTE”: os efeitos da Segunda Guerra Mundial no custo de vida

em São Luís.

Durante a Segunda Guerra Mundial ocorreu um aumento considerável do custo de

vida em todo o Brasil e isso se deu devido “a uma oferta insuficiente de mercadorias resultado

da diminuição das importações e aumento das exportações sem acréscimo compensador de

produção”. (PRADO JÚNIOR, 1998, p. 304)

No Maranhão, este aumento do custo de vida também foi sentido, no entanto,

problemas internos do Estado agravaram ainda mais esta situação. No início da década de

1940, o custo de vida em São Luís chegou a níveis insuportáveis, segundo relatório do próprio

governo.

A majoração dos preços desordenada, progressiva que vem sofrendo a cada instante, os preços das utilidades e dos gêneros, ainda os mais necessários à subsistência do povo, reduziu assustadoramente o poder aquisitivo da massa e da classe que vive de vencimentos e salários fixos, arrastando as mesmas a um insuportável estado de desespero. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1943, p.17). (grifo nosso).

Na tabela abaixo pode ser observado como alguns gêneros atingiram preços

exorbitantes no período da segunda guerra.

TABELA VII - Preços dos Gêneros de Primeira Necessidade

Produto/kg 1940/ cr$ 1945/ cr$ Açúcar 1,20 4,40 Arroz 1,00 2,70 Azeite Banha

5,80 3,50

34,00 18,00

Batata 1,70 4,00 Café 3,60 17,80

Camarão Fresco 1,50 4,00 Camarão Seco 3,00 8,00

Carne Seca 2,50 17,00 Charque 4,00 12,00

Carne Fresca 1,80 6,00 Carne de Porco 1,80 6,00

Cebola 4,00 7,80 Farinha Amarela 0,60 4,50 Farinha branca 0,50 1,50

Farinha de Trigo 1,40 7,80 Feijão 0,70 1,90

Galinha 3,00 10,00 Leite em Pó 4,50 16,00

Manteiga 9,50 19,00

33

Milho 0,25 1,60 Ovo 1,40 8,00 Pão 1,40 6,00

Peixe Seco 1,80 4,00 Toucinho 2,60 12,00

Total: 63,05 234,00 Fontes: CONTINUAM sendo enganados os consumidores, Diário do Norte, São Luís, n. 1420, p. 04, 03 de fev. de 1945; O Globo, São Luís, n.409, p.05, 27 de jun. de 1940; TABELAMENTO, O Globo, São Luís, p.06, 05 de dez. de 1940; TABELAMENTO de preços dos gêneros de 1ª necessidade. O Globo, São Luís, n. 1420, p. 04, 24 de jun. de 1945; TABELAMENTO de preços e Correio da Tarde, São Luís, n.1040, p. 04. 25 de fev. de 1945

Diante desta realidade e tentando manter o controle da situação, o governo

estadual criou a Comissão de Abastecimento do Estado, pelo decreto lei nº 536, de

12/12/1941. Tal comissão tinha o objetivo de controlar os preços dos gêneros alimentícios

através de tabelamento e ainda restringir a procura de alguns produtos com a utilização de

cupons de consumo. Os produtos que mais faltavam no mercado e que por isso tiveram seu

consumo controlado foram: gasolina, querosene, álcool, açúcar, café, manteiga, farinha de

trigo e carne. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO

MARANHÃO, 1941).

Porém, nem sempre a comissão de abastecimento conseguia atingir seu objetivo,

pois, muitos comerciantes não cumpriam o tabelamento estabelecido. Por outro lado, o

aumento de preços de algumas mercadorias nem sempre estava diretamente relacionado à

guerra. Dessa forma, o aumento de preços em São Luís estava ligado à pelo menos três

fatores: a guerra mundial, a falta de infra-estrutura do Estado e ainda a ganância dos

especuladores que se aproveitavam da situação de guerra.

O conflito mundial deflagrado em 1939 desorganizou o mercado internacional, os

paises europeus diretamente envolvidos com o conflito passaram a investir na indústria de

guerra, deixando os mercados desabastecidos dos demais gêneros (alimentos, tecidos,

ferragens, combustível). Os Estados Unidos, mesmo não participando diretamente nos dois

primeiros anos do conflito, direcionaram também sua indústria para o esforço de guerra a fim

de suprir as necessidades dos aliados.

34

A guerra submarina desorganizava o mercado mundial à medida que reduzia o

tráfego marítimo. Os efeitos da falta de livre navegação no Atlântico também foram sentidos

no Brasil e no Maranhão, como relatou o governo em 1943:

A respeito das restrições impostas à livre navegação do Atlântico, em conseqüência da campanha submarina desencadeada em todos os mares pelos países do eixo, impedindo-nos, durante meses seguidos, de exportar as nossas mercadorias e de receber os gêneros de consumo obrigatório de que mais necessitávamos, puseram em rude prova, não só as condições de resistências das classes produtoras, como à própria capacidade de sacrifício da população. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1943, p.13).

Houve uma redução considerável na entrada de produtos importados do exterior,

principalmente produtos alimentícios, como podem ser observados na tabela abaixo:

TABELA VIII - Importação Internacional de Produtos Alimentícios

Produtos Quant. / Kg (1938) Quant. / Kg (1940)

Quant. / Kg (1941)

Quant. / Kg (1944)

Azeite de oliveira 19.324 28.280 3.840 - Alhos 12.837 22.532 21.811 7.546

Bebidas alcoólicas 1.412 719 651 - Bacalhau 36.775 8.700 - - Cebolas - 600 900 -

Condimentos 3.062 1.954 12.681 686 Conservas 12.488 7.535 8.985 -

Doces 631 395 3 - Farinha de trigo 80.936 - - 9.735

Farinhas diversas 693 629 1.384 4.405 Gasolina 397.655 220.637 73.295 -

Querosene 1.473.245 635.670 393.392 - Vinagre 900 1.066 1.300 - Total: 2.789.962 3.269.374 2.070.688 707.686

Fonte: RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1938 a 1941 e IBGE.

Balança Comercial do Maranhão de 1944.

O Maranhão havia importado 10 tipos de produtos alimentícios no ano de 1938,

esse número caiu para 04 tipos de produtos em 1944. Ao analisar a importação individual de

cada produto durante o período de 1938 a 1944 vamos observar que alguns produtos tiveram

89% de redução na quantidade importada.

A importação interestadual de gêneros alimentícios durante o período de 1938 a

1944 se manteve equilibrada. Em 1938 havia 43 itens na tabela de importação e esse número

35

se manteve, pois em 1944 havia 37 itens, no entanto, a quantidade desses produtos sofreu

alteração, havendo a diminuição de alguns produtos. Por exemplo, o milho, de 115.433kg

importados em 1941, sofreu uma redução para 1.080kg em 1944. Os dados das importações

interestaduais podem ser observados na tabela abaixo:

TABELA IX - Importação Interestadual

Produtos Quant. / Kg (1938) Quant. / Kg (1940) Quant. / Kg (1941) Quant. / Kg (1944) Arroz pilado - - 3.420 - Aves 50 - - - Álcool comum 238.568 330.125 322.499 183.656 Açúcar 3.083.328 4.795.550 5.109.354 5.297.594 Amido 23.320 68.650 138.162 - Azeite de Oliveira 11.208 5.434 1.793 - Alhos 6.753 10.517 214 13.176 Batatas 307.729 320.718 307.417 158.114 Bebidas Alcoólicas 1.412 119.334 93.879 - Biscoitos e bolachas 19.530 21.255 31.427 143 Banha 2.000 3.886 4.944 1.280 Bacalhau 15.167 30.305 18.718 - Cacau - 600 - 5.720 Café 1.254.529 1.651.732 1.658.765 1.081.462 Chocolate em pó 26.070 24.141 27.141 24.874 Castanha do Pará 1.317 9.938 1.065 19.932 Confeites e bombons 101.877 120.093 117.641 89.771 Cebolas 222.335 262.671 202.372 353.045 Condimentos 37.905 41.468 52.669 46.393 Conservas 45.766 41.826 43.613 73.886 Cereais diversos 2.617 4.565 3.210 2.164 Doces 76.852 65.972 102.971 172.326 Farinha de mandioca - 75.000 252.634 2.327 Farinha de trigo 1.862.932 2.401.281 2.466.299 2.879.250 Farinhas diversas 15.300 36.611 41.809 68.092 Fubá 31 - - - Farelos de trigo 13.103 34.349 74.039 - Fava - 20 - - Feijão 213.311 262.970 281.427 166.489 Frutas e legumes 36.113 49.924 36.474 4.540 Gasolina 289.190 1.258.752 1.564.172 - Grão de bico 471 385 366 220 Gordura bovina - - 237 - Gordura de coco 1.800 - 984 475 Lentilhas 2.640 1.740 2.220 3.000 Leite condensado 97.330 99.669 108.455 150.961 Leite em pó 10.478 15.275 22.205 42.914 Milho 2.992 20.454 115.432 1.080 Manteiga 114.810 144.505 149.602 125.066 Massas alimentícias 10.920 21.131 22.466 5.536 Margarina 17.251 16.149 13.973 18.994 Mate 2.628 4.355 2.754 3.251 Massa de tomate 85.198 77.009 102.058 128.403 Peixe seco 600 1.566 - - Queijos 32.067 37.461 42.086 21.673 Querosene 527.200 1.727.918 2.514.337 2.035.800 Rapadura - - - 60 Sal 1.075 777 206 - Tapioca - 19.621 7.069 50 Toucinho - - 125 - Trigo em grão 4.020 6.300 5.102 4.500 Vinhos de frutas 1.030 34 158 - Vinagre 27.271 8.737 12.217 97.380 Total: 8.848.094 14.250.713 16.081.973 13.283.597

Fonte: Relatório do Governo de 1938, 1940, 1941 e IBGE. Balança Comercial do Maranhão de 1944.

36

Quanto às exportações do Maranhão observa-se um crescimento nesse período da

guerra. Em 1938 foram exportados 27 gêneros alimentícios, enquanto no ano de 1944, saíram

do estado 33 produtos alimentícios, sendo que alguns produtos chegaram a dobrar a

quantidade exportada, a exemplo do arroz. (Ver Anexo D).

Este aumento das exportações de produtos alimentícios está relacionado,

principalmente, a exportação interestadual, tendo como principais consumidores alguns

estados da região sudeste. O Maranhão exportou para outros Estados da federação no de 1938,

15.227.400kg de alimentos, enquanto que no ano de 1944 foram exportados 37.383.290kg, ou

seja, um aumento de aproximadamente 150%.

Este aumento das exportações interestaduais pode ser explicado pelo fato das

regiões Sul e Sudeste do Brasil, principalmente, se dedicarem ao aumento da produção

industrial para suprir a ausência das importações estrangeiras e ainda atender a solicitação de

alguns mercados externos.

Privado do abastecimento externo no que diz respeito a uns cem números de manufaturas, o mercado interno tem que recorrer à produção nacional o que abre amplas perspectivas para as atividades industriais do País. A industria brasileira não será, aliás, solicitada unicamente pelo mercado interno, alguns dos seus setores mais desenvolvidos e habilitados encontraram também alguns mercados externos. (PRADO JÚNIOR, 1998, p.303)

A exportação internacional de produtos alimentícios também aumentou durante o

período da guerra. No ano de 1938 foram exportados 03 gêneros alimentícios para o

estrangeiro (bucho de peixe, camarão e milho), no total de 64.972 kg, já. Já no ano de 1944,

apenas o arroz foi exportado, num total de 1.020.000 kg. (Ver Anexo A).

Assim, ao se analisar as importações e exportações maranhenses de gêneros

alimentícios no período da guerra, verifica-se que há uma diminuição das importações

paralela a um aumento nas exportações, o que agrava a situação do custo de vida em São Luís,

pois a quantidade disponível para o consumo da população da cidade diminui, contribuindo

para aumento dos preços. Apesar do aumento da arrecadação do Estado, resultante do

37

crescimento das exportações, essa melhoria não é sentida diretamente pelos consumidores,

especialmente as populações mais pobres, que sentia os efeitos da escassez dos produtos e

especulação dos comerciantes.

A falta de infraestrutura do Estado contribui para o agravamento do custo de vida.

A agricultura que devia abastecer todo o Maranhão era exercida de maneira totalmente

rudimentar. Os lavradores não possuíam conhecimentos técnicos, nem equipamentos

adequados para a melhoria da produção.

As populações dos municípios do interior estavam a mingua de conhecimentos técnicos e de recursos que as colocassem em condições de tentar uma melhor cultura por processo racionais, por isso, eram forçadas a domar a natureza, limpando o solo, em sucessivas e penosas investidas da vegetação bravia, para só depois poderem cuidar da planta propriamente dita.(RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1938, p.17)

Além disso, dividiam suas atenções entre o cultivo da terra e extração do babaçu.

Para melhorar a produção agrícola do Estado, especialmente dos produtos de

exportação, o governo do interventor Paulo Ramos criou em 1938, o serviço de fomento

agrícola.

Verificando, logo de início do meu governo, as necessidades de imediatas providências no sentido de reabilitar -melhorando-lhes a qualidade – os artigos em referências [algodão e arroz] nos mercados consumidores, promovi, em colaboração com o Ministério da Agricultura, a criação, no Estado, do serviço de fomento agrícola e seleção de sementes.(RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1938, p.17)

A agricultura continuava sendo exercida de forma precária, sendo um problema

estrutural. Com o intuito de aumentar a produção, uma medida tomada pelo serviço de

fomento agrícola foi à distribuição de ferramentas e sementes. Solicitando da Comissão

Brasileira Americana de Produção de Gêneros Alimentícios e da Commidity Credit

Coporation ajuda na aquisição de utensílios agrícolas, o governo estadual recebeu dos Estados

Unidos, gratuitamente, 10.000 enxadas, 6.000 machados e 1.000 foices da melhor qualidade, a

fim de repassar para os agricultores. Também concedeu aos produtores, por intermédio do

Banco do Estado, facilidades de crédito e a distribuição de sementes – 389.440 kg em 1943

contra 108.874 kg em 1942. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO

38

DO MARANHÃO, 1943). Apesar dos esforços a agricultura do Maranhão não conseguia

expressividade para ampliar sua produção diante da conjuntura favorável para as exportações.

O aumento registrado nesse setor ficou aquém das expectativas dos produtores e autoridades.

O mesmo também se aplicava para a pecuária.

A duração da guerra na Europa importará, sem duvida, numa grande alta dos preços das matérias – primas que o Maranhão produz o fenômeno é conhecido desde a guerra mundial. Infelizmente não estamos aparelhados para os crescentes fornecimentos aos mercados tanto interno como externos, dos nossos produtos. Grande tem sido a nossa incúria. O desenvolvimento de nossa agricultura vem sendo muito lento. Isto não só é verdade quanto ao vulto da produção como dos processos de tratar a terra empacamos numa lavoura a mais não poder primitiva. Se observarmos a pecuária, pior se nos apresentará o panorama, porque não será muito fora de vila e termo afirmar que, em vez de progredir ou ficar ou ficar estacionaria ela entrou em franca decadência. Temos perdido muitas e muitas oportunidades para a expansão desses dois ramos principais da atividade Maranhense. Se ao menos a lição das conseqüências da atual guerra Européia. Resolver-nos a palmilhar novos caminhos! (Diário do Norte, São Luís, n. 12, p. 06, 27 de abril de 1940.).

A atividade pesqueira também era exercida de forma deficiente. Apesar de o

Maranhão ser um Estado rico em faixa litorânea e os mares produzirem grande número de

peixes e crustáceos, faltava peixes nos mercados de São Luís. A ausência do produto estava

relacionada aos transportes, os barcos repletos de peixes muitas vezes eram impedidos de

chegar até os portos por falta de ventos, e por não terem como conservar o pescado eram

lançados ao mar. Assim, se os pescadores tivessem acesso a barcos frigoríficos motorizados o

problema estaria resolvido. (O Globo, São Luís, n.225, p. 05, 02 de abril de 1940.).

Outro problema estrutural que contribuía para encarecer os preços dos produtos,

influenciando no custo de vida, era a situação dos transportes rodoviários e fluviais. A

ausência de transportes prendia a mercadoria no interior do Estado impedindo que esta

chegasse a capital, dificultando a comunicação de São Luís com o interior.

A crise nos transportes rodoviários estava diretamente ligada à ausência de

estradas em boas condições de trânsito, sendo que o plano rodoviário executado pelo governo

se destinava apenas a aberturas de estradas carroçais.

39

Num ligeiro exame das condições gerais do Estado, verifiquei, ao primeiro golpe de vista, de que entre os múltiplos problemas que exigiam solução imediata, avultava, na ordem de urgência, o dos transportes. Dotar o Estado na medida de seus recursos, de estradas carroçáveis, ligando, de preferência, os centros de produção ao porto de São Luís, era, sem possibilidade de duvida, a necessidade primeira a questão a ser resolvida. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, de 1938).

Este plano rodoviário começou a ser colocado em pratica em 1938, com poucas

melhorias. No relatório de 1941, o problema dos transportes mais uma vez é apontado como

um dos principais entraves da produção. “E afinal, quando vencidos os obstáculos sem conta,

chega o lavrador à fase compensadora da colheita, uma nova dificuldade, e esta, não raro

irremovível, se lhe depara, anulando-lhe o esforço de vários meses: a falta de estradas para

levar a produção de seus roçados aos centros comerciais”. (RELATÓRIO DO

INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, p.17).

Outro transporte deficiente era o fluvial, que neste período se encontrava em

estado de abandono. O Estado possuía inúmeras vias fluviais que serviam para ligar o interior

à capital, porém, as empresas responsáveis pelo transporte se encontravam em estado de

ruínas. A Associação Comercial fala sobre este problema em seu relatório relativo ao ano de

1948. “É desolador o abandono em que se encontra a navegação fluvial, pelo descaso dos

responsáveis pelas empresas, os quais têm deixado, ao desbarato, o patrimônio sob sua

guarda”.

Por diversas vezes a Associação Comercial promoveu reuniões dos interessados

para estudar meios práticos que pudessem tirar da ruína esse setor de atividade, mas não

produziram resultados satisfatórios, continuando a ameaça de ficar o Maranhão privado desse

meio considerado mais fácil e barato de transporte.“Endividadas, sobrecarregadas de

encargos, que não podem satisfazer as nossas empresas, na sua maioria, estão a ficar dia a dia,

com o material flutuante cada vez mais reduzido, enquanto zonas inteiras do interior têm seus

produtos retidos, estragando-se, pela falta de transporte para capital ou para outros centros”.

(RELATÓRIO DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE 1948, p.07).

40

O governo estadual manifestava constantemente em seus relatórios a preocupação

com a crise dos transportes fluviais que retinham as mercadorias no interior.

A navegação fluvial a cargo, presentemente, de uma só empresa, e esta mesma carente de aparelhamento adequado, contribuiu, na medida de suas forças, para o escoamento da produção dos vales do Mearim e do Pindaré a que serve, mas apesar do seu valioso concurso, vultuosas quantidades de arroz, algodão e outros gêneros, paralisadas, desde o começo da safra, nos portos de providências, ali as expirar o ano próximo findo, aguardavam ainda embarque para as praças a que se destinam . Neste setor não me permitiram as circunstâncias agir com probabilidade e bom êxito, dadas as aperturas financeiras peculiares ao meio e as naturais incertezas da época que atravessamos. (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1943, p.16). (grifo nosso).

O governo apesar de reconhecer o problema fluvial do Maranhão, justificava sua

inoperância com o argumento de que a conjuntura não era favorável para o investimento desse

porte no aparelhamento das embarcações, afirmando que não poderia agir por causa da guerra.

Outro fator merecedor de análise é a ganância dos comerciantes, que tentavam se

aproveitar das conseqüências da guerra, uma das quais era a falta de alguns produtos, para

obter lucros exorbitantes através da venda de suas mercadorias. Quem mais sofria com essa

ganância era a classe menos favorecida que ficava muitas vezes sem condições de obter certos

produtos. A reportagem do jornal O Globo, demonstra a situação da classe pobre perante o

aumento desordenado de preços em São Luís.

Lutam com dificuldade à procura de alimentos, os moradores dos subúrbios. Elevando o preço do caranguejo e de outros mariscos. Sucedem-se ainda os apelos da população desta cidade, visando, com as suas reclamações a este vespertino, conseguir um remédio eficaz contra o terrível espectro da fome que ameaça devido à ação condenável dos altistas desalmados. Merceeiros, botequineiros, tabeneiros, verdureiros, açougueiros, camaroeiros e muitas outras espécies de vendedores de gêneros de primeira necessidade, em um número crescido, estão espoliando o consumidor. Todos os compradores sofrem, mas quem mais padece è à parte da população menos aquinhoada de recursos econômicos. (O Globo, São Luís, n. 1936, p. 04, 19 de fev. de 1944.)

O governo do Estado, a fim de coibir o abuso dos comerciantes, promoveu um

tabelamento, com a fixação dos preços dos gêneros de primeira necessidade. Em seu relatório

faz duras críticas aos especuladores que considera inescrupulosos por aproveitarem-se da

ocasião para explorar a população.

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A alta vertiginosa do custo de vida, provocada pela falta de escrúpulos dos especuladores que, infelizmente de norte a sul, enchem o país, nesta conturbada ora de sofrimento universal. Por outro lado a comissão de abastecimento da capital, em perfeita correspondência de idéias com a interventoria fixando preços para os gêneros de primeira necessidade, tem procurado evitar que a ganância insaciável dos intermediários explore demasiadamente a população. Não se pode dizer que, nesse particular, a entidade em apreço vem alcançando sucesso notáveis, sabido como é que os próprios prejudicados não raro se acumpliciam com o comércio ilícito para burlar o tabelamento” (RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1943,p.16 ).

Diariamente comerciantes eram presos por venderem produtos acima do valor

estabelecido pela comissão. Apesar da grande campanha da prefeitura municipal e da policia

para reprimir o abuso, “dia a dia surgem novos infratores a desrespeitar a ordens das

autoridades do Estado, explorando a população de maneira lastimável”. (O Globo, São Luís,

n. 1910, p. 04, 25 de jan. de 1944.).

Na verdade, os comerciantes aumentavam preços de muitos produtos que eram

obtidos aqui mesmo no comércio local e que, por essa razão, não tinham nenhuma relação

com o mercado interestadual e nem muito menos com o internacional, portanto, não estavam

sendo afetados diretamente pela guerra. Agiam por conta própria, utilizando a conjuntura da

guerra para desrespeitar as leis municipais, estaduais e federais, tentando obter vantagens à

custa da população.

4.1 Racionamento do Consumo e Elevação dos Preços

4.1.1 Pagando mais caro para andar a pé: a crise dos combustíveis

Durante a Segunda Guerra Mundial o Brasil enfrentou uma crise no abastecimento

de combustível, devido à diminuição da importação deste produto.

Os Estados Unidos extrai de seu território 63% do óleo bruto mundial e tem a capacidade de refinar 65%, no entanto sua produção está preparada para abastecer o mundo nos tempos de paz, a situação de guerra eleva o consumo deste combustível a cifras inconcebíveis e acrescido a isto, a guerra submarina que impede a circulação dos navios tanques para abastecer os mercados estrangeiros agrava ainda mais a situação. Outro fator relevante é a falta de navios tanques para transportar os combustíveis pelo mar, as frotas de tanques norte americanas está empregada

42

especialmente para suas próprias necessidades, pois, há tropas dos Estados Unidos espalhados pelo mundo todo. Assim as exportações norte americana de combustível só são realizadas se o importador se responsabilizar pelo transporte. A insuficiência do sistema terrestre norte americano de transporte que não é capaz de abastecer todo o país acabava gerando uma crise interna no próprio Estados Unidos. (Correio da Tarde, São Luís, n. 662, p. 02, 17 de jul. de 1942.).

Com a redução de combustível, os meios de transportes ficavam comprometidos,

gerando uma crise nesse setor com amplas repercussões para a economia, afinal era essencial

o transporte de mercadorias e pessoas. “A guerra influindo preponderantemente em quase

todas as atividades humanas, além de outras conseqüências, veio criar para nós uma situação

de dificuldade no tocante aos meios de transportes que dependem da utilização da gasolina E

essa crise mais se acentua aqui no norte do país, onde as rodovias ainda são muito incipientes

(...)”. (O Globo, São Luís, p. 02, 18 de agos. de 1942.).

A paralisação do transporte ocasionava um sério desastre para a economia pública

e privada. Diante da situação de crise gerada pela guerra, o presidente da República

estabeleceu medidas para reduzir e controlar o consumo de gasolina em todo país.

Decretando que a partir do dia 15.07.1942 estaria proibida a circulação de carros de passageiros particulares e oficiais em todo território nacional, exceto da presidência da republica, dos ministros de estados, do presidente do tribunal de segurança nacional, interventores e governadores dos estados, prefeitos e chefes de polícias do distrito federal, assim como chefe de missões diplomáticas estrangeiras. Referida medida reflete a gravidade da situação dos estoques de gasolinas existentes no país, devido a falta de navios tanques. Seria também o racionamento de veículos de frete a particulares para Carga. (O Globo, São Luís, n. 1285, p. 01, 12 de jul. de 1942.)

Acatando as medidas federais, o Interventor Federal do Estado do Maranhão,

seguindo a orientação da Comissão de Abastecimento do Estado, também estabeleceu regras

para circulação de veículos movidos a gasolina em São Luís, devido também a redução da

quota de gasolina reservada para esta cidade pelo Conselho Nacional de Petróleo.

O Sr. Interventor Federal do Estado tendente a restringir o uso daquele combustível apenas para os serviços públicos e para as atividades particulares, merecedoras do amparo do governo. 1º Proibir terminantemente viagens de recreio ou passeios em automóveis, caminhões, ônibus, etc, para qualquer ponto do interior da ilha. 2º Proíbe o tráfego de qualquer veículo movido a gasolina para os povoados Maracanã, Pedrinhas e Estiva, localidades servidas pela estrada de ferro São Luís – Teresina, não incluindo os carros oficiais. 3º Suspender o tráfego de automóveis de alugueis depois das 20 (vinte horas), salvo a serviço médico ou outro de caráter urgente devidamente comprovado e autorizado.

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É também permitido o transito depois daquela hora para condução de passageiros vindos pela estrada de ferro nos dias de chegada de trens horários. (O Globo, São Luís, n. 1292, p. 04, 19 de jul. 1942.).

Outras regras racionando o consumo limitavam a venda de gasolina na capital,

quer nas casas retalhistas quer nas bombas públicas, permitindo que essa venda se realizasse

somente entre as 07 e 18 horas dos dias úteis, ficando terminantemente proibida fora dessas

horas e nos dias de domingo e feriado. ( Correio da Tarde, São Luís, n. 476, p. 04, 23 de jan.

de 1942.). Diante da quota de combustíveis estipulada para o Maranhão, a Comissão de

Abastecimento se viu obrigada a reduzir ao máximo as quotas de combustíveis para os

consumidores. A quota mensal destinada pelo Conselho Nacional de Petróleo era de 5.600

litros, enquanto que o consumo geral do Estado era de 128.164 litros por mês. Assim,

estabeleceu-se para o consumo semanal as seguintes quantidades: automóveis particulares -

25 litros; automóveis de profissões ativas - 50 litros; automóveis de aluguéis grandes - 75

litros; automóveis de aluguéis pequenos - 40 litros; carros a serviço do interior - 110 litros;

ônibus de serviço urbano - 140 litros. (Correio da Tarde, São Luís, p. 02, 06 de maio de

1942).

Em janeiro de 1944, com o agravamento da situação do combustível no Brasil, o

Conselho Nacional de Petróleo estabeleceu novas medidas, ainda mais rigorosas, para

controlar o consumo de gasolina no território nacional.

1º Só podem ser postos em marcha, os veículos de cargas e passageiros estritamente indispensáveis aos serviços públicos. Entre os segundos só serão permitidos à circulação os que trouxerem licença excepcional de tráfego autorizada pelo presidente. O cartão de licença será afixada bem nítido no parabrisa. 2º Os carros em trânsito terão combustível racionado, devido esse racionamento, em cada caso, pela exigência do serviço, mediante instruções que serão baixadas pelo órgão competente, dentro de cada ministério e demais órgãos públicos. 3º Fica sustado, de modo geral, o licenciamento do veículo de qualquer natureza. Outrossim, será evitada qualquer transformação de veículos de uma categoria para outra. 4º Fica suprimido o tráfego de longo percurso para os caminhões de carga sempre que transporte puder ser coberto por estrada de ferro. Excetuam-se desta medida os veículos que realizam o abastecimento de gêneros considerados perecíveis. 5º Fica, em princípio, proibido o trânsito de carros de passageiros e táxi de um Estado para outro. Os casos excepcionais de doenças comprovadas de qualquer pessoa deverá o transporte ser feito preferencialmente em ambulância.

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6º Em dado setor da administração publica, deve ser feito com plano de provisão de concertos nos seus veículos em uso, para imediata execução quando o exigir a maior escassez de combustível.7º Deve ser incentivado o uso de gasogênio para automóvel de todos os tipos, especialmente para os que se destinam as grandes percursos.(Correio da Tarde, São Luís, n.694, p. 02, 25 de jan. de 1944.).

A crise de combustível afetava diretamente o custo de vida da população, pois

provocava aumento dos preços dos transportes tanto para frete como para passageiros. Assim,

a Ulen, empresa responsável pelo serviço de transportes em São Luís, resolveu aumentar o

preço das passagens nos bondes elétricos, devido ao aumento do custo de energia provocada

pela guerra e também o aumento do consumo deste transporte, pois, a paralisação dos

automóveis provocava o aumento no movimento dos bondes. (Correio da Tarde, São Luís,

n. 748, p. 04, 15 de dez. de 1942.).

Outra medida adotada pela empresa de transporte de passageiros de São Luís foi a

redução das paradas dos bondes, com o objetivo de economizar energia e conservar o material

rodante. Segunda ela esta medida teve aprovação do governo e foi baseada nos bons

resultados obtidos na capital federal onde a mesma medida teria sido colocado em prática,

melhorando consideravelmente os diversos horários adotados no transito do serviço (Diário

do Norte, São Luís, p. 02, 03 de nov. de 1942)

Na capital, existiam quatro linhas de bondes, eram elas: linha Estrada de Ferro,

linha Gonçalves Dias, linha São Pantaleão e linha do Anil – João Paulo. Destas quatro linhas

existentes apenas uma linha não limitava seu percurso às ruas do centro de São Luís, era a

linha Anil – João Paulo, que circulava no centro, Parque Urbano Santos, Areial, João Paulo,

Jordôa, Outeiro da Cruz, Liberdade e Anil Alpendre. (Diário do Norte, São Luís, p. 02, 03 de

nov. de 1942). A medida de aumentar os preços das passagens e diminuir o número de

paradas dos bondes, trazia grande prejuízo para a população, que além de pagar mais caro

pelo serviço precisava andar mais para conseguir utilizar o bonde.

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Diante de toda essa crise provocada pela carência de gasolina, produto importado

dos Estados Unidos, o governo federal incentivou a utilização de um combustível nacional, o

gasogênio, produto extraído do carvão vegetal ou da lenha, e por isso possuindo um preço

muito inferior ao da gasolina. No entanto, o que dificultava o uso deste combustível era o

aparelho que seria necessário para instalar no automóvel, de custo elevado.

O presidente Getúlio Vargas acaba de determinar que o Ministério da Agricultura adquira imediatamente maior número possível de aparelhos de gasogênio, que serão fornecidos pelo preço de custo aos serviços públicos, empresas particulares de transportes agricultores em geral. Quis o chefe do governo, com esta medida acelerar as diversas providências que o poder público vem tomando para minorar entre nós a crise do combustível que se faz sentir em conseqüência da guerra. Não se torna necessário encarecer a importância da resolução presidencial, pois, como se sabe, o uso do gasogênio como combustível está plenamente consagrado no Brasil, e as dificuldades que ainda entravam a sua generalização residem principalmente no preço de custo dos aparelhos e, também, nas escolhas dos mesmos. (O Globo, São Luís, n. 896, p. 02, 11 de out. de 1941.)

No Maranhão, o interventor federal incentivou a utilização do gasogênio,

principalmente pelos agricultores, através da secção de fomento agrícola. “Esta tinha em

funcionamento onze aparelhos a gasogênio dos quais dois eram fixos, dois equipamentos em

tratores, quatro em caminhões e três eram usados para movimentar bombas de irrigação”. (O

Globo, São Luís, n. 1284, p. 02, 11 de jul. de 1942.).

O governo incentivava a utilização desse combustível alegando seu fácil acesso,

uma vez que o carvão mineral possuía um preço muito inferior comparado ao da gasolina, por

isso muito mais econômico.

Uma classe extremamente afetada pela crise de combustível foi a dos motoristas de

carros de aluguel que tiveram suas atividades paralisadas pela medida governamental por

causa do racionamento de gasolina. (Diário do Norte, São Luís, n. 148, p. 05, 07 de out. de

1942.).

Outro combustível bastante utilizado em São Luís era o querosene, principalmente

para a iluminação domiciliar, haja vista que muitos habitantes da cidade não tinham acesso à

iluminação elétrica. No entanto, assim como a gasolina, o querosene era importado dos

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Estados Unidos, e durante o conflito mundial teve sua importação dificultada, chegando

muitas vezes a faltar no mercado.

A reportagem dos Diários Associados assistiu na manhã de hoje a descarga de 200 caixas de querosene e grandes números de tonéis na rampa do palácio. Interrogando um dos trapicheiros condutores do inflamável, conseguimos saber que vinham do deposito do Tamancão, para abastecimento da capital. Tal noticia é bem recebida pelos moradores dos subúrbios que a dias enfrentam dificuldades para adquirir o liquido. (O Globo, São Luís, n. 1752, p. 04, 02 de jul. de 1943.)

4.1.2 Sem Pão e Sem Açúcar

Produtos essenciais do consumo da população ficaram escassos e mais caros em

São Luís durante o conflito mundial. A farinha de trigo consumida no Maranhão vinha de

outros estados ou do exterior. Segundo dado obtido nos relatórios do governo, no ano de 1938

entrou em São Luís vindo do estrangeiro 80.936 kg de farinha de trigo. Nos anos 1940 e 1941

os relatórios do governo não registraram nenhuma importação desse produto, o que pode

indicar que não houve a entrada de trigo vinda do estrangeiro nesse período, diminuindo sua

oferta no mercado maranhense. Já para os anos de 1942 e 1943 não foi encontrado nenhum

registro. Em 1944 foram importados 9.735 kg, representando uma queda substancial da

importação do exterior.

Já a importação interestadual de farinha de trigo manteve-se um pouco acima da

média. No ano de 1938 a importação foi de 1.862.932 kg, em 1940 foi de 2.401.281 kg, em

1941, 2.466.299 kg e no ano de 1944, 2.879.250 kg deste produto.

Assim, enquanto houve uma redução da importação internacional, ocorreu uma

elevação da importação interestadual, tentando suprir a carência deixada pela importação

estrangeira. Também na importação interestadual não foi encontrado registro da compra de

trigo nos anos de 1942 e 1943, anos bem críticos do conflito mundial, o que pode ajudar a

explicar a escassez de trigo ocorrida nesse período e relatada nos jornais de São Luís. Na

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reportagem do jornal O Globo, de 17 de dezembro de 1942 são apresentadas medidas de

racionamento do trigo.

A comissão de abastecimento torna publico que, a partir desta data entram em vigor as seguintes medidas restritivas do consumo de farinha de trigo devidamente aprovadas por S. excia. O Sr Interventor Federal, no Estado: 1º Redução de 40% (quarenta por cento) na quantidade de farinha de trigo atualmente destinada, diariamente a panificação. 2º Proibição terminante do fabrico de biscoitos, bolachas e outros artigos de padaria, feitos de farinha de trigo excetuado o pão.

A escassez de farinha de trigo para fabricação de pães e outros produtos chegou a

um ponto em que muitas padarias tiveram que fechar suas portas. Em junho de 1943 o jornal

O Globo, comentou a chegada a São Luís de um carregamento de açúcar, farinha de trigo,

batatas, manteiga e outros produtos, o que viria sanar momentaneamente a crise de

abastecimento da cidade. “A falta de farinha de trigo já havia ocasionado o fechamento de

muitas padarias, e, outras, a partir de hoje, seguiram o mesmo caminho. Açúcar já não havia

nos postos de racionamento. A chegada desses produtos foi providencial e veio sanar a

terrível situação, [porém] o racionamento persistirá”. (O Globo, São Luís, n. 1730, p. 01, 10

de jun. de 1943.).

Diante dessa carência de farinha de trigo a população ficava muitas vezes sem pão

para consumo, seja pela escassez do produto e pelo preço elevado, acima das possibilidades

de compra da população mais pobre.

Diante dessa realidade alguns comerciantes se aproveitavam da situação, usando

vários artifícios para explorar a população, a exemplo da alteração do peso do pão, pois “a

impossibilidade de desrespeitar a tabela oficial de preços forçou o derivativo de peso, e muitas

padarias estão entregando, por um quilo, vinte quatro pães que, somados, não vão além de

700gramas”. (O Globo, São Luís, n. 1730, p. 01, 10 de jun. de 1943.). Diante das denúncias,

houve a fiscalização da Comissão de Abastecimento que comprovou a fraude e convocou o

presidente do Sindicato dos proprietários de padaria para informar a decisão de “tomar as

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mais drásticas providências para coibir o abuso, tendo-se em vista a importância daquele

produto para a alimentação do povo”.

Apesar de o Maranhão ser um produtor de açúcar, com engenhos no interior do

Estado, no período da Segunda Guerra Mundial quase todo o açúcar consumido no Maranhão

vinha de outros estados da federação brasileira.

O açúcar foi uns dos produtos que mais esteve escasso do mercado ludovicense

durante o conflito, por isso, o seu consumo era rigorosamente controlado pela comissão de

abastecimento, ocorrendo inclusive à suspensão da sua venda para controle de estoques, com

o estabelecimento de normas para o seu racionamento. (O Globo, São Luís, n. 1692, p. 04, 06

de maio de 1943.).

A reportagem do jornal Diário do Norte traduz bem os esforços a que era

submetida à população pela falta deste produto.

A cidade, está tomando café amargo, apesar das providências permanece grave a situação do abastecimento do açúcar, prevendo-se a restrição total. A situação do abastecimento de açúcar a população da capital continua ainda angustiosa e parece mesmo que tende a se agravar nos próximos dias. (Diário do Norte, São Luís, p. 04, 27 de maio de 1943).

A justificativa para essa crise do açúcar era a dificuldade de transporte criada pela

guerra e a política seguida pelo Instituto do Açúcar e do Álcool na distribuição de cotas aos

engenhos e usinas produtores, diminuindo a quantidade de açúcar destinada ao consumo da

população.

A aquisição do açúcar era feita através de cartões de controle onde se registrava a

quantidade adquirida. “Cada pessoa poderia adquirir 300gramas de açúcar semanalmente e só

comprar o produto no local estabelecido pela comissão de abastecimento”. (O Globo, São

Luís, n. 1692, p. 04, 06 de maio de 1943).

A norma para a aquisição de açúcar, visando seu racionamento, estabelecida pela

comissão de abastecimento foi a seguinte:

A comissão de abastecimento torna público que a partir de hoje, 07 de maio, começarão a funcionar entre 8 e 11horas da manhã, os seguintes pontos de

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distribuição de cartões para compra de açúcar, devendo, inicialmente, ser atendidos os portadores da fichas de inscrição até o número 5.000, distribuídas a quando do anterior racionamento do produto em aprêço. (O Globo, São Luís, n. 1693, p. 04, 07 de maio de 1943).

Por causa deste racionamento do açúcar, “os botequins da cidade cobravam os

preços maiores se as bebidas fossem vendidas adoçadas”. (O Globo, São Luís, n. 1889, p. 04,

29 de dez. de 1943.).

As queixas dos consumidores eram de que ao apresentarem o cartão de

racionamento, que dava direito à compra de 50 gramas de açúcar diária por pessoa, não

conseguiam receber sequer a metade da quota. Os donos de armazém, por sua vez,

justificavam que o não cumprimento da quota estabelecida pelo governo era em função do

baixo estoque de açúcar nos armazéns. (Diário do Norte, São Luís, p. 04, 27 de maio de

1943).

4.1.3 E Como Fica o Papa – Arroz?8 A Escassez de Arroz e do Pão - da - Terra.

Também ficaram escassos dois produtos típicos da alimentação dos maranhenses:

o arroz e a farinha de mandioca, conhecida desde o período colonial como o ‘pão da terra’, e,

certamente, o produto mais característico da culinária local.

O que levou ao aumento de preços destes dois produtos foi principalmente o

aumento considerável das exportações interestaduais. (Ver Anexo B e C)

A crescente procura do arroz no mercado nacional durante o período da Segunda

Guerra Mundial, levou a uma oscilação na quantidade exportada tanto do arroz pilado quanto

do arroz em casca, entre os anos de 1940 e 1942, chegando a dobrar sua exportação em 1944.

8 O maranhense come arroz praticamente em todas as refeições, o que lhe deu o apelido de papa-arroz. (LEAL, Maria Leonor de Macedo Soares. A História da Gastronomia. Rio de janeiro: Senac, 1998.)

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Diante desta realidade que afetava o mercado local, a comissão de abastecimento

do Estado estabeleceu medidas tentando controlar a saída deste produto para outros mercados,

chegando algumas vezes a proibir a exportação do arroz maranhense.

A proibição pelas mesmas subcomissões municipais, no interior, e pela comissão de abastecimento, nesta capital, como medida de emergência da exportação de arroz para fora do estado, até que, depois do recebimento dos dados e de que necessita para uma resolução definitiva, possa a citada comissão adotar outras deliberações. (COMISSÃO de abastecimento. O Globo, São Luís, n. 1588, p. 02, 17 de dez. de 1942.).

Quando não proibia a exportação, a comissão de abastecimento estabelecia regras

a fim de regular a saída do arroz, de forma a assegurar o abastecimento da população local.

A Comissão de Abastecimento do Estado do Maranhão [...], RESOLVE Art Único: A partir desta, a exportação de arroz, pelo porto desta capital, só poderá ser realizada com a reserva de uma quota, destinada ao consumo local, de 20% [vinte por cento] sobre a quantidade do tipo ou tipos do produto a exportar, quota essa que, conforme o indicar a experiência, poderá ser alterada, caso venha a mostrar excessiva ou insuficiente para as necessidades do mesmo consumo. (O Globo, São Luís, n.2216, p. 01, 31 de jan. de 1945.)

Ao se observar a questão do arroz maranhense, cuja exportação causava crise de

abastecimento do mercado interno, percebe-se a dificuldade de infra-estrutura do Estado,

incapaz de possibilitar um aumento expressivo da produção que atendesse aos mercados

externo e interno, podendo aproveitar muito mais a conjuntura favorável à exportação do

produto. “O arroz, atualmente, é um dos produtos de maior procura nos mercados interno e

externo. As cotações são as mais altas alcançadas nestes últimos doze anos. Desde 1929, não

se registraram preços tão elevados como os de hoje”. (O Globo, São Luís, n.1009, p. 06, 26

de out. de 1941.).

A qualidade do produto também poderia melhorar, contribuindo para a o aumento

das exportações. O arroz do Maranhão era considerado de qualidade inferior, “não há

cuidados na escolha de variedades, nos tratos culturais, na colheita, no armazenamento, no

beneficiamento e no transporte; não adianta a terra produzir bem, não adiantam os bons

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mercados e os preços elevados: não há praça para produtos desqualificados.” (O Globo, São

Luís, n.1009, p. 06, 26 de out. de 1941.).

Outro fator que impedia a chegada de arroz em quantidade maior para a capital era

o transporte deste produto.

A deficiência dos meios de comunicações tem acarretado sérios prejuízos à produção do município. Basta referir que em Pedreiras se acham 300.000 alqueires de arroz que sofrem eroiração (sic) por falta de meios de transportes para esta capital. Em razão dessa dificuldade criada pela falta de veículos para o serviço de piçarra, a produção de 1945 ficará, como a 1944, sensivelmente prejudicada. (O Globo, São Luís, n. 2162, p. 04, 25 de nov. de 1944.)

Também no caso do arroz, comerciantes tentarão compensar a pequena quantidade

do produto com artifícios para obter maiores lucros com a venda. “Acontece que se observam

abusos por parte de vendedores sem escrúpulos, uns misturam arroz quebrado ao exposto à

venda para alimentação e cobram pela mistura o preço de tabelamento, o qual foi marcado

para arroz de boa qualidade”. (Diário do Norte, São Luís, n. 88, p. 06, 29 de maio de 1941.).

A farinha de mandioca sofreu um aumento considerável nas exportações em

comparação com o ano de 1938. (Ver Anexo B e C ). Entre o ano de 1941 e 1942 houve um

aumento de 1.792 % na quantidade de Farinha exportada. (RELATÓRIO DO

INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1942, p. 67)

A farinha produzida no Maranhão passou a ser transferida para outros Estados da

federação, havendo assim, uma redução na entrada de farinha proveniente do interior para São

Luís. Por outro lado, a farinha destinada ao mercado interno era de qualidade inferior, mas

com preço de farinha de primeira, de “meter medo até em milionários”.

A noticia de que ontem a importação de farinha amarela tem diminuído sensivelmente,nos últimos meses, em São Luís, inspirou a negociantes que tem armazenada farinha inferior, um golpe. Estão vendendo tal farinha a preços nababescos. Assim, é que aqueles que não querem passar fome, tem de comprar a farinha inferior ao preço de cr$ 1,20 e até cr$ 1,40, em qualquer travessa de São Luís. (Diário do Norte, São Luís, n. 304, p. 04, 13 de mar. de 1941.)

52

Nessa tensão entre consumidor e vendedor, o segundo se defendia imputando a

culpa aos produtores do interior, que só mandavam farinha de qualidade inferior. (Diário do

Norte, São Luís, n. 304, p. 04, 13 de mar. de 1941.).

4.1.4 O Problema da Carne Verde

Assim como a agricultura, a pecuária maranhense era exercida de forma ainda

rudimentar. A criação de gado era fruto da iniciativa isolada de alguns pequenos fazendeiros

que não possuíam conhecimentos técnicos, capital e equipamentos adequados para melhorar a

atividade criatória. A pecuária melhor qualificada era exercida por poucos fazendeiros.

Principalmente no interior do estado o gado representa a maior parte do capital investido. As economias do artista, negociante, empregado publico ou profissional são empregados na compra de gado. As vezes são entregues a vaqueiros de pequenas fazendas cujo o pagamento consiste de uma pequena porcentagem das crias. Os produtos aproveitados são do gado de apuro – a carne e o couro. (O Globo, São Luís, n. 314, p. 05, 18 de jul. de 1940.).

Como faltavam técnicas mais eficientes, até uma instabilidade do clima poderia

provocar prejuízos na pecuária, a exemplo de falta de chuvas. “No ano de 1941 ocorreu um

período de grande estiagem isto acarretou prejuízos para diversos criadores”. (Diário do

Norte, São Luís, n. 284, p. 06, 28 de fev. de 1941.).

O gado que abastecia São Luís era proveniente principalmente da Baixada e era

insuficiente para suprir o mercado local, sendo necessário muitas vezes adquirir gado de

outros estados, especialmente Goiás. (O Globo, São Luís, p. 02, 13 de abril de 1944).

Porém, durante o período da Segunda Guerra, devido a grande procura do produto,

estados do norte e nordeste passaram a comprar o gado maranhense diretamente dos

municípios produtores, provocando a elevação dos preços e desabastecimento da capital. Por

essa razão, a comissão de abastecimento recomendava que, para “garantir o consumo da

população torna-se necessário que fique estabelecido preço compensador que possa atrair para

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a praça maranhense o gado que é disputado pelos mercados vizinhos a custos mais elevados”.

(O Globo, São Luís, p. 02, 13 de abril de 1944). A comissão também tabelava o preço da

venda de carne verde pelos marchantes da capital: carne dianteira: CR$ 3,20; carne traseira:

CR$ 4,00 – o quilo.

Visando controlar a venda para manter o abastecimento da população e evitar os

abusos praticados pelos vendedores de carne, a comissão de abastecimento adotava medidas

que estabeleciam locais para a compra da carne, cupons para restringir o consumo e ainda

quotas diárias que cada família poderia consumir. Assim, uma família de cinco pessoas

poderia consumir apenas 500 gramas de carne por dia. (Correio da Tarde, São Luís, n.1040,

p. 04. 25 de fev. de 1945.).

No ano de 1944, a situação dos estoques de carne em São Luís se agravou ainda

mais, levando a comissão de abastecimento a anunciar um novo controle, com a suspensão da

venda de carne verde nas segundas-feiras, até que se normalizasse a situação. (Correio da

Tarde, São Luís, n. 701, p. 03, 02 de fev. de 1944.).

Como aconteceu com os outros produtos, a grande procura dava margem aos

especuladores, que se utilizavam dos mais diferentes meios para explorar o consumidor,

“burlando as determinações legais sobre o preço, vendiam a carne com uma pesagem 150 à

200 gramas a baixo do peso real do produto, além disto muitos comerciantes vendiam carne

considerada dianteira pelo preço do produto de primeira”. (O Globo, São Luís, n. 1977, p. 02,

15 de abril de 1944.).

4.1.5 Outros Gêneros: Manteiga e Café

Durante o conflito alguns produtos essenciais para a alimentação da população

tiveram seus preços elevados devido a pouca oferta no mercado por serem produtos

importados de outros Estados. Foi o caso da manteiga e do café, importados da região sudeste.

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A comissão de abastecimento tomava medidas para “regular o abastecimento desses gêneros

de primeira necessidade.” (O Globo, São Luís, n. 2158, p. 02, 20 de nov. de 1944.).

Com o intuito de remediar a escassez desses produtos, a comissão de

abastecimento vai impor medidas para racionar o consumo, fixando as quantidades que uma

família de seis pessoas poderia adquirir por semana, a saber: 1kg de manteiga e 2kg de café.

Também proibia a saída dos mencionados artigos para o interior do Estado sem prévia

autorização. (O Globo, São Luís, n. 2158, p. 02, 20 de nov. de 1944.).

A conjuntura da Segunda Guerra Mundial levando à escassez de alguns produtos

alimentícios de primeira necessidade (pão, açúcar, arroz, farinha, carne, café e manteiga), bem

como de combustíveis cujo impacto nos transportes afetava diretamente a população,

provocou uma alteração no mercado interno da capital e um conseqüente aumento do custo de

vida, atingindo principalmente as classes trabalhadoras que viviam de salários mínimos, que

passavam a ter mais dificuldades até mesmo para consumir o trivial arroz e farinha.

55

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Até o início do século XX, o Brasil exercia na economia mundial o papel de

exportador de matérias-primas e importador de produtos industrializados, papel herdado do

modelo colonial. A partir da Primeira Guerra Mundial, com a desestruturação do mercado

internacional e conseqüente desabastecimento do Brasil de produtos industrializados

importados, intensificou-se a industrialização da economia brasileira, com uma produção

voltada para o mercado nacional, o que ficou conhecido como o processo de substituição das

importações.

Durante a Segunda Guerra Mundial pode-se considerar que ocorreu a

transformação final do modelo agro-exportador colonial. A produção nacional cresceu ainda

mais devido às dificuldades de importações, resultantes da mudança ocorrida nas indústrias

dos países envolvidos no conflito e da dificuldade de transportes dos produtos, devido à

guerra submarina.

A grande procura e pouca oferta no mercado interno gerou um aumento do custo

de vida, com produtos básicos do consumo da população atingindo preços exorbitantes. Quem

mais sofria com essa situação era a população menos favorecida, principalmente a classe

trabalhadora urbana, cujos baixos salários eram incompatíveis com o aumento dos preços dos

produtos. (PRADO JÚNIOR, 1998).

O custo de vida em São Luís também cresceu nesse período do conflito mundial. A

elevação dos preços esteve relacionada ao aumento das exportações interestaduais de gêneros

alimentícios, especialmente para o sudeste e alguns estados vizinhos, deixando desabastecido

o mercado interno, bem como pela dificuldade de importação de gêneros de primeira

necessidade. A grande procura pelos produtos básicos do consumo da população levou muitos

comerciantes a especularem os preços e até mesmo falsificarem o produto, alterando o peso e

vendendo produtos inferiores a preço de produtos de primeira.

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A crise de combustível, gerada pelo racionamento do consumo deste produto

durante a guerra, também agravou a situação, pois, dificultava a livre circulação das

mercadorias e onerava o preço dos transportes de cargas e passageiros, a exemplo do

transporte de bondes na capital. O aumento das passagens dos transportes urbanos onerava a

renda do trabalhador e incidia sobre o aumento do custo de vida. .

A falta de infra-estrutura do Estado dificultava ainda mais o problema. O

Maranhão estava com sua economia assentada na frágil extração do babaçu, suas atividades

agropecuárias eram exercidas de forma ainda rudimentar, a pouca oferta de transportes e de

estradas em boas condições de tráfego dificultava a comunicação de São Luís com o interior.

A falta de organização dos meios de produção do Estado foi um dos elementos responsáveis

pela carência e aumento do custo de vida em São Luís.

Diante do que foi exposto nesse estudo sobre os efeitos da Segunda Guerra

Mundial em São Luís, verificou-se que direta e indiretamente esse conflito mundial afetou o

custo de vida da população, tanto pela escassez como pelo aumento dos preços dos gêneros de

primeira necessidade da população, provocados pela queda das importações, pelo

desabastecimento do mercado interno, inclusive daqueles produtos provenientes da economia

local, e até mesmo a especulação de comerciantes que lesavam o consumidor.

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REFERÊNCIAS

FONTES PRIMÁRIAS

A CIDADE. O Globo, São Luís, n. 961, p. 05, 27 de maio de 1943. ATINGE, o máximo no Brasil a crise de combustível. O Globo, São Luís, n. 1285, p. 01, 12 de jul. de 1942. A CRISE de combustível gasogênio. O Globo, São Luís, n. 896, p. 02, 11 de out. de 1941. A ULEN. Diário do Norte, São Luís, n.340, p. 04, 06 de jan. de 1943. A ADMINISTRAÇÃO da Ulen. Diário do Norte, São Luís, n. 118, p. 02, 03 de set. de 1942. A LINHA do anil (interrompida por algumas horas). Diário do Norte, São Luís, n. 337, p. 04, 01 de fev. de 1940. A EXPLORAÇÃO do arroz para fora do estado do Norte. Diário do Norte, São Luís, n.1054, p. 03, 17 de dez, de 1941. A CARESTIA dos gêneros de primeira necessidade. Diário do Norte, São Luís, n. 304, p. 04, 13 de mar. de 1941. CARTA de nossos leitores. Diário do Norte, São Luís, n.70, p. 02, 04 de jul. de 1940. CONTINUAM sendo enganados os consumidores, Diário do Norte, São Luís, n. 1420, p. 04, 03 de fev. de 1945. COMISSÃO de abastecimento. O Globo, São Luís, n. 1693, p. 04, 07 de maio de 1943. COMISSÃO de abastecimento. O Globo, São Luís, n.2216, p. 01, 31 de jan. de 1945. COMISSÃO de abastecimento. O Globo, São Luís, n. 1305, p. 02, 02 de set. de 1942. COMISSÃO de abastecimento. O Globo, São Luís, n. 1977, p. 02, 15 de abril de 1944. COMISSÃO de abastecimento. O Globo, São Luís, n. 1588, p. 02, 17 de dez. de 1942. COMISSÃO de abastecimento do Estado do Maranhão. O Globo, São Luís, n. 2158, p. 02, 20 de nov. de 1944. COMISSÃO de abastecimento. Correio da Tarde, São Luís, p. 03, 25 de fev. de 1944. Correio da Tarde, São Luís, p. 02, 06de maio de 1942.

58

CHEGANDO açúcar e trigo na cidade. O Globo, São Luís, n. 1730, p. 01, 10 de jun. de 1943. CHEFIATURA de polícia. Correio da Tarde, São Luís, n. 476, p. 04, 23 de jan. de 1942. CRISE de combustível. Correio da Tarde, São Luís, n.694, p. 02, 25 de jan. de 1944. DECRETO – lei da prefeitura de São Luís. Diário do Norte, São Luís, n. 2134, p. 04, 14 de dez. de 1944. Diário do Norte, São Luís, n. 284, p. 06, 28 de fev. de 1941. Diário do Norte, São Luís, n. 01, p. 03, 14 de abril de 1940. Diário do Norte, São Luís, n. 88, p. 06, 29 de maio de 1941. Diário do Norte, São Luís, n. 264, p. 05, 07 de fev. de 1941. Diário do Norte, São Luís, n. 12, p. 06, 27 de abril de 1940. Diário do Norte, São Luís, p. 02, 03 de nov. de 1942. Diário do Norte, São Luís, p. 04, 27 de maio de 1943. EXPLICAÇÃO da Ulen sobre a irregularidade do fornecimento de energia elétrica não há fornecimento suficiente de mangue - providências tomadas. Diário do Norte, São Luís, n. 3220, p. 04, 21 de abril de 1945. FALTOU querozene. O Globo, São Luís, n. 1752, p. 04, 02 de jul. de 1943. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATÍSTICA. Balança Comercial 1944/1941. Maranhão: Tip. Silva, 1945. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATÍSTICA. Censos: 1942 – 1950. JORGE. Miércio. Álbum do Maranhão. 1950. LUTAM, com dificuldade pa procura de alimentos, os moradores da cidade. O Globo, São Luís, n. 1936, p. 04, 19 de fev. de 1944. MOTORISTA de automóveis particulares. Diário do Norte, São Luís, n. 148, p. 05, 07 de out. de 1942. NECESSIDADES de providências. Correio da Tarde, São Luís, n. 701, p. 03, 02 de fev. de 1944. NOTA de abastecimento. O Globo, São Luís, n. 1692, p. 04, 06 de maio de 1943. O ARROZ maranhense. O Globo, São Luís, n.1009, p. 06, 26 de out. de 1941. O GADO. O Globo, São Luís, n. 314, p. 05, 18 de jul. de 1940.

59

O GRAVE problema da habitação de São Luís. Diário do Norte, São Luís, n. 311, p. 03, 02 de jan. de 1940. O PETRÓLEO e a deficiência de transportes em tempo de guerra. Correio da Tarde, São Luís, n. 662, p. 02, 17 de jul. de 1942. OBRAS de vulto realizado pela prefeitura de São Luís. Diário do Norte, São Luís, n. 1069, p. 04, 02 de out. de 1943. OS SUBÚRBIOS. Diário do Norte, São Luís, n. 114, p. 02, 16 de agos. de 1941. O GAZOGÊNIO e a guerra. O Globo, São Luís, p. 02, 18 de agos. de 1942. O Globo, São Luís, n.225, p. 05, 02 de abril de 1940. O Globo, São Luís, n. 243, p. 02, 25 de abril de 1940. O Globo, São Luís, n. 1292, p. 04, 19 de jul. 1942. O Globo, São Luís, n.409, p.05, 27 de jun. de 1940. O Globo, São Luís, 13 de abril de 1944. PRENÚNCIOS de inverno, uma esperança para população uma cena típica da crise da água. O Globo, São Luís, n. 1858, p. 04, 08 de nov. de 1943. RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO. Apresentado ao Presidente da República do Brasil: 1938, 1939, 1940, 1941, 1942 e 1943. Impressa Oficial. RELATÓRIO DO PREFEITO MUNICIPAL DE SÃO LUÍS. Apresentado ao Interventor Federal do Estado do Maranhão: 1942. Impressa Oficial. RELATÓRIO DO ANO DE 1948. Apresentado à Assembléia geral Ordinária dos Sócios da Associação Comercial do Maranhão pelo Sr. Arnaldo de Jesus Ferreira, presidente da Diretoria. RECLAMAÇÕES populares (com vistas as autoridades sanitárias). O Globo, São Luís, n.248, p. 06, 01 de maio de 1940. RECOLHIDO ao xadrez três exploradores do público. O Globo, São Luís, n. 1910, p. 04, 25 de jan. de 1944. SERVIÇO de água, esgotos, luz, tração e prensa de algodão. Correio da Tarde, São Luís, n. 748, p. 04, 15 de dez. de 1942. SESSÃO de fomento agrícola. O Globo, São Luís, n. 1284, p. 02, 11 de jul. de 1942. SPJ carta de um leitor. Diário do Norte, São Luís, n. 74, p. 03, 10 de jul. de 1941.

60

TABELAMENTO, O Globo, São Luís, p.06, 05 de dez. de 1940. TABELAMENTO de preços. Correio da Tarde, São Luís, n.1040, p. 04. 25 de fev. de 1945 TABELAMENTO de preços do gêneros de 1ª necessidade. O Globo, São Luís, n. 1420, p. 04, 24 de jun. de 1945. VERDADEIRA exploração dos botequins da cidade. O Globo, São Luís, n. 1889, p. 04, 29 de dez. de 1943. CHEGANDO açúcar e trigo na cidade. O Globo, São Luís, n. 1730, p. 01, 10 de jun. de 1943. 300 MIL alqueires de arroz sofrem deteriorização por falta de transporte. O Globo, São Luís, n. 2162, p. 04, 25 de nov. de 1944.

FONTES SECUNDÁRIAS

BARROS, Valdenira. Imagens do Moderno em São Luís. São Luís: Unigraf, 2001. CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. CORREA, Maria da Glória Guimarães. Nos Fios da Trama: Quem é essa mulher. Cotidiano e Trabalho do Operariado Feminino em São Luís na Virada do Século. Niterói: 1998. (Tese de Mestrado). FEITOSA, Raimundo Moacir Mendes. Tendências da Economia Mundial e Ajustes Nacionais e Regionais. (Tese de Mestrado). RIBEIRO JUNIOR, José Reinaldo Barros. Formação do Espaço Urbano de São Luís: 1612-1991. 2 ed. São Luís: FUNC, 2001. PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 43 ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. LACROIX, Maria de Lourdes Lauande Lacroix. A Fundação Francesa de São Luís e seus Mitos. 2 ed. ver. ampl. São Luís: Lithograf, 2002. LEAL, Maria Leonor de Macedo Soares. A História da Gastronomia. Rio de janeiro: Senac, 1998. MACEDO, Eurico Teles de. O Maranhão e suas Riquezas. São Paulo: Siciliano, 2001. MEIRELES. Mário M. História do Maranhão. 3 ed. São Paulo: Siciliano, 2001. MEIRELES. Mário M. História do Comércio do Maranhão. São Luís: Lithograf, 1998. v.2 e 4.

61

MELO, Maria Cristina Pereira. O Bater dos Panos. São Luís: SIOGE, 1990. NASCIMENTO, Mara Regina do; TORRESINI, Elizabeth (Orgs.). Modernidade e Urbanização no Brasil. Porto Alegre: Edipucrs, 1998. NETO, Eloy Coelho. Geografia e História do Maranhão. São Luís: Sioge, 1985. PALHANO, Raimundo Nonato. Coisa Pública. São Luís, 1998. (Tese de Mestrado) PACHÊCO FILHO, Alan Kardec. Construção Midiática do Político José Sarney (1962-1970). Recife, 2002. (Tese de Mestrado) REIS, José Ribamar Sousa dos, ZBM: o Reino Encantado da Boêmia. São Luís: Lithograf, 2002. RIBEIRO, Paulo Roberto Rios. “A Revolução deu Marcha à Ré”. A Greve de 51: ruptura e continuidade do poder político oligárquico no Maranhão. Recife, 2001. (Tese de Mestrado) SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio à Castelo. 7 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão 1896-1934. São Luís: Lithograf, 1992. 4 v.

62

ANEXOS

63

ANEXO A - Exportação Internacional de Gêneros Alimentícios

Produto/kg 1938 1940 1941 1944 Bucho de

Peixe 1.920 - - -

Camarão 3.052 - - - Milho 60.000 - - - Arroz - - - 1.020.000

TOTAL: 6.4972 - - 1.020.000 Fontes:RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1938, 1940 e 1941 e INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATÍSTICA. Balança Comercial 1944. Maranhão: Tip. Silva, 1945.

64

ANEXO B - Exportação Interestadual de Gêneros Alimentícios pelo Porto de São Luís

Produto/kg 1938 1940 1941 1944 Arroz pilado 9.509.855 3.189.127 5.384.497 15.457.663

Arroz em casca 10.800 - 99,000 - Aguardente de

Mandioca 2.728 932 - -

Aguardente de Cana

- 932 211 -

Banha 1.530 240 - 850 Bebidas alcoólicas - 240 - -

Bucho de Peixe 907 933 2.040 1.093 Camarão 9.231 12.956 12.845 2.241

Cacau 1.594 - - - Castanha de Caju - - 347 3.600

Carne Seca 54 - - - Conservas - 216 - -

Doces 210 128 120 104 Farinha de Mandioca

30.466 660 88 2.205.363

Farinha de Camarão

- 80 - -

Feijão - 12.000 5.310 19.169 Gado Cavalar 1 - - -

Massas Alimentícias

- - - 170

Milho - - - 120 Peixe Seco 23.237 72.966 93.819 48.700

Sal 65.600 9.200 - - Tapioca 14.380 377 12.400 6.000 Vinagre 8.120 16.850 16.187 145.800 Vinho 120 1.239 78 9.000 Total: 9.678.833 3.319.076 5.626.942 17.899.873

Fontes:RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1938, 1940 e 1941 e INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATÍSTICA. Balança Comercial 1944. Maranhão: Tip. Silva, 1945.

65

ANEXO C - Exportação Interestadual de Gêneros Alimentícios Direto pelos Municípios

Fontes: RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1938, 1940 e 1941.

Produtos / kg 1938 1940 1941 Arroz em Casca 785.603 2.442.596 3.482.936

Arroz Pilado 793.793 1.233.909 2.131.042 Aguardente de

Cana 22.932 53.287 97.623

Aguardente de Mandioca

8.810 46.924 81.084

Açúcar 600 3.520 1.937 Aves 700 704 342

Bucho de Peixe 403 1.215 1.269 Banha 705 1.322 4.213

Cebolas - - 135 Cacau - - 100

Camarão 157.116 179.136 277.554 Carne Seca 816 25.770 29.500

Doces - 65 25 Farinha de Mandioca

754.088 1.607.869 700.283

Favas 150 6.453 1.095 Feijão 11.780 169.321 78.824

Gergelim 793 149.983 43.392 Gado Vacum 254 1.263 2.016 Gado Suíno 3.008 9.569 13.251

Gado Caprino 266 1.243 2.386 Milho 136.539 267.366 599.828

Óleo de Coco 6.592 107.134 8.372 Óleo de Algodão - - 7.581

Óleo de peixe 600 - 535 Peixe Seco 46.834 - 156.464

Queijos - - 625 Rapadura 94.405 424.545 589.880

Sal 2.577.205 5.389.055 7.784.280 Tapioca 142.040 880.788 146.315

Toucinho 2.535 12.624 15.800 Vinagre - - 224

TOTAL: 5.548.567 13.015.661 16.258.911

66

ANEXO D – Exportações Gerais de Gêneros Alimentícios

Produto/kg 1938 1940 1941 1942 1943 1944 Alhos - - - - - 115

Abacate - - - - - 1.100 Arroz em Casca 796.403 2.442.596 3.581936 3.631.529 4.220.870 4.298.783

Arroz Pilado 9.900.585 4.413.036 7.515.539 6.252.511 10.875.143 18.616.299 Aguardente de Cana 22.982 54.219 97.834 47.689 85.142 132.672

Aguardente de Mandioca 11.538 47.244 81.084 40.985 18.402 26.430 Açúcar 600 3.520 1.937 - 63.973 10.072 Aves 701 374 343 700 704 4.360

Bucho de Peixe 1.310 2.178 3.309 3.334 4.366 3.761 Banha 2.235 1.562 4.213 9.821 39.140 42.272

Bebidas Alcoólicas - 2.694 3.860 - 2.973 488 Camarão Seco 157.116 192.092 290.399 515.922 728.922 594.250

Camarão Descascado - - 272 2.584 3.564 2.566 Carne Seca 870 25.770 29.500 52.472 134.530 162.148

Cacau 1.594 - - - 112 - Castanha de Caju 800 - 347 19.898 600 3.600 Castanha do Pará - - 907 - - -

Cebola - - 135 280 802 180 Conservas - 216 - - - -

Doces 210 193 145 603 95 104 Farinha de mandioca 784.554 1.608.529 700.331 9.036.401 13.290.017 6.243.057 Farinha de Camarão - 90 - - - -

Fava - 6.453 1.095 11.959 16.375 7.268 Feijão 11.780 181.321 84.134 285.351 349.891 452.613

Fubá de Arroz - - - 60 - - Frutas - - 901 - - -

Gergelim 1.533 676.833 307.564 52.154 451.143 - Inhame - Jerimu - - - - - 75

Laranjas - - - 24.850 5.000 33.400 Limões - - - - 230 550

Massa Alimentícia - - - - - 170

Milho 136.539 267.366 599.828

2.850.175 1.420.873 1.624.877

Óleo de Algodão 402 2.619 11.791 15.179 2.430 - Óleo de Coco 605.434 1.714.000 972.450 943.138 827.487 - Óleo de Peixe 12.752 1.931 1.502 1.512 999 -

Ovo - - - - - 10 Peixe Seco 70.071 180.100 250.283 261.611 259.258 249.371

Queijo - - 825 30 1.195 - Rapaduras 94.405 424.545 589.880 456.282 416.846 371.759

Sal 2.642.805 5.398.255 7.796.680 6.119.840 11.555.275 5.416.010 Tapioca 14.330 - 37.630 43.669 - 80.673

Toucinho 2.535 12.624 15.800 28.171 50.159 13.426 Vinho 120 1.239 948 112 4.934 1.821

Vinagre 8.120 16.805 16.411 2.130 16.187 9.000 Total: 15.282.324 17.879.404 22.949.883 30.983.952 44.847.637 38.403.290

Fontes: RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DO ESTADO DO MARANHÃO, 1940-1943 e INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATÍSTICA. Balança Comercial 1944. Maranhão: Tip. Silva, 1945.

67

Barbosa, Juliana Carneiro

“Pela Hora da Morte”: o efeito da Segunda Guerra Mundial no custo vida em São Luís. / Juliana Carneiro Barbosa. – São Luís, 2005.

67 f.:

Monografia (Graduação em História) Universidade Estadual do Maranhão, 2005.

1. Segunda Guerra Mundial . 2. Custo de Vida. 3. Sociedade. 4. São Luís. I Título.

CDU 94 (100) “1939/1945”: 338.5