Jundiaí - O Globo

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Razão Social 2 Terça-feira, 27 de março de 2012 O GLOBO Fábricas do distrito industrial de Jundiaí O GLOBO RAZAO SOCIAL 27 DE MARÇO 2012•N o - 138 | oglobo.com.br/blogs/razaosocial Pequena grande cidade Chegada da chinesa Foxconn ajuda a elevar PIB da interiorana Jundiaí e cria choque cultural

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O desenvolvimento econômico e sustentável alcançado por Jundiaí nos últimos anos rendeu nesta terça-feira (27) grande destaque para o município no caderno Razão Social, do jornal O Globo. Em oito páginas, a reportagem de um dos principais suplementos de sustentabilidade da mídia brasileira enfatiza, entre outros assuntos, a vinda de empresas que, nos últimos anos, tem impulsionado a economia e, consequentemente, a arrecadação municipal e o retorno destes impostos em investimentos que promovem a melhoria da qualidade de vida das pessoas, sem abrir mão da preservação ambiental.

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Razão Social ● 2Terça-feira, 27 de março de 2012 ● O GLOBO

Fábricas dodistrito industrialde Jundiaí

OGLOBO

RAZAOSOCIAL2 7 D E M A R Ç O 2 0 1 2 • N o- 138 | oglobo.com.br/blogs/razaosocial

PequenagrandecidadeChegada da chinesaFoxconn ajuda a elevarPIB da interioranaJundiaí e criachoque cultural

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Razão Social ● 3Terça-feira, 27 de março de 2012 ● O GLOBO

Editorial

As reportagens publicadas na revista Razão Social têm conteúdo estritamente jornalístico não cabendo, sob hipótese alguma, a divulgação de material de cunho publicitário sob forma de reportagem.

OGLOBO Razão SocialEditor: Amelia Gonzalez ([email protected]) • Repórteres: Camila Nobrega ([email protected]) e Martha Neiva Moreira ([email protected]) • Projeto Gráfico: AndréaParacat • Diagramação:Jacqueline Donola • Capa: Carlos Ivan • Contatos para consultas sobre o espaço publicitário: 21 2534-5500 e-mail: [email protected] • Correspondência: RuaIrineu Marinho 70/ 4o- andar CEP 20230-901— Rio de Janeiro • Telefone: 2534-5000

Há pouco mais de uma década a cida-

de de Jundiaí, a 50km de São Paulo,vem recebendo em seu território fábri-cas de renome, entre elas a chinesa

Foxconn, que produz Iphones da Apple. Isso, éclaro, ajudou a melhorar muito a cidade, outrorapacata e interiorana, que hoje já tem jeito de me-galópole. Até aí, tudo bem. A reportagem de capadesta edição mostra, num minucioso trabalho dosrepórteres Camila Nobrega e Carlos Ivan, que es-te desenvolvimento, no entanto, precisa de umolhar mais atento para se tornar sustentável.Com o dinheiro ganho dos impostos das fábricasa cidade se tornou organizada e, por isso, os ser-viços ficaram caros (o aluguel de um quarto e sa-la não sai por menos de R$ 1,2 mil). Desse jeito,é claro que os operários, que trabalham no distri-to industrial construído a pouco mais de 10 quilô-metros do centro, não têm condições de usufruirdo crescimento de sua cidade. Jundiaí, então, setornou quase um enclave de progresso cercadapor pequenas cidades periféricas mais pobresque abrigam as pessoas que trabalham nas fábri-cas que a enriquecem. Não é um fenômeno novo,com certeza, e não será o único.O tema da próxima Conferência para o Desenvol-vimento Sustentável, a Rio+20, é a economia"verde". E lá, com a presença de chefes de esta-do, pretende-se discutir, entre outras coisas, a er-radicação da pobreza. Se não quisermos ficar emdiscursos "verdes", este tipo de situação precisa es-tar na mesa para discussão.

AmeliaGonzalez,editora

Rafael Andrade

4Cerca de 300famílias decatadores do recémfechado Lixão deItaóca, em SãoGonçalo, vivemrotina de privação

Amelia Gonzalez

8Gro Brutland,representante daONU, faz um alertaaos mercados noFórum Mundial deSustentabilidade,em Manaus

Divulgação

11Samyra Crespo,Secretária deArticulação eCidadania do MMA,fala sobre o Plano deProdução e ConsumoSustentável

Índice

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12 ● Razão Social O GLOBO ● Terça-feira, 27 de março de 2012

Capa

Cidadedo interiorcomjeitodemegalópole

JUNDIAÍ é oquarto IDHdo estado deSão Paulo

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Razão Social ● 13Terça-feira, 27 de março de 2012 ● O GLOBO

Destinode1.286 indústrias, comoachinesaFoxconn, Jundiaíaindaseadaptaanovopapel C

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Camila [email protected] Especial

JUNDIAÍ — Antes das 6h da manhã, ocentro de Jundiaí é como o da maioriadas cidades brasileiras, com ruas escu-ras e vazias que aumentam a sensaçãode frio antes de o sol nascer. Mas a me-nos de dois quilômetros dali, a paisa-gem começa a mudar. Chegando às ro-dovias que cortam a cidade, Anhangue-ra e Bandeirantes, ônibus lotados de ho-mens e mulheres, a maioria jovens vin-dos de pelo menos sete municípios dosarredores, seguem acelerados em dire-ção ao Distrito Industrial da cidade, on-de 60 mil pessoas estão empregadas. Élá que, a menos de 10 km do centro, Jun-diaí parece se transformar em outro mu-nicípio. Ali não há calmaria. As luzes das1.286 fábricas, que movimentam maisde R$ 5 bilhões por ano — 31,7% do Pro-duto Interno Bruto (PIB) da cidade —estão acesas permanentemente. Aindano escuro, centenas de pessoas saemdas indústrias, enquanto outras descemdos ônibus, para a primeira troca de tur-no do dia, cujo horário varia entre 5h30e 7h. A cena se repetirá entre 14h e 15he entre 21h e 22h. É a outra Jundiaí quepulsa ali.

Os protagonistas do distrito não temnome de gente. São a Spal Indústria debebidas, empresa que mais gera lucrosna cidade, seguida da Sadia, das CasasBahia e da Itautec. Já em termos de ge-ração de emprego, a menina dos olhosestá na ponta da língua, tanto para a pre-feitura como para o Sindicato dos Meta-lúrgicos, como afirmou o presidente dainstituição, Eliseu Silva Costa:

— A Foxconn. Com a unidade da Ap-ple, no total serão seis mil empregos.

Ele se referiu à gigante americana Ap-ple, que tem seus Iphones fabricados pe-la Foxconn no local, e e vai começar afabricar Ipads. O município é a personi-ficação de um desafio sem fórmula pron-ta: o de colocar o crescimento econômi-co, impulsionado pelo setor industrial,em função do desenvolvimento social,incluindo toda a população. Em outraspalavras: crescer respeitando o tripé dasustentabilidade, que inclui o ambiente e

o econômico, além do social. Os ganhosjá foram muitos: em oito anos, o ProdutoInterno Bruto da cidade cresceu 152% e,ao mesmo tempo, o Índice de Desenvol-vimento Humano (IDH) passou de 51º pa-ra 4º no Estado de São Paulo, segundo asNações Unidas. Há transporte coletivode qualidade, a cidade é limpa e apresen-tou melhora no sistema educacional. Ho-je, 98% do esgoto da cidade são tratadose coletados, segundo a prefeitura.

No entanto, ainda há questões a resol-ver. Embora tenha um índice de área ver-de por habitante de 27,51m2, andandopelas ruas a sensação é de que as árvo-res só estão começando a tomar espaço.A cidade parece ter se dado conta muitorecentemente de um dado importante.Está crescendo sem levar junto municí-pios vizinhos que exportam seus traba-lhadores todas as manhãs. Várzea Pau-lista, Campo Limpo, Francisco Morato epelo menos mais quatro cidades do en-torno estão estagnadas.

É o que faz com que os moradoresdessas cidades atravessem estradastodos os dias. O motorista Pedro Amo-rim contou que ele e a esposa, mora-dores de Várzea Paulista, vão paraJundiaí para trabalhar, cuidar da saú-de e até fazer compras.

— Moro em Várzea há 22 anos e, nes-se tempo, enquanto minha cidade ficouna mesma, Jundiaí cresceu. O jeito éviajar todos os dias para cá, e só dor-mir em casa. Faço até supermercadoem Jundiaí. Só não moro aqui, porquetudo ficou muito caro.

Esse é provavelmente o calcanharde Aquiles do crescimento de Jundiaí,já que, se por um lado os moradoresde cidades vizinhas dependem da ci-dade, o município também dependedeles como combustível na escaladada expansão industrial. O desafio estáem conter o inchaço e fazer com queas cidades no entorno não se tornemapenas dormitórios.

No próprio distrito industrial não sãoas placas de ruas que ganham destaque,mas as que indicam os nomes e direçõesdas indústrias. O local parece feito parafábricas, não para pessoas.

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14 ● Razão Social O GLOBO ● Terça-feira, 27 de março de 2012

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Lei fazusodesacolasplásticas cair 50%Carlos Ivan

USO DEsacolasplásticascaiu maisda metade,em doisanos

Desde agosto de 2010, a cidade deJundiaí atraiu olhos do Brasil inteiro,por ter se tornado o primeiro muni-cípio brasileiro a tentar abolir as sa-colas plásticas dos supermercados.Os estabelecimentos passaram a co-brar cerca de R$ 0,19 por cada sacola.Quase dois anos depois, em fevereirodesse ano, uma liminar suspendeu alei, e obrigou os supermercados a for-necerem as sacolas plásticas de gra-ça. Mas a mudança já havia ocorrido:a grande maioria dos consumidoresjá tem sua ecobag a tiracolo.

A diferença nos supermercados deJundiaí, em relação ao Rio de Janeiro,

por exemplo, é clara. As famílias en-tram nos locais carregando sacolasretornáveis. Moradora do centro dacidade, a enfermeira Roseli Teixeira éuma das que só pega sacos plásticosquando precisa para o lixo de casa.No porta-malas, cinco sacolas de pa-no suportavam as compras do dia:

— Já virou um hábito para nós. Osjundiaienses gostam de saber que es-tão sendo exemplo. Dá prazer de car-regar essas sacolas de pano. E antesda lei, eu sequer pensava nisso.

A estimativa é que o uso de sa-colas plásticas tenha caído paramenos da metade.

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PRAÇA no centro de Jundiaí: áreasverdes estão sendo implantadas nacidade, mas população não tem ohábito de usá-las

Por trás das altas torres e chami-nés com nomes de diferentes in-dústrias que se estabeleceram noDistrito Industrial, é possível verao longe prédios luxuosos, escolase parques, todos localizados noCentro do município. Há tambémmuitos edifícios sendo erguidos esalas comercia is . São sinais deuma cidade cujo mercado imobiliá-rio está aquecido e que tem se tor-nado destino de paulistanos embusca de boas ofertas de emprego,aliadas à qualidade de vida.

É o caso de um engenheiro daFoxconn que não quis se identifi-car pois está sob sigilo máximo, jáque acaba de se mudar para a cida-de para trabalhar com a prepara-ção de funcionários para a produ-

ção de tablets, os Ipads da Apple.Ele acredita que terá mais qualida-de de vida do que na capital, masestá com dificuldade de achar umapartamento para alugar, de quar-to e sala, por menos de R$ 1.200:

— Eu não esperava. A cidade es-tá encarecendo muito. Tem aura decidade pequena, mas com algunspreços de São Paulo.

De fato, Jundiaí ainda tem mui-tas características de cidade do in-terior, mas está tendo que se adap-tar para acompanhar o desenvolvi-mento econômico. O clima durantea tarde é bucólico, e a cultura de seencontrar nas praças à noite per-manece. Depois das 21h, só os fre-quentadores de um complexo debares estão acordados no Centro

da Cidade. Ainda são poucas as op-ções de lazer.

Um problema curioso que ga-nhou espaço nos jornais locais es-se mês foi a coleta seletiva. A cida-de é um bom exemplo no país, jáque os moradores de todos os bair-ros têm acesso ao serviço. Mas aadesão foi tanta que há recicláveissobrando nas ruas. A prefeitura vaiter que trocar o contrato da empre-sa tercerizada para que ela passe acoletar uma quantidade de resí-duos maior do que o combinadoinicialmente.

Outras grandes mudanças narradaspelos moradores são relativas ao trans-porte público e à própria aparência dacidade. Jundiaí é, de fato, uma cidadelimpa, e a poluição não está acima donormal, já que as indústrias estabeleci-das no distrito são em sua maioria detecnologia de ponta, com menos emis-sões de carbono. Tem também trans-porte integrado de ônibus, que garanteatravessar a cidade pelo custo de umaúnica passagem.

No que diz respeito à arborização, po-rém, a cidade ainda vive processo de re-cuperação, e, embora as últimas gestõestenham investido em parques e praças,há um obstáculo maior a ser ultrapassa-do: a cultura dos próprios moradores.Assim como há poucos usando as ciclo-vias que começam a ser instaladas nocentro da cidade, os parques também fi-cam quase vazios. O monitor do JardimBotânico de Jundiaí, Ricardo Silva, de 31anos, explicou:

— O pessoal está acostumado a irpara shopping em Campinas, onde hálojas de luxo. Como os parques surgi-ram nos últimos dez anos, são poucosos jundiaienses que têm hábito de pas-sear nesses lugares, caminhar, fazer tri-lhas com os filhos. E o pessoal andamuito de carro, o que vai ter que mu-dar, porque o trânsito está começandoa piorar.

As ciclovias da cidade só cobrem, porenquanto, 5,5 quilômetros, segundo aprefeitura. E são usadas exclusivamentepara lazer, não para transporte. O muni-cípio afirmou que como a maioria das in-dústrias é da área de tecnologia da infor-mação, não geram uma grande quantida-de de resíduos. No entanto, não soubeinformar como são descartados os resí-duos dessas empresas.

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Razão Social ● 15Terça-feira, 27 de março de 2012 ● O GLOBO

“Nãobasta só Jundiaí sedesenvolver”Carlos Ivan

O PREFEITO Haddad: “Espero que para nós eles deem descontos”

Em seu terceiro mandato como pre-feito de Jundiaí (já havia assumido em1996 e 2001), Miguel Haddad aposta naindustrialização como meio para o de-senvolvimento, e tem conseguido ele-var a qualidade de vida na cidade. Masassume que fazer o entorno crescerjunto ainda é desafio.

O GLOBO: Como fazer com que ocrescimento não se torne nocivo àcidade?MIGUEL HADDAD: Temos nossoPlano Diretor. Um terço da cidadehoje é a Serra do Japi, que estátombada e preservada. Sabemos quetemos que preservar os mananciaisque abastecem a cidade. Não temosfeito expansões da zona urbana,sobre a zona rural. Queremos fixar oagricultor no campo. Crescimentonão significa inchaço. Nosso IDH hojeé 8,2. Com planejamento, é possívelcolocar o crescimento em função daqualidade de vida.

O GLOBO: Mas há limites para asindústrias?HADDAD: Sim, hoje talvez umamontadora de automóveis nãoconseguisse se instalar em Jundiaí.Precisa de um terreno enorme, quenão temos. Mas uma empresa deTecnologia da Informação é possível.Elas geram o mesmo número deempregos, mas com menos impactosambientais. Não aceitamos indústriasquímicas pesadas em Jundiaí, porexemplo, isso já foi vencido aqui.

O GLOBO:Mas, enquanto Jundiaí

se desenvolve, a regiãopermanece estagnada...HADDAD: O primeiro aglomeradourbano do Estado de São Pauloacaba de ser implantado. São setemunicípios, no entorno de Jundiaí.Agora vamos poder discutir coisascomo transporte público, saúde,segurança. Hoje nós fornecemoságua para Várzea Paulista. Nósvendemos, mas de certa forma nósos socorremos. Somos uma cidadesede. Saúde, por exemplo, toda apopulação da região é atendida aqui.É importante o desenvolvimentodessas cidades. Não basta só Jundiaíse desenvolver.

O GLOBO:As empresas têm açõesde mitigação do impacto quecausam na cidade?HADDAD: Sim, estamoscomeçando parcerias. A Coca-Cola,por exemplo, está fazendo conoscoadutoras de água. Interessa a eles,mas a nós também.

O GLOBO:E a Foxconn, quais sãoas expectativas? A cidade temesperança de ter mais acesso àtecnologia?HADDAD: Espero que para nós elesdeem descontos, mas não acredito.Mas isso é da alçada do governofederal. A ideia é que o acessopossa ser facilitado no Brasil, comredução de preços. E, sobrequestões trabalhistas, o Ministériodo Trabalho e o sindicatoacompanham. Não tivemos grandesproblemas até hoje.

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16 ● Razão Social O GLOBO ● Terça-feira, 27 de março de 2012

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Choqueculturalnochãodefábrica

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QUINZE ônibus esperama saída dos funcionáriosda nova Foxconn

Camila [email protected]

Duas semanas atrás, funcionárias daunidade de fabricação de computadoresda Foxconn em Jundiaí foram surpreen-didas ao chegar ao trabalho. Ao saíremdo ônibus, em vez de passar da portariae seguir normalmente para seus lugaresna linha de produção, tiveram que for-mar uma fila indiana. Seguiram todas,uma atrás da outra, sem saber se riam oudisfarçavam o incômodo de se sentiremnum colégio interno. Dentro da fábrica,mais uma novidade. Idas ao banheirotambém haviam ganhado nova regra. Sócom acompanhante. E a fila indiana se re-petiu no caminho para o refeitório, e nofim do expediente. Após a reclamaçãodos funcionários ao Sindicato dos Meta-lúrgicos local, as normas, que haviam si-do negociadas com a empresa, estãosendo revistas.

Tem sido assim a cada tentativa de im-plantação da cultura chinesa nas fábri-cas brasileiras, desde o início da opera-ção da primeira unidade da Foxconn emJundiaí, em 2007. A empresa está apren-dendo a se adaptar fora do seu país.

— A principal dificuldade com os chi-neses é que eles entendam nossa cultu-ra. Houve um momento em que tivemosde dizer “Aqui não é a China”, partindopara o enfrentamento. Mas o diálogo seabriu e se tornou a melhor saída. — con-tou Andréa Ferreira Barbosa, líder sindi-cal dentro da Foxconn.

A presença de Andréa dentro das fá-bricas já foi um grande ganho. De início,os chineses da Foxconn se assustaramcom a exigência, assim como com as lu-tas dos trabalhadores por melhores con-dições dentro das fábricas, transporte,refeitório e participação nos lucros. Nãoforam poucas as paralisações dentro daprimeira unidade da empresa em Jun-diaí, e a briga não foi pouca. Sintomas deum choque cultural extremo, já que a le-gislação trabalhista brasileira é muitomais pró trabalhadores do que a chine-

sa. Mas a situação melhorou. Trata-se delinhas de produção rígidas, com metasacompanhadas de perto e exigidas dia-riamente, num esquema que se originouno fordismo e se repete não só ali, masna maioria das indústrias.

A mais nova batalha de Andréa é pa-ra que os trabalhadores da linha deprodução de computadores, na unida-de da Foxconn localizada bem no cen-tro do distrito industrial da cidade,possam ter dez minutos de descansoem dois momentos durante o expe-diente de oito horas diárias. A maioriatrabalha de pé, na linha de montagemdos equipamentos, em esteiras. Se osetor não para, os trabalhadores tam-bém não podem parar um segundo se-quer, o que tem acarretado incômodosrelatados à líder sindical. A reclama-ção mais frequente é de dores nos om-bros, devido à montagem minuciosade componentes dos computadoresproduzidos no local.

— A empresa prometeu fazer estu-do de ergonomia para isso. As pessoasprecisam se mexer, alongar, parar nemque seja um minuto para falar com afamília no celular, se não acabam ten-do Lesão por Esforço Repetitivo (malassociado à repetição de movimentos,geralmente no trabalho).

Os olhares estão voltados agora à no-va unidade da Foxconn, que fica fora dodistrito industrial e isolada de todas asoutras indústrias. É lá onde já estão sen-do fabricados Iphones 4 e de onde, embreve, sairão Ipads made in Brazil, pro-dutos da Apple. Ali o sigilo e a descon-fiança são máximos. As portarias sãoblindadas e a única coisa que identificaa empresa é um papel A4 pendurado nagrade que diz: “Entrada restrita a funcio-nários da Foxconn”.

Por enquanto, os operários — em suaimensa maioria mulheres — estão fazen-do um só turno, das 6h às 15h. Eles têmrefeitório no local e transporte para casa.No total, 15 ônibus esperam na porta dafábrica para levar os grupos para bairros

da periferia de Jundiaí ou para municí-pios vizinhos. Os cerca de 800 funcioná-rios saem juntos. Enquanto os poucoshomens estão suados e cansados, as mu-lheres não deixam de lado a vaidade, eesbanjam tons de batom vermelhos e ca-belos penteados. Todos estão acostuma-dos a entrar direto nos ônibus, mas na-quela tarde (dia 8 de março) foram sur-preendidos com a presença inédita deuma Kombi que avisa a promoção de“sorvete a R$ 1”. Como a unidade é iso-lada, dificilmente ambulantes chegamali. O calor, de 35 graus, convidou a umaparada para o sorvete. Foi o momentoem que pararam para conversar.

O medo de falar sobre a empresa éconstante, já que paira o receio de ultra-passarem a barreira do sigilo tão refor-çado pelos coordenadores de áreas. Ostrabalhadores só falaram sob a condiçãode terem seus nomes preservados (usa-mos pseudônimos). Mara, de 22 anos, dacidade de Itupeva, faz a preparação da

placa para o Iphone 4. Primeiro, faz ques-tão de dizer que a fábrica é boa, o saláriotambém (de R$ 1.150) e que gosta dosbenefícios. Confessou que não entende oporquê de tanto sigilo, já que nem os em-pregados sabem direito notícias sobre osprodutos da empresa e disse que um tur-no só de produção é puxado. Naqueledia, ela tinha cumprido a meta de prepa-rar a placa de três mil celulares:

— Não dá para parar. Na minha área, amaioria é de mulheres, porque é umafunção minuciosa, com peças pequenas.Agora temos aulas para manter a postu-ra correta, evitando problemas de colu-na. Os chineses só não gostam que a gen-te fale alto, gostam de silêncio.

Mas as mulheres encontram formasde se divertir. Laura, que trabalha na li-nha de produção embalando Iphones,garante que é a conversa que ajuda apermanecerem atentas, enquanto fazemtarefas tão mecânicas. Ela é apontada pe-las amigas como uma das mais rápidas,

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Razão Social ● 17Terça-feira, 27 de março de 2012 ● O GLOBO

CERCA DE 700 trabalhadores fazem viagens de em média uma hora para ir e voltar da Foxconn para casa

aquela que sempre bate suas metas, in-dicadas no início de cada dia e conferi-das em relatórios de produção diários:

— A gente trabalha mais com a línguado que com os Iphones, é o jeito que temde não desligar. Hoje fiz 300, porque eradia fraco, mas chego a fazer dois mil. Aí é

pesado. Mas eu acho chique trabalharna Apple, tem fila de espera isso aqui.

Nos dias puxados, são 250 Iphonesembalados por hora. Pelo menos quatropor minuto, para bater a meta. É o tempode pegar a caixa e colocar três códigosde barra, terminando a embalagem e

passando o produto adiante. Como tra-balham sentadas, os pés estão a salvo,mas o que dói de vez em quando, segun-do relato de várias trabalhadoras, sãopunhos e ombros. Para a maioria, po-rém, o trabalho é uma benção, compa-rado a outras fábricas por onde já pas-

saram.Segundo o presidente do Sindicato

dos Metalúrgicos de Jundiaí, Eliseu SilvaCosta, as brigas para que a empresa seadeque a melhores condições de traba-lho não são privilégio da Foxconn, mashá fatores que dificultam particularmen-te a relação com a companhia. O princi-pal é a falta de transparência:

— Os chineses são muito fechados. Li-dam com todas as informações como sefossem sigilosas, inclusive as de utilida-de pública. No início, a relação com o sin-dicato foi na base do porrete, mas aospoucos eles estão se abrindo.

Até a prefeitura tem dificuldade deconseguir informações da empresa. Se-gundo funcionários do município quenão quiseram se identificar, a falta detransparência é uma barreira difícil, in-clusive no que diz respeito a dados cujadivulgação para a prefeitura é obrigató-ria. A empresa é, no entanto, uma dasprincipais empregadoras da cidade, commais de cinco mil empregados no total,número que em breve chegará a seis mil.É a menina dos olhos, especialmente aunidade que vai fabricar Iphones e Ipadsda Apple.

Segundo um consultor da diretoriageral da Foxconn, que se alterna entreBrasil e China, e não quis se identifi-car, a empresa tem encarado o Brasilcomo um desafio, e reconhece que ain-da está em processo de adaptação:

— A Foxconn sabe onde está semetendo. A empresa é fornecedorade companhias como a Apple e es-tudou o histórico de São Paulo antesde se instalar em Jundiaí. Não ia bur-lar leis trabalhistas num local desindicato tão atuante.

Segundo o funcionário, a empresaopta pelo sigilo pois não é a dona damarca dos produtos que coloca nomercado, atua como fabricante. Maso consultor afirmou que a Foxconntem desenvolvido programas de res-ponsabilidade social, capacitandodonas de casa e mulheres que traba-lhavam como domésticas, para fa-bricarem Iphones:

— Cerca de 700 mulheres já foramcapacitadas, e outras estão em treina-mento para o Ipad. A Foxconn e a Ap-ple não vão queimar seus nomes noBrasil. Sabemos que, com cinco milfuncionários, pode haver ajustes a se-rem feitos. Quando há denúncias, cor-remos atrás. Ninguém quer ser acusa-do de trabalho escravo.

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18 ● Razão Social O GLOBO ● Terça-feira, 27 de março de 2012

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Jundiaí temmaisde60milpessoasemindústriasNas ruas principais do Distrito

Industrial de Jundiaí, onde fica aunidade mais antiga da Foxconn nacidade, está local izada a maiorparte das 1.286 indústrias do muni-cípio. Ali, não há sinais de trânsito,os ônibus têm destinos certos enunca param em pontos, e o únicoespaço de convivência é a van deElisângela Viana, que às 5h30m jáestá parada na porta das fábricascom suas esfihas e coxinhas de ga-linha, acompanhadas de café e re-fresco. O primeiro horário de picoé a troca de turnos nas fábricas,que acontece entre as 5h30 e as 7h.É ali que os trabalhadores param,para descansar e seguir para casa,ou tomar um café antes de encarara rotina da fábrica.

João — pseudônimo de um funcioná-rio da Parmalat, que não quis se iden-tificar — é um dos que só têm tempo deengolir o café, para não perder o ônibusfretado pela empresa de volta para casa.Com olheiras bem marcadas, ele esperaao lado do ônibus. O turno dele começaàs 21h e acaba às 6h15m. Em vez de ho-rário de almoço, tem direito a intervalosde 15 minutos, de três em três horas.Naquele dia, produziu 23 mil biscoitosao leite, e, em vez de ir ao banheiro, deuuma cochilada de 15 minutos, para vol-tar depois à linha de produção.

— É como se fosse um bolo. Colocoum pouquinho de cada ingrediente, e amáquina mistura. Se é cansativo? Quemtem filho para sustentar não pode se can-sar. Quero fazer um curso de torneiromecânico, para mudar de vida. Aqui nãoposso piscar um minuto.

Funcionária da Sapore, empresa ter-cerizada que presta serviço de alimen-tação no refeitório da fábrica da Parma-lat, no distrito industrial, Luana, outropseudônimo, era uma das poucas tra-balhadoras que não têm direito a trans-porte pela empresa. Saiu às 6h e pega-ria ainda três ônibus para chegar aomunicípio de Várzea Paulista, onde mo-ra. Dentro da fábrica, tem na cozinhauma rotina mais puxada que a maioriados trabalhadores da linha de produ-ção. Trabalha de segunda a sexta, edois finais de semana por mês, por um

salário de R$ 700 e só consegue parardez minutos durante o expediente. Co-locou as mãos nas cadeiras dez vezesdurante a conversa, para descansar ascostas, onde sente dores. Mas tem ver-gonha de assumir o cansaço:

— Tenho que ser forte. Faço comida odia todo para 130 funcionários. Só de ar-roz são 12kg, sem contar feijão, carne eguarnição, além dos omeletes. Mas estouaqui, contando os minutos para chegarem casa, morrendo de fome. Não conse-gui parar para comer, não sentei, só fuiao banheiro uma vez — contou ela, con-fessando o que passa na cabeça nessas

horas: — Se tivesse tido oportunidadede estudar mais eu podia ser secretária.Ia me vestir bonita e atender telefone.Dentro da fábrica, não faz diferençaquem você é, não se tem muito valor.

Segundo a Sapore, que respondeu pore-mail, há 10 funcionários no restaurantecom carga horária de 9 horas, sendo oitode trabalho e uma de almoço.

Luana divide sonhos com muitos ou-tros operários do local. A maioria tem naponta da língua o que quer fazer quandosair dali, como o jovem William, de 20anos, funcionário da fabricante de peçasde plástico para automóveis Plascar.

— Quero fazer Medicina. Trabalho das22h30m às 5h30m para guardar dinheiroe, chegando em casa, ainda estudo —disse ele, que carrega uma mochila cheiade livros no caminho para casa, no mu-nicípio de Várzea Paulista.

Não são poucos também os operáriosque têm rotina dupla. É o caso de Osval-do Ferreira, de 62 anos, que trabalha nafábrica de celulares da Itautec, tambémdurante a madrugada, das 22h às 6h. Delá, ele pega três ônibus e segue para Ca-jamar, onde mora e presta serviços co-mo carpinteiro à prefeitura:

— Um dia ainda vou parar na indús-tria e ficar só como carpinteiro, fazendocoisas lindas. Mas, por enquanto, vale apena, ganho R$ 1.200 por mês.

Ele anda oito quilômetros por dia, per-correndo todos os cantos da fábrica daItautec para recolher os resíduos reciclá-veis e empilhá-los. Às 8h20m já está naprefeitura de Cajamar. Dorme três ho-ras.

Boa parte da população de Jundiaí, es-pecialmente os que têm graus de instru-ção mais baixos, já trabalhou em fábri-cas. Mas nem todos aguentam o ritmo.Suellen Cristina, de 17 anos, acabou sen-do demitida da fábrica da Profax, umadas empresas da Astra — fornecedorade materiais para construção civil — porter sido considerada lenta. Ela não con-seguia bater a meta de fabricação de 700espelhos por dia.

— Eram cinco minutos no máximo pa-ra os espelhos grandes. Tinha que colo-car o módulo na madeira, cortar com es-tilete, aparafusar. Doía o pé, dava umcansaço danado, mas o salário era bom.Eles contam por cada gaiola feita, já como espelho embalado.

Segundo a Astra, dona Profax, algu-mas áreas produtivas da empresa traba-lham 24 horas por dia, em três turnos(6h às 14h, 14h às 22h e 22h às 6h).

A rotatividade nas indústrias é, segun-do trabalhadores, grande. Quando al-guém não bate a meta por dois meses, aregra na maioria das fábricas é ser dis-pensado, ou ter a última chance em ou-tra função. Além disso, com aumento deempregos, é comum a rotatividade entreas indústrias. Estima-se que um terço dapopulação já trabalhou em indústrias.

Eram cinco minutos, no máximo,para os espelhos grandes. Tinha quecolocar o módulo de madeira, cortarcom estilete e aparafusarSulen, ex-funcionária Profax

Um dia vou parar na indústria eficar só como carpinteiro, fazendocoisas lindasOsvaldo Ferreira, Itautec

Fotos de Carlos Ivan

PLACAS INDICAM as fábricas do Distrito Industrial de Jundiaí, São Paulo

Page 10: Jundiaí - O Globo

Razão Social ● 19Terça-feira, 27 de março de 2012 ● O GLOBO

Nas fábricas, elas sãoasprotagonistas

NaFoxconnchinesa,contratopara reduzirsuicídios

Car

los

Ivan

Troca de turno defábricas em Jundiaí,às 5h30m

Em terras chinesas, as regras são ou-tras. Desde 2010, a Foxconn vem tentan-do lidar com suicídios coletivos de fun-cionários de suas fábricas, que empre-gam aproximadamente um milhão depessoas no país. A informação é da ONGEstudantes e Especialistas contrários àMá Conduta Empresarial — Sacom, siglaem inglês), sediada em Hong Kong, queacompanha os casos de perto e divulgourecentemente a inclusão de uma cláusulapolêmica nos novos contratos de traba-lho da empresa. Os novos funcionáriosassinam eximindo a empresa da culpapor “infortúnios não acidentais”.

Segundo a coordenadora da Sacom,Debby Chan, que acaba de voltar de umapesquisa de campo nas indústrias daFoxconn, feita em janeiro e fevereiro, acláusula é considerada ilegal:

— Eles praticamente são obrigados adizer que não vão cometer suicídio. Secometerem, de acordo com o contrato, afamília não pode reivindicar seguro daempresa. É um documento absurdo —contou, por telefone.

Trechos do contrato desvendadospela Sacom foram publicados pela re-vista Samuel, no início de março. O se-gundo item é bastante direto: “Se eu ti-ver dificuldades ou frustrações, procu-rarei meus familiares ou o diretor daempresa (...)”. E ainda: “Não farei malnem a mim nem aos outros; confirmoque posso ser mandado ao hospital ca-so venha a ter problemas físicos oumentais”. Em outro item do contrato,mais um compromisso: “Em caso de in-fortúnios não acidentais (entre osquais suicídio), confirmo que a empre-sa seguiu as leis e regulamentos e me

comprometo a não processá-la, a nãofazer exigências excessivas e não em-preender ações que possam prejudicara reputação da companhia.”

A Sacom foi fundada em 2005 e, desde2008, já fez cinco investigações sobre aFoxconn em três cidades chinesas: Shen-zhen, Chengdu e Zhengzhou. Mas a ins-tituição não foi impulsionada pelas atitu-des da Foxconn. A Sacom nasceu apósuma filial da Disneylândia ter sido insta-lada em Hong Kong. Foi quando um gru-po de estudantes e professores de uni-versidades se uniram para estudar a ca-deia produtiva de produtos, como bone-cos. Debby Chan se formou em CiênciasPolíticas e, aos 30 anos, é uma das prin-cipais figuras do movimento.

— Observamos as indústrias locais.

Dois anos atrás, as horas extras dos fun-cionários da Foxconn passavam de cempor mês. Já conseguimos que elas nãopassem de 60. Mas alguns trabalhadoressó têm duas folgas por mês e os salárioscontinuam baixos. As pessoas não têmvida social. Sempre descrevem que le-vantam, trabalham, trabalham, comem,jantam, deitam e voltam a trabalhar.

A realidade é diferente da brasileira.Debby Chan sequer sabia como funcio-navam sindicatos, já que eles são proi-bidos na China. Os funcionários traba-lham oito horas por dia, mas na maio-ria das cidades o turno vai das 8h às20h, já que as fábricas exigem duas ho-ras de pausa para almoço e duas dejanta. Somado a isso, há ainda o deslo-camento dos dormitórios às fábricas.

Os entrevistados pela Sacom relataramque sequer têm tempo de visitar as fa-mílias em outras cidades, mesmo noAno Novo Chinês. Segundo a legislaçãochinesa, eles têm cinco folgas por ano,o que se somaria a feriados como o anonovo e totalizaria 11 dias. Mas, com olançamento do novo Ipad, as unidadesda Apple estão exigindo mais horas ex-tras.

É o que salva, no entanto, em termossalariais. Um funcionário da linha de pro-dução da Foxconn na China recebe cercade US$ 285. No caso de Shenzhen, porexemplo, é próximo do salário mínimo,de US$ 237. E isso já representa melhora,já que, em 2010, os trabalhadores ganha-vam em torno de US$ 142.

Segundo a assessoria de imprensa daFoxconn Brasil, os contratos brasileirosforam adaptados à legislação local, e nãoincluem cláusulas como a relativa a sui-cídios. A dirigente sindical que atua naFoxconn em Jundiaí, Andréa Barbosa,confirmou a informação.

Outra ONG independente que estáinvestigando as condições de trabalhona Foxconn é a Fair Labor (FLA), daqual a própria Apple se tornou parceiraem fevereiro. A organização está visi-tando fábricas da Foxconn em diferen-tes locais e verificando se as condiçõesde trabalho estão de acordo com o có-digo de conduta da instituição. Por en-quanto, eles divulgaram pareceres fa-lando sobre a monotonia do dia a dia,que pode ter levado aos suicídios emmassa, mas não dão entrevistas en-quanto a investigação não estiver com-pleta. Os resultados serão divulgadosno site fairlabor.org. (C.N)

Leslie Chang: As garotas dafábrica; Intrínseca, 376 páginas

Mais fáceis de lidar que os homens emais esforçadas. Esses são os moti-vos de as mulheres serem maioria nasfábricas chinesas, segundo narrativada jornalista americana Leslie Chang,filha de pais chineses, que passoutrês anos no país para acompanharde perto a vida de moças que saem dezonas rurais do país, para tentar a vi-da em indústrias do país. Recheadode histórias de chinesas que passama vida em função das fábricas ondetrabalham, a obra expõe a fragilidade

do modelo econô-mico chinês, des-vendando rostosque existem portrás da aceleradaprodução de mer-cadorias, que temelevado o ProdutoI n t e r n o B r u t o

(PIB) do país. Dormitórios coletivoslotados e exploração da mão de obrapor excesso de trabalho e baixos sa-lários são só alguns dos elementosque fazem parte da denúncia, escritaem forma de romance. O livro foi elei-to um dos melhores livros pelo NewYork Times, em 2008.