Jung Vida e Obra

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JUNG VIDA E OBRA WALDEMAR MAGALDI FILHO IJEP/FACIS CARL GUSTAV JUNG "... A minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa aspira a tornar-se acontecimento e, a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade. A fim de descrever esse desenvolvimento, tal como se expressou em mim, não posso servir-me da linguagem científica; não posso me experimentar como um problema científico. O que se é mediante uma intuição interior e o que o homem parece ser expresso através de um mito. Este último é mais individual e exprime a vida mais exatamente do que o faz a ciência, que trabalha com noções médicas, genéricas demais para uma idéia justa da riqueza múltipla e subjetiva de uma vida individual...". 1 Esta frase nos mostra o quanto que, a obra e a vida de Jung são extremamente ecológicas, sem frases de efeito e sem invenções que atendam ao consumismo materialista da nossa condição pós-moderna; que tanto nos afasta da realidade, por impedir a plenitude da vida natural, buscando um modelo de perfeição que fragmenta o todo de maneira racional e, desta forma, unilateral. Por isso, sua obra não é um manual de definições nem um mapa que nos afasta da troca e da dinâmica singular que surge em todas as relações humanas. Suas produções são registros fiéis da sua vida e de suas experiências clínicas, tendo como base o processo empírico continuamente correlacionando aspectos teóricos e práticos. Desta forma, este universo teórico não pode ser partido sem que todo "ecossistema" se modifique, devendo ser visto e percebido por inteiro, e cronologicamente para não corrermos o risco de usarmos levianamente suas contribuições, ainda hoje muito ousadas, questionadoras e implicativas. Reconhecendo o homem de forma integral, do mais denso e físico ao mais sutil e espiritual. Mesmo assim, Jung continuamente tenta conceituar, sem se ocupar em chegar a definições absolutas, com coerência e muita consistência, atendendo, ainda hoje, a todas as necessidades do mundo moderno, inclusive das situações extremas e emergenciais. 1 JUNG, C. G. Memórias Sonhos e Reflexões pg. 19.

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CARL GUSTAV JUNG

"... A minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa aspira a tornar-se acontecimento e, a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade. A fim de descrever esse desenvolvimento, tal como se expressou em mim, não posso servir-me da linguagem científica; não posso me experimentar como um problema científico. O que se é mediante uma intuição interior e o que o homem parece ser expresso através de um mito. Este último é mais individual e exprime a vida mais exatamente do que o faz a ciência, que trabalha com noções médicas, genéricas demais para uma idéia justa da riqueza múltipla e subjetiva de uma vida individual...".1

Esta frase nos mostra o quanto que, a obra e a vida de Jung são extremamente ecológicas, sem frases de efeito e sem invenções que atendam ao consumismo materialista da nossa condição pós-moderna; que tanto nos afasta da realidade, por impedir a plenitude da vida natural, buscando um modelo de perfeição que fragmenta o todo de maneira racional e, desta forma, unilateral. Por isso, sua obra não é um manual de definições nem um mapa que nos afasta da troca e da dinâmica singular que surge em todas as relações humanas.

Suas produções são registros fiéis da sua vida e de suas experiências clínicas, tendo como base o processo empírico continuamente correlacionando aspectos teóricos e práticos. Desta forma, este universo teórico não pode ser partido sem que todo "ecossistema" se modifique, devendo ser visto e percebido por inteiro, e cronologicamente para não corrermos o risco de usarmos levianamente suas contribuições, ainda hoje muito ousadas, questionadoras e implicativas. Reconhecendo o homem de forma integral, do mais denso e físico ao mais sutil e espiritual. Mesmo assim, Jung continuamente tenta conceituar, sem se ocupar em chegar a definições absolutas, com coerência e muita consistência, atendendo, ainda hoje, a todas as necessidades do mundo moderno, inclusive das situações extremas e emergenciais.

1 JUNG, C. G. Memórias Sonhos e Reflexões pg. 19.

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Para Jung o processo de individuação2 vai contribuir para que tu te tornes aquilo que tu és. Porém, a persona3 científica, vestida com as roupas da arrogância

2 Individuação é o processo teleológico – a existência de uma lógica, com sentido e significado

existencial, que na maioria das vezes está inconsciente e distante da realidade cotidiana – que está imanente nas profundezas do inconsciente de todo ser humano. É a capacidade que todo indivíduo tem, por meio do caminho de diferenciação, separação e integração, sair da uniformidade rasa e alienante da normose coletiva em direção e uma busca simultânea de profundidade e expansão evolutiva. Esse processo começa com a disposição para o conhecimento de si mesmo, representado pelo eu ou ego pessoal, por meio da relação com o outro de si mesmo que, invariavelmente estará num tu exterior, até desembocar no eu – representado pelos aspectos sociais e culturais. Só assim poderá acontecer a verdadeira diferenciação e integração consciente rumo ao grande abraço integral que é a meta do processo de individuação, onde cada ser humano poderá valorizar a sua singularidade na pluralidade e diversidade, reconhecendo simultaneamente o Todo nas partes e as partes no Todo. Compreendendo que ser diferente não é sinônimo de ser desigual. Só assim poderá alcançar a condição ideal da felicidade, advinda de sentimentos egocêntricos e altruístas. Ou seja, o egocentrismo necessário para manter os sentimentos de boa auto-estima, segurança e fé e o altruísmo para poder servir a humanidade, porque o inseguro acaba sendo egoísta e dependente de coisas externas que são facilmente perdidas, tomadas e finitas, gerando mais medo e insegurança. Desta forma, quem está comprometido com o processo de individuação sempre terá mais consciência da sua presença, do seu trajeto e do seu entorno relacional, com mais poder na sua ambiência, protegido do contágio nocivo que ela pode fazer e até interferindo positivamente nela! Por isso, atualmente, meu maior objetivo é o de fazer com que as pessoas, sejam elas quem forem e aonde estiverem, saiam da inércia e da atitude do escravo, que trabalha apenas pelo chicote ou pela necessidade de ganhar dinheiro para garantir sua sobrevivência, acumular bens ou desfrutar dos efêmeros prazeres carnais, pois acredito e sei, da existência do processo de individuação e a função transcendente, que todo ser humano é uma pedra bruta que precisa ser polida para deixar que a luz de seu espírito interior possa brilhar e orientar o seu caminho exterior que, inevitavelmente, será o de servir à própria humanidade.

3 O termo “persona” significa na abordagem da psicologia junguiana, os aspectos do “eu” que

apresentamos ao mundo exterior. É a máscara social e ideal de nós mesmos. É um arquétipo funcional que é extremamente necessário, em função das necessidades adaptativas. Jung (1984, Vol. VII/2: § 245) amplia o termo: “Ela é, como o nome indica, apenas a máscara da psique coletiva, uma máscara que „finge individualidade‟, fazendo com que nós e os outros acreditemos que somos indivíduos, embora estejamos, simplesmente, desempenhando um papel através do qual a psique coletiva se exprime (...). Quando analisamos a persona, despimos a máscara e descobrimos que aquilo que parecia ser individual é, no fundo, coletivo; em outras palavras, que a persona era apenas uma máscara da psique coletiva. Fundamentalmente a persona nada tem de real: não passa de um acordo entre o indivíduo e a sociedade sobre aquilo que um homem deveria parecer ser. Ele adota um nome, ganha um título, desempenha uma função, é isto ou aquilo. Em certo sentido, tudo isto é real; contudo, em relação à individualidade essencial de uma determinada pessoa, é apenas uma realidade secundária, uma formação de compromisso, fato nos quais as demais pessoas muitas vezes têm uma parte maior do que a própria pessoa”.

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do saber, nos afasta deste processo, projetando uma enorme sombra4, que se expressa através do capitalismo selvagem. Estimulando a negação do si mesmo, que nos induz ao consumo desenfreado, preocupando-nos, muito mais, com a quantidade acumulada de bens, do que com a qualidade potencial de vida. Com isso, acabamos substituindo a beleza da natureza, que é dinâmica, viva, assimétrica e diversificada, pela busca de um padrão de perfeição, que só a tecnologia da imagem possibilita, criando assim um novo reino que podemos chamar de reino virtual ou do simulacro. Mas, neste reino, nada é vivo só é esteticamente perfeito, plástico e impermeável, por negar o sentido da ética e do humano, advindo das trocas e dos vínculos.

O que Jung busca, com o conceito de individuação não é a perfeição, mas a realização do ser e a sua plenitude, permitindo o reconhecimento das antinomias e da sombra, que fazem parte da natureza humana, contribuindo para que a vida se torne mais harmoniosa. Por isso Jung tem demonstrado, ao longo de sua obra, o quanto que é humanista, não essencialista e determinista, sempre acreditando no potencial da criatividade humana e no caráter compensatório e auto-regulador do Self. Com isso, ele é um empirista, não dogmático, mas extremamente coerente e fiel com seus princípios, idéias, paradigmas e doxas.

Jung, apesar de trabalhar com os aspectos retrospectivos e causais do passado, volta seu pensamento na direção prospectiva sintética, buscando o sentido

4 Sombra significa os aspectos ocultos e inconscientes do si mesmo, são conteúdos reprimidos,

negados ou jamais reconhecidos pelo ego, que é o representante da consciência. Na sombra encontramos além dos conteúdos dos quais não nos orgulhamos, fantasias, ressentimentos, potencialidades, instintos, habilidades e qualidades. Desta forma, o confronto com a sombra, permite um alargamento da consciência, um acordo com o outro de nós mesmos, uma vida mais saudável e harmoniosa. Em 1945, Jung deu uma definição mais direta e clara da sombra: "a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser" (1987 Vol. XVI/2: §470). Com isso, a sombra não é dotada de juízo de valor, maniqueísmos ou posições absolutas de boa ou ruim, bem ou mal, pois ela é apenas o contraponto compensatório da consciência do ego, ou seja, da consciência que o indivíduo tem de si mesmo. Nesta gravura podemos inferir que a sombra do suicida se agarra à vida, apesar disso não podemos dizer se ela é boa ou má, pois até o ato suicida é relativo e muitas vezes necessário e importante para o processo de individuação ou salvação.

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e o significado das manifestações humanas. Sendo assim, ele é muito mais finalista do que os mecanicistas que procuram causas passadas para explicarem os sintomas, iludidos no pseudo "poder" de explicarem tudo, muitas vezes sem compreenderem nada da realidade humana. Por isso, Jung sempre valorizou a força do diálogo, advindo da arte da hermenêutica, deixando de ser apenas um hábil ouvinte, como os psicanalistas, porque convidava seus clientes para serem parceiros ativos em todo o processo terapêutico.

Conhecer a obra juguiana, de forma inteira e profunda, permite perceber que se trata de uma produção extremamente atual e viável, não sendo necessário buscar nada "novo" para substituí-la, apenas complementá-la com os avanços advindos da própria experiência dos analistas. Além disso, muitas contribuições científicas da atualidade acabaram dando respaldo teórico para várias intuições precoces e visionárias de Jung, como o conceito de sincronicidade, que pode ser fundamentado nos subsídios da mecânica quântica, e nas teorias de campo morfogenético, dos fractais e do caos. Mas, infelizmente, como existem muitos "junguianos" que não conhecem bem o "velho", mas precisam de resultados imediatos em suas práticas diárias, ao invés de reverenciarem-se ao mestre, percebendo quanto ainda existe para aprender, buscam informações superficiais, imediatistas ou mágicas, denegrindo e distorcendo sua obra que é eficaz, coerente e ecológica.

Jung sabia que, em todas as pessoas, existem mecanismos criativos contribuindo para que as transformações aconteçam, chamando essa capacidade psíquica de função transcendente. Afirmando que os seres humanos têm cinco instintos básicos:

1- Fome, para garantir a sobrevivência.

2- Labor, para dar proteção e possibilitar o crescimento.

3- Sexualidade, permitindo a transmissão do estoque genético para a perpetuação da espécie.

4- Reflexão, gerador de angústia ao exigir contínua atitude de indagação sobre tudo e todos, inclusive sobre nós mesmos.

5- Criatividade, estimulando a busca da superação e a transformação frente à angústia existencial, responsável por toda produção científica, artística e religiosa da humanidade.

Justificando assim, o porquê ninguém consegue ficar satisfeito com uma atitude simplista de manutenção da vida, apenas esperando a morte chegar. Porque, em função destes instintos, buscamos novos desafios e, inevitavelmente e conseqüentemente, nos deparamos com adversidades e crises, que possibilitam nosso crescimento evolutivo, apesar de que:

“... O segredo do mistério criador, assim como o do livre-arbítrio, é um problema transcendente e não compete à psicologia respondê-lo. Ela pode

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apenas descrevê-lo. Do mesmo modo, o homem criador também constitui um enigma, cuja solução pode ser proposta de várias maneiras, mas sempre em vão” 5.

Nesta frase, fica comprovado o quanto que o pensamento de Jung é coerente, primeiro, por aceitar a criatividade humana, demonstrando que não existe um determinismo, sendo assim um humanista. Depois, ao citar a possibilidade de termos vontades livres, conferindo valor aos impulsos e movimentos que estão a serviço dos desejos do si mesmo (Self). Além disso, ao afirmar sua incapacidade de responder, dentro do método reducionista mecânico, apesar de empiricamente poder vivenciar e descrever os fenômenos criativos e a vontade, demonstrando aceitar acontecimentos transcendentes e a ocorrência de mistérios no caminho evolutivo da existência humana. Com este posicionamento Jung diverge do essencialismo aristotélico e do cientificismo baseado em evidencias comprováveis e reproduzíveis em laboratórios.

Através de suas constatações empíricas, Jung adquiriu a certeza e o conhecimento de que existe um sentido maior para a vida. Algo mais que nos remete para as antinomias, os opostos, e que permite o surgimento da transcendência, do calor angustiante que alimenta a alma e do sagrado. Por isso Jung gera controvérsias, perguntas como: É um místico ou um cientista? Um psicótico que delira com suas visões ou um pesquisador da alma? Um embusteiro que transforma as coisas "ruins" em experiências, criando filosofia e psicologia com a intenção de ajudar?

Vale lembrar que Jung afirmava que os mitos e as manifestações psicóticas se desenvolvem da mesma forma, ou seja, através de processos inconscientes. Jung não era louco, pois valoriza o ego6, que é, simultaneamente, o centro e a periferia da consciência, afirmando que quanto mais forte o ego estiver mais potencialidade e possibilidade o indivíduo terá para se desenvolver e crescer criativamente, livre das imposições normóticas, puramente adaptativas, mesmo que numa sociedade extremamente doente.

Para Jung, o ego, administrador da consciência, é muito importante. Sem ele não pode haver crescimento do si mesmo (Self), a discriminação dos opostos e o processo de individuação. Um ego fraco, inevitavelmente, irá projetar os conteúdos sombrios do inconsciente, gerando as neuroses, as doenças e as paralisias, pois não poderá dar significado simbólico aos desafios que vão surgindo no transcorrer da vida. Desta forma, quanto mais for desenvolvido o psiquismo, possuindo um ego estruturante, e não desestruturado ou estruturado e rígido, mais dinâmica e plena

5 JUNG, C. G. O Espírito na Arte e na Ciência par. 155.

6 O termo “Ego” é o resultado de um complexo que, por sua vez é formado por um conjunto de

arquétipos, representando o centro organizador da consciência. O ego é uma diferenciação do si mesmo que, ao longo da vida, precisa se confrontar com ele para permitir a realização da alma. Um ego saudável é flexível e lida simbolicamente com os conteúdos desconhecidos que surgem no transcorrer da vida. Um ego patológico fica inflexível e nega, neuroticamente, os conteúdos do inconsciente, tornando-se impermeável e incapaz de trocar.

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será a personalidade.

Jung, mesmo desprendido do rigor cartesiano concreto, era um grande pesquisador, sem jamais abandonar o respeito pela ciência e pela alma humana, lembrando que as idéias de consciente e de inconsciente nasceram juntas. Onde a consciência pensa e percebe o inconsciente, mas sem ele não existiria. Com isso, não pode haver hierarquia entre as partes que são apenas a divisão de um todo. Em função desta idéia, valorizamos a relação das partes. Uma depende da outra. Se uma não se realizar a outra também não se realizará, apesar de que é o ego o responsável pela consecução do processo de individuação.

Dentre as várias contribuições inovadoras introduzidas por C. G. Jung para compreendermos e aliviarmos a angústia e curarmos as doenças, físicas e ou psíquicas, que afligem os seres humanos, provocando repercussões sociais, culturais, familiares, profissionais, religiosas e econômicas temos:

O processo de individuação (1), como uma realidade teleológica7 (2) inconsciente que direciona o ego a se dedicar no sentido de propiciar a evolução da psique ou alma. Porém, para que isso possa acontecer a consciência egóica tem que se libertar da identificação corporal, do fascínio com a persona ou da possessão dos complexos, que paralisam, dominam e impedem que a percepção da totalidade aconteça. Com isso, o processo de individuação deixa de acontecer e o indivíduo passa a viver uma vida alienada do si mesmo, sem sentido e significado, mantendo-se enredado numa rotina automatizada e repetitiva voltada apenas para a biossobrevivência e para o alívio dos medos e da angustia ou reparação da mágoa e da culpa. Porém, como o Self, ou o si mesmo, tem como meta o objetivo de fazer com que o ego contribua com o processo evolutivo da psique, ele tentará criar condições para que aconteça algum fenômeno “arrebatador” que possibilite ou provoque a mudança do estado de consciência egóica, no sentido do processo de individuação. Ou, em outras palavras, irá provocar situações críticas fazendo com que o ego passe a ser submisso (no sentido de estar missionário) com a necessidade evolutiva da alma, ou psique, que aspira realização.

Neste sentido, os fenômenos que surgem para possibilitar a mudança do estado de consciência, para que o indivíduo integral possa mudar seu estágio evolutivo são:

A sincronicidade (3), advinda da inter-relação do inconsciente pessoal e coletivo com o ego, representada por coincidências significativas, sem correlação de tempo e espaço, que sempre nos remetem para a possibilidade da integração dos opostos por meio do surgimento dos símbolos (4),

7 No dicionário Houaiss temos: Teleologia – 1) qualquer doutrina que identifica a presença de metas, fins ou objetivos últimos guiando a natureza e a

humanidade, considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização e nas transformações de todos os seres da realidade;

aproxima-se dos conceitos de teleologismo e finalismo. 2) doutrina inerente ao aristotelismo e a seus desdobramentos, fundamentada na idéia de que tanto

os múltiplos seres existentes, quanto o universo como um todo direcionam-se em última instância a uma finalidade que, por transcender a realidade material,

é inalcançável de maneira plena ou permanente. 3) teoria característica do hegelianismo e seus epígonos, segundo a qual o processo histórico da

humanidade - assim como o movimento de cada realidade particular - é explicável como um trajeto em direção a uma finalidade que, em última instância, é a

realização plena e exeqüível do espírito humano.

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transdutores energéticos que são capazes de ativar a função transcendente (5).

Os sonhos (6), pois para Jung eles também são manifestações conscientes advindas do inconsciente, pessoal e coletivo, atemporais e acausais, igualmente repletos de conteúdos simbólicos, ao trazerem os dinamismos arquetípicos, e suas respectivas imagens, que possibilitam ampliação e mudança do estado de consciência.

Todos os tipos e formas de crises geradoras de sintomas físicos, relacionais ou psíquicos, individuais ou coletivos, que nos remetem para a bipolaridade (7), ou pares de opostos (antinomias), igualmente com forte carga simbólica e possibilidades de transformações criativas e evolutivas rumo ao processo de individuação. Porque possibilitam o reconhecimento da existência dos complexos (8), incluindo o do ego, da realidade exterior dotada de materialidade, da alma e do espírito (soma, psique e pneuma – corpo, alma e espírito). Reconhecer os complexos, por sua vez, possibilita que o ego compreenda toda a dimensão arquetípica (9) presente no inconsciente coletivo, com suas respectivas imagens advindas da consciência e do inconsciente pessoal, incluindo as imagens dos arquétipos da sombra e da anima ou animus.

Todas as produções criativas expressas na forma de arte, ciência, religião ou produção tecnológica. Apesar de que, na maioria das vezes, a produção artística transcende o artista que, muitas vezes, não consegue beneficiar-se da sua criação, entregando-se conscientemente ao processo de individuação, livrando-se da supremacia dos complexos e de sua identificação egóica com a persona (principalmente quando fica famoso) e de sua experiência corporal, a qual encanta por possibilitar sensações prazerosas imediatas, apesar de ser finita e, por isso mesmo, assustadora.

Além disso, também temos as contribuições da teoria dos tipos e funções psíquicas (10), que nos permitem compreender as várias formas de personalidades atuantes na humanidade, fazendo julgamentos e assumindo comportamentos distintos, interferindo diretamente nas produções criativas, advindas da necessidade de adaptação (11), e nos mecanismos compensatórios (12) presentes em todos os seres humanos. Estas são as razões que me fazem acreditar que esses conceitos são importantes avanços que contribuíram, e ainda contribuem, para a evolução da consciência humana, por meio do autoconhecimento!

Neste sentido, para mim, esses catorze conceitos teóricos que sustentam a obra de Jung, transformando as demais idéias trabalhadas por ele como meros desdobramentos. Desta forma, esse conhecimento é uma excelente base para compreendermos o surgimento dos sintomas e de todos os fenômenos provocadores de crises, mudança do estado de consciência e tentativa de conduzir o ego para engajar-se conscientemente ao processo de individuação, único meio para a verdadeira cura da humanidade. Por isso listo-os novamente abaixo:

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1- Individuação

2- Teleologia ou finalidade

3- Sincronicidade

4- Símbolos

5- Função transcendente

6- Sonhos

7- Bipolaridade, antinomia ou pares de opostos

8- Complexos

9- Arquétipos

10-Tipos e funções psíquicas

11-Adaptação

12-Compensação

13-Mandala

14-Imaginação ativa

Sendo que os meios que o Self possui para que o ego possa sair da sua condição inercial de automatismo, repetição, anestesia, negação ou repressão do Self e da alma são:

SINCRONICIDADE

SONHOS

CRIATIVIDADE

ARTE

CIÊNCIA

MITOS/RELIGIÕES

PRODUÇÕES INTELECTUAIS OU TECNOLÓGICAS

SINTOMAS

FÍSICOS

PSÍQUICOS

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Por isso necessitamos ferramentas para lidarmos com essas produções que tem o mesmo objetivo que é o de provocar mudanças tanto na atitude quanto nas crenças e desejos do ego, fazendo que ele estabeleça uma relação saudável com o Self e passe a se comprometer com a necessidade evolutiva da alma ou psique, equivalente ao processo de individuação, muito parecido com os caminhos de iluminação ou de salvação.

Neste sentido, ainda a meu ver, no século XX, além de Carl Gustav Jung, também temos mais três pensadores ocidentais: George Ivanovich Gurdjieff, Rudolf Steiner e Teilhard de Chardin, enquanto que no oriente: Paramahansa Yogananda, Sri Aurobindo, Jiddu Krishnamurti e Daisetz Teitaro Suzuki, cada um com suas terminologias e construções teóricas, acabaram desembocando em caminhos muito semelhantes, ao afirmarem que o autoconhecimento é a base para que o indivíduo atinja a plenitude do seu ser, com realização existencial. Ou seja, o autoconhecimento faz com que as pessoas se tornem mais seguras, simultaneamente auto-centradas ou ego-centradas e altruístas, podendo servir a humanidade como um todo. O interessante é que esse conceito já era defendido por Hipócrates (460 – 377 a.C. - Grécia), o pai da medicina, que em seu aforismo afirmava: “Homem conheça-te a ti mesmo, e só então poderás conhecer os deuses e, conseqüentemente, o deus que habita em ti”.

Para Jung existe uma espécie de gênio ou daimon no íntimo de cada um de nós. Mas, infelizmente, para a maioria das pessoas, esse guia interior não está acessível, nos deixando muito “perdidos” para o “chamado” da nossa vocação, equivalente à realização do mais alto fim existencial. Essa idéia foi utilizada por Samuel Hahneman, idealizador da homeopatia, ao comentar que toda doença nada mais é do que o desvio equivocado desse chamado ou meta existencial. Neste sentido, a doença é a possibilidade que o indivíduo tem de parar e repensar a própria vida. Por isso, os princípios de Jung convergem com os da homeopatia.

Carl Gustav Jung nasceu a 26 de Julho de 1875, em Kesswil, aldeia no cantão da Turcóvia, Suíça. Seu pai, Paul Achiles Jung, exercia a função de pastor protestante. Aos quatro anos foi transferido para Klein nos arredores da Basiléia, local onde fez todos os seus estudos, inclusive o curso de medicina. Este local, na época, era um dos maiores centros culturais da Europa. Seu avô C. G. Jung foi o grande reformador da Faculdade de Medicina da Basiléia e dizia ser filho ilegítimo de Goethe, o autor do Fausto, porém nada ficou provado, apesar de que Jung demonstrava prazer nesta possibilidade.

Jung foi filho único por nove anos, brigava muito com seu pai, devido a conflitos teológicos. Tinha uma relação extremamente afetiva com sua mãe. Ele herdou de seus avos paternos conhecimentos fabulosos, pois seu avô era reitor da Universidade de Basiléia além de Grão mestre da loja Suíça de francos-mações, casado com Sophie Frey, filha do prefeito de Basiléia e 18 anos mais jovem que ele. Seu pai, Paul Jung, era reverendo protestante, doutorado em línguas orientais, além de ser poliglota e líder maçom. Sua mãe, Emilie Jung-Priswerk, filha de pastor, muito enérgica e muito dinâmica, apesar de extremamente calma, era ligada ao ocultismo espiritualista além de ser muito inteligente.

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O próprio Jung conta que a atmosfera do seu lar era "irrespirável". Porque seu pai tinha um humor melancólico, frustrando-se após terminar a versão Árabe do Cântico dos Cânticos, como tese doutoral, e ter de se decidir pela carreira de pastor em uma cidadezinha rural. Para Jung, seu pai sofria de uma crise espiritual, sacrificando o intelecto na vã esperança de dar um apoio a sua piedade vacilante. Nesta época, a saúde de Jung era delicada. Fato posteriormente relacionado aos aborrecimentos domésticos.

Desde pequeno sempre se sentiu dividido em duas personalidades8. A número um, de um menino solitário, introvertido, que sentia uma enorme ansiedade por não se adaptar ao ambiente familiar e as idéias vigentes. A número dois, de um ser muito velho e muito sábio, digno de todo respeito. Esta divisão perdurou por muitos anos. Também percebeu esta divisão em sua mãe. Onde, geralmente, agia como uma mulher extremamente boa, de um enorme calor animal, corpulenta, simpática, com grandes dons literários, bom gosto, profundidade e afeita ao diálogo. Porém, repentinamente surgia uma personalidade inconsciente e de um poder imprevisto, com um aspecto sombrio, imponente, dotada de autoridade e intangível. Desta forma, Jung conclui que sua mãe também possuía duas personalidades uma humana e outra, pelo contrário, temível. Quanto a seu pai, nunca conseguiu se comunicar profundamente com ele. Percebia que suas perguntas o entristeciam, vendo-o como um homem solitário e ressentido.

Muito cedo, ainda criança, Jung entrou em contato com o mundo onírico. Com apenas quatro anos teve o seu primeiro grande sonho e, a partir deste, a cada grande sonho guardava sentimentos e imagens que iriam marcá-lo profundamente. Desde muito jovem demonstrou um caráter contestador, com muitos pensamentos e uma enorme capacidade para a reflexão. Relata que, por volta dos nove anos, na solidão de filho único, até então, desenvolvia este tipo de brincadeira:

“... Em frente desta parede havia uma encosta na qual ficava cravada uma pedra um pouco saliente - minha pedra. Às vezes, quando estava só, sentava-me nela e então começava um jogo de pensamentos que seguia mais ou menos este curso: „Eu estou sentado nesta pedra. Eu, em cima, ela embaixo‟. Mas a pedra também poderia dizer „Eu‟ e pensar: „Eu estou aqui, neste declive e ele está sentado em cima de mim‟. – surgia então a pergunta: „Sou aquele que está sentado na pedra, ou sou a pedra na qual ele está sentado‟? – Esta pergunta sempre me perturbava: eu me erguia, duvidava de mim mesmo, meditando a cerca de „quem seria o quê‟? Isto não esclarecia e minha incerteza era acompanhada pelo sentido de uma obscuridade estranha e fascinante. O fato indubitável era que essa pedra tinha uma singular relação comigo. Eu podia ficar sentado nela horas inteiras, enfeitiçado pelo enigma que ela me propunha” 9.

Jung relata que, aos 12 anos de idade, após um incidente, em que levou um

8 JUNG, C. G, Memórias Sonhos e Reflexões, Pg. 32.

9 Ibíd. Pg. 32.

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soco de outro menino e ficou atordoado, começou a sofrer uma síncope toda vez que tentava lidar com as coisas da escola. Ficou em uma atitude de isolamento e total subversão frente ao mundo e à vida. Percebia-se como um rapaz tímido, ansioso, desconfiado, pálido, magro e de uma saúde aparentemente instável, com freqüentes desmaios, ficando envolto e inebriado com as suas inquietantes reflexões.

Seus pais o levaram a vários médicos. Nada mudou até certo dia que Jung escutou seu pai conversando com um amigo. Ele comentava que os médicos ignoravam o que seu filho tinha e o que mais temia era a possibilidade de ser algo incurável. Questionava: o que será de meu filho? Será que ele terá capacidade de ganhar a vida? Neste momento, Jung entrou em contato com a realidade: teria de ganhar o seu sustento, um dia. A partir desse momento foi para o escritório do pai e procurou concentrar-se nos livros. Primeiramente conseguiu dez minutos e sofreu um desmaio, depois quinze... E mais trinta... E mais trinta... Até que não sobreveio mais nenhum desmaio. Assim, livrou-se de seu estado mórbido, passou a dedicar-se, diariamente, em várias horas de leitura e estudos na biblioteca de seu pai. Lia tudo o que encontrava: literatura, filosofia, história das religiões, etc. Tornou-se então mais seguro, sentindo um grande apetite sob todos os aspectos.

Jung percorreu autores dos séculos XVII até o séc. XX. Seu pensamento permeia todos esses conceitos. Sua metodologia está livre da produção ficcional de conceitos do neoliberalismo contemporâneo. Este, só serve ao interesse da indústria da cultura que superficializa e banaliza os pensamentos. A super valorização do novo nos desvia da filosofia perene, da realidade e do presente. Por isso, Jung, sempre propôs uma revolução científica, incentivando a interdisciplinaridade, por perceber que as soluções dos problemas se encontram, geralmente, não no cerne daquela ciência, mas nas ciências afins. Só com a mudança do estado de consciência é que podemos superar os problemas.

Aos 16 anos Jung começou os grandes estudos, onde percebeu que seu dilema ia se dissipando lentamente, entrou em contato com a escolástica cristã, o intelectualismo Aristotélico de São Tomás, a filosofia de Shopenhauer onde, pela primeira vez, ouviu falar dos sofrimentos do mundo de uma maneira que aquietava seus pensamentos. Esta evolução filosófica prolongou-se praticamente até o final de sua vida, principalmente quando entrou em contato com a obra de Kant e Nietzche.

Em 1900 obtém o título de médico, cuja carreira evoluiu rapidamente. Sua tese de doutoramento foi sobre fenômenos paranormais. Em 1902, já formado em medicina e atuando como psiquiatra, apresenta uma tese de doutoramento: Sobre a Psicologia e Patologia dos Denominados Fenômenos Ocultos. Em 1903 passa a ser o primeiro assistente em Burgholzli, Manicômio Cantonal e Clínica Psiquiátrica da Universidade de Zurique, neste mesmo ano casa-se com Emma Rauschenbach, com quem teve cinco filhos. Fez vários estudos sobre a demência precoce chamada, atualmente, de esquizofrenia. Trabalhou com associações verbais normais e patológicas, o que originou o teste de associação de palavras e lhe conferiu o título de cidadão “honor is causas” da Basiléia. Posteriormente, Freud adaptou esse estudo para associação livre e Jung desenvolveu a teoria dos complexos, que possuem núcleos afetivos e podem tomar a consciência de assalto.

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Em 1906 estuda as obras de Freud e, no ano seguinte encontrou-se, com ele, em Viena. Neste primeiro encontro ficaram conversando ininterruptamente por 14 horas. Mas, desde o início, ficou clara a divergência de idéias que existia entre eles. Entre alguns conflitos podemos citar: Libido Sexual X Energia Psíquica; Religião X Razão; Inconsciente, como subproduto da consciência X Consciência, como evolução do inconsciente; Adaptação X Individuação. Mesmo assim, Jung foi nomeado o 1o Presidente da Sociedade Psicanalítica. Freud e Jung tiveram um intenso relacionamento, por apenas seis anos (1907 a 1913). Ficando evidente que suas bases filosóficas e religiosas eram totalmente antagônicas. Por isso, é um grande engano colocar Jung como aluno de Freud, porque o próprio Freud o situava como um parceiro respeitado e muito valioso, pois deu sustentação teórica a muitas de suas idéias.

A grande ruptura entre os dois autores se deu em função do lançamento do

livro de Jung: Símbolos da Transformação da Libido, no qual Jung se distancia

definitivamente do conceito freudiano de libido, como uma pulsão exclusivamente de

caráter sexual. Para Jung, a libido, ou energia psíquica, se manifesta em várias

instâncias do humano, indo do mais denso ao mais sutil, ou seja, do corpo à

espiritualidade. Além disso, Freud via o mito no mesmo complexo nuclear da

neurose e Jung, ao contrário, como funções sadias e positivas da psique, sem se

ligarem, necessariamente, a impulsos sexuais ou neuróticos. Por isso, Freud

afirmava que os símbolos são restos reprimidos do passado e Jung que eles são os

grandes transformadores ou transdutores da energia psíquica, contribuindo com a

capacidade criativa e curativa do homem.

Para Freud, o sentido da vida é a aquisição de conhecimento em busca da

perfeição. Para Jung, é a realização do si mesmo, que traz um sentimento de

plenitude, que leva à transcendência, apesar das diferenças, assimetrias e

imperfeições humanas. Por isso, Freud via a religião como resultante do complexo

de Édipo, paterno ou materno, produzindo a sublimação do instinto sexual. Desta

forma, a razão poderia afastar totalmente o sagrado10. Enquanto que Jung via a

religião como um fenômeno universal, inerente à psique, equivalente a grandes

10 Isso fica muito claro neste excerto: “... seu anseio por um pai constitui um motivo idêntico à sua

necessidade de proteção contra as conseqüências de sua debilidade humana. É a defesa contra o desamparo infantil que empresta suas feições características à reação do adulto ao desamparo que ele tem de reconhecer – reação que é, exatamente, a formação da religião”. (FREUD, S. O Futuro de uma Ilusão O Mal-Estar na Civilização, PG. 36).

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sistemas psicoterapêuticos, por favorecem a religação com o arquétipo11 central, ou

si mesmo.

Freud não aceitou as categorias junguianas de inconsciente coletivo,

arquétipos, função transcendente, sincronicidade, capacidade simbólica e criativa da

psique, entre outras. Porque Jung tinha um enfoque muito mais voltado para o

pensamento prospectivo sintético, sem desconsiderar o conhecimento redutivo

causal, que era à base da análise de Freud, que pesquisava apenas a origem do

trauma. Além disso, Freud era um homem sem laços com a história, julgando-se

inventor de conceitos. E, apesar de possuir inteligência extrema, negava o

conhecimento filosófico, preferindo ficar só, na sua ilha, para não correr o risco de se

"contaminar" com outros pensamentos e ter a certeza de que toda produção era de

sua lavra. Sempre com o intuito de impor, sob a forma de dogmas, sua teoria,

desconsiderando a antropologia, sociologia, história, religiões e todo pensamento

holístico e integral, pois nunca abandonou sua origem de neurocientista.

11 O conceito de “Arquétipo” significa o repositório de consciência coletiva que está presente em cada

pessoa, e do qual se diz que é o arquivo dos vestígios de memória de todas as experiências passadas, tanto de si mesmo quanto de outras pessoas. Com isso, ele é transpessoal abarcando todos os seres sencientes. Jung (1984 VIII/2: §415) amplia: “Psicologicamente... o arquétipo, como uma imagem do instinto, é uma meta espiritual em direção à qual tente toda a natureza do homem; ele é o oceano ao qual se encaminham todos os rios, o prêmio que o herói arrebata na luta contra o dragão”. Concluímos que os arquétipos são potencialidades psíquicas herdadas que se manifestam por meio de imagens. Pertencem ao inconsciente coletivo, representam as memórias ancestrais vivenciadas e registradas ao longo da evolução humana. Por isso, são universais e atuantes ao longo de nossa existência. Os arquétipos são contextos universais representados por continentes temáticos e as imagens arquetípicas os conteúdos advindos das experiências existenciais que preenchem esses continentes que por sua vez são oriundas tanto do inconsciente coletivo quanto do inconsciente pessoal e das experiências conscientes de cada ser humano.

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Jung, ao descrever a Freud um sonho12 que havia tido, sobre uma casa com escadas em caracol em que ele descia para ambientes e épocas cada vez mais antigas, até chegar numa caverna com ossos, constatou que suas diferenças com Freud ficaram muito mais evidentes. A interpretação feita por Freud contribuiu, significativamente, para que a separação acontecesse. Mas, posteriormente, este mesmo sonho, lhe possibilitou o entendimento da psique além de reativar seus interesses pela arqueologia, porque permitiu a formulação da teoria do inconsciente coletivo e o conceito dos arquétipos.

Em 1913 Jung começou a estudar tudo sobre a alquimia, o que lhe abriu um

campo extremamente fecundo e grande, acrescentando ao Inconsciente Pessoal a

idéia de Inconsciente Coletivo. Em 1920 escreveu os Tipos Psicológicos, onde

popularizou termos como a extroversão e a introversão. Sua paixão em conhecer a

alma humana não parou, chegou a conclusões que o levariam, cada vez mais, para

o pensamento oriental, para os mecanismos auto-reguladores do Self (homeostase

psíquica), saindo do pensamento linear e aproximando-se das ciências naturais e

empíricas, substituindo os estudos metódicos e laboratoriais pela observação direta

dos fatos reais (empirismo). Concluindo que a:

“A teoria representa, inegavelmente, o melhor escudo para proteger a

insuficiência experimental ou a ignorância. As conseqüências, porém, são

lamentáveis: mesquinhez, superficialidade e sectarismo científico... Então,

pretender rotular os germes polivalentes da criança com a terminologia tirada

do estágio de desenvolvimento pleno da sexualidade será, certamente,

empreendimento muito duvidoso. Este proceder levará a estender a

interpretação sexual a todas as outras disposições infantis; deste modo, o

12JUNG, C. G. Memória Sonhos e Reflexões, PG. 143.

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JUNG VIDA E OBRA – WALDEMAR MAGALDI FILHO IJEP/FACIS

conceito de sexualidade se tornará demasiadamente inflado e nebuloso,

enquanto que os fatores espirituais aparecerão apenas como meras

deformações do espírito” 13.

Em 1921 passou um grande período na África depois foi visitar os índios

pueblos no Arizona e Novo México. Volta à África, em 1926, para viver entre os

nativos das vertentes do monte Elgon, no Quênia. Visitou a Índia além de vários

países Europeus e os Estados Unidos. Em 1922 comprou um terreno em Bollingen,

e constrói uma casa de dois andares, que vai sendo reformada e arquitetada, ao

longo de sua vida, conforme as suas necessidades internas. Em sua torre de

Bollingen, Jung se sentia mais autenticamente ele mesmo, lá Jung dizia ser o filho

"arquivo" de sua mãe, o filho do inconsciente materno, o arquivelho que habitava seu

ser quando criança, o arquivo do inconsciente da humanidade. A casa de Bollingen

tomou sua forma definitiva em 1955, após vários estágios de transformações.

Quando Jung estava com 45 anos, bem envolvido com as questões da sua

metanóia, onde conclui:

"... tornou-se claro para mim que a meta do desenvolvimento psíquico é o si mesmo. A aproximação em direção a este não é linear, mas circular... Compreender isso me deu firmeza e progressividade, restabeleceu-se a paz interior. Atingira com a mandala, expressão do si mesmo, a descoberta última a que poderia chegar. Alguém poderá ir além eu não" 14.

A partir deste momento toda a sua vida se resumiu em elaborar tudo o que

surgira durante estes anos, suas vivências internas, estudos, pesquisas, viagens,

enfim, o sentido era dar forma ao conteúdo que habitava no seu íntimo. Foi ao

encontro com suas raízes históricas onde os estudos da alquimia foram decisivos.

Em 1928 é publicado o livro: Dialética do eu e do Inconsciente, e em 1929 em

colaboração com R. Wilhelm, o livro O Segredo da Flor de Ouro. Nesta época, Jung

já esta com 55 anos e em plena produção científica, suas obras vão surgindo: A

Energia da Alma; Psicologia e Religião, entre outros.

13 JUNG, C. G. O Desenvolvimento da Personalidade, PG. 10.

14 Ibíd. PG. 174.

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No início de 1944, próximo dos 69 anos, fratura um pé e logo depois tem um

enfarte. Durante a doença passou muito tempo acamado e teve vários sonhos e

visões que contribuíram para mais transformações em sua vida. Seu pensamento

fluía, Jung disse que após a doença ele estabeleceu uma relação de "sim",

incondicional ao que é, sem objeções subjetivas, aceitando as condições da

existência, como as via e compreendia, acolhendo tanto a simplicidade quanto a

complexidade do inconsciente, com a sombra e as manifestações da alma,

escrevendo:

“... Quando seguimos o caminho da individuação, quando vivemos nossa vida; é preciso também aceitar o erro, sem o qual a vida não será completa: nada nos garante – em nenhum instante – que não possamos cair em erro mortal. Pensamos talvez que haja um caminho seguro. Ora, esse seria o caminho dos mortos. Então nada mais acontece e em caso algum acontece o que é exato. Quem segue o caminho seguro está tão bem como quem está morto...” 15.

Jung afirma que a doença nos leva a fatos e que a psicoterapia, ao encontrar

o símbolo que é o bônus da doença, propicia o: conheça-te a ti mesmo, que

inevitavelmente trará o sentido e o significado existencial de cada indivíduo. Os

cristãos poderiam falar: reconhecer e carregar a sua própria cruz.

Em 1944 publica os livros Psicologia e Alquimia; e Resposta a Jó; em 1946, A

Psicologia da Transferência, em 1951 retoma a problemática de Cristo com o livro:

Aion, em busca do Simbolismo de si mesmo; em 1956 o livro: Mysterium

Conjunctionis. Com isso, Jung conclui que suas obras são estações de sua vida,

constituindo a expressão do seu desenvolvimento interior, e que sua vida é a sua

ação e seu trabalho é consagrado ao espírito, sendo impossível separar um do

outro.

Jung foi um viajante que se aprofundou num terreno insólito e aterrorizador,

que é o inconsciente e, apesar de ter passado pela primeira e segunda guerra

mundial, dedicou-se continuamente na elaboração das suas vivências internas e

suas experiências, com estudos pesquisas e viagens, para cumprir a missão a que

15 JUNG, C. G. Memória Sonhos e Reflexões, PG. 259.

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se sentia predestinado escrevendo:

“... Pressentira desde o início a singularidade do meu destino, o sentido da minha vida seria cumpri-lo. Isto me dava uma segurança interior que nunca pude provar a mim mesmo, mas que era provada. Não possuía esta certeza, mas ela me possuía... Ninguém conseguiu demover-me da certeza de que estava no mundo para fazer o que Deus queria e não o que eu queria..." 16.

E explica como inseriu o universo mítico em sua obra:

"... Ao descrever os processos vivos da psique, deliberada e

conscientemente dou preferência a um modo de pensar e de falar dramático e

mitológico, porque isso não só é mais expressivo como também mais exato do que

uma terminologia científica abstrata, que está acostumada a se entreter com a noção

de que suas formulações teóricas que poderão um belo dia ser determinadas por

equações algébricas..." 17.

Também tece uma crítica para a atitude racionalista do homem

contemporâneo, dizendo que ao negarmos o Sagrado e os deuses, passamos a ter

uma atitude unilateral onde cultuamos e adoramos, monoteístamente, apenas a

deusa razão, denunciando que:

"... O homem contemporâneo não consegue perceber que, apesar de toda sua racionalização e toda a sua eficiência, continua possuído por 'forças' além do seu controle. Seus deuses e demônios absolutamente não desaparecem; tem apenas novos nomes. E conservam-no em contato íntimo com a inquietude, apreensões vagas, complicações psicológicas, uma insaciável necessidade de pílulas, álcool, fumo, alimento e, acima de tudo com uma enorme coleção, de neuroses..." 18.

Jung sempre encorajava seus alunos em abordar cada caso com um mínimo

de suposições preconcebidas. Dizia, apesar de saber ser utópico e impossível, que o

ideal seria não ter nenhuma suposição, e que cada analista encontre os seus

próprios caminhos, dizendo:

16 Rrr

17 Ttt

18 JUNG, C. G. O Homem e Seus Símbolos.

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"... Posso apenas esperar e desejar que ninguém se torne „junguiano‟... Eu não proclamo qualquer doutrina predeterminada, e abomino os „partidários cegos‟. Deixo todas as pessoas livres para lidar com os fatos à sua própria maneira, pois também reclamo essa liberdade para mim" 19.

Nestas frases percebemos o sentido liberal e teleológico que Jung alimenta

sobre a alma humana, sua dinâmica e seus fins. E, em 1957, Jung estava com 82

anos, e iniciou a elaboração de sua última contribuição literária, o livro: “Memórias,

Sonhos e Reflexões”, que foi compilado e prefaciado por Aniela Jaffé. Em 1959, em

sua casa de campo em Bollingen, desenvolvia o capítulo “Sobre a Vida depois da

Morte” disse: “Algo em mim foi atingido. Formou-se um declive pelo qual me vejo

forçado a descer”.

Na primavera do dia 6 de junho de 1961, com quase 86 anos, em sua

casa/torre de Bollingen morreu tranqüilamente. É significativo citar que na entrada de

sua casa Jung colocou em latim os seguintes dizeres: “Chamado ou não chamado,

Deus está presente”.

JUNG NO BRASIL

Carl Gustav Jung (1875-1961) foi o expoente mais promissor da psicanálise,

reconhecido por Sigmund Freud como seu principal legatário. Porém, devido a

desarmonias ideológicas, foi divergindo de muitos conceitos constitucionais da

psicanálise freudiana, afastando-se e criando uma teoria original que buscava uma

melhor compreensão sobre a psique e as atitudes humanas. Jung teve a coragem –

ação do coração – de submergir no seu inconsciente e reconhecer que a vida é uma

expressão criativa da singularidade individual na pluralidade coletiva.

Seus estudos e principalmente suas experiências e suas vivências, subjetivas

e objetivas, foram à pedra angular para a criação da psicologia analítica.

Atualmente, além da escola clássica, que mantêm uma maior fidelidade aos

19 Tgtt

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JUNG VIDA E OBRA – WALDEMAR MAGALDI FILHO IJEP/FACIS

postulados de Jung, temos subsídios de neo-junguianos que criaram as escolas

arquetípicas e desenvolvimentistas.

No passado, profissionais de várias partes do mundo se dirigiram para a

Suíça em busca da vivência e do conhecimento desta teoria. Ao retornarem a seus

países de origem ou imigrando para outros países, foram criando grupos e

sociedades para divulgar e formar novos psicoterapeutas.

A psicologia analítica de Carl Gustav Jung no Brasil é muito jovem. Porém,

apesar das várias conseqüências desastrosas da globalização, produzindo mais

exclusão social e a perda das referências culturais, um ganho secundário fantástico

é a possibilidade da aquisição do conhecimento acessível a todas as pessoas

interessadas. Com isso, atualmente, ninguém pode se julgar proprietário do

conhecimeto, ora dominando ou evitando que outras pessoas tenham acesso a ele,

ora fazendo patrulhamentos ideológicos, denegrindo quem obteve o conhecimento

por meios e fontes diferentes dos que se julgam proprietários. Porque, o acesso às

informações está cada vez mais fácil e horizontal. Por isso, na nossa era da

informação e das comunicações, quem tiver mais conhecimento terá mais poder –

no seu sentido latino: potere = ser capaz. Lembrando que conhecimento implica em

relação, diferente da informação que equivale apenas ao acúmulo de dados.

Somente em 1977 que começou a se organizar, aqui no Brasil, a primeira

sociedade para estudos e divulgação desta prática e deste conhecimento tão rico e

valioso para a humanidade. Nesta época o casal belga, Leon e Jette Bonaventure,

criaram seminários na cidade de São Paulo, lançando livros de analistas junguianos

famosos bem como se iniciou, pela editora Vozes, a publicação das Obras

Completas de Jung que, infelizmente, até o início de 2002 ainda não estava

totalmente publicada. Logo depois, outros analistas formados em Zurique, se

juntaram e criaram uma sociedade para formar analistas junguianos, mas o casal

Bonaventure acabou não aderindo seu estatuto formal. A partir daí os grupos foram

surgindo, alguns com credenciamento internacional e outros não.

Anteriormente, no Rio de Janeiro, a Dra. Nise da Silveira, em 1957, foi para a

Suíça apresentar para Jung o seu trabalho com pinturas de psicóticos refratários aos

tratamentos convencionais, no intuito de comprovar a existência do Inconsciente

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JUNG VIDA E OBRA – WALDEMAR MAGALDI FILHO IJEP/FACIS

Coletivo, material que agregou e contribuiu para a validação desta teoria de Jung.

Nesta mesma época ela iniciou grupos de estudos junguianos na Casa das

Palmeiras.

A obra de Jung foi ganhando espaço e reconhecimento, motivando um

número cada vez maior de simpatizantes e estudiosos. A academia também não

podia mais ficar omissa a esta crescente demanda e, paulatinamente apesar de

acanhadamente, foi incluindo as contribuições de Jung nas aulas de teorias e

técnicas psicoterápicas. Atualmente são raros os cursos de psicologia ou de

especialização em psiquiatria que não dedicam, pelo menos, um semestre

consagrado à teoria junguiana.

Atualmente nós temos, no Brasil, várias sociedades que estudam e divulgam

a obra de Jung e dos neo-junguianos. Em quase todas as capitais do país

encontramos grupos articulados se aprofundando neste conhecimento tão vasto e

enriquecedor. Academicamente existem cursos de pós-graduação titulando

especialistas, como o da FACIS, formando especialistas em São Paulo e outras

cidades brasileiras desde 1984, onde atuo como coordenador. Além disso, nos

programas de mestrado e doutorados já é grande o número de dissertações e teses

que fazem de Jung a referência teórica principal.

Com isso, o conhecimento e a prática da psicologia junguiana está se

tornando uma base fundante nas práticas psicoterápicas, não podendo ficar restrito

a confrarias que de forma sectária, econômica e ou culturalmente, pretendem

monopolizar esta ciência e esta arte. Principalmente porque Jung tinha uma atitude

completamente includente e não postulava a formação de partidários cegos, assim

como abominava a busca de poder pelo poder, sem amor e sem a entrega irrestrita

e abrangente para a vida e seu significado, evitando sempre as exclusões

ideológicas e mercantilistas. Por isso, a primeira leva de analistas junguianos é

preponderantemente advinda de seus pacientes, seres humanos que se mostraram

sensíveis, devido as suas próprias feridas, e capazes de estabelecer a relação de

ajuda que essa prática exige.

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JUNG VIDA E OBRA – WALDEMAR MAGALDI FILHO IJEP/FACIS

Algumas citações de Jung e seus colaboradores que julgo relevantes:

“A humanidade experimentou inúmeras vezes, tanto individualmente quanto

como coletividade, que a consciência individual significa separação e inimizade. No

indivíduo, o tempo de dissociação é tempo de doença, o mesmo acontecendo na

vida dos povos. Não podemos negar que a nossa época é um tempo de dissociação

e doença. As condições políticas e sociais, a fragmentação religiosa e filosófica, a

arte e psicologia modernas, tudo dá a entender a mesma coisa... A palavra crise

também é expressão médica que sempre designa um clímax perigoso da doença...

Com a tomada da consciência, o germe da doença da dissociação plantou-se no

espírito da humanidade, sendo o maior bem e o maior mal ao nosso tempo.”20

“Os deuses tornaram-se doenças. Não procuramos mais os Deuses no

Olimpo, nem nos antigos cultos, templos ou estátuas do passado, nem mesmo em

seus dramas e narrativas míticas. Em vez disso, os Deuses aparecem em nossas

desordens, particulares é claro, mas também públicas.”21

“A dessacralização de nossa época tão profana é devida ao nosso desconhecimento da psique inconsciente, e ao culto exclusivo da consciência. Nossa verdadeira religião é o monoteísmo da consciência, uma possessão da consciência, que ocasiona uma negação fanática da existência de sistemas parciais autônomos..."22

“O homem perdeu o temor de Deus e pensa que tudo pode ser julgado de acordo com medidas humanas”. Esta hybris, que corresponde a uma estreiteza de consciência, é o caminho mais curto para o asilo de loucos... ...Congratulamo-nos por haver atingido um tal grau de clareza, deixando para trás todos esses deuses fantasmagóricos. Abandonamos, no entanto, apenas os espectros verbais, não os

20 JUNG, C. G. Civilização em Transição par. 290.

21 JUNG, C.G. in HILLMAN, J. Cidade e Alma, pg. 66.

22 Aqui Jung esta se referindo à idéia dos complexos, de núcleo afetivo, que são autônomos e

produzem as doenças psíquicas e ou físicas.

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fatos psíquicos responsáveis pelo nascimento dos deuses. Ainda estamos tão possuídos pelos conteúdos psíquicos autônomos, como se estes fossem deuses. Atualmente eles são chamados: fobias, obsessões, e tornam-se doenças. Zeus não governa mais o Olimpo, mas o plexo solar e produz espécimes curiosos que visitam o consultório médico; também perturba os miolos dos políticos e jornalistas, que desencadeiam pelo mundo verdadeiras epidemias psíquicas... ”23

“A vida se me afigurou uma planta que extrai sua vitalidade do rizoma. O que se torna visível sobre a terra dura só um verão, depois fenece... Aparição efêmera. Quando se pensa no futuro e no desaparecimento infinito da vida e das culturas, não podemos nos furtar a uma impressão de total futilidade; mas nunca perdi o sentimento da perenidade da vida sob a eterna mudança. O que vemos é a floração – e ela desaparece. Mas o rizoma persiste.”24

CRONOLOGIA

Estou elaborando

SUGESTÃO DE LEITURA DA OBRA DE JUNG E OUTROS AUTORES

O eu e o inconsciente

Psicologia do Inconsciente

O homem e seus símbolos

A energia psíquica

A natureza da psique

Fundamentos de psicologia junguiana

Desenvolvimento da personalidade

Ab-reação, análise dos sonhos e transferência

Civilização em transição

A prática da psicoterapia

23 Ibid., pg. 50.

24 rgve

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Memórias sonhos e reflexões

Tipos psicológicos e função inferior – Von Franz e Hillmam

Sonhos, um portal para a fonte – Edward Whitmont

Sincronicidade e o Tao – Jean Shinoda Bolen

Psicologia e Religião

Aion e o simbolismo de si mesmo

Resposta a Jó

O segredo da flor de ouro

Os parceiros invisíveis – John Stanford

Suicídio e Alma – James Hillman

Encarando os deuses – James Hillman

REFERENCIAS

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