JUNHO 2011

8
E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JUNHO/2011 - ANO XIV - N o 173 O ESTAFETA Ao comemorarmos mais um aniver- sário de Piquete, nossos olhos se voltam para seus moradores, coluna mestra a sustentar o município. Fazedores e guardiões de nossa cultura, são eles os responsáveis para legar às gerações futuras essa herança criada por eles e por nossos antepassados. Nos tempos atuais, quando cada vez mais se fala em cidadania, deveríamos dar mais atenção à cultura como forma de libertação, de desenvolvimento e de progresso social. Povo sem cultura será sempre um povo amordaçado, sem voz, sem vez, que não se reconhece como cidadão para reivindicar seus direitos civis e políticos. Será sempre um povo sem ideia própria, fadado a viver como “maria-vai-com-as-outras”, “pau-pra- toda-obra”, “mão-de-obra-barata”, dependente da venda de votos para poder ganhar minguadas cestas básicas. Cultura não se reduz, como muitos pensam, a entretenimento ou pas- satempo. É um veículo de transformação e renovação da sociedade. É preciso encará-la como educação. É educar o povo. É fomentar políticas que pro- movam o debate, a pesquisa, a inclusão social e a conscientização sobre o dever de se preservar o ambiente urbano. É, ainda, esclarecer que cada cidadão tem o direito de exigir das autoridades compromisso com as promessas de campanha e retidão no uso dos recursos públicos. Cultura é reciprocidade de interesses e ideais. É a luz que ilumina o caminho e abre as portas da compreensão mútua e da percepção. É exclusividade do ser humano, porque é ele quem produz cultura para a legar às gerações futuras. É memória. É história. É arma contra a violência, a corrupção, as drogas e a criminalidade. Cultura é civilização, progresso e desenvolvimento. Neste aniversário, somamo-nos a todos os piquetenses que, como nós, vislumbram um futuro promissor para o município, com aprimoramento cultural e social e, consequentemente, cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. No último dia 5 de Junho comemorou-se o Dia Mundial do Meio Ambiente, data extremamente importante para a con- servação da natureza. A preocupação com o meio ambiente vem se acentuando nos dias atuais, em função das atividades humanas, as quais têm ocasionado seríssimos pro- blemas de degradação ambiental, a ponto de comprometer, caso não sejam tomadas medidas emergenciais, os recursos naturais, as condições de vida e, consequentemente, toda a vida futura no planeta. O amor à natureza e o desejo de que ela seja preservada ou utilizada racionalmente pelo homem já podem ser verificados nos primeiros livros sagrados. Praticamente, todos eles mencionam a vida das plantas, dos animais silvestres e do homem como elementos integrantes do meio ambiente. Entre outros, podem ser mencionados os Vedas, a Bíblia e o Corão. Diversos são os textos escritos, alguns deles há quase dois mil e quinhentos anos, na Índia, cujos relatos mencionam acentuada preocupação com a conservação da natureza, e vários são os líderes espirituais, entre eles, Siddartha Gautama, o Buda, que demonstraram essa preocupação. Curioso é que São Francisco de Assis, tanto tempo depois, abraçaria os mesmos princípios, certamente sem conhe- cimento das crenças e filosofias pregadas pelos homens daquelas longínquas para- gens. Além dos princípios religiosos, os homens santos veneravam o ar, a água, a terra e o fogo, todos considerados partes integrantes do cosmos, e sem os quais não teríamos condições de vida. Procuravam demonstrar a interrelação de todos os seres vivos e dos elementos abióticos que os cercam. Isso identifica a disciplina que hoje estudamos nas universidades com o nome de Ecologia. O amor de Francisco de Assis demonstra abrangência universal. Poucos terão se irmanado tanto com o universo como ele, ao contemplar em seus retiros, para meditação, os elementos naturais que chamava de “irmãos” – o sol, o ar, a água, as estrelas, as plantas e os animais. No seu extraordinário “Cântico das Criaturas”, louva a grandeza do Criador e todas as criaturas. Ao comemorarmos o Dia Mundial do Meio Ambiente, cabe-nos uma reflexão sobre esses pensadores. É preciso que introjectemos seus valores e coloquemos em prática ações positivas voltadas para o meio ambiente. No Dia Mundial do Meio Ambiente... Foto arquivo Pro-Memória A preocupação com o meio ambiente não é de agora. São Francisco de Assis e outros homens santos já veneravam o ar, a água, a terra e o fogo, todos considerados partes integrantes do cosmos, e sem os quais não teríamos condições de vida.

description

ANO XIV - No 173

Transcript of JUNHO 2011

Page 1: JUNHO 2011

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JUNHO/2011 - ANO XIV - No 173

O ESTAFETAAo comemorarmos mais um aniver-

sário de Piquete, nossos olhos se voltampara seus moradores, coluna mestra asustentar o município. Fazedores eguardiões de nossa cultura, são eles osresponsáveis para legar às geraçõesfuturas essa herança criada por eles epor nossos antepassados.

Nos tempos atuais, quando cada vezmais se fala em cidadania, deveríamosdar mais atenção à cultura como formade libertação, de desenvolvimento e deprogresso social. Povo sem cultura serásempre um povo amordaçado, sem voz,sem vez, que não se reconhece comocidadão para reivindicar seus direitoscivis e políticos. Será sempre um povosem ideia própria, fadado a viver como“maria-vai-com-as-outras”, “pau-pra-toda-obra”, “mão-de-obra-barata”,dependente da venda de votos parapoder ganhar minguadas cestas básicas.

Cultura não se reduz, como muitospensam, a entretenimento ou pas-satempo. É um veículo de transformaçãoe renovação da sociedade. É precisoencará-la como educação. É educar opovo. É fomentar políticas que pro-movam o debate, a pesquisa, a inclusãosocial e a conscientização sobre o deverde se preservar o ambiente urbano. É,ainda, esclarecer que cada cidadão temo direito de exigir das autoridadescompromisso com as promessas decampanha e retidão no uso dos recursospúblicos.

Cultura é reciprocidade de interessese ideais. É a luz que ilumina o caminho eabre as portas da compreensão mútua eda percepção. É exclusividade do serhumano, porque é ele quem produzcultura para a legar às gerações futuras.É memória. É história. É arma contra aviolência, a corrupção, as drogas e acriminalidade. Cultura é civilização,progresso e desenvolvimento.

Neste aniversário, somamo-nos atodos os piquetenses que, como nós,vislumbram um futuro promissor para omunicípio, com aprimoramento culturale social e, consequentemente, cidadãosconscientes de seus direitos e deveres.

No último dia 5 de Junho comemorou-seo Dia Mundial do Meio Ambiente, dataextremamente importante para a con-servação da natureza. A preocupação como meio ambiente vem se acentuando nos diasatuais, em função das atividades humanas,as quais têm ocasionado seríssimos pro-blemas de degradação ambiental, a pontode comprometer, caso não sejam tomadasmedidas emergenciais, os recursos naturais,as condições de vida e, consequentemente,toda a vida futura no planeta.

O amor à natureza e o desejo de que elaseja preservada ou utilizada racionalmentepelo homem já podem ser verificados nosprimeiros livros sagrados. Praticamente,todos eles mencionam a vida das plantas,dos animais silvestres e do homem comoelementos integrantes do meio ambiente.Entre outros, podem ser mencionados osVedas, a Bíblia e o Corão. Diversos são ostextos escritos, alguns deles há quase doismil e quinhentos anos, na Índia, cujosrelatos mencionam acentuada preocupaçãocom a conservação da natureza, e vários sãoos líderes espirituais, entre eles, SiddarthaGautama, o Buda, que demonstraram essapreocupação. Curioso é que São Franciscode Assis, tanto tempo depois, abraçaria os

mesmos princípios, certamente sem conhe-cimento das crenças e filosofias pregadaspelos homens daquelas longínquas para-gens. Além dos princípios religiosos, oshomens santos veneravam o ar, a água, aterra e o fogo, todos considerados partesintegrantes do cosmos, e sem os quais nãoteríamos condições de vida. Procuravamdemonstrar a interrelação de todos os seresvivos e dos elementos abióticos que oscercam. Isso identifica a disciplina que hojeestudamos nas universidades com o nomede Ecologia.

O amor de Francisco de Assis demonstraabrangência universal. Poucos terão seirmanado tanto com o universo como ele,ao contemplar em seus retiros, parameditação, os elementos naturais quechamava de “irmãos” – o sol, o ar, a água, asestrelas, as plantas e os animais. No seuextraordinário “Cântico das Criaturas”,louva a grandeza do Criador e todas ascriaturas.

Ao comemorarmos o Dia Mundial doMeio Ambiente, cabe-nos uma reflexãosobre esses pensadores. É preciso queintrojectemos seus valores e coloquemos emprática ações positivas voltadas para o meioambiente.

No Dia Mundial do Meio Ambiente...

Foto arquivo Pro-Memória

A preocupação com o meio ambiente não é de agora. São Francisco de Assis e outros homens santosjá veneravam o ar, a água, a terra e o fogo, todos considerados partes integrantes do cosmos, e sem osquais não teríamos condições de vida.

Page 2: JUNHO 2011

Página 2 Piquete, junho de 2011

Imagem - Memória

É cada vez maior a importância da

fotografia para construção e conhecimento

de nossa história. Por meio delas podemos

acompanhar o progresso da cidade ao

longo dos anos, bem como os principais

fatos e acontecimentos vividos pela

comunidade.

São poucas as imagens de Piquete dos

seus primeiros anos de emancipação política

que chegaram até nossos dias. Apesar de

raras, essas imagens são reveladoras. Vale

a pena observá-las. As fotografias de

décadas passadas, em sua maioria, foram

tomadas de forma espontânea, sem pre-

tensão documental. Apesar de aparen-

temente mudas, essas imagens comunicam,

expressam e significam. Constituem-se

como grande força para a memória dos

piquetenses. Fotógrafos anônimos, inde-

pendentemente do objetivo histórico,

registraram momentos e modificações

ocorridos na cidade. Sem eles, parte da

história de Piquete estaria perdida. Sem o

saber, à medida que registravam a cidade e

seu cotidiano, estavam contribuindo para o

futuro. O registro fotográfico é parte da

construção da memória e da identidade de

um povo.

Observar uma fotografia antiga é refletir

sobre a longa trajetória por ela percorrida.

Há, em todas elas, uma espécie de inter-

rupção do tempo e, portanto, da vida. Tudo,

a partir do instante em que foi capturado

pelas lentes, permanecerá para sempre. A

cena fotografada, sem antes nem depois, tem

o poder de eternizar o acontecimento, sem

poupar quem a vê de um sentimento de

ausência entre a distância e a proximidade,

entre o reconhecimento e a lembrança do

fato ou pessoa fotografada. É alvo de

análises de muitos estudiosos da imagem

fotográfica. Praticamente, desde a sua

descoberta, a misteriosa relação da foto com

o passado foi motivo de discussões inti-

mistas, fenomenológicas, semióticas ou

históricas.

Toda fotografia tem um reconhecido

valor documental e é importante para

estudos específicos nas áreas de arqui-

tetura, antropologia, etnologia, arque-

ologia, história social e diversos outros

ramos do saber, pois representa um meio

de conhecimento da cena passada e,

portanto, uma possibilidade de resgate da

memória visual do homem e do seu

entorno sociocultural. Com o surgimento

da fotografia ampliaram-se as possibi-

lidades de o homem capturar o tempo e

ampliar a sensação de o controlar, con-

gelando o instante para a eternidade.

Ademais, a imagem fotográfica nos

proporciona o desencadeamento de lem-

A fotografia como construção da memóriabranças, fazendo-nos retroceder mental-

mente ao instante presentificado na

imagem.

Já diz o velho provérbio que uma imagem

vale mais do que mil palavras. Isso pode ser

constatado mensalmente no “O Estafeta”,

que aguça a curiosidade de seus leitores

com fotografias de seu acervo impressas na

coluna “Imagem – Memória”. Este infor-

mativo da Fundação Christiano Rosa tem

buscado aumentar sua coleção com aqui-

sição de novas fotografias, e também

procurado identificar as que compõem seu

precioso arquivo. São imagens de Piquete

que se tornaram fonte para trabalhos e

pesquisas tanto de estudiosos quanto do

público em geral, como historiadores, alunos

do Ensino Médio e de Graduação.

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Page 3: JUNHO 2011

O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, junho de 2011

José ArmandoMuito jovem, o ex-prefeito de Piquete,

José Armando de Castro Ferreira, ingressouna vida política, filiando-se ao PSP. Estavasempre acompanhando seu tio, José deCastro Ferreira, vice-prefeito de Joraci Faury,nas reuniões partidárias e nas sessões daCâmara Municipal. Passou a noticiar, então,suas observações dos bastidores da políticanuma coluna, por ele assinada, no jornal ORegente, no final da década de 50. Contaque gostava de assistir aos grande comíciosna Praça da Bandeira, onde se maravilhavacom a eloquência de oradores como Adhe-mar de Barros, Plínio Salgado, Ivete Vargas,Carvalho Pinto...

Vivenciando aquela atmosfera, per-cebeu que a política era um excelenteinstrumento para melhorar a vida daspessoas e proporcionar igualdade deoportunidades a todos. Assim, em 1958,apoiando a candidatura de Luiz Vieira Soarespara prefeito, e Christiano Alves da Rosa,para vice, concorreu a uma vaga noLegislativo Municipal. As eleições acon-teceram no dia 4 de outubro de 1959. JoséArmando foi o vereador mais votado etambém a chapa majoritária por ele apoiada.Iniciava, aí, sua vida pública. Nessemandato, foi Presidente da Câmara.

Nascido em Piquete em 13 de dezembrode 1935, iniciou seus estudos no GrupoEscolar Antônio João. Cursou, a seguir, oGinásio da FPV e a Escola Normal LivreDuque de Caxias. Em 1962 bacharelou-sepela Faculdade Salesiana de Filosofia,Ciências e Letra de Lorena. Tributa suaformação acadêmica a professores comoMaria Campos, que o alfabetizou, Celen-cina Guimarães, Leonor Guimarães e Mariade Lourdes Gama, no grupo Antônio João;José Geraldo Evangelista, Lutgardes deOliveira, Augusto Ribeiro, Néli Quadradoe Selma Vital Brasil, no ginásio; RicardaGodoy Lopes, Leopoldo Marcondes deMoura Netto, na Escola Normal; e ospadres Leôncio, Lages e Ferreira, naFaculdade Salesiana.

De 1963 a 1970, José Armando lecionouHistória Geral e do Brasil, além de CiênciasSociais, no Colégio Estadual de Piquete,àquela época com quase dois mil alunosdivididos em três turnos. Em 1970 transferiu-se para São José dos Campos, para trabalharcomo Supervisor de Ensino, na DelegaciaRegional de Ensino. Em 1976, retornou aPiquete e elegeu-se Prefeito, pelo entãoMDB. Assumiu em janeiro de 1977 e teveseu mandato prorrogado até 1983. Mesmoadministrando com orçamento restrito,buscou realizar obras que atendessem àsnecessidades do município. Investiu emeducação e incentivou a cultura: criou aFesta do Tropeiro, a Feira da Solidariedadee a Semana do Folclore. Após o término deseu mandato, retornou a São José dosCampos e foi Diretor Regional de Ensino.Em 1988, a convite do governador FrancoMontoro, trabalhou na Secretaria de Indús-tria e Comércio. Transferiu-se, depois, paraa Secretaria do Trabalho, lotado no Paláciodo Governo, posição em que se aposentou,em 8 de março de 1991.

Filiado ao PSDB, José Armando elegeu-se, em 1995, para o quarto mandato comovereador, em Piquete. Sempre nutriu paixãopela política. Afirma que em Piquete tevecomo influências políticas Luiz Vieira,Benfica, Faury, Zizinho, Geraldinho eAmerquinho. “Dava gosto ouvir UlissesGuimarães, Mário Covas, Franco Montoroe Hugo Borghi – este último o melhor detodos”. Constata que a forma de fazerpolítica está muito mudada. “Falta idea-lismo. É preciso melhorar a qualidade dospostulantes a cargos públicos”, diz.“Lamentavelmente, Piquete regrediu nosquesitos saúde, educação e vida social.Já não temos os cursos do DepartamentoEducacinal da Fábrica, AssistênciaHospitalar... É verdade que a Fábrica nosproporcionava tudo até 1980, mas acidade precisava aprender a caminhar...Isso ainda não aconteceu...”, conclui.

Filho de Armando de Castro Ferreirae Maria Aparecida Leite, José Armandoé o caçula de três filhos. Casado comÂngela Rosa Giffoni de Castro Ferreira,tem três filhas e quatro netos.

O Estafeta deste junho traz um artigo emque relembra o centenário de nossa cidade.Não estive em Piquete naquelaoportunidade. Por tudo que já li e ouvi, seique perdi um grande momento. Participei,porém, do Centenário da FPV. Colaborei,inclusive, com algumas das atividades, assimcomo nas do centenário da Usina RodriguesAlves e da Represa Marechal Argollo.Registrei todos os eventos com milhares(literalmente) de imagens – algumas não tãoboas, mas válidas... À época, escrevi sobreos fatos, registrando que me sentia parte dahistória.

Em 15 de junho, Piquete comemorou 120anos. Também não presenciei os eventos,que muitos garantiram ter sido um sucesso.Novamente, a sensação é de perda...

Por motivos profissionais, não moro emPiquete. Conheci, porém, nos últimos anos,a história de minha cidade natal, e isso fezcom que aprendesse a amá-la. Percebi que,assim como num relacionamento, os laçosse tornam mais fortes à medida que seaprofundam os conhecimentos recíprocos.Piquete é meu porto seguro. Nos momentosdifíceis, é aqui que gosto de estar. É aquique gosto de ler, relaxar, sonhar...

É por motivos assim que mantenhoresidência aqui, pela qual já recebi pro-postas de compra ou aluguel, devidamenterecusadas. Uma reforma em minha casamudou significativamente sua estruturainterna. Não mudou, porém, sua essência,que está tombada em minha memória, poisrepresenta o local em que passei a infância,convivi com meus pais, irmãos e amigos. Éde suas bases que brotaram os valores quecultivo. A cidade de Piquete tambémcontribuiu para essa memória. No entanto,a essência de Piquete não me parece estarsendo mantida. Em nome do progresso (???),prédios e praças estão sendo descarac-terizados, nomes apagados... Não entendoessa necessidade de mudanças sem amanutenção da estrutura. Pensem naEuropa... O que seria do turismo em cidadescomo Londres, Paris, Praga, Madri se seusprédios fossem descaracterizados? Lá, asexigências da atualidade é que se adaptaramao antigo, à história... O que vemos por aquié o contrário... E Piquete vislumbra oturismo...

Desejo a Piquete, neste aniversário, aretomada de valores. Que os piquetensesprocurem em sua história – a de Piquete e apessoal – motivos para se orgulhar. Valo-rizem seus pais, o local em que “o umbigoestá enterrado”... Dessa forma, tornar-se-ãocidadãos melhores, mais críticos, profis-sionais competentes, ativos na sociedademoderna, mas conscientes de que foinecessária uma longa trajetória para que oprogresso se instalasse. E essa trajetória nãodeve – e não pode – ser relegada aoesquecimento.

Eu amo Piquete!Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Page 4: JUNHO 2011

O ESTAFETA Piquete, junho de 2011Página 4

A organização social do povo brasileirobaseia-se nas hierarquias, e, nesse parti-cular, a da região do Vale do Paraíba é maisrepresentativa, seja das etnias, seja do poderconstituído nas administrações públicas, oueclesiásticas ou militares. Quem está nopoder sempre tem razão; esta a máxima queordena o arranjo. E aí a coloração da pelenão se sobressai à estatura do poder, emboraseja focalizada no território da crítica. Permitecarregar no foco negativo – recebe atri-buições carregadas de estereótipos epreconceitos.

Da escravidão, o costume do castigoaplicado nos corpos prevaleceu por muitotempo após a libertação pela Lei de 13 demaio de 1888 – a Áurea.

Assim é que se projetou um anti-heróimarinheiro e ex-escravo que participou dachamada Revolta da Chibata, em 1910, cemanos passados – João Cândido Felisberto.Essa revolta foi um dos movimentos insur-gentes da República Velha (1889-1930) – aque se propôs pela igualdade, mas acaboumantendo a exclusão social dos temposmonárquicos.

Como chefe dos revoltosos, JoãoCândido foi chamado Almirante Negro,alcunha que se lhe aderiu para o resto davida, mesmo depois de cumprida a pena quelhe fora imposta, e se tornara um anônimocarregador nas docas da Praça XV, do Riode Janeiro.

Foi desse personagem que João Boscoe Aldir Blanc fizeram a canção “O Mestre-Sala dos Mares”.

Pois bem! Quem era esse marinheirotornado líder da Revolta da Chibata, degrande repercussão nacional no período doevento e depois “esquecida” (apagada) pelaHistória oficial?

João Cândido Felisberto era originário

de uma família pobre de trabalho ruralencontrada próxima à fronteira entre o Brasile a Argentina. Seus biógrafos fazem assina-lar que era negro, e o pai, tropeiro, o levavaao trabalho com o gado. Consta que com 14anos ingressou na Marinha, lugar dado paraencosto dos despossuídos, uma espécie de“escória” social à busca de uma impositivadisciplina rígida. Costumava-se açoitar osindisciplinados e os que não cumpriamdevidamente os deveres. Tive a oportu-nidade de conhecer um Almirante famoso,de alta linhagem familiar que, aposentado,dava palestras e entrevistas e que, ques-tionado sobre o uso da chibata como“corretivo disciplinar”, não a negava e, atécerto ponto a justificava, sob a alegação dosusos e costumes da época, práticas institu-cionalizadas e não discutidas pelas altascúpulas.

Mas o biografado aos 20 anos já éinstrutor de novos aprendizes, viaja pelaárea costeira do país e tem a oportunidadede estar presente à montagem e entrega do“Minas Gerais”, navio bem equipado emoderno, encomendado por nossa Marinhaà Inglaterra.

João Cândido teve uma vida sofrida:uma tuberculose renitente o acompanhoudesde a estada no Amazonas. Trabalhar naMarinha, na época, além de uma atividadesofrida, de tarefas pesadas e doenças,implicava também o recrutamento forçadoe coercitivo em que a chibata era ins-trumento de tortura.

E foi ela que ensejou a causa da revoltade 1910 liderada por João Cândido eterrivelmente sufocada. Propunha-se o lema“Abaixo a chibata!”. Resultado: algumasmortes e prisões. Em todo o caso, umepisódio dramático, para, “convenien-temente”, ser esquecido. O líder foi domi-

Uma revolta centenária - A Revolta da Chibata e seu heróinado e preso na Ilha das Cobras, de ondeescapou com vida – mas enclausurado noHospital dos Alienados. Libertado em 1912,voltou à Marinha e depois ao comércio depeixes na Praça XV, mas sempre orgulhosopor ter participado do levante de 1910.

No casamento de duas núpcias foiinfeliz, além do que a segunda esposa e filhase suicidaram de maneira trágica.

Depoimentos de João Cândido estãoarquivados no Museu da Imagem e doSom. Recentemente várias publicaçõestêm-se ocupado da biografia do AlmiranteNegro e da Revolta de que participou, naliderança do movimento. Um câncerfatídico o levou. Por ter sido dado poresquecido em sua vida modesta, o heróirevolucionário é visto por romancistas ejornalistas como um mito a ser melhordesvendado através de várias narrativasrecentemente levantadas. Principalmentemotivadas pela anistia póstuma ao ma-rinheiro concedida por Lula em 2008, porproposta da senadora Marina Silva, em2002.

Uma entonação mais vibrante de ElisRegina para a canção “O Mestre-Sala dosMares”, composta na década de 1970,consagrava uma letra censurada e driblada,cujo refrão rebate na memória viva: “Salve onavegante negro, que tem por monumentoas pedras pisadas do cais. Mas. Faz tantotempo”...

Nota: este comentário baseou-se noartigo de Lilia Moritz Schwarcz in Sa-bático (O Estado de São Paulo, 18-12-10) para o lançamento de duas novasbiografias do Almirante Negro na come-moração do centenário do evento em 2010.

Dóli de Castro Ferreira***************

Em 31 de julho do ano de 1937, o SantoPadre Pio XI desmembrou parte da Diocesede Taubaté para formar uma nova, com sedeem Lorena, coroando uma longa caminhadade fé do Povo de Deus iniciada no séculoXVII.

Anos antes da decisão de Pio XI, JoséVicente de Azevedo havia encaminhado umabaixo-assinado à Cúria de Taubaté suge-rindo ao primeiro Bispo daquela Diocese,Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva,que desse início aos trabalhos para a criaçãoda Diocese de Lorena. Após várias ten-tativas, José Vicente pareceu desistir de seuobjetivo, visto que Dom Epaminondas, porprudência, dava sinais de não estar con-vencido da necessidade de uma novadiocese no Vale do Rio Paraíba, ao menosnaquele momento.

Em 1935, José Vicente de Azevedo, emreconhecimento às suas várias benfeitorias,recebeu do Papa Pio XI o título de CondeRomano. Um ano depois, faleceu DomEpaminondas. Assumiu a Diocese de

Taubaté Dom André Arcoverde Albu-querque Cavalcânti, Bispo de Valença, em24 de outubro do mesmo ano. Com achegada do segundo Bispo de Taubaté, oConde José Vicente de Azevedo tomou novoânimo e recomeçou seu trabalho em prol dacriação da Diocese de Lorena. Dom Andrésimpatizou com a ideia e empenhou-se emrealizá-la, até que Pio XI, através da bula“Ad Christianae Plebis Regimen” des-membrou as paróquias de Lorena, Areias,Bananal, Cachoeira Paulista, Cruzeiro,Cunha, Campos de Cunha, Embaú, Pi-nheiros, Piquete, Queluz, São José doBarreiro e Silveiras da Diocese de Taubaté,criando a sede episcopal de Lorena.

No ano de 2012 nossa Igreja Particularcelebrará 75 anos de existência. Durantetodo esse tempo muitos homens e mulheresde fé viveram e morreram como cristãos,transmitindo suas tradições religiosas àssuas comunidades. Nossa terra tem-semostrado generosa às sementes do evan-gelho nela lançadas. Muitos bons frutos têm

sido produzidos. Sobram motivos para nosalegrarmos pela nossa história.

No dia 31 de julho deste ano de 2011, naCatedral de Nossa Senhora da Piedade, emLorena, o Bispo Diocesano Dom BeneditoBeni dos Santos presidirá a solene cele-bração eucarística em que se dará a aberturado ano Jubilar de nossa Diocese.

Aplicando as orientações da Peniten-ciária Apostólica de Roma, Dom Benedito Benidecretará a Catedral de Lorena como LocalJubilar, podendo os fiéis que a visitarem ecumprirem as condições exigidas obterindulgência plenária. Após celebraçõesespeciais em todas as comunidades daDiocese, o Ano Jubilar será encerrado com atradicional Novena e a solene Festa de NossaSenhora da Piedade, Padroeira de Lorena.

Esperamos que as comemorações dos75 anos de nossa Diocese sejam proveitosasà fé de nossa gente e ao crescimento dossentimentos de fraternidade entre oscristãos de nossa Igreja Particular.

Pe. Fabrício Beckmann

Ano Jubilar: 75 anos da Diocese de Lorena

Page 5: JUNHO 2011

O ESTAFETA Página 5Piquete, junho de 2011

O período de 13 a 30 de junho é o dasfestas joaninas ou juninas. Uma época defestas gerais, comemorações populares queacontecem em clubes, ruas, praças, salões eresidências... Há o mastro do santo, isto é,com a bandeira do santo festejado – se é umapenas ou os três santos do ciclo: SantoAntônio, São João e São Pedro. Há comidastípicas: pipoca, batata assada, quentão... Hásortes e superstição... Há danças,sobressaindo-se a quadrilha, quando, àsvezes seus participantes fazem, também, o“casamento caipira”... Há fogueira e fogosde artifício...

Uma festa dos três santos de junhocomporta desde a quadrilha, que pertence ***************

tipicamente ao ciclo, até o moçambique, acongada, a catira, o batuque e outros. NoVale do Paraíba, é comum vermos o moçam-bique e a congada e, em alguns poucoslugares, como Piquete, o Jongo.

Este ano, no dia 11 de junho, aconteceu,na Vila Eleotério, na casa do Mestre Gil, o játradicional “Terço dos Negros”. O eventomobilizou a comunidade jongueira. A casa eo terreiro estavam enfeitados com bandei-rinhas coloridas. Na sala, foi montado umaltar para Santo Antônio, e uma bandeiracom a imagem do santo, toda decorada comfitas, estava afixada à parede. Para a reza doterço, que é cantada, vieram pessoas dePiquete e grupos do Rio de Janeiro, Embu,

em São Paulo, e outras cidades da região.Após o terço, aconteceu a “beijamento dosanto”, acompanhado por cantos espe-cíficos. Logo em seguida, apresentação daFolia de Reis.

Ao final das rezas, uma grande fogueirafoi acesa no quintal e começaram osfolguedos. Para aquecer ainda mais, foiservida deliciosa canjiquinha com costelade porco e quentão. Enquanto isso, tambue candongueiro eram afinados no calor dafogueira, a fim de se garantir melhor som.Formou-se, então, uma grande roda deJongo, conduzida por Mestre Gil, quecontinuou madrugada adentro.

O Terço dos Negros

Deus criou o todo; o homem, a cisão.Deus criou o júbilo; o homem, a

desconfiança.Deus criou a ciência; o homem, o pré-

conceito.Deus criou o valor; o homem, a moeda.Deus criou o consenso; o homem, o

conluio.Deus criou a fé; o homem, a negligência.Deus criou a bênção; o homem, a pré-

potência.A cultura judaico-cristã apresenta três

monumentos reveladores da intervençãode Deus no plano da salvação do homem.

O primeiro monumento é uma Arcaancorada no alto de um monte; o segundo,uma Torre que pretendia chegar ao Céu; oterceiro, um Cenáculo encimado por umafonte de luz que expedia raios sobrepessoas reunidas para tomar uma refeição.

Com a Arca, Deus decidiu salvar afamília de um homem de bem; e casais deanimais puros e impuros na proporção desete para um.

Com o episódio da Torre, o Senhordemonstrou perceber que os homens sejuntavam de preferência para produzir omal. E resolveu dispersá-los confundindo-lhes as línguas.

Com o Cenáculo, Deus nos revela queconsiderava os homens seres tão fragi-

lizados que, mesmo tendo presenciado aTorre da Cruz, só conseguiriam perseverarno bem se injetasse neles dons especiais.

Os homens da Arca eram filhos do bem.Viram o poder de Deus. Mas, logo quepuseram o pé no solo seco, se esqueceramde que estavam vivos por especial de-ferência de Deus. E se inclinaram novamentepara a maldade que os conduziu à Torre.

No episódio da Arca, Deus encontraraum justo: Noé. Como os descendentes deNoé não se firmaram no bem, Deus não fezuma nova escolha. Confundiu a todosfazendo com que não se entendessem mais.Possibilitou uma maldade enfraquecida pelofracionamento, que se desenvolveu emvários pontos da Terra.

Então resolveu edificar uma Torre vindado Céu. A Torre divina tinha forma de cruz.E, nela, deixou que pendurassem seu filhoJesus, o Cristo.

Morto e sepultado, o Cristo trouxe maisconfusão que certeza. Então o Senhor oressuscitou.

Feita a avaliação, Deus percebeu que aTorre do Céu ainda não bastava paraconseguir convencer os homens.

Sentiu que o exemplo que vinha de foranão era suficiente para arrastar os homenspara o bem. Seria necessário que recebesseno seu interior um auxílio vindo do Céu.

Cenáculo é um lugar prosaico. É o lugaronde amigos e familiares se reúnem paracomer, para tomar a ceia.

Estava a mãe de Jesus em companhiadas santas mulheres, que a haviam acom-panhado nas vicissitudes por que passarao Cristo. Estavam, também, os dozediscípulos, Matias no lugar do Iscariotes.

Todos, com certeza, lamentavam aausência de Jesus, que já havia voltado aoPai.

De repente, o estrondo. Fachos de luzatingem os comensais. Uma fonte inu-sitada, semelhante a uma pomba, despedeos raios.

Agora, sim! O monumento atinge o Céu.Em vez de confundir línguas, Deus des-trava a língua dos apóstolos, que se fazementender por todos os peregrinos que seaglomeravam em Jerusalém, vindos detodas as partes da Terra.

Inverte-se a fórmula de Babel. O queera confusão vira entendimento. Não hámais força humana capaz de conduzir osamigos de Jesus para longe de Deus.

Pentecostes, o monumento do Cená-culo, é a verdadeira escola da salvação.Ninguém chega a Deus sem as luzes vindasdo Espírito Santo.

Abigayl Lea da Silva

Pentecostes

Page 6: JUNHO 2011

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, junho de 2011

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroFalta de conjugação...

Jogo duro...

Sendo o futebol um dos esportes maisdivulgados do mundo, os bichos da selvaamazônica e da floresta atlântica se reunirame decidiram disputar uma partida-protestocontra a seleção dos homens.

Escalação do time dos bichos: mico-leãodourado, goleiro; onça pintada, bugio earara, zagueiros; uirapuru, jacaré e jagua-tirica, meio-campo; pacu, preguiça, tucunarée sucuri, atacantes. Técnico: o professorboto, conhecedor profundo das qualidadesde cada jogador, que lutara pela vitóriaecológica, sabendo ser quase impossívelesta proeza.

A seleção dos homens é segredo, massabe-se, de antemão, que seus jogadoresserão escalados entre os institutos IBGE,INCRA, IBAMA, FUNAI, além de algumasONGs. A ONU, como organização in-ternacional, terá de contestar sua forteabrangência. Seus membros gozam dahospedagem do Hotel Juma Lodge, com oamanhecer dos pássaros e a brisa suaveda selva.

Com o desmatamento amazônico e adesfiguração das florestas tropicais, oembate ficou marcado para o dia 5 de junho– Dia Mundial do Meio Ambiente –, noBezerrão, em Brasília.

O árbitro Motosserra e os bandeirinhasMachado e Marcenaria foram apontadospara mediar o grande prélio, sob severaobservação.

Espera-se que a torcida organizada dosbichos venha de todos os ecossistemas quehá na Terra, visto a importância do jogo. Porser interessante aos homens, a torcida delescomparecerá em massa. Garimpeiros, lenha-dores e, com certeza, os devastadoresestarão presentes. Com as mãos levantadase voz única, vão gritar vitoriosos: Lá vemmadeira! Abaixo os bichos!... Explodirãofoguetes, balões serão soltos e a queimadaserá certa.

Os índios ficarão neutros, acompanharãodas suas aldeias a guerra do sistema.Somente a demarcação lhes interessa.

A Amazônia e a floresta atlântica, neste5 de junho, vão ficar vazias, entristecidassem a beleza dos animais, as flores deixarãode exalar seus perfumes provocantes e avitória-régia vai estar abandonada, debordas caídas. O jogo vai ser duro. Difi-cilmente os bichos vencerão. Eles nemsabem chutar bola...

O que está em jogo não é uma causaregional, mas, sim, a vida humana.***************

Procurou-me para desabafar. Reclamou,lamentou, buscando em mim o milagre queresolvesse seu problema. Por sinal, este é omesmo de muitos e imperioso o surgimentode uma providência que melhore o estadode milhares (ou milhões?) de consortes (queaqui no contexto seria melhor chamar de‘sensorte’). A questão é séria e a soluçãodifícil, ou a doença é grave e a cura por serdescoberta.

Já imaginaram, eis o áporo, viver comuma mulher que sofre de “bolsamania” ou“carteiromania”? uma cara-metade quetodas as noites, sorrateiramente, passa emrevista bolsos e carteiras do marido aparen-tando buscar dinheiro?

Colocando dessa forma, tem-se a impres-são de que solucioná-lo é meramentequestão de personalidade do marida. Não...Não é tão fácil assim achar a conclusão enem está inteiramente válida.

Uns mais afoitos poderão equacioná-lopropondo deixar dinheiro à vontade, paraque a parceira não sinta necessidade de usartais artimanhas. Mas comprovadamente istonão funciona, pois o marido, quandodescobre a vasculhação de seus pertencesé por um pequeno deslize da mulher,consequência de sua segurança no ato hámuito praticado, o que nos induz a concluirque o hábito de perquirir os segredosmaritais vem de longe... Pode sobrar dinheiroque, infalivelmente, elas irão aos bolsos ecarteiras...

Um psicólogo de botequim, desses quesabem de tudo, explica que dinheiro não éfundamentalmente a causa. Segundo suas“pesquisas” – e é bem provável que comum pouco mais de corda ele até disse tertudo estatisticado... –, a segurança e o ciúmesão que levam as madames a mexer e remexernos recônditos da indumentária masculina.Dinheiro é apenas uma desculpa psicológicapara o ato. Bem, é uma tese... Ainda segundoo teórico, reclamar, xingar, chamar às falas,soltar uns sopapos são soluções latinas quesó fazem aumentar as divergências entre oscônjuges.

Cá com meu silêncio e ignorância noassunto, fico conjeturando se, para cola-borar com os maridos que estão nessa onda,os ditadores de moda para homem criassemroupas sem bolsos. Seria amplamenteadotada a moda feminina de bolsa a tiracolo,só que com fechadura ou cadeado no fecho.É óbvio que teria que haver uma campanha

conscientizadora para que os marmanjosadotassem tais adornos. Mas vem umadúvida sobre a validade de minha ideação:a chave da bolsa sistematicamente escon-dida não provocaria reações ciumentíciasmaiores que as normais? Será que, levadasao extremo, poderiam provocar até umaexplosãozinha no fecho para descobrir ossegredos do seu interior? Efetivamente nãoé uma solução muito convincente, reco-nheço...

Todo mundo nu não é plausível... Invernoque judia, vento cortante, sol abrasador... Eonde levar o dinheiro, os cigarros, as muitascarteiras comprovantes de que a pessoavive e é ela mesma? Sugestão eliminada semqualquer consulta aos moralistas.

O mundo todo comerciando sem di-nheiro... Se o mal falado vil metal inexistisse,os maridos estariam mais seguros nasdormidas, sem ter seus pertences devas-sados por mãos alheias, já que, de acordocom o psicólogo citado, não mais haveria ajustificativa para a busca. Mas o difícil éimaginar um mundo sem moeda, poisestamos inseridos numa engrenagem em queela é a força motriz. Ainda a considerar avasta mudança que teria que se operar naestrutura universal para a adoção dessesistema. Que faria o pessoal do FMI?

Para aqueles que acalentam sádicospensamentos, um lembrete: ratoeira no bolsosó em revistas de piadas. Calculem se, nodia em que o pretenso “homem da casa”resolve colocar uma armadilha, a mulherestiver cansada em excesso, dormir a noitetoda, não fuçar o bolso do marido, e ele, nahora de sair para o serviço, meter a mão nacumbuca...

O jeito é acabar a crônica e as buscas desolução para o caso... Prometi ao desa-bafante inicial estudar o problema. Fi-lo enão encontrei saída... Talvez o mais acertadoé psiquiatria para a mulher. Como essestratamentos são prolongados, não sei secompensaria... Enfim, para os mais deses-perados é uma possibilidade...

Ainda que tardiamente, pois houve umdetalhe na choradeira do amigo, que nãotoquei, vou enviar um conselho a ele, quepoderá servir para outros: quando a outraescrever, não deixe a carta no bolso.Dinheiro, sempre se dá um jeito, masconfiança perdida...

Page 7: JUNHO 2011

O ESTAFETAPiquete, junho de 2011 Página 7

Ao ensejo dos 120 anos de Piquete,numa retrospectiva histórica, podemosobservar, por meio da fotografia, o cres-cimento, o desenvolvimento e, também, osrevezes sofridos pela cidade ao longo dosanos. O grande avanço desenvolvimentistado município, que proporcionou mudançasna fisionomia da cidade com a construçãode edificações e praças de valor arqui-tetônico, foi dado pela FPV a partir dadécada de 40 do século 20. Dentro de umapolítica social voltada para o operariado,hospitais, clubes recreativos, vilas operárias,praças, escolas e parque zoológico foramconstruídos. A expansão da Fábrica naquelaépoca atraiu muitos trabalhadores e autori-dades do país, tanto militares como civis,que vieram conhecer o milagre acontecidoem Piquete. Foi nesse período que um jovemcom menos de vinte anos apaixonou-se pelafotografia e passou a documentar essesmomentos.

Ainda hoje, trabalhando em seu estúdio,na Avenida Luiz Arantes Júnior, DogmarMeireles Brasilino vem, há quase setedécadas, de maneira ininterrupta, foto-grafando eventos, personalidades e mo-radores de Piquete. O início desse seu ofício,em 1944, foi como uma brincadeira. Foto-grafar, porém, tornou-se, sem que ele mesmopercebesse, sua profissão. Dogmar Brasilinoé um cronista da imagem. Nenhum acon-tecimento importante de Piquete nessesanos todos escapou do “click” de suamáquina. Ao analisarmos as imagens por elecaptadas em diferentes épocas, é possívelperceber a relação viva entre o passado e opresente. As fotografias dialogam, cons-tituem e nomeiam seus espaços sociais eculturais. À medida que registrava emimagens nossos cotidiano, suas fotospassaram a servir como suporte para oconhecimento coletivo dos indivíduos e setornaram peças fundamentais para análisede nossa cidade. Graças a Dogmar Brasilino,

temos inúmeras vistas da cidade a partir dadécada de 40: a visita do presidente Dutra eas inaugurações do Hospital da FPV e daAssociação Comercial, em 1948; o pouso deum avião em Piquete, pilotado por AgenorFerreira, em 1950; o descarrilamento de umtrem, no ramal Lorena - Piquete, em 1958; ainauguração do campo da AssociaçãoAtlética Piquetense e as comemorações doCinquentenário da FPV, em 1959; o lan-çamento da Pedra Fundamental da Matrizde São Miguel, em 1960, e sua construção;a Lira da Juventude Piquetense, em 1970;desfiles cívicos, inaugurações, procissões,comícios, atividades esportivas... Enfim,nada escapou das lentes e do olhar deDogmar Brasilino – fotografou a vida e amorte. Não há família em Piquete que, emseus álbuns de fotografias, não tenha umaimagem feita por Dogmar. São poucos osque não ficaram registrados em seu estúdio,numa “3x4”. As fotos de família celebram avida: casamentos, aniversários, a foto naPraça, na escola, na igreja, com a bandaregistram momentos de alegria. Mesmo asimagens dos que já partiram são alegres,sorridentes, e serão guardadas juntamentecom as boas lembranças.

Detalhe essencial da vida profissionaldeste fotógrafo é que a maioria dos nega-tivos de suas imagens está arquivada eorganizada. E o mais incrível é que, olhandonegativo por negativo, Dogmar reconhecea cena, a data e o fotografado. Com umamemória prodigiosa, tem sempre uma his-tória para contar.

Recentemente, Dogmar doou grandeparte desse arquivo para Antônio CarlosMonteiro Chaves, que mantém, há muitosanos, o acervo da Fundação ChristianoRosa. Nas comemorações dos 120 anos deemancipação político-administrativa dePiquete, O ESTAFETA publica pequenaamostra dessas imagens, homenageando acidade por meio de tão delicado trabalho.

Dogmar Brasilino, cronista da imagem

Fotos Dogmar Brasilino, Arquivo Pro-Memória

Page 8: JUNHO 2011

O ESTAFETA Piquete, junho de 2011Página 8

Parece que foi ontem, mas vinte anossão passados desde as comemorações docentenário de emancipação político-adminis-trativa de Piquete, ocorrido em 15 de junhoda1991. Durante aquele ano jubilar, a cidade,administrada pelo então prefeito AlaorFerreira, havia sido toda remodelada e o arfestivo estava presente em todos os cantos.Vários eventos culturais, religiosos eesportivos aconteceram. Piquete viveu diasde grandes emoções. Os festejos doCentenário foram concorridos e contaramcom a participação de toda a população. Umdos grandes momentos aconteceu no dia 8de junho, quando mais de quinhentospiquetenses, provenientes de diferenteslugares do país, retornaram à cidade natalpara o “Dia do Piquetense Ausente”. Logopela manhã foram recepcionados pelasautoridades municipais e membros daComissão dos festejos. Percorreram as ruas

da cidade matando as saudades de pessoase das paisagens mantiqueiras. Visitaram aexposição instalada no antigo Cine Estrela,onde puderam apreciar uma mostra deartistas locais e também uma exposição dedocumentos, fotografias e objetos antigosligados à história do município, organizadapor Carlos Vieira Soares. Às 13h, no GrêmioDuque de Caxias, um almoço de confrater-nização e congraçamento. No final daquelatarde, na Praça Duque, o maestro Luiz Vianadirigiu uma apresenação da Orquestra deSopro Anacleto de Medeiros, que veioespecialmente do Rio de Janeiro parahomenagear a cidade.

Na semana seguinte, no dia 15, datamáxima do município, aconteceu o DesfileCívico do Centenário. Foi uma das maioresemoções vividas pelos piquetenses, propor-cionada pelos próprios piquetenses. Foiuma verdadeira aula de história, civismo e

amor à Cidade Paisagem, de que todosparticiparam: as escolas, com seus alunos eprofessores; as entidades, com seus sóciose filiados, as indústrias, com seus operários,e os funcionários públicos municipais.Pessoas de todas as faixas etárias, naqueledia festivo, se orgulhavam de ser pique-tenses. Dava gosto ver a emoção estampadano rosto de todos – os que desfilavam e osque assistiam. Lado a lado, crianças e idososcom o mesmo brilho no olhar e o orgulhopela cidade centenária. Numa retrospectivahistórica, uma cronologia de fatos epersonagens de nossa história desfilarampela Praça Duque de Caxias. Fazendo parteda programação, aconteceram, ainda, oslançamentos dos livros “Clarescência”, deSérgio Luiz Maduro, e “Piquete de meusamores”, de Palmyro Masiero.

Parece que foi ontem... Mas já passaramvinte anos...

Há vinte anos, num centenário...

Em 1962, a Inspetoria Regional deEstatística Municipal do IBGE, por meio doBoletim Regional de Serviço nº 146, propôsque se publicasse um cadastro de cog-nomes dos municípios paulistas. Solicitou,para isso, o empenho das agências muni-cipais.

Naquela ocasião, Piquete ainda nãotinha um cognome. Foi então que o senhorWilson Leite do Prado, chefe da Agênciade Estatística de Piquete, promoveu umconcurso patrocinado pelos jornais “OLabor”, editado pela FPV, e “A Cidade”,para que fosse selecionado e votado umcognome para nossa cidade. Foi convidadoum grupo de nossa sociedade para compora comissão apuradora dos votos. A votação

O porquê de Cidade Paisagem...foi feita por meio dos programas distribuí-dos semanalmente pelo Cine Estrela, quepassaram a trazer uma parte destacáveldestinada a receber o voto, que deveria sercolocado numa urna à entrada do Cinema.

Foram sugeridos vários cognomes, entreeles: Cidade da Pólvora, Cidade Frater-nidade, Cidade Sorriso, Cidade Paisagem,Cidade dos Amigos, Terra das VertiginosasPaisagens... Em dia marcado, a urna foi abertacom a presença de autoridades municipais.Foram registrados 139 votos. A ata foiassinada por Luiz Gonzaga de Siqueira, Joelde Freitas Dantas, Wilson Leite do Prado,Abdon Torres, José Pacheco, João Evan-gelista do Prado, Nelo Pelegrine e José deSouza Leite.

O espírito humorístico do povo, virtudeinata do brasileiro, não deixou de semanifestar. Alguns cognomes curiosís-simos foram sugeridos: Cidade Buraco,Buraco do Vale, Cidade da Pinga, Cidadedas 1001 Cachaças, Cidade dos Morros eCidades dos Mineiros...

Sagrou-se vencedor “Cidade Paisa-gem”, cognome já empregado desde 1º deMaio de 1960 pelo professor Palmyro (Yeyé)Masiero no jornal “A Cidade” e que faz jusàs belezas naturais e à localização privile-giada de Piquete nos contrafortes daMantiqueira. O resultado agradou a todos,sendo publicado e divulgado pela imprensae enviado oficialmente ao órgão interes-sado do IBGE.

Fotos Arquivo Pro-Memória