JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ENÉAS DE ARAUJO GÓES JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE DISSERTAÇÃO PONTA GROSSA 2010

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

ENÉAS DE ARAUJO GÓES

JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

DISSERTAÇÃO

PONTA GROSSA 2010

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ENÉAS DE ARAUJO GÓES

JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

Dissertação apresentada como requisito parcial á obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Área de Concentração: Gestão Industrial: Conhecimento e Inovação, da Gerência de Pesquisa e Pós-Graduação, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. Orientador: Prof. Dr. João Luiz Kovaleski Co-orientadora: Prof.a Dra. Isaura Alberton de Lima

PONTA GROSSA 2010

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Ficha catalográfica elaborada pelo Departamento de Biblioteca da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa n.22 /11

G598 Góes, Enéas de Araujo.

Just in time na indústria alimentícia de grande porte. / Enéas de Araujo Góes -- Ponta Grossa: [s.n.], 2011.

116 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. João Luiz Kovaleski Co-orientadora: Profa. Dra. Isaura Alberton de Lima

Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Ponta Grossa, 2011.

1. Just in time. 2. Indústria alimentícia - Grande porte. 3. Sistema Toyota de Produção. 4. Logística. I. Kovaleski, João Luiz. II. Lima, Isaura Alberton de. III. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. IV. Título.

CDD 670.42

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, fonte de graça e amor, sustentador universal. Pelas

manifestações de sua presença em minha vida, e provas de Sua misericórdia.

Aos meus familiares: Minha esposa Mara, meus filhos Leandro e Henrique, minha

nora Êvore, e minha filha Beatrice. Pela compreensão, desprendimento e incentivos

dispensados a cada momento, de forma verbal e não verbal.

À Empresa pesquisada que autorizou a execução dos trabalhos e possibilitou acesso a

suas instalações, funcionários, fornecedores e transportadoras. Impossível retribuir, mas que

de alguma forma os resultados sejam úteis para a continuidade de seus trabalhos com o JIT,

junto a seus agentes.

Aos queridos professores do mestrado da UTFPR – Ponta Grossa. Com sapiência,

dedicação e exemplos provaram serem mais que transmissores de conhecimento, formadores

de novos pesquisadores e mestres. Dentre tantos estimados professores destaco:

- Professor Dr. João Luiz Kovaleski. Pelo incentivo, e cobranças tão necessárias e

pertinentes. Por suas diretrizes acertadas. Pela Coordenação eficaz do programa de mestrado.

Em função do seu exemplo e dedicação ao mesmo, ao concluir esta missão, me comprometo

como egresso a continuar contribuindo no que for possível para a ascensão do programa.

- Professora Dr.a Isaura Alberton de Lima. Pela transmissão de encorajamento à

persistência, renovando a motivação. Fonte de inspiração em cada orientação. Pelos caminhos

apontados e correções, tão úteis e necessários.

- Professor Dr. Cezar Augusto Romano, pela importante participação na

Qualificação, quando abriu os horizontes para a continuidade dessa carreira. Pela participação

na avaliação preliminar dos questionários. Sua influência contribuiu para viabilizar esta

caminhada.

Aos funcionários da UTFPR – Ponta Grossa, tanto da Secretaria, como da biblioteca,

dos serviços gerais, enfim, todos que tive contato, e sem exceção demonstraram atenção e

prestaram bom atendimento em todo tempo.

Finalmente a todos os amigos e parentes que se preocuparam, se dispuseram,

motivaram e torceram pela conclusão com êxito deste trabalho.

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RESUMO

GOES, Enéas de Araujo. Just in time na indústria alimentícia de grande porte. 2010. 116 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2010. Esta pesquisa foi realizada em uma unidade industrial de empresa de grande porte do ramo de alimentos processados de origem animal no Estado do Paraná, com a finalidade de investigar as percepções sobre o Just in time - JIT. Assim, este trabalho tem como objetivo geral identificar percepções dos funcionários, fornecedores e transportadoras sobre a aplicação do Just in time na indústria alimentícia. A metodologia da pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso de natureza aplicada, com abordagem qualitativa, e quanto aos objetivos é exploratória, tendo se buscado compreensão por diversos ângulos, através de questionários com agentes ligados à logística, entrevistas, visitas de observação e análise de documentos. A trajetória metodológica segue em três fases: a primeira, o referencial teórico onde foram estudados os temas Sistema Toyota de Produção, logística, principais agentes da logística, estoques, e Just In Time. A segunda fase trata da análise dos resultados onde o estudo de caso revelou que as visões dos três grupos apontam para aprovação. As opiniões convergem para um nível pouco acima da transição entre a aprovação e desaprovação, ou seja, ainda distante de uma pontuação de excelência. Os participantes da pesquisa, em geral, têm entendimento de que o sistema favorece a rentabilidade da empresa, que ajuda na melhoria da organização e controle, bem como possibilita abertura de novos espaços físicos, inclusive para permitir a instalação de fornecedores na planta da Indústria para executar produção integrada, com abastecimento JIT, mas não estão tão seguros quanto aos riscos de trabalhar com estoque zero. A última fase aborda considerações sobre o modelo de gestão e sugestões para trabalhos futuros. Palavras-chave: Just in time. Indústria alimentícia - Grande porte. Sistema Toyota de Produção. Logística.

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ABSTRACT GOES, Enéas de Araujo. Just in time in a large sized food industry. 2010. 116 p. Dissertation (Master in Production Engineering) - Post Graduate Program in Production Engineering, Federal Technology University - Paraná. Ponta Grossa, 2010. The present research was conducted at a large sized industrial facility of animal food processing in the state of Paraná, with the objective of investigating the perceptions on the Just in Time – JIT. Thus, this work aims to identify the perceptions of the employees, suppliers and carriers regarding the use of the Just in Time in the food industry. The research methodology used was an applied case study, with quality approach, and regarding the objectives, it is exploratory, seeking understanding in several angles, through questionnaires to staff connected to logistics, interviews, observing visits and documents analyses. The methodological path has three phases: the first, the theoretical background where the themes like Toyota Production System, logistics, main logistics agents, stocks and Just in time, were studied. The second phase deals with the results analyzes in which the case study revealed that the views of the three groups point to approval. The opinions converge to a little above the level of transition between approval and disapproval, i.e., still far from an excellent punctuation. The research participants, in general, understand that the system benefits the company’s profitability, improves the organization and control, the system allows opportunity to new physical spaces, and it also allows the installation of suppliers in the plant of the company in order to carry out integrated production with JIT supply, but are not so safe and sure of the risks of working with zero stock. The last phase, addresses considerations about the management model and suggestions to future works.

Key-words: Just in Time. Food industry - large sized. Toyota production system. Logistic.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Critérios para Escolha de um Tema.................................................................17 FIGURA 2 - Fluxograma da Estrutura da Pesquisa..............................................................21 FIGURA 3 - Sete Desperdícios Conforme Ohno .................................................................24 FIGURA 4 – O Sistema Toyota de Produção ......................................................................25 FIGURA 5 - Redução de Estoques – Expõe os Problemas Existentes ..................................34 FIGURA 6 - Hierarquia da Parceria com Fornecedores .......................................................44 FIGURA 7 – Triangulo da Tomada de Decisões Logísticas.................................................49 FIGURA 8 – JIT: Filosofia, Conjunto de Técnicas e Método de Planejamento e Controle...57 FIGURA 9 - Legenda dos Questionários .............................................................................60

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTOGRAFIA 1- Estoque de Matéria-Prima em Câmara Fria............................................63 FOTOGRAFIA 2- Estoque de Matéria-Prima Fora de Prateleiras........................................63 FOTOGRAFIA 3 - Estoque de MP (esquerda) e Emb. (direita) em Prateleiras ....................64 FOTOGRAFIA 4 - Espaço Disponível em Prateleiras Devido ao JIT ..................................65

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Ferramentas de Gestão .................................................................................51 GRÁFICO 2 - Estratégia em Relação aos Fornecedores ......................................................52 GRÁFICO 3 - Giro de Estoque MP e Embalagem - Área de Frigoríficos ............................66 GRÁFICO 4 - Estoque MP e Embalagem – Área de Frigoríficos – Jan/Out 2010................66 GRÁFICO 5 - Percepções sobre Chegada de MP e Embalagem ..........................................74 GRÁFICO 6 - Percepções sobre Despacho de Produtos e Rentabilidade .............................76 GRÁFICO 7 - Percepções sobre Abertura de Espaço para Novas Produções .......................77 GRÁFICO 8 - Percepções sobre Nível Baixo de Estoques e Rentabilidade..........................78 GRAFICO 9 - Percepções Gerais do JIT .............................................................................85

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Dissertações da UTFPR – Ponta Grossa de 2005 a 2009 ...............................15 QUADRO 2 - Tópicos de Referencial Teórico e Principais Autores Citados .......................20 QUADRO 3 - Exemplos de Tomada de Decisões Estratégicas, Táticas e Operacionais .......39 QUADRO 4 - Valores de y para Respostas Tipo N e tipo P.................................................56 QUADRO 5 - Apuração dos Questionários aos Funcionários ..............................................70 QUADRO 6 - Apuração dos Questionários aos Fornecedores .............................................71 QUADRO 7 - Apuração dos Questionários às Transportadoras ...........................................72 QUADRO 8 - Interação entre Indústria e Fornecedores.......................................................80 QUADRO 9 - Todas as Opiniões sobre Interferências na Rentabilidade ..............................82

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LISTA DE SIGLAS

5S Cinco Sensos CLM Council of Logistics Management EMB Embalagem FIFO First in, First out FIEP Federação das Indústrias do Estado do Paraná JIT Just in time MP Matéria – Prima SIF Serviço de Inspeção Federal STP Sistema Toyota de Produção

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................13 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA .................................................14

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA .......................................................................................16 1.3 JUSTIFICATIVA E IMPORTÂNCIA DO TEMA ........................................................16

1.4 OBJETIVOS .................................................................................................................17 1.4.1 Objetivo Geral............................................................................................................17

1.4.2 Objetivos Específicos .................................................................................................17 1.5 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA .................................................................................18

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO E DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS..........................18 2 REFERENCIAL TEÓRICO .........................................................................................20

2.1 SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO – STP..............................................................20 2.1.1 Filosofia de Produção Enxuta e as Quebras de Paradigmas ........................................26

2.1.2 Integralidade da Produção Enxuta na Busca Contra o Desperdício..............................29 2.1.3 Funcionários na Produção Enxuta...............................................................................31

2.1.4 Fornecedores na Produção Enxuta ..............................................................................32 2.2 LOGISTICA .................................................................................................................37

2.3. AGENTES DE LOGÍSTICA........................................................................................40

2.3.1 Agentes de Logística – Funcionários ..........................................................................40

2.3.2 Agentes de Logística – Fornecedores..........................................................................41 2.3.3 Agentes de Logística – Transportadoras .....................................................................43

2.4 ESTOQUES..................................................................................................................43 2.4.1 Funções dos Estoques.................................................................................................44

2.5 JUST IN TIME ..............................................................................................................45 2.5.1 O Just in Time no Estado do Paraná............................................................................50

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................................53 3.1 MÉTODO CIENTÍFICO DA PESQUISA .....................................................................53

3.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA..............................................................................53 3.3 JUSTIFICATIVA DA EMPRESA ESTUDADA...........................................................54

3.4 COLETA DE DADOS ..................................................................................................54 3.4.1 Teste Piloto e Pré-avaliação dos Questionários ...........................................................54

3.4.2 Instrumentos de Pesquisa – Questionários ..................................................................55 3.4.3 Formulação e Interações de Questões .........................................................................57

3.4.4 Instrumentos de Pesquisa - Entrevistas Semi-estruturadas...........................................58

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3.4.5 Instrumentos de Pesquisa - Observação e Análise Documental ...................................59

3.5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ..............................................................................59 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...............................................62

4.1 APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO ...............................................................62 4.2 SINTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS..............................................................67

4.3 ANÁLISE DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..............................................................73 4.3.1 Objetivo Específico A ................................................................................................73

4.3.2 Objetivo Específico B ................................................................................................75 4.3.3 Objetivo Específico C ................................................................................................78

4.3.4 Objetivo Específico D ................................................................................................79

4.4 ANÁLISE DO OBJETIVO GERAL .............................................................................81

5 CONCLUSÕES E SUGESTÔES...................................................................................86 5.1 CONCLUSÕES ............................................................................................................86

5.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÔES PARA TRABALHOS FUTUROS.........88 REFERÊNCIAS................................................................................................................90

APÊNDICE A – Questionário para Encarregados e Chefes de Setores ................................94 APÊNDICE B – Questionário para Transportadoras............................................................96

APÊNDICE C – Questionário para Transportadoras Fornecedores......................................98 APÊNDICE D – Blocos – Questões tipo N e P.................................................................. 100

APÊNDICE E - Instruções(Tutorial) Para Preenchimento e Devolução dos Questionários. 102 APÊNDICE F - Questionário para a Supervisão de Logística ............................................ 104

APÊNDICE G - Entrevista Semi-estruturada – Respondente 1.......................................... 107 APÊNDICE H - Entrevista Semi-estruturada – Respondente 2.......................................... 110

APÊNDICE I - Entrevista Semi-estruturada – Respondente 3 ........................................... 113

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1 INTRODUÇÃO

A literatura aponta três tipos de processos de produção conforme a utilização dos

recursos: A artesanal, que exige profissionais de extrema qualificação, e que atende a

demanda do mercado por encomenda; A produção em massa, onde os profissionais trabalham

em tarefas padronizadas com equipamentos especializados, gerando grandes volumes de

produtos; a produção enxuta, que combina as vantagens de ambas. Conta com trabalhadores

multifuncionais e flexibilidade na utilização das máquinas. (WOMACK, JONES e ROOS

2004).

Os conceitos da produção enxuta têm despertado interesse pelos resultados que as

indústrias que os adotam vêm alcançando. Resultado é o objetivo principal de toda

organização com fins lucrativos. Logo, se for possível melhorar os resultados com a utilização

desses conceitos, por que não conhecê-los e, se possível, utilizá-los?

Vários autores que estudam esses conceitos revelam como os mesmos surgiram,

quais os seus fundamentos e como têm sido aplicados nas empresas. Primeiramente o foram

no ramo automobilístico e depois foi sendo expandido para os mais diversos setores.

Ao longo do tempo, têm sido implantados com sucesso em algumas empresas e tem

fracassado em muitas outras. Uma corrente de pensadores da produção enxuta entende que

tudo depende de uma revolução do pensamento, e que só funciona bem se for implantado na

sua totalidade. Não é uma caixa de ferramentas, onde se pode usar uma ou outra conforme a

necessidade. Outros recomendam algumas práticas sem a obrigatoriedade de utilização de

toda a filosofia.

Várias práticas típicas da produção enxuta foram difundidas sem a idéia de utilização

de integral do sistema. Assim, há empresas que usam o 5S (cinco sensos), o Just in time,

kanban, produção nivelada, ou outras práticas isoladas. Como permanecem utilizando ao

longo de anos, pelo menos hipoteticamente deve haver algum nível de satisfação de seus

proprietários ou gestores.

No Estado do Paraná há pesquisa (apresentada na seqüência) que revela o uso

permanente e crescente de Just in time – JIT nos últimos anos. Se o fazem, deve haver

satisfação com a utilização do mesmo, pois seria incoerente manter algo que não está dando

certo. Dessa constatação, desperta o interesse de saber se as empresas adotam na integralidade

do conceito de produção enxuta, ou isoladamente, e ainda qual o nível de aprovação da

utilização do JIT.

A literatura dá a conhecer que na produção enxuta há uma valorização especial dos

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funcionários e também dos fornecedores. Ambos são fundamentais para que o sistema

funcione a contento. Há até a perspectiva que sem os fornecedores integrados e

comprometidos e os funcionários participantes, o sistema não conseguiria subsistir.

Os fornecedores e os funcionários, juntamente com as transportadoras, são agentes

de logística que exercem papel importante em qualquer organização, e pelo que se percebe na

literatura, tem relevância na produção enxuta, onde tudo deve funcionar de forma bastante

sincronizada em função da utilização de baixo volume de estoques. Trabalhar com estoque

zero ou mínimo de estoques contribui para redução de custos e força a melhoria contínua, pois

os problemas se tornam visíveis, devendo ser resolvidos o quanto antes e de forma definitiva,

se possível.

Verificar se o JIT está funcionando a contento na visão dos proprietários ou pelo alto

escalão de gestores, pode fornecer um tipo de resposta. Fazer outro tipo de verificação pela

ótica dos principais agentes de logística pode dar uma perspectiva prática, sendo este o viés

do trabalho.

Como a filosofia de produção enxuta foi desenvolvida no Sistema de Produção

Toyota – STP, em função da necessidade de produzir mais com menos recursos, sendo

revelado por seu mentor que a necessidade foi a grande razão para que desse certo, buscou-se

uma atividade que também tivesse alguma necessidade forte. A indústria alimentícia é muito

diferente em seus processos que a automobilística, mas tem em comum com a Toyota a

grande necessidade de cuidados especiais com estoques. São produtos perecíveis, que

precisam ser processados e expedidos no menor prazo possível.

Assim, o que se propõe neste trabalho é verificar o Just in time na indústria

alimentícia, e fazê-lo por meio da visão dos funcionários ligados ao setor de logística, dos

fornecedores e das transportadoras. Para tanto, foi realizado um estudo de caso em uma

unidade no Estado do Paraná de uma indústria de grande porte do ramo de alimentos

processados de origem animal.

Não foi localizado um estudo semelhante, em artigos e livros, isto é, trabalhos que

abordassem as três visões, sobre o JIT, e em uma indústria alimentícia. Dessa forma um

estudo de caso foi o meio de explorar esse tema, possibilitando aprofundamentos futuros.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA

No ano de 2007 foi divulgado na mídia, o recorde alcançado para Toyota que passou

a ser considerada a maior fabricante de veículos do mundo. Uma referencia a respeito desse

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fato está no livro O Segredo da Toyota: Como Toyota se tornou a n.o 1 – Lições de liderança

da maior fabricante de automóveis do mundo, de autoria de David Magee. O autor relata de

forma jornalista e ao mesmo tempo didática a saga da Toyota abordando as razões do seu

sucesso.

A atenção do empresariado, de analistas da área econômica e de pesquisadores das

ciências de administração e engenharia de produção se volta mais intensamente para tal

sistema de produção.

Assim, estudar o STP e suas bem sucedidas ferramentas de gestão de produção e

estoque continua sendo tão atual como o foi em passado recente.

No mestrado de Engenharia de Produção da UTFPR, Ponta Grossa, ainda são poucos

os estudos que tratam do Just in time, mas tem aumentado o interesse pelo tema a cada ano,

conforme Quadro 1.

Ano Dissert. Titulo P. Chave Texto T. Palavras 2005 17 0 0 1 5 2006 27 0 0 1 12 2007 28 0 0 3 12 2008 31 0 0 2 14 2009 33 0 0 9 42

136 Quadro 1: Dissertações da UTFPR – Ponta Grossa de 2005 a 2009

Fonte: Autoria própria (2010) com base no site da UTFPR

Das 136 dissertações de 2005 a 2009, nenhuma tem o termo Just in time no título,

nem entre as palavras-chave. O número de dissertações que usam a expressão pelo menos

uma vez no texto vem crescendo a cada ano, culminando com 9 trabalhos em 2009. Quanto à

quantidade de palavras usadas também há crescimento passando de 14 em 2008 para 42 entre

os 9 trabalhos em 2009.

Como o tema é amplo, buscou-se estudar uma atividade produtiva que necessite de

controle rígido sobre estoques, tal como a área alimentícia.

As indústrias de gêneros alimentícios estão cada vez mais sendo alvo das atenções

dos consumidores, a partir da criação do Código de Defesa do Consumidor, e resultante das

campanhas na mídia sobre os cuidados que se deve ter com a alimentação. Os adquirentes

estão se tornando mais exigentes, principalmente com o crescimento do poder aquisitivo no

país. A população está cobrando mais ação da fiscalização por meio da vigilância sanitária. O

mercado de gêneros alimentícios é competitivo, principalmente para as indústrias que

exportam alimentos para outros países.

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Por todos esses motivos, as indústrias de alimentos estão buscando melhoria da

qualidade e ao mesmo tempo evitando onerar excessivamente os custos dos produtos. Este

cenário mostra-se propício a aplicação do JIT.

Dentro deste contexto é que surge o problema de pesquisa exposto no item 1.2.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

É relevante estudar uma Empresa que tenta implantar o Just in Time durante cerca de

15 anos e só recentemente consegue os primeiros resultados, conforme declaração dos

entrevistados e ser explanado oportunamente. É importante identificar como os agentes

envolvidos percebem o funcionamento, e resultados do mesmo. Sendo uma indústria de

alimentos, atividade onde não se encontram muitos estudos sobre a utilização dessa

ferramenta, torna-se ainda mais relevante estudar o tema.

Dessas considerações surge a pergunta que norteia a pesquisa: Quais as percepções

sobre o JIT por parte dos agentes ligados diretamente à atividade logística em uma indústria

alimentícia?

1.3 JUSTIFICATIVA E IMPORTÂNCIA DO TEMA

A fase da escolha do tema é determinante para a realização de trabalhos científicos.

Na ótica de Descartes o aprendizado deve começar do mais fácil e avançar gradativamente

para as tarefas mais complicadas. No entanto, na pesquisa a escolha do tema deve ser feita na

fase inicial. Para bom êxito da pesquisa é essencial fazer a escolha do tema criteriosamente

(CASTRO, 2006).

Uma abordagem mais personalizada sobre a escolha do tema é trazida por Beaud,

ressaltando o interesse e motivação do autor da investigação e ainda acrescentando o

atendimento das perspectivas profissionais do pesquisador. (BEAUD, 2005). Neste sentido o

tema se enquadra por se relacionar com experiências vivenciadas e perspectivas futuros do

pesquisador. Além disso, o resultado pode auxiliar a empresa pesquisada na identificação de

pontos não esclarecidos.

Castro (2006) apresenta um esquema referente aos critérios para nortear tal decisão

conforme Figura 1, a qual dispensa esclarecimentos adicionais.

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Importancia Afeta a ciência ou sociedade?

Originalidade Tem capacidade de surpreender?(Não basta não ter sido demonstrado previamente)

É possível concluir a pesquisa com êxito e no prazo?

Há base teórica suficiente?Viabilidade

Os dados existem e estão disponíveis?

O pesquisador domina as ferramentas requeridas?

Figura 1: Critérios para Escolha de um Tema Fonte: Adaptado de Castro (2006, p. 64).

Baseando-se nos critérios da Figura 1 e considerando a premissa de se tratar de algo

relevante para o ramo de engenharia de produção, e ainda que tenha sido pouco explorado, é

que foi escolhido este tema. O mesmo tem despertado a atenção a partir da constatação da

crescente utilização do Just in time nas indústrias do Estado do Paraná. A decisão foi

embasada também na análise da pesquisa Sondagem Industrial realizada anualmente pela

Federação das Indústrias do Estado do Paraná – FIEP.

Surge a partir disso, a intenção de investigar uma indústria do Estado do Paraná, que

aplica a ferramenta JIT.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

Identificar percepções dos funcionários, fornecedores e transportadoras sobre a

aplicação do Just in time (JIT) em uma unidade de indústria de grande porte do ramo de

alimentos processados de origem animal

1.4.2 Objetivos Específicos

a) Identificar as visões dos funcionários, fornecedores e transportadoras sobre a

chegada de matéria-prima (MP) e material de embalagem pouco antes da aplicação no

processo;

b) Verificar as visões dos funcionários, fornecedores e transportadoras sobre

despachar produto acabado logo após o término da produção;

c) Identificar as visões dos funcionários e fornecedores sobre manter nível baixo de

estoque na Indústria;

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d) Investigar a interação entre a indústria e os fornecedores na ótica dos agentes

envolvidos nessa relação

1.5 DELIMITAÇÕES DA PESQUISA

O trabalho restringe-se a pesquisa bibliográfica e estudo de caso.

Segundo Lakatos e Marconi (2001) delimitar uma pesquisa significa estabelecer

limites para a investigação. Dessa forma, o estudo limita-se aos seguintes aspectos:

· Empresa: Ramo Industrial

· Tamanho: Grande porte

· Atuação: Segmento alimentício

· Mercado de atuação: nacional e internacional

· Foco do trabalho: Aplicação de Just in Time

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO E DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS

Após a contextualização, identificação do problema de pesquisa, e sua respectiva

justificativa, seguiu-se a apresentação dos objetivos geral e específicos e a delimitação do

presente trabalho.

Na seqüência será apresentado no capitulo 2 o referencial teórico com a

demonstração dos principais autores que foram consultados e citados no trabalho. Aborda-se o

Sistema Toyota de Produção (STP), apresentando como e porque surgiu. São apresentadas as

principais características da sua filosofia, com ênfase no aspecto desperdícios, algo de se

procura evitar com afinco. Esse sistema se firma quebrando paradigmas de produção, pela

forma diferenciada de ver as situações. Aborda-se a busca pela eliminação de todos os tipos

de desperdícios, esclarecendo que a manutenção de estoques desnecessários é uma forma de

desperdiçar recursos além de causar transtornos, e esconder ineficiências. Consta ainda que

diversos autores consideram que sua aplicação só é eficaz quando adotadas todas as

ferramentas, enquanto outros autores divergem desse posicionamento. Esta discussão é

pertinente, pois este estudo ocorre em uma empresa que utiliza parcialmente o sistema e vem

apresentando melhoria de resultados.

A seguir é abordado um panorama de como são tratados alguns agentes de logística

no STP, a saber: funcionários, fornecedores e transportadoras. A forma peculiar de se inter-

relacionar com tais agentes no STP é trazida a tona, para auxiliar na análise dos resultados.

Logo após, é estudada a logística, por ser uma atividade que recebe influencia do

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STP e que ao mesmo tempo influencia na performance do mesmo. Os agentes de logística são

mais uma vez estudados em complemento ao que havia sido apresentado anteriormente, por

serem elementos fundamentais para a presente pesquisa. Eis que serão os respondentes dos

questionários e entrevistas.

O referencial traz ainda o papel dos estoques no sistema, pois o Just in time está

ligado ao tema armazenagem. São apresentados os conceitos de JIT e para ampliar a

justificativa sobre a necessidade e oportunidade de estudá-lo, traz-se a tona o fato de que as

indústrias do Estado do Paraná vêem utilizando cada vez mais esta ferramenta, proveniente do

STP.

O capítulo 3 traz a metodologia utilizada, a justificativa da empresa estudada e

detalha a coleta de dados. Apresenta como foram elaborados os questionários, como foram

validados, cita as bases para as entrevistas, como ocorreram as observações diretas, e analise

de documentos. Encerra-se este capitulo com uma representação gráfica da estrutura do

trabalho, deixando clara a trajetória metodológica visualmente demonstrada.

O capitulo 4 apresenta os resultados e a análise dos mesmos. Foi demonstrado como

os dados foram tratados, justificando sua consistência. São oferecidos quadros e gráficos para

facilitar a analise qualitativa dos resultados.

Cada objetivo é então analisado a luz dos dados demonstrados em confronto com o

referencial teórico.

Finalmente a capitulo 5 apresenta as principais conclusões e as sugestões para

trabalhos futuros.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo apresenta o marco teórico para fundamentar a análise dos resultados.

REFERENCIAL TEÓRICO AUTORES

Sistema Toyota de Produção e Just in Time

Ballou, Coriat, Correa e Correa, Correa e Gianesi, Costa, Christopher, Duarte, Liker, Liker e Meier, Magee, May, Iyer, Seshadri e Vasher, Ohno, Shingo, Shonberger, Slack et. al. Womack, Jones e Roos

Logística e seus agentes

Ballou, Christopher, Correa e Correa, Drucker, Manãs, Martins e Alt, May, Nonaka e Takeuchi, Shaw

Metodologia Beaud, Bourdieu, Castro, Gil, Lakatos e Marconi, Yin

Quadro 2: Tópicos de Referencial Teórico e Principais Autores Citados Fonte: Autoria própria (2010)

O Quadro 2 demonstra os principais autores consultados e citados no trabalho, ou

seja, aqueles contribuíram mais expressivamente.

2.1 SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO – STP

Nesta seção são apresentados conceitos e peculiaridades do Sistema Toyota de

Produção o qual surgiu no pós-guerra pela necessidade de produzir mais com menos recursos.

A administração de estoques sempre foi importante, mas no caso do STP tornou-se

essencial. O desejo era evitar desperdícios que o excesso de estoque gera e, portanto, foi

considerado como um fator a ser tratado com especial atenção. O objetivo era evitar estoques

de matéria-prima, produtos intermediários e produto acabado. Para isso era necessário um

conjunto de condições que alteravam os antigos padrões de administração de produção. Várias

soluções foram pesquisadas, testadas, implantadas. Passaram pelo processo de erros e acertos,

aperfeiçoamentos, e adaptações constantes com a participação dos funcionários em todos os

processos. Os conceitos de qualidade e flexibilidade estavam presentes na filosofia da

empresa e no contexto do sistema como um todo (SHINGO, 1996).

O STP surgiu em meio à extrema dificuldade, confrontando um sistema tradicional.

Vale dizer que o sistema de produção em massa nos moldes do Fordismo até hoje continua

sendo muito utilizado e gerando resultados para muitas empresas. Como qualquer sistema de

produção tanto o Fordismo como o Toyotismo tem necessidade de boa gestão logística.

(LIKER, 2005)

Para enfrentar os desafios de redução de custos e desperdícios a logística tem um

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papel fundamental. Sendo a logística um conceito dos mais antigos e aplicados em muitas

atividades, inclusive não produtivas, poderia parecer que tudo estaria tão bem definido que

jamais poderia ser contestado. A necessidade existente passou a proporcionar então a geração

de mudanças estruturais nos conceitos pré-estabelecidos. O fator necessidade, somado a

constatação que para conseguir novos resultados é indispensável inovar e até mesmo ousar,

possibilita a criação de um novo modelo de produção. Outros fatores como cultura, condições

geográficas, economia, mercado, entre outras facilitaram o desenvolvimento do STP. Nada

ocorreu, porém da noite para o dia. Foram necessárias décadas para que o modelo atingisse a

grandiosidade que alcançou se tornando um novo paradigma. (CHRISTOPHER, 1997)

Falando de desperdícios, Ohno (1997) elenca sete deles, ressaltando ser fundamental

dedicar atenção especial para eliminá-los. A identificação dos desperdícios abre o caminho

para a melhoria contínua do sistema.

Figura 2: Sete Desperdícios Conforme Ohno

Fonte: adaptado da comunidade Lean Thinking (2008)

A Figura 2 demonstra os sete desperdícios de forma ilustrativa. Pensar em eliminá-

los ou reduzi-los conduziria a quebra de paradigmas de produção, ou seja, contribuiria para

revisão dos conceitos.

Todo o conceito de logística até então vigente, se firmava em que a produção em

larga escala gerava ganhos econômicos. São os chamados ganhos de escala de produção. A

perspectiva seria de que os custos fixos de produção são diluídos no montante do que se

produz. Toda a estrutura fixa da organização é incluída nesta conceituação. Assim, os custos

com pessoal da administração segurança, limpeza, ou materiais de expediente, conservação,

etc. não pesam tanto sobre o custo unitário dos produtos. (BALLOU, 1993). A idéia se

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relaciona com a prática de melhor aproveitamento de mão-de-obra. Se a empresa pode ocupar

todo o tempo do funcionário com atividades, o seu salário pesa menos do que se o mesmo

estiver ocioso em alguns momentos do dia. Quanto mais ele produzir, melhor o seu

aproveitamento. Teoricamente ele rende mais por unidade produzida.

Produzir em larga escala era o alvo das organizações que quisessem ter melhores

margens. Mas estar produzindo montantes elevados de unidades ocupa tanto as pessoas, que

se torna fácil o envolvimento no processo a ponto de ofuscar a visão. Dessa forma, torna-se

mais difícil perceber as conseqüências do processo inchado. Isso ocorre com freqüência e por

vezes assusta quem examina externamente, mas pode não incomodar a quem está envolvido

no processo. Percebe-se que ocorre assim na atualidade e se pode imaginar que não seria

diferente no passado.

No Japão esse conceito de produção em larga escala nos moldes do Fordismo não

podia ser aplicado por vários motivos. O país estava arrasado pela II Grande Guerra Mundial.

Como se não bastasse a escassez natural de matéria-prima, havia a necessidade de

reconstrução a nível nacional. Havia o trauma da derrota e das muitas mortes. São fatores que

podem levar o homem a dois tipos de atitude, recuar ou enfrentar. Desistir e se aprofundar no

caos, ou reconstruir com os poucos recursos que restaram. (BALLOU, 1993)

A história revela exemplos de enfrentamento dos desafios e do sucesso alcançado.

Convém ressaltar o fator cultural que contribuiu com o soerguimento do Japão em especial da

Toyota. São milênios de cultura lidando com a superação de obstáculos naturais que têm

influenciado o comportamento dos trabalhadores. O mesmo sentimento de honra leva

guerreiros a voarem rumo à morte na guerra por um lado, pode ter levado os soldados da

indústria a lutarem para que seu trabalho resulte em vitória.

Mas ainda havia outros fatores a considerar além do físico moral e psicológico. A

economia fora seriamente afetada e havia grande diferença do mercado japonês para os países

desenvolvidos de então. As disparidades eram quanto ao tamanho do mercado, preferências

dos consumidores, propensão a consumir, condição de consumir. Além disso, não havia

fornecedores aptos a produzir em grande escala para atender uma grande indústria, mega

consumidora de materiais. Também não havia tecnologia para essa modalidade de produção

baseada no Taylorismo/Fordismo. Taylor, o criador da administração científica e Ford o

produtor em larga escala por excelência, dispunham das condições que para a Toyota seria um

sonho distante. Dessa forma, o paradigma vigente não servia à realidade da indústria

japonesa e, portanto precisava ser confrontado. (BALLOU, 1993)

Quando Shingo (1996) fala de algumas diferenças básicas entre o Fordismo e o

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Toyotismo, demonstra que não seria possível copiar aquele modelo na sua integralidade. Se o

fizesse não teria resultados satisfatórios. Também não resultaria positivo manter as coisas do

jeito que estavam. Assim a quebra de paradigma não seria necessariamente algo radical, mas

sim uma adaptação, mantendo ou mudando, o que fosse necessário permanecer ou alterar.

Uma técnica aplicada foi aquela que hoje é conhecida como benchmarking.

Ferramenta de gestão na qual se procura identificar as razões do sucesso de seu paradigma na

busca de aplicar o que convém, para se aproximar daquela organização que é o modelo ideal,

ou o modelo possível de se alcançar em determinado momento. Por vezes o modelo é tão

superior que se torna inatingível, então a recurso seria buscar um patamar alcançável. Nem

sempre é possível perseguir todos os parâmetros de eficiência e eficácia do modelo, assim são

considerados os tópicos principais eleitos como foco. Os passos seguintes seriam a elaboração

e aplicação do plano de trabalho, com metas. No caso da Toyota, foi buscado o que seria a

primeira vista inatingível, mas a historia releva como lograram êxito.

Foi criada uma meta interna de alcançar a produção americana em três anos. Era algo

muito ousado, pois a distancia era de fato imensa, mas ter uma meta gigantesca foi

determinante para a mudança do status da empresa (SHINGO 1996). Um grande desafio para

um plantel derrotado, mas desejoso e empenhado em reverter o quadro. Seria necessário

verificar onde estavam os erros, os pontos fracos, e achar meios de melhorar. E melhorar

muito.

Como no modelo Taylorista/Fordista um dos pontos principais do STP era reduzir

custos. No Toyotismo isso foi visto com uma obstinação ainda maior que nos outros modelos.

Os motivos são claros. Não era questão de opção, mas de sobrevivência. Tudo que pudesse

ser considerado como desperdício era tratado com dedicação especial no sentido de encontrar

meios de eliminá-lo. Assim, surge um novo sistema de produção.

Afirmando que o sistema é mesmo de envolvimento geral e que se baseia em uma

estrutura sólida e não apenas em um aglomerado de técnicas, Liker (2005, p. 51) propõe uma

demonstração esquemática do STP, conforme Figura 3, a qual resume a filosofia, os

princípios e as ferramentas que compõe o sistema. Existem diversas versões da “casa do

STP”, algumas mais resumidas, mas convém demonstrar pelo menos esta para uma visão

panorâmica da estrutura do sistema.

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Figura 3 – O Sistema Toyota de Produção

Fonte: Jeffrey K. Liker – O Modelo Toyota (2005, p. 51)

O entendimento é de que o sistema é um conjunto coeso de relações

interdependentes. Vêem-se as pessoas e equipes de trabalho em ponto central. Mas que isso,

na figura fica claro que as pessoas são fundamentais também no pilar autonomação, no qual

os funcionários têm papel decisivo. Também serve para reforçar que o sistema trata-se de algo

robusto e que contem diversos valores envolvidos, de forma interdependente. Uma casa com

base, colunas cobertura e conteúdo, representando um conjunto sólido e harmonioso. Quase

um forte, na luta pelos propósitos, sendo o principal o de evitar desperdícios.

Ainda há de se ressaltar o outro pilar do sistema, a saber: Just in Time que será alvo

de mais aprofundamento.

Segundo Magee (2008, p.54) o STP baseia-se em três fatores e dentre eles cita:

“estoque em processamento padrão – a quantia mínima de estoque disponível necessária para

que os funcionários possam realizar seu trabalho sem interrupção”. Uma consideração

desmistificando o estoque zero absoluto. Conjuga-se a premissa de não ter estoque, com a

meta de não interromper o trabalho, o que remete à necessidade de bom senso, pois nem

sempre as duas condições são praticáveis concomitantemente.

Mas no processo de produção há também os estoques intermediários, ou seja, os

produtos semi-acabados aguardando nova fase de processamento. Estes também estariam na

lista de desperdícios a eliminar no sistema enxuto.

Na interpretação de Shingo (1996, p.61) há três tipos de geração de estoques

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intermediários segundo algumas perspectivas, conforme abaixo:

a) Da engenharia de produção como resultado do fluxo entre os processos de

forma desbalanceada;

b) Do controle de produção quando existem para evitar que quebras de

máquinas ou os refugos provoquem atrasos nos processos seguintes;

c) Do estoque de Segurança para proporcionar aos gerentes uma sensação de

segurança.

A redução de estoques tem a vantagem de tornar os problemas visíveis, algo

almejado para melhoria contínua. Slack et. al.(2002) demonstram isso de forma ilustrativa,

conforme Figura 4.

Figura 4: Redução de Estoques – Expõe os Problemas Existentes

Fonte: adaptado de Slack et. al. (2002, p. 484)

Sejam quais forem as perspectivas ou justificativas, a meta no STP consiste em evitar

ou mesmo eliminar os estoques, sejam eles de matérias-primas, produtos intermediários ou

produto acabado. Para efetivar a idéia do estoque zero, no STP também se pratica a produção

em lotes pequenos, o que indica a possibilidade de haver outros dilemas a resolver.

Ohno (1997, p.55) considera que: “O Sistema Toyota de Produção, porém, exige

produção nivelada e os menores lotes possíveis, mesmo que isso pareça contrário à sabedoria

convencional”. Para que a produção possa ser nivelada e ao mesmo tempo siga o princípio de

evitar desperdícios (e parada de máquina é um deles), foram adotados mecanismos que

possibilitassem a “Troca Rápida de Ferramentas”, outra das práticas do sistema, também

conhecida como Single Minute Exchange of Die - SMED. Até aqui já é possível perceber

como os estoques reduzidos podem desencadear uma série de interdependências no processo

Nível de estoque Quanto menor, mais expõe os problemas existentes

Page 28: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

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produtivo e como é importante ter controle sobre os mesmos. A logística bem gerenciada é

algo fundamental no sistema.

May (2007, p.201) assim se expressa sobre nível de estocagem, “... estoque zero. Isso

significa nenhum depósito. Nenhum. Nem a Toyota chega perto disso. Aliás, o estoque

continua sendo a raiz de todos os males no mercado varejista automotivo nos Estados

Unidos”. Ao tratar dessa forma, faz uma paráfrase ao texto bíblico que diz que o “amor ao

dinheiro é a raiz de todos os males”, e deixa claro o entendimento de que a empresa luta

contra esse mal ao adotar um pensamento não convencional, dizendo: “vê os poucos recursos,

estoque e pedidos pendentes como um tipo de garantia na segurança operacional”. Assim,

mesmo não praticando integralmente, mas adotando a filosofia com bom senso, podem-se

obter bons resultados com o sistema. Há, pois, uma consciência de que quanto menos estoque

melhor, mesmo que não seja propriamente estoque zero, absoluto.

A idéia da perfeição é combatida por Correa e Gianesi (1996, p. 63) quando afirmam

“A situação de zero defeitos pode ser inatingível, contudo, o estabelecimento desta meta é o

que leva ao movimento de melhoria ou aprimoramento contínuo, que pode resultar em índices

reais de defeitos muito baixos”.

2.1.1 Filosofia de Produção Enxuta e as Quebras de Paradigmas

O Sistema Toyota de Produção STP tem sido relacionado com o sistema Lean

Production ou Lean Manufacturing que pode ser traduzido por produção enxuta. O STP

surgiu na década de 40 e a expressão produção enxuta na década de 90. O que teriam em

comum? As realidades eram totalmente diferentes em cada época.

Segundo Correa e Correa (2007, p.94), “em 1990 cunha-se o termo Lean

Manufacturing ou manufatura enxuta”. O mesmo conceito também é conhecido como Lean

Production. Os autores consideram essa a data do início da utilização do termo, mas o

conceito propriamente dito já existia anteriormente. Os mesmos autores discorrem sobre o

desenvolvimento da logística com ênfase para a evolução do Sistema Toyota de Produção e

evidenciam a pré-existência do modelo enxuto na Toyota. Relatam que nos anos 50 o

desenvolvimento da computação favoreceu a área de planejamento. As teorias de controle de

estoque de décadas anteriores não eram eficazes para tratar as questões das atividades

logísticas, dadas as limitações de capacidade no tratamento de informações. Na década

seguinte passa a haver mais capacidade de produção que a procura, favorecendo o

demandante. A prática Just-in-time, já implantada há cerca de duas décadas continua a

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desenvolver-se. Com oferta abundante e variada, os clientes são favorecidos. A

competitividade passa a ser cada vez mais importante para a continuidade das empresas.

(CORREA e CORREA 2007)

O conceito de produção enxuta teria sido implantado na Toyota após Kiichiro

Toyoda ter passado um período em Detroit aprofundando estudos sobre indústria automotiva.

Teria também realizado visitas à fábrica da Ford, e pesquisado literatura a respeito. Toyoda

leu o livro popular na época, “Hoje e amanhã”, de Henry Ford. Os princípios do sistema da

produção lean de Ford influenciaram Kiichiro da mesma forma que o livro Auto-ajuda, de

Samuel Smiles, havia influenciado seu pai (MAGEE 2007 p.24). Por essa afirmativa, percebe-

se que Ford teria desenvolvido o conceito, porém não utilizado, pelo menos não plenamente.

Nota-se a utilização de Benchmarking, mesmo quando essa técnica ainda não era difundida

com esse nome e considerada uma ferramenta de gestão.

A necessidade teria sido a mola propulsora para o sucesso da incorporação do

conceito na Toyota. Entre outros autores que citam esse elemento como um dos principais

para a criação do STP, se destaca é o próprio Tiichi Ohno.

Afirma Ohno (1997 p.34): “Acredito fortemente que a necessidade é a mãe da

invenção. Mesmo hoje, melhorias nas fábricas Toyota são feitas com base nas necessidades.

Eu sinto que a chave para o progresso nas melhorias da produção, está em permitir que o

pessoal da fábrica sinta a necessidade”.

Outro aspecto é a chamada contra-intuição que se revela como atividades ou visões

que se contrapõe aos padrões existentes no sistema vigente. Um exemplo é a decisão de

deliberadamente parar um equipamento e deixar de produzir peças. Isso só pode ser entendido

quando se percebe que a melhor opção é evitar a superprodução porque representa um

desperdício (OHNO, 1997).

Outro exemplo trata-se de priorizar o nivelamento de produção e a combinação de

itens. Neste sentido fica evidenciada a recomendação de formar algum estoque de produto

acabado. Também é preferível permitir acréscimo seletivo de estoques para evitar despesas

gerais de mão-de-obra. Mais uma afirmativa que contrapõe a intuição natural é não priorizar a

ocupação de funcionários produzindo com máxima rapidez, pois dessa forma haverá

superprodução - como já mencionado, um fator de desperdício. E finalmente analisa o uso de

tecnologia de informação, afirmando que muitas vezes é preferível utilizar processos manuais

em detrimento de automação mesmo que disponível, destacando o valor da mão-de-obra no

processo. (LIKER, 2005)

Assim, a primeira vista, pode parecer que as soluções do sistema aumentam as perdas

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ao invés de diminuí-las. O Sr. Ohno chegou a conclusões, a princípio paradoxais, devido ao

costume de andar constantemente pela fábrica observando atividades que não agregavam

valor e, portanto deveriam ser eliminadas. Caso contrário, as que poderiam agregar algum

valor mereciam ser conservadas. Ele aprendeu a mapear o fluxo de valor, da matéria-prima

até um produto acabado, que o cliente está disposto a adquirir. Essa é uma abordagem

radicalmente diferente do sistema de produção em massa. (LIKER, 2005, p.31)

Tudo que se faz na fábrica precisa ser algo que agrega valor e seja algo que o cliente

deseja. O foco no cliente realmente levado a sério desde o início da produção até o seu final, e

isso inclui as atividades de logística.

Uma contribuição nesta linha é o conceito de “Aprendendo a Enxergar”, de Rother e

Shook (2005) com foco na eliminação de desperdícios em toda cadeia na busca do

aperfeiçoamento da cadeia produtiva. É proposta uma ferramenta qualitativa para auxiliar

gestores no aprimoramento da visão para minorar os 7 males identificados por Ohno.

Descrevem o conceito de mapeamento do fluxo de informação e material como essencial para

a visualização dos desperdícios.

Segundo Ohno (1997 p.45), falando sobre como a observação das práticas de

reposição de estoques em supermercados americanos que veio a inspirar a criação do Kanban,

afirma que isso ocorreu “devido à curiosidade japonesa e à sua inclinação para copiar”. A

autoridade de quem proferiu tal afirmativa deixa pouca margem para contestação, pois vem de

um japonês que participou do desenvolvimento do sistema. Ele fala sobre inclinação para

copiar e sobre o Kanban ter sido inspirado. Assim o Kanban não foi uma cópia do citado

sistema de estoque americano, mas inspirado nele - uma adaptação.

Pode haver uma super valorização do Kanban, mas Shingo (1996, p. 101) comenta

que apesar de cerca de 80% das pessoas supõem que o STP é um sistema Kanban, enquanto

ele considera que o STP é 80% eliminação de perdas, 15% um sistema de produção e apenas

5% é a ferramenta Kanban. Ele menciona que Ohno considera que esta ferramenta é

simplesmente um meio de se chegar ao Just in time.

Para fechar essa visão em resumo é conveniente ressaltar que a complexidade perde

para a simplicidade neste sistema, quando se trata de encontrar soluções quanto ao uso de

recursos escassos. Muito, em intensidade e quantidade de tudo é uma visão distorcida devido

à concepção de que mais é melhor, no entanto mais, em muitos casos é apenas mais. A não ser

que fosse mais simples, acessível, oportuno e eficiente, ou seja, menos complexo e menos

oneroso. A Solução: Começar a pensar Lean. (MAY, 2007, p. 189). Eliminar a complexidade

seria dispensar o que não importa e reter apenas o que é essencial, o que realmente vale à

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29

pena, se tornando assim “sem desperdício”. Captar essa idéia na sua raiz pode ser um desafio,

que uma vez vencido venha a permitir que haja efetiva aplicabilidade do mesmo.

2.1.2 Integralidade da Produção Enxuta na Busca Contra o Desperdício

Para Liker (2005 p.29), “a maior parte das empresas concentra-se demais em

ferramentas como 5S (cinco sensos) e Just-in-time, sem compreender o conceito “enxuto”,

como todo um sistema que deve permear a cultura de uma organização”. Ao ressaltar a

cultura da organização, o autor deixa clara a importância da compreensão e absorção do

conceito por todos na empresa. É pertinente pensar que isso pode levar tempo para acontecer.

Se a implantação de uma ferramenta de gestão pode demandar tempo e adequação de

condições para ser efetivada, é de se supor que internalizar os conceitos de várias ferramentas

e tê-lo como parte da cultura da empresa tende a ser mais demorado ainda.

Conforme Magee (2007, p.23), na mesma linha de raciocínio, porém um pouco mais

abrangente: Quando é apenas parcialmente implementada, a produção lean não passa de uma ferramenta, um método barato para a fabricação de produtos. Na Toyota, porém, a produção lean começou como uma extensão dos princípios básicos fundadores da empresa, como respeito, economia e perseverança. Desde o início, foi colocada em prática de maneira certa, por funcionários de todos os níveis, de trabalhadores de fábrica a gerentes e diretores, porque fazia parte da cultura da empresa.

Pode-se perceber a preocupação de que a implantação seja integral. Assim dizendo,

demonstra a visão de que o STP é realmente um sistema, ou seja, um conjunto. Diz

literalmente que uma ferramenta implantada seria um método “barato”, desvalorizando a idéia

simplista de considerar que medidas parciais poderiam levar a um resultado integral. Ensina

que a produção lean se desenvolveu a partir do que chamou de princípios básicos fundadores

da empresa e exemplifica valores como respeito e perseverança, os quais a prática tem

demonstrado que se conseguem ao longo do tempo e não de imediato. O envolvimento

ocorreria em todos os níveis e funções. Assim dizendo percebe-se que não foi algo imposto

aos executores de determinadas tarefas. Sendo geral, o compromisso passa a ser amplo e os

resultados podem se tornar mais alcançáveis.

Acrescenta Liker que para uma indústria ser considerada enxuta, faz-se necessário

um modo de pensar que se concentre em fazer o produto fluir em processos constantes de

agregação de valor. Um sistema conhecido como “puxado”, que parta da demanda do cliente,

com reabastecimento somente do que a operação subseqüente necessitar, em curtos intervalos,

e um uma cultura de participação de todos na luta contínua por melhorias (LIKER, 2005

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p.29). Mais uma vez, aparece o aspecto cultura e o envolvimento de todos. A tenacidade

necessária para que o sistema funcione fica exposta quando se expressa sobre luta contínua.

Não seria a ocorrência de alguma dificuldade o motivo para o desvirtuamento no foco da

melhoria. Pode-se perceber que o conceito não é somente um kit de ferramentas, mas se

compõe também de atitudes. Muitas vezes pode parecer eficiente simplesmente implantar

regras e esperar que surjam resultados extraordinários porque deu certo em outras

organizações, mas não há garantia de que funcione.

May (2007) faz uma crítica aos que não entendem bem esse conceito. Diz que o

sistema Lean é uma aplicação do Sistema Toyota de gradativamente ir removendo tudo que

bloqueia o caminho para alcançar o verdadeiro ideal. É um conceito em conexão com a

afirmativa de Antonie de Sant-Exupéry de que “A perfeição é alcançada não quando não há

mais nada a acrescentar, mas quando não há mais nada a retirar”. É uma forma diferente de

pensar, uma maneira diferenciada de encarar o trabalho e a vida. Considera ser este o motivo

de muitas empresas não conseguirem aplicar muito bem o conceito Lean, por mais que

tentem. Estão enxergando o problema de maneira errada. Certa vez, perguntaram a

Michelangelo como havia esculpido sua obra-prima de mármore, a estátua de David, a qual é

considerada a imagem do homem perfeito. A artista respondeu: “Eu vi o David na pedra e

simplesmente retirei os excessos, tudo que não era David”. (MAY, 2007, p.190)

Ohno (1997, p.72) expressa que mesmo internamente pode haver falta de

compreensão sobre o valor de não desperdiçar: “O circulo vicioso do desperdício que gera

desperdício se esconde por toda parte na produção. Para evitar isso, gerentes e supervisores da

produção devem compreender por completo o que é o desperdício e as suas causas”. A

afirmativa de Ohno é confirmada com a colocação de Magee, ressaltando que a “guerra” ao

desperdício foi mesmo um diferencial para que o STP pudesse se estabelecer. Surgiu como

uma necessidade premente ante a escassez de recursos e passou a fazer parte da cultura da

empresa, envolvimento integral.

Magee (2008, p.20) ressalta a eliminação de desperdício: “Com base no antigo

compromisso da Toyota com o Kaisen, ou o processo diário e progressivo de melhoria

contínua por meio da eliminação de desperdício (muda, em japonês) no trabalho, o STP se

tornou essencial para a Toyota e outras empresas no mundo inteiro”. Magee (2008, p.48) diz

ainda que “as condições ideais para fazer as coisas são criadas quando máquinas, instalações e

pessoas trabalham juntas para agregar valor, sem nenhum desperdício”. E mais adiante

acrescenta: “Se um processo ou uma atividade não agrega valor, livre-se deles”. Entende-se

que se não agrega valor pode ser classificado como desperdício, quando recomenda: livre-se

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deles, ou quando chama de entulho. Mais uma afirmativa sobre participação integral, trabalho

conjunto, na busca de objetivo comum.

O foco de atacar desperdícios de forma determinada conduziu a Toyota ao topo do

Ranking de melhoria de produtividade, qualidade e giro de estoques, comparado a seus

competidores. Com evolução contínua passou de uma produção sofrível em 1950 à maior

montadora do mundo na presente década. (MARTINS, 2007, p.51)

2.1.3 Funcionários na Produção Enxuta

Para Magee (2008, p.169) falando dos princípios norteadores da Toyota, diz:

“Promover a cultura corporativa que estimule a criatividade individual e o valor do trabalho

em equipe, com confiança e respeito mútuo entre os trabalhadores e a gerência”. A harmonia

que transparece do princípio mencionado demonstra favorecer bom ambiente de trabalho na

empresa, condição positiva para o desempenho da criatividade, com valorização do fator

humano.

Ressaltando o valor humano Ohno (1977, p.126) assim se posiciona: “É claro, o mais

importante não é o sistema, mas a criatividade dos seres humanos que selecionam e

interpretam a informação. Tais aperfeiçoamentos são feitos diariamente graças ao vasto

número de sugestões recebidos dos seus funcionários”. O sistema de sugestões tende a ser

bem sucedido neste ambiente onde há oportunidade constante de aprendizado. Também fica

fortalecido o comprometimento dos empregados. O volume de sugestões identifica o interesse

dos colaboradores em participar do processo de criação e solução de problemas na

organização, a qual abre a mantém aberto espaço para essa prática.

Na visão de Magee (2008, p.20): “Alguma coisa está errada se os trabalhadores não

olharem à sua volta todos os dias, encontrarem pontos tediosos em suas atividades e

reescreverem os procedimentos. Até o manual do mês anterior deve ser considerado

ultrapassado”. Assim, os desafios são freqüentes e exigem pessoas que questionem o tempo

todo, se reciclem permanentemente e tenham comportamento de constante superação de

desafios.

May (2007, p. 86) confirma essa visão quando diz: “funcionários da fábrica da

Toyota que realizam experiências começam a trabalhar antes de seu horário normal para

efetuar ensaios, geralmente usando papelão e outros materiais provisórios na maquete de

protótipos de ferramentas e equipamentos”. O compromisso dos funcionários é relatado como

adotado na prática diária, um tipo de atitude voluntária. Fazem testes das mais diversas

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32

formas, com empenho e buscando as soluções mais adequadas.

O bom funcionamento da ferramenta fundamental da Produção Enxuta, o Just In

Time, depende na visão de Costa da preparação e do comprometimento das pessoas. Requer

motivação significativa, capaz de angariar adesão total de cada membro da organização.

(COSTA, 1991, p. 160)

A literatura relata que a determinação de trabalhar sob a égide de princípios e

valorizando as pessoas é marcante no modelo Toyota. Demonstra que avançaram em

tecnologia, porém sem deixar que equipamentos e métodos superem os valores e pessoas.

Há que se atentar, porém para possíveis conseqüências para o trabalhador, o que se

vê na expressão de Roik (2010, p. 42), “... a aplicação do JIT, não significa que a carga de

trabalho do operário diminui. Além da redução de postos de trabalho, desencadeiam-se outras

conseqüências para o trabalhador”. Treville e Antonakis (2006), também trazem à tona a

questão do stress nas equipes de trabalho. Assim, nota-se que a mudança das atitudes, a

adaptabilidade física e mental, e os conflitos estão presentes em função das mudanças

acentuadas de rotinas de trabalho.

2.1.4 Fornecedores na Produção Enxuta

Conforme Liker (2005, p. xvii) “as indústrias automobilísticas japonesas não só eram

boas, como seus fornecedores eram de classe mundial na criação e produção e trabalhavam

juntos, como uma equipe. Fornecedores faziam parte integrante do processo, havia um senso

de parceria”. Fica ressaltada a aliança como algo importantíssimo para alcance do sucesso das

produtoras japonesas e a Toyota se inclui entre elas, como pode ser visto em outras citações

adiante relatadas. É interessante notar que o mencionado autor fala tanto em criação como

produção, dando idéia de entrosamento amplo ressaltado nas expressões “senso de equipe” e

“parte integrante do processo”.

Segundo Liker e Wu (2000), o sucesso das montadoras japonesas está centrado

basicamente em: Capacitação de fornecedores visando à manufatura enxuta; Nivelamento da

produção em benefício da produção dos fornecedores; Sistemas disciplinados de entrega;

Sistemas de transporte com cargas compostas e pequenos lotes.

Liker (2005, p. 129) diz que: “se você visitar uma planta da Toyota ou um de seus

fornecedores verá com que esmero o plano (de produção) é nivelado. Os melhores

fornecedores da Toyota também trabalham com a suposição de que a demanda pelas peças

que fabricam será equilibrada”. Nesta relação de parceria, se apresenta o nível de confiança

Page 35: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

33

como elevado. Pode-se identificar claramente que tanto na Toyota como nos fornecedores o

plano de produção segue o mesmo padrão, garantindo conformidade sem desperdícios.

Conforme relato de Ohno (1997, p.33) “... quando precisávamos de fornecedores

externos, primeiro ouvíamos as necessidades e depois pedíamos que cooperassem nos

ajudando a conseguir uma produção nivelada. Dependendo da situação, discutíamos a

cooperação do fornecedor”. Mais uma vez necessidade, cooperação e padronização vêm à

tona, deixando claro que são valores importantes.

Para Shingo (1996, p. 173) “se você simplesmente reproduzir os aspectos superficiais

do STP e aplicar precipitadamente, terminará por obter o oposto do resultado desejado. Isto

não só causará estragos na sua própria planta como trará também uma grande dose de estresse

aos seus fornecedores”. O autor demonstra a preocupação que a Empresa dispensa aos

princípios do Sistema, mas também fica patente o cuidado em não causar estresse aos

fornecedores. Essa atitude servia para preservá-los em plenas condições laborais e manter a

relação de negócios fortalecida.

Liker e Meier (2007, p. 255) acrescentam sobre o relacionamento

empresa/fornecedor: “De sua parte, embora a Toyota também utilize sistemas rigorosos de

avaliação para ajudar a controlar o desempenho dos fornecedores, ela o faz em um ambiente

de comunicação aberto e confiante. Naturalmente, a parceria com fornecedores não é

brincadeira”. Mesmo havendo comunicação aberta num clima de confiança, a Toyota não

abre mão de avaliações rigorosas e austeras, pois o bom resultado final só pode ser garantido

com a participação eficaz dos fornecedores. Argumentam ainda que muitas empresas utilizam

o famoso Balanced Scorecard para avaliação de seus fornecedores, mas o fazem no contexto

de relações adversas e conflitantes, o que transformam esta ferramenta em um sistema

punitivo que funciona mais para identificar o mau desempenho. Os fornecedores fazem

correções de curto prazo, sem a preocupação de resolver a raiz do problema, mas tão somente

para melhorar os números. Na Toyota não há espaço para uma relação compassiva e

indulgente, pois a meta é ganhar dinheiro, mas dentro deste contexto o fornecedor é tratado

como parceiro.

A logística de entrada, que consiste na movimentação dos fornecedores até á unidade

de montagem e feita na Toyota de duas maneiras, conforme relato de Iyer, Seshadri e Vasher

(2010, p. 31). No Japão as peças são entregues utilizando em geral os modais: marítimo e

ferroviário. Por fim caminhões transportam até a doca de montagem. No caso de peças

produzidas na América do Norte a Toyota assume total responsabilidade pela coleta e

transporte de peças de seus fornecedores. O motivo é que o Just in time exige um elevado

Page 36: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

34

grau de confiabilidade. As rotas são organizadas levando em consideração grupos de

fornecedores com base na localização e utilizam um centro cross-dock (uma espécie de

terminal de passagem onde a mercadoria não chaga a ser armazenada), e depois são levadas ás

unidades de produção.

Modi & Mabert (2007) afirmam que a transferência de conhecimento e criação de

competências nos fornecedores é um meio de alavancar a competitividade das empresas.

Segundo os autores, avaliações de performance do fornecedores, incentivos para aumento do

volume de negócios seguindo metas de desempenho e execução de atividades para melhoria

do desempenho operacional são práticas que devem ser adotadas pelas empresas para

melhoria no mercado competitivo.

Uma visão da relação da Toyota com os fornecedores é apresentada na Figura 5

proposta por Liker e Méier a qual versa sobre as sete características da parceria, e demonstra

como funciona esse relacionamento, e ressalta como os valores são tratados.

Kaisen & aprendizagem

__________________ Atividades conjuntas

de melhorias ___________________________ Compartilhamento de informações

_________________________________ Capacidades compatíveis

_______________________________________ Sistemas de controle

______________________________________________ Estruturas de participação

____________________________________________________ Compreensão e confiança mútuas

Figura 5: Hierarquia da Parceria com Fornecedores

Fonte: Liker e Méier (2007, p. 256)

Retratando a visão de Liker e Méier (2007), são apresentados os tópicos da

Hierarquia da parceria com fornecedores, começando da Base ao ápice:

- Compreensão e confiança mútuas – Estas características, bases do relacionamento

com fornecedores não se constroem facilmente. A confiança é algo ser conquistado que se

consegue com demonstração de mérito ao longo do tempo. Para obtenção de compreensão

pode-se utilizar uma prática do próprio sistema que é o genchi genbutsu, ou seja, ir e ver

diretamente no local onde as coisas acontecem. Ocorre então o melhor entendimento dos

problemas, necessidades e limitações. Isso também ajuda na geração de confiança. Trabalhar

lado a lado é uma prática freqüente que vem sendo apontada como determinante para que esta

Page 37: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

35

base de compreensão e confiança seja estabelecida.

- Estruturas de participação – Esta participação é seletiva, sendo mais ativa nos

fornecedores mais importantes. Trata-se de um relacionamento mais parecido com um

casamento que com um namoro casual. É o entrelaçamento nos aspectos técnicos, sociais e

culturais. Pode haver participação de transferência de tecnologia, participação financeira ou

mesmo societária, e no fim é esperado que haja um modo de trabalhar que se encaixe como

extensão um do outro.

- Sistemas de controle – Como o papel dos fornecedores é vital não pode haver

distanciamento, pois a confiabilidade dos insumos fornecidos e a qualidade do produto são

fatores que não devem ser deixados ao acaso. Um lado da moeda é confiança e o outro é

controle. Existem elaborados sistemas de avaliação, metas e monitoramento de desempenho.

Chegam a fazer monitoramento em tempo real. Cobram envolvimento pessoal com a correção

de eventuais problemas, desde os mais altos níveis hierárquicos dos fornecedores. Os

problemas são tomados como oportunidades para educar o fornecedor, qualificando-o, um

benefício mútuo.

Mas são mantidos preferencialmente três fornecedores de alto nível e entre eles

ocorre o conhecido mecanismo da livre concorrência. Os de melhor desempenho é que

garantem a presença mais significativa nos novos projetos.

- Capacitações compatíveis – É comum buscar-se fornecedores com prioridade no

menor preço do momento, mesmo que estejam na China. Quando, porém os fornecedores são

uma extensão das capacidades técnicas do adquirente o fator preço é somente um dos

componentes e não necessariamente o prioritário. É preciso que o fornecedor seja capaz de

produzir conforme especificações e mais que isso, possa inovar no projeto e no produto,

trabalhando em conjunto com o requisitante. Pelo menos é assim que se comporta a Toyota,

onde os fornecedores devem ser capazes de trabalhar entrosados com os engenheiros daquela

empresa.

O grau de envolvimento não é uniforme no Japão e nas filiais de outras partes do

mundo, como nos EUA, por exemplo, dependendo principalmente do nível de compreensão

do sistema enxuto de desenvolvimento de produtos. Onde há um relacionamento maduro e de

longo prazo, normalmente as especificações elaboradas de forma superficial pela Toyota não

são barreira para que haja entendimento dos objetivos e o resultado final no lay out de peças

seja alcançado, ou por vezes até melhor que o esperado. A engenharia simultânea é de nível

alto junto aos fornecedores cuja parceria é de longo prazo, por terem capacidade desenvolvida

e entendimento rápido dos objetivos.

Page 38: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

36

A Toyota segue investindo em capacitação de fornecedores, por vezes com grandes

investimentos por sentir a necessidade de ter os fornecedores no mesmo passo e oferecendo

contribuições constantemente. Perder isso representaria perder parte central da vantagem

competitiva.

- Compartilhamento de informações – Tal medida não é aplicada de forma ampla,

principalmente nas fases iniciais, mas direcionada e do tipo orientado por metas. A

comunicação em processos de projetos é focada restritamente em questões técnicas.

Para se otimizar o desenvolvimento e fabricação é necessário que se compartilhem

muitas informações, tanto entre vários fornecedores, como destes com a empresa e isso só

pode ocorrer abertamente em uma atmosfera de confiança.

- Atividades conjuntas de melhorias – A metodologia utilizada pela Toyota é de

aprendizagem por intermédio da prática e experiência, com preferência pelo ensino do STP,

realizando um projeto na planta do fornecedor. O foco é ensinar o método enxuto pela

maneira de pensar sobre o problema, e a melhoria de processos. Também praticam

treinamento de funcionários da Toyota em projetos específicos na planta de algum fornecedor,

onde ambas as partes saem beneficiadas.

No contexto de cooperação e aprendizagem mutua, o fornecedor se torna mais

capacitado no sentido holístico. Da forma como se processa há absorção de tecnologias e

redução de custos para ambas as partes.

- Aprendizagem e melhoria contínua – O trabalho nos seis níveis anteriores da

hierarquia de parceria com fornecedores resulta na fundamentação para o Kaizen (melhoria

contínua) e aprendizagem.

O desenvolvimento de processos padronizados e documentados de tudo que é

aprendido, aliado ao conhecimento tácito compartilhado sobre a maneira certa do fazer,

possibilita a criação do patrimônio de conhecimento empresarial. Assim, a Toyota vê os

fornecedores como extensão de suas capacidades, trabalha em conjunto, e retém (e ajuda o

fornecedor e reter) o aprendizado comum. O resultado é a evolução de filosofias, linguagem e

abordagens do conhecimento entre as partes.

Alguns comentários de outros autores reforçam como é o relacionamento cliente-

fornecedor.

Como informa Magee (2008, p. 119) “no setor de produção, as causas básicas de

erros geralmente não estão no fabricante do produto, mas nos fornecedores de peças, que

passam componentes defeituosos para ele”. Nesta visão os erros são causados por esses

agentes externos, o que aponta para a necessidade de ações abrangentes no caminho da

Page 39: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

37

solução. Para obter eficiência externa faz-se necessário ter soluções onde nem sempre é

possível deter controle e por vezes custam caro.

Em outro relato de Magee (2008, p. 136/7) “a Toyota investiu mais de US$ 200

milhões nos últimos anos em várias joint-ventures, a fim de ajudar os fornecedores locais a

aumentar a competitividade global, e trabalhou pesado para incrementar a quantidade local de

peças usadas em veículos indianos”. Por essa afirmativa fica clara a iniciativa de investir em

fornecedores na busca dos objetivos corporativos. Num sistema onde a redução de custos e

corte de desperdícios são levados bem a sério, investimentos altos, tantos cuidados, tantos

critérios, demonstram o quanto os fornecedores são importantes, ou até mais que isso,

essenciais.

Engenharia simultânea com fornecedores, da forma como é feita na Toyota é um

paradoxo, e outro é o próprio sistema de produção nos moldes do JIT. (CARDOSO, 2006,

p.112)

Vê-se em Coriat (1994, p. 123) a afirmativa: “se o fornecedor consegue diminuir

seus custos ou melhorar a qualidade a empresa principal deixa que a subcontratada disponha

de uma margem de lucro majorada”, demonstrando considerar que isso é benéfico para o

sistema como um todo.

Os relatos acima, de autores com visões variadas convergem para o entendimento

que o STP prima por um relacionamento de grande interação com os fornecedores, às vezes

com rigidez e cobranças pesadas, mas certamente com comprometimento mútuo. Também é

possível notar o quanto o sistema é interdependente de gerenciamento consistente dos

estoques e, portanto, da logística bem estruturada.

2.2 LOGISTICA

Nesta seção faz-se uma abordagem sobre a logística, seus agentes e as interfaces com

o STP, o qual necessita de um gerenciamento eficaz de estoques. Além disso, a atividade é

fundamental no presente estudo, que trata de funcionários desse setor, fornecedores e

transportadoras, num contexto de utilização do Just in time.

Para demonstrar a evolução da logística, Ballou (1993), apresenta uma análise na

qual considera que o seu desenvolvimento desmembra-se em três fases: antes de 1950, de

1950 a 1970 e após 1970. O primeiro momento teria sido o estado de dormência, no qual não

existia uma filosofia dominante. As áreas de transporte, estoques, processamento de pedido,

eram distribuídos nos diversos setores das empresas. Nesta época os setores de marketing,

Page 40: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

38

produção, finanças, vendas, cuidavam de fragmentos da logística. Não havia um

gerenciamento específico que cuidasse das atividades sistematicamente. Nos EUA ocorria

com mais intensidade a evolução de tecnologias e técnicas de gerenciamento, mas como havia

prosperidade no pós-guerra, devido à demanda reprimida e como a capacidade de produção

americana vinha sendo alta, era tolerável conviver com certo nível de ineficiência na logística.

Como não havia ambiente necessário a mudança de atitude, não ocorreu evolução tão

expressiva. No chamado período de desenvolvimento ocorrido de 1950 a 1970, vê-se um

cenário propício à evolução da logística devido às condições econômicas e tecnológicas.

Autores como Peter Drucker e Paul Converse, entre outros se manifestam sobre a importância

dos processos de gestão de estoques e distribuição. Assim, tanto empresários como

pesquisadores da época estão envolvidos com o tema.

Aliado ou não com a evolução da aviação, surgem estudos sobre ser viável a

utilização do transporte aéreo na distribuição da produção, em função da agilidade e

diminuição de estoques, surgindo o conceito de custo total, ou seja, não importa que uma

determinada fase ou atividade custe mais se vier a proporcionar um custo total menor na

operação global. (BALLOU, 1993)

O terceiro período ainda conforme a visão de Ballou (1993) é aquele que vai de 1970

em diante, e trata-se da época em que os princípios básicos já estão estabelecidos. Nota-se que

a expansão do mercado muitas vezes torna a ineficiência pouco perceptível. A crise do

petróleo em 1973 demonstra que poderia haver falta de matéria-prima, coisa que pouco

preocupava até então. Em momentos de crise surge campo para reavaliações, experimento de

novas soluções, e para a tomada de decisões ousadas. Passa a haver mais estudos sobre os

estoques e aumenta o controle dos mesmos em função da nova percepção de sua importância.

Visão semelhante é apresentada por Martins e Alt (2001, p.251), os quais consideram

que no Brasil a preocupação com logística só cresceu após os anos 70 e acrescentam:

“Empresas industriais e comerciais brasileiras viram-se diante da necessidade de abandonar o

empirismo para abastecer mercados emergentes em um país de dimensões continentais e com

uma malha de transportes incipiente”.

Algumas definições da logística fornecem a amplitude dessa atividade, reforçando a

importância da mesma. Podem elucidar que se trata de processo, ou seja, atividade contínua e

de caráter estratégico.

Em Christopher encontra-se a seguinte definição de ARCH SHAW: A logística é o processo de gerenciar estrategicamente a aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças e produtos acabados (e os fluxos de informações correlatas) através da organização e seus canais de marketing, de modo a poder

Page 41: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

39

maximizar as lucratividades presente e futura através do atendimento dos pedidos a baixo custo. (ARCH SHAW apud CHRISTOPHER, 1997, p.2).

Fica caracterizado como objetivo da logística a maximização da lucratividade atual e

futura, reforçando a necessidade de constância. Ao mencionar a lucratividade toca na razão de

ser das empresas, elevando o seu papel ao nível de algo primordial. Essa essencialidade

somada à perspectiva de contribuir para assegurar a continuidade, diz respeito a quanto às

organizações econômicas são impactadas pela logística.

Em Ballou vê-se a definição do CLM – Council of Logistics Management: Logística é o processo de planejamento, implementação e controle de fluxo eficiente e economicamente eficaz de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e informações relativas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes (CLM apud BALLOU, 2001, p.21).

A definição do CLM se configura mais operacional e didática, por um lado, mas por

outro, um tanto genérica, quando se refere ao fluxo “eficiente e economicamente eficaz”.

Diferente de Arth Shaw, para quem o atendimento dos pedidos demonstra ser apenas um

meio, o CLM acentua o cliente, que tem exigências a serem atendidas, como sendo o

propósito principal, centro das atenções. Ballou (2001, p.41) ainda ensina que “O

planejamento logístico tenta responder aos questionamentos de: O que? Quando? Como? Nos

níveis estratégico, tático e operacional”. O Quadro 3 exemplifica as três dimensões.

Nível de decisões

Tipo de decisões Estratégica Tática Operacional Localização Número de locais, tamanho e

localização Posicionamento dos estoques Roteirização, aceleração e

despacho Transportes Seleção de modais Sazonalidade do mix de serviço Quantidades e tempo de

reabastecimento Processamento de pedidos Seleção e projeto do sistema de

colocação de pedidos Regras de prioridades para pedidos de clientes

Aceleração de pedidos

Serviços ao cliente Estabelecimento de padrões Armazenagem Leiaute, seleção de local Escolha sazonal de espaço Preenchimento de pedidos Compras Políticas Contratação, seleção de

fornecedor Liberação de pedidos

Quadro 3: Exemplos de Tomada de Decisões Estratégicas, Táticas e Operacionais Fonte: Ballou (2001, p. 42)

Conforme Ballou (1993, p.22): “A Logística empresarial trata de todas as atividades

de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de

aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final”. Ensina ainda que isso inclui os

fluxos de informação. Outra definição é: “A logística preocupa-se com todos os estoques

dentro da companhia: de matéria-prima, subconjuntos, componentes comprados até a

produção em andamento e o estoque de produtos acabados” (CHRISTOPHER, 1997, p.181).

Page 42: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

40

Ballou foi mais abrangente ao citar todas as atividades que envolvem as matérias-primas e

produtos, fazendo transparecer uma dimensão mais ampla da atividade. No decorrer das

obras de ambos os autores, há uma abordagem voltada a esclarecer a importância dos custos

que os estoques envolvem. Este aspecto financeiro da atividade é de suma importância, sendo

fundamental para a evolução da mesma no sentido da produção enxuta, onde a eliminação de

desperdícios visando à redução de custos é fundamental.

Para Ballou (2001, p.21) “A missão da logística é dispor a mercadoria ou o serviço

certo, no lugar certo, no tempo certo e nas condições desejadas, ao mesmo tempo em que

fornece a maior contribuição à empresa”. Esta definição se assemelha com as bases do Just-

in-time do Sistema Toyota de Produção.

Apesar dos focos díspares nas visões de Arth Shaw e o CLM a breve análise desses

preceitos facilita o entendimento do que seja a logística. Verificando em complemento os

níveis de decisões nas atividades logísticas, é possível entender melhor os objetivos principais

e notar os valores ressaltados, conduzindo ao que poderia ser a missão desta atividade.

Com o desenvolvimento da logística ocorreu também mudança nos papeis dos

agentes envolvidos com a atividade. O papel dos gestores da atividade foi valorizado. Ao

perceber o impacto da logística sobre os resultados da empresa, ficou evidente a necessidade

de um gerenciamento com pessoas capacitadas e bem remuneradas. Também seriam dotadas

de mais autoridade e responsabilidades.

2.3 AGENTES DE LOGÍSTICA

Em logística, agente é comumente ligado àquele que faz gestão da cadeia logística.

Entre outros participantes da cadeia, podem-se citar os produtores, distribuidores ou

revendedores, transportadoras, fornecedores de produtos e serviços e agentes aduaneiros.

Existe também a nomenclatura funcional de agente de logística, para o empregado (inclusive

funcionário publico) que trabalha com recebimento, armazenagem e expedição de

mercadorias e produtos.

Para efeito desse estudo, o foco estará voltado para os funcionários da indústria

analisada, seus fornecedores e transportadoras.

2.3.1 Agentes de Logística - Funcionários

São as atitudes dos indivíduos na organização que fazem toda a diferença para o

alcance de resultados, tendo em vista que os bloqueios causados pelas atitudes das pessoas são

Page 43: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

41

considerados os mais problemáticos para a atuação inovadora, tão necessária para a

manutenção e desenvolvimento das mesmas (MANÃS, 2001, p.50). Esta valorização dos

funcionários tem sido exaltada com freqüência por autores que tratam dos papeis das

organizações e do conhecimento e inovação.

Conforme Drucker (2008, p.224) “Diretrizes, práticas e avaliações possibilitam o

espírito empreendedor e a inovação. Elas removem ou reduzem possíveis obstáculos. Elas

criam a atitude adequada e fornecem os instrumentos adequados. Mas inovação é feita por

gente”. Assim, sem tirar o valor das diretrizes, exalta-se o homem como foco central da

temática.

No relato de Reis (2004, p.87) pode-se perceber a valorização do elemento humano

quando ressalta que os recursos humanos têm papel fundamental para o processo de

acumulação de conhecimento e construção de capacidades tecnológicas. Atribui as vantagens

competitivas das organizações a este fator de produção – o homem, evocando que a mais

importante fonte de inovação e competitividade empresarial seja o conhecimento adquirido

pelos recursos humanos.

Mais uma colocação convergente é encontrada em Nonaka e Takeuchi (1997, p.xiii)

quando dizem “Na filosofia dominante no Ocidente, o indivíduo é o principal agente, que

possui e processa conhecimento. O indivíduo interage com a organização por meio do

conhecimento. A criação do conhecimento ocorre nos níveis: do indivíduo, do grupo e da

organização”. Dentre os três níveis, o indivíduo é colocado como principal agente.

Finalmente Nonaka e Takeuchi (1997, p.15) ressaltam a participação das pessoas em

geral no processo inovador ao dizer: “nenhum departamento ou grupo de especialistas tem

responsabilidade exclusiva pela criação do novo conhecimento. Funcionários da linha de

frente, gerentes de nível médio e gerentes seniores – cada qual faz a sua parte”. A importância

das pessoas, independente do nível hierárquico ou área de trabalho é mais uma marca das

organizações com perfil inovador

2.3.2 Agentes de Logística – Fornecedores

Vem se reconhecendo cada vez mais a importância da alteração do papel dos

fornecedores na logística.

Conforme Martins e Alt (2001, p.263) “O papel dos fornecedores dentro da logística

moderna é o de parceiro operacional. Esse conceito exige um relacionamento aberto, que

compreende desde o desenvolvimento conjunto do produto até contratos de fornecimento com

Page 44: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

42

preços, qualidade e prazos sob mútua administração...”. Em um cenário onde a agilidade e a

qualidade são de extrema importância, passa a não haver mais espaço para somente

responsabilizar os fornecedores por eventuais erros, como se via em décadas anteriores. As

Empresas preferem desenvolver o fornecedor, qualificando-o e fazendo-o participante.

Quando se fala em mútua administração ressalta a idéia de compartilhamento e não

necessariamente de dependência.

Os citados autores abordam ainda que o modelo clássico de relacionamento entre a

empresa compradora e os fornecedores estava baseado em julgar preços, prazos e qualidade

na hora de licitar, e recebimento da encomenda com uma inspeção quantitativa e qualitativa.

Em seguida processava o pagamento e mantinha uma ficha de referencia para consultas e

eventuais compras futuras. No novo conceito de Supply chain este relacionamento foi bastante

alterado. O importante na atualidade é estabelecer um relacionamento permanente entre

cliente e fornecedor, com envolvimento bem mais profundo, incluindo o próprio

desenvolvimento de produtos. Um dos princípios da engenharia simultânea é a redução do

tempo e do custo do desenvolvimento de um produto por meio do envolvimento do

fornecedor desde as primeiras fases de planejamento conceitual até o processamento, seja por

meio do seu envolvimento em equipes de trabalho no cliente, ou pela delegação do

desenvolvimento total, obedecendo às especificações desenvolvidas em conjunto.

(MARTINS, ALT, 2001, p.294)

Ainda falando de parceria com fornecedores, consta na literatura que a busca ideal

das organizações deve ser por sistemas mutuamente benéficos, o qual requer que cliente e

fornecedor laborem cooperativamente para obterem maiores benefícios do que conseguiriam

isoladamente. Processo característico de sinergia entre as organizações que reforça as

relações. ANUNCIAÇÃO (2009, p. 17)

A importância do fornecedor passa a ser melhor identificada. Para Christopher (1997,

p.106) “Em verdade, tendo em vista que o fornecimento externo representa cerca de 50% de

todos os custos de muitas empresas hoje, é essencial compreender como andam a eficácia e a

eficiência desses fornecedores”. Transparece que pode haver melhora da rentabilidade da

empresa cuidando com atenção das questões que envolvem os fornecedores. Como se vê a

evolução dos processos cria novas relações e compromissos. Aliás, compromisso passou a ser

uma palavra chave, pois sem esse fator há dificuldade de atingir as metas cada vez mais

ousadas que a modernidade requer. Com essa visão, a maioria das empresas tem empreendido

esforços para tratar com eficiência as informações, e atentado para as estratégias que dizem

respeito à compra, armazenagem e movimentação de estoques de matérias primas, semi-

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43

acabados e produto acabado.

2.3.3 Agentes de Logística - Transportadoras

A visão de Ballou (2001, p.159) sobre o recurso transporte demonstra que este é

bastante relevante, quando afirma que os “custos de transporte variam tipicamente entre um

terço a dois terços do total dos custos logísticos”. Em função dessa realidade evidencia-se a

importância da busca de eficiência com a utilização máxima dos recursos, materiais e pessoais

do transporte.

O tempo despendido com o transporte é relevante para determinar o custo, sendo

necessário uma roteirização eficaz, ou seja, o planejamento do seqüenciamento de retiradas e

dos trajetos a serem percorridos, serve para proporcionar organização do trabalho e

otimização dos recursos. Consolidar embarques de pequenos lotes em uma viagem para o

mesmo destino, ou destinos próximos é uma das maneiras de conseguir custos reduzidos por

unidade de peso. (BALLOU, 2001)

A roteirização pode ser feita em conjunto por três principais agentes envolvidos,

comprador, fornecedor e o a própria transportadora, visando redução de custos e satisfação do

cliente. A integração destes e o envolvimento conjunto dos mesmos podem melhorar os

resultados finais para todos, constituindo-se de um processo virtuoso.

Muitas vezes as transportadoras, ficam de certa forma, distantes dos clientes. Elas

não se envolvem e estes não permitem a participação das transportadoras. Há empresas que ao

contrario procuram proximidade na busca de informações e soluções conjuntas. Dentre os três

agentes tratados neste trabalho o que mais circula é sem dúvida a transportadora. Algumas

revelações interessantes sobre o mercado e sobre os fornecedores podem ser conseguidas com

estas que estão cotidianamente vendo, ouvindo e observando o andamento dos processos e

negócios – as transportadoras.

Valorizá-las pode ser uma estratégia compensadora, porém nem todas as empresas

estão propensas a ter interação ou pelo menos buscar informações que delas podem advir.

2.4 ESTOQUES

Os estoques geralmente são a principal preocupação dos gestores de operações e

também dos gestores financeiros, devido à quantidade de recursos que as matérias-primas, os

materiais de embalagem, e os produtos armazenados “empatam”, ou seja, alocam. Além

desses, os gestores comerciais se preocupam com os prejuízos no atendimento aos clientes,

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44

enquanto os gestores de produção estão interessados com as questões de ociosidade da fábrica

e com as conseqüências que as faltas podem acarretar. (CORREA e CORREA, 2007)

De fato os estoques são de vital importância para as atividades produtivas, por

diversos motivos em função dos benefícios, ou riscos de excessos e/ou falta.

No sistema de produção em massa a logística é um fator importante, pois o processo

depende de compra e armazenagem de grandes quantidades de matéria-prima e peças de

reposição para suprir a superprodução. Como os processos são de grandes lotes, geram

quantidades significativas de semi-acabados que precisam ser movimentados e armazenados

para reutilização em fases posteriores. Igualmente no sistema de produção em pequenos lotes

os estoques são primordiais, pois a falta pode gerar interrupções e prejuízos significativos e

comprometedores.

Mas pode haver excesso de alguns itens e falta de outros, o chamado estoque

desbalanceado. Para tratar desta e outras questões é que se faz necessária a gestão de estoques.

Compreender as funções estoques e refletir sobre um sistema de gestão eficiente são os passos

seguintes deste trabalho.

2.4.1 Funções dos Estoques

Para acentuar a importância da logística, Ballou (2001) destaca os objetivos centrais

do atendimento ao cliente sob três faces, a saber: estratégia de estoque, estratégia de

transporte e estratégia de localização, conforme Figura 6.

Figura 6: Triangulo da Tomada de Decisões Logísticas Fonte: Ballou (2001, p. 423)

Ao visualizar cada segmento das três faces estratégicas que norteiam a tomada de

decisão logística objetivando o atendimento ao cliente, transparece o quão estratégico os

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45

processos logísticos costumam ser para qualquer sistema de gerenciamento da cadeia de

suprimentos e do processo produtivo. A administração dos estoques se apresenta como de

relevância fundamental.

Na visão de Ballou (2001, p. 202) “Uma empresa usa o espaço de estocagem por

quatro razões básicas: (1) para reduzir custos de transporte e de produção, (2) para coordenar

oferta e demanda, (3) para auxiliar no processo de produção, e (4) para ajudar no processo de

marketing”.

Na razão redução de custos e na razão coordenar oferta e demanda, temos o exemplo

de empresas com oferta sazonal e demanda constante. Quando a estocagem se relaciona com

os processos de produção, o exemplo clássico seriam as produtoras de queijos e vinhos ou

outros produtos que exigem tempo de maturação – a estocagem faz parte do processo. Há

ainda a necessidade de estocagem em empresas em que a continuidade das mesmas depende

do quão ágil é o atendimento do pedido do cliente.

Ainda na observação de Ballou (2001, p.249) “Mesmo que muitos avanços tenham

sido feitos para reduzir estoques com o Just-in-time (JIT), a compressão do tempo e as

práticas de resposta rápida, aplicadas por intermédio do canal de suprimentos, o investimento

anual de estoques [...] tem sido de 13% do PNB dos EUA”.

Para Christopher (1997, p.68) “Cinqüenta por cento ou mais do ativo circulante das

companhias freqüentemente será encontrada nos estoques”. Com isso justifica a necessidade

de uma boa administração dos mesmos. Como grande parte dos autores que estudam esse

tema, ambos os citados mencionam o Sistema Toyota de Produção - STP, em função do

modelo de produção enxuta, onde se evita desperdícios e procura só manter o mínimo de

estoques, ou estoque zero.

Na visão de Shingo (1996, p.68) “Infelizmente, quanto mais aumenta o estoque, mais

se mascaram os problemas que não estão visíveis e torna-se mais difícil atacá-los diretamente.

A simples eliminação do estoque, no entanto, não resolve estes problemas básicos”. Com essa

afirmativa evidencia-se a conveniência de atenção especial à análise sobre estocagem.

2.5 JUST IN TIME

Independente dos conceitos sobre Just in time - JIT já citados anteriormente neste

trabalho, os quais foram relatados para entendimento de cada seção, faz-se neste ponto relatos

mais específicos com definições e abordagem de aspectos particulares para ampliação do

entendimento sobre o estudo de caso que se segue.

Page 48: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

46

O primeiro contato com este tema, ou a leitura superficial pode gerar dúvidas, pois

há na literatura várias abordagens, conforme a visão dos diversos autores. Alguns discorrem

longamente sobre o STP, e tratam o JIT como parte daquele, colocando-o na condição de uma

das ferramentas. Outros concedem ao JIT uma importância mais robusta, colocando-o como a

parte fundamental da Produção enxuta, e há ainda quem só mencione apenas de passagem o

STP, colocando todos os “holofotes” no JIT.

Autores como Shingo e Ohno consideram que o STP só funciona no conjunto

completo de todas as suas práticas, dentre elas o JIT. Então é conveniente um bom

entendimento sobre o mesmo.

Uma descrição didática do Just in time é fornecida por Ballou (1993, p. 228) e ajuda

a esclarecê-lo de forma prática: O estoque do Just in time nem sempre leva ao “estoque zero”. Caso as necessidades ou os tempos de reposição não sejam conhecidos com certeza, então quantidades ou tempos maiores deverão ser usados, o que acaba colocando estoque extra no sistema. Além disso, pode-se manter estoques maiores do que o necessário para conseguir vantagens de descontos associados a maiores lotes de compra ou transporte. Quando essas situações acontecem, o método do Just in time leva a resultados similares aos das outras técnicas de controle de estoques. Portanto, a técnica Just in time é vantajosa quando (1) os produtos têm alto valor unitário e necessitam de alto nível de controle, (2) as necessidades ou de demandas são conhecidas com alto grau de certeza, (3) os tempos de reposição são pequenos e conhecidos e (4) não há benefício econômico em suprir-se com quantidades maiores que as requeridas.

Ressalta do texto o cuidado para não se ter a ilusão que o JIT pode ser aplicado

sempre. São mencionados alguns exemplos em que sua adoção é impraticável, ou pelo menos

dispensável, por não conduzir a resultados favoráveis. Outras técnicas de controle de estoque

poderiam oferecer o mesmo grau de satisfação. São enumeradas então quatro situações em

que o JIT mostra-se vantajoso.

Uma visão preliminar pode indicar que o ramo de atividade de alimentos poderia se

encaixar, pelo menos parcialmente nas situações 2 e 4, mas não nas situações 1 e 3. Ainda

assim, este conceito não dá base sólida para considerar que o JIT se aplica no citado ramo.

Para Shingo (1996–2, p. 326): “a filosofia Just-in-time ensina a importância de não

produzir em excesso ou antecipadamente”, engrandecendo a filosofia, mais em outra ocasião

parece reduzir sua magnitude ao dizer: “O JIT é apenas uma meta intermediária no rumo à

melhoria”. (SHINGO 1996-2 p. 344)

Ainda Shingo (1996–2) relata que existem observadores do STP que o caracterizam

como um método JIT ou um método Kanban, o que considera como posicionamento

extremamente superficial, indicando falta de entendimento da essência do STP e do JIT. O

primeiro tem raiz na total eliminação do desperdício, com base na convicção de que preço de

Page 49: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

47

venda menos custo é igual e lucro e não como se pensava comumente, onde custo mais lucro

determina o preço de venda. Isso muda o viés das estratégias do negócio. Em continuação,

refere-se à filosofia JIT como um meio de eliminar estoque, ou seja, a jornada para o fim da

perda por superprodução, o que exige pelo menos três pontos:

- Maior sincronização da produção por controle total dos processos de trabalho com

inspeção na fonte;

- Métodos de fluxos de peças unitárias, o que requer layout dos equipamentos de

produção conforme os processos;

- Troca rápida de ferramentas (TRF) para que se consiga produzir lotes pequenos

sem perdas por excesso de setups (troca de matrizes das máquinas)

Em outras ocasiões, o mesmo autor repete os mesmos tópicos sendo abordados de

forma ligeiramente diferente, mas com o mesmo sentido, e em ordem não rigorosamente a

mesma.

O JIT também tem sido definido como um ambiente. Espaço onde se reflete o

objetivo da filosofia enxuta, de produzir somente na quantidade e momento certos evitando

desperdícios, e deve ser visto mais do que como um sistema de controle de estoque, por estar

ligado a uma série de atividades voltadas à alta produção. (MOROZ, 2009, p. 24)

Outra definição diz que: O Just in time é uma abordagem disciplinada, que visa aprimorar a produtividade global e eliminar os desperdícios. Ele possibilita a produção eficaz em termos de custo, assim como o fornecimento apenas da quantidade correta, no momento e locais corretos, utilizando o mínimo de instalações, equipamentos, materiais e recursos humanos. O JIT é dependente do balanço entre flexibilidade do fornecedor e a flexibilidade do usuário. Ele é alcançado por meio da aplicação de elementos que requerem um envolvimento total dos funcionários e trabalho em equipe. Uma filosofia-chave do JIT é a simplificação (VOSS, apud SLACK et. al. 2002, p. 482).

Trata-se de uma visão ampla do conceito. É comum encontrar definições que

abordem a disciplina, a eliminação de desperdícios, o tempo exato nos processos de trabalho,

a racionalização quantitativa, a melhoria da qualidade e a simplificação. O interessante desta

descrição do sistema é o direcionamento para a dependência do equilíbrio das flexibilidades

do fornecedor e do usuário, bem como o destaque quanto ao envolvimento total dos

funcionários e trabalho em equipe.

Algumas considerações baseadas em SLACK et. al. (2002), também contribuem para

aprofundamento sobre o tema. Os autores afirmam que na abordagem tradicional há

necessidade de estoque entre os estágios de produção, e estes estoques, chamados de

amortecedores isolam um estágio do outro. Cada qual se abastece de um lote de estoque

amortecedor e fornece para outro lote. Cada estágio fica relativamente independente. Se por

Page 50: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

48

acaso o estágio A interrompe a produção por quebras ou faltas, o estágio B pode continuar

produzindo pelo menos por algum tempo. O estágio C, também não para, pois há dois

estoques isoladores a serem consumidos até que seja necessário interromper todo o processo.

Quanto maiores os estoques isoladores, maior será o grau de independência, e menos

transtorno ocorre quando houver problemas em uma fase.

Continuam, dizendo que esse isolamento é obtido com elevação de estoque e

conseqüentemente de custos, empatando capital. Este é um ponto que torna a abordagem

tradicional passível de críticas. Outra fragilidade se manifesta quando ocorre algum problema,

pois este não se torna imediatamente aparente nos estágios seguintes. O restante do sistema

não se envolve com a solução, e o problema pode se repetir outras vezes.

Se o estágio A interrompe a produção, os estágios seguintes perceberão de imediato.

O problema é exposto, ampliando as chances de que seja encontrada uma solução, pois se

tornou muito importante para ser ignorado. Assim, a qualidade dos processos tende a ser

aprimorada. Acrescentam que por outro lado, como não existem estoques amortecedores na

abordagem JIT, é menor o volume de capital empatado.

Dizem ainda que a abordagem tradicional caracteriza-se pela proteção de distúrbios,

proporcionando longas corridas sem interrupção, mas sendo oneradas com o custo de

produções intermediárias não essenciais, que poderão ficar estocadas aguardando pedidos

futuros. Além disso, os problemas não aparecem tanto, como por exemplo: produtos

defeituosos ou fora do padrão, quebras de máquina, operadores ineficientes, entre outros.

Apresentam a conclusão de que ambas as abordagens funcionam na busca da alta

eficiência na produção, cada uma por um caminho diferente e com conseqüências também

díspares.

Finalmente dizem que o JIT caminha no sentido do alto despenho, buscando alta

qualidade, fluxo rápido de materiais que tem a confiabilidade como pré-requisito,

flexibilidade para que se consiga produzir em pequenos lotes e, não menos importante, custo

reduzido. Pré supõe alta dependência, de cada etapa em relação à outra, da garantia de

fornecimento, do envolvimento dos funcionários. Toda a estrutura deve ser confiável, por ser

interdependente, em especial os funcionários e fornecedores.

Quando se fala em alta qualidade, é conveniente ressaltar que os objetivos do JIT são

ideais, e difíceis de alcance no curto prazo. Disso decorre a necessidade de melhoria contínua,

na busca do ideal. Schonberger (2007, p. 406) relembra a conectividade que a comunidade

científica tem feito entre o JIT e o Controle de Qualidade Total.

Page 51: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

49

Figura 7: JIT: Filosofia, Conjunto de Técnicas e Método de Planejamento e Controle

Fonte: Slack et. al. (2002, p. 486)

Slack et. al. (2002) esclarecem que o JIT pode ser visto de três maneiras, conforme a

profundidade que se dê ao conceito. Esses três grupos são: JIT como uma filosofia, um

conjunto de técnicas para gestão de produção e como um método de planejamento e controle.

São amplitudes diferentes que a Figura 7 ajuda a entender.

A amplitude maior está na área mais clara composta da filosofia, superior às técnicas

e métodos, e envolvendo estes no seu escopo geral. Enquanto filosofia tem seu fundamento

em eliminar desperdícios, no envolvimento de todos e no aprimoramento contínuo. São

pilares que podem ser alcançados com as técnicas e métodos. Alguns itens já têm sido

explanados neste trabalho, dispensando comentários adicionais.

Foram destacados na figura alguns pontos que são de particular importância neste

trabalho, aos quais foram adicionados balões com asteriscos. No envolvimento de todos

convém rememorar o papel dos agentes que precisam ter participação marcante, funcionários,

fornecedores e transportadoras.

Tratando das Técnicas, os autores acentuam as Práticas básicas de trabalho, as quais

destacam como fundamentais na implantação do JIT. Assim enumeram: disciplina,

flexibilidade, igualdade, autonomia, desenvolvimento de pessoal, qualidade de vida no

trabalho, e criatividade. Prover a organização desse perfil, por si só já se constitui em elevá-la

de padrão.

O Envolvimento total das pessoas, no dizer dos autores seria uma extensão do item

práticas básicas de trabalho. Presume-se que os funcionários terão responsabilidades muito

maiores, mas também serão providos de maior autonomia. Serão consultados, tendo maior

*

*

*

*

Page 52: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

50

participação em decisões.

O fornecimento JIT numa visão não aprofundada pode ser considerado uma condição

ilusória de chegadas mágicas de mercadorias sempre no exato momento da utilização.

Conforme visto na seção sobre o STP, na verdade, se refere a compromissos de fornecimento

em lotes pequenos o mais próximo possível do momento de utilização, gerando quanto menos

estoque possível, preferencialmente zero estoque. Tudo contra o desperdício.

Um desperdício que ocorre com certa freqüência é a escolha da logística errada, ou a

não escolha, fazendo com que o processo de entrega dos fornecedores seja comprometido,

prejudicando toda a cadeia (CAMPOS, 2008). Vemos aqui uma co-relação entre desperdício e

mau gerenciamento da logística. O JIT está inserido neste contesto como uma técnica e/ou

método que favorece a gestão eficaz de estoques, na busca pela melhor rentabilidade.

Outro aspecto a considerar, se vê na tese de Duarte (2007, p.17) que estuda práticas

operacionais e performance nas empresas, o autor se vale de diversos estudos que retratam o

impacto de algumas práticas em Organizações, e menciona que em resumo o Just In Time tem

sido considerado como uma das práticas que contribui para melhoria de processos para que a

empresa consiga desenvolver capacitação e competência podendo se tornar mais competitiva

no longo prazo.

A citada pesquisa (Duarte 2007, p. 182) aborda percepções financeiras, operacionais,

relacionais, e comerciais no que tange a performance empresarial, instigando que não

necessariamente a simples adoção de uma prática causará impactos positivos, mas sim ao fato

de como a empresa implementa, aprende e se capacita com o uso efetivo de determinada

prática. A idéia de milagre com a implantação de uma ferramenta possante é desmistificada.

2.5.1 O Just in Time no Estado do Paraná

A pesquisa Sondagem Industrial realizada anualmente pela Federação das Indústrias

do Estado do Paraná – FIEP na sua última edição 2009/2010, XIV da série, contou com a

participação de 536 indústrias que empregam ao todo 122.684 funcionários diretos.

Representa cerca de 25% da força de trabalho das indústrias de transformação paranaense.

Sob a ótica estatística a margem de erro pré-estipulada na pesquisa é de 5% conforme consta

no capítulo metodologia do citado documento disponível no site da instituição.

Em 2009 foram encaminhados os formulários a 3500 indústrias constantes do

Cadastro Industrial/FIEP contendo 35 questões, às quais são oferecidas várias opções para

cada uma delas. As perguntas são a respeito de aspectos relativos às seguintes áreas de

Page 53: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

51

interesse: Produtividade; Competitividade; Estratégias de maior importância, Qualidade; Infra

- estrutura e Meio Ambiente, entre outras. Vários quesitos permitem mais de uma

possibilidade de resposta. Em tais situações a soma dos percentuais das respostas pode ser

superior a 100% em alguns casos.

Os estudos feitos pela FIEP não segregam as respostas por regiões, ou por porte das

empresas, e nem mesmo por ramo de atividade. Todos os questionários são agrupados,

gerando tão somente uma visão geral acerca das indústrias do Estado.

Dentre as críticas que se pode fazer a tal pesquisa estão pelo menos duas, a saber:

que a FIEP não realiza checagem da consistência das respostas dos questionários, e que não

faz análise em série histórica, o que poderia clarificar as tendências.

Assim, fazendo uma análise das respostas nos últimos oito anos de pesquisa, é

possível verificar alguns aspectos a respeito de gestão, e de relacionamento com fornecedores,

conforme gráficos 1 e 2:

Ferramentas de Gestão Usadas nas Indústrias do Paraná

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Just In Time Engenharia simultânea com Fornecedores

Gráfico 1: Ferramentas de Gestão Fonte: Goes, Kovaleski, Alberton (2009), baseado nos relatórios Sondagem Industrial – FIEP

O Gráfico 1 demonstra a evolução da utilização de Just in time nos últimos anos,

conforme a resposta das indústrias paranaenses. Em 2002 apenas 12,94% das indústrias

alegavam utilizá-lo, enquanto em 2009, 19,92% afirmam que estão adotando essa prática, ou

seja, um aumento de 53,94% em oito anos. Neste último ano, JIT está acima de algumas

práticas reconhecidas como: Sistema de Informações Gerenciais – MIS e Planejamento dos

Recursos de Manufatura – MRPII. Fica claro, portanto, o crescente interesse por essa

ferramenta (talvez em função do sucesso crescente da Toyota), tornando clara a importância

em estudar o tema.

12,94%

19,92%

5,83% 10,17

Page 54: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

52

No mesmo gráfico pode-se notar que o uso da ferramenta Engenharia simultânea

com fornecedores segue uma tendência de paralelismo com o uso do Just in time, ou seja,

quando aumenta o uso do JIT, aumenta o uso de Engenharia simultânea com fornecedores, e o

inverso também procede. Embora o último ano apresente um percentual de utilização um

pouco menor que nos anos de 2005 e 2006, ao se comparar o menor percentual da série que

foi em 2004 o qual era de 5,83% com o ano de 2009 que foi de 10,17%, obtém-se uma

variação positiva de 74,44% em cinco anos. Isso demonstra que os empresários do Estado do

Paraná estão intensificando consideravelmente a utilização desta prática.

Conforme já foi verificado na literatura assegura que desenvolver produtos e

processos em parceria e apoio mútuo com os fornecedores é uma prática característica da

produção enxuta, onde o JIT se insere. Além disso, ambas as práticas são associadas, e por

isso a análise acima demonstra que de fato está havendo coerência nos resultados da pesquisa

quanto ao uso de JIT.

Em complemento, foi verificada nos relatórios anuais a questão que trata das

estratégias utilizadas em relação aos fornecedores, conforme o Gráfico 2 demonstra:

Estratégia em relação aos Fornecedores

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Estabelcer parcerias com fornecedoresQualificar fornecedoresDiversificar fornecedoresAdquirir do fornecedor mais vantajoso a cada momentoAdquir de um único Fornecedor

Gráfico 2: Estratégia em Relação aos Fornecedores Fonte: Goes, Kovaleski, Alberton (2009) baseado nos relatórios Sondagem Industrial – FIEP: 2002 a 2009

Nos oito anos analisados percebe-se que as cinco respostas demonstram a mesma

ordem de prioridade por parte dos respondentes. Estabelecer parcerias com fornecedores está

sempre em primeiro lugar, seguido de Qualificar fornecedores. Mais uma vez o empresariado

indica que está em sintonia com as idéias do Sistema de Produção Enxuta.

Page 55: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

53

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O conteúdo deste capítulo é composto dos procedimentos metodológicos utilizados

para elaboração desta dissertação. Encontra-se o método científico empregado e as

classificações sob a ótica metodológica. Consta a justificativa da escolha da empresa para o

estudo de caso. Apresentam-se os instrumentos de coleta de informações e como foram

utilizados. Demonstra a interação dos dados e a utilização dos mesmos em conexão com o

objetivo geral e os objetivos específicos. Tudo exposto, para que a apresentação do estudo de

caso propriamente dito seja suficientemente compreendida e o trabalho científico seja passível

de reprodução.

3.1 MÉTODO CIENTÍFICO DA PESQUISA

A presente pesquisa se caracteriza como um estudo de caso, em função dos

procedimentos técnicos utilizados. Conforme preceitua Yin (2005, p. 24) dentre algumas

situações relevantes que envolvem um estudo de caso é que focaliza acontecimentos

contemporâneos e não exige controle sobre eventos comportamentais. Podem ser utilizados

para contribuir com o progresso dos conhecimentos relacionados a variados fenômenos,

comportando características holísticas. Diz ainda que se trata de uma investigação empírica

que trabalha sobre um fenômeno atual no âmbito da vida real, em especial nos casos em que

os limites entre fenômeno e contexto não são claramente definidos.

Na visão de Gil (1999), um estudo de caso possibilita pesquisa exaustiva de um ou

poucos objetos, dando margem para ampliação de conhecimento sobre assunto específico, em

torno de um determinado problema.

O problema de pesquisa apontou para a indicação de estudo de caso em consonância

com os requisitos pré-citados.

3.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Além de ser um estudo de caso, a pesquisa também se enquadra em outras

classificações sob diversos aspectos, conforme Gil (1999):

Quanto à natureza, é uma pesquisa aplicada por envolver verdades e interesses

locais, problema específico;

Quanto à forma de abordagem, é caracterizada como uma pesquisa qualitativa por

tratar basicamente de aspectos subjetivos, tais como as opiniões dos agentes. Há bastante uso

Page 56: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

54

de valorações, percentuais, e fórmulas são usadas para auxiliar nas interpretações, e neste

sentido há quem possa considerá-lo também como quantitativa. Como os dados numéricos

não podem servir para extrapolar os resultados a outras situações semelhantes, o mais

apropriado é que seja classificada como qualitativa.

Quanto aos objetivos, é uma pesquisa exploratória por proporcionar familiaridade

com o problema tornando-o explicito. Busca-se compreensão por diversos ângulos, como

levantamento bibliográfico e entrevistas, entre outros.

3.3 JUSTIFICATIVA DA EMPRESA ESTUDADA

Partindo da suposição que as pequenas empresas teriam maior dificuldade para

adotar o JIT, em função do menor poder de influencia sobre os fornecedores, procurou-se

concentrar os esforços em pesquisar empresas de grande porte.

O fato de o Sistema Toyota de Produção ter se desenvolvido em função de

necessidade, surgiu a oportunidade de estudar uma indústria alimentícia, pois têm a

necessidade de receber, produzir e despachar com prazos justos, precisando de agilidade.

Verificou-se a carência de pesquisas do JIT, nesta atividade produtiva.

Estudar uma empresa de ramo alimentício que está conseguindo bons resultados com

o Just in time é relevante e atual, sobretudo neste segmento cuja necessidade de fazer “a

tempo” é imperiosa. Conseguir vários ângulos de visão, interna e externa sobre o tema pode

enriquecer o resultado da investigação.

3.4 COLETA DE DADOS

Conforme conceituam Lakatos e Marconi (2001, p. 174) “técnica de pesquisa é um

conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte; é a habilidade para

usar esses preceitos ou normas, a parte prática”. Dentre as técnicas está a coleta de dados, que

junto com a pesquisa bibliográfica constituem-se nos passos fundamentais para qualquer

pesquisa científica.

Foram obtidos dados por meio de questionários, entrevistas, observação e análise de

documentos, visando fundamentar de forma substancial os resultados do estudo.

3.4.1 Teste Piloto e Pré-avaliação dos Questionários

Os questionários foram elaborados tomando-se por base o referencial teórico deste

estudo e tencionando que pudesse auxiliar efetivamente nas respostas dos objetivos geral e

Page 57: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

55

específicos.

Foi realizado um teste piloto com um responsável por logística de uma empresa de

alimentos. Este respondente possui MBA, e especialização em Engenharia de Produção,

sendo conhecedor de implantação e funcionamento do Just in time na atividade alimentícia.

Após tomar conhecimento dos objetivos da pesquisa, examinou os questionários das três

versões, ou seja, para funcionários, para fornecedores e para transportadoras. Respondeu a

todas as perguntas e fez uma avaliação focada mais especificamente sobre possíveis

dificuldades que os respondentes poderiam ter.

O respondente chegou à conclusão que as perguntas eram claras e que haveria bom

entendimento por parte de todos. Considerou que não seria necessário reformular nenhuma

delas sob o aspecto de entendimento. Este teste não foi utilizado na apuração de resultados,

servindo apenas para avaliação preliminar.

Em seguida, os questionários foram enviados para um Professor Doutor de um

programa de Mestrado em Engenharia de Produção. Este avaliou os mesmos sob o aspecto

conteúdo. Fez algumas observações e sugestões as quais foram totalmente aceitas.

Após as correções necessárias, dentre elas a retirada do nome da empresa dos

questionários, foram feitas as adaptações de ordem estética para possibilitar uma apresentação

agradável e eficaz. Agradável, para que os respondentes desejassem participar e eficaz

principalmente no sentido de prover clareza para obtenção de resultados não distorcidos.

3.4.2 Instrumentos de Pesquisa - Questionários

Foi escolhido utilizar questionário como principal instrumento, dentre as técnicas de

coleta de dados, após visualizar as vantagens e desvantagens enunciadas por Lakatos e

Marconi (2008, p. 86,87), tomando todos os cuidados necessários para reduzir os efeitos das

desvantagens potenciais, ou seja, percentagem pequena de retorno, perguntas sem respostas,

impossibilidade de auxiliar o informante em questões mal compreendidas, devolução tardia

prejudicando o calendário da pesquisa, etc.

Foram elaboradas perguntas para encarregados de setores ligados à logística,

fornecedores e transportadoras, em três questionários específicos para cada grupo com 20

perguntas cada, conforme Apêndices A, B e C.

Para análise dos questionários foi apurado o percentual de respostas de cada item

para possibilitar análise integrada de dados qualitativos, uma forma de ajustá-los de modo

mensurável, visando avaliação e comparativos. Além disso, buscou-se apropriá-los em escala.

Page 58: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

56

Conforme ensinam Lakatos e Marconi (2008, p. 109/110) existem diversos tipos de

escalas, e dentre elas está a escala de Likert que tem esse nome relacionado à Rensis Likert, a

qual foi criada a partir da escala de Thurstone. É uma escala muito usada em pesquisas de

opinião. São elaboradas proposições que tenham relação direta ou indireta com o objetivo a

ser investigado e que sejam consideradas importantes em relação às opiniões. Os respondentes

indicarão suas reações, e serão atribuídos valores 5, 4, 3, 2, 1, correspondentes a aprovação

plena, aprovação parcial, neutralidade, desaprovação parcial, ou desaprovação plena.

Trata-se de uma escala do tipo bipolar, medindo respostas positivas ou negativas a

uma afirmação, ou seja, os resultados expressam pontos de vista favorável ou desfavorável ao

assunto que se quer pesquisar.

As mesmas autoras sugerem que as proposições sejam misturadas no que se refere à

aprovação e desaprovação. (LAKATOS e MARCONI, 2008, p.111)

Foi elaborada uma escala com base na escala Likert, constando de perguntas do tipo

positivas e negativas. Os respondentes não visualizaram as notações (N ou P) nas questões.

N = Negativa, ou seja, quando há concordância plena nestas questões, indica que a

ferramenta não está sendo bem aplicada, portanto o valor de y é mínimo = 1;

P = Positiva, ou seja, quando há concordância plena nestas questões, indica que a

ferramenta está sendo bem aplicada, portanto o valor de y é máximo = 5.

As opções de respostas foram elaboradas conforme Quadro 4.

Valores de Y RESPOSTAS POSSÍVEIS (r) Tipo N Tipo P

a) Discordo Plenamente (NEGATIVO) 5 1 b) Discordo em parte (1/2 negativo) 4 2 c) Desconheço (?) 3 3 d) Concordo em parte (1/2 positivo) 2 4 e) Concordo Plenamente (POSITIVO) 1 5

Quadro 4: Valores de Y para Respostas Tipo N e tipo P Fonte: Autoria própria (2010)

As perguntas estão agrupadas em 4 blocos e foram ordenadas de forma a terem

posicionamentos misturados de entre os tipos N e P, para que não ficasse tão óbvio quais as

que são voltadas à classificação negativa e quais à positiva. No Apêndice D consta a tabela

"Blocos – Questões N e P" a qual demonstra a distribuição dos tipos N e P nos questionários.

As questões do tipo N e P foram balanceadas para que houvesse uma tendência de

distorção para aprovação ou desaprovação

Os questionários foram enviados por e-mail juntamente com um tutorial,

Page 59: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

57

denominado Instruções, conforme Apêndice E. Os documentos preenchidos foram devolvidos

por e-mail e alguns por fax, e encontram-se todos arquivados com o autor, sem identificação

dos respondentes.

Houve uma preocupação especial com a apresentação, para que estes questionários

estivessem contidos em apenas uma página cada, houvesse uma orientação básica no

cabeçalho independente do tutorial enviado, tivesse distinção dos blocos de forma clara, e

finalmente que o visual facilitasse o entendimento pleno. A legenda constante do questionário

e apresentada na Figura 8.

Figura 8: Legenda dos Questionários Fonte: Autoria própria (2010)

As figuras de mãos em posição universal de negativo e positivo, para discordo

plenamente e concordo plenamente, em tamanho maior que os demais ícones, foram

propositais para que não houvesse dúvidas quanto a tais posicionamentos extremos. As mãos

inclinadas e em tamanho menor em posição do tipo “meio negativo” e “meio positivo” para as

respostas discordo em parte e concordo em parte, foram utilizadas para dar a noção de algo

parcial pendendo para menos ou pendendo para mais. Finalmente foi utilizado o símbolo de

interrogação, universal para caracterizar desconhecimento.

Foi elaborado e aplicado ainda um questionário para o supervisor geral da empresa

estudada, visando obtenção de uma visão geral sobre a logística da Empresa e do sistema

enxuto, ou seja, do STP. Objetivou ainda melhorar o entendimento das respostas que viriam

por meio dos questionários principais. Este documento está reproduzido na integra no

Apêndice F, da forma como foi respondida a aprovada a transcrição pelo respondente.

Juntamente com este questionário foi enviado o glossário de termos e acrônimos lean,

produzido pela Comunidade Lean Thinking, para melhor entendimento e visando facilitar o

preenchimento das respostas, mesmo sabendo-se que o respondente tem formação na área,

sendo familiarizado com a nomenclatura.

3.4.3 Formulação e Interações de Questões

Esta secção trata dos três questionários principais. Algumas questões foram

formuladas de maneira que se pudesse fazer interação entre os pontos de vista de dois ou três

Page 60: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

58

grupos de respondentes, sempre na busca dos objetivos, geral e/ou específicos. A elaboração

da forma como se apresentou serviu para verificar as concordâncias e as discrepâncias nos

pontos de vista dos grupos.

Cada questionário possui 4 blocos, totalizando 20 respostas, todas com opções a

serem selecionadas. Foram denominados de Blocos E1, E2, E3, E4, para os conjuntos de 20

respostas do questionário aos encarregados. Foram identificados de F1, F2, F3, e F4 as 20

afirmativas do questionário aos fornecedores. Quanto às transportadoras, as 20 respostas estão

agrupadas nos blocos denominados de T1, T2, T3, e T4.

Os questionamentos sobre a chegada de matéria - prima e material de embalagem

poucos instantes antes da aplicação no processo de produção, são tratados nos blocos E2, F2,

T2, e T4. Estes blocos visaram atender tanto o objetivo geral, como o objetivo específico A.

Objetivando investigar sobre a visão dos respondentes a respeito do despacho dos

produtos acabados logo após o término da produção, foram utilizados os blocos E4, F4 e T1.

Estes blocos serviram para aprofundamento da análise quanto aos objetivos geral e específico

B.

Para tratar do estoque baixo que é mantido na indústria em estudo, foram utilizados

os blocos E1, E3, e F1, servindo para atender além do objetivo geral o objetivo específico C.

O Bloco F3 sobre a interação entre a INDÚSTRIA em estudo e o fornecedor, auxilia

para atingir o objetivo geral, e o específico D

Houve ainda o Bloco T3 visando tratar especificamente do planejamento de

carregamento.

Os blocos E4 e F4 têm apenas dois itens relacionados a serem respondidos, enquanto

os demais blocos de encarregados e fornecedores têm seis itens relacionados. Ressalte-se,

porém que os referidos blocos serviram para reforçar os argumentos de outros blocos. O

mesmo ocorre com o bloco T4 que tem dois itens de respostas enquanto os demais blocos do

questionário para transportadoras possuem 6 itens relacionados a serem respondidos, mas

neste caso o citado bloco serve para completar o bloco T2, na resposta do objetivo A.

3.4.4 Instrumentos de Pesquisa - Entrevistas Semi-estruturadas

Seguindo os ensinos de Bourdieu (1999) o qual argumenta sobre a importância da

escolha das pessoas entrevistadas, bem como da procura por clima e linguagem que

favoreçam abertura para captação do máximo de informações com qualidade. Buscou-se

conversar com encarregados qualificados e ligados à atividade logística da empresa em

Page 61: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

59

estudo, visando aprofundar e ampliar os dados obtidos por intermédio dos questionários

aplicados em fornecedores, transportadores, e em outros funcionários.

Para que o gravador utilizado nas entrevistas não causasse inibição, foi assegurado

que todo o teor seria transcrito e conferido por cada um deles e somente com a anuência de

cada uma, as entrevistas seriam registradas definitivamente, e sempre sem identificação do

entrevistado.

Procurou-se enviar sinais de estímulo durante as respostas, no sentido de perceberem

que estavam sendo ouvidos com atenção e que havia entendimento e interesse, no afã de

evitar constrangimentos e permitindo que as respostas fossem de qualidade. Foi procurado

intervir o mínimo possível para não quebrar a seqüência do pensamento, fazendo-o somente

quanto estritamente necessário.

Foi dispensada atenção integral, buscando perceber os sinais não verbais e as

mensagens nas entrelinhas dos discursos dos respondentes, pois poderiam ser importantes na

análise, tudo em consonância com as recomendações de Bourdieu.

As entrevistas foram efetuadas com três encarregados de atividades ligadas á

logística e ao setor de Planejamento e Controle de Produção – PCP. As mesmas estão

reproduzidas nos Apêndices G, H, e I.

3.4.5 Instrumentos de Pesquisa - Observação e Análise Documental

Foram realizadas 3 visitas com a intenção de observar o recebimento, a

armazenagem, e a movimentação de estoque na entrada de mercadorias e na saída de

produtos. Houve um lapso de três meses entre as visitas, justamente para que a verificação

ocorresse em momentos diferentes e fosse possível identificar se estava havendo evolução do

gerenciamento Just in time.

Foram analisados ainda relatórios de gestão de estoques e fotos da situação de

estoques há cerca de um ano. Para documentar a evolução do volume estocado, foram feitas

algumas fotos atuais nas áreas demonstrando o avanço alcançado com a aplicação da

ferramenta. Somente algumas poucas fotografias selecionadas serão apresentadas neste

trabalho, no sentido de exemplificar o que foi verificado na indústria.

3.5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

A estrutura do trabalho pode ser entendida ao visualizar-se a Figura 9 que demonstra

de forma sintética e esquemática os principais passos do presente estudo. A secção 1.6

Page 62: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

60

retratou o resumo dos capítulos, e neste ponto é oferecida uma apresentação visual do escopo

do trabalho.

No bloco Referencial Teórico, a figura apresenta o JIT e o STP em campos distintos,

apenas para dar destaque a cada um dos assuntos. Os temas são interligados, pois conforme a

literatura ensina, o JIT surgiu do STP, e é parte fundamental do mesmo.

Figura 9: Fluxograma da Estrutura da Pesquisa

Fonte: Autoria própria (2010)

Page 63: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

61

O fluxograma demonstra, pois, a trajetória metodológica adotada, a qual segue em

três fases: a primeira, o referencial teórico onde foram estudados os temas Sistema Toyota de

Produção, logística, principais agentes da logística, estoques, e Just In Time. A segunda fase

trata do estudo de caso e da análise dos resultados conforme objetivos propostos. A última

fase aborda considerações sobre o modelo de gestão e sugestões para trabalhos futuros.

Page 64: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

62

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO

A Empresa estudada é uma indústria de grande porte do ramos de alimentos

processados de origem animal. A pesquisa foi realizada em uma unidade de produção no

Estado do Paraná, Brasil.

Possui um portfólio de mais de mais de 1000 itens e também opera com unidades

fora do pais, com produtos na área de lácteos (derivados de leite) e produtos de suínos, frango

e perus. O volume de materiais importados é reduzido. São aproximadamente 15 ton./mês de

matérias – primas e 25 ton./mês de materiais de embalagem, ou seja, 0,045% e 0,075% da

produção respectivamente. Algumas embalagens importadas são específicas para a exportação

de produtos derivados de carne de frango para os países árabes.

Apresenta-se neste ponto a constatação dos principais fatos, com fotos e dados de

documentos da empresa. Também são utilizados alguns informes de questionários. Tudo para

apresentação do que se constatou. Na seção seguinte ocorre a análise da pesquisa junto aos

agentes, propriamente dita.

A implantação da prática do Just in time vem sendo tentada há cerca de 15 anos.

Foram experiências com progresso temporário, seguido de retrocesso, principalmente devido

à falta de compreensão e colaboração dos agentes ligados mais diretamente ao processo, ou

seja, fornecedores e funcionários.

Segundo informações obtidas com funcionários e ex-funcionários em conversas

informais (fora das entrevistas), foram realizados diversos cursos sobre o JIT, e as tentativas

de implantação dessa ferramenta vinham sendo frustradas. Este quadro se reverteu nos

últimos de 4 anos. Com a determinação da direção da empresa de uma forma mais

contundente, e devido ao aumento da necessidade de redução de custos e sendo indispensável

à liberação de espaço em função da forte expansão da empresa, foram estabelecidas as

condições para que não houvesse mais outra alternativa, a não ser implantá-lo em definitivo.

As resistências dos fornecedores e dos funcionários foram trabalhadas e os resultados mais

concretos vêm sendo sentidos de forma gradativa nos últimos dois anos, e mais fortemente no

ano de 2010.

Analisando algumas fotos de pouco mais de um ano até os dias de hoje, pode-se ter

uma noção da evolução da administração de estoques com o funcionamento crescente do JIT.

Page 65: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

63

Fotografia 1: Estoque de Matéria-Prima em Câmara Fria

Fonte: arquivo da Empresa – ano 2009

A Fotografia 1 mostra a armazenagem de matéria-prima que precisa ser mantida

refrigerada antes da aplicação no processo. Trata-se de poupas de frutas e outros componentes

perecíveis que se integram ao produto. Pode-se perceber o quanto a câmara fria estava lotada,

dificultando a identificação e movimentação de produtos. Havia risco, inclusive, de utilização

de forma aleatória, não obedecendo a ordem de chegada e por conseqüência os prazos de

validade.

Nas entrevistas foi revelado o quanto o estoque lotado dificulta ou mesmo impede o

atendimento do FIFO – First in, first out, ou seja, o conceito consagrado em administração de

estoques que estabelece que o primeiro a entrar no estoque deva ser o primeiro a sair para

consumo. O estoque era muito alto, o que dificultava tal controle. A deficiência do controle

pode gerar decisões equivocadas de compras e conseqüentemente financeiras. O respondente

3 diz inclusive que “se comprava pelo sentimento”, ou seja, sem um critério técnico.

Em condições tais como esta, é possível ocorrerem vários tipos de desperdícios, de

tempo de procura da mercadoria, de movimentação, por perda de validade, de ordem

financeira em geral, etc., podendo inclusive atrasar o andamento de processo produtivo.

Fotografia 2: Estoque de Matéria-Prima Fora de Prateleiras

Fonte: arquivo da Empresa – ano 2009

Page 66: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

64

A Fotografia 2 apresenta estoque de matéria-prima em locais inadequados, em

função da falta de espaço nas prateleiras dos armazéns. Vêem-se inclusive tipos diferentes de

materiais estocados juntos, e sem a visibilidade adequada. Há materiais pendendo para fora

dos paletes, cuja movimentação pode causar acidentes e perdas.

Semelhantemente ao que ocorria na situação demonstrada pela fotografia 1, nesta

imagem fica transparente os riscos de diversos tipos de desperdícios e dificuldades para um

controle eficaz.

Das respostas dos questionários fica claro que havia consciência de que esta situação

era indevida, e geradora de inúmeros problemas, mas não havia mesmo espaço em função do

grande volume que era mantido em estoque.

Áreas cobertas como esta poderiam ser remanejadas para outras utilizações pela

empresa, a qual vem expandindo suas atividades expressivamente nos últimos anos. Fato este

comprovado pelo crescente efetivo de funcionários, aumento do abate e de processamento de

leite.

Com o gradativo sucesso na implantação do JIT, foi sendo possível melhorar a

organização dos estoques em locais adequados. Houve melhor separação por tipo, abertura de

espaço para movimentação, e condições de se processar corretamente o FIFO.

A Fotografia 3, composição de duas fotos do primeiro semestre de 2010, que

demonstra o estoque ainda cheio, porém organizado. Já se identificam posições vagas nas

estruturas, tanto para matéria-prima como para materiais de embalagem. Nota-se ainda que os

armazéns estão limpos, em atendimento ao 5S, prática dos cinco sensos. O 5S é uma prática

plenamente implantada na empresa, conforme resposta do supervisor em questionário

especifico, porém notou-se que era difícil funcionar plenamente neste setor, antes do JIT.

Fotografia 3: Estoque de MP (esquerda) e Emb. (direita) em Prateleiras

Fonte: Composição do autor - arquivo da Empresa – primeiro semestre/2010

A partir da organização dos estoques em função da efetiva aplicação do JIT, não

obstante o aumento da produção, foi possível otimizar os espaços, tornando viável, inclusive a

Page 67: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

65

cessão de um barracão para que um fornecedor se instalasse dentro da planta da Indústria.

Esta medida é mencionada espontaneamente pelos três respondentes das entrevistas aos

chefes de setores, e ressaltada pelo respondente 3 como boa para ambas as partes. O

respondente 1 é ainda mais esclarecedor quanto à mesma medida, dizendo: É bom para o

fornecedor que reduz custos, como frete por exemplo. É bom para a empresa, pois tornou-se

mais fácil e mais rápido resolver qualquer problema.

Fotografia 4: Espaço Disponível em Prateleiras Devido ao JIT

Fonte: Autoria própria – Out/2010

A Fotografia 4, datada de Outubro de 2010, demonstra a sobra de espaço nas

estruturas. Com esta condição, também é facilitada até mesma a constatação visual das

necessidades de estoques, o que era impossível com os níveis anteriores.

Além das fotos, foram disponibilizados alguns documentos de posição de estoques.

Com base nos mesmos, foram extraídos alguns informes, e criados gráficos para possibilitar

análise dos estoques no período de janeiro a outubro de 2010.

Uma das análises foi sobre o índice de giro de estoque. Este conceito considera o

número de vezes, durante um período, em que o estoque foi renovado. A conhecida fórmula é:

giro de estoque = valor consumido no período ÷ valor de estoque médio no período. Assim, o

valor do estoque em comparação com o consumo de estoque estabelece quanto fica estocado

em relação ao consumo. Se o índice é 1 significa que se mantém em estoque o equivalente ao

consumo. Se o índice é 2, então o nível de estoque é a metade do consumo. Quanto maior o

índice, melhor a performance do ponto de vista financeiro e organizacional.

A meta de giro de estoque estabelecida tem sido de aumentá-lo em 10% a cada três

meses, acumulativamente. Assim, no primeiro trimestre a meta foi de 1,7; no segundo de 1,9;

no terceiro de 2,07; e no último trimestre do ano de 2,28.

Page 68: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

66

Gráfico 3: Giro de Estoque MP e Embalagem – Área de Frigoríficos Fonte: Autoria própria (2010), com base em relatórios da Empresa

O Gráfico 3 mostra que nem sempre foi possível alcançar a meta, mas em vários

meses o nível de estoque ficou bem próximo. Houve uma demonstração de avanço ao se

constatar que em janeiro o realizado ficou quase 19% abaixo da meta, mas no mês de outubro

houve superação de cerca de 10% acima da meta.

Comparando os valores de estoque de janeiro com outubro de 2010, relativo ao setor

de frigorífico, vê-se uma redução de R$ 1.150.150,00, que corresponde a aproximadamente

41% do valor de estoques

2.8

08.2

30

2.2

37.2

58

2.8

66.5

21

2.7

62.8

32

2.3

60.8

24

2.3

48.3

23

2.1

63.8

38

2.1

13.2

30

1.8

08.0

75

1.6

58.0

80

-

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.500.000

jan fev mar abr mai jun jul ago set out

Gráfico 4: Estoque MP e Embalagem - Área de Frigoríficos – Jan/Out 2010

Fonte: Autoria própria (2010), com base em relatórios da Empresa

O Gráfico 4 apresenta os valores mês a mês, dando uma visão mais clara dos

resultados reais ocorridos naquele setor da Unidade em estudo.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

jan fev mar abr mai jun jul ago set out

Meta Giro Giro Total

1,39

2,51

Page 69: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

67

Sabendo-se que a média de giro em 2008 foi de 1,13, em 2009 foi de 1,25 e em

Outubro/2010, superou a meta de 2,28 chegando a 2,51, ou seja, mais que o dobro de 2008,

vê-se que se apresenta um grande avanço nos controles de estoques.

Convém prestar alguns esclarecimentos adicionais sobre o JIT e a utilização de

ferramentas de produção enxuta, os quais foram obtidos junto à supervisão e podem ajudar no

entendimento sobre o funcionamento da empresa e auxiliar na análise dos questionários feitos

com os principais agentes de logística:

Quanto aos fatores ou interesses mais relevantes para a empresa manter a aplicação

do JIT, as resposta foram:

- Racionalização de recursos (físicos, monetários, tempo, pessoas);

- A modernidade tecnológica exige esse sistema;

- Redução de custos logísticos com estoques;

Quando aos fatores que causam necessidade de maior volume de estoque:

- Localização dos fornecedores;

- Falta de confiabilidade no cumprimento de prazos pelo fornecedor;

- Falta de confiabilidade nos agentes logísticos (transportadores e embarques)

Quanto às práticas ligadas à filosofia enxuta que são adotadas na unidade, foram

assinaladas como plenamente utilizadas:

- Desenvolvimento de produtos em parceria com fornecedores;

- Participação dos funcionários na solução dos problemas;

- Busca da simplicidade;

- Busca constante da eliminação total de perdas;

- Solução de problemas na origem;

- Uso de controle visual para que os problemas não fiquem ocultos;

- Análise minuciosa e por consenso antes da tomada de decisões

Foi informado ainda que não houve anteriormente nenhuma pesquisa sobre a

aceitação dos fornecedores, transportadoras, e colaboradores com relação ao sistema de

estoque e logística adotado na empresa

4.2 SINTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS

A análise dos questionários foi realizada em planilha Excel, sabendo-se que dos

encarregados e chefes de setores de áreas ligadas à logística, bem como das transportadoras,

retornaram 100 % dos questionários enviados. Quanto aos fornecedores, retornaram 61,5%

Page 70: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

68

dos questionários, de um total de 26 fornecedores habituais de matérias-primas e materiais de

embalagem, retornaram 16 respondidos integralmente. Não foram considerados, fornecedores

de peças de reposição, de materiais de expediente, ou outros que não estivessem relacionados

com materiais para produção. Retornaram e foram analisados 40 (quarenta) questionários,

sendo: 14 de funcionários;

10 de transportadoras e;

16 de fornecedores.

Algumas notações (simbologias) e fórmulas simples desenvolvidas pelo autor são

oferecidas a seguir para facilitar o entendimento dos dados constantes das planilhas:

- Para obtenção dos percentuais: r = resposta possíveis: podem ser a, b, c, d, ou e y = peso das respostas, conforme tabela N e P Pti = Pontos totais por item Pti = Σ(ra x y ... re x y) Pm = pontuação máxima por item = 5 (constante nos três questionários) R = Respondentes qR = quantidade de respondentes % i = percentual por item % i = Σ(ra x y ... re x y) / (pm x qR) % i = {Pti / (pm x qR)} x 100 Tb = totais de pontos por bloco Tb = Σ(Pti 1 … Pti n) Lb = limite do bloco = total possível = Pm x qR x qi onde qi = quantidade de itens % bl = percentual por bloco % bl = {(Σ(Pti 1 … Pti n) / (Pm x qR x qi)} x 100 % bl = (Tb / Lb) x 100 TG = total geral de pontos TG = Σ(Tb) LG = limite geral LG = Σ(Lb) % G = percentual geral do questionário

Page 71: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

69

% G = (TG / LG) x 100 - Para obtenção de Escalas qp = quantidade de perguntas por bloco E = escala E = Tb / (qR x qp) qG = quantidade de perguntas do questionário = 20 (constante nos três questionários) EG = escala geral EG = TG / (qR x qG)

Os percentuais e as escalas são totalmente compatíveis. Os resultados em ambas as

formas servem para a mesma análise e as mesmas conclusões. Tão somente as escalas estão

na base 5, enquanto os percentuais na base 100. Por exemplo:

Funcionários: 68,7% ou 3,436. Pode-se confirmar que 3,436 / 5 = 0,687

Fornecedores: 64,3% ou 3,213. Pode-se confirmar que 3,213 / 5 = 0,643

Transportadoras: 65,8 % ou 3,29. Pode-se confirmar que 3,29 / 5 = 0,658

Como indício de que as questões foram bem compreendidas, houve um baixo índice

de respostas de que se desconhecia sobre a pergunta. Entre os Fornecedores foram apenas 8

respostas num total de 320 (16 x 20) possibilidades, ou 2,5%. Entre os funcionários, foram 5

respostas de 280 (14 x 20) possibilidades, ou 1,8%. Dos questionários respondidos pelos

transportadores, nenhuma opção “Desconheço” foi escolhida entre 200 possibilidades. No

total foram 13 opções “Desconheço” em 800 possibilidades, ou seja, 1,6% de

desconhecimento do que estava se tratando.

Os quadros com as planilhas são apresentados abaixo, seguidos de algumas

observações gerais que servem para início do entendimento dos dados, e melhor compreensão

das análises que virão na seqüencia.

Page 72: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

70

Item TIPO NEG 1/2 Neg ???

1/2 Pos POS Pti % i Lb % bl E

a b c d e

N 5 4 3 2 1 P 1 2 3 4 5

BLOCO E1 O estoque baixo mantido na INDÚSTRIA 1 N 3 1 6 4 35 50,0% 3 N 4 4 4 2 46 65,7% 4 N 5 5 3 1 52 74,3% 2 P 1 1 1 6 5 55 78,6% 5 P 1 1 8 4 55 78,6% 6 P 1 1 8 4 55 78,6%

298 420 71,0% 3,548

BLOCO E2 - MP e Emb chegando poucos instantes antes da aplicação no processo 8 N 3 3 8 43 61,4% 9 N 4 8 2 34 48,6%

11 N 1 3 1 8 1 37 52,9%

7 P 1 4 1 6 2 46 65,7% 10 P 3 6 5 55 78,6%

12 P 2 7 5 57 81,4%

272 420 64,8% 3,238

BLOCO E3 - Não produzir semi-elaborados (produtos intermediários) 13 N 4 3 6 1 45 64,3% 15 N 4 5 4 1 49 70,0% 16 N 3 3 7 1 42 60,0%

14 P 1 2 9 2 51 72,9% 17 P 1 4 4 5 50 71,4%

18 P 5 5 4 50 71,4%

287 420 68,3% 3,417

BLOCO E4 - Despachar o Produto Acabado em seguida ao término da produção 20 N 3 5 1 5 48 68,6%

19 P 1 1 8 4 57 81,4%

105 140 75,0% 3,750

qR =14

962 1400 68,7% 3,436

Quadro 5: Apuração dos Questionários aos Funcionários

Fonte: Autoria própria (2010)

Como se pode verificar no Quadro 5, das respostas dos funcionários, a maioria das

respostas dos itens resultou pontuação acima de 60%. A coluna com maior freqüência de

respostas de toda a pesquisa foi Concordo parcialmente, independente de afirmativas do tipo

N ou P. O Bloco E4 recebeu o maior percentual por bloco de toda a pesquisa, com 75% de

positividade, demonstrando entendimento por parte dos funcionários de que a prática de

despachar o produto acabado logo em seguida ao término da produção é uma medida

acertada.

Valores y para N e para P

Tb

Tb

Tb

Tb TG 14 Respondentes LG %G EG

Page 73: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

71

Item TIPO NEG 1/2 Neg ???

1/2 Pos POS Pti % i Lb % bl E

a b c d e

N 5 4 3 2 1 P 1 2 3 4 5

BLOCO F1 - Estoque baixo que é mantido na INDÚSTRIA 1 N 2 3 8 3 41 51,3% 3 N 2 2 8 4 38 47,5% 4 N 2 2 3 9 33 41,3% 2 P 3 5 8 66 82,5% 5 P 1 7 8 70 87,5%

6 P 1 5 10 72 90,0%

320 480 66,7% 3,333

BLOCO F2 - MP e Emb. chegando poucos instantes antes da aplicação no processo 9 N 1 1 8 6 29 36,3%

11 N 1 3 9 3 38 47,5%

7 N 3 3 2 6 2 47 58,8% 8 P 3 4 4 5 52 65,0%

10 P 2 3 8 3 55 68,8%

12 P 2 4 1 4 5 54 67,5%

275 480 57,3% 2,865

BLOCO F3 - Interação entre a INDÚSTRIA e o fornecedor 14 N 2 7 7 29 36,3% 15 N 2 7 7 29 36,3%

17 N 2 5 1 5 3 46 57,5% 13 P 1 8 7 69 86,3% 16 P 1 6 9 71 88,8%

18 P 2 5 9 71 88,8%

315 480 65,6% 3,281

BLOCO F4 - Despachar o Produto Acabado logo em seguida ao término da produção 20 N 2 6 1 7 51 63,8%

19 P 13 3 67 83,8%

118 160 73,8% 3,688

qR =16

1028 1600 64,3% 3,213

Quadro 6: Apuração dos Questionários aos Fornecedores

Fonte: Autoria própria (2010)

No Quadro 6 fica demonstrado que as respostas dos fornecedores apresentaram os

resultados mais extremos que os dos funcionários e que os das transportadoras. No bloco F1,

item 6 aparece o maior percentual deste grupo com 90%, o segundo de toda pesquisa. No

resultado geral este grupo foi o que apresentou o percentual mais baixo de todos, embora com

pequena diferença para o segundo do ranking.

16 Respondentes

Valores y para N e para P

Tb

Tb

Tb

Tb

TG LG %G EG

Page 74: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

72

Item TIPO NEG 1/2 Neg ???

1/2 Pos POS Pti % i Lb % bl E

a b c d e

N 5 4 3 2 1 P 1 2 3 4 5

BLOCO T1 - PA despachado em seguida ao término da produção 1 N 8 2 18 36,0% 3 N 2 4 4 34 68,0% 4 N 1 3 4 2 27 54,0% 2 P 1 5 2 2 29 58,0%

5 P 2 1 4 3 35 70,0%

6 P 7 3 43 86,0%

186 300 62,0% 3,100

BLOCO T2 - Chegada de MP c/ prazo rígido 7 N 3 1 3 3 28 56,0% 9 N 3 6 1 25 50,0%

11 N 4 3 2 1 37 74,0% 8 P 3 5 2 36 72,0%

10 P 1 3 3 3 34 68,0%

12 P 1 3 6 44 88,0%

204 300 68,0% 3,400

BLOCO T3 - Planejamento Carregamento 14 N 4 1 2 3 31 62,0% 16 N 2 2 4 2 28 56,0% 17 N 1 1 5 3 22 44,0%

13 P 3 7 47 94,0% 15 P 2 5 3 39 78,0%

18 P 1 3 4 2 33 66,0%

200 300 66,7% 3,333

BLOCO T4 - Embalagem chegando poucos instantes antes da aplicação no processo 20 N 3 1 4 2 29 58,0%

19 P 1 8 1 39 78,0%

68 100 68,0% 3,400

qR =10

658 1000 65,80% 3,290

Quadro 7: Apuração dos Questionários às Transportadoras Fonte: Autoria própria (2010)

Nos três questionários, os itens que apresentaram resultados acima de 75% foram

sempre em questões do tipo P. Da mesma forma os itens abaixo de 45% foram sempre

questões do tipo N, embora tenham ocorrido itens do tipo N com 74% (Bloco T2 – 11), e

74,3% (Bloco E1 – 4) além de outros acima de 60%.

Foram realizadas simulações do método utilizado, com questões do tipo N e questões

do tipo P, na qual quando as respostas eram totalmente discordantes de questões do tipo N ou

totalmente concordantes de questões do tipo P os resultados eram sempre 100%.

Se fossem dadas respostas totalmente concordantes com questões N, ou totalmente

Valores y para N e para P

Tb

Tb

Tb

Tb

10 Respondentes TG LG %G EG

Page 75: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

73

discordantes de questões P os resultados das simulações eram sempre 20%. Isto se justifica

pela base 5 da tabela, ou seja, 1/5 x 100 = 20%.

Se as respostas fossem plenamente equilibradas, com questões tipo N e/ou P, os

resultados das simulações eram sempre 60%. A justificativa também está na base 5 da tabela,

pois a média do intervalo entre 20 e 100 é 60, ou seja, 3/5 x 100 = 60%, ou ainda,

(20+100)/2= 60%.

Disto pode-se concluir que 60% é o limite entre as percepções negativas e positivas.

Assim, as avaliações só começam a ser positivas acima de 60%. Quanto mais próximo de

100%, indica que está mais identificado com a condição de excelência. Não foi oferecida uma

tabela com graduação entre 60% e 100%, classificando os estágios crescentes, como por

exemplo, de regular a excelente, por não terem sido feitos estudos que pudessem validar estes

estágios. Além disso, essa não é uma proposta deste trabalho.

4.3 ANÁLISE DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Como todos os objetivos específicos são parte do objetivo geral, uma espécie de

decomposição daquele, como a literatura recomenda que seja, passa-se a análise de cada

objetivo específico e ao mesmo tempo já atendendo parcialmente ao objetivo geral.

4.3.1 Objetivo Específico A

Identificar as visões dos funcionários, fornecedores e transportadoras sobre a

chegada de MP e Material de Embalagem pouco antes da aplicação no processo

- Agentes: Funcionários, Fornecedores e Transportadoras: Blocos E2, F2, T2 e T4 e

entrevistas.

E2 – MP e Emb. chegando poucos instantes antes da aplicação no processo;

F2 – Idem;

T2 – Chegada de MP com prazo rígido;

T4 – Emb. chegando poucos instantes antes da aplicação no processo;

Como a literatura acentua, dar voz aos funcionários e fazer os fornecedores

participarem com suas opiniões é uma das características da Produção Enxuta, e da filosofia

do JIT. Além disso, a verificação constante do andamento dos processos também está inserida

no contexto do tema.

Sendo esta a primeira avaliação que está sendo realizada, mesmo que os resultados

não sejam no nível de excelência, podem ser justificados pelo fato da implantação efetiva ser

Page 76: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

74

recente. Poderão servir para correções e re-avaliações futuras.

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

100,0%

Funcionários Fornecedores Transportadoras

Gráfico 5: Percepções sobre Chegada de MP e Embalagem

Fonte: Autoria própria (2010)

O Gráfico 5 demonstra que os fornecedores são os que menos aprovam a chegada de

matéria-prima e material de Embalagem, próximo ao inicio do processo. As transportadoras

apresentam um nível bem maior de aprovação, com mais de 10% acima.

A alegação dos fornecedores é que essa prática costuma gerar aumento de custo para

eles. São 9 concordando parcialmente e 3 concordando plenamente, em 16 respondentes, o

que gera uma avaliação de 47,5%, em função do uso dos valores “y” da escala. O que também

contribui para a menor avaliação é que consideram que esta é uma medida de risco para a

Indústria. De 16 respondentes, 6 concordam plenamente que é uma medida de risco, e 8

concordam com esta afirmação parcialmente. A avaliação foi neste item de 36,3%, a segunda

menor de toda a pesquisa. No STP, a Empresa procura evitar custos adicionais para os

fornecedores e há casos em que absorve esses custos. Há a preocupação de evitar estresse e

cuidado para não onerá-los, a fim de que o equilíbrio do sistema seja preservado.

Já as transportadoras apresentam uma percepção mais positiva, principalmente em

função do entendimento de que essa prática contribui para que o cliente seja atendido com

maior agilidade, um dos motivos pelos quais a aprova. Sobre essa medida gerar alguma

dificuldade para as transportadoras, não demonstram tanta negatividade como os

fornecedores, em outras palavras, aceitam melhor essa prática.

Quanto aos funcionários nenhum discorda plenamente que esta tem sido uma

estratégia arriscada, mas por outro lado quase todos admitem que esta prática seja um fator

que ajuda a evitar custos excessivos, e também que é um indicador de que a Indústria tem um

bom controle, do contrário não seria possível efetivar esta medida.

64,8% 57,3%

68,0%

Page 77: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

75

No que se refere aos aspectos custos e controle, transparece que os funcionários

possuem entendimento mais positivo sobre o JIT, 78,6% e 81,4% respectivamente. Suas

respostas estão na mesma linha do que consta na literatura, ou seja, reduzir custos e evitar

desperdícios que é a tônica do JIT. Mesmo assim, apontam que há riscos na sua aplicação, o

que contribui para a redução da média da avaliação do Bloco E2. O questionário não oferece

possibilidade de aprofundamento sobre quais seriam esses riscos.

Nas entrevistas podem-se verificar concordâncias e/ou complemento de informações

que auxiliam na compreensão das respostas dos questionários. Na pergunta sobre a

necessidade de manter algum estoque de matéria prima e material de embalagem, o

respondente 2 alude à velocidade da produção, o reduzido prazo de validade por se tratar de

processamento de alimentos. “A matéria-prima deve ser consumida logo, tanto os lácteos

como as carnes. Principalmente os lácteos que podem azedar”

Já o entrevistado 3 aborda a questão do distanciamento dos fornecedores, dizendo

que o custo do transporte inviabiliza fracionamento de entregas. Em seguida acrescenta um

fato relevante, a saber, a análise de alguns ingredientes. Diz que há casos que são feitas

análises em outro Estado, demandando até três dias para a mercadoria ser liberada para

aplicação no processo.

As respostas apontam para algumas hipóteses sobre os mencionados riscos eminentes

do recebimento JIT:

- Processo rápido – exige disponibilidade;

- Prazo de validade curto – não se pode correr o risco de perdas por deterioração – trata-se de

alimentos;

- Distanciamento de fornecedores – Reposição não seria de imediato, fracionamento nem

sempre é possível devido ao custo;

- Pré-análise de mercadorias, obrigatória e lenta – Se faltar, faz-se necessário alterar a

produção, comprometendo atendimento ao mercado.

Testar tais hipóteses não é objetivo desse trabalho, nem aprofundar sobre a validade

de nenhuma, apenas constata-se que há indicativo de coerência dos respondentes que

entendem que haja riscos envolvidos, pois existem justificativas plausíveis.

4.3.2 Objetivo Específico B

Verificar as visões dos funcionários, fornecedores e transportadoras sobre despachar

Produto Acabado logo após o término da Produção

Page 78: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

76

– Agentes: Funcionários Fornecedores e Transportadoras - Blocos E4, F4 e T1, e

entrevistas;

E4 – Despachar o produto acabado logo em seguida ao término da produção;

F4 – Idem;

T1 – Idem;

75,0% 73,8%

62,0%68,6%

63,8%54,0%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

100,0%

Funcionários Fornecedores Transportadoras

Despacho Rentabilidade

Gráfico 6: Percepções sobre Despacho de Produtos e Rentabilidade

Fonte: Autoria própria (2010)

O Gráfico 6 apresenta os percentuais apurados para os totais dos blocos que tratam

de despacho de produto acabado logo após o término da produção.

Os percentuais intitulados no gráfico de Despacho representam a totalização de

blocos. As colunas denominadas de Rentabilidade representam os percentuais de afirmativas

do tipo N com a afirmativa “contribui para o resultado”. Os totais de todos os grupos foram

impactados pela visão que os respondentes têm sobre a rentabilidade.

Como o STP se fundamenta na eliminação de desperdícios para favorecer os

resultados, a visão dos respondentes de que o sistema implantado ainda não está tendo esse

reflexo, é um indicativo de necessidade de melhoria no sistema ou de melhor entendimento

dos envolvidos. Pela análise do estudo de caso, pode-se notar que os resultados já são

efetivos, então, presume-se que pode haver melhor conscientização dos envolvidos quanto aos

resultados.

As transportadoras, além de darem respostas que resultaram numa avaliação de 54%,

reforçaram a baixa aprovação ao optarem pela concordância com a afirmativa do tipo N: “O

produto acabado ser despachado da indústria logo em seguida ao término da produção: Nem

sempre seria tão necessária assim”. Nenhum respondente se opôs a essa afirmativa, nem

mesmo parcialmente. Isso demonstra que os mesmos não enxergam o alcance de tal medida.

Page 79: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

77

O resultado final só não foi pior, porque por outro lado, nenhuma transportadora respondeu

negativamente a afirmativa do tipo P que diz: “Contribui para atender o cliente da indústria

com maior agilidade”.

A maioria dos funcionários discordou que esse procedimento não contribui para a

rentabilidade da Empresa, que é uma afirmativa do tipo N, logo a sua negativa traz um efeito

favorável na avaliação. Além disso, houve bastante concordância com a afirmativa do tipo P

de que tal medida “ajuda a abrir espaço para novas produções”, motivo pelo qual a aprovação

final foi mais expressiva, que nos demais grupos.

A afirmativa sobre despachar a produção logo após o término do processo favorece

ou ajuda a abertura de espaço físico para novas produções, pode ser melhor entendida

visualizando-se o Gráfico 7.

81,4% 83,8%

58,0%

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%

100,0%

Funcionários Fornecedores Transportadoras

Gráfico 7: Percepções sobre Abertura de Espaço para Novas Produções

Fonte: Autoria própria (2010)

Como na literatura pode-se notar que a logística de saída do STP também é referida

como relevante para o funcionamento do sistema, esta questão serve para avaliar o

funcionamento deste aspecto na empresa estudada.

A mesma foi respondida pelos 40 participantes, teve a seguinte composição: 9

Concordam plenamente, 26 concordam em parte, 1 desconhece e 4 discordam em parte.

Dentre os que discordam em parte, 3 eram transportadoras, o que contribuiu para a avaliação

mais baixa que os demais.

Este foi o item de melhor avaliação dentre os que compõem os blocos E4, F4, e T1, e

onde os fornecedores apresentaram uma percepção um pouco mais positiva que os

funcionários.

Nas entrevistas, ficou ressaltado que os produtos refrigerados têm prazo de validade

curto. É fundamental escoar a produção o quanto antes, pois se chegar no mercado com

Page 80: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

78

validade reduzida já não interessa para o cliente. Lembram que tem produtos que se destinam

ao Nordeste do país, com vários dias de transporte. Também há diversos produtos destinados

ao exterior.

Foi relatado ainda que os produtos também passam por processo de inspeção federal,

por ser gênero alimentício. Neste caso o tempo de espera por liberação não é tão grande, pois

na observação feita no local ficou constatado que há plantão fiscal na empresa.

Esta constatação traz à memória as afirmativas registradas no referencial no sentido

de que nem sempre é possível estoque zero, e que a adoção com bom senso também é uma

opção válida.

4.3.3 Objetivo Específico C

Identificar as visões dos funcionários e fornecedores sobre manter nível baixo de

estoque na indústria.

- Agentes Funcionários e Fornecedores: Blocos E1, E3 e F1, e entrevistas

E1 – O estoque baixo que é mantido na empresa;

E3 – Não produzir produtos intermediários;

F1 – O Estoque baixo que é mantido na indústria;

66,7%

78,6%71,0%

82,5%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

100,0%

Funcionários Fornecedores

Estoque Baixo Rentabilidade

Gráfico 8: Percepções sobre Nível Baixo de Estoque e Rentabilidade Fonte: Autoria própria (2010)

Mais uma vez em rentabilidade é tratada, em função da importância deste quesito no

contexto do tema. Na seção anterior referia-se ao despacho do produto acabado e desta vez

com finalidade de abordar a manutenção de nível baixo de estoques na empresa.

Nos questionários, o nível baixo de estoque representa o total dos blocos E1 e F1. A

afirmativa de que a prática de manter nível baixo de estoque contribui para a rentabilidade da

Page 81: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

79

Indústria é um item desses blocos. O Gráfico 8 mostra que a apuração geral dos funcionários

resultou em 71% enquanto a dos fornecedores em 66,7% de aprovação. No entanto, no item

individual sobre rentabilidade, as respostas dos funcionários formaram a composição de

78,6% e a dos fornecedores 82,5%. Vê-se que estes têm uma percepção positiva que os

funcionários quanto à afirmativa de que manter estoques baixos favorece a rentabilidade.

Possíveis motivos para a menor avaliação dos funcionários serão buscados nas respostas das

entrevistas.

Outra opinião que elevou o percentual dos fornecedores foi a visão de que manter

estoques baixos já é “consagrado como uma boa prática na indústria”, onde 10 dos 16

respondentes concordaram plenamente e 5 concordaram em parte, resultando neste item um

percentual de 90%.

Não obstante a visão geral sobre a rentabilidade, representada por 82,5%, os

fornecedores deram respostas, que resultaram num total geral de 66,7%. Isso ocorreu em

função principalmente de um item com baixa aprovação. Trata-se da afirmativa de que manter

níveis baixos de estoques pode gerar dificuldades para os fornecedores, uma proposição do

tipo N, onde 9 concordaram plenamente, conduzindo o resultado deste item para 41,3%, ou

seja abaixo de 60%, constituindo-se portanto em uma avaliação desfavorável.

O bloco E3, o qual não está descrito em forma de gráfico, trata da produção de semi-

elaborados (produtos intermediários). As respostas dos funcionários resultam em 68,3%,

indicando alinhamento com a média dos resultados dos demais blocos, confirmando a

tendência em torno desse percentual.

Nas entrevistas, foi abordado que alguns produtos precisam ser preparados na

véspera do envasamento, em função da necessidade de maturação e testes. Após essa fase, não

podem ficar armazenados mais do que o período estabelecido, pois pode deteriorar-se. Indica

a necessidade de armazenar, porém por período pré-estabelecido em critério de

processamento.

Também é relatada nas entrevistas a quarentena, para confirmar se o processo pode

seguir para as fases seguintes. Citam ainda que os procedimentos são feitos para que não haja

sobras e que quando ocorrem, as quantidades são pequenas.

O referencial faz alusão à necessidade de estoques devido a processos peculiares de

maturação. Nesses casos não há como ter estoque zero.

4.3.4 Objetivo Específico D

Investigar a interação entre a indústria e os fornecedores na ótica dos agentes

Page 82: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

80

envolvidos nessa relação.

– Agentes: Fornecedores - Bloco F3, e entrevistas.

Visão sobre a interação entre Indústria e os Fornecedores - Agentes: Fornecedores - Bloco F3

Item TIPO NEG 1/2 Neg ???

1/2 Pos POS Tot

Poderia haver mais comunicação para melhorar o entrosamento N 2 7 7 29 36,3%

Quando há mudanças as partes precisariam ampliar o diálogo N 2 7 7 29 36,3%

Ainda não há um bom entendimento sobre as necessidades dos fornecedores N 2 5 1 5 3 46 57,5%

A Empresa demonstra interesse em parceria de longo prazo P 1 8 7 69 86,3%

O fornecedor se sente seguro quanto à firmeza dos laços com a INDÚSTRIA P 1 6 9 71 88,8% É notável o esforço em incentivar os fornecedores eficazes quanto à pontualidade e qualidade P 2 5 9 71 88,8%

65,6% Quadro 8: Interação entre Indústria e Fornecedores

Fonte: Autoria própria (2010)

Sobre a interação com a Indústria as opiniões dos fornecedores apontam para diálogo

insuficiente, indicativo de que há espaço para melhoria de entrosamento, conforme Quadro 8.

Quase a metade dos respondentes também demonstra que a indústria ainda não alcançou o

nível de entendimento desejado quanto às necessidades dos fornecedores.

A literatura elucida que no STP o diálogo entre cliente e fornecedor é amplo. Há um

envolvimento desde os níveis mais altos da hierarquia dos fornecedores. Desse entendimento

e entrosamento é que pode se dizer que haja uma verdadeira parceria.

Por outro lado, há nos questionários um nível elevado de aprovação quando se fala

de demonstração de interesse da empresa em parceria de longo prazo, dando-lhes segurança

quanto aos laços entre ambos. Também percebem que a indústria procura reconhecer o mérito

dos fornecedores mais qualificados e pontuais. No que tange a incentivar fornecedores

eficazes, um item do tipo P, as respostas foram em sua maioria positiva, gerando percentual

de 88,8%. No STP também há privilégio para os fornecedores mais comprometidos.

Nas entrevistas foi consultado sobre as queixas dos fornecedores relativas à

comunicação. Um respondeu que não tinha conhecimento, outro lembrou a implantação

recente da nota fiscal eletrônica que por vezes gera descontentamento. Há um relato que os

fornecedores não têm queixas porque entendem as solicitações e reclamações como parte do

processo. Essas colocações não sintonizam com as opiniões expressas pelos fornecedores, que

demonstram expectativas diferentes.

Ainda na mesma pergunta do questionário, aparece um indicativo de

descontentamento dos fornecedores quanto aos prazos de pagamento, o que explicaria

algumas respostas no item: “ainda não há um bom entendimento sobre as necessidades dos

Page 83: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

81

fornecedores”.

Outra questão da entrevista trata de possíveis reclamações quanto ao JIT. Respondem

que as queixas seriam, lotes pequenos e fornecimento fracionado, gerando mais custos de

fretes. Todos tocaram nos mesmos pontos, demonstrando que esse pode ser um aspecto que

carece de ser trabalhado para reduzir os descontentamentos.

Dois itens bem avaliados nos questionários foram os que abordam interesse da

Indústria em parceria de longo prazo e segurança dos fornecedores quanto aos laços com a

Indústria. As respostas da pergunta 8 da entrevista confirmam a coerência, pois os

funcionários citam contratos cujos prazos aumentam conforme o bom atendimento, bem como

a busca de proximidade. Nestes pontos ficaram evidenciados princípios coerentes com o JIT.

A média do bloco F3 se aproxima da ponderação geral de todos os blocos, em torno

de 65%, reforçando a tendência.

4.4 ANÁLISE DO OBJETIVO GERAL

- Identificar percepções dos funcionários, fornecedores e transportadoras sobre a

aplicação do Just in time (JIT) em unidade de indústria de grande porte do ramo de alimentos

processados de origem animal.

Sendo o JIT uma ferramenta cujo objetivo principal é evitar desperdícios

favorecendo a rentabilidade, convém iniciar a análise do objetivo geral deste trabalho com

uma avaliação geral de todos os itens sobre rentabilidade de forma direta ou indireta, e para

tanto foi elaborado o Quadro 9.

Das 60 questões, 11 tratam da rentabilidade, sendo 5 para os funcionários, 3 para os

fornecedores e 3 para as transportadoras, conforme quadro 7. As questões estão distribuídas

em 5 do tipo N e 6 do tipo P. Pode-se notar no referido quadro a repetição de alguns itens,

mas referem-se a blocos diferentes, e portanto são ligados a proposições distintas no contexto

do JIT.

Page 84: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

82

BL It TIPO Descrição do Item NEG 1/2

Neg ??? 1/2

Pos POS % i

E1 3 N Não ajuda na rentabilidade da empresa 4 4 0 4 2 65,7%

E1 5 P Proporciona mais rentabilidade para a empresa 1 1 0 8 4 78,6%

E2 10 P É um fator que contribui para evitar custos excessivos 0 3 0 6 5 78,6%

E3 17 P Evita antecipação de custos desnecessários 1 4 0 4 5 71,4% E4

20 N Não contribui no resultado da INDÚSTRIA 3 5 1 5 0 68,6%

F1 2 P Contribui com a rentabilidade da INDÚSTRIA 0 3 0 5 8 82,5% F2 10 P Ajuda a INDÚSTRIA a não ter custos desnecessários 2 3 0 8 3 68,8% F4

20 N Não contribui no resultado da INDÚSTRIA 2 6 1 7 0 63,8%

T1 4 N Não ajuda no resultado da INDÚSTRIA 1 3 0 4 2 54,0%

T2 11 N Não ajuda no resultado da INDÚSTRIA 4 3 0 2 1 74,0%

T3 13

P Tem relação direta c/ a rentabilidade da INDÚSTRIA 0 0 0 3 7 94,0% Quadro 9: Todas as Opiniões sobre Interferências na Rentabilidade

Fonte: Autoria própria (2010)

Esta composição mostra um equilíbrio entre as opiniões ponderadas gerais quanto à

rentabilidade relacionada à prática do JIT aplicada na empresa em estudo, pois as opiniões dos

três grupos de respondentes se encontram no pequeno intervalo de 71,% a 74%.

O item individual com maior percentual em toda a pesquisa, com 94% computado

entre as transportadoras na afirmativa que trata da programação de carregamento na indústria:

relação direta com a rentabilidade. Pode-se notar que obteve 7 opções de concordância plena,

3 de concordância em parte, e nenhuma opinião contrária.

Algumas perguntas das entrevistas complementam aspectos pouco evidentes nos

questionários e nas observações feitas nas visitas à indústria.

a) Questões sobre funcionários:

- Questão 4: Os funcionários podem dar idéias ou sugestões, assim como, efetuar

questionamentos referentes à gestão de estoques? Ficou claro que o pessoal ligado a estoques

é ouvido sobre assuntos ligados diretamente ao seu trabalho. É reconhecido o conhecimento

adquirido na prática e concedida a oportunidade de expressão. Não ficou evidenciado se essa

participação é generalizada.

- Questão 5: Há incentivo aos funcionários para capacitação e aprimoramento visando à

melhor utilização do sistema JIT, ou quando solicitado pelos mesmos há apoio da Empresa?

O caminho adotado pela empresa é valorizar o funcionário dedicado. Oferecem treinamento

passando a visão de crescimento, mas há cobrança rígida para que se atinjam as metas, e uma

delas é a redução de estoques. Os funcionários têm participação nos lucros no final do ano. As

72,6%

71,7%

74,0%

Page 85: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

83

metas precisam ser alcançadas para não comprometer o benefício, e os funcionários se

dedicam buscando esse retorno financeiro.

- Questão 14: Quais as principais reclamações dos funcionários quanto ao JIT aplicado na

empresa? Aumento de trabalho, em tempo de operação e em volume de movimentação devido

aos pequenos lotes do JIT. Dizem ainda que é mais fácil aparecer falha. A literatura relata que

o JIT expõe as falhas. Um dos depoimentos é de que as reclamações vêm diminuindo, pois

foram tomadas medidas de ajuste, tais como ampliação do horário de descarga e alteração de

turnos. Acrescenta que foi necessário tirar o pessoal do que este respondente denominou de

“zona de conforto”, mas depois houve adaptação.

b) Perguntas sobre fornecedores:

- Questão 9: A empresa adota o sistemática de discutir inovações na produção com os

fornecedores? Consta que os fornecedores são bastante ouvidos, mas principalmente aqueles

que demonstram mais fidelidade. O Departamento de Desenvolvimento tem contato estreito

referente alterações que possam impactá-los.

- Questão 10: A empresa possui alguma iniciativa no sentido de desenvolver programas de

treinamento para auxiliar os fornecedores a alcançar níveis superiores em produtos e

processos? Relatam que a empresa oferece a oportunidade de freqüentarem centro de

tecnologia de materiais da empresa. Acrescentam que eles participam de testes e de

desenvolvimento conjunto, o que gera benefícios mútuos, porém isso ocorre mais com os

principais fornecedores.

- Questão 11: A Empresa utiliza de parcerias ou alianças estratégicas objetivando a redução

de estoques? Há estratégia de fornecimento de pequenos lotes parcelados e de cessão de

espaço dentro da Indústria para fornecedores terminarem produção e conseqüentemente

fazerem a entrega diretamente na linha de produção. Ressaltam que a empresa procura fazer

seleção dos melhores. Dessa forma são beneficiados os fornecedores que mais colaboram,

flexibilizam e demonstram fidelidade. Estes têm melhores condições contratuais.

- Outros comentários extraídos das entrevistas:

- Existem linhas que funcionam a quase 100% da capacidade de segunda a domingo. Se

ocorrer algum problema de fornecimento, o transtorno é enorme. Por não ter estoque é

necessário alterar tudo e pode ocorrer corte de produção e venda. Por outro lado com nível de

estoque reduzido há menos dinheiro investido em estoques.

- A implantação começou com os fornecedores mais significativos em valores. Conseguiu-se

mostrar os benefícios, transmitindo que o comprometimento e a afinidade seriam reforçados.

Page 86: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

84

Eles se tornaram mais seguros.

- A busca pela implantação do JIT ocorre há anos. Iniciava-se e dali ha 90 dias o processo era

abortado porque não havia condições de prosseguir. O fornecedor não havia comprado a idéia,

o transportador também não, e internamente havia dificuldades. No início foi bastante

trabalhoso, mas depois se integrou.

c) Perguntas sobre transportadoras:

- Questão 7: Quais as queixas das transportadoras relativas à comunicação? Não se relatam

queixas a não ser quando ocorre demora na liberação de documentos para despacho em

função do novo sistema de emissão de notas fiscais por meio eletrônico.

- Questão 13: Quais as principais reclamações das transportadoras quanto ao JIT aplicado na

empresa? Um respondente informa que há reclamação por queda de lucratividade em função

de cargas incompletas devido aos pequenos lotes. Os Outros dois respondentes relatam que as

transportadoras só reclamam que lhes falta veículos, pois o fracionamento gerou necessidade

de mais viagens, acrescentando que as transportadoras tiveram benefício com a nova

sistemática, pois conseguem fechar viagens otimizadas, juntando pedidos diferentes e

trazendo itens variados.

- Outros comentários extraídos das entrevistas:

- Tem transportadora que não está apta ainda para atender a demanda da empresa.

- Passaram a trabalhar com agendamento de descargas. O transportador não perde tempo.

Houve tentativa de implantação por cerca de 15 anos, com uma série de insucessos, o

que pode ter gerado conflitos. As queixas com os primeiros momentos da efetivação do

sistema foram relatadas nas entrevistas. A literatura mostra que pode ocorrer estresse com a

implantação do JIT pela mudança de paradigmas bastante acentuada. Também é citado no

referencial que foram anos de aprimoramento até que tudo pudesse fluir harmoniosamente.

Todos os objetivos específicos auxiliam para que se atinja o objetivo principal. Além

disso, foi elaborado o quadro 9, com o resumo geral sobre as percepções dos três agentes

sobre o JIT.

Lembrando que o limite entre as avaliações negativas e positivas é 60% (ponto de

transição), vê-se que os três grupos de agentes ligados à logística e ao JIT da indústria em

estudo apresentam avaliações muito próximas e pouco elevadas, ou seja, os dados levam ao

entendimento de que as percepções são convergentes. De todos os ângulos analisados, em

resumo, se percebe a JIT em um nível bem definido.

Page 87: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

85

68,7%64,3% 65,8%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

100,0%

FUNCIONÁRIOS FORNECEDORES TRANSPORTADORES

Gráfico 9: Percepções Gerais do JIT

Fonte: Autoria própria (2010)

O Gráfico 9 demonstra que há uma aproximação da linha de transição, ou seja, é uma

avaliação positiva, mas distante da excelência, demonstrando grande espaço para

aperfeiçoamentos, ou para melhoria da conscientização dos agentes envolvidos, de tal forma a

compreenderem os benefícios para todos com o sistema.

Transição 60%

Transição 60%

Page 88: JUST IN TIME NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA DE GRANDE PORTE

86

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 5.1 CONCLUSÕES

A empresa havia feito diversas tentativas de implantar o JIT, porém sem sucesso. Só

conseguiram fazê-lo após forte determinação da alta gestão da empresa, e também porque já

estava havendo dificuldade para trabalhar com tanto estoque num cenário de forte expansão

de produção, motivada pelo aquecimento do mercado interno. Também contribuía para a

necessidade de redução de estoques a incorporação de outras empresas do ramo, bem como o

crescimento de exportações de sua linha de produtos de origem animal.

Os últimos dois anos foram determinantes para que se efetivasse o plano, mas os

principais resultados ocorreram mesmo no ano de 2010. São demonstrados os progressos de

redução de estoques e as conseqüências favoráveis possibilitadas por essa nova condição pela

visualização das fotografias e dos relatórios gerenciais apresentados no trabalho. Houve

redução superior a um milhão de reais em estoques de uma das atividades. As metas de giro

de estoque foram superadas. Houve liberação de espaço, permitindo instalação de unidade de

produção de fornecedor dentro da planta da indústria, permitindo a entrega direta na linha, no

momento certo, na quantidade desejada, sem estocagem. O ideal do JIT.

Ainda seria possível reduzir estoques em outras linhas. Mas há necessidade de

manter estoques de materiais e também de produtos semi-elaborados em função da

necessidade de inspeção, por se tratar de produção de origem animal. Também o produto

acabado precisa aguardar liberação de testes, neste caso o tempo de espera é mínimo, pois os

prazos de validade são curtos. Assim, procura-se manter o mínimo de estoques que o processo

permite, em função da atividade.

A empresa realiza muitos controles internos e tem muitos relatórios gerenciais, que

possibilitam visualização dos processos administrativos e de produção. Não há, porém, um

estudo realizado sobre o JIT propriamente dito. Nunca avaliaram o entendimento e satisfação

dos funcionários, fornecedores e transportadoras sobre o sistema. Os encarregados

demonstram que a Empresa considera importante a participação desses agentes. Não obstante

não sabiam como estes visualizam o JIT.

O estágio de implantação ainda não é pleno, pois nem todos os fornecedores estão

atendendo conforme planejado.

Os participantes demonstraram ter entendimento de que o sistema favorece a

rentabilidade da empresa, tendo em vista que reduz custos ou diminui o tempo em que os

estoques ficam parados. Percebem que materiais e produtos armazenados representam

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87

recursos financeiros sem movimentação, o que é negativo para a indústria.

De uma forma geral, vislumbram que o JIT é importante para a melhoria da

organização e controle. Isto se confirma por ser visível a abertura de espaço físico com a

implantação, bem como o aprimoramento da organização. Com isso foi possível implantar o

5S finalmente na área de estoques, o que ainda era uma pendência.

Ressalta dos resultados a insegurança quanto manter nível baixo estoque na indústria.

Nem todos os fornecedores estão plenamente envolvidos com o JIT, alguns são localizados

em outros Estados, e ainda há materiais importados, embora pouco representativo do

montante geral. Porém o que mais exige algum tipo de estoque é a necessidade de tempo de

maturação de alguns semi-elaborados. Também deve haver inspeção de materiais por serem

de origem animal, a inspeção final de qualidade, bem como a liberação sanitária federal, em

função do selo SIF. O JIT sempre será nesta empresa do estoque possível e nunca do zero

absoluto. A literatura aborda que o zero é um alvo praticamente utópico.

Nos moldes como o JIT foi implantado, os fornecedores ainda se ressentem da

absorção de custos com a redução dos lotes de fornecimento. As transportadoras têm outra

perspectiva, pois, conseguem agrupar lotes de vários pedidos, e por vezes até lhes falta

veículo. Fornecedores demonstram almejarem melhoria no diálogo com a empresa. Ao

dizerem que a Indústria ainda não entende bem suas necessidades, podem estar se referindo

tanto ao aspecto financeiro como ao nível de entrosamento. Isto não é propriamente uma

conclusão, pois só pode ser confirmado com aprofundamento, mas é uma possibilidade.

Por outro lado, os fornecedores demonstram satisfação com as parecerias de longo

prazo que têm sido estabelecidas. O critério da empresa é privilegiar os fornecedores que

apresentem maiores níveis de qualidade e fidelidade. Negociam soluções conjuntas com esses

fornecedores e são chamados a participar do desenvolvimento de produtos. Estes são alguns

dos princípios da filosofia JIT e da produção enxuta os quais estão sendo bem aceitos pelos

parceiros. Eles vêm nisto um ponto positivo da empresa.

Já os funcionários percebem que o JIT auxilia a visualização de falhas. São os que

vêem de perto que os controles dão resultado para a efetivação do 5S, e para a utilização do

sistema de seleção de consumo de estoques por ordem de recebimento, denominado First in,

first out - FIFO. Relatam com entusiasmo a possibilidade de liberação de espaço para

implantação de fornecedor dentro da planta da Indústria, em sala antes utilizado para

armazenar materiais que não cabiam mais nas prateleiras, devido ao alto volume de estoque.

Com o presente trabalho, foi possível verificar de que forma os agentes internos e

externos ligados diretamente com a logística visualizam o JIT. Subsidiariamente ficou claro

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88

para o pesquisador que a empresa percebeu que de fato faltava uma avaliação dessa natureza

para possibilitar avanços na continuidade da implantação.

Ficou claro ainda que um processo de implantação de JIT pode ser demorado como

tem sido nesta empresa e como a literatura também confirma. São muitas as variáveis e

condicionantes para a utilização desse sistema em cada atividade. Os funcionários,

fornecedores e transportadoras são agentes relevantes para que se consiga resultado

satisfatório na implantação, pois foi tentado por diversas vezes e não logravam êxito em

função de despreparo ou falta de colaboração de um ou mais desses agentes.

Implantado, mesmo que não totalmente, os reflexos positivos começam a aparecer no

curto prazo, mas o entendimento dos seus benefícios nem sempre ficam claros para todos, o

que é sugestivo de um trabalho de conscientização.

5.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

É interessante iniciar esta secção com a citação de uma regra metodológica

mencionada por Popper (2007, p. 56): “O jogo da ciência é, em princípio, interminável. Quem

decida, um dia, que os enunciados científicos não mais exigem prova, e podem ser vistos

como definitivamente verificados, retira-se do jogo”.

Convém citar neste ponto algumas limitações da presente pesquisa. Uma delas é que

não foram encontrados na literatura trabalhos semelhantes que pudessem balizar a presente

pesquisa no sentido de demonstrar várias perspectivas sobre o tema em estudo, ou seja, as

visões de fornecedores, transportadoras e funcionários sobre o Just in time em uma

determinada organização. Fazer um comparativo com outros estudos semelhantes poderia ter

gerado esclarecimento mais profundo e auxiliado na resposta dos objetivos.

Outra questão é a falta de pesquisas feitas anteriormente pela própria organização

sobre os resultados da implantação do Just in Time. Eis que a empresa pratica pesquisas e

informações gerenciais em escala ampla, servindo de base para tomada de decisões, porém

concentra-se mais fortemente na performance operacional da produção e outros aspectos

organizacionais, porém ainda não tinha se detido em estudar mais profundamente este tema,

senão de foram empírica. Pôde-se notar que a empresa tinha apenas uma vaga noção de como

o JIT estava sendo percebido e aceito pelos agentes que trabalham com o mesmo, por nunca

terem aplicado nenhum instrumento de medição anteriormente.

Caso houvesse algum estudo interno, este trabalho poderia ser enriquecido, pois seria

possível fazer um comparativo e verificar a evolução do uso da prática. O estudo serviu

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89

subsidiariamente, para despertar o interesse interno de seguir medindo a visão dos agentes

envolvidos com o JIT.

Para trabalhos futuros pode-se sugerir estudos relacionados com o setor ou de

abrangência geral.

- Estudos ligados ao setor:

Sugere-se realizar estudo semelhante nas outras unidades da mesma empresa. Por ser

uma Indústria de grande porte, é possível que os gestores locais de cada unidade conduzam o

gerenciamento de estoques de forma ligeiramente diferenciada. Também é possível que as

visões dos agentes de outra unidade, seja distinta em função de outras variáveis locais;

Recomenda-se o estudo em outras empresas do mesmo ramo que também adotaram o

JIT, por terem necessidades e dificuldades semelhantes, para comparação com este trabalho.

Ou ainda em empresas do mesmo ramo que não adotaram o JIT, para que seja possível avaliar

e confrontar a utilização dessa ferramenta de gestão.

- Estudos de abrangência geral:

Poderiam ser realizados trabalhos com foco e metodologia semelhantes em ramos

diferentes, comparando os resultados, de forma a verificar em qual ramo a visão dos agentes é

mais favorável ou menos favorável à aplicação do JIT.

Realizar projeto de pesquisa-ação implantando medidas de conscientização dos

benefícios do sistema aos três grupos de agentes, e medindo os seus reflexos da implantação.

Realizar estudos sobre o desemprego causado pela falta de conhecimento do JIT

antes de depois de sua implantação, considerando diversos ramos de atividade;

Realizar estudos sobre a existência de cursos de capacitação e qualificação

fornecidos ao público interno e externo antes da implantação do JIT nas empresas,

considerando o entendimento e satisfação dos funcionários, fornecedores e transportadoras

sobre o sistema;

Realizar estudos sobre o JIT e a tomada de decisão, analisando se a implantação

proporcionou maior familiaridade e simpatia com os stakeholders, para ser então considerado

o profissional “empoderado”, tratando assim o papel da liderança na empresa com JIT.

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90

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APENDICE A – Questionário para Encarregados e Chefes de Setores

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APENDICE B – Questionário para Transportadoras

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APENDICE C – Questionário para Fornecedores

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APENDICE D – Blocos – Questões tipo N e P

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ENCARREGADOS FORNECEDORES TRANSPORTADORAS Bloco E1 TIPO Bloco F1 TIPO Bloco T1 TIPO 1 N 1 N 1 N 2 P 2 P 2 P 3 N 3 N 3 N 4 N 4 N 4 N 5 P 5 P 5 P 6 P 6 P 6 P Bloco E2 TIPO Bloco F2 TIPO Bloco T2 TIPO 7 P 7 N 7 N 8 N 8 P 8 P 9 N 9 N 9 N 10 P 10 P 10 P 11 N 11 N 11 N 12 P 12 P 12 P Bloco E3 TIPO Bloco F3 TIPO Bloco T3 TIPO 13 N 13 P 13 P 14 P 14 N 14 N 15 N 15 N 15 P 16 N 16 P 16 N 17 P 17 N 17 N 18 P 18 P 18 P Bloco E4 TIPO Bloco F4 TIPO Bloco T4 TIPO 19 P 19 P 19 P 20 N 20 N 20 N

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APENDICE E – Instruções (Tutorial) Para Preenchimento e Devolução dos Questionários:

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a) Ao receber o arquivo clicar com o botão da direita do mouse e escolher a opção ABRIR COM;

b) Selecionar a opção PAINT e clicar sobre a mesma. O arquivo será aberto no aplicativo PAINT do Windows;

c) Localizar os ícones para intervenção no arquivo, tais como PINCEL, ou LÁPIS, ou LINHA. Utilizar um deles para marcar a resposta desejada;

d) Antes de responder cada uma das 20 questões, deve-se ler atentamente, o cabeçalho do arquivo com informações gerais e em seguida o enunciado de cada questão e a opção. É interessante rever o enunciado a cada opção, para evitar marcação indevida;

e) São cinco opções para cada questão conforme consta da legenda (Discordo Plenamente, Discordo em Parte, Desconheço, Concordo em Parte, e Concordo Plenamente), representadas por símbolos os quais estão como pano de fundo no arquivo;

f) Após estar seguro da opção desejada, e tendo clicado no ícone escolhido (PINCEL, ou LÁPIS, ou LINHA) levar o mouse sobre o símbolo que corresponde a cada resposta e fazer um grande X sobre o mesmo;

g) Após totalmente preenchido, Salvar o arquivo com o mesmo nome sobre a área de trabalho (Desktop);

h) Encaminhar resposta anexando o arquivo-resposta salvo na área de trabalho; i) Sugerimos só deletar esse arquivo da área de trabalho após nossa confirmação de

recebimento.

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APENDICE F - Questionário para a Supervisão de Logística

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Dados do Respondente Idade: 45 anos Tempo de Empresa: 24 anos Tempo na Função: 11 anos Formação acadêmica: Curso Superior Gestão em Logística (Concluído) Pós - graduação em Logística empresarial. (Cursando) 1) Qual o número de fornecedores de insumos de origem animal para a unidade? R: 04 Fornecedores 2) Qual o número de fornecedores de matérias primas para a unidade? R: 02 Fornecedores 3) Qual o número de fornecedores de embalagens para a unidade? R: 20 fornecedores sendo, 12 para embalagens diversas, e 08 específicos para caixas. 4) Qual o número de transportadoras que atendem a unidade? R: 10 Transportadoras 5) Quantos encarregados e chefes de setores estão diretamente ligados à atividade logística? R: 14 Entre Supervisores/encarregados e dois gerentes 6) Quanto de matérias-primas são importadas? R: Aproximadamente 15tons/mês 7) Quanto de embalagens são importadas? R: Aproximadamente 25tons/mês 8) Quais os fatores ou interesses mais relevantes para a empresa manter a aplicação de conceitos de logística JIT em seus processos? Assinale 3: ( ) Por ser um processo moderno em logística (x) Racionalização de recursos (físicos, monetários, tempo, pessoas) (x) A modernidade tecnológica exige esse sistema ( ) Satisfação e/ou exigência dos clientes (x) Redução de custos logísticos com estoques ( ) Redução de custos logísticos de transportes ( ) Tendência de mercado ( ) Nenhum 9) Qual (is) dos fatores causam necessidade de maior volume de estoque? (x) Localização dos fornecedores (x) Falta de confiabilidade no cumprimento de prazos pelo fornecedor ( ) Falta de confiabilidade no cumprimento de contratos pelo fornecedor (x) Falta de confiabilidade nos agentes logísticos (transportadores e embarques) ( ) Perspectivas de falta de matéria-prima durante a entressafra ( ) Situações climáticas adversas comprometendo os embarques

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10) Assinale quais as outras ferramentas de produção enxuta (vide glossário anexo) são utilizadas na unidade, identificando se utilizam parcialmente (par) ou Plenamente (PLE): a) 5s – PLE b) Kanban – c) Andon – d) Autonomação (jidoka) – e) TRF ou SMED – f) Fluxo contínuo (CONWIP) – g) Produção nivelada (heijunka) – h) Sistema puxado (pull) – PAR i) Kaizen – PAR j) Planejamento takt time – k) Empowerment – PAR l) Genchi genbutsu – 11) Assinale as práticas ligadas à filosofia enxuta que são adotadas na unidade, identificando se utilizam parcialmente (par) ou Plenamente (PLE): a) Desenvolvimento de produtos em parceria com fornecedores; PLE b) Participação dos funcionários na solução dos problemas; PLE c) Investimento em capacitação para fornecedores; d) Busca da simplicidade; PLE e) Busca constante da eliminação total de perdas; PLE f) Solução de problemas na origem; PLE g) Produção sob encomenda; h) Busca permanente de estoque zero; par i) Uso de controle visual para que os problemas não fiquem ocultos; PLE j) Só usar tecnologia plenamente confiável e testada e com adesão dos funcionários; k) usar tecnologias para auxiliar e não para substituir pessoas; par l) Análise minuciosa e por consenso antes da tomada de decisões; PLE 12) Quantos dias de estoque são mantidos para: R: a) Matérias - primas nacionais 07 dias (exceto de origem animal – p.ex.: leite são apenas horas e o consumo é de cerca de 600 mil litros/dia. b) Matérias - primas importadas 30 dias c) Material de embalagens nacionais 5 dias d) Materiais de embalagens importados 30 dias 13) Quais os resultados de pesquisas anteriores sobre aceitação dos fornecedores, transportadores e colaboradores com sistema de estoque e logística da empresa? Pode mostrar relatório correspondente? R: Não houve 14) Quais os resultados de pesquisas anteriores relativas ao JIT aplicado na empresa? Pode mostrar relatório correspondente? R: Não houve. Podem ser mostrados os indicadores dos estoques mensais.

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APENDICE G – Entrevista Semi-estruturada – Respondente 1

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Dados do Respondente Idade: 31 anos Tempo de Empresa: 4 anos no total Tempo na Função: 2 anos (no PCP ao todo 3 anos) Formação: Formado em Ciências Contábeis pela UEPG 1) Quais os fatores que geram a necessidade de estoque de matéria-prima e material de embalagem? R. A seqüencia de produção é muito rápida. Prazo de utilização é muito curto e não pode parar. Não dá pra esperar. Por ser atividade alimentícia, não pode haver muito tempo de espera. A matéria prima deve ser consumida logo, tanto os lácteos como as carnes. Principalmente os lácteos que podem azedar. 2) Quais os fatores que geram a necessidade de estoque de produtos em processo (estoque intermediário)? R. Não é propriamente que fique em estoque. Antecipa-se a produção em um dia para envase no dia seguinte em função de maturação e testes. Não pode passar de um dia por ser perecível. 3) Quais os fatores que geram a necessidade de estoque de produto acabado? R. De refrigerado é bem curto, tem que escoar em função da validade. Se chegar no mercado com validade reduzida já não interessa para o cliente. Tem produtos que vão para o Nordeste com vários dias de transporte. Não pode ficar parado. 4) Os funcionários podem dar idéias ou sugestões, assim como, efetuar questionamentos referente à gestão dos estoques? Explique. R. A meu ver o pessoal em geral não tem muito acesso. Só o pessoal mais diretamente ligado à atividade de estoques. 5) Há incentivo aos funcionários para capacitação e aprimoramento visando à melhor utilização do sistema JIT, ou quando solicitado pelos mesmos há o apoio da empresa? Explique. R. Tem bastante treinamento. Não sei dizer se relativo à JIT. Diretamente ligado ao JIT eu mesmo não participei. 6) Quais as queixas dos fornecedores relativas à comunicação? R. Não tenho conhecimento. 7) Quais as queixas das transportadoras relativas à comunicação? R. Tenho pouco contato e não saberia dizer. 8) Quais as ações que a empresa pratica para fomentar parcerias estratégicas com seus fornecedores? R. Tem exemplo claro de empresa que está vindo produzir aqui dentro. É bom pra o fornecedor que reduz custos, como frete por exemplo. É bom prá Empresa, pois qualquer problema é mais fácil resolver e mais rápido. Tem também o caso de empresa que armazena pra Indústria e entrega em parcelas conforme atualização periodicamente, evitando estoque muito grande. Se tiver alguma alteração de produção eles conseguem atender em até 48 horas.

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9) A empresa adota a sistemática de discutir inovações na produção com os fornecedores? R. Sim. Sempre que se desenvolve novo produto ou no caso de alterações, o fornecedor participa. O setor de desenvolvimento tem bastante contato com os fornecedores referente às alterações. 10) A empresa possui alguma iniciativa no sentido de desenvolver programas de treinamento para auxiliar os fornecedores a alcançar níveis superiores em produtos e processos? R. Não sei responder. 11) A empresa utiliza de parcerias ou alianças estratégicas objetivando a redução de estoques? Explique. R. Seria o caso já citado da empresa que está instalando uma unidade de produção aqui na Empresa, e da empresa que armazena para entrega parcelada. 12) Quais as principais reclamações dos fornecedores quanto ao JIT aplicado na empresa? R. O fornecimento fracionado e o aumento dos custos de frete que eles absorvem. 13) Quais as principais reclamações das transportadoras quanto ao JIT aplicado na empresa? R. Falta de veículos para atender a demanda, pois o fracionamento gera a necessidade de mais viagens. 14) Quais as principais reclamações dos funcionários quanto ao JIT aplicado na empresa? R. Recebimentos fora de horário e mais movimentação, pois o produto vai mais vezes para a fábrica em lotes menores. 15) Com respeito ao sistema JIT como um todo, que mais você poderia acrescentar. Pontos positivos ou negativos na sua percepção com respeito a fornecedores, transportadores e funcionários. R. Negativo seria que é muito justo. Se der um problema no fornecedor. Tem que mudar todo o planejamento. Tem que inverter produção. Puxar outro produto para aquele dia. Às vezes não se tem essa facilidade. Tem linhas de produção que trabalham a cerca de 100 % da capacidade, de segunda a domingo. Quando acontece isso dá muito corte de produção e de venda. O ponto positivo é o estoque. Fica um volume menor e o dinheiro que fica menos tempo parado. 16) Eu percebi que de um ano prá cá o estoque baixou muito. Pode comentar? R. Há algumas semanas estávamos tendo bastante problema. Houve recentemente uma elevação de estoque, mas estava menor ainda. Nossa produção estava baixa. Estávamos trabalhando com 2500 toneladas semanais e subiu para repentinamente para 3.200 ton. semanais. Com esse aumento até acelerar o “navio” ocorreram faltas e deu estresse. Foi elevado o volume por isso. Mas no geral tem reduzido porque tem bastante cobrança da direção.

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APENDICE H – Entrevista Semi-estruturada – Respondente 2

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Dados do Respondente Idade: 33 anos Tempo de Empresa: 13 anos Tempo na Função: 2 anos Formação: Cursando logística – nível superior. 1) Quais os fatores que geram a necessidade de estoque de matéria-prima e material de embalagem? R. Em função da programação de vendas e de produção. Manter estoque mínimo. 2) Quais os fatores que geram a necessidade de estoque de produtos em processo (estoque intermediário)? R. Pode ocorrer falha, ou quebra de máquina ou contaminação do produto. Assim, dá tempo de fazer correção. O produto fica em quarentena prá ver se não vai ocorrer algum problema antes de envasar. 2.1) Ocorre com linha de carne também? R. Acredito que em algum embutido, sim. 3) Quais os fatores que geram a necessidade de estoque de produto acabado? R. Demanda comercial. Se a venda for maior acaba tendo necessidade de mais produto. 3.1) Mas a produção não é por encomenda? Ou seja, já tem pedido. Há mudanças no pedido do cliente ou o que? R. Sim. Pode acontecer de aparecer pedidos extras. 4) Os funcionários podem dar idéias ou sugestões, assim como, efetuar questionamentos referente à gestão dos estoques? Explique. R. Sim. Com o conhecimento operacional que o pessoal tem. Quando aparecem sugestões são analisadas e muitas são eficazes para a gestão de estoques. 4.1) De uma forma geral ou só da área? R. De uma forma geral. 5) Há incentivo aos funcionários para capacitação e aprimoramento visando à melhor utilização do sistema JIT, ou quando solicitado pelos mesmos há o apoio da empresa? Explique. R. Sim. São orientados com treinamento, passando a visão de crescimento. Se não tiver apoio deles não ocorre o crescimento junto com a Empresa. 5.1) De uma forma geral ou só pessoal da área? Com respeito ao JIT? R. De uma forma geral. 6) Quais as queixas dos fornecedores relativas à comunicação? R. Hoje a Empresa dispõe de várias ferramentas de comunicação, evitando que haja motivos de reclamação. Temos os fornecedores como parceiros. Eles acabam entendendo que nossas solicitações ou reclamações fazem parte do processo. 7) Quais as queixas das transportadoras relativas à comunicação? R. São parceiras também. Já fazem parte do grupo, não é uma empresa à parte.

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8) Quais as ações que a empresa pratica para fomentar parcerias estratégicas com seus fornecedores? R. A Empresa dá abertura pra sugestões. Há transparência, fidelidade e comprometimento. Os contratos tendem a ser de longo prazo. São feitas avaliações, havendo bom atendimento faz-se contrato temporário e depois de longo prazo. 9) A empresa adota a sistemática de discutir inovações na produção com os fornecedores? R. Sim. Aceita sugestões. Tem os fornecedores como parceiros. É aberto. O fornecedor é chamado pra ver de que forma seria melhor fazer o que está sendo solicitado. O pessoal de Desenvolvimento de produto e de embalagem interage com o fornecedor. 10) A empresa possui alguma iniciativa no sentido de desenvolver programas de treinamento para auxiliar os fornecedores a alcançar níveis superiores em produtos e processos? R. O parceiro apresenta testes, faz-se analises e demonstra-se onde precisa de melhoria. Vai-se trabalhando com o fornecedor até melhorar. 11) A empresa utiliza de parcerias ou alianças estratégicas objetivando a redução de estoques? Explique. R. Sim. Ele tem expectativa de fornecimento, mas faz-se programação de entrega conforme a necessidade da Indústria. Só vem quando precisa. 12) Quais as principais reclamações dos fornecedores quanto ao JIT aplicado na empresa? R. Os lotes mínimos, pois altera os processos dos fornecedores e eles têm que assumir mais custos de fretes. 13) Quais as principais reclamações das transportadoras quanto ao JIT aplicado na empresa? R. Trazer os lotes mínimos. Nem sempre vem com carga completa e reclamam que tem menor lucratividade. 14) Quais as principais reclamações dos funcionários quanto ao JIT aplicado na empresa? R. Devido aos números de SKU’s no processo (itens que compõe o produto). Dificulta os controles internos. Não pode ocorrer falha no processo. O funcionário acha que é mais fácil aparecer falha. Todos que estão envolvidos na cadeia sentem isso. 15) Algo mais poderia acrescentar sobre o JIT. R. Tem transportadora que não está apta ainda para atender a demanda da Empresa.

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APENDICE I – Entrevista Semi-estruturada – Respondente 3

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Dados do Respondente Idade: 45 anos Tempo de Empresa: 24 anos Tempo na Função: 12 anos Formação: Superior em Gestão de Logística e cursando especialização em logística empresarial. 1) Quais os fatores que geram a necessidade de estoque de matéria-prima e material de embalagem? R. O comercial elabora previsão trimestral de produção, mensal, e sobre a mensal é feita a semanal com os ajustes. A necessidade ocorre em função da distancia de alguns fornecedores nacionais (Porto Alegre, Manaus, etc.). O custo do transportes inviabiliza fracionamento de entregas. Também tem a análise de alguns ingredientes. Há casos que são feitas análises em Outro Estado, demandando até três dias para ser liberado para uso. 2) Quais os fatores que geram a necessidade de estoque de produtos em processo (estoque intermediário)? R. Não é pra ter sobra. Muito pouco produto intermediário sobra no final do processo. Existe o tempo de resguardo do produto aguardando liberação. Temos inspeção federal e só é liberado se estiver de acordo. 3) Quais os fatores que geram a necessidade de estoque de produto acabado? R. Também existe a espera pela liberação de inspeção federal por serem gêneros alimentícios. 4) Os funcionários podem dar idéias ou sugestões, assim como, efetuar questionamentos referente à gestão dos estoques? Explique. R. Sim. Principalmente no que se refere a volumes de estoque. O pessoal da armazenagem tem noção das necessidades. Às vezes sinalizam sobre níveis altos de estoque. Eles percebem mais do que quem monitora por sistema. 5) Há incentivo aos funcionários para capacitação e aprimoramento visando à melhor utilização do sistema JIT, ou quando solicitado pelos mesmos há o apoio da empresa? Explique. R. Existe a capacitação e existem metas, e uma delas é redução de estoques. Se não forem atingidas, compromete o nosso PLR – Participação de lucros. Os funcionários também se dedicam bastante visualizando isso. Quanto mais reduzirmos os estoques melhor pra eles no fim do ano, que recebem esse benefício. É um incentivo mesmo. 6) Quais as queixas dos fornecedores relativas à comunicação? R. A grande queixa é relativa à nota fiscal eletrônico. Como ainda não está 100% há demora no sistema. A própria Receita está tendo problemas. Às vezes trava e gera descontentamento. Também reclamam do prazo de pagamento que eles desejavam que fosse menor. 7) Quais as queixas das transportadoras relativas à comunicação? R. Há a mesma questão do sistema de nota fiscal eletrônica que também afeta a eles. Sobre comunicação Empresa/transportadoras mesmo, eles sabem das dificuldades. Não percebemos queixas.

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8) Quais as ações que a empresa pratica para fomentar parcerias estratégicas com seus fornecedores? R. Fornecedores trabalhando dentro da empresa, o que traz benefícios para ambas as partes. As parcerias são buscadas de preferência com fornecedores o quanto mais próximo daqui. Dando até incentivo ao parceiro a ficar próximo, pra ele ter melhorias e atender melhor. 9) A empresa adota a sistemática de discutir inovações na produção com os fornecedores? R. Existe e o fornecedor é parceiro nessa hora. Temos fornecedores que tem fidelidade com a Empresa, e eles são bastante ouvidos. Qualquer projeto onde há mudanças que vá influenciar no material, eles são envolvidos devido à parceria. 10) A empresa possui alguma iniciativa no sentido de desenvolver programas de treinamento para auxiliar os fornecedores a alcançar níveis superiores em produtos e processos? R. Temos um centro de tecnologia de materiais onde freqüentam. A Empresa diz o que precisa e o fornecedor participa do desenvolvimento junto com a Empresa. Isso gera benefícios pra ambas as partes, inclusive em valores. 10.1) Essa sistemática é feita com todos ou somente com os fornecedores principais? R. Mais com os principais. 11) A empresa utiliza de parcerias ou alianças estratégicas objetivando a redução de estoques? Explique. R. É aquilo que já comentamos trazendo o fornecedor mais perto de nós. Tem que estar disposto também. Fazemos contratos. Tem fornecedores que estão dispostos a atender mas não exatamente como precisamos. Não descartamos, mas ficam num plano “B”, com valores menores. Quem mais colabora, flexibiliza e fidelisa é beneficiado em contratações. 12) Quais as principais reclamações dos fornecedores quanto ao JIT aplicado na empresa? R. Antes do JIT as entregas eram em grandes lotes. Fracionamos as entregas. Prá eles comprometeu em função dos transportes. Eles questionam isso, mas pra nós melhorou bastante. Temos espaço melhor utilizado e até espaço ocioso. Não temos material parado. O giro é rápido. 13) Quais as principais reclamações das transportadoras quanto ao JIT aplicado na empresa? R. O fracionamento gerou até benefício. Aumentou rotatividade. Reclamam só por não terem caminhão. 13.1) Eles não têm prejuízo por não fechar carga? R. Eles conseguem juntar pedidos e fazer viagens otimizadas, trazendo uma variedade de itens. Juntam pedidos 14) Quais as principais reclamações dos funcionários quanto ao JIT aplicado na empresa? R. No princípio houve muita reclamação, depois foram se adaptando. Como a demanda mudou, foram alterados os horários de recebimento, ampliando para a transportadora e feita uma nova escala de trabalho para os funcionários. Tiramos o pessoal da zona de conforto e houve melhora para a Empresa. 15) Mais alguma informação sobre o JIT. R. Esse processo foi feito em princípio com parte dos fornecedores. Aqueles mais significativos em valores, os que têm influência. No princípio houve resistência, de

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fornecedores, transportadoras e funcionários, por conta da mudança, mas com o tempo houve adequação. Conseguimos mostrar os benefícios. Para os fornecedores mostramos o comprometimento e afinidade que iria aumentar muito mais. Passaram a se sentir mais seguros. Com o transportador foi visto que o giro seria otimizado com o JIT, não teriam caminhões parados. Os funcionários questionaram sobre o aumento de trabalho. Até alinhar houve algumas reclamações. Passamos a trabalhar com agendamento de descarga. Quando sai do fornecedor já é agendado o horário da futura descarga. O transportador não perde tempo. Sabe que vai chegar e não vai ficar parado. Houve melhora geral. Os funcionários entenderam. Verificaram que agora conseguem fazer o FIFO por conta desse sistema e do espaço livre. 16) Eu perguntei a um ex-funcionário sobre a implantação do JIT. Ele disse que há muitos anos vem sendo tentado implantá-lo. Já se fez cursos, palestras, tentativas. Você diria que a partir de quando realmente começou a se trabalhar com JIT? R. Realmente não é de hoje que se tenta. Iniciava-se e dali ha 90 dias abortávamos o processo porque não tinha condições. O fornecedor não comprou a idéia, o transportador não comprou a idéia e nós também tínhamos dificuldades. No início foi bastante trabalhoso, mas depois se integrou. 16.1) Quanto tempo mais ou menos? R. Quatro anos iniciou-se mesmo, mas de dois anos prá cá realmente começou a fluir. 16.2) Eu percebi que de um ano prá cá, de fato uma redução bem forte de estoque. R. É o período que mais está se visualizando essa ferramenta JIT. Hoje o fornecedor está consciente, o transportador está consciente. O Nosso Comercial também. Porque não adianta se não estivermos alinhados com programação de fabricação. Temos uma visão do que vamos produzir em dez dias. Tínhamos que comprar com o sentimento. Antes não era assim Isso possibilitou a implantação. Os fornecedores e transportadoras já estão alinhados com o JIT. 16.3) Na tua visão já está implantado ou está em fase de implantação? R. Nos nossos maiores fornecedores já está implantado. Dos fornecedores de importados já tem construção de fábricas no Brasil para atender a demanda interna.