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Justiça
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Capítulo 6 -
A questão da equidade /John Rawls
Ana Carolina Brittes
Bruna Hadje
Gabriela Cafrune
Rosemeri Andrade
A questão da equidade
• A maioria dos americanos nunca assinou um
contrato social. Somente as autoridades e os
naturalizados.
• De que maneira, então, se pode dizer que o
governo se baseia na aquiescência dos que são
governados?
• John Locke Consentimento tácito.
• Immanuel Kant Consentimento hipotético.
A questão da equidade
Como pode um acordo hipotético fazer papel
moral de um acordo real?
• John Rawls argumenta que a maneira pela qual podemos entender a justiça é perguntando a nós mesmos com quais princípios concordaríamos em uma situação inicial de equidade.
• Vamos supor que estivéssemos reunidos para definir os princípios que governarão nossa vida coletiva.
A questão da equidade
• Deve-se partir do pressuposto que pessoas
diferentes têm princípios diferentes e, mesmo
assim, se tem que chegar a um consenso, o
que refletiria o poder de barganha de uns sobre
os outros.
• Agora, supondo que, ao estarmos reunidos para
definir esses princípios, estivéssemos em uma
situação de equidade.
A questão da equidade
• E é por acordo hipotético em uma posição
original de equidade que John Rawls entende
um contrato social.
• Rawls então nos questiona;
que princípios escolheríamos caso
nos encontrássemos nessa posição
de equidade?
A questão da equidade
• Ele diz que, com certeza não seria o utilitarismo
e, acredita que desse contrato hipotético dois
princípios surgiriam:
1° Mesmas liberdades básicas à todos
os cidadãos
2° Equidade social e econômica
Os limites morais do contrato
• Para se compreender a força moral do contrato hipotético, é bom, primeiramente, se analisar os limites morais dos contratos reais.
• Quando duas pessoas fazem um acordo, nós presumimos que os termos desse acordo serão justos. (A + B = contrato. Contrato ≠ justo).
• Para respondermos a questão “será que o acordo foi justo”, precisamos de uma referência independente de justiça. Tal referência poderia ser a Constituição?
Os limites morais do contrato
• O fato de uma constituição ter sido ratificada pelo povo não significa que suas cláusulas sejam justas.
• Frequentemente se questiona sobre a equidade dos acordos feitos. Uma das partes pode estar em melhores condições para barganhar ou saber mais sobre o real valor da prestação a ser negociada.
• Sandel então cita uma passagem do renomado filme “O Poderoso Chefão” em que Don Corleone fala: “Farei uma proposta que ele não poderá recusar”.
Apesar de sabermos que os contratos não tornam justos
os termos que produzem, não significa que podemos
violar nossos acordos sempre que quisermos.
Os limites morais do contrato
Exemplo das lagostas:
1- 100 lagostas = $1.000,00.
“A” pesca, “A” entrega, “B” desfruta e não paga.
2- 100 lagostas = $1.000,00.
“A” pesca, “A” entrega, “B” desiste do negócio.
3 -100 lagostas = $1.000,00.
“B” desiste do negócio antes que “A” possa iniciar os
trabalhos de pesca das lagostas.
• De tal exemplo se retira uma questão: só o
consentimento pode criar uma obrigação ou é
preciso que haja algum elemento de
benefício/expectativa?
• Contratos são atos voluntários, assumidos de
acordo com a nossa vontade que se inspiram
no ideal de reciprocidade.
Os limites morais do contrato
QUANDO O CONSENTIMENTO APENAS NÃO BASTA:
FIGURINHAS DE BASEBALL E VAZAMENTO NO BANHEIRO
1. Filhos pequenos e trocavam figurinhas de
baseball, mais velho se aproveitava do mais
novo fazendo trocas mais vantajosas para si.
2. Idosa com vazamento no banheiro contrata
prestador de serviço por $50.000,00
• “Até o mais ganancioso dos prestadores de
serviço admitiria que 50 mil dólares pelo reparo
seria um valor extremamente injusto – ainda
que ambas as partes tenham concordado
livremente com ele”
• Com esse caso pode-se observar que um
acordo não garante equidade e o consentimento
não basta para criar uma obrigação moral.
QUANDO O CONSENTIMENTO APENAS NÃO BASTA:
FIGURINHAS DE BASEBALL E VAZAMENTO NO BANHEIRO
“Pode-se argumentar que o contrato abusivo
para o conserto do banheiro não foi um contrato
realmente voluntário, mas um tipo de
exploração, em que um bombeiro inescrupuloso
tentou se aproveitar de uma mulher idosa
ingênua”.
QUANDO O CONSENTIMENTO APENAS NÃO BASTA:
FIGURINHAS DE BASEBALL E VAZAMENTO NO BANHEIRO
Quando o consentimento não é essencial
A casa de Hume:
obrigação de pagar pelo benefício trazido
Os limpadores de para-brisas:
FALTA DE CONCORDÂNCIA. Limite entre
prestação de serviço (benefício e mendicância.)
Benefício ou Consentimento?
A oficina móvel de Sam
• Não há contratação dos serviços
• Quando o consentimento começa?
▫ Consentimento implícito – sem concerto, o carro não funciona.
• Acordo -> obrigação de pagar
• Beneficio -> pagaria: gratificação e não dever
• Consentimento implícito – sem concerto, o carro não funciona.
• Reciprocidade – pagamento justo.
Casamento
• Fidelidade x traição
• Consentimento “nós tínhamos um acordo, e
você quebrou sua promessa”
• Reciprocidade “se eu sempre fui fiel, não
merecia ser traído”
Mesmo não havendo juras matrimonias,
sendo um relacionamento de longa data,
isso seria moralmente plausível.
Imaginando o contrato perfeito
• Autonomia: subordinação/coação
• Reciprocidade: se alguém entende mais pode
ter mais vantagens, não havendo beneficio
mutuo.
Contrato perfeito
Autonomia
Reciprocidade
Véu da ignorância
VÉU DA IGNORANCIA = equanimidade
• Partes: mesmo nível de poder e conhecimento
• Objeto do contrato: princípios que governam a
vida em comum
Princípios de justiça
Utilitarismo:
Sob o véu da ignorância não sabemos qual é a
nossa posição na sociedade
Ao ser retirado o véu, não gostaríamos de ser
reprimidos por uma maioria
Liberdades básicas e IGUAIS – liberdade de
pensamento, crença, religião...
Distribuição equânime de renda.
MAS possibilidade de vida melhor
aceitaríamos
as diferenças
Princípios de justiça
Principio da diferença: “só serão permitidas as
desigualdades sociais e econômicas que visem ao
benefício dos menos favorecidos da sociedade”
• Fortuna de poucos seja voltada para um sistema
progressivo de impostos para o melhoramento da
saúde, da educação e do bem estar do pobre.
A discussão sobre a arbitrariedade moral
Aristocracia Feudal
ou
Sistemas de Castas
Livre Mercado
Distribuição de renda, riqueza,
oportunidade e poder de
acordo com o nascimento
Garantidas as mesmas liberdades
básicas.
Oportunidades formalmente
equânimes.
Teoria libertária de justiça.
Em termos legais permite que todos
possam se esforçar e competir.
“A distribuição de renda e fortuna que resulta do
livre mercado com oportunidades formalmente
iguais não pode ser considerada justa.
A discussão sobre a arbitrariedade moral
A injustiça mais evidente do sistema
libertário “é o fato de ele permitir que a
divisão de bens seja indevidamente
influenciada por esses fatores tão
arbitrários do ponto de vista moral”.
A discussão sobre a arbitrariedade moral
• Uma meritocracia justa tenta corrigir as
diferenças sociais econômicas (programas
assistenciais, nutrição e saúde).
“ainda que atinja a perfeição em eliminar a
influência das contingências sociais”, o
sistema meritocrático “continuará a permitir
que a distribuição de riqueza e renda seja
determinada pela distribuição natural de
aptidões e talento”.
A discussão sobre a arbitrariedade moral
Concepção meritocrática de
justiça
Teoria libertária de justiça
FALHAS Fundamentam a distribuição
de direitos em fatores moralmente arbitrários
Concepção equânime
Mas qual poderia ser essa concepção?
Um pesadelo igualitário
"Harrison Bergeron" by Kurt Vonnegut Jr. - Ano de 2081
http://mclaughlinsclass.blogspot.com.br/2010/11/harrison-bergeron-by-kurt-vonnegut-jr.html
Um pesadelo igualitário
Alternativa: Principio da diferença
Corrige a distribuição desigual de aptidões e dotes
sem impor limitações aos mais talentosos
Estimula os bem dotados a desenvolver e
exercitar suas aptidões
Recompensas pertencem a comunidade como um
todo
Um pesadelo igualitário
Representa um acordo para considerar a distribuição
das aptidões naturais um bem comum e para
compartilhar quaisquer benefícios que ela possa
propiciar.
Os mais favorecidos pela natureza, só
devem usufruir de sua boa sorte de
maneira que melhorem a situação dos
menos favorecidos.
Teorias diferentes de justiça distributiva:
1. Sistemas feudal ou de castas: hierarquia fixa estabelecida em função do nascimento;
2. Libertária: livre mercado com igualdade de oportunidades formal.
3. Meritocrática: livre mercado com igualdade de oportunidade justa.
4. Igualitária: princípio da diferença de Rawls.
Distribuição de
justiça
em fatores arbitrários
do ponto de vista
moral.
Princípio da diferença de Rawls
Duas objeções:
1 - Incentivos:
Se os talentosos só puderem se beneficiar de suas
aptidões quando elas ajudarem os menos favoreci-
dos, o que acontecerá se eles resolverem trabalha
menos ou não desenvolver suas habilidades?
Se os incentivos gerarem um crescimento econômico que
permita aqueles que se encontram na base da pirâmide
de uma vida melhor do que a que teriam com uma
distribuição mais equilibrada, então eles são permitidos
pelo Princípio da diferença.
Princípio da diferença de Rawls
2. Esforços:
- O que dizer do trabalho árduo a que muitas pessoas
se dedicam para cultivar o seu talento? até o esforço
pode ser produto de uma educação favorável.
- O argumento de que as pessoas merecem
recompensas que resultam do esforço e do trabalho
árduo é questionável.
Apesar das discussões sobre o esforço, na verdade é a
contribuição ou a conquista, que o partidário da
meritocracia acredita que é digna de recompensa. Seja
nossa ética de trabalho produto de nosso esforço ou não,
nossa contribuição depende, pelo menos em parte, das
aptidões naturais cujos créditos não podemos reivindicar.
Repudiando o mérito moral
“Existe uma tendência generalizada a achar
que renda e riqueza, ou todas as coisas boas
da vida, devam ser destruídas segundo o
mérito moral. Justiça é sinônimo de felicidade
em termos de virtude (…) Mas a justiça
pensada como equidade repudia essa
concepção.”
Ex: jogos de azar x jogos de destreza
Repudiando o mérito moral
Mérito moral “direito a expectativas
legítimas” x
Rawls argumenta que a justiça distributiva
não é questão de recompensar a virtude ou
o mérito moral. Pelo contrário, ela trata de
atender às expectativas legítimas que
passam a existir quando as regras do jogo
são estabelecidas.
Repudiando o mérito moral
Rawls repudia o mérito moral como fundamento da
justiça
distributiva com base em dois argumentos:
1. Ter um talento que me coloque em uma situação
privilegiada na competição em relação aos demais
não é um mérito completamente meu.
2. As qualidades que uma sociedade valoriza em
determinado momento, também moralmente
arbitrárias.
Repudiando o mérito moral
Para Rawls, essa diferença salarial só é justa se
fizerem parte de uma sociedade que beneficie
os menos favorecidos. Mas não se pode dizer
que os apresentadores sejam merecedores
dessa diferença salarial, apenas que possuem
sorte de viverem em uma sociedade que pague
fortunas aos astros de televisão.
Repudiando o mérito moral
• Woody Allen aborda uma questão semelhante no filme
Memórias, em que vive um personagem inspirado nele
mesmo.
• SANDY: E então, você trabalha em quê? O que anda
fazendo?
• JERRY: Quer saber o que faço? Sou motorista de táxi.
• SANDY: Você me parece bem. Você…bem… não há
nada de errado em ser motorista de táxi.
• JERRY: É… mas olhe para mim, em comparação a
você…
Repudiando o mérito moral
• SANDY: O que você quer que eu diga? Sempre fui
aquela criança do bairro que gostava de contar piadas,
certo?
• JERRY: É.
• SANDY: Bem…como você sabe, vivemos em uma…em
uma sociedade que dá muito valor a piadas, não é?
Pensando assim, se eu fosse um índio apache..aqueles
caras não precisariam de um comediante, certo? E eu
estaria desempregado.
• JERRY: E daí? Convenhamos, isso não faz com que eu
me sinta melhor.
Repudiando o mérito moral
A vida é injusta?
A vida não é justa. É tentador acreditar que o
governo pode consertar aquilo que a natureza
criou. (FRIEDMAN, MILTON)
(…) A distribuição natural não é justa nem injusta;
tampouco é injusto que as pessoas nasçam em
uma determinada posição na sociedade. Esses
fatos são simplesmente naturais. O que é justo ou
injusto é a maneira como as instituições lidam
com esses fatos (RAWLS, JOHN)
Assim, John Rawls propõe que lidemos com
esses fatos aceitando “compartilhar nosso
destino com o próximo” e “só tirando proveito
das casualidades da natureza e das
circunstâncias sociais quando isso proporcionar
o bem de todos”.
A vida é injusta?