Juventude rural: protagonismo na geração de renda e conservação do meio ambiente

2
Juventuderural:protagonismonageração derendaeconservaçãodomeioambiente BoletimInformativodoProgramaUmaTerraeDuasÁguas Ano8nº1830 Agosto/2014 Carnaíba Mulungu, mucunã, olho de pombo, feijão bravo, mucuna preta. Sementes, folhas e frutos da Caatinga, com nomes estranhos para muita gente, viram colares, brincos e pulseiras, e são uma fonte de trabalho e renda para um grupo de jovens do Sítio Riacho Fundo, em Carnaíba, município do Sertão do Pajeú de Pernambuco. Formado há pouco mais de um ano, o grupo já passou por lutas e conquistou diversas vitórias, até se organizar na comercialização das chamadas biojoias, produzidas a partir de matéria orgânica vegetal e animal, como sementes ou ossos. Edvaldo Moreno, estudante de 20 anos, relembra as dificuldades do início e as que ainda permanecem: “a princípio, o grupo tinha nove pessoas e todas mostravam muito interesse. Mas, com o passar do tempo, algumas se distanciaram. Até pensamos que o nosso grupo iria acabar, mesmo sem ter começado”, conta. Edvaldo ainda destaca que foi a partir das oficinas de confecção de biojoias que o grupo passou a acreditar no próprio sucesso: “foi com a iniciativa da Diaconia que nos envolvemos no compromisso de ‘botar o grupo pra frente’. Quando houve a oficina, na mesma semana começamos a fabricar mais produtos”, recorda o estudante, se referindo à oficina realizada em junho que reuniu 11 jovens das comunidades de Abelha e Riacho Fundo, de Carnaíba, e de Pau Ferro, do município de Afogados da Ingazeira, também no Pajeú. Os jovens da região, que também precisam se deslocar até à cidade para estudar, ainda obtêm renda com outras atividades, como a criação de animais, a agricultura ou a pintura em tecido. Missilene Ferreira e Lyedjo Pereira, apoiados anteriormente pelo projeto “Juventude, Arte & Cultura” (JAC), hoje facilitam as oficinas no manuseio das sementes, de ferramentas, como furadeira e tesouras, e também na atenção aos cuidados de armazenamento e seleção das sementes. O projeto JAC é realizado a partir de uma parceria entre a Diaconia, a ONG Caatinga e o Centro Sabiá. Jovens do Sítio Riacho, Carnaíba (PE), produzem biojoias Sementes, folhas e frutos da Caatinga viram bonitos colares

description

Sementes, folhas e frutos da Caatinga,com nomes estranhos para muita gente, viram colares, brincos e pulseiras, e são uma fonte de trabalho e renda para um grupo de jovens do Sítio Riacho Fundo, em Carnaíba, município do Sertão do Pajeú de Pernambuco. Formado há pouco mais de um ano, o grupo já passou por lutas e conquistou diversas vitórias, até se organizar na comercialização das chamadas biojoias.

Transcript of Juventude rural: protagonismo na geração de renda e conservação do meio ambiente

Page 1: Juventude rural: protagonismo na geração de renda e conservação do meio ambiente

Juventude�rural:�protagonismo�na�geração��de�renda�e�conservação�do�meio�ambiente

Boletim�Informativo�do�Programa�Uma�Terra�e�Duas�Águas

Ano�8��nº�1830Agosto�/2014�

Carnaíba�

Mulungu, mucunã, olho de pombo, feijão bravo,

mucuna preta. Sementes, folhas e frutos da Caatinga,

com nomes estranhos para muita gente, viram

colares, brincos e pulseiras, e são uma fonte de

trabalho e renda para um grupo de jovens do Sítio

Riacho Fundo, em Carnaíba, município do Sertão do

Pajeú de Pernambuco. Formado há pouco mais de um

ano, o grupo já passou por lutas e conquistou diversas

vitórias, até se organizar na comercialização das

chamadas biojoias, produzidas a partir de matéria

orgânica vegetal e animal, como sementes ou ossos.

Edvaldo Moreno, estudante de 20 anos, relembra as dificuldades do início e as que ainda

permanecem: “a princípio, o grupo tinha nove pessoas e todas mostravam muito interesse. Mas,

com o passar do tempo, algumas se distanciaram. Até pensamos que o nosso grupo iria acabar,

mesmo sem ter começado”, conta. Edvaldo ainda destaca que foi a partir das oficinas de

confecção de biojoias que o grupo passou a acreditar no próprio sucesso: “foi com a iniciativa da

Diaconia que nos envolvemos no compromisso de ‘botar o grupo pra frente’. Quando houve a

oficina, na mesma semana começamos a fabricar mais produtos”, recorda o estudante, se

referindo à oficina realizada em junho que reuniu 11 jovens das comunidades de Abelha e Riacho

Fundo, de Carnaíba, e de Pau Ferro, do município de Afogados da Ingazeira, também no Pajeú.

Os jovens da região, que também precisam se

deslocar até à cidade para estudar, ainda obtêm renda

com outras atividades, como a criação de animais, a

agricultura ou a pintura em tecido. Missilene Ferreira

e Lyedjo Pereira, apoiados anteriormente pelo projeto

“Juventude, Arte & Cultura” (JAC), hoje facilitam as

oficinas no manuseio das sementes, de ferramentas,

como furadeira e tesouras, e também na atenção aos

cuidados de armazenamento e seleção das sementes.

O projeto JAC é realizado a partir de uma parceria

entre a Diaconia, a ONG Caatinga e o Centro Sabiá.

Jovens do Sítio Riacho, Carnaíba (PE), produzem biojoias

Sementes, folhas e frutos da Caatinga viram bonitos colares

Page 2: Juventude rural: protagonismo na geração de renda e conservação do meio ambiente

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

“O acompanhamento dos membros da Diaconia nas

reuniões foi fundamental para nossa formação. Eles

estavam dedicados a abraçar a nossa causa, em tentar

mudar nossa realidade de vida e em nos mostrar

coisas maravilhosas que possuíamos, mas que

desconhecíamos”, destaca Edvaldo. Segundo Sandra

Rejane Pereira, assessora político-pedagógica da

Diaconia no Sertão do Pajeú: “essas atividades são de

importante aprendizado para jovens e mulheres. O

grupo mostrou grande interesse, participando e

criando peças, e já compartilha os conhecimentos

entre a comunidade, a partir do aprendizado. Outros grupos já querem que aconteça um

momento com os jovens e as jovens locais, para atender um número ainda maior”, adianta.

O trabalho com artesanato também fortalece a consciência sustentável dos jovens na relação

com a natureza. “É um trabalho artesanal muito importante, pois além de estimular nossa

criatividade, contribui para a preservação de diversas árvores nativas de nossa região. Como

dependemos dessas árvores para trabalhar, nos preocupamos cada vez mais em preservá-las”,

destaca Edvaldo. As biojoias têm boa aceitação nos eventos da região, apesar do desafio de

encontrar pontos comerciais fixos para a venda. Se interessou pelas peças? Elas também podem

ser encomendadas através do telefone (87) 9186.4868 ou e-mail: [email protected]

Diante dos desafios impostos pela natureza, as

juventudes das zonas rurais enfrentam um dilema

entre permanecer no campo ou ir para os centros

urbanos. A vontade em deixar o meio rural faz com

que muitos jovens não enxerguem alternativas em

suas comunidades. “A questão da juventude rural é

um desafio. O agricultor adulto tem mais definida

a compreensão de aguardar pela mudança no

tempo, pela colheita, diferente dos mais jovens, que

esperam resultados mais rápidos. A perda dessa

cultura é um fator agravante para a permanência

dos mais jovens”, destaca o coordenador da Diaconia no Sertão do Pajeú, Adilson Viana.

A produção de biojoias, no entanto, vai na contramão dessa tendência: representa uma

grande e real oportunidade para a geração de renda para os mais jovens. Como se não bastasse,

as peças produzidas embelezam e ainda contribuem para a valorização da diversidade da

Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, cuja maior parte do patrimônio biológico

não pode ser encontrada em outros lugares do planeta. O uso de sementes e de outros

materiais naturais, além de alternativa economicamente viável (e ecologicamente correta),

também representa mais uma forma de promover e divulgar as riquezas do Semiárido

brasileiro. São, ou não, bons motivos para qualquer jovem permanecer na Zona Rural?

"Como dependemos das árvores, preservamos”, diz Edvaldo

Trabalho com artesanato fortalece a consciência sustentável

Realização Apoio