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1 ANÁLISE DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PONTES E VIADUTOS DE CONCRETO ARMADO NA CIDADE DE SÃO PAULO – SP. LUCIANO ALBINO CARDOSO 1 JOSÉ EDUARDO QUARESMA 2 RESUMO Cresce o estudo de problemas patológicos ocorridos em estruturas de concreto armado em função de diversos fatores. Atualmente, a falta de programas específicos voltadas para a manutenção de pontes e viadutos é um problema recorrente relacionado ao sistema rodoviário, ocasionando em estruturas com condições de estabilidade afetadas. As pontes e viadutos podem ser considerados como obras de arte especiais e que estão sujeitos a intervenções advindas de fatores mecânicos, físicos e químicos, que podem comprometer o seu funcionamento. Este artigo tem como objetivo fazer uma análise das principais manifestações patológicas presentes em pontes e viadutos da cidade de São Paulo - SP, por meio de inspeções visuais, e como as mesmas afetam sua estrutura e seu desempenho, como forma de entender suas origens e causas, assim como possíveis reparos e reforços. Palavras-chave: patologias, pontes e viadutos, concreto armado, desempenho, estruturas. Orientador: José Eduardo Quaresma – Docente e Orientador do Curso de Engenharia Civil – UNIARA – Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho pela Associação das Escolas de Engenharia Civil e de Agrimensura de Araraquara/ Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo, [email protected]. 1. INTRODUÇÃO Atualmente dois materiais estruturais são os mais utilizados: o concreto e o aço. Algumas vezes eles se complementam e, outras, competem entre si, de maneira que muitas 1 Graduando em Engenharia Civil pela Universidade de Araraquara – [email protected] 2 José Eduardo Quaresma – Docente e Orientador do Curso de Engenharia Civil – UNIARA – Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho pela Associação das Escolas de Engenharia Civil e de Agrimensura de Araraquara/ Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo, [email protected].

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ANÁLISE DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PONTES E VIADUTOS DE CONCRETO ARMADO NA CIDADE DE SÃO PAULO – SP.

LUCIANO ALBINO CARDOSO1 JOSÉ EDUARDO QUARESMA2

RESUMO Cresce o estudo de problemas patológicos ocorridos em estruturas de concreto armado em função de diversos fatores. Atualmente, a falta de programas específicos voltadas para a manutenção de pontes e viadutos é um problema recorrente relacionado ao sistema rodoviário, ocasionando em estruturas com condições de estabilidade afetadas. As pontes e viadutos podem ser considerados como obras de arte especiais e que estão sujeitos a intervenções advindas de fatores mecânicos, físicos e químicos, que podem comprometer o seu funcionamento. Este artigo tem como objetivo fazer uma análise das principais manifestações patológicas presentes em pontes e viadutos da cidade de São Paulo - SP, por meio de inspeções visuais, e como as mesmas afetam sua estrutura e seu desempenho, como forma de entender suas origens e causas, assim como possíveis reparos e reforços. Palavras-chave: patologias, pontes e viadutos, concreto armado, desempenho, estruturas. Orientador: José Eduardo Quaresma – Docente e Orientador do Curso de Engenharia Civil – UNIARA – Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho pela Associação das Escolas de Engenharia Civil e de Agrimensura de Araraquara/ Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo, [email protected]. 1. INTRODUÇÃO

Atualmente dois materiais estruturais são os mais utilizados: o concreto e o aço. Algumas vezes eles se complementam e, outras, competem entre si, de maneira que muitas 1 Graduando em Engenharia Civil pela Universidade de Araraquara – [email protected] 2 José Eduardo Quaresma – Docente e Orientador do Curso de Engenharia Civil – UNIARA – Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho pela Associação das Escolas de Engenharia Civil e de Agrimensura de Araraquara/ Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo, [email protected].

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estruturas de mesmo tipo e função podem ser construídas com qualquer um desses materiais (BROOKS; NEVILLE, 2013).

Entretanto, nenhum dos dois materiais é eterno, mesmo que o concreto seja um dos materiais mais utilizados em obras de arte para fins estruturais por possuir excelente desempenho, com o passar do tempo, pode apresentar manifestações patológicas, como deformações, fissuras, lixiviações, corrosões, armaduras ativas expostas a intempéries, entre outros, ou seja, problemas que deveriam surgir 50 anos depois começam a aparecer logo no início.

Para Neville (1997), o concreto só é considerado quando consegue desempenhar as funções a que lhe foram atribuídas por um período de tempo previsto inicialmente. Sob a perspectiva de Mehta e Monteiro (1994), nenhum tipo de material é essencialmente durável, pois as propriedades e microestruturas dos materiais se modificam com o passar do tempo.

A evolução de conhecimentos e estudos técnicos, juntamente ao histórico e experiências adquiridas sobre estruturas de concreto armado, acarretou em revisões e reformulações de procedimentos de concepção a execução e, principalmente, de normas que exigissem procedimentos de manutenções necessárias.

De acordo com a norma brasileira atual, NBR 6118/2014, se todas as suas prescrições, deveres e condições relativas à durabilidade, ao Estado Limite Último e ao Estado Limite de Serviço forem atendidas, se houver as manutenções preventivas como definidas em projeto e contando que não haja alteração das condições ambientais para as quais a estrutura de concreto foi projetada, essas estruturas terão sua durabilidade garantida, observadas também as manutenções essenciais definidas durante o projeto (ANGELO, 2004).

Uma ponte é capaz de carregar não apenas sobrecargas dinâmicas, mas também de promover o desenvolvimento econômico, social e cultural, por isso,

De acordo com Marchetti (2008), são denominadas pontes as obras destinadas à transposição de obstáculos que uma via de comunicação qualquer pode possuir. Esses obstáculos podem ser rios, braços de mar, vales profundos, outras vias, etc.

Quando o obstáculo transposto for um rio denomina-se ponte, quando o obstáculo transposto for um vale ou outra via denomina-se viaduto (BASTOS; MIRANDA, 2017).

A cidade de São Paulo possui aproximadamente 270 pontes e viadutos ao longo de

suas vias terrestres e que fazem parte da mobilidade urbana da cidade, mas a maioria deles apresenta algum tipo de patologia comprometedora, oferecendo riscos a segurança da sociedade que necessita deste tipo de estrutura diariamente como meio de mobilidade.

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No Brasil, a falta de programas voltados à manutenção de pontes e viadutos é um dos

maiores problemas enfrentados pelo sistema rodoviário. Um dos fatores que contribui para isso, é a ausência de políticas e estratégias voltadas para a conservação dessas obras, que, por sua vez, estão sendo sobrecarregadas pelo grande fluxo de veículos pesados e com sobrepeso (VITÓRIO, 2006 apud BASTOS; MIRANDA, 2017).

Neste trabalho, procura-se identificar e comparar as principais patologias que se apresentam ao longo da vida útil de estruturas como pontes e viadutos presentes no centro da cidade de São Paulo, e identificar quais patologias ocorrem com mais freqüência e qual a justificativa para o seu surgimento. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Causas e origens das patologias

O termo patologia é empregado na engenharia civil quando ocorre perda ou queda de

desempenho de um produto ou componente da estrutura. Esse termo foi extraído da área da saúde e identifica o estudo das doenças, seus sintomas e natureza das modificações que elas provocam no organismo (ANDRADE; SILVA, 2005).

Na perspectiva de Helene (1992), a patologia pode ser entendida como parte da engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e as origens dos defeitos das construções civis, ou seja, é o estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema. Estas podem ser originadas ainda na fase de projeto, na execução, no uso inadequado ou na falta de manutenção da mesma. Em alguns casos, ocorrem por redução de custos em detrimento de aspectos como segurança e qualidade.

As manifestações patológicas podem afetar uma obra de engenharia em qualquer etapa construtiva, entretanto, é necessário conhecer a origem do problema para que seja feito o diagnóstico de forma correta e, conseqüentemente, a correção para a patologia com a finalidade de obter um resultado satisfatório e favorável ao seu pleno funcionamento.

Para Rocha (2015), os custos para recuperação das estruturas em casos extremos são elevados, alguns estudos indicam que, se os recursos utilizados na recuperação estrutural fossem gastos em medidas preventivas, seria possível perceber uma redução significativa desses valores ao longo do ciclo de vida da estrutura.

Esta relação de proporcionalidade entre o custo de reparo e as dificuldades técnicas com tempo de identificação da manifestação patológica é referida como “antiguidade da falha” por Souza e Ripper (2009). Tem-se como exemplo disto, tratar de uma falha que tenha

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se manifestado em fase de estudo preliminar, esta, em geral, terá soluções mais complexas e dispendiosas que a de uma falha manifestada na fase de anteprojeto.

Embora em ambas as ocorrências citadas no exemplo, gerem principalmente empecilhos no uso da edificação ou elevação nas despesas construtivas, as deficiências apresentadas na etapa de realização do projeto executivo, resultam em patologias mais danosas. Conforme foram apresentadas por Souza e Ripper (2009): Elementos de projeto inadequados; Falta de compatibilidade entre a estrutura e a arquitetura, bem como os demais projetos

civis; Especificação inadequada de materiais; Detalhamento insuficiente ou errado; Falta de padronização das representações (convenções); Erros de dimensionamento.

Após as etapas de concepção e construção da estrutura, mesmo sem apresentar problemas, não pode ser ignorado o risco de ocorrer manifestações patológicas devido à má utilização e manutenção do sistema estrutural.

Sabe-se que as estruturas de concreto armado sofrem patologias diversas ao longo do tempo, não só devido às falhas humanas cometidas durante o ciclo de vida da estrutura: deficiências de projeto, espessura de cobrimento insuficiente, especificações e características inadequadas do concreto; mas, também devido a outros fatores muitas vezes não levados em consideração pelos projetistas e construtores (ROCHA, 2015).

É muito comum tratar o concreto armado como se ele fosse indestrutível, mas tal como qualquer outro material, ele vai se degradando com a idade, em maior ou menor rapidez dependendo de muitos fatores [...]. Entretanto, nem as pedras e nem o concreto resistem infinitamente à ação das intempéries, dos agentes físicos e químicos naturais, ou de solicitações mecânicas exageradas, etc. (VERÇOZA, 1991).

Os agentes considerados agressivos são aqueles produzidos por ações mecânicas, físicas, químicas ou biológicas, atuando sozinhos ou associados entre si. Os produzidos por ações mecânicas são em sua grande maioria, cargas elevadas, sobrecargas, impactos, vibrações, cavitações, produzidos por causas naturais ou artificiais (ANDRADE FILHO, 2008).

Entre as ações físicas, está a variação de temperatura, umidade, radiações e incêndio, diferentemente das ações químicas, que atuam na forma de gases poluentes que são geralmente liberados na atmosfera por motores de veículos, águas agressivas, despejos residuais, entre outros.

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Ainda segundo Helene (1986), deterioração do concreto armado pode acontecer por

diversos fatores, dentre eles estão a corrosão do próprio concreto, seja por ação de agentes físicos, químicos ou biológicos, e a corrosão da armadura por ação de agentes químicos ou eletroquímicos, a qual representa 20% das incidências de manifestações patológicas no concreto. 2.2. Patologias mais comuns de pontes e viadutos

Segundo Andrade Filho (2008), as patologias em obras de arte rodoviárias ocorrem de acordo com a estrutura, e podem ser:

Patologias em infraestrutura: compreende a fundação da estrutura. Quando submersas em água, podem apresentar danos como exposição da armadura e perda da seção do concreto e do aço;

Patologias em mesoestrutura: os componentes que podem apresentar manifestações, nesse caso, são as peças intermediárias que dão sustentação, como pilares e elementos com a função de travamento;

Patologias em superestrutura: composta pelas vigas longarinas e transversinas, lajes, guarda-corpos e guarda-rodas, é a que mais sofre com danos relacionados a alta exposição as intempéries, Outro fator a ser considerado na deterioração deste tipo de estruturas é a mudança nas

características do suporte de carga. Quando a este tipo de modificação, torna-se necessário fazer uma avaliação para um possível reforço estrutural.

O elevado número de pontes em estado avançado de deterioração é na maioria das vezes, causado por problemas de ordem executiva. Por exemplo, a simples colocação de espaçadores de armaduras nas estruturas já garante a medida de cobrimento mínimoda armadura, exigida pela norma brasileira (ANDRADE FILHO, 2008).

O estabelecido em norma para cobrimento mínimo é umas das formas de evitar o surgimento de uma das patologias mais freqüentes em qualquer tipo de estrutura de concreto armado: a corrosão.

Para Helene (1986), a corrosão é definida como a interação destrutiva de um material com o ambiente, o qual pode ocorrer por reação química ou eletroquímica, ou seja, são dois processos que podem sofrer as armaduras de aço em concreto armado, a oxidação e a corrosão. A oxidação é o ataque ocorrido pela reação ente gás e metal. A corrosão propriamente dita é o ataque natural e eletroquímico que ocorre em meio aquoso.

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A corrosão e a deterioração observada no concreto podem estar associadas a fatores

mecânicos, físicos, biológicos ou químicos [...]. É um caso específico de corrosão eletroquímica em meio aquoso, em que o eletrólito (concreto) apresenta características de resistividade elétrica consideravelmente mais altas do que as dos eletrólitos típicos, meio aquoso comum, não confinado em uma rede de poros, como é o caso do concreto (ROCHA, 2015).

Segundo Helene (1994),ao aumentar a qualidade do concreto, é possível fazer a redução das espessuras de cobrimento sem maior comprometimento da vida útil da peça, entretanto, esta preocupação com a garantia das camadas protetoras das armaduras não são tão bem observadas nas obras.

Nas regiões em que o concreto não é adequado, ou não recobre, ou recobre deficientemente a armadura, a corrosão torna-se progressiva e conseqüentemente a formação de óxi-hidróxido de ferro, que passa a ocupar volumes de 3 a 10 vezes superiores ao volume original do aço da armadura, causa pressões e expansões, originando em fissuração na direção paralela a armadura, favorecendo a carbonatação e lascamentos do concreto (HELENE, 1986).

Ainda segundo o mesmo autor, a atmosfera urbana contribui para o surgimento de ponto de corrosão. As regiões ao ar livre e em centros populacionais maiores contém impurezas em forma de óxido de enxofre (SO2), fuligem ácida e outros agente agressivos, como o CO2, liberado em altas quantidades na atmosfera.

Entretanto, a corrosão não é a única patologia presente em pontes e viadutos. Para Bastos e Miranda (2017), as falhas em instalações de drenagem também são fatores que influenciam na degradação do concreto e das armaduras. Por este motivo, devem ser feitas de forma a evitar o acúmulo de água em pontos essenciais, como encontro de vigas, em caixões ou na pista de rolamento.

As falhas presentes na pista de rolamento geram acréscimo de solicitações, capaz de produzir efeitos dinâmicos que aumentam a solicitação das cargas móveis e provocam deslocamentos do tabuleiro se estiver em más condições, principalmente nos apoios.

De acordo com a norma brasileira atual, NBR 6118:2014, se todas as suas prescrições, deveres e condições relativas à durabilidade, ao Estado Limite Último e ao Estado Limite de Serviço forem atendidas. Se houver as manutenções preventivas como definidas em projeto e contanto que não haja alteração das condições ambientais para as quais a estrutura de concreto foi projetada, essas estruturas terão sua durabilidade garantida, observadas também as manutenções essenciais definidas durante o projeto (ANGELO, 2004).

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2.3. Gestão de manutenção e correção

Os custos de intervenção em cada fase de uma obra se alteram conforme a necessidade. Como forma de prolongar a durabilidade e aumentar sua proteção, são feitas correções para intervir em degradações atuais ou futuras. Os custos de manutenção crescem exponencialmente conforme as manutenções são feitas de forma tardia.

Figura 1 – Evolução de custos pela fase de intervenção (Regra de Sitter)

Fonte: SITTER, 1984 apud HELENE, 1997.

O qual pode ser explicado da seguinte forma:

Fase de projeto: as medidas tomadas ainda na fase de projeto, como o cobrimento da armadura, a redução da relação a/c, o uso de adições, tratamentos superficiais, entre outros;

Fase de execução: toda medida que não consta em projeto nesta fase implica em um custo 5 (cinco) vezes maior que o custo da medida equivalente em fase de projeto

Fase de manutenção preventiva: operações necessárias para assegurar as boas condições da estrutura ao longo de sua vida útil, as quais podem custar até 25 vezes mais do que as medidas realizadas em fase projetual;

Fase de manutenção corretiva: nesta fase, os maiores trabalhos são com diagnósticos, reforços e reparo, pois a estrutura começa a apresentar problemas patológicos indicando a perda de sua vida útil, onde os custos podem se apresentar 125 vezes superior aos de medidas tomadas em projeto.

Com a correta avaliação do caso, é possível ao profissional que está envolvido no processo, determinar uma das quatro medidas terapêuticas usuais, havendo um quadro patológico. Cabe às terapias estudar a correção e a solução desses problemas patológicos (SARTORTI, 2008).

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Figura 2 - Tratamentos usuais das estruturas de concreto armado

Fonte: adaptado de Souza e Ripper (1998)

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

Fundamentado inicialmente em análise bibliográfica, este trabalho tem seu desenvolvimento baseado em causas de patologias comuns, em seus métodos de diagnósticos e posteriores verificação.

A análise das incidências patológicas foi feita de forma visual, em conformidade com a NBR 9452:16 – Inspeção de pontes, viadutos e passarelas de concreto (procedimento). Assim, pretendem-se fazer uma exposição acerca das principais causas, mecanismos e sintomas de uma estrutura de concreto armado, mais especificamente pontes e viadutos distribuídos na cidade de São Paulo, com a finalidade de sugerir medidas preventivas contra tais processos deteriorantes e suas terapias.

Serão abordadas também ferramentas de prevenção como forma de garantia da durabilidade prevista em fase de projeto, assim como planos de manutenção.

4. ESTUDO DE CASO

De acordo com o relatório emitido pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) divulgado em 2017, o mesmo que serviu de base para o Ministério Público Estadual assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Prefeitura de São Paulo para estruturar uma manutenção preventiva permanente, mais de 33 pontes e viadutos foram identificados como de risco grave.

No início deste ano, o ministério Público de São Paulo (MPSP) interveio através de ação pública para solicitar o fechamento de todas as pontes e viadutos considerados como

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risco grave até que a prefeitura apresente documentos que comprovem a segurança estrutural de todas.

De acordo com a gestão municipal da cidade, os seguintes viadutos e pontes são os que apresentam maiores problemas e precisam de perícia completa:

Segundo os relatórios técnicos emitidos pela prefeitura, 33 no total, 16 pontes e viadutos apresentam maiores riscos e necessitam de perícia técnica completa e emergencial, pois demonstram problemas como armações expostas, vigas com danos causados por colisões de veículos maiores que o permitido, juntas de dilatação deterioradas, infiltrações, entre outros.

A ação só foi emitida após o viaduto da Marginal dos Pinheiros (Figura 2), um dos que apresentam maior fluxo de trânsito, apresentar deslocamento verticalem aproximadamente 2m após o rompimento de um dos pilares, ocasionando na sua interdição imediata por 4 meses.

Figura 3 - Pilar que rompeu do viaduto de acesso a Marginal Pinheiros

Fonte: notícias.r73

De acordo com o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (Ibape-SP), uma manutenção programada custa cinco vezes menos que uma inspeção corretiva. Ou seja, o reparo custa cinco vezes mais que a manutenção. 4.1. Análise visual das manifestações patológicas e suas terapias Local: Viaduto Dante Delmanto Aspectos observados: fissuras, armaduras expostas e infiltrações. Observações: fissuras com eflorescências nas vigas longarinas e nos pilares, pontos com disgregação do concreto e armadura exposta e corroída, drenagem inadequada, ausência de vedação da junta de dilatação Possíveis terapias: reparos na estruturas de concreto, recuperação das juntas com perfil elastomérico, limpeza das caixas de drenagem e instalação de grelha. 3 Disponível em: <https://noticias.r7.com/sao-paulo/fotos/viaduto-jaguare-cede-e-estrutura-e-interdita-em-sao-paulo-veja-fotos-15112018#!/foto/1> Acesso em: abr/2019.

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Figura 4 - Viga longarina Figura 5 - Pilar

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Figura 6 - Ausência de junta de dilatação Figura 7 - Armadura exposta

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Local: Viaduto Miguel Mofarrej Aspectos observados: infiltrações, concreto disgregado, armaduras expostas e erosões. Observações: Almas externas e laje inferior apresentam concreto disgregado com exposição da bainha de protensão e armadura frouxa devido choque mecânico de veículos. Manchas de e florescência, fissuras tratadas, porém com eflorescência e sinais de fogo, juntas de dilatação do tipo elastomérico danificado e berço com fissuras. Erosão na região dos encontros. Possíveis terapias: recuperação as áreas de concreto disgregado, recuperação das juntas de dilatação e da região de erosão, remoção de detritos e crescimento de vegetação.

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Figura 8 - Alma externa com exposição da bainha de Figura 9 - Laje com manchas de eflorescência proteção, armadura frouxa devido as colisões e escorrimento de água, com sinais de fogo

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Figura 10 - Junta de dilatação com trechos cobertos Figura 11 - Junta de dilatação danificada. por pavimento.

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Local: Viaduto General Olímpio da Silveira Aspectos observados: juntas, fissuras, umidade, eflorescências. Observações: juntas de dilatação obstruídas pelo asfalto, concreto da laje inferior segregado, armaduras expostas e rompidas devido ao impacto de veículos, encontros com umidade e empolamentos da pintura, Possíveis terapias: recuperação das áreas com concreto disgregado, reforço estrutural nas vigas longarinas, demolição do guarda-corpo.

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Figura 12 - Armadura longitudinal inferior das Figura 13 - Guarda-corpo do viaduto apresenta vigas longarinas completamente danificadas. grande fendilhação e assentamento visível.

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Figura 14- Parede do encontro com umidade e Figura 15 - Concreto segregado por fissuras no concreto, com empolamento da pintura. vibração deficiente.

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Local: Ponte Presidente Jânio Quadros Aspectos observados: manchas, fissuras, presença de vegetação e concreto disgregado. Observações: lixiviação na parte inferior da laje, manchas de umidade e fissuras com eflorescência, marcas de impactos de veículos, vegetação nas juntas e na pista, passeio com áreas deterioradas, juntas de dilatação deterioradas e permitindo a passagem de água. Drenagem inexistente. Possíveis terapias: verificação e recuperação das vigas longarinas, tratamento das superfícies com lixiviação, manchas e armaduras expostas, substituição das juntas deterioradas, retirada da vegetação.

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Figura 16 - Exposição e corrosão da armadura. Figura 17 - Fissura por carbonatação.

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Figura 18 - Lixiviação na laje. Figura 19 - Longarina com armadura exposta.

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Local: Ponte Jaguaré – Rio Pinheiros Aspectos observados: infiltrações, concreto disgregado e fissurado, passeio com possibilidade de acidente, pavimento com fissuras. Observações: manchas de eflorescência, fissuras com eflorescência e concreto disgregado com armadura exposta e corroída devido aos impactos de veículos, sistema de drenagem deficiente ocorrido por falhas no tabuleiro e na pista de rolamento, e por buzinotes curtos e obstruídos. Possíveis terapias: recuperação das áreas de concreto disgregado, tratamento das fissuras, vedação das áreas com presença de vegetação, prolongamento e desobstrução dos buzinotes.

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Figura 20 - Passeio apresentando problemas. Figura 21 - Fissuras e infiltrações na mesoestrutura.

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Figura 22 - Concreto disgregado e armadura corroída. Figura 23 - Fissuras com eflorescência.

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Local: Ponte dos Remédios Aspectos observados: infiltrações, fissuras, armaduras expostas e juntas com problemas. Observações: fissuras com eflorescência e concreto disgregado na viga longarina, com armadura exposta e corroída devido a choque mecânico de veículos, pilar com fissura vertical e travamento dos pilares com concreto segregado com armadura exposta e corroída no apoio intermediário junto ao rio. Possíveis terapias: tratamento das fissuras, recuperação das áreas de concreto disgregado e segregado, recuperação das juntas de dilatação.

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Figura 24 - Laje com marca de raspagem. Figura 25 - Laje com manchas d’água.

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP Figura 26 - Viga longarina com armadura exposta. Figura 27 - Pilar com fissura vertical.

Fonte: SinaencoSPFonte: SinaencoSP 4.2. Gestão de manutenção e prevenção

As rodovias federais, estaduais e municipais que compõem a malha rodoviária brasileira não contam com sistemas de gestão para as suas pontes e viadutos. Na realidade, não contam (com raras exceções), sequer com procedimentos sistemáticos para inspeção e manutenção. Isso tem gerado um quadro preocupante a partir da constatação da ocorrência de processo de deterioração dessas pontes, que vem evoluindo ao longo dos anos, chegando a verificar-se, em alguns casos, uma situação próxima da ruína estrutural (VITORIO, 2006).

A maioria das pontes e viadutos apresentam problemas patológicos decorrentes da falta de manutenção. Torna-se necessário a adoção de medidas emergenciais voltadas para a manutenção. Segundo Vitorio (2006), deve contemplar: Vistorias periódicas; Cadastro das obras; Implantação de sistemas de gestão eficientes; Planejamento e previsão orçamentária para serviços de manutenção e recuperação.

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O início de uma ocorrência de manifestação patológica pode facilmente ser detectada

com uma vistoria preventiva ao apontar um procedimento técnico padrão para intervenções preliminares ou reparadoras em uma ponte ou viaduto. A primeira fase deve ser representada pelo conjunto de procedimentos técnicos, realizados de acordo com planejamento prévio, usando de dados fornecidos e atualizados.

A conservação de uma estrutura, como de pontes e viadutos, é definida pelo conjunto de ações necessárias para que ela se mantenha com as características iniciais definidas em projeto, resistência, funcionalidade e durabilidade.

A NBR 9452 estabelece os requisitos exigíveis para a realização de vistorias em pontes e viadutos de concreto e para a apresentação dos resultados obtidos nas vistorias. 5. CONCLUSÃO

Uma estrutura quando começa a ter seu desempenho colocado em risco, seja por fatores externos ou de ordem de projeto e execução, apresenta sintomas indicativos de que algo não está em pleno funcionamento. Tais sintomas se dão por meio de manifestações patológicas, e que apresentam características únicas e fundamentais para o correto diagnóstico e terapia como forma de restabelecimento de suas propriedades fundamentais.

Diante das patologias presentes nas pontes e viadutos, pode-se observar que cada caso deve ser avaliado conforme suas especificidades e, principalmente, sua estrutura, sendo assim, o projeto de manutenção ou recuperação deve ser feito especificamente para cada tipo de obra de arte.

Considerando que o objetivo proposto deste trabalho foi fazer uma análise visual do estado de conservação de pontes e viadutos situados nas vias urbanas de São Paulo (SP) e apresentar as possíveis terapias aplicadas, foi possível observar que as condições das pontes e viadutos estudados são preocupantes em sua grande maioria.

A maior parte das estruturas apresenta problemas de ordem patológica graves, como fissuras e corrosão avançada da armadura, além da carbonatação, com a qual o funcionamento, durabilidade e desempenho são totalmente afetados, ocasionando em sérios riscos a segurança do entorno e daqueles que utilizam destes tipos de obras de arte apenas como forma de locomoção.

Este fato é constatado devido ao número expressivo de manifestações patológicas encontradas, as quais se mostraram como resultados de ineficiências de planejamento, projeto e, principalmente, manutenção, comprometendo as condições de segurança estrutural e o seu próprio funcionamento. Assim, foi possível observar que o atual estado de conservação destes

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bens públicos deve-se em parte pela falta de planejamento por parte dos poderes públicos de implantação de uma gestão de manutenção, a qual deve ser utilizada como forma de preservação de bem e antecipação de prejuízos financeiros e econômicos, visto que a manutenção tardia requer além de maiores cuidados, maiores investimentos também.

Finalmente, é possível concluir que a melhor alternativa para evitar os avançados danos causados por diversos fatores ainda é a prevenção. A prevenção deve ser feita desde o correto projeto até a execução dentro dos parâmetros normativos de qualidade, mas principalmente por um programa de manutenção estrutural rotineiro, o qual tem como objetivo facilitar as verificações dos estados de deterioração estrutural e favorecer a redução de custos dos tratamentos posteriores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7188:2013 – Carga móvel rodoviária e de pedestres em pontes, viadutos, passarelas e outras estruturas. Rio de Janeiro, 2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR9452:2016 – Vistorias de Pontes e Viadutos de Concreto – procedimentos. Rio de Janeiro, 2016. BASTOS, Érick C. do N., MIRANDA Mateus Z. Principais patologias em estruturas de concreto de pontes e viadutos: manuseio e manutenção das obras de arte especiais. Revista CONSTUINDO, Belo Horizonte, v. 9, Ed. Esp. de Patologia, p. 93 – 101, Jul – dez., 2017 VERÇOZA, Enio José. Patologia das edificações. Editora SAGRA. Porto Alegre, 1991. VITÓRIO, José Afonso Pereira. Vistorias, Conservação e Gestão de Pontes e Viadutos de Concreto. In: Congresso Nacional do Concreto. 48. 2006, Rio de Janeiro. Anais...Rio de Janeiro: IBRACON, 2006. HELENE, Paulo. Corrosão em armaduras para concreto armado. Editora PINI. São Paulo, 1986. HELENE, Paulo. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de concreto. São Paulo: Editora PINI, 1992.

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MEHTA, P.K.; MONTEIRO, P.J.M. Concreto: estrutura, propriedades e materiais. 1.ed. São Paulo: PINI, 1994, pg.573. NEVILLE A. M. Propriedades do Concreto. Ed. PINI, 2ª edição. São Paulo, 1982. 828p. ROCHA, Ivan. Corrosão em estruturas de concreto armado. Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 SARTORTI, Artur Lenz. Identificação de patologias em pontes de vias urbanase rurais no município de Campinas – SP. 2008, 205f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual deCampinas, Faculdade de Engenharia Civil e Arquitetura. Campinas, 2008. SINDICATO DA ARQUITETURA E ENGENHARIA DE SÃO PAULO. Obras de arte especiais (Pontes e Viadutos) da cidade de São Paulo. São Paulo, 2017. SOUZA, Vicente Custodio, RIPPER, Thomaz. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto. Editora PINI, São Paulo, 1998. VIEIRA, M. A. Patologias Construtivas: Conceito, Origens e Método de Tratamento. Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016. Dezembro/2016