King Of Cards

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PRÓLOGO: EU SOU O REI DAS CARTAS

Humano que encontrou estes registros… Lhe concederei a honra de meapresentar a você. Em meu mundo sou conhecido como o Rei das Cartas. Você estáprestes a ler a minha história e se estes escritos chegaram até você, significa então quealgo terrível aconteceu. Algo tão terrível que me fez abrir mão da minha maior lei:contatos com humanos são terminantemente proibidos.

Subitamente o título de Rei das Cartas se tornou um fardo pesado demais. Meumundo e a minha mente passam por uma fase perturbadora. Já não sei mais se soubom ou mau e estou disposto a arriscar tudo que conquistei. Portanto, você que estálendo, não se sinta especial: se as condições fossem outras, você nem sequer conheceriaminha existência. Leia com atenção, pois contarei todos os detalhes sobre tudo o queaconteceu; e se pergunte a todo instante: “Teria eu feito o mesmo?”.

Eu vivo em um lugar chamado Imag: um mundo coberto por uma grandequantidade de água, superior a quantidade de terra, repleto de ilhas. Uma infinidadedelas. Trata-se de um lugar infinito. Até os dias atuais, nenhum estudo, nem ninguém,foi capaz de apontar, sequer, indícios de limites nesse mundo. Tudo o que existe aquifoi e está sendo criado por vocês, humanos, constantemente.

Nós somos fruto da imaginação de homens e mulheres de todos as épocas elocais. Isso quer dizer que aqui existem vampiros, monstros, demônios, deuses, fadas,espíritos, zumbis, heróis e animais místicos. Tudo o que o ser humano já viu ouimaginou, absolutamente tudo, é refletido aqui. Agora compreendeu porque nossomundo é infinito? Não existem limites para a imaginação de vocês.

No Imag existem coisas boas e coisas ruins, coisas belas e coisas feias, coisaspoderosas e coisas fracas. Tudo depende da origem do pensamento: se veio de umassassino, um policial, uma mãe, uma criança, um louco... Falando em loucos, amaioria das pessoas com problemas mentais, consideradas loucas ou esquisitas em seu

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mundo, são culpa nossa, ou seja: vítimas de suas próprias mentes. Apenas eu e maisseis indivíduos sabem que somos concepções da mente humana e, como o Rei dasCartas, sou o responsável por lidar com aqueles que descobrem esse perigoso segredo.

Chega a ser, por demais, constrangedor… mas é necessário que eu vos diga: pormais incrível que pareça, nós tememos vocês. Basta um simples pensamento, umsimples desejo, uma simples imaginação para que tudo aqui se transforme, para queseres poderosíssimos sejam criados. Basta uma simples vontade de alguém do seumundo para que sejamos destruídos e raças inteiras sejam aniquiladas. Me imaginesendo devorado por um Dragão e isso se tornará realidade no Imag. Imaginou?Certamente que sim. Porém existe algo a mais que é necessário para que tudo istofuncione… Mas isso não importa agora.

Devido ao fato do imaginário humano modificar a nossa realidade, um grandeguerreiro de Imag teme uma pequena criança do seu mundo. É por isso que vocês sãoperigosos. Estamos presos, atrelados aos seus pensamentos e imaginações. Alguns denós descobriram isso e tentaram encontrar formas de entrar em contato com oshumanos. Se pudéssemos controlá-los, faríamos prodígios, moldaríamos o nossomundo de acordo com nossa vontade e bel-prazer. Nossos inimigos seriam mortos,nossas aflições seriam mínimas e nossas preocupações passageiras. Nossos desejos setornariam realidade.

Todavia, nunca houve sucesso… Todos os humanos que foram contatados,enlouqueceram, ficaram reclusos da sociedade e alguns tiraram a própria vida.Quando se perde o controle da mente, perde-se a sanidade. Como controlar a mentedos humanos e ainda deixá-los no controle? Essa é a questão e eu tenho a resposta.

Não posso deixar ninguém descobrir isso, jamais. Esse é um segredo que levareipara o túmulo. É perigoso demais, tanto para nós, quanto para vocês. Muitostentaram, todos caíram perante o Rei. Eu sou o Rei, eu sou o protetor de Imag! Eusou o justo juiz! Aprisionei aqueles que tentaram e aprisionarei aqueles que ousaremtentar contato com a humanidade. Sei que minhas palavras podem parecer hipócritasdiante da situação que me encontro agora, contatando um humano, mas eu sou a

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única criatura capaz de utilizar tal poder da devida forma. Até mesmo os que têm boavontade são perigosos e não confiáveis.

O que você faria se tivesse o poder de controlar tudo que quisesse? Sua respostapode ter sido: “Eu usaria esse poder com responsabilidade para ajudar os outros”.Bobagem! Você utilizaria o poder para fazer o amor da sua vida se apaixonar por você;para ser bem-sucedido na sua carreira; para fazer seus inimigos sentirem o quanto setornou poderoso; para ganhar dinheiro fácil; para ter o corpo “perfeito”. Todos os serestêm na sua natureza o egoísmo, e o que nos afasta da escuridão e da maldade é aoportunidade, a falta de caráter e as circunstâncias certas. Junte a vontade de puniralguém com o poder de puni-la. A punição virá.

Contudo, vocês criaram em Imag um mundo único e instigante. A diversidade deraças, criaturas e lugares é incrível. A organização em ilhas, porém, parece ser umpadrão presente na natureza do nosso mundo. Sempre que vocês, humanos, pensamem algo novo, um ser novo, uma ilha surge. Cada uma das ilhas de Imag é habitadapor uma raça diferente. O limite da ilha é o limite daquele reino e cada raça possuisuas próprias regras e leis, mas existe uma ordem universal: é terminantementeproibido entrar em um reino sem pertencer a ele ou sem ser autorizado. É um insultoque deve ser punido com a morte.

Existem tantos reinos que eu passaria algum tempo para dizer todos queconhecemos. O lugar onde consideramos ser o centro do mundo é uma ilha que sedestaca dentre as outras, a ilha de Omni: um gigantesco bloco maciço de terra, cercade 10.000 vezes maior que a segunda maior ilha de Imag, a ilha de Roku. É a únicailha habitada por humanos, que também existem aqui.

Nossos humanos são projeções dos seus humanos. Eles também não têmconsciência de que são frutos de suas imaginações. Dessa forma não possuem amesma influência que vocês sobre o nosso mundo.

Da mesma maneira que no mundo de vocês, aqui também temos políticas eregras. Gerenciar e organizar todos os povos de todas as ilhas não é uma atividadefácil. Poucos reinos são democráticos, muitos possuem governos ditatoriais, outros

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tantos são anarquias. Existem seres muito poderosos em todos os lugares e reis comegos inflados. A mente humana tem mania de grandeza e os frutos dela não poderiamser diferente. O líder de cada raça é, geralmente, o representante mais poderoso dela,sendo considerado rei ou rainha em sua ilha. Nenhum deles é um bom alvo para sevirar contra. Nem mesmo um rei ousaria enfrentar outro líder.

Sete reinos se juntaram e estabeleceram embaixadas na ilha de Omni, ondequalquer raça pode transitar livremente, fazer negócios, estabelecer tratados, etc. Sãoeles: o Reino dos Vampiros, da ilha Castel; o Reino dos Heróis, da ilha Victory; oReino dos Dragões, da ilha de Drakônia; o Reino dos Magos, da Ilha Maha; o Reinodos Humanos, da Ilha de Omni; o Reino das Máquinas da Ilha de Babbage; e oReino dos Inominados, da ilha Aequum. Somos conhecidos como “Os Sete”, aquelesque governam os demais reinos e os únicos conhecedores da verdade. Evidentementeexistem aqueles que não seguem nossas regras. Porém, não estamos preocupados comisso. Mesmo que uma rebelião seja pouco provável, é necessário muita coragem emuito poder para enfrentar os sete governantes. Eu sou o representante dos Magos elíder dos Sete.

Antes de conhecer minha jornada, existem mais duas coisas que você precisasaber. A primeira delas é entender como vocês nos afetam. Os piores momentos aquino Imag são quando vocês estão em paz. O ser humano vive uma dicotomia: emtempos de paz, pensam bastante em guerras e catástrofes; já, em meio ao sofrimento enas guerras, pensam em esperança, heroísmo e na paz. Confesso que suas insatisfaçõese incoerências no modo de viver me intrigam.

Como quase toda regra tem sua exceção, um terrível momento para vocêstambém foi terrível para nós. O ano foi 1945, últimos meses da Segunda GuerraMundial. O horror que vocês vivenciaram aí, em seu mundo, criou aqui, em Imag, umhorror que nos assombrou e ainda nos assombra de maneiras inomináveis. Os Kurai,da ilha Roku, são fruto da mente das milhares de pessoas que sofreram os horroresdessa época.

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Familiares e amigos que viram seus parentes e entes queridos perderem a vida nocampo de batalha e fora dele; pessoas que ficaram indignadas; destruídas; semesperança; esvaziadas de todos os sentimentos, exceto os de dor e tristeza. Um ódioardia em seus corações.

Tanta dor e ódio criou algo que não deveria existir; algo que dificilmente serásuperado em índice de maldade. Uma raça inteira surgiu, totalmente nova, igualmentemaligna e incondicionalmente perigosa. O reino dos Kurai trouxe, não um, mas trêsnovos reis para Imag: rei Nusumu, o ladrão; rei Korosu, a morte; e rainha Hakai, adestruição. Esse é um dos motivos pelo qual quebrei minha maior regra.

Mas existe uma prisão para todos os que perturbam a paz e a ordem: as minhascartas. Este é o meu poder. Sou capaz de aprisionar qualquer ser em um confinamentoeterno. Por esse motivo sou chamado de Rei das Cartas.

O custo para se aprisionar uma vida é outra vida. Eu preciso de duas almas decada vez. Uma é a do alvo principal, e a outra é a fonte de energia que preciso paraprender a primeira: a bateria para consolidar a magia. É uma técnica efetiva. Uma vezque o objetivo primário da minha carta é definido, tenho apenas 10 segundos paraabater o segundo alvo. Jamais falhei. Para mim é uma honra inigualável poder manterImag a salvo e tenho certeza que você concordará comigo.

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UM DIA ENSOLARADO DE JUSTIÇA

Três de agosto de 1945, ilha Victory:— Apolo, quantas vezes já pedi para você colocar um pouco de legumes na

comida? Desse jeito o Bellator vai crescer mal acostumado, como você. — Amandafalou enquanto sentava-se à mesa.

— O pai sempre faz isso, principalmente quando a senhora não está em casa. —falou rapidamente Kiara, antes que seu pai pudesse dizer qualquer coisa.

Kiara era a filha mais velha do casal. Aos 17 anos era muito bonita e inteligente,um orgulho para toda a família. Sempre estudou bastante e era muito esforçada. Seuscabelos eram negros, iguais aos do pai; longos iguais aos da mãe, alcançavam a cintura.Tinha os olhos verdes e seu poder era a velocidade. Todos os moradores de Victorysão heróis, seres com algum, ou alguns, tipos de poderes. Isso variava entre cada umdeles. Kiara chegava a alcançar a velocidade do som no ar, pouco mais de 340 metrospor segundo. Por incontáveis vezes quebrou as janelas dos vizinhos ao voltar correndopara casa sempre que se preocupava com seus pais, ou seu irmão mais novo.

— Se vocês mulheres fossem sempre tão unidas assim, já teriam dominado omundo. Para quê comer tantas coisas verdes, não gosto muito dessa cor. Existemcomprimidos com todas as vitaminas. — Retrucou Apolo enquanto colocava umpedaço de carne na boca, um pedaço tão grande que as bochechas inflaram. Aomesmo tempo, Bellator entra na cozinha.

— Pai, hoje é o grande dia certo? Não vejo a hora de vencer outra luta notreinamento. Claro, também não vejo a hora de visitar Prince, meu primo favorito.Vamos agora, vamos rápido… — Amanda fez um olhar fulminante que todo homemconhece, ou deveria conhecer. Apolo estremeceu. Nem mesmo o poderoso rei deVictory conseguiria encarar de volta. Depressa ele coloca um pedaço de alface na boca.

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— Calma, filho. Vamos acabar de almoçar primeiro. Aproveite e coloquebastante alface. Isso é importante para todo herói. — Apolo fez força para engolir. Elesentiu cada músculo da garganta gritando para empurrar o alimento pra baixo.Sempre teve repulsa por vegetais, mas Amanda não deveria ser contrariada. Ainda quevegetais fizessem mal a saúde e ele pudesse se justificar, não desafiaria sua esposa,muito menos agora.

Bellator acabou a refeição enquanto debochava do fato de sua irmã estarnamorando. Apolo não recebeu bem a notícia, era um pai ciumento. Todos comeram ebeberam, como um típico dia em família.

Após o almoço, Kiara saiu para estudar com as amigas. A dissertação demestrado dela envolvia soluções para diminuir a quantidade de mortes causadas pelosmegatsunamis que são geradas sempre que uma nova ilha surge em Imag.

Novas ilhas surgem, normalmente, emergindo do fundo do oceano emovimentam uma enorme massa de água. Isso provoca as enormes ondas que matam,todos os anos, mais do que, até mesmo, as guerras (que por sinal são numerosas emImag). Principalmente nas ilhas onde as populações possuem poderes simples, ounenhum poder especial.

Embora todas as ilhas de Imag possuam praias, todas elas, sem exceção, possuemcontenções para minimizar o dano das ondas. Em diversos casos foi necessária aintervenção de seres de poderosas habilidades para evitar a destruição de ilhas. Emraríssimas ocasiões uma ilha surge embaixo de outra, destruindo-a completamente.

Amanda não tinha poder algum, era uma humana de Omni que se apaixonou ecasou com o rei. Ela então foi convidada para morar em Victory. Vivia sempre com ocoração apertado. Toda a sua família tinha algum poder especial, mas o mundo eraperigoso demais. Existiam muitas ilhas com seres medonhos e muito poderosos. Suasegurança estava em seu marido, membro dos Sete.

Apolo jamais havia perdido uma luta “pra valer” e sempre teve uma boa relaçãocom as outras ilhas. Tinha poderosos aliados, incluindo o Rei das Cartas em pessoa. Orei de Victory o considerava um irmão. “Não há motivos para se preocupar”, era o que

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Amanda sempre repetia para si mesma. Após a refeição, se despediu do seu esposo ede seu garoto.

Apolo e seu filho saíram para treinar, cumprindo com a mesma rotina desde queBellator tinha 8 anos. Atualmente com 15, o jovem treina para um dia tentar ser rei,como seu pai. Tor, como é carinhosamente chamado por seus pais, já manifestou trêspoderes: super força, super resistência e capacidade de voar, mas ainda estava longe deseu pai que conta com oito, incluindo a invisibilidade, super velocidade, sentidosaguçados, fator de cura e manipulação das chamas. O rei anterior tinha cinco poderes.

Enquanto se deslocavam até o aeroporto para pegar um avião com destino àOmni, pai e filho contemplavam a beleza de Victory e as pessoas que ali viviam. Nãoera permitida a utilização de poderes e magias para se deslocar de uma ilha para outra.Os Sete fizeram a proibição pensando na segurança mundial. Ficava mais fácil saberos seres que circulavam e por onde circulavam. Um filtro mágico também foi erguidonas fronteiras de cada reino. Ele era responsável por verificar quem entrava ou saia dailha.

Embora muito menor que Omni, Victory era a ilha mais povoada de todas.Apenas Apolo sabia que a ilha era, inicialmente, fruto da imaginação da populaçãodos Estados Unidos da América, nação que deu vida a muitos heróis. Mais adianteinspirou outras nações a fazerem o mesmo. Não que a humanidade não pensasse emheróis antes dos EUA, mas esta nação o fez em um nível completamente diferente. Oconceito de herói é tão contagiante que milhares de novos heróis surgem em Victory acada segundo. É misterioso o fato de caberem tantos.

A única vegetação da ilha era encontrada na praia, isso quando um megatsunaminão destruía tudo. Com uma população composta de pessoas com poderes, haviapouca dependência da natureza e, consequentemente, os heróis não se preocupavammuito com a sua preservação. Por outro lado, via-se máquinas por todos os lugares, osheróis eram fãs da tecnologia, andavam com inúmeros gadgets1. A tecnologia deVictory era o que havia de melhor, importada diretamente de Babbage, numa parceria

1 Gadgets significa, de modo geral, aparelhos, engenhocas, dispositivos e/ou apetrechos tecnológicos.

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que já durava 3 anos. Os avanços tecnológicos surgem primeiro em Imag, antes até doque no mundo humano. Os seres humanos sempre pensam primeiro e idealizam asinvenções antes de começarem a trabalhar nelas. Além disso, a humanidade tambémidealizou seres muito inteligentes. Estes seres estão espalhados por várias ilhas deImag e são capazes de criar coisas fantásticas.

Mesmo sem a beleza da natureza, contemplar a engenharia e os inúmerosarranha-céus de Victory era de encher os olhos. Proezas eram realizadas aos montes:pessoas construindo casas com as próprias mãos, levantando grandes blocos deconcreto; pessoas voando para ir ao trabalho; garotos tentando espiar garotas; garotasutilizando poderes para afastar os mais assanhados; pessoas sendo salvas… E o curiosoé que mesmo em um lugar repleto de heróis, o índice de criminalidade, porém, não erabaixo. Em uma ilha como essa, era de se esperar que vilões também fossem comuns.Muitos deles, quando derrotados, eram enviados para se encontrarem com o Rei dasCartas para terem seus destinos selados.

Apolo era muito querido, por onde passava era cumprimentado. Seu filhotambém respondia aos carinhos com bastante cordialidade e simpatia. Apesar dapouca idade, Bellator era bastante maduro, sabia que o modelo de rei ideal era seu pai,não seu avô Gaius, rei antes de Apolo. Bellator sempre procurou ajudar os mais fracos;sempre defendeu seus colegas de escola que tinham poderes básicos e que serviam debrincadeira para outros alunos, ou sofriam com qualquer tipo de bullying2.

Assim como seu pai fez uma parceria com o Reino das Máquinas, o sonho deTor era fazer uma parceria com os Inominados, seres que fazem parte de um reino queainda sofre muito preconceito por parte das outras ilhas. O filho do rei entendia quenão era por não concordar com certas práticas, ou por que certas coisas eramdiferentes, que ele deveria condená-las. “Respeito e justiça”, esse era seu lema; Atémesmo pelos seus inimigos, de algum modo.

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2 Bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos causando dor e angústia.

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Já dentro do avião, Apolo observava as nuvens imaginando como seria bem maisrápido ir voando do lado de fora, mas, como membro dos Sete, tinha que dar oexemplo. Deixaria para discutir sobre esta regra com os outros membros depois. Nomomento, precisava pensar sobre o treinamento do seu filho. Hoje era um dia especial.Uma vez por ano Bellator enfrentava Prince em um duelo de avaliação de evolução. Aprimeira luta de Bellator foi aos 11 anos, esta seria sua quinta luta e o placar estavafavorável a ele: 4 vitórias.

— Filho, é provável que o Prince tenha aprendido algumas magias novas. Talvezaté mesmo algo como manipulação elemental. Me escute bem, muitas batalhas sãodecididas nos momentos iniciais. Se você mostrar superioridade o mais rápidopossível, seu inimigo irá temê-lo. Por isso você deve impressionar e chocar. Inimigosque se sentem inferiores tem maior chance de cometer algum erro em algummomento da luta e nesse momento, você irá finalizá-la. Conhecendo o Prince e seumestre, sabemos que eles são calculistas. Não baixe a guarda, mostre sua força e seuvalor ao seu adversário e ele cairá perante sua grandeza.

Bellator pensou por algum tempo. Ele poderia parar qualquer magia elementalpoderosa, como uma bola de fogo, com as próprias mãos. Deixaria Prince chocado.Quando um inimigo utiliza sua melhor técnica e ela simplesmente não causa nenhumefeito, ele se sentirá derrotado por dentro. Fogo… Imaginou Tor, se ele já souber algorelacionado, será uma luta mais interessante do que nos últimos anos. Não que elas jánão fossem. Por sinal, eram bem empolgantes.

— Farei isso, pai. — Bellator pensou mais um pouco e, de súbito, veio com aseguinte pergunta:

— Por que o senhor não é o rei dos Sete?A mudança brusca do assunto e a pergunta inesperada pegaram Apolo de

surpresa.— O senhor é inteligente. Bateu o recorde de poderes já vistos em um herói.

Nunca perdeu uma luta. Eu acho que o senhor venceria o tio. O senhor treinava comele, certo? — Indagou Tor.

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O Rei das Cartas não era o tio de sangue do Bellator, mas era como se fosse umirmão para Apolo. Os reis se conheciam desde pequenos. As famílias eram muitopróximas. Prince era o único filho do Rei das Cartas, um ano mais novo que Tor.Foram criados como primos dada a proximidade dos pais.

O Rei das Cartas, apesar de inteligente e estrategista, já havia perdido sucessivaspartidas de xadrez para Kiara. Diferentemente dos jogos; em batalhas, duelos econfrontos diretos, era um adversário formidável, um mago de nível superior. Apolonunca conhecera alguém como o Rei. Cada magia que ele dominava estava em umnível máximo de poder. E ainda existiam as cartas...

— Nos enfrentamos 6 vezes. — Apolo começou a responder. — No nossoúltimo duelo eu tinha 4 poderes. Perdi todas as lutas. Seu tio foi eleito Rei pelos Sete.Talvez… talvez por causa dos ideais dele. Imag está sempre em primeiro lugar paraseu tio. Ele é um grande defensor da ordem, além de controlar a prisão. O Rei dasCartas é bastante arrojado, eu diria que até obstinado demais. Não é forma maiscorreta, pelo menos em minha opinião, mas tem funcionado. Acredito que Imag estáem boas mãos.

— As cartas, como ele consegue? — indagou Bellator. Ele já havia perguntadoisso outras vezes, mas nunca ficou convencido das respostas.

— Bem… não sei dizer ao certo. — Apolo foi sincero. — Não se sabe se os seresmorrem antes de serem aprisionados nas cartas. O Rei nunca foi de travar suasbatalhas em equipe. Normalmente saía em missões sozinho e sempre voltava com ascartas contendo seus inimigos. Um inimigo jamais voltou a ser visto após uma lutacom o Rei. Acredito que estejam mortos… Existem criaturas poderosas ali.Dificilmente seriam aprisionadas por muito tempo se estivessem vivas. O TerrorBranco é um exemplo: um dragão que tinha o hálito tão gelado que transformavatudo ao seu redor em peças de gelo. Ele assombrou Imag durante muito tempo, masfoi contido pela majestade. Ninguém ousa questionar a liderança do Rei. Ele temgarantido a segurança do reino.

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— Ele é temido, então. — Bellator se lembrou do seu avô, que também foitemido. Voltou a pensar que não gostaria de ser este tipo de rei, mas um admirado,como seu pai. — Pai, eu vencerei o próximo duelo. — Falou Bellator antes de se virarpara dormir um pouco.

— Tenho certeza que sim, meu filho. — Assentiu Apolo. O rei da ilha Victoryainda relembrou algumas aventuras com o Rei das Cartas. Tantos reinos salvos… Etambém dormiu.

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Ao chegarem em Omni, após 2 dias de viagem, sentiram logo a diferença emrelação à Victory: menos seres circulando. Essa sensação era ampliada pelo fato detudo em Omni ser muito grande; todos os espaços comportavam, facilmente, umgrande conglomerado de pessoas. Em um dos vários espaços vazios encontrava-se oRei e seu filho, Prince, que eram facilmente reconhecidos, mesmo de longe. O Rei dasCartas era uma figura imponente: 1,98 m de altura, corpo atlético, cabelos verdes, nãopenteados e de tamanho médio; olhos roxos (algo incomum); também tinha o quepareciam ser pinturas roxas na face, mas que eram a sua própria pele (outra coisaincomum). Prince muito se parecia, fisicamente, com o pai. Era um ano mais novoque Bellator e tinha quase a mesma altura de seu primo fraterno. Todos se abraçaramcalorosamente.

— Grande Apolo, meu irmão querido. Como estão as duas mulheres da sua vida?— falou o Rei rindo e ainda abraçando Apolo. A diferença de altura entre os dois erade 12 centímetros; Apolo mais baixo, porém com massa muscular mais evidente. ORei das Cartas sempre fazia questão de perguntar por Amanda e por Kiara pelas quaistinha grande apreço; principalmente a sua sobrinha: ele sabia do potencial que amenina tinha. Não era qualquer um que era capaz de vencê-lo em duelos, ainda quefossem jogos.

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— Estão bem, meu Rei. Kiara preferiu não vir, ela está ocupada. Mandou-lhedizer que já não tinha mais graça ganhar de você. — Apolo sempre lembrava ao Reide suas derrotas no xadrez.

— Interessante! Pois diga a ela que eu também jogo Gamão e que ela não teráchance alguma contra mim.

Prince e Bellator, assim como seus pais, tinham uma excelente relação, falaramdos feitos de seus genitores e de como andava a vida em suas respectivas ilhas.

— É hoje que você conhecerá a derrota, aprendi várias coisas e evoluí muitodesde o ano passado.

— Eu imagino, princesinha. — Bellator sabia como debochar de seu amigo.— Você se diverte ao desdenhar de mim, então vamos tornar mais divertido:

vamos apostar.— O que você tem em mente?— Quem perder deve chamar o outro de rei por um ano. O que acha?— Tudo bem, serei rei antes do que esperava. — Bellator riu e deu um soco no

ombro de Prince que sentiu dor, mas ficou calado.Todos foram, então, caminhando até um lugar ali próximo. Tratava-se do Centro

de Duelos de Imag. Como Omni era território livre para todas as raças, todas ascompetições de nível mundial eram realizadas naquele lugar.

O principal esporte de Imag era a luta livre, reis não podiam participar. Cada ilhapodia enviar tantos quantos representantes quisesse. Todos se enfrentariam e ocampeão seria aquele que tivesse o maior número de vitórias. Apolo parou para ver onome do atual campeão quando foram interrompidos por um dragão de 30centímetros.

— Já estávamos impacientes. — A voz do dragão era ouvida direto na mente daspessoas; ela soava como a de um trovão. Era uma voz incompatível com o tamanho doser, que apesar de pequeno, tinha uma aparência assustadora e sábia. É de um tipo decriatura que transmite a certeza de que não devemos nos meter com ela, tão somentepela aparência: medo era a primeira coisa que vinha à mente de qualquer um que visse

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Thrá, rei do Reino dos Dragões. Talvez vocês pensem que não é possível ter medo deum ser tão pequeno, mas existem motivos para tal. Thrá era capaz de seteletransportar e ficar intangível. Pode parecer pouco, mas devido ao seu tamanho issoo tornava uma arma mortal. Ele podia se transportar para dentro de outros seres ematá-los de dentro pra fora com suas rajadas de fogo. Sempre optava pela cabeça, oupelo coração da vítima. A luta mais longa travada por ele teve apenas 4 segundos. Suaslutas sempre resultavam em morte: a do adversário.

— Vamos logo assistir a este empate. — Thrá se teletransportou para a plateia. ORei e Apolo se entreolharam, não haviam empates nos duelos de treinamento.Pensaram em rir, mas se se contiveram. Nunca se meter com um rei, pensaram os dois,ainda mais um dragão, principalmente aquele em específico. Pediram para os garotosse prepararem que logo se prontificaram, rindo e brincando um com o outro. Nemparecia que duelariam.

— Fico triste quando penso que tudo isso, toda essa amizade, tudo o que noscerca.... enfim, que tudo é ilusão, fruto da imaginação de seres humanos. — FalouApolo em um tom melancólico.

— Fale baixo. — Disse o Rei rispidamente. — Neste lugar apenas nós e Thrásabemos disso. Não é assunto para ser tratado aqui. Imagine se as crianças escutam.Além disso, eu já falei um milhão de vezes: nós também pensamos, os humanos nosimaginaram como seres pensantes e autônomos. Tudo o que construímos aqui é real.Por isso devemos evitar, a qualquer custo, contato com os humanos. Se puderem, noscontrolarão. Sinceramente Apolo, não sei mais o que preciso fazer para vocêcompreender isso…

— Tem razão, meu amigo. Eu… eu só queria não estar amarrado, preso a isso.Quando penso em minha família… não queria ser algo imaginado. — O Rei revira osolhos em sinal de impaciência.

— Venha, esqueça isso. Vamos ver o Prince dar uma surra no seu garoto. Nossavirada começa hoje.

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Ao pisarem na arena, o semblante dos meninos mudou, agora eram guerreiros,candidatos aos tronos ocupados por seus pais. O treinamento de checagem deevolução era importante, até mesmo para o perdedor. Avanços deveriam serconstatados em ambos os gladiadores. Um rei sempre evolui, jamais regride ou ficaestagnado. Olhares fixos um no outro. Precisavam apenas aguardar o sinal do Rei.

Prince sabia que este era o seu momento, não podia perder outra vez, seu pai erarei sobre os reis. Ele era filho do Rei das Cartas e tinha aprendido alguns truquesnovos desde o último encontro. Ele queria acabar logo a luta. Diferentemente do seupai, não gostava de lutar, queria viver sem se preocupar com responsabilidades;aproveitar a juventude; conhecer garotas, mas ali estava e não queria decepcionar opatriarca. Tudo o que se passava em sua mente era o dever de finalizar o oponenterapidamente.

“Impressionar e chocar, impressionar e chocar”. Bellator pensava em transe dooutro lado.

O Rei levantou a mão direita. Era o sinal.Prince não perdeu tempo. Bellator viu uma rajada de fogo vindo em alta

velocidade em sua direção. “Bola de fogo”, pensou, e riu por dentro. Seu pai estavacerto. Ele endireitou o corpo, estendeu o braço direito para aparar o disparo comapenas uma mão e, na sequência, a dor o encontrou: ela transformou o riso interior emum grito de sofrimento.

Ao abrir os olhos, viu que, ao menos, havia parado o ataque de fogo. As chamashaviam se dissipado por entre seus dedos. O custo foi a mão queimada e uma dorquase insuportável. Ficou na dúvida se havia gritado na mente, ou se havia gritado deverdade. Olhou de relance para seu pai que esboçava um leve sorriso. Também olhoupara Prince que estava estupefato. Era isso, havia dado certo. “Esqueça a dor”, ordenoua si mesmo. Se colocou em uma posição triunfante e olhou diretamente nos olhos dePrince. Bellator havia vencido seu inimigo emocionalmente, faltava fazê-lo na prática.

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Prince ainda estava atônito, tinha aplicado um ataque poderoso. Treinou um anopara aquele momento, e ali estava seu inimigo de pé, após ter defendido o golpe comuma única mão. “Um ato de zombaria?”, se indagou. Não, um ato de poder. Bellatorvenceria novamente, não teria condições de…

Antes de colocar os pensamentos no lugar, Prince sentiu seu corpo ser agarrado elevantado. Bellator atacava mais uma vez. Com seu poder de voo, ergueu o filho doRei no ar, deu alguns rodopios e o jogou contra o solo com toda a sua força.

Prince atingiu o chão com uma força violenta. Sorte a dele que os combates detreinamento eram envoltos por um conjunto de feitiços que impediam a morte dosgladiadores, mas ele estava perdendo a luta de maneira humilhante e épica. De novo.

Ao olhar para cima, viu Bellator imponente. O jovem victoriano planavalentamente no ar até pousar em frente ao seu inimigo. Ele estendeu a mão para quePrince pudesse levantar-se. O jovem mago ergueu a mão em sinal de que ia aceitar ogesto. Porém, bruscamente, ele levou a mão espalmada ao peito do oponente e, atocontínuo, uma explosão foi liberada de suas mãos.

O barulho causado por ela foi estrondoso. Bellator foi jogado longe até bater emum dos limites da arena. A parte de cima de sua roupa ficara destruída. Princecaminha por entre a nuvem de fumaça deixada com a explosão e vai em direção ao seuadversário. O filho do Rei das Cartas parecia mais confiante; ergueu a mão em direçãoa Tor ainda tentando se levantar.

Bellator sentiu seu corpo ser envolvido por uma força invisível que o jogou para olado. Ele caiu rolando tentando se agarrar às pedras do chão pra vencer a inércia. Torconsegue e salta rapidamente para frente. Apolo se levanta rapidamente do lugar ondeestava sentado assistindo. A batalha começara a mudar de rumo.

O filho do Rei olhou para as próprias mãos surpreso. Até aquele momentoPrince ainda não havia dominado o poder de controle da matéria. Ele havia mostradouma impressionante evolução. Ao olhar para frente novamente, seu primo já estavafinalizando um poderoso soco contra seu rosto.

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Depois de certo tempo conseguiu abrir o olhos e perceber que havia desmaiado eperdido a luta. Achou que tinha ficado “apagado” por alguns minutos, mas forampoucos segundos; Bellator ainda comemorava a vitória: a quinta dele. Pelo menos nãohavia perdido a possibilidade de ser rei, havia evoluído em algo. A única coisa que lhepreocupava no momento era o fato de ter que se referir a seu primo como rei por umano inteiro. “Droga”, pensou.

O Rei das Cartas estava imóvel. Observava pai e filho comemorarem mais umavitória. Em verdade, estava orgulhoso de seu filho, pois controlar a matéria foi umpoder que ele só dominou aos 16 anos. Entretanto, ele deveria manter-se rígido, seufilho havia perdido. Derrota ainda significava derrota. Ele se levanta e caminha até aarena.

— Apolo, eu e você como nos velhos tempos, o que acha? — A pergunta pegoutodos de surpresa. Uma luta entre reis era coisa rara, algo para ser assistido e lembradocom um fervor inominável.

A pequena quantidade de pessoas que assistia ao duelo de treinamento logo setornou uma multidão na arena. Seres entravam em contato com outros seresutilizando telepatia e outras formas de comunicação. Em pouco tempo o Centro deDuelos estava repleto de espectadores.

Apolo olhou ao seu redor e pensou: “Como as notícias voam rápido. Mepergunto se tivéssemos feito uma convocação para ajuda comunitária. Teríamos tantaspresenças? Somos assim por que os humanos são assim?”.

— Está com medo? — Provocou o Rei, rindo.— Aceito. Vamos ver se você aguenta o ritmo. — Assentiu o rei dos heróis.— Desliguem todos os feitiços de proteção da arena. Vamos separar os meninos

dos homens. Não precisamos disso. — Os pedidos do Rei foram atendidos.______________________

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Os lutadores se posicionaram. Uma parede de energia quase transparente seergueu ao redor da arena. Era uma parede utilizada nas competições oficiais eprofissionais. Protegia a plateia contra magias e danos físicos oriundos da batalha.

Dois gigantes estavam prestes a colidir. Na história do Imag, os reis sempreevitaram confronto direto com outros reis. Nas guerras as vitórias eram determinadasquando se subjugava a população de uma ilha e o rei perdia seu reino, ou quando umrei era morto após um ataque em grupo. Ainda assim, ações coletivas e orquestradasnem sempre eram consideradas, pois, mesmo com força grupal, era difícil matar umrei. Mortes aconteceriam dos dois lados. Desde que a história passou a ser registradano Imag, apenas em 3 ocasiões reis se digladiaram diretamente em uma batalha devida ou morte: as Guerras Lendárias, como são conhecidas.

Apolo sabia que, para vencer o Rei, teria que usar toda sua inteligência e todos osseus poderes. “Impressionar e chocar”, pensou. Começaria atacando. O Rei das Cartasnão esperaria.

Um som agudo foi ouvido. Era o sinal do início da luta.Apolo venceu os 10 metros que o separava do Rei tão rápido que pouquíssimos

olhares foram capazes de perceber a movimentação em alta velocidade. Naquela arenaapenas Thrá acompanhou o movimento. O escudo de energia ao redor da arena nemhavia se fechado por completo. O soco atingiu o queixo do Rei com um estrondo quegerou uma onda de choque que quebrou todas as janelas do Centro de Duelos, bemcomo as do aeroporto próximo. Alguns seres que acompanhavam o duelo ficaramtemporariamente surdos. Bellator deu um soco no ar, de alegria. O Rei foi lançadobrutalmente contra o muro de proteção invisível.

O Rei das Cartas caiu em pé, limpou o pequeno filete de sangue quente queescorreu da lateral esquerda de sua boca e sorriu para Apolo. Se ele não tivesseenvolvido seu corpo com um escudo mágico, não estaria mais com a cabeça presa aopescoço. “Uma luta de verdade depois de um bom tempo… Até que enfim!”, pensou.

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O Rei se elevou alguns metros do chão, levitando. Apolo passou a correr em altavelocidade, com o objetivo de dificultar a visão do inimigo, mas o Rei via tudo. Seusolhos emanavam um leve tom verde: “O Olho que tudo vê”.

O Rei agora sabia a velocidade, a aceleração, as últimas trajetórias executadas porApolo, bem como as previstas. O olho também era capaz de calcular a força dosgolpes aplicados e avaliar os riscos. Seria menos danoso levar um soco da mão direita,ou um chute com a perna esquerda? O olho calculava tudo, além de se adaptar.

Apolo se aproximava novamente para mais uma investida. O soco passouraspando a face esquerda do Rei. Dessa vez foi o rei de Victory que sentiu umimpacto: uma explosão cinética ao lado do seu rosto. Ele recuou atordoado. Quemcomemorava agora era Prince.

Apolo sentiu que o mago estava mais rápido. Não, ele quem estava mais lento.Uma magia da lentidão. “Droga”, pensou. Teria que agir rápido, sua velocidade iriadiminuir cada vez mais depressa, juntamente com sua força. O mago atacava agoracom uma série de socos. Para cada um que o herói desviava, o próximo ficava maisdifícil. Nunca vira um mago lutando corpo a corpo daquela maneira. Tentou levantarvoo e sentiu uma força agarrando suas pernas, impedindo-o de se elevar e puxando-opara baixo.

O rei de Maha olhava-o fixadamente. “Não adiantaria ficar invisível”, Apolorefletiu; o maheano devia estar usando algum poder especial nos olhos. Assim comodas últimas vezes, o mago se demonstrava um adversário quase impossível de sevencer. Tentaria causar o máximo de dano no oponente. Reparou que estava roxo nolocal onde havia batido no Rei. Se aproveitaria disso. O herói, então, considerando adistância que o Rei das Cartas mantinha, decidiu desferir uma rajada poderosa defogo.

O victoriano, ainda preso pela força invisível, inverteu a direção do voo, seaproveitando do empuxo gerado pelo poder do mago. Suas mãos se envolveram emchamas reluzentes que foram lançadas em um turbilhão de fogo enorme. “Uma coisa é

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certa, ele vai precisar de muitos cuidados esta noite”. Supôs, Apolo. O Rei das Cartas,em resposta, soltou o herói e contra-atacou com um turbilhão de fogo esverdeado.

As duas rajadas se chocaram no meio do caminho e criaram um showpirotécnico para quem assistia. A nuvem de fogo vermelha e verde se uniu e sedissipou aos poucos. Das chamas saiu Apolo rapidamente e impôs ao Rei um novosoco no mesmo local outrora acertado.

O Rei das Cartas não ficou nada satisfeito com mais um golpe no rosto. A dorno local intensificou, a cor verde em seus olhos também. O mago jogou suas mãospara trás e depois para frente, em movimento de arco, jogando uma bola de fogoverde. Não era como a bola de fogo do Prince, esta estava no último nível de poder. ORei tinha completo controle sobre o plasma.

A rajada acertou em cheio Apolo, à queima-roupa. Era a vez dele de ser jogadocontra a parede de proteção de energia. Na plateia já haviam apostas organizadas eseres registrando o evento com vários tipos de equipamentos.

Toda a roupa de Apolo virou cinzas. Como todo herói bem preparado, ele usavauma vestimenta especial extra, uma espécie de segunda pele igual à de algunsnadadores e feita de um material ultrarresistente, construído especialmente para oscombates que aconteciam com frequência no Imag. Se não fosse por seu fator de curae alta resistência, dificilmente teria levantado. Teria de se esforçar mais, pelos seuscálculos estava perdendo a luta, havia sido mais atingido do que atingiu. Se levasse ocombate para um nível físico, venceria.

Mais uma investida do rei de Victory. O mago faz o cálculo da trajetória econjura uma espada de fogo verde com a qual ataca o victoriano em um movimentode estocada. Sem ter tempo para desviar, Apolo é obrigado a segurar a espada,prendendo-a entre as palmas de suas mãos. A força que ele fazia para segurar o ataqueera descomunal.

O Rei das Cartas estava rindo, seguro de sua vitória. “Desgraçado”, pensouApolo. “Desgraçado”, falou Apolo. Rapidamente ele tira uma das mãos da espada,passando a segurá-la com apenas uma mão. Os punhos dele são envolvidos por uma

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labareda de fogo, e com a outra mão desfere um poderoso soco no estômago do Reique se ajoelha sem ar. A espada se dissipa. O herói não perde tempo e atinge o queixojá castigado do poderoso mago com uma joelhada. Se a cena fosse vista em câmeralenta, veríamos a face deformada do maheano virar lentamente para o lado a medidaque sangue e suor espirravam no mesmo sentido. “Venci”, pensou o pai de Bellator.

De repente, um redemoinho de vento envolve o Rei das Cartas que se levantasem nenhum arranhão, revigorado.

— Parabéns, você me fará ter que usar 10% de meu poder. Será a primeira vezque farei isto.

“Dez por cento?”. Apolo estava se sentindo pressionado. Seria a técnica de“impressionar e chocar” utilizada contra ele? Como poderia derrotar o Rei revigorado?

Apolo estava cansado e ferido, e sua velocidade já estava comprometida. Nãopoderia deixar o Rei entrar em sua mente. Também se colocou em posição triunfante.

— Finalmente, pensei que estava enfrentando um “cogumelo”, até aliviei nosataques.

O Rei das Cartas não gostou nem um pouco da sátira. — Vamos ver quem é umcogumelo. — Seus olhos ficaram ainda mais verdes. O mago eleva suas mãos, oredemoinho fica ainda mais forte. Apolo sente o solo abaixo de seus pés tremer. Atemperatura começa a cair rapidamente. O herói se questiona se será capaz desuportar o próximo golpe. O Rei possui um leque muito grande de magias, quaisoutras estariam o aguardando? Precisava também de um golpe definitivo, mais umgolpe no queixo com toda a força que ainda tivesse: um golpe que deixará o rei deMaha no chão por um bom tempo.

Apolo se lança ao ar e concentra toda sua força em seu punho; ele avança comtoda sua velocidade, quebrando a magia que restringia seus movimentos. O Rei dasCartas percebe que subestimou a determinação do herói.

O Rei ergue uma barreira de vento, terra e gelo contra o rei de Victory. Por uminstante Apolo trava no ar, com se estivesse impedido de prosseguir, mas sua força de

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vontade é grande demais, e faz com que consiga ganhar cada vez mais velocidade,sobrepujando, aos poucos, o poder do Rei.

O Rei das Cartas sabe que, se fraquejar na sua magia, Apolo será projetadocontra ele com velocidade e força que nem mesmo ele seria capaz de aguentar. Gotasde suor começam a brotar de sua face. O uso de tantas magias começava a mostrar seucusto, principalmente a magia de cura, que sempre exigia bastante da mente doconjurador. O Rei dobrou o joelho. Não seria mais capaz de segurar a magia que oseparava do punho de seu amigo. Ao ver isso, Apolo partiu para o tudo ou nada,mesmo que utilizasse todas as suas forças e precisasse de cuidados depois da luta,venceria seu amigo.

O rei de Victory fez seu último grande esforço, imprimiu ainda mais força evelocidade contra a parede elemental mágica. Era demais para o Rei, sua magia cessa.Muitos viraram os rostos para não ver o soco que o Rei tomou no queixo.

Abrindo os olhos com esforço, o desgastado herói vê o corpo do mago no chão.“Meu filho estava certo”, pensou com alegria, eu realmente poderia ser o rei de Imag.

— O grande Apolo enganado por uma miragem. — Falou o Rei das Cartasenquanto se aproximava por trás de seu oponente; seus olhos verdes; seu passotriunfante; ar exaltado de extrema superioridade.

Apolo olhava para o Rei e depois para o corpo a sua frente, alternando entre osdois. Ficou nesse movimento, confuso, não tinha mais forças para realizar nenhumoutro. O Rei das Cartas colocou um dedo na testa de Apolo e o envolveu em um sonoprofundo. O herói caiu e foi aparado por seu irmão que o deitou no chão. — Lutoubem. — disse em voz baixa.

— Deu empate, uma vitória para cada família. — Falou Thrá.______________________

A multidão aplaudia o Rei. Alguns apostadores amaldiçoavam o nome de Apolo.A notícia havia se espalhado por toda Imag. O acontecimento seria pra semprelembrado, todos os anos no dia 5 de agosto, como “A Fúria dos Reis”.

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O Rei das Cartas havia ganho o respeito de Bellator. O garoto sabia que faltavamuito para chegar no nível de seu pai, imagine no nível do Rei. Com aquele poder elepoderia ajudar muito mais pessoas.

Bellator foi cumprimentar seu tio e dar assistência ao seu pai. Mas, antes quepudesse chegar perto do Rei que estava rodeado de admiradores, sentiu um braçoextremamente forte lhe puxar. Era um Koob, da ilha dos Inominados.

Um Koob era um ser com aparência humanoide; completamente branco; 3 olhosdispostos em uma única fileira, na mesma altura dos olhos humanos. Os braços dessesseres são mais longos e mais fortes do que as pernas. Eles andavam totalmente nus,mas não apresentavam nenhum órgão sexual à mostra. Não existia nada mais forte doque um Koob, nem mesmo um rei com o poder da superforça em nível máximovenceria um deles em uma disputa de força bruta. Este ser foi imaginado por alguém,em algum momento e em algum lugar do mundo humano. Como todos os serespensado ao acaso e sem muitas pessoas para reforçar a sua ideia, os Koob acabaram noreino dos Inominados.

Bellator tentou se soltar, usou toda sua força, mas o ser nem piscou, se é que elepiscava. Uma das mãos do Koob segurava o braço de Tor, e a outra segurava seupescoço. O inominado aparentava tranquilidade, não tinha pressa e agia como seaguardasse alguma instrução. O jovem pensou em gritar e pedir ajuda, ainda que suascordas vocais estivessem travadas pela pressão exercida pela mão do Koob, mas não sepermitiria parecer fraco. O pai já havia perdido uma luta e se o filho ficasse gritandopor socorro, como uma criança indefesa, seria pior para a imagem de Victory.

Ninguém havia percebido a movimentação que acabara de se desenrolar, amultidão ainda estava eufórica com o que haviam acabado de presenciar: unsrelembravam alguns momentos da luta, outros conjecturavam sobre como Apolopoderia ter ganho se tivesse feito isto ou aquilo. Todos ignoravam a situação deBellator, exceto Thrá que olhava de longe, estático como uma rocha. Tor não percebeuque era observado pelo dragão.

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O Koob ainda estava parado. Tor sabia que bastaria que o inominado fechassesuas mãos para ele ter seu fim selado. Para a criatura, seria tão fácil quanto quebrar umfino galho de árvore. O príncipe de Victory sentiu vontade de chorar, lembrou de suairmã, Kiara, e de sua mãe, Amanda. "Será que não as veria nunca mais?"

O jovem príncipe queria ter mais tempo de vida. Sabia que Kiara teria um futurograndioso em Imag. Nunca vira ninguém tão inteligente quanto ela; sempre vencia asdiscussões com o pai e humilhava o Rei das Cartas em qualquer jogo. E a sua mãeAmanda? Nunca precisou de nenhum poder para ter total controle sobre 3 heróis. Foipor seu amor e carinho que Tor descobriu o rei que queria ser. E o seu pai, o rei? Umsímbolo, não só para Bellator. Depois da decepção com o próprio pai, Gaius, será queApolo não veria seu filho ser rei e dar continuidade ao seu reinado? Bellator amavaseu pai, amava sua família. Uma lágrima escorreu pelo canto do olho.

— Prepare-se para morrer, moleque. — Um homem de estatura média seaproximou de Bellator, falando baixinho. Ele estava um pouco nervoso e agitado. Erada ilha dos heróis.

— Vamos saindo rápido, se tentar qualquer coisa meu amigo branco jogaráboliche com a sua cabeça.

— Eu acho que sei quem você é. — Bellator falava com dificuldade. A mão doKoob segurando firme a sua garganta.

— Lógico que você sabe quem sou, pirralho. Trabalhei para seu avô, aquele velhodesgraçado. Por culpa dele, meu filho está morto. Então vou retribuir o favor matandovocê.

— Meu pai o encontrará…— Seu pai poderá fazer o que quiser, mas eu já terei causado a dor que eu mesmo

senti na pele. Além disso, foi ele mesmo quem trouxe você aqui. Eu só estavaaproveitando o momento certo para te pegar. Três reis reunidos… eu sabia que emalgum momento ninguém prestaria atenção em você.

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— E você precisa de um Koob para fazer seu serviço sujo? Me enfrente comoum homem. Que espécie de herói é você? Herói não, vilão. Você será expulso. — Tortentava se soltar a todo custo. Tentativas em vão.

— Você acha que sou tolo? Idiota. Apenas imbecis dão chances aos inimigos.Quero que você sofra bastante e sem nenhuma chance de defesa. Agora vamos, temospouco tempo.

— Bem… pra mim tudo isso só confirma a sua imbecilidade. — O raptor tremeao reconhecer a voz que escutara. “Droga”, pensou.

— O que acha Thrá? — Continuou o Rei das Cartas. O dragão ao seu lado. Osdemais abriam espaço para o que parecia ser mais um evento para apimentar o final datarde.

— Meu Rei, tudo o que quero é vingança. Meu filho já não está mais entre nós.Eu tenho direitos. Este peste morre hoje. E se alguém ousar impedir, o Koob estáautorizado a matar. — O victoriano sequestrador começou a falar, nervoso.

O Rei das Cartas sabia que estava em uma situação delicada. A criatura brancaainda estava com a mão na garganta de Tor. Ninguém seria capaz de superá-lo emforça. Seria necessário um ataque em grupo e, mesmo assim, ainda levariam tempopara dominar o ser; Bellator já estaria morto. Um Koob é um ser totalmentedeterminado a cumprir com seus objetivos. Se ele realmente foi ordenado a matar, sealguém tentasse algo, ele o faria.

— Eu só quero levar o garoto, ninguém mais precisa se machucar. — Finalizou operpetrador.

Thrá poderia matar o Koob, mas não havia feito isso até o momento. O Rei nãopediria, pois ninguém comanda um dragão, principalmente aquele dragão. Ele quemdeveria agir. Só havia uma maneira, e ela consumiria o restante de suas forças. Já haviautilizado bastante magia na luta com seu amigo. “Eu preciso de um alvo, e umabateria”, pensou ele. O Koob será o alvo. Os olhos do mago brilharam forte, um verdeintenso, ainda mais intenso do que das últimas vezes.

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Quando ninguém esperava, surgiram duas cartas brilhantes na frente do Rei.Uma brilhava em amarelo e outra em vermelho forte. A amarela disparou, mais rápidoque a luz, em direção ao Koob e se alojou em seu interior.

10 segundos.O Koob não sentiu nada. Ficou totalmente paralisado. Bellator percebeu que a

criatura tinha perdido todos os movimentos, embora continuasse firme em seupescoço. Havia paralisado.

8 segundos.A carta com brilho vermelho se alojou no herói traidor. Seus olhos eram reflexos

de puro terror. Tinha que fugir dali.7 segundos.O victoriano dá o primeiro passo em uma tentativa desesperada de correr. Dá o

segundo passo…5 segundos.De repente seu corpo é içado ao ar e trazido de volta. O Rei está com as mãos

próximas e erguidas. Olhando nos olhos do traidor, diz:— Você é um covarde. Você não tem direito algum. Sinto muito que tenha

perdido seu filho, mas você está agindo igual ao covarde que o matou. Como rei deMaha e rei de Imag, protetor da ordem e da paz, eu o sentencio a morte.

2 segundos.— Você não tem coragem de fazer isso na frente de tod…O Rei distancia as mãos. O homem é partido ao meio por uma linha vermelha

que começa a emanar uma luz incandescente. Toda a matéria que compõe o corpo docondenado é condensada em um único ponto brilhante que se transforma em umacarta. O mesmo acontece com o Koob em uma implosão com tons amarelados. Outracarta resulta do ser branco. As cartas voam e param nas mãos do mago, que as põe nobolso. “Mais duas para a coleção”, pensou.

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— Mais alguém quer tentar algo? — Indagou o Rei. O silêncio no Centro deDuelos era sepulcral. Uma mulher começa a correr, mas antes que pudesse chegar aum dos portões de saída, seu corpo explode em chamas; da explosão emerge umpequeno dragão: Thrá cuspia jatos de fogo tão quentes que toda a multidão podiasentir o calor.

— Ela estava junto deles. — Falou Thrá a medida que o fogo se dissipava. O Reidas Cartas não fez questionamentos. Thrá era muito observador e sábio.

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Apolo abriu os olhos, olhou pela janela e viu que era noite. Sétima derrota para oRei das Cartas. Primeiro pensou nisso para depois reparar que estava em seu quartona ilha de Victory. Também percebeu que estava completamente restaurado. Não sabiase pelo seu poder de regeneração, ou se pela magia de cura do amigo.

— Pensei que viraria a noite. — Amanda entra no quarto sorrindo; dá um beijosuave nos lábios de seu marido.

— O que perdi? Que dia é hoje? — Questionou o rei ao mesmo tempo em quese levantava.

— Hoje ainda é dia cinco, dei um “jeitinho real” para evitarmos o avião. E vocêperdeu de me ver salvar a vida de seu filho. — O Rei das Cartas também entrava noquarto.

— O quê? Como assim? Por que você não me acordou? — Apolo assume umaameaçadora posição de alerta, sem nenhuma sombra de sorriso. Poucas vezes se via orei daquela maneira, geralmente apenas quando o assunto envolvia sua família. O Reidas Cartas sabia que tinha terminado suas cotas de brincadeira e também falou sério.

— Se eu tivesse lhe acordado, você não teria me deixado ganhar mais duas cartas.— O Rei mostra as cartas para o herói. — Tentaram sequestrar seu filho e matá-lo.Uma vingança contra seu pai. Provavelmente você os teria matado com um únicogolpe de fúria, mas também poderia ser que tivesse colocado tudo a perder. Era seufilho envolvido na situação, e isso causa um certo abalo psicológico. O Bellator lidou

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muito bem com tudo. Foi corajoso. Imprudente, mas corajoso. Poderia ter pedidoajuda, mas tudo que ele quer é ser parecido com você: destemido.

— Não faz sentido, meu pai não se abalaria com a morte de Tor. Ele nem é capazde sentir nada. — Retruca Apolo se referindo ao pai

— Você tem certeza disso? — Indaga o Rei.— Pai, não se preocupe, já vinguei o senhor. Quatro vitórias no gamão e três no

xadrez. Meu tio não melhorou muito. — Kiara também entra no quarto.O Rei das Cartas tira o sorriso do rosto.— Eu deixei você ganhar. Não queria ver minha sobrinha triste. Duvido você me

vencer no pôquer. — O Rei abraça Kiara carinhosamente. — Essa garota vai longe,Apolo e Amanda. Quem sabe até ocupe o meu lugar nos Sete, um dia.

Bellator completa a reunião familiar ao aparecer na porta do quarto. Apolorapidamente o abraça e o beija. Se perdesse um dos filhos, não sabe como viveria.

— Chega de lutas, ameaças e jogos. Vamos todos sentar a mesa e voltar a ser umafamília. Amanhã será um dia mais tranquilo. — Amanda fala animada e expulsa todosdo quarto.

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UM DIA NUBLADO COR DE SANGUE

O dia amanheceu nublado, mas muito aconchegante. Um leve nevoeiro tomavaconta do lugar. Como sempre, Victory estava apinhada de gente e muitomovimentada. Os assuntos do dia eram a derrota do rei Apolo para o Rei das Cartas eo quase sequestro e assassinato de Bellator.

— Eu acho que Apolo perdeu de propósito. Ele queria mostrar a Bellator quenem sempre se vence e que deve se comportar como um herói de verdade até mesmona derrota. — Dizia um.

— Aquilo foi jogo sujo do Rei das Cartas. Ele apanhou bastante. Apolo é melhorguerreiro. — Dizia outro.

Apolo ainda era levado em alta estima pelo povo. Quase todos acreditavam quese a luta fosse pra valer, o resultado seria diferente. Bellator também estava bemfalado.

— Eu teria gritado pedindo ajuda. Ele foi muito corajoso. — Dizia um.— Acho que Bellator não matou seus algozes porque é muito bondoso. Um

futuro rei que será misericordioso. — Dizia outro.Na casa de Apolo, todos finalizavam o café da manhã.— Foi um prazer estar com todos vocês, mas daqui a pouco terei que retornar à

Maha. Tenho duas reuniões importantes lá. Depois irei à Omni para mais trêsreuniões importantes. — O Rei das Cartas falou.

— Tantas coisas aconteceram que não perguntei pelo seu filho. — Amanda fita oRei.

— Ele ficou um pouco envergonhado depois da derrota para Bellator. Não quisvir hoje, ficou em Omni no Palácio dos Sete. Falou que treinaria mais para não medecepcionar novamente.

— Que terrível… Você o consolou, não foi? — Indagou Kiara.

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— Sim e não. Eu falei que eu o amava muito, pois ele era o meu filho. Falei queele jamais me decepcionaria, mas também disse que ele estava treinando para ser rei emuitas pessoas poderão ficar decepcionadas com ele ao longo da vida. Espera-semuito de um líder. Para ser um rei é preciso lidar com isso. Se ele quiser evitardecepcionar tais pessoas e a si mesmo, terá que se esforçar muito para fazer tudoperfeito. Pedi que ele treinasse mais.

— Você se sente assim, pressionado? Foi por isso que matou o Koob e o outrohomem? — Kiara continua a sabatina. Apolo lançou um olhar de “cuidado” para suafilha.

— Viu só? É sobre isto que falo. Talvez você tenha reprovado a minha atitude,afinal eu estava com a situação sob controle, poderia ter poupado a vida daqueles doisinfelizes. Mas eu vivo sob uma filosofia. Acredito que um rei deve fechar todas asportas que levem a algo que pode dar errado no futuro. Se algo puder dar errado, comcerteza dará e aquilo voltará para assombrar você. A melhor hora para fechar a porta équando a primeira oportunidade se apresentar. Nunca esperar que outras portas seabram. Não havia redenção para aqueles dois. Com aquela índole, praticariam algopior no futuro. Eu fechei esta porta. E sempre fecharei todas que surgirem. Tudo porum bem maior. Eu sempre farei de tudo para manter a ordem e a paz de Imag. Bastaum pouco de maldade para pôr tudo a perder.

— Os fins justificam os meios, então? — Kiara insiste.— Sim, os fins justificam os meios. — Finalizou o Rei.— Aquele feitiço que você usou para detectar meus movimentos foi novidade.

— Interrompeu Apolo para tentar amenizar o clima que começava a pesar.— “O Olho que tudo vê”. Desenvolvi essa magia recentemente. Sem ela, acho

que não teria te vencido. Pude prever seus movimentos e os efeitos deles, semdificuldade. Tive como avali...

— Eu discordo do senhor, tio. — Kiara retoma o assunto. Apolo revira os olhosem desaprovação.

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— É impossível conhecer o fim antes dele acontecer. O senhor não sabe se elesvoltariam a praticar maldades, se eles se arrependeriam. Se não sabemos o final, comopodemos justificar qualquer ato? São inúmeras possibilidades. A morte deles foi“conveniente” na medida que eles fossem maus. Mas e se eles fossem bons? Se emalguns dias eles fossem os responsáveis por salvar a vida de várias pessoas, teria a suasolução sido a melhor? E o que significa ser bom ou mau, para o senhor? Seujulgamento é o correto? Como o senhor sabe que está certo?

— Concordo com a Kiara. — Bellator falou.— Eu também. — Era a vez de Amanda.— Você está sozinho nessa, irmão. — Completou Apolo.— Talvez você não seja minha substituta no grupo dos Sete, como pensei antes.

Você não enten…— Sua avaliação sobre mim mudou tão rapidamente. As vidas das pessoas não

podem depender de uma avaliação arbitrária, que varia com o humor e percepções dequem quer que seja.

— Qual a sua suges… — O Rei não finalizou sua pergunta, foi novamenteinterrompido por um som altíssimo que podia ser escutado de todos lugares. O somera conhecido em todo o Imag. Todas as ilhas foram preparadas e equipadas paraemitir aquele mesmo som em caso de tsunami. Uma nova ilha surgia.

Ilhas surgiam o tempo todo, mas, dependendo da distância do surgimento, asenormes ondas poderiam, ou não, alcançar outras ilhas. Aquele grupo não sabianaquele momento, mas o alarme foi disparado em todas as ilhas conhecidas. Não erauma ilha de tamanho dentro dos padrões, era uma de proporções gigantescas quesurgia.

Kiara deu um salto, ela vinha estudando aqueles eventos em seu mestrado. Era achance de pôr algumas teorias em prática, mas não antes de salvar os mais indefesos.Com sua velocidade sônica ela sai à procura de pessoas para ajudar. Bellator copia oato da irmã alçando voo e procurando por lugares onde pudesse ser útil.

— Cuidado, meus filhos. — Amanda já sentia o coração apertar sob o peito.

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O Rei das Cartas e o rei Apolo se deslocaram até o ponto mais alto da ilha parater uma visão do que estava vindo.

— Meu Deus… — Falou Apolo.— Que expressão é essa? Indagou o Rei.— Não sei, me veio à mente. Talvez seja algo que os humanos dizem em uma

situação desesperadora.— Já falei para não falar neles… Enfim, esqueça isso. Eles jamais interferirão no

que existe aqui, não mais do que já estamos acostumados. Eu nunca permitiria. Confieem mim, meu irmão. Preciso que você saiba, eu também matei aqueles dois porque euamo muito meu sobrinho. Não correria o risco daqueles monstros voltarem a tentaralgo contra vocês.

Os dois reis se olham e apertaram as mãos em sinal de respeito, camaradagem ecumplicidade. Já haviam passado por muitas coisas juntos. Esta situação era mais umadelas.

A onda era gigantesca e se chegasse até Victory, seria o fim da ilha. Na verdade,aquela onda era uma ameaça real a várias ilhas. O Rei entrou em contato com oGrupo dos Sete. Recebeu a informação que já havia uma mobilização mundial devários reis se deslocando para ajudar as localidades mais vulneráveis. Devido a atualsituação, o deslocamento entre as ilhas através de outros meios foi permitida, visandomaior velocidade na ajuda.

O mago ficaria em Victory. Assegurou-se que seu filho estaria bem em Omni, noPalácio dos Sete. O palácio era protegido por poderes e magias de vários reis, umafortaleza protegida e impenetrável por qualquer ser ou força da natureza. O Rei dasCartas também estava tranquilo quanta a Maha. Nunca, antes, um tsunami atingiusua ilha. A força dos magos que lá habitam facilitava a defesa do lugar. Garantiu queos melhores magos estivessem na orla para “conter” o evento. Ele ficaria na ilha dosheróis e protegeria sua segunda família.

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O megatsunami que eles estavam vendo era diferente de todos os que haviamvisto ou ouvido falar anteriormente. Era maior, mais volumosa e mais rápida.Potencialmente mais destrutiva. De repente, o chão próximo a eles começou a seelevar. Uma criatura parecia estar se formando a partir da terra.

— Rei Lapis. — Cumprimentou Apolo, seguido do Rei das Cartas que fez umgesto com a cabeça. — É uma honra tê-lo conosco. Suponho que irá nos ajudar. —Continuou o rei de Victory.

— Correto, Apolo. Eu estava dando uma palestra na universidade de Kiaraquando ouvi o barulho. Sua filha solicitou a minha ajuda.

Lapis era um elemental da terra. Os elementais são seres capazes de controlar oselementos da Natureza. Ele era o rei de Natura. Foi ele quem destituiu do poder o reie herói Gaius, pai de Apolo, na III Guerra Lendária. Era um ser muito poderoso,capaz de manipular, ao seu bel prazer, o elemento terra.

Dizem as lendas que, para se tornar rei, ele precisou vencer um Koob emcombate corpo-a-corpo; não se sabe ao certo como ele assumiu a realeza. Seu reino,embora simpático aos ideais de união do Rei das Cartas, ainda não havia criado umaembaixada em Omni, portanto não era acompanhado e regido por regras e leiscomuns aos que faziam parte do grupo dos Sete.

— Ele está aqui para ajudar, pai. — Falou Kiara, diminuindo a velocidade aospoucos.

— Qual a situação, Kiara? — Apolo aumentou a seriedade na voz.— A maioria das criaturas já estão alocadas nos abrigos, mas alguns ainda estão

desgarrados. — Bom trabalho filha.— Escute, tio. Se o senhor utilizar “O Olho que tudo vê” para saber as

características da onda, o rei Lapis poderá provocar, com seu poder, uma outra ondaoposta, de natureza mecânica, com a mesma intensidade e com características que

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anulem o tsunami que se aproxima. Poderia até ser difícil para os seres mais fracos,mas vocês são reis. Se fizerem tudo em sincronia e em equipe, aquilo ali que seaproxima não será um problema para nós.

— Se funcionar, lançarei uma lei para que toda ilha tenha um mago treinado eum elemental da terra capaz de realizar esta façanha. Mas não será algo fácil. Somentehá pouco tempo desenvolvi esta técnica que você sugeriu. Além disso, provocar umabalo sísmico dessa magnitude, capaz de anular uma megatsunami é um feito bastantecomplicado, até mesmo para um rei.

— Como ninguém nunca pensou nisso antes? — Falou Apolo em voz alta.— Provavelmente já pensou, sim. — Respondeu o Rei das Cartas. — No

entanto, existe um péssimo hábito, generalizado, das pessoas só se pronunciaremdepois que alguém lança uma ideia. É muito fácil dizer que já tinha pensado naquiloantes. É fácil falar que era uma ideia óbvia. Quem a diz primeiro recebe todo ocrédito. Quem sai na frente leva vantagem. De nada adianta ficar tendo ideias calado enão fazer nada, ou só se pronunciar depois de alguém que teve a coragem de fazê-loprimeiro. Kiara falou primeiro, por isso criarei a lei terá o seu nome: a Lei Kiara. — ORei dá uma piscada fraterna para sua sobrinha. — Você voltou a subir no meuconceito, quem sabe realmente entrará nos Sete. — Finalizou o Rei, antes de chamaro rei Lapis para irem à praia a fim de colocar a ideia de Kiara em prática.

“O Rei tinha lá seus momentos de sabedoria”, pensou o rei de Victory. Todosforam à praia ver se a ação seria executada com sucesso. Por segurança, boa parte dacosta da ilha havia sido evacuada pelos heróis. O Rei das Cartas estava preparado paraconjurar uma parede telecinética protetora. Seria uma magia que o deixaria maiscansado do que na luta contra Apolo, dado o tamanho da onda que se aproximava.

Os olhos do mago ficaram verdes. A onda era o que se poderia chamar de “mãede todas as ondas”. Depois ele faria uma visita pessoal a esta nova ilha, queriaconhecer a causadora de tamanha proeza, mas isto só poderia ser feito quando o lugarfosse consolidado.

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Toda nova ilha no Imag começa a surgir na medida que os pensamentoshumanos vão se formando. Esse era o período de consolidação. Somente após aimaginação humana enraizar e revigorar aquele pensamento é que a ilha estariacompletamente formada. Isso poderia levar segundos, minutos, horas, dias, semanas…

Nunca uma ilha passou mais de 4 meses para ser formada. Durante o período deconsolidação, a localidade fica envolta por uma barreira intransponível. Apenas oshabitantes nativos conseguem sair e voltar dela. Ninguém de outro reino jamaisconseguiu entrar em uma ilha em formação, nem mesmo reis; e não foi por falta detentativas: o próprio Rei das Cartas tentou entrar em uma que havia se formado háalguns anos. Ao atingir a barreira, foi teletransportado de volta para Maha.

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Já haviam começado a ação conjunta fazia alguns minutos, mas, pelos cálculos doOlho, seria necessário mais tempo para igualar as forças dos eventos e anulá-los. Elesteriam que acelerar o processo. Lapis deveria liberar mais poder. Por outro lado, o reide Natura estava se esforçando para que sua energia se propagasse na direção certa,porque qualquer erro poderia ser catastrófico para a região onde estavam.

Muita concentração e esforço do elemental estavam sendo despendidos. Eleaumentou a sua força. Apolo acompanhava admirando o poder daquele ser. Provocarum maremoto era uma coisa em um nível elevado de dificuldade. Teve dúvidas se seriapáreo para o rei de Natura e entendeu porque encontrou seu pai em um estado dequase morte após a luta contra Lapis. Foi a Guerra Lendária mais rápida dentre asque ocorreram.

Mais alguns minutos se passaram e a onda que avançava contra eles começou aperder força e magnitude. Quando atingiu a praia, tinha poucos metros de altura. Aonda não foi párea para os sistemas de proteção impetrado pelos reis. A missão foi umsucesso. O elemental estava mais poderoso – quanto mais tempo passam com oelemento que dominam, mais poder adquirem.

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Todos comemoraram, mas também se entristeceram com as notícias de outrasilhas. Não eram nada animadoras. Quatro ilhas deixaram de existir. Apolo imaginouque os seres daquelas ilhas tinham poucos ou nenhum humano pensando neles. Seushabitantes não tiveram poder suficiente para sobreviver. Provavelmente ninguém maispensava nesses tipos de seres, não agora. Ao todo, 345.000 mortes foram confirmadasconsiderando as 33 ilhas atingidas pela onda, outras mortes ainda estavam sendocontabilizadas. Apenas 7 ilhas não sofreram danos nem perdas; justamente as ilhascujos reinos faziam parte do Grupo dos Sete. “Quem sabe agora as outras ilhas nosvalorizem mais… Nós somos bons defensores. Eu sou um bom rei”, pensou o Rei dasCartas.

Roku era o nome da ilha que acabara de surgir. Não estava consolidada ainda,mas já se sabia que ela só perdia para Omni em tamanho. Ninguém nunca entendeuao certo como isso era possível ou como funcionava, mas o nome de cada ilha quesurgia era aprendido instantaneamente por todos os seres de Imag.

— Roku. — Falou em voz alta o Rei das Cartas enquanto levitava e a fitava delonge.

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Naquela mesma tarde Lapis estava de volta a Natura. Ao entrar em sua morada,no interior de uma montanha, percebeu que não havia ninguém por lá, nem mesmo osKoob que guardavam seus aposentos. Um Koob não deixaria seu posto. A situaçãoestava muito estranha.

De repente, o elemental começou a sentir a temperatura do local subirsubitamente, um calor que nunca havia sentido antes, nem mesmo diante de Firak, oelemental do fogo mais poderoso que ele conhecia. Alguém estava na sala com ele.Não era amigo, era uma presença ameaçadora, inimiga, maligna. Lapis teve medo, masera um rei. De repente, uma voz ríspida e quase falha profere:

— Eu sou Nusumu. Nós viemos para roubar, matar e destruir.

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Lapis toca o chão rapidamente e forma uma lápide de pedra em torno do Kurai.Permanece com a mão no chão utilizando toda a sua força para manter a prisãorochosa em torno do inimigo.

O calor emanado pela criatura cria fissuras de calor na prisão criada por Lapis. Alápide começa a se desfazer.

— Ajoelhe-se agora e será poupado. Tente algo diferente e morra.Lapis se coloca em posição de combate e avança sobre a criatura. Um verdadeiro

tanque de guerra se deslocando com força total. Desfere seu soco mais forte. Omesmo soco que havia finalizado a luta contra Gaius tempos atrás. Seu braço começaa entrar em combustão pelo simples fato de se aproximar do o corpo do monstro.

Ele se ajoelha por causa da dor.Nusumu caminha em sua direção e o agarra pelo pescoço, erguendo-o no ar.

Lapis estava sem reação contra aquele ser, havia encontrado seu fim. O único gestoque consegue fazer é abrir os braços. O monstro não entende aquele ato, mas gargalhae sente prazer na dor do elemental.

Após subjugar o oponente e ato claro de sua rendição, Nusumu segura a suacabeça com as duas mãos. A temperatura em volta do pescoço de Lapis aumenta e, aospoucos, a cabeça de Lapis vai sendo tomada por fissuras vermelhas, como o caminhode larvas de um vulcão passando por entre pedras.

Sem esperanças Lapis brada um último grito. O gigante morre. Das sombrasaparecem outras duas criaturas semelhantes a primeira. Esses eram Korosu e Hakai.

— Te mataríamos de todo jeito, mesmo que tivesse se ajoelhado no início. —Falaram os 3 ao mesmo tempo. Do chão saem 3 lacaios de fogo que somem com osrestos de Lapis. Eram os ajudantes dos Kurai, um ajudante para cada um deles. Noentanto, de repente eles escutam um barulho estrondoso. A caverna na montanhaestava ruindo. Em seu último esforço, abrindo seus braços, o rei de Natura fizera oteto da caverna desmoronar na tentativa de selar o túmulo daqueles monstros.

— Isso não nos deterá…______________________

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No dia 7 de agosto os Sete estavam reunidos. Discursavam sobre a nova eestranha ilha que havia surgido no dia anterior. Quem falava era Callidora, rainha dosVampiros. Era muito bela e possuía um inconfundível ar sedutor. Não era o tipo“modelo magra” que era comum de se ver. Alguns a consideravam uma belezafeminina incomparável daquele mundo. Mesmo assim, o que fazia os homens suspirarpor ela era a sua inteligência, simpatia, determinação e o respeito pelo qual tratavatodos os seres. Ela sabia que era poderosa, mas não se aproveitava disso. Era uma dascriaturas mais antigas do Imag.

— Todas as ilhas que sofreram danos já estão sendo reparadas. Tudo estaráfinalizado até amanhã. Agradecemos a ajuda dos heróis de Victory que sempreofereceram a mão de obra necessária para que as ações fossem finalizadas em temporecorde. Precisamos levantar recursos para implementação da Lei Kiara. Magos eElementais da Terra precisam ser treinados pelos melhores de cada raça. Isso custarámuito, mas, com certeza, vidas serão poupadas. Me orgulha muito que mais umamulher se destaque na nossa sociedade. Devemos trazer Kiara aqui para conversarconosco. Ela deve ter ideias boas que poderiam nos ajudar. — Ela dá uma leve piscadapara Apolo, que se mexe incomodado em sua cadeira.

— Nós estamos criando uma tecnologia que nos permitirá entrar e sair a horaque quisermos de uma ilha em formação. — Falou Vagro, rei das máquinas. Era umrobô com aparência humanoide. Muitas criaturas de Imag tinham essa aparência.Apolo imaginava que os humanos criavam criaturas fantásticas em sua mente, mas,muitas vezes mantendo a proximidade com sua própria imagem.

— Essa tecnologia seria muito bem utilizada por nós e nos daria inúmerasopções de ação. Me indago sobre o que os seres humanos imaginaram agora. Por queuma ilha tão grande? Só pode ser coisa sórdida ou maluca. — Agora era a vez deCuro, rei dos Inominados, falar. Curo era um palito gigante que voava e falava. O Reidas Cartas se incomodou com a citação dos humanos. Nem mesmo ali, onde todossabiam da verdade, ele gostava de tocar no assunto.

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— Assim você nos ofende. — Marlos, rei dos humanos e de Omni, falava. —Tudo bem que uma vez ou outra surge algo estranho, mas humanos pensam emmuitas coisas boas também. Sei que não temos relação com os humanos reais, massomos projeções deles, entendemos como as mentes deles funcionam. Acho que vocêsinominados são muito sensíveis por serem diferentes de todo mundo e sempre culpamos humanos. — O rei dos humanos era o único rei que não era temido por ninguém,nem contava com poder algum.

— Você está ofendido? Você está ofendido? Nós em quem somos ofendidosdiariamente. É por conta dos humanos que existe tanta discriminação. Vocês criaramo preconceito. Condenam tudo que é diferente. Só pensam em maluquices e nemconseguem lidar com isso. — Curo retrucou rapidamente (aos humanos de Imag eramimputadas culpas por conta dos pensamentos dos humanos de seu mundo, muitoembora não houvesse relação).

— Senhores, quantas vezes já pedi para não falarem neste assunto? Nós somosseres pensantes, temos nossas vidas aqui, somos reais. No dia que essa história vazar ealguém conseguir um efetivo contato com um humano, aí sim é que tudo estariaperdido. Seríamos controlados e nossas vontades não seriam mais nossas. As paredestêm ouvidos. Nunca, jamais, vocês devem discutir isso, nem aqui, nem em lugar algum.— O Rei das Cartas falou em tom áspero.

Apolo nunca gostou das reuniões dos Sete. Em vários casos era muita conversa epouca ação. Imaginava se seria assim também no mundo dos humanos. Se osgovernantes faziam tantas reuniões com poucos efeitos práticos.

Heróis gostavam de ação, mas as funções faziam parte da vida. Ele era um rei. Seele não participasse e cumprisse com a agenda inerente ao seu cargo, entregaria asdecisões de mãos beijadas para aqueles que só querem o poder e as vantagensindividuais. Queria ser um cidadão em seu sentido pleno. Queria poder exercer seusdeveres e direitos para com toda Imag. Quer ser um exemplo para Tor.

— Concordo com o Rei das Cartas, embora muitas vezes eu mesmo falhe nesseponto. Temos que evitar falar no assunto dos humanos — Apolo olhou para o Rei, em

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apoio. Na sequência se dirigiu a Callidora. — Obrigado pelo convite à minha filha.Tenho muito orgulho dela e sei que Kiara faria toda a diferença se estivesse aqui. Seráum prazer trazê-la para conversar conosco. Lembrem-se de que ela não sabe sobre oassunto que devemos evitar. — Em seguida Apolo se dirige a Vagro. — Quãoeficiente é esta tecnologia no estágio atual? Estou um pouco temeroso sobre o queesta nova ilha tem a trazer para nós. Acredito que essa é nossa prioridade agora.Quanto antes tivermos contato com eles, melhor. Se for uma raça hostil, poderemostratar do problema cedo. E se for uma raça amigável, poderemos convidá-la paranosso grupo. Temos que saber se o segredo que guardamos será compartilhado comtodos os reis que se aliarem a nossa parceria, ou se apenas nós sete saberemos disso atéque a morte nos leve. — Finalmente o herói se dirige aos reis dos humanos e dosinominados. — Senhores reis, com todo respeito, ficar brigando por coisa tãopequena? Curo, seja paciente. Marlos não tem nada a ver com a imaginação dosoutros humanos. Marlos, você mesmo foi preconceituoso em sua fala. Não me espantaa reação dos inominados, seja cauteloso com suas palavras. Pessoal, vamos nosconcentrar em resolver nossos problemas e não criá-los. Nossa posição é importante,somos representantes de nossos povos. Devemos a eles o melhor que pudermosoferecer. Onde está Thrá?

— Também estou sentindo sua ausência. — Respondeu o Rei das Cartas. — Issonão costuma acontecer. Estranhamente também recebi a informação que o rei Lapisdesapareceu. Mandarei um emissário à Natura para localizar o rei e indagá-lo sobre adisponibilidade de elementais da terra na implantação da nova lei.

A reunião continuou por mais algumas horas até encontrar seu fim. ______________________

Após sobrevoar algumas vezes a ilha de Roku, o pequeno dragão pousa emDrakônia. Aos reis havia sido permitido o uso de magias e poderes para trafegar entreilhas, pelo menos durante o período do surgimento de Roku. A concessão às criaturas

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que não faziam parte da realeza expirou após a passagem do tsunami. O objetivo daautorização era a avaliação e estudo da nova e descomunal ilha.

Drakônia era riquíssima em vegetação. Praticamente um local pré-histórico,intocado por outros seres não-dragões. Era considerado o local mais perigoso em todaImag, até agora. Diversos tipos de dragões, de todos os tamanhos e cores possíveis,podiam ser vistos voando e ao solo.

O último rei de Drakônia foi o Terror Branco, o segundo maior dragão da ilha.Foi um rei temido e odiado por todos os cantos. Só foi detido depois do esforçoconjunto dos Sete e a utilização das cartas do rei mago. Thrá estava ali para falar comseu rival, o maior dragão do reino dos dragões. Tempos atrás, haviam disputado otrono depois da morte do Terror Branco. Queria conversar sobre Roku. Não seria umaconversa fácil, sob vários aspectos.

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Longe dali, na casa de Apolo, Bellator recebia a visita de seu melhor amigo,Prince. A amizade regada de rivalidade entre os jovens aumentava todos os dias.

— Meu pai não para mais em casa. Ele está sempre participando de reuniões,principalmente depois dessa ilha gigante e idiota aparecer Eu queria conversar comele. Eu não queria ser rei. Sempre que vou dizer isso, acabo falando o contrário, faloque vou treinar mais para que ele se orgulhe de mim. Tenho medo de como elereagirá.

— Eu percebi isso após a nossa luta, Prince. Você não foi nos visitar depois denosso duelo. Você nunca deixou de ir à Victory, por nada. Seu pai disse que você falouem não decepcioná-lo. Acho que você fez um teste com ele. Queria saber a reação delee como ele se sentiria caso você o decepcionasse, mas não pela derrota, e sim caso vocêo contasse seus sentimentos reais. Esperei que você me contasse quando estivessepronto.

— Você já sabia? Você realmente será um ótimo rei. Não tenho esta pretensão.

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— Diga isso a ele, Prince. Seu pai te ama. Você sabe disso. Lembre-se de… —Bellator para, pensa, não sabe se prossegue, mas resolve continuar. — … de como elereagiu quando aconteceu aquilo envolvendo a sua mãe. — Arrependeu-seimediatamente após ter finalizado a frase. Felizmente Prince pareceu não seincomodar.

— Não, não direi. Não terei coragem. Ele não merece essa decepção, talvezquando essa fase conturbada passar. Darei um motivo de orgulho para ele, um grandemotivo. Aí sim direi. Isso minimizará a tristeza dele. Como era com seu avô? —Questionou Prince. — Ele também não tinha muito tempo para conversar, não era? Esempre lhe cobrava bastante, a você e ao seu pai.

— Eu… eu não… não conversava com ele…Os garotos passaram alguns minutos calados. Bellator percebeu, após um silêncio

reflexivo e longo, que a conversa havia terminado.______________________

Durante a noite, Amanda e Kiara voltavam de uma corrida costumeira. Kiarafazia questão de ir devagar para acompanhar sua mãe.

— O pai me mandou uma mensagem hoje. Disse que os Sete querem meconhecer. A própria Callidora fez a solicitação. Admiro ela desde pequena. Tãodestemida. Tão poderosa. Ela venceu a I Guerra Lendária. Muito bonita e admiradapor muitos homens. Ela não depende de um homem para tomar suas própriasdecisões. No entanto, eu gostaria de encontrar alguém como a senhora encontrou opapai. Eu gostaria de alguém que me amasse, me respeitasse. Alguém que me apoiassee me ajudasse a tornar o mundo um lugar melhor.

Amanda estava um pouco incomodada. Uma sensação estranha atormentava seucoração. Sua intuição lhe alfinetava dizendo que havia algo errado, ela só não sabia oque era. Procurou conversar com sua filha e esquecer aquele sentimento.

— Você e seu irmão com essa mania de tornar o mundo um lugar melhor.Influência de seu pai. E de seu avô também. Vocês querem ser tudo o que seu pai é e o

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que seu avô não foi. Quanto a Callidora, eu não acho ela tudo isso que você falou.Você é muito mais bonita e inteligente. Além disso, muito poder as vezes atrapalha.Não vou muito com a cara da Callidora, eu acho… — Amanda não terminou.

— Acha o quê, mãe?— Deixa pra lá. — Amanda preferiu não falar o que pensava.Perto dali, Nusumu observava a conversa entre mãe e filha. — Nós viemos para

roubar, matar e destruir. — Murmurou baixinho.______________________

No dia 8 de agosto a rotina de Imag parecia ter voltado ao normal. Os Setecontinuavam em suas investigações a respeito da ilha. Entretanto, no dia 9, umaexplosão ocorreu em Roku. Lava e pedras incandescentes foram lançadas ao ar. Novostsunamis foram detectados, porém não fortes o suficiente para causar problemas.Depois que a fumaça se dissipou, viram que a ilha estava consolidada. O Rei dasCartas, Apolo, Callidora e Curo foram fazer uma visita.

A primeira coisa perceptível na ilha era seu calor intenso. “O Olho que tudo vê”mostrava que a ilha irradiava uma energia do solo. A magia de escudo do Rei dasCartas, e a alta resistência e o fator de cura de Apolo os protegiam. Callidora era umavampira anciã, havia dominado até o sol. Para ela, aquilo era nada. Quanto a Curo, eleera um palito gigante que voava e falava, pouco importava o calor.

O primeiro que pôs os pés na ilha foi o Rei das Cartas. Ao fazer isso, umacriatura medonha o agarrou por trás e mordeu seu ombro direito. Callidora agarrou oser com uma das mãos, puxou-o para si, mordeu seu pescoço, arrancou um pedaço decarne fétida, cuspiu e jogou o corpo morto da criatura ao chão. O Rei não ficou feridocom o ataque, sua magia era poderosa.

— Isso é que é uma mordida de verdade. Aprenda. — Falou, olhando para acriatura morta. A vampira usava uma roupa provocante, mas isso não a impedia de seramedrontadora.

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Um outro ser surgiu de um buraco no chão e tentou atacar Apolo. Curo secolocou em posição de uma lança que fora arremessada contra o inimigo. Eleatravessou o ser em uma perfuração limpa e perfeita. A criatura caiu ao chão com umburaco em seu abdômen.

Milhares de seres surgiram, à distância, todos correndo na direção deles; todosgrunhindo e falando coisas ininteligíveis. Eram exatamente três mil, quinhentos equarenta e oito kurais, de acordo com o Olho. Os reis e a rainha se colocaram emposição de combate.

Era uma ilha hostil. “Droga”, pensou Apolo.______________________

Bellator resolveu ir à ilha de Natura, queria conversar com Lapis. O elemental foio último a ver seu avô com sanidade. Desde a conversa com Prince, sentia que era omomento de tentar entender Gaius. Talvez o elemental tenha conseguido “arrancar”informações do pai de seu pai.

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Prince foi ao Palácio dos Sete, queria conversar com seu pai.______________________

Amanda estava em casa, seu coração batia forte e acelerado. Ainda estava comaquela sensação ruim em seu peito.

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Kiara estava no Instituto Educacional de Victory, uma instituição de ensinoconceituada da ilha. Somente os heróis com altos níveis de intelectualidade eramadmitidos lá. Estava em um dos anfiteatros que estavam sendo construídos no lugar.Ela queria privacidade para treinar seu discurso que aconteceria em alguns dias para oGrupo dos Sete.

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De repente, um calor insuportável queima a sua pele.— Eu sou Nusumu. Nós viemos para roubar, matar e destruir.Kiara tenta gritar, mas sente a mão de Nusumu agarrar seu pescoço queimando

suas cordas vocais impedindo os gritos. Ela tenta correr, mas o monstro a joga contra aparede. Imediatamente percebe que não é párea para aquela criatura. Tenta algo quenunca havia tentado antes. Um som estrondoso é escutado e uma explosão de luzacontece. Ela se desloca em uma velocidade nunca alcançada antes.

— Você é rápida, mas não o suficiente para Nusumu. — Falou o rei Kuraienquanto também se deslocava e alcançava Kiara, prendendo-a em seus braços.

Nusumu aperta os braços provocando queimaduras mais intensas nos membrossuperiores de Kiara. A dor é insuportável; ela cai de joelhos. Uma gargalhada macabraé ouvida ali próximo e das sombras surgem os outros dois monstros. Korosu e Hakaise aproximam. A demônia de fogo salta e pisa com força sobre a cabeça de Kiarafazendo a heroína se debruçar no chão. Ela ergue a velocista segurando-a pelamandíbula e sussurra ao seu ouvido:

— Nós viemos para matar, roubar e destruir… Você não é a primeira e não será aúltima. Nosso reinado será próspero.

Hakai encosta a mão sobre o peito de Kiara; a temperatura sobre a pele delaaumenta e a mão do monstro começa a derreter a pele de heroína entrando no seupeito.

A demônia toca o coração de Kiara a fazendo gritar. Ela atravessa a mão pelotórax da victoriana concedendo-a o último suspiro. Os três riem enquanto a jovem caino chão já sem vida. Novamente os lacaios de fogo aparecem e levam o corpo delaembora.

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Os quatro reis iam abrindo caminho com violência mágica e física pelos camposde rochas cobertas de magma e calor. Queriam encontrar o rei daquele lugar e acabarcom tudo de uma vez. Na medida em que se aproximavam do vulcão da ilha, menos

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criaturas apareciam. O Olho do Rei das Cartas lhe mostrava que já haviam derrotadosete mil e trinta e dois demônios. Nenhuma baixa, e nenhum ferimento, no lado deles.Estavam confiantes. Quando encontrassem o rei, seriam 4 contra 1. Não havia amenor possibilidade de perderem.

Uma a uma as criaturas pereceram diante dos poderosos guerreiros. Suashabilidades eram fantásticas. Porém, conforme avançavam e se aproximavam dovulcão mais lacaios de fogo surgiam do chão e avançavam contra eles.

Eles conseguem chegar a base da montanha de fogo; veem uma abertura estreita,que apenas um de cada vez conseguiria passar. O Rei das Cartas foi na frente, seguidode Apolo, depois Callidora e, por fim, Curo. Um cheiro de enxofre inundava o ar. Osilêncio era absoluto, marcas estranhas estampavam a parede, silhuetas humanoides ede outros seres podiam ser identificadas. De tempos em tempos a terra tremia umpouco. Os heróis não sabiam se o vulcão estava se acalmando, ou prestes a liberar suafúria sobre tudo e todos. Estavam preparados para ambos os casos.

Após atravessarem a passagem, adentraram numa gruta.— Bem-vindos, falou um lacaio de fogo. Me chamo Druga, sou assistente do rei

Korosu. Vocês enfrentaram grandes desafios para chegarem aqui. São dignos de nossorespeito. Mas, para terem o direito de falar com nossos reis, terão que passar por maisuma prova. — O Rei das Cartas pensou ter ouvido a palavra “reis”, no plural, ou teriaescutado errado?

— Se vencerem o que tem aí dentro… — O lacaio apontou para um caixão quehavia no canto da gruta; nenhum deles havia reparado nele ainda. — … terão estachance. — A criatura aguardou a reação dos reis.

Os reis e a rainha estavam desconfiados. Como líder do grupo, o Rei das Cartasresolve dar o benefício da dúvida a Druga. Dirige-se até o caixão, sempreacompanhado das demais majestades, que estavam na retaguarda. O Rei prefere nãotocar no caixão com temerosidade e abre-o com magia. A tampa que lacra o caixãodesliza lentamente e cai.

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— Eu sou Nusumu. Nós viemos para roubar, matar e destruir. — EscutouAmanda enquanto estava em pé na varanda se sua casa. A pele de suas pernas estavamcomeçando a sofrer queimaduras de 3o grau. Gron, o lacaio de fogo da rainha Hakaiestava de pé bem ao seu lado. Amanda arremessa um vaso de flores sobre o monstro ecorre; ela é perseguida por ele.

Amanda corre até as escadas; lágrimas correndo pelo rosto. Não havia ninguémpara protegê-la. Sobe, tranca-se no quarto do casal. É possível escutar Gron rindo. Elenão se controla diante da alegria de sentir o medo daquela humana de Omni indefesa.Era um prazer inigualável.

Gron não tem pressa. Faz questão de ter seus passos escutados a medida que seaproxima. Quanto mais terror, melhor. Ele escancara a porta do quarto com um chute.Amanda salta de medo e fecha os olhos.

A criatura se aproxima de sua vítima, mas antes que pudesse fazer algo écongelado por um vento frio que veio da janela. Bellator passa pela janela voando eatinge Gron com os dois punhos, jogando-o longe. Se tivesse esperado ocongelamento completo, o inimigo agora estaria estilhaçado.

— Mãe, precisamos sair daqui agora. Precisamos avisar ao papai. A ilha deNatura não tem mais um rei. Está cheio dessas criaturas. — Bellator envolve sua mãeem um abraço forte que a protege do calor.

— De onde veio esse gelo? — Amanda pergunta, fraca por causa dasqueimaduras.

— Fui eu, mas não temos tempo para falar disso agora. Vamos.Nusumu entra no quarto. O Calor aumenta. Bellator continua protegendo sua

mãe com o corpo, mas nem mesmo ele estava suportando a temperatura da novacriatura que acabava de chegar. “Quem era aquele monstro de fogo? Por que existemtantos vilões fortes assim? Seres tão perversos com tantos poderes. O mundo eracruel”, Bellator se indagava mentalmente.

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Ele estufa o peito e sopra novamente o vento congelante que usaraanteriormente. O ar evapora antes que possa chegar perto de Nusumu que gargalha,sentindo prazer na dor que causaria. Gron começa a se levantar, mas, antes queconclua seu intento, explode em uma bola de fogo. Um dragão surge, ainda cuspindolabaredas, onde antes era o estômago do demônio.

— Thrá! — Gritou Bellator com um alívio tão grande que consideraria aquelecomo o dia mais feliz da sua vida por um bom tempo, caso sobrevivesse.

— Pode me chamar de um poderoso milagre, garoto. — Falou Thrá com sua vozretumbante na mente de todos os que estavam presentes. — Vamos sair daqui. Existeum local seguro.

Nusumu observou os três voarem pela janela. Bellator segurando sua mãe. Nãofaria nada, por enquanto. Ainda não havia chegado a hora de enfrentar o rei dragão.

— Não podemos deixar Kiara. — Amanda falou, enquanto chorava e sentia dor.— Ela sabe se cuidar. — Thrá responde, sem olhar para trás e sem hesitar. — Se

voltarem agora, vocês morrerão nas mãos de Nusumu. Temos que solicitar reforço dosSete.

Bellator e Amanda estavam preocupados, não sabiam como Thrá sabia o nomeda criatura e temiam por Kiara. Ambos tinham vontade de voltar e procurar pelagarota, até tentaram fazer isso, mas foram impedidos pelo dragão. Seguiram oconselho de Thrá. Não havia muito o que ser feito. Só podiam torcer por Kiaraenquanto procuravam por Apolo. Talvez ela já tivesse fugido.

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— Deixe-me ver! Deixe-me ver! — Gritou Apolo, desesperadamente. Seuscompanheiros, angustiados com a situação de Apolo, tentavam impedir o avanço doherói. As lágrimas escorriam pelo rosto do victoriano em uma quantidade nuncaexperimentada por ele antes. Ele já sabia o que havia no caixão, já tinha visto a cabeçade sua filha confinada naquele caixote de madeira podre. Mas queria ver novamente,não acreditava no que seus olhos viam. As feições ainda estavam nítidas no rosto da

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jovem promissora. Nenhum dos outros três reis conseguiu conter o victoriano que caiude joelhos ao lado dos restos mortais de sua filha, emitindo um grito de dor tão alto emelancólico que aquele dia, 9 de agosto, seria lembrado para sempre em Imag como“O Clamor de Dor”.

— Tentem vencer a dor e o sofrimento. Este é o desafio de vocês, imbecis. —Druga falou gargalhando de alegria e desaparecendo no ar.

Apolo se engasgava com a própria saliva e com o próprio choro. Estava abraçadocom a cabeça da filha. “Por que não eu? Por que não eu?”, ele pensava. “Por que nãoestava com ela? Por que não estava com ela? O que farei? O que farei?”, a mente doherói estava um turbilhão de caos e tristeza.

— Diga que é uma miragem, irmão. Diga que é uma ilusão. — Apolo suplicavaem prantos ao Rei das Cartas. Pela experiência do mago, não era algum tipo de magia,era real. O rei de Victory entendeu, pelo silêncio de seu irmão e pelas lágrimas quetambém brotavam do rosto do mago, que aquilo não era um pesadelo.

Naquele momento, não existia mais nenhum traço de realeza nem de dignidadeno herói. Apolo era um miserável, tremendo sem forças. Seu choro não emitia maisnenhum som. Era um choro silencioso, o que tornava a cena ainda mais pesada. Nadafoi dito, não havia nada que pudesse ser dito que resolveria ou minimizaria aquelesofrimento. Os três outros reis ficaram sem reação. Só poderiam sentir um pouco dador do companheiro e fizeram isso calados por vários minutos. Dariam o tempo quefosse necessário para o victoriano.

O Rei das Cartas chorava copiosamente. Depois do rei, era o que mais sentia ador da perda.

O herói ainda não acreditava no que estava acontecendo. A loucura batia à suaporta. Estava prestes a se entregar a ela. Que mundo era aquele que os humanoshaviam imaginado? Seria o mundo da loucura? Será que quando saísse daliencontraria sua filha viva? Será que era um sonho? O que significava tudo aquilo?

— O papai vai ver você se formar. O papai vai ver você se tornar adulta. O papaivai ver você se casar. O papai vai ver suas conquistas. — Apolo repetiu isso por vários

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e vários minutos. Fechou os olhos para se entregar ao vazio. Ficou completamenteparalisado, parou de emitir som. Ficou ali por um longo tempo. Os outros reis atépensaram que ele havia desmaiado, ou até mesmo morrido e tristeza. “Amanda,Bellator”, lembrou.

O herói se levanta lentamente. Não era mais o Apolo de antes. Aquele Apoloficaria ali para sempre. O que levantou era outro. O rei enxuga as lágrimas do rosto.Fecha os punhos.

— Curo, por favor, leve os restos mortais de minha filha para um lugar seguro.Em momento oportuno daremos o enterro que ela merece. Agora eu caçarei quem fezisto a ela. Guardem as minhas palavras: o conceito de surra será dividido em antes deApolo e depois de Apolo. Curo, por favor, certifique-se também que minha esposa e omeu filho estão bem. Diga-os que eu os amo e que resolverei algo muito importantepela honra da família.

Curo não questionou nada e saiu para atender os desejos do amigo enlutado. ORei das Cartas abraçou seu irmão. Ao fazer isso, bate no caixão e um papel que estavaoculto é visto por todos. Dizia “Eis aqui um presente do rei Nusumu para o reizinhode Victory. O próximo presente estará no Palácio dos Sete, para o reizinho Maximus”.

“Ele sabe meu nome?”, pensou o Rei das Cartas. Ninguém o conhecia pelo nomedesde… “Prince está em perigo”. Quanto tempo haviam perdido ali? Se tivessem vistoa mensagem antes… Pelo estado que o Rei ficou, todos perceberam que ele era oMaximus referenciado na mensagem.

Não havia tempo para perguntas. Ajudariam o Rei a salvar seu filho. Partirampara o palácio o Rei Maximus, mais conhecido como o Rei das Cartas, o rei Apolo e arainha Callidora. A forma escolhida: teletransporte.

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Ao chegarem no Palácio, haviam corpos por todos os lugares, tanto de kurais,quanto de guardas aliados. Era um cenário de guerra. Os koobs estavam cumprindobem seus papéis de defensores. Os reis viram vários deles matando os pequenos

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demônios, aos montes. Talvez só eles estivessem vivos, não havia sinal de outrosfuncionários. O estranho era que toda Omni estava tranquila. Fora daquele lugartodos viviam sua vida normalmente. Aparentemente era um ataque direcionadoapenas ao palácio. O Rei das Cartas estava cada vez mais preocupado, onde estaria seufilho?

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Debaixo de uma mesa em uma das várias salas de reunião encontrava-se Prince.Ele tremia de medo. Nunca havia enfrentado uma situação como aquela. Os treinoscom Bellator eram todos programados e controlados.

Bellator era seu amigo, jamais o machucaria. Além disso, ele tinha perdido todosos duelos. Só conhecia uma magia poderosa, a Bola de Fogo, e ela não teve nenhumefeito contra o príncipe de Victory. Não sabia o que fazer.

Prince precisava se acalmar. Várias horas haviam se passado desde a invasão.Ficar escondido não levaria a nada. Seu pai já devia estar a sua procura. Tinha quecriar coragem para impressionar o seu pai; para deixá-lo orgulhoso. Esta era aoportunidade perfeita. “Vamos, pense em algo glorioso”, dizia a si mesmo. — Já sei!Clamou baixinho.

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O desespero começava a tomar conta da mente do Rei das Cartas.“Vamos controlar os humanos e vocês não serão mais nada. Nós viemos para

roubar, matar e destruir”— Escutaram isso? — Indagou o Rei olhando em todas as direções.— O quê? — Indagaram Apolo e Callidora. Maximus não respondeu. Apolo e

Callidora se entreolharam.“Sabemos do segredo e já sabemos como entrar em contato com os humanos.

Nós viemos para roubar, matar e destruir.”

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O Rei das Cartas identificou de onde vinha o som e partiu em disparada. Apoloe Callidora pediram para que o Rei esperasse, mas foi em vão. O Rei havia seteletransportado.

— O que deu nele? — Apolo não entendeu.— Eu sou Nusumu. Nós viemos para roubar, matar e destruir. — Callidora e

Apolo se viram face a face com Nusumu. A temperatura do ambiente aumentourapidamente. Os olhos de Apolo se encheram de fúria.

— Suponho que queira saber como a doce Kiara morreu. Primeiro tiramos aroupa dela, caso contrário não teria graça nenhu… — Um soco atingiu em cheio omeio da face da criatura. Foi um soco mais forte do que o que Apolo usou contra oRei em seu duelo recente. Apolo poderia ter imprimido mais força, mas não queriaque o Kurai morresse. Não tão rápido.

O rei de Roku foi arremessado em um dos pilares que sustentavam o palácio.Não tinha entendido o que tinha acontecido. Pelas suas avaliações anteriores, aquelanão era a força compatível com o herói. Tentou se levantar procurando por seuagressor quando um chute rodado atingiu sua cabeça em cheio. Dessa vez eraCallidora.

— Gosta de se aproveitar das mulheres? Aproveita isso. — Outro chute, do outrolado. Em seguida, Callidora vai até a criatura caída ao chão e a puxa pelos pés; dá doisrodopios e a arremessa com toda a sua força contra a parede do outro lado do saguãooval onde estavam.

Nusumu tenta se levantar mais uma vez, mas é surpreendido por Apolo que oencurrala contra a parede. Um soco, dois, três, quatro… *Boom, boom, boom*… Emcada golpe o rei colocava uma lembrança de sua filha. O Kurai cospe labaredas defogo no rosto de Apolo, mas ele não para. Não sentiu nada. Seu fator de cura estava aomáximo por conta da adrenalina.

Apolo continuava a impor seu castigo contra o assassino da sua filha. *Boom,boom, boom*…

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Nusumu, mentalmente, pede ajuda de Korosu e Hakai, mas eles não respondem.*Boom, boom, boom*. Nusumu precisava correr.

— Ela está viva. — Fala Nusumu com o pouco de ar que ainda tinha em seuspulmões.

Sua mentira dá certo. Apolo para de bater, pego de surpresa. O monstro foge doalcance dos reis que o atacavam. Nusumu havia acabado de dar esperança ao rei deVictory. Não era uma criatura de esperança, era uma criatura que infligia dor, medo etristeza. Não poderia sair dali assim. Teria que tirar esta esperança. Riu por dentro.Provocaria sofrimento novamente. Antes de desaparecer, parou e disse:

— É mentira, seu imbecil. Acha mesmo que ela estaria viva depois de ter visto acabeça dela? Quão ingênuo você é? Ela gritava por seu nome e você nã…

Algo atinge em cheio Nusumu por trás. Curo acabava de chegar. A criatura élançada novamente para perto de Apolo e Callidora.

“Ferrou”, pensou. *Boom, boom, boom*. Agora eram três reis contra o Kurai.Aquele dia seria pra sempre lembrado na história de Imag como “O Dia em que oCacete Comeu”.

Durante bastante tempo Nusumu apanhou. A criatura jazia no chão do Paláciodos Sete, praticamente desfalecida. Apolo levanta a mão. Os outros reis param. Dariao golpe final. Seria ele a ceifar a vida do maldito. Pisaria em seu pescoço e o quebraria.

Olhando para o ser, Apolo parou. Aquele era o pai de Kiara? Mataria um ser quejá não tinha chance de defesa? Se igualaria àqueles vermes? Era esse o exemplo quetinha dado aos seus filhos? Era esse o exemplo que deixaria? Os fins justificam osmeios? Lembrou dos questionamentos de sua filha.

“Não.”— Você tirou a minha filha de mim. Essa verdade não mudará. Você provocou

uma dor em mim e em minha família que jamais passará. Você no chão, quase morto,diante de mim, não alivia nosso sofrimento. Sua morte não aliviará meu sofrimento.Eu não entendo os motivos das coisas acontecerem, talvez nunca entenda.

Apolo prossegue:

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— Tenho pena de você, um ser que vive do mal, que jamais saberá o que éalegria, que não terá a chance que apenas os bons têm, que é ser dono de uma menteque vive em paz. Mesmo que soframos nesse mundo cruel, sabemos que vivemosdireito, obedecendo regras, respeitando o próximo, amando, se esforçando, lutando...

Apolo finaliza:— Eu te perdoo. Te perdoo porque talvez você não teve as mesmas chances que

eu tive. Te perdoo porque talvez seu meio o tenha feito assim. Sua vida não está emminhas mãos, mas você é uma ameaça. Como rei de Victory, sentencio você à prisãoperpétua.

— Levem-no daqui. Preciso encontrar o Rei das Cartas. — Acrescentou Apolo,pensando, por um segundo, se não deveria realmente matar a criatura. Callidora eCuro levaram o Kurai.

Apolo se preparava para iniciar a busca por seu amigo. Prince, que haviaacompanhado a batalha escondido e mudo de medo e horror, aparece das sombras.

— Tio, me deixe procurar meu pai com você. Eu quero ajudar.— Prince? Onde você estava? Seu pai está a sua procura. É muito perigoso —

Apolo estava curioso e confuso. Seus sentidos aguçados não haviam detectado acriança. Talvez fosse por isso que ela ainda estava viva. Seria um novo poder dePrince? Talvez um que o Rei das Cartas ainda não havia dominado: a ocultação,perfeita, de presença.

— Por favor. Bellator quer ser igual a você e eu não quero decepcionar meu pai.Somos seus filhos e queremos mostrar que somos capazes. Deixe-me ajudar. —Suplicava Prince.

Apolo pensou em Kiara, ela não teria mais a oportunidade de mostrar o que querque fosse para ele.

— Tudo bem, mas fique por perto.______________________

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Três andares acima, Maximus enfrentava Korosu. O Kurai era muito forte eainda estava em todo o seu vigor. O Rei das Cartas estava cansado. Ainda não podiausar as cartas, não havia bateria. Tinha que aniquilar aquele ser custasse o que custasse.O demônio sabia sobre os humanos e afirmava, o tempo todo, que iria contactá-los. Seisso acontecesse, seria o fim do Imag que eles conheciam. O mago estava com parte deseu peito queimado, as vestes rasgadas.

O Kurai ria.— Eu sou Korosu. Nós viemos para roubar, matar e destruir. Chegou a hora de

consumar o plano. — O Kurai ergue as mãos e invoca seu lacaio de fogo.Os olhos do mago brilharam em um tom verde. Era agora, a oportunidade se

apresentou, era hora de fechar aquela porta, a porta que levaria para o fim de Imag. Opróprio demônio selou seu destino. Dois seres eram tudo o que as cartas precisavam.Eram tudo que ele precisava: um alvo e uma bateria. A amarela vai para o Korosu, avermelha para o lacaio de fogo. O maheano sempre escolhia o ser mais forte parareceber a carta amarela, a carta da paralisação. Assim, teria como dar cabo do ser quereceberia a carta vermelha, o ser mais fraco: a bateria.

Duas cartas brilhantes surgem na frente do Rei, uma brilhava em amarelo eoutra em vermelho. A amarela disparou, mais rápido que a luz, em direção ao Kurai ese alojou em seu interior. Korosu é paralisado.

10 segundos.Um alívio tomou conta do mago. Estava consumado. O lacaio de fogo não teria a

menor chance contra ele.9 segundos.O lacaio de fogo é partido ao meio. Prince o havia matado com o poder de

controle da matéria. Ele e Apolo acabavam de chegar para ajudar o Rei. O olhar doRei das Cartas, que antes era de alívio, muda, transformando-se em olhar de purodesespero.

7 segundos.

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O Rei tinha de escolher um alvo para a carta vermelha. Se não fizesse isso, acarta escolheria um alvo aleatório entre os presentes. Não poderia ser ele, ele era omantenedor da paz e da ordem de Imag, sem ele, o mundo estaria perdido; pensou.Também não entregaria seu filho, seu único e amado filho. Todavia, não poderiadeixar o Kurai escapar com tudo o que sabia sobre os humanos. Era perigoso demais.“Tenho que fechar a porta”, reforçou o pensamento.

O Rei olha para Apolo, seu amigo. Uma lágrima cai de seus olhos. Nusumu, Korosu e Hakai gargalham por dentro.4 segundos.O Rei das Cartas não teria como vencer Apolo em poucos segundos. Além disso,

o rei de Victory estava em um novo nível após a morte da filha. O Rei corre e abraçaApolo.

3 segundos.— Obrigado por terem vindo.1 segundo.Apolo sente a espada de fogo verde atravessar seu coração ao mesmo tempo em

que a carta vermelha se aloja em seu interior.— Me perdoe, irmão. — O Rei das Cartas falou, olhando nos olhos de Apolo.Korosu e Apolo transformam-se em cartas. Maximus vai ao chão chorando feito

uma criança. O dia 9 seria conhecido não por um, mas por dois gritos de dor.Prince, traumatizado com o que acabara de presenciar foge dali. Seu pai não sabe

o que fazer, simplesmente deixa o menino sair.Maximus puxa uma carta com brilho verde do seu bolso e começa a falar

sozinho:— Humano que encontrou estes registros… Lhe concederei a honra de me

apresentar a você. Em meu mundo sou conhecido como o Rei das Cartas. Você estáprestes a ler a minha história…

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3

CINZAS

todos ainda permaneciam em silêncio. O Rei das Cartas continuou:— Não podemos deixar de falar do legado que o grande rei Apolo, meu irmão,

deixou para Imag. Ele foi guerreiro até o fim. Morreu em combate, mas aprisionouNusumu.

Mentira, matei meu irmão.— Graças aos seus feitos, também aniquilamos Korosu. Meu filho é testemunha

viva do heroísmo de Apolo. Infelizmente Prince não pôde estar aqui hoje. Sua dor étão grande que ele chora em seus aposentos, em jejum e em um luto profundo. Umaúltima homenagem que durará dias.

Mentira, meu filho não está aqui por minha causa.— Estamos em guerra contra Roku. Rainha Hakai, onde estiver me escute: a

próxima será você!A multidão ao redor do palácio gritava e bradava o nome do Rei e o de Apolo.

Todos estavam unidos contra um inimigo em comum. Bellator e Amanda estavamsentados ao lado do Rei, abraçados e chorando.

— Kiara foi outra grande perda para toda Imag. A Lei Kiara, nome dado emhomenagem a esta bela heroína, poupará milhões de vidas ao longo dos anos.

A multidão agora gritava o nome de Kiara.Não chore, não demonstre fraqueza. Termine o discurso. Você é o mantenedor da paz e

da ordem.— E hoje, reinauguramos nossa fortaleza com o nome de Palácio dos Dez.

Estamos mais fortes. Outros reis aderiram a nossa causa, incluindo o reinado deNatura. O rei Lapis não será esquecido — A multidão bateu palmas ao ouvir amenção ao elemental da terra.

A solenidade de despedidas e homenagens durou quase o dia todo.

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Já era tarde da noite quando Bellator e Amanda jantavam sozinhos, calados,olhos marejados. Chovia forte como se o céu chorasse a perda de seu rei e de suaprincesa. Relâmpagos iluminavam as ruas e os trovões eram como gritos de dor. Acampainha toca.

— Maximus foi o responsável pela morte de Apolo. — Prince fala ao ver Bellatorque acabara de abrir a porta. Seu rosto estava coberto por um capuz escuro. Ele se virae, antes de escutar uma resposta de seu amigo, continua caminhando sob a chuva fria.

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— Nusumu, não tenha medo. Aguarde um pouco mais. Quando falarmos com ohumano, você terá poderes inimagináveis.

— Estou aguardando, irmã. Estou aguardando.______________________

Procurou o ferimento no peito, mas não encontrou nenhum. “Onde estavam oRei das Cartas, Prince e Korosu?”, pensou. Havia estado com eles a alguns instantes.

— Que lugar é esse?______________________

O Rei abriu um canal de comunicação com você, humano. Paraconversar com o mago basta enviar um e-mail para orei@kingof.cards.

Entre uma reunião e outra com o Grupo dos Sete, ele responderá avocê. Aproveite e jogue com as cartas do Rei. Acesse http://kingof.cards.

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