L. Graciela Natansohn UFBA: Faculdade de Comunicação · 2012-06-22 · vida cotidiana (Ang e...
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L. Graciela Natansohn* UFBA: Faculdade de Comunicação
Corpo feminino, ciclos biológicos e representação
Apresentação
Se existe um lugar onde o sangue azul se distancia de qualquer relação com a
realeza, esse local é a televisão, onde todo aparece como uma simples reprodução do
mundo. Acontece que o sangue menstrual (como tantos outros fluídos que emanam do
corpo humano) tem passado por um processo de "metaforização" televisiva, de
substituição por aquele líquido azul translúcido que se pode observar na publicidade de
absorventes internos e externos, onde se derrama o límpido líquido para provar a
capacidade de absorção do produto que se pretende vender. Contudo, para fazer
possível essa passagem do vermelho para o azul, é preciso um terceiro termo, um
terceiro corpo de conceitos: as idéias de impureza e sujeira. Não é difícil observar que a
maioria dos produtos de limpeza são azuis, porque o azul vem a representar, na cultura
audiovisual contemporânea , as idéias de limpeza e higiene.
Mary Douglas (1991) tem descrito claramente como as culturas empregam
conceitos de contaminação, sujeira e impureza como analogias para expressar uma visão
geral da ordem social. Assim, o sangue menstrual pode ser azul sem espantar ninguém,
pode ser interpretada corretamente por sua audiência como um substituto simbólico do
sangue, só se está culturalmente associado ao conjunto de metáforas que simbolizam o
limpo e o sujo, o puro e o impuro, através dos recursos icônicos. O azul submete o
sangue a uma operação de purificação que a torna visível, de acordo com as noções
culturais que possibilitam ou restringem a televisibilidade contemporânea.
Este artigo pretende mostrar como o sangue menstrual é percebido na cultura e
representado nos meios de comunicação, através das idéias de impureza e sujeira, e
como essa representação contribui na criação de identidades de gênero e na confli tiva
relação das mulheres com seu próprio corpo. Escolheram-se duas publicidades
televisivas de absorventes e tampões, transmitidas na televisão espanhola durante o ano
2001 por ser um dos poucos (se não o único) espaço não médicos da televisão espanhola
* Jornalista, nascida em Argentina, mestre em comunicação pela UFBA.
onde se faz referência à menstruação direta ou indiretamente. Mesmo não acreditando
que as publicidades escolhidas esgotem todas as possibilidades de expressar o que
significa a menstruação na sociedade espanhola contemporânea , nelas podemos
encontrar algumas marcas de aqueles mitos ocidentais que têm acompanhado ao corpo
feminino durante toda sua história, e de alguns conflitos que não deixam de acossá -lo no
presente, não só na Espanha como em grande parte do ocidente 1. Também podemos
encontrar nelas, as marcas das grandes transformações que se têm produzido ao redor
dos costumes e regras sociais que dizem que é o possível e o impossível, o falável e o
inominável da (suposta) "condição feminina".
Para ler nesses textos algo a mais do que um atrativo convite ao consumo de
produtos para as mulheres é necessário sair do campo puramente textual ou intrínseco
da publicidade como gênero e buscar registros em outros campos discursivos, como a
medicina, a sexualidade, a antropologia. O feminismo (ou melhor, os feminismos) vão
dar o marco a partir do qual se registra e interpreta a construção da corporalidade
feminina como una diferença que se torna uma deficiência. Trata -se de um exercício
interpretativo que, apoiado nos aportes dos estudos culturais e do pós-estruturalismo,
tenta já não buscar uma leitura mais ou menos veraz das mulheres na televisão senão de
compreender o leque de sentidos que podem ser construídos ao redor de um conceito
muito mais heterogêneo do que parece, as mulheres, categoria sobre a qual faremos
algumas considerações posteriores.
Feminismo e representação: clarificando conceitos
A teorização feminista enquadrada nos Cultural Studies nos abre pistas para
entender o que está em jogo na relação entre meios de comunicação e mulheres. O que a
perspectiva culturalista coloca em questão é, por uma parte, a idéia de uma oposição
entre o discurso (como representação) e a realidade (como coisa em si), pois a própria
realidade, se postula, é discursiva, é criada por e através da linguagem. Em segundo
lugar, e como conseqüência do afirmado antes, desmorona-se a categoria "mulher"
como reflexo de uma realidade prévia, homogênea, natural e essencial, cujos
significados e atributos contrapõem-se à categoria "homem", flexibilizando, ampliando
1 Na Argentina e também no Brasil as peças publicitárias sobre absorventes utilizam o mesmo recurso do sangue azul, por isso acreditamos que algumas explicações e conclusões possam ser extrapoladas ao nosso contexto.
e ainda desestabilizando-se assim os atributos do gênero, ampliando o leque do que
pode significar o masculino ou o feminino. Esta percepção da realidade como
construída pela linguagem é necessária para avançar criticamente sobre o que tem
caracterizado aos iniciais estudos feministas: a crítica aos estereótipos de gênero e sua
não correspondência com as mulheres "reais". Porque se as representações construídas
pelas palavras, imagens e outras formas da linguagem não expressam nenhuma
realidade prévia senão que são constitutivas da realidade, então o problema já não é que
as imagens da mulher sejam irreais, falsas ou distorcidas, senão como o funcionamento
dos discursos compreendem afirmações que têm o poder de criar realidades sociais,
criar "o feminino". Como diz Angela Mac Robbie (1997), "a existência material das
mulheres se assegura mediante umas estratégias discursivas diferentes, às vezes,
contrárias, que ao identificar, classificar ou falar da verdade da 'mulher', também faz
que esta nasça".
Recapitule mos: representar pode significar, etimologicamente, voltar a
apresentar, re-apresentar, ou seja, mostrar de novo alguma coisa que já está dada
anteriormente, dizer ou mostrar algo que existe ainda antes de essa apresentação
(escrita, visual ou através de qualquer meio). E se alguma vez existiu, ao menos no
imaginário social, a possibilidade de representar nesse sentido, de expor algo de uma
maneira pela qual houvesse correspondência entre a realidade e as palavras que a
designam, o desenvolvimento dos meios de comunicação contemporáneos e suas novas
linguagens têm posto em xeque esse vínculo. Porque está cada dia mais claro que os
meios constroem os acontecimentos, como diz Verón. E não só porque cada dia muitos
fatos sociais e políticos se planejam de acordo com o horário de transmissão na
televisão (como os comícios políticos e os partidos de futebol e, por que não, algumas
guerras). E isto não significa que aquilo que costumamos chamar de "a realidade" seja
uma mera criação mediática, como se nosso próprio eu fosse um fantasma inventado a
partir de algum outro criador todo-poderoso, externo a nós, um novo deus, tecnológico.
O que queremos afirmar é que a separação entre representação mediática e realidade, é
uma dicotomia que nada nos diz acerca do func ionamento dos meios, da cultura e da
comunicação social. E é por que, justamente, esse conceito do real é o que está posto em
questão. ¿Acaso as coisas existem fora da cultura, das palavras que lhe dão sentido?
Sentimos e pensamos sobre nós e sobre o mundo através dos sistemas de representação
da cultura, das linguagens e os sistemas mediáticos tais como a televisão, também são
sistemas de representação, com suas próprias regras de produção e de consumo, com as
quais estamos lidando desde não mais de 50 anos, apesar de que parecem que nasceram
com o mundo.
Abordada deste modo, a representação da menstruação e das mulheres nos
interessa como cristalizações de sentidos sociais, articulações de diversas narrações
ideológicas que se dão ao interior da cultura. Por que "não existe experiência alguma
fora das categorias da representação ou o discurso" diz Hall (1998:48). E,
contrariamente à visão da filosofia positivista, é o discurso o que outorga uma pretensão
de natureza às coisas. Mas para entender isto foi preciso desconstruir as noções binarias
que olhavam para a linguagem como um sistema de correspondências entre "referentes"
(as coisas, o "real") e as palavras. Esta forma de entender a linguagem têm a vantagem
de introduzir uma idéia construtivista e processual do discurso mediático, onde este
deixa de ser pura invenção arbitraria, exterior aos sujeitos, pré-existente a qualquer
condição, lugar e tempo. E também deixa de ser seu oposto, pura "re-apresentação",
cópia ou tradução, mera janela à realidade. Por que se um dispositivo tão complexo
como a televisão tem a capacidade de criar linguagens, e através das linguagens,
maneiras de pensar e de fazer, isto não é possível senão a partir da cultura, do acúmulo
cultural das audiências com as quais interactua.
A teoria feminista culturalista tem questionado também as visões essencialistas e
reducionistas das diferenças que estão subjacentes em categorias tais como "homem" e
"mulher". Não pode se falar de "mulheres" como uma categoria única, essencial,
homogênea, normativa, contraposta a "homem", se assinalou. Contudo, aqui falaremos
de "mulheres", usando provisoriamente o que se tem denominado "um essencialismo
metodológico", assumimos que "o sujeito mulher não é uma essência monolítica
definida de uma vez por todas, senão o lugar onde confluem múltiplas, complexos e
potencialmente contraditórios conjuntos de experiências, definidos por variáveis que se
superpõem, como a classe, a raça, a idade, o estilo de vida, a opção sexual, etc."
(Braidotti, 1994:4 apud Kember, 1998, p.367). E não é só um problema de
conceitualização mais ou menos "realista" das mulheres. A desconstrução das categorias
e dos atributos de gênero teria como conseqüência umas sexualidades menos
normativas, mais flexíveis, e uma reformulação das hierarquias sociais. Como afirma
Butler (1991:146), "a perda de normas de gênero teria o efeito de fazer proliferar as
configurações de gênero, desestabilizando a identidade substantiva e privando as
referências naturalizantes da heterossexualidade compulsiva dos seus protagonistas
centrais: 'homem' e 'mulher'". A desestabilização das categorias de gênero facilitaria a
re-interpretação e reconstrução das possibilidades do gênero, como as chama Butler,
isto é, de novas relações não hierarquizadas, onde a diferença não signifique
subordinação. Para Evans (1997), o momento histórico atual aparece promissório. As
novas tecnologias reprodutivas propiciam o desmantelamento de alguns dos princípios
sociais que sustentaram os vínculos familiares durante toda a história moderna. Por
outro lado e simultaneamente, com o surgimento das teorizações pós-modernas se
debilitam as oposições binárias típicas da metafísica ocidental. Este novo contexto
poderia sugerir a possibilidade de novas formas de relações que não se sustentem em
imperativos biológicos nem na oposição entre homens e mulheres.
A crítica aos estereótipos de gênero apresentados pelos meios, especialmente
revistas femininas e cinema, típica dos estudos feministas dos 60-70, foi válida na
medida em que permitiu questionar os papeis femininos. Mas foi necessário avançar na
noção e crítica do conceito de representação e no papel que os meios iam jogar na
articulação da vida contemporânea para entender as conseqüências sociais da nova
cultura mediática. Compreendeu-se que já não se tratava de analisar modelos de mulher
sem pôr em questão esse conceito de gênero, agora mais flexível e até mais difuso e
contraditório. Compreendeu-se que a relação entre os meios e as mulheres "de carne e
osso" é algo a mais que uma relação de falso espelho ou de consumo alienado, senão
uma complexa e precária prática, estruturada não somente por predisposições
psicológicas ou sociológicas dos membros individuais da audiência senão também
como um jogo de sentidos, de poder e de prazeres, na sempre dinâmica e contraditória
vida cotidiana (Ang e Hermes, 1991:308). Desta forma, começou-se a estudar o
consumo e a interpretação de telenovelas, romances e revistas femininas (os chamados
"gêneros cor de rosa") por parte de mulheres, através de métodos etnográficos,
assumindo que o sentido atribuído ao lido, visto ou ouvido oferecia um espaço virtual
de intervenção a suas leitoras, tanto através dos usos que esse consumo podia oferecer
(como ter um espaço próprio, às vezes único, de lazer, no meio da chatice das tarefas
domésticas ou desenvolver o senso de pertencer a algum grupo de mulheres,
consumidoras desses produtos, entre outras infinitas possibilidades) como pelas
possíveis interpretações que esse produto podia ter, a partir do reconhecimento de que o
significado de qualquer texto mediático é produto do encontro entre o/a leitor/a e o texto
no ato de leitura e não a simples decodificação de significados aderidos ao texto.
O impacto da teoria feminista neste sentido é fundamental: ao se fazer da
experiência pessoal, da subjetividade, do doméstico (âmbito por excelência do consumo
de meios), categorias de análise históricas e políticas relevantes (por isso, a importância
dos métodos etnográficos), a recepção de meios passa a ser relacionada com as diversas
formas do poder. E ao se questionar a idéia do poder como entidade monolítica, externa
aos sujeitos e às palavras, começa-se a pensar na interação entre produtores e
consumidoras como algo a mais do que uma relação de dominação e manipulação.
Assim, o estudo de meios de cunho feminista pode tornar transparente a profunda
politização da esfera social, evidenciar as teias invisíveis por onde também circula e se
negocia o poder - no cotidiano.
Menstruação e representação.
Há constantes e ao mesmo tempo interessantes transformações nas maneiras de
perceber o ciclo hormonal das mulheres. O corpo das mulheres e suas especificidades
têm sido os temas principais em torno dos quais se têm construído as noções culturais
que sustentam as diferenças de gênero e a subordinação feminina, e isto se tem
cristalizado através de tabus, mitos e ritos. É indispensavel revisá-los para entender
tanto desprestígio.
O tabu da menstruação se tem manifestado de diversas formas. As condutas
interditadas, como a de não poder lavar-se a cabeça ou não tomar banhos, não tocar as
plantas e flores, não preparar certos alimentos, continuam em vigência até hoje. Na
religiosidade popular sobrevivem proibições, como as das curandeiras, que não praticam
sua medicina durante o período menstrual. De fato, em toda a esfera da biologia humana
não tem havido outra função corporal objeto de tanta paixão e discussão como a que
gera o fluxo menstrual. Outra forma do tabu aparece nas formas retóricas com as quais
menciona -se o sangrado. A "regra", o "período", estar "nesses dias", o "assunto", estar
"indisposta", estar "de boi", “estar de Chico”, “incomodada”, são as formas correntes da
língua portuguesa com as quais as mulheres comunicam seu ciclo menstrual.
A menstruação sempre tem sido considerada perigosa e as mulheres, veículos
desse perigo. Guy Bechtel tem desconstruído minuciosamente o imaginário cristão
sobre as mulheres através das narrativas bíblicas, resumindo e descrevendo em quatro
estereótipos tudo aquilo que pode ser atribuído à “ feminilidade”: a puta, a bruxa, a santa
e a tonta (Bechtel, 2001), tipos atualizados hoje através dos personagens típicos da
novela contemporânea: a traidora, a vítima, a justiceira e a tonta (Barbero, 1987). As
mulheres têm estado sempre perseguidas por estereótipos, na medicina, na psiquiatria,
na literatura, como uma forma simplificada de capturar aquilo que aparece como
desconhecido, misterioso.
A luta sobre o poder simbólico da menstruação e do ciclo mensal da mulher é
um campo de verda deira guerra. As opiniões oscilam entre a glorificação do sangrado e
sua culpabilização ou, todavia, sua inutilidade para as mulheres que não pretendem ter
filhos tornando-se, então, uma "sangria inútil" (Coutinho, 1999). De fato, faz vários
anos em alguns países se estão levando a efeito campanhas a favor da suspensão da
menstruação, baseando-se em investigações médico-científicas que a assinalam como a
causa principal de uma série de sintomas que têm tomado o nome genérico de
"transtornos pré-menstruais". Não só a televisão senão revistas, meios impressos e
especializados têm sido eco das propostas de, entre outros, o médico e pesquisador
brasileiro em reprodução humana, Dr. Elsimar Coutinho, quem propõe que a
menstruação é responsável dos transtornos pré-menstruais e de enfermidades como a
endometriose. Coutinho e Sheldon J. Segal publicaram um polêmico livro, Is
menstruation Obsolete? (¿Es obsoleta a menstruação?, Oxford University Press, 1999)
traduzido ao português como Menstruação, a Sangria Inútil, transformando a pergunta
da edição norte-americana, numa afirmação contundente que lhe outorga maior impacto
publicitário no cenário nativo brasileiro, onde Coutinho se converteu num cruzado
contra tanto sangue derramado em vão, segundo ele afirma em quantos meios de difusão
aparece 2.
O caso da publicidade de absorventes
Segundo dados de Iríbar (2000), cada espanhola usa entre 11.000 e 15.000
absorventes ou tampões ao longo da sua vida. Na Espanha gastam-se nesse conceito ao
redor de 44.000 milhões de pesetas por ano3. “Não é só ao setor industrial que se
apresenta um mercado interessante. O Estado tira uma fatia enorme de estes gastos
através do imposto IVA, que cataloga estes produtos como artigos cosméticos e lhes
aplica o 16% de imposto, enquanto que os produtos sanitários se beneficiam com um
IVA reduzido do 4%. Pode apreciar-se que existe um apetitoso mercado de usuárias
2 No Brasil, através de espaços televisivos diários (Rede Band, TV Itapoa-Bahia), onde participa como consultor "especialista", Coutinho tem estado difundindo suas polêmicas teses que encontraram eco na imprensa massiva, na denominada "imprensa feminina" e através de declarações das suas pacientes mais famosas, estrelas de televisão. 3 Não se dispõe de dados do Brasil.
destes produtos, razão pela qual, a publicidade aparece como um dos poderosos
instrumentos de estímulo ao consumo.
Durante o ano 2001, na Espanha, se desenvolveram duas campanhas publicitárias, nas
quais temos nos centrado: a de absorventes Evax, da empresa Arbora & Ausonia e a de
tampões Tampax, de Procter & Gamble.
A campanha da Evax consta de dois spots publicitários. Um de les, o que mais
nos tem chamado a atenção, se desenvolve no cenário de uma escola. Trata-se de um
anuncio que leva duas faixas pretas, replicando um formato de 16 por 9 mm, próprio do
gênero de ficção. Nele, uma adolescente de uns 12 anos, que está em sala de aula, é
chamada, da porta de vidro da sala, por uma mulher de uns 40 anos, vestida com um
tailleur completamente vermelho e com uma toca ou turbante vermelho na cabeça.
Durante os primeiros planos, vão caminhando juntas, pelo corredor da escola. Na
continuação se produz um salto do eixo visual, e a menina que estava à direita da
mulher, passa (fora do campo visual do público) à esquerda. Esse salto, que tem um
marcante efeito de surpreender e distanciar a quem está assistindo, chama mais a
atenção por que se produz num primeiro plano do rosto da mulher de vermelho (cujos
lábios carnudos estão pintados de carmim) no momento em que se dirige à garota:
-"Hola, tú no me conoces, soy tu menstruación"4.
Nesse momento, ápice da história, se introduz um elemento sonoro, dois toques de uma
buzina, como os que acompanham as peripécias dos atores cômicos.
A menina, sem se surpreender demais, lhe responde, dando início ao diálogo com a
mulher:
- "¿Mi qué? Ahh, la regla"
- "Ya veo que has oído hablar de mí"
- "Pues... nos vemos"5
A garota se dirige para seu escaninho, da onde pega um absorvente externo. A senhora
de lábios de carmim, algo surpreendida, lhe diz:
- "¿No vas a hacer un drama? ¿Unas lagrimitas por lo menos? ¡O una fiesta! ¡He traído
confetis!"6
4 - "Oi, você não me conhece, sou sua menstruação". 5 - "Minha que? Ahhh, a regra" - "Vejo que já tem ouvido falar de mim" - "Pois é... a gente se vê". 6 -"Não vai fazer um drama? Uma lagriminha, pelo menos? Ou então uma festa! Trouxe confetes!”.
E ri muito, mais insinuando um riso falso, forçado, enquanto convida a garota a
entrar na brincadeira. No sucessivo, o spot se resolve sem diálogos. A menina se dirige
ao sanitário com o absorvente na mão. Abre a porta e entra. A câmara fica de fora, no
corredor. A senhora de vermelho persegue a jovem e entra também. Na continuação, a
jovem sai do sanitário e sai da cena. Atrás dela, segundos depois, sai a mulher de
vermelho, esta vez vestindo um típico traje de presidiário a raias, mas de raias
vermelhas, arrastando a pesada bola de ferro, típica do cinema cômico, detrás de ela.
No momento final do vídeo, quando se vê a mulher presa saindo do sanitário com as
mãos estendidas para a frente, como querendo alcançar o escaninho de onde havia
saído o absorvente, aparece uma mão em primeiro plano, assegurando um envelope de
compressas Evax, cobrindo o espaço central da tela. E uma voz feminina em off, que diz
a marca e o slogan da empresa:
-"Nuevo Evax Clean & Dry. Con Evax te sentirás libre".
Como se pode ver, aqui se rompe com a tradicional metáfora do azul=pureza, e
o vermelho passa a dominar a paisagem, porém também através de outras substituições,
como a roupa, os lábios, a toca. Apresenta -se agora, através da ironia e o sarcasmo, o
que antes era praticamente inominável. Tira-se a menstruação do âmbito da
enfermidade, para colocá -lo no campo da higiene, que lhe é próximo.
A publicidade de tampões Tampax é menos ambiciosa em termos
argumentativos; recorre ao clássico recurso de mostrar o produto, em animação
computada. Contudo, aqui também se constrói narrativamente o produto através de duas
metáforas, a da cor e a da flor. Num fundo azul no qual flutuam pétalas, aparece em
primeiro plano uma flor, similar a uma margarida que se fecha imediatamente,
convertendo-se num tampão. Uma voz feminina em off apresenta o produto:
"-Descubra el nuevo aplicador de Tampax, tan suave como una flor y con las puntas
redondeadas. Nuevo Tampax. Aún más suave, más cómodo" 7, com música de jazz de
fundo.
7 "Descubra o novo aplicador de Tampax, tão suave como uma flor e com as pontas redondeadas. Novo Tampax. Ainda mais suave, mais cômodo".
Nesta última, a menstruaçã o não é mencionada, sequer se alude ao corpo ou à
função do produto. Parte-se de um contrato implícito com o público que conhece a
existência e função desses pequenos absorventes internos que apareceram, não sem
conflito, no mundo feminino dos anos 80. Contudo, se é verdade o que diz Traversa
(1997), que "para vender qualquer coisa colocam uma bunda" por que as referências
sexualizadas vendem, não há representação mais despojada de sexualidade que a de um
corpo feminino "nesses dias". O corpo sexual desaparece, todo é elíptico e indizível:
sangue, vagina, útero e ovário são substituídos por azuis e margaridas. Não obstante,
algumas coisas parecem estar mudando. As duas publicidades nos apresentam como
dois modelos diferentes de relacionar-se com o público: em uma, através de inegáveis
conotações pedagógicas e um humor cúmplice, dirigido às garotas que começam a
menstruar e que já "sabem de tudo". Na outra, recuperando os tópicos clássicos da
iconografia do sangue e de aquelas partes femininas que não se falam, por que os poetas
já o disseram, parecem flores.
Se o corpo pode ser abordado como um texto no qual ler a cultura, pois nele
estariam inscritos os valores, preocupações e reflexões de cada sociedade, então, o
corporal não pode ser pura natureza, mas deve ser compreendido como um corpo
politizado, um corpo que se vá construindo de acordo com os sentimentos, normas,
ideais e utopias de cada sociedade. Marcel Mauss mostrou como os movimentos mais
cotidianos, como caminhar, nadar, comer, são produto de uma aprendizagem e
disciplinamento culturais. Pode se afirmar que a menstruação responde a alguma lógica
que foge das leis da biologia?. Se menstruar é tão natural como o cair das folhas das
árvores em outono, não é natural seu sentido, sua significação, suas diversas explicações
e os efeitos que estes sentidos têm sobre o corpo individual e social.
De fato, todas as sociedades têm estabelecido seus direitos a derramar e a
consumir sangue, mesmo simbolicamente - o sangre de Cristo feito vinho de missa.
Perigoso e bem-feitor, puro e impuro, vida e morte, o sangre é essencialmente
contraditório, de uma ambigüidade tão insuportável como sua perigosa cor. Derramá -la
é crime mas também é um ato sagrado, do qual a literatura tem dado conta em
abundância: Fausto assinou com seu sangue um pacto de morte e Drácula, porém, a
bebia para sobreviver.
A aparição do primeiro sangue menstrual é a manifestação de uma
transformação hormonal que marca um dos tantos processos biológicos a partir dos
quais as mulheres poderiam engendrar outra vida. O valor que se lhe da a esse processo
vai depender do complexo de valores culturais de determinada sociedade. Como explica
Sardenberg (1994:320) "os diferentes significados e condutas associadas a menstruar
obedecem a lógicas culturalmente específicas, configurando o que aqui denomino de
ordens prático-simbólicas da menstruação". Para alguns autores (Da Matta,1977), o
problema da subordinação da mulher tem a ver com seu corpo, com a idéia de que ele
atua como um elemento perturbador da ordem social a partir de fatos que escapam ao
controle social, como o ciclo menstrual, o parto ou a capacidade de engendrar. E essa
subestimação está assegurada no argumento publicitário da Evax.
No aviso da Evax o sangue menstrual é personificado: aparece uma adolescente
desde fora, como um outro eu, estranho (porém, mais ou menos conhecido: "¡ah!, la
regla"), com o qual é difícil se identificar, por que Como identificar -se com essa
senhora madura, bastante feia, meio escandalosa, que a convida a comemorar algo que,
por um lado, parece digno de festejos e por outro, um problema do qual tem que
desembaraçar-se? Narrativamente, o salto que a câmara provoca quando a menstruação
se apresenta - no duplo sentido de apresentar-se: aparecer, acontecer, e de identificar-se
("¡Hola, soy tu menstruación!") - obriga ao público a tomar distância, a estranhar-se. A
menarca (a primeira menstruação) "se apresenta", narrativa e conceitualmente, como um
susto, um sobressalto. Como reconciliar-se com essa menstruação que chega sem aviso,
interrompe as aulas e nos persegue com esse ar de brincadeira meio infantil, algo fora de
lugar para una pré-adolescente? ("No vas a festejar?...¡he traído confetis!"). Que nos
está propondo a publicidade acerca de como viver a menstruação? O recurso à
personificação e o formato de ficção pode ser lido como uma nova forma de falar das
questões "das mulheres" sem voltas, francamente e rindo de si mesmas. Depois de tudo,
as mulheres já não são as mesmas que as de uma geração atrás. Também faz alusão ao
fim da ingenuidade e ao que haverá que enfrentar a partir de primeira perda de sangue.
"Con Evax te sentirás libre", propõe. Liberar-se do corpo usando absorventes, liberar-se
do sangue, do sujo que passa a encadear quando uma, até que enfim, se faz "mulher".
Porém, paradoxalmente, o absorvente não pode liberar, só assegura, aprisiona aquilo
que flui indefectivelmente. A única identificação possível, proposta pelo texto, é a do
público com essa idéia geral de que a menstruação é um "problema". E, mesmo se
colocando que "Me gusta ser mujer", como o faz o fabricante de esses absorventes em
outra peça, parece preciso liberar-se de aquele corpo instável, cíclico, cheio de humores
e secreções, incontrolavel e ameaçador. ¡Se desde o Gênesis ("Parirás com dor" ) se está
ameaçando às mulheres com seu próprio corpo!
A subordinação feita "carne": o habitus
Todavia, para entender a associação entre menstruação, cultura, e depreciação da
mulher, podemos recuperar algumas noções de Bourdieu. No seu trabalho, "La
dominación masculina" (2000), Pierre Bourdieu desenvolve o conceito de "habitus" na
situação de subordinação de gênero. A dominação masculina sobre as mulheres está
sustentada no que o autor chama de "violência simbólica", a qual, apesar do nome, não
exclui formas materiais de submissão, como a violência física, por exemplo. Este
princípio simbólico forma parte da experiência dóxica, do sentido comum, cuja
perpetuação parece estar assegurada a partir de seu consenso compartilhado entre quem
domina e quem é dominado. Contudo, Bourdieu não se refere a uma série de idéias
conscientes e proativas exercidas pelos homens em detrimento das mulheres, senão a
um processo lento de "socialização do biológico e de biologização do social" (p.14), de
transformação da história em natureza, organizado sob princípios androcêntricos e
expressado através de estilos de pensar, de falar e de se comportar que produzem efeitos
nos corpos e nas mentes. O que o autor propõe é um exercício de reflexão sobre as
categorias do ente ndimento e da percepção, com as quais o mundo (e os corpos) é
construído.
Neste sentido, a inferioridade da mulher parece estar inscrita na ordem natural das
coisas, porque sempre foi assim, é parte do sistema de percepções das pessoas, do
pensamento e da ação. Isto se exemplifica bem quando se afirma, baseado na
experiência cotidiana, que as mulheres não sabem manejar certas tecnologias (carros,
vídeos) ou não têm condições para a vida política. Isto provém de um acordo entre as
formas do conhecer, as expectativas interiores e o curso exterior do mundo, por que as
categorias do conhecimento coincidem com "o real", e funcionam como orientações
para a ação. Vale a pena citar textualmente:
"La concordancia entre las estructuras objetivas y las estructuras
cognitivas, entre la conformación del ser y las formas del conocer, entre el
curso del mundo y las expectativas que provoca, permite la relación con el
mundo que Husserl describía con el nombre de "actitud natural" o de
"experiencia dóxica", pero olvidando las condiciones sociales de posibilidad"
(Bourdieu, 2000:21).
Esta divisão entre o ser e o conhecer que parece estar inscrita na natureza mesma
das coisas, está objetivada no mundo social através do habitus, como sistema de
categorias de percepção, de pensamento e de ação. Assim, quando os subordinados
aplicam as categorias do entendimento produzidas na relação de dominação
(androcêntrica) seus atos de conhecimento serão, necessariamente, atos de submissão
(contudo, Bourdieu aceita que existem margens pa ra a manobra, para a "luta cognitiva"
pelo sentido das coisas). Isso fica claramente exemplificado no caso da timidez, onde o
tímido é traído pelo seu próprio corpo, ainda contra sua vontade, quando tem “in -
corporado” sua subordinação. As representações da s diferenças de gênero como
diferenças naturais ou biológicas são também, um bom exemplo de como o corpo é
construído por categorias históricas: Emily Martin (1996) nos mostra uns gráficos da
idade média que descrevem a vagina como um pênis invertido, a partir da percepção do
corpo feminino como o revés (inverso?) do masculino, seu oposto, derivado do modelo
central (o homem).
A noção de habitus é muito útil para entender como as mulheres vivenciam seus
ciclos menstruais. Está vinculada ao que Bourdieu de nominou como "somatização das
relações de dominação", o que significa que o habitus fixa no corpo, corporifica, as
relações sociais, de uma maneira não racional nem intelectual, senão como uma
"predisposição", uma ação lenta, automática e sem agentes que, contudo, tem uns
efeitos bem evidentes.
Neste sentido, os mal-estares associados à menstruação poderiam ser
caracterizados como corporificações do que socialmente e historicamente está
depreciado, como a subordinação encarnada no corpo, levada como uma marca
corporal. Se é verdade que existe um conjunto de experiências corporais que dariam
coerência e unidade à categoria mulher (como parir, ter a menstruação e a menopausa,
além do estupro e a violência doméstica), do que não cabe dúvida é que o que têm em
comum essas experiências é que todas têm sido submetidas a uma patologização,
depreciação e posterior controle médico-masculino.
Conclusão
Se a linguagem não só descreve o mundo senão também o cria, vão se inscrevendo
no corpo através de imagens e noções culturais, percepções, sensações, sentimentos,
maneiras de levar o corpo, de se relacionar ele. A desvalorização da menstruação, tal
como se a apresenta no imaginário de homens e mulheres, e nas representações
midiáticas, funcionaria a partir da "somatização das relações sociais de subordinação"
como um habitus. Seria parte de essas relações patriarcais corporificadas. E como a
dominação se naturaliza através de disposições corporais, modos de usar o corpo,
reforçado pelos meios, a moda, as crenças, as linguagens, funciona como uma evidencia
natural, é autorrealizador e autoexplicativo. Assim, a menstruação forma parte da
representação androcêntrica do processo de reprodução biológica e social, e se vê
investida por uma objetividade outorgada pela linguagem, a qual é utilizada pelas
mesmas mulheres. Se não se dispõe de outro instrumento de (auto) conhecimento a mais
do que o que é criado pelo dominador, a subordinação é quase inevitável. Isto também é
evidente no caso do profundo mal-estar das mulheres contemporâneas com seu corpo,
um corpo criado a partir do olhar do outro (masculino).
Em certo sentido, a publicidade televisiva parece estar assumindo algumas mudanças
nas idéias acerca das mulheres e da diferença genérica. Se bem o sangue menstrual sai
de um lugar que ainda não pode ser nomeado, a menstruação parece estar saindo do seu
lugar clandestino. "Soy tu menstruación", se apresenta a si mesma na tela. Já se a
nomeia sem elipse. A "regra", a palavra que ocultava, parece haver perdido todo seu
poder substitutivo. Nem as mulheres parecem ser as mesmas na publicidade. Jovens
seguras de si mesmas, modernas, sem ingenuidade, por que "sabem o que querem" estão
substituindo às românticas de folhetim. O humor e a cumplicidade com o público
feminino permitem às mulheres rir um pouco mais de elas mesmas. Por uma parte se
estão ampliando os limites do que pode mostrar-se e falar-se publicamente mas, por
outro, o novo discurso sexual feminino nos meios, que aparece como audacioso e
atrevido, precisa estabelecer os limites de essas novas mulheres, sempre heterossexuais
e reprodutivas. A publicidade de absorventes propõe um novo tipo de subjetividade
feminina, a custo de continuar sacrificando o próprio corpo, de reforçar a associação
entre mulheres e sofrimento. Anorexia simbólica, essas novas normatividades impõem
outros estilos corporais que, a custo de tanta obsessão por dietas, parece querer propor a
desaparição do corpo.
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