LA Idade Média e Renascimento

22
HISTÓRIA DA MÚSICA I Prof. Gilberto de Syllos A IDADE MÉDIA E O RENASCIMENTO Luiz Augusto Buff de Souza e Silva 2008

Transcript of LA Idade Média e Renascimento

Page 1: LA Idade Média e Renascimento

HISTÓRIA DA MÚSICA I Prof. Gilberto de Syllos

A IDADE MÉDIA E O RENASCIMENTO

Luiz Augusto Buff de Souza e Silva 2008

Page 2: LA Idade Média e Renascimento

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. HISTÓRIA GERAL

a. Alta Idade Média

b. Baixa Idade Média

c. Renascimento

3. PANORAMA ARTÍSTICO

a. Arte Cristã Primitiva

b. A Idade Média

i. Estilo Românico ii. Estilo Gótico

c. Renascimento

i. Trecento ii. Quattrocento iii. Cinquecento

4. A MÚSICA

a. Música Cristã Primitiva

b. Cantochão

c. Notação Musical

d. A Canção Profana

e. Ars Antiqua

f. Ars Nova

g. Renascimento

h. Formas Musicais

i. Instrumentos

i. Aerófonos ii. Idiófonos iii. Membranófonos iv. Cordófonos

5. CONCLUSÃO

6. BIBLIOGRAFIA

Page 3: LA Idade Média e Renascimento

1 - INTRODUÇÃO Não é tarefa fácil trazer à nossa realidade a música feita no período que compreende a Idade Média e o Renascimento, embora haja uma lista extensa de historiadores que trataram o assunto, músicos que procuraram registrar reconstruções fiéis das músicas do período ou até mesmo compositores que se inspiraram na técnica e na estética da época para fazer suas obras. Não duvidamos que muitos destes tiveram pleno êxito em seus trabalhos, porém, a dificuldade da tarefa reside no fato de que além de informações históricas gerais, contamos apenas com precários registros em forma de escrita musical, que somente à época estava sendo concebida tal qual a conhecemos hoje. Ademais, os músicos atuais são dotados de técnicas mais avançadas, o ouvido humano está mais aguçado, mais preparado para compreender o que antes era tratado como dissonância. Neste trabalho tentaremos sucintamente descrever as manifestações musicais que ocorreram no período entre a chamada Idade Média e o Renascimento. Para tanto, em primeiro lugar apresentaremos uma breve contextualização histórica a respeito do período. Em seguida as diversas manifestações artísticas da época serão explicitadas, para, então, abordarmos a questão musical, demonstrando como eram estruturadas as músicas executadas na época, por quem, com quais instrumentos, para que público, e com qual objetivo. Acreditamos, dessa forma, elucidar plenamente em qual contexto a música se inseria nas diferentes c abordadas.

Page 4: LA Idade Média e Renascimento

2 – HISTÓRIA GERAL Para melhor explicar o período abordado em nosso trabalho, subdividimos a Idade Média e o Renascimento em três grandes fases, pois cada uma guarda características especiais e exclusivas, diferenciando-se das demais em termos de civilização. A chamada Idade Média tem seu período delineado entre a queda de Roma e o começo da Renascença Italiana. Recebeu esta denominação durante o renascimento, quando a história do mundo foi dividida em três grandes épocas: antiga, medieval e moderna. Para esta divisão havia o senso comum de que a Idade Média era um interregno de profunda ignorância e superstição, no qual o homem viveu de olhos vendados, sem ter capacidade de progresso. Todavia, o período, mesmo sendo marcado por uma unidade cultural estática, preservando ideais e instituições durante toda a sua duração, pode ser considerado como a idade da gênese das formas de arte no Ocidente. Por abarcar em uma mesma denominação períodos distintos como os primeiros séculos do cristianismo, a renascença carolíngia e o período dos anos mil ,em que ocorre uma multiplicação de centros de pensamentos nas escolas monásticas e nas cortes, conduzindo ao Renascimento, o termo Idade Média perde seu valor operacional, passando apenas a designar seu caráter indicativo temporal. Dessa forma dividimos a Idade Média em duas fases, e, posteriormente, surge o Renascimento, como apresentamos a seguir. a) Alta Idade Média

O começo da Idade Média entre os anos 400 e 800, que tem por marco o encerramento do processo de decadência do Império Romano, foi marcado culturalmente por uma aparente volta ao barbarismo. Três fatores contribuíram para produzir a civilização européia desta fase: o cristianismo, a influência dos bárbaros germânicos e a herança das culturas clássicas. Este último fator foi o menos influente, uma vez que as heranças gregas e helenísticas eram apenas no âmbito filosófico e por mais que ainda fossem fortes, os resquícios de Roma eram considerados incompatíveis com a Igreja. O grande alicerce de tal época era a hegemonia da religião cristã, que já vinha sobrepujando todas as religiões, culminando com o surgimento do papado. A cidade imperial de Roma era considerada como palco onde haviam se desenrolado as missões de Pedro e Paulo, apóstolos de Jesus Cristo. Pedro fundou o bispado de Roma e instituiu-se a tradição de que todos os que o sucedessem eram herdeiros de sua autoridade e prestígio, até porque Jesus havia conferido poderes a ele, como seu vigário na terra e recebera dele as chaves do reino dos céus, com poder parar punir ou absolver de culpa os pecadores. Aproveitando-se da desestruturação política no ocidente, devido à transferência do capital imperial para Constantinopla, o poder dos bispos cresceu cada vez mais, culminando com a determinação de Valentiniano III para que todos os bispos do Ocidente se submetessem à jurisdição do Papa.

Page 5: LA Idade Média e Renascimento

Outro fator proeminente de influência cristã para a civilização da primeira fase medieval foi o monasticismo - o surgimento de mosteiros onde homens viviam alternando orações e trabalho em sua rotina. Os monges eram tidos como grandes lavradores da Europa, conservaram técnicas romanas de construção, dedicaram-se a diversas formas de artes industriais, como entalhes em madeira, trabalho com metais, vidro, tecelagem e fabricação de cerveja. Há historiadores que afirmam que os fundamentos da revolução industrial do século XIX foram lançados nas abadias medievais. O início da Idade Média apresentou como característica de mentalidade um alto nível de superstição e credulidade. Não era incentivada a criação a não ser que pudesse servir para fins religiosos, o que ocasionava um desinteresse pela filosofia ou pela ciência levando naturalmente a interpretações místicas do conhecimento e aceitação de fábulas como fatos, quando isso pudesse ter significado simbólico para a religião. Os filósofos que existiam à época podiam ser classificados ou como cristãos ou como pagãos. Os filósofos cristãos eram divididos entre os que defendiam a primazia do dogma e os que acreditavam que as doutrinas da fé poderiam ser explicadas sob a luz da razão. O Papa Gregório I, ou São Gregório Magno em seus trabalhos de teologia seguiu a linha dos filósofos cristãos dogmáticos, enquanto Santo Agostinho reconhecia a necessidade de uma explicação intelectual para a sua crença. Entre os filósofos pagãos a única escola que se seguia era o neoplatonismo. De grande importância foi a obra de Boécio, filósofo do final do século V, tido como pensador isolado, não sendo nem da linha dos pagãos, nem dos cristãos, seu tema dominante é a relação entre o homem e o universo. O legado das invasões germânicas na formação cultural e social dos começos da idade média pode ser notado, pois a elas se devem alguns elementos do feudalismo, tais como a concepção da lei como fruto dos costumes e não da vontade de um soberano, o conceito de relação contratual entre governantes e súditos, estabelecendo obrigações recíprocas, formação de relação honrosa entre senhor e vassalo e a idéia da soberania eletiva. A desestruturação política do período - marcado por muitas batalhas entre os povos - causou também grande impacto nas atividades econômicas, que baixaram aos níveis da troca direta e ruralismo. Apenas com a ascensão de Carlos Magno – a chamada renascença carolíngia, no século IX - a vida na Europa se reestruturou. O espírito humano foi extremamente elevado na literatura na filosofia e na arte. Os progressos que ocorreram na Europa Ocidental entre os séculos IX e XIII foram a tal ponto notáveis que podem ser considerados como uma nova forma de civilização. Muitas das realizações deste período, embora exerçam influências até os dias atuais, foram rejeitadas durante o Renascimento, que negava o que tinha origem medieval

Page 6: LA Idade Média e Renascimento

b) Baixa Idade Média

A segunda fase da Idade Média, ou Época Feudal, apresenta grande dose de humanismo e interesse pelo homem como criatura mais importante do universo, com mais interesse pelo que se passava neste mundo, em oposição aos interesses extraterrenos da primeira fase. É a origem do que veio a caracterizar a Renascença. O progresso da educação monástica, o aparecimento de um governo mais estável e o aumento da segurança econômica foram fatores que trouxeram ao povo o otimismo e o interesse pela vida, em oposição ao que ocorria na primeira fase da Idade Média. Aos poucos a religião foi tomando um aspecto menos abstrato, preocupando-se mais com os assuntos desta vida. A doutrina e as atitudes religiosas pessimistas, fatalistas, da primeira metade da Idade Média foram sendo substituídas por concepções religiosas bastante distintas. Passou-se a considerar a vida neste mundo como de extrema importância, tanto como preparação para eternidade, quanto em si própria. A natureza humana não era mais considerada depravada e o homem podia colaborar com Deus para a sua salvação. Líderes como S. Tomás de Aquino, S. Francisco e Inocêncio III foram substituindo as doutrinas estabelecidas por Santo Agostinho e Gregório Magno. A estrutura social e política do período era o feudalismo, sistema no qual o governo era descentralizado, exercido por barões sobre pessoas que dele dependiam economicamente. O direito de governar era exercido por quem possuía propriedade, porém estabeleciam-se relações recíprocas entre suseranos e vassalos. Outro tópico importante a ser ressaltado desta fase foi o surgimento das universidades. Instituições educacionais que continham uma escola de artes liberais e uma ou mais faculdades de finalidade profissional (medicina, direito ou teologia). Muitos avanços ocorridos nos campos da filosofia e da ciência, durante a segunda fase da Idade Média, só foram possíveis graças a este advento. Todavia, logo após atingir o seu auge, o feudalismo começou a apresentar sinais de decadência, por diversos motivos. As mudanças econômicas a partir do século XI, como a volta do comércio com o Oriente Próximo e o desenvolvimento das cidades, elevaram a demanda por produtos agrícolas, fortalecendo a classe camponesa, que poderia então comprar sua liberdade. Novas oportunidades de emprego eram criadas no comércio e na indústria, ocasionando a fuga de muitos servos para as cidades. A crescente demanda agrícola exigia a abertura de novas terras ao cultivo e para que os camponeses fossem prepará-las para o cultivo era necessário prometer-lhes liberdade. A Peste Negra que assolou a Europa no século XIV, também colaborou para a escassez de trabalho nos feudos e a migração de servos e camponeses para as cidades. As causas políticas também foram muito importantes, para o declínio feudal, sobretudo o aparecimento de fortes monarquias nacionais na França e na Inglaterra. Em aliança com a nobreza feudal, os ambiciosos reis desses países concentram a autoridade política em suas mãos. As cruzadas,

Page 7: LA Idade Média e Renascimento

peregrinações religiosas e econômicas, também contribuíram para consolidar as mudanças ocorridas no fim do período. c) Renascimento

Com a decadência de ideais e instituições feudais, novas formas de organização social foram surgindo, traçando novos princípios que viriam por caracterizar uma nova civilização. Este novo período é chamado de Renascimento e se estendeu de 1300 a cerca de 1650. Abrange uma série de novas realizações no campo da arte, filosofia, literatura, religião, filosofia e política. Em conseqüência do que vinha ocorrendo no período final da Idade Média, o renascimento teve um caráter extremamente humanista, porém, apresentou grandes diferenças com relação à fase anterior. O ideal de coletivismo medievo passa a ser substituído pelo individualismo. No campo político, semelhantes mudanças acontecem, em oposição a uma comunidade universal sob a autoridade soberana de um imperador ou do papa, os filósofos renascentistas sustentavam que os estados deviam ser absolutamente livres de todo e qualquer controle externo. O início da renascença se deu na Itália, por ter uma tradição clássica mais vigorosa que em outras regiões. Os italianos mantiveram durante a Idade Média a crença de que eram os verdadeiros descendentes dos antigos romanos. As universidades italianas eram mais voltadas ao ensino do direito e da medicina do que da teologia, e poucas universidades tinham influência eclesiástica. Todavia, devido ao egocentrismo, luta pelo poder e riqueza a vida política italiana foi bastante conturbada durante todo o período.

No campo das ciências, assunto bastante importante foi evidenciado no campo astronômico, consolidando a teoria heliocêntrica, em oposição à teoria geocêntrica. Essa conquista se deu pelo trabalho de diversos cientistas, em especial Galileu Galilei, e o polonês Copérnico. Houve também grandes avanços nas

pesquisas médicas e anatômicas. A produção artística estava em alta, havia entre as pessoas o anseio pelo prazer artístico. As artes do período serão mais bem explicitadas no capítulo seguinte. Era inevitável que um movimento tão vigoroso como a renascença se expandisse por outras regiões européias. Estudantes iam para Itália a fim de mergulhar no ambiente intelectual de Florença, Milão e Roma. A economia capitalista estava suplantando o feudalismo por todas as partes. Na França ocorreu a Guerra dos Cem Anos, fator decisivo para a consolidação do estado francês e derrocada do sistema feudal. Na Inglaterra, processo semelhante se deu devido à Guerra das Rosas. Além da Itália, a Alemanha foi outro país a não se consolidar como estado. Recebeu fortemente as influências do movimento humanístico italiano, porém logo sofreu grande impacto devido a Revolução Protestante.

Nesse mesmo período houve o desenvolvimento de um movimento no campo religioso denominado Reforma, que pode ser dividida em duas partes: A Revolução Protestante,

Page 8: LA Idade Média e Renascimento

que irrompeu em 1517 e levou a maior parte da Europa Setentrional a separar-se da Igreja Romana, tendo como expoentes Calvino e Lutero; e a Reforma Católica, que efetuou uma alteração profunda em alguns dos característicos mais notáveis do catolicismo dos fins da Idade Média.� A Itália detinha o controle das relações comercias com o Oriente Próximo, o que lhe conferia muito poder econômico, porém com a expansão comercial ocasionada pelas grandes navegações e a descoberta do Novo Mundo, fez com que o eixo econômico fosse deslocado da área mediterrânea para a costa do Atlântico, enfraquecendo assim o poder italiano ao longo do renascimento. O declínio da cultura renascentista em outros países da Europa deu-se de forma menos abrupta que na Itália. As mudanças ocorreram de forma suave, as realizações científicas não fizeram mais que se expandirem, mudando de interesse dos ramos físico e matemático para o biológico. A arte desenvolveu-se gradualmente para o barroco que dominaria os séculos seguintes.

Page 9: LA Idade Média e Renascimento

3 - PANORAMA ARTÍSTICO a) Arte Cristã Primitiva

Por causa das contínuas e ferozes perseguições que os cristãos sofreram nos primeiros séculos de cristianismo, sua arte era constrangida a ser realizada nas catacumbas. Necrópoles cavadas nas rochas, formando longos corredores de pouca largura, onde as covas eram escavadas ao longo das paredes e fechadas com enormes lousas de mármore, nas quais o pintor ou escultor tinha espaço para enaltecer as virtudes do defunto. Os artistas incumbidos da decoração interna desses sepulcros não criavam uma atmosfera fúnebre. Apenas no início do período medieval é que começam a surgir cenas alusivas à crucificação de cristo. Os artistas anteriores a esse período ainda sofriam muita influência greco-romana submetendo-se a concepções do antigo mundo pagão. Nesta fase inicial da idade média as basílicas romanas ou tribunais passaram a ser modificados para servirem de local de reunião aos membros da congregação cristã. Tentavam modificar antigos templos pagãos a fim de abrigar a nova fé, porém isso começou a causar-lhes repúdio. Começaram a construir seus próprios templos, porém faltava-lhes criatividade, e nada de muito diferente da basílica romana foi erigido, além de algumas modificações na disposição interna. As primeiras igrejas cristãs eram espaçosos caixões de pedra que se ampliavam em virtude dos mosaicos de vidro colorido que passaram a ser usados. Em resumo, a primitiva arte cristã nada de muito novo trouxe, a não ser a velha decadente arte do mundo pagão. b)A idade Média

A arte dos primeiros séculos da Idade Média era anônima. Os arquitetos construíam anonimamente, os pintores, escultores, miniaturistas não se davam ao trabalho de rubricar as suas obras. A maioria dos artistas trabalhava direta ou indiretamente para a Igreja. Dessa forma pode-se atribuir tal anonimato a um senso conveniente de modéstia. Porém outro fator que contribuía para tal característica era que poucas pessoas utilizavam sobrenomes, e que raramente os artistas se afastavam da cidade ou do claustro onde exerciam sua profissão, além de possuírem uma vida muito simples e não conceberem idéias acerca de sua posição na sociedade. No início do período medieval as escolas públicas romanas foram sendo substituídas pelas escolas monásticas. Após um tempo de organização, o currículo dos monges se baseou em sete assuntos, chamados de as Sete Artes Liberais. Foram organizadas por Boécio no trivium e quadrivium. O primeiro incluía a gramática, a retórica e a lógica, consideradas chaves do conhecimento, e o segundo, de conteúdo mais definido, era composto pela aritmética, geometria, astronomia e música. Embora o objetivo da formação fosse totalmente eclesiástico e não profissionalizante e as massas e mesmo os membros da aristocracia secular eram em

Page 10: LA Idade Média e Renascimento

grande parte analfabetos, foi este sistema educacional que salvou a cultura européia de um eclipse total e forneceu bases para evolução do conhecimento da segunda fase da Idade Média. A literatura dos começos da Idade Média foi marcada primeiramente por um declínio do interesse pelas obras clássicas, seguida de obras com originalidade duvidosa que passam a abrir caminho para o desenvolvimento de novas tradições literárias. A língua latina sofreu efeitos da barbarização gradual da cultura, formando com o decorrer do tempo as línguas nacionais, que passaram a ser empregadas em novas obras poéticas, causando com o decorrer do tempo um vigoroso desenvolvimento literário. O período medieval tem como característica a não especialização do homem em nenhum ramo de atividade. Igualmente se deu com as artes. O campo do conhecimento era concebido como único, sendo dominado pela lógica como chave da sabedoria. Tal paixão pela unidade foi levada ao campo artístico, de forma que tanto a escultura quanto a pintura estavam a serviço da arquitetura, que produziu dois grandes estilos: i) Estilo Românico

Termo introduzido por críticos de arte para definir a arte predominante sacra do período antecessor ao período gótico, e que como toda tentativa de criação de rótulos pode prejudicar a exata compreensão da produção artística. É no período dito românico que na arquitetura a basílica romana passa por transformações, levando o templo a ter forma de cruz latina, legado desta época que perdura até hoje nesse tipo de edificação. Em uma civilização em que o povo era miserável, em que poucos passavam da idade avançada dos cinqüenta anos, em que três quartos da população morriam nos primeiros anos de vida, é imaginável que a arte contivesse elementos de nervosismo, descambando no grotesco, evidenciando a desumanidade, a crueldade e a violência características desse período. Os traços essenciais desse estilo de construção eram o arco redondo, as paredes maciças, enormes pilastras, janelas pequenas, interiores escuros e a predominância de linhas horizontais. A arquitetura não favorecia qualquer apelo aos sentidos. As igrejas e mosteiros eram escuros a fim de criar uma atmosfera propícia à devoção extraterrena. ii) Estilo Gótico

O aumento da riqueza, o progresso da cultura, a expansão dos interesses seculares e o orgulho das cidades, foram dando espaço para que um novo estilo arquitetônico começasse a surgir. Ao invés de monumentos isolados, neste período os templos passaram a se localizar nas cidades, se tornando centro de vida da comunidade, abrigando não só uma igreja, mas também uma escola, biblioteca, além de por vezes funcionar como câmara municipal. O povo de toda a comunidade tomava parte na construção dessas propriedades cívicas.

Page 11: LA Idade Média e Renascimento

A construção complexa era constituída de arco ogival, abóboda nervurada, arestas, arcobotante exterior, formando uma construção mais leve, que por esse motivo se torna mais elevada, com enormes janelas. Possuía elevadas flechas, enormes janelas, rosáceas, colunas múltiplas e gárgulas e monstros míticos como objetos de decoração. O interior nunca era sombrio ou escuro. Os vitrais captavam a luz difundindo por todo o interior com múltiplas cores. Os homens da renascença, por desprezo a tudo que fosse medieval, causaram inexatidão na compreensão do que foi o estilo gótico. No sentido espiritual exprimia maior reconhecimento à importância desta vida, com grande apelo aos sentidos, revelado pelas múltiplas cores dos vitrais, escultura naturalista dos santos e Virgens. Nos séculos XII e XIII, auge do desenvolvimento feudal, surgiram os poemas dos trovadores (troubadours) que refletiam as mudanças de idéias, sobretudo, dos ideais da cavalaria, com a glorificação da mulher, exaltação da bondade e refinamento de maneiras. Tal movimento se deu no sul da França, na região de Provença. O amor romântico era o tema central de seus versos. Os encantos sedutores das mulheres, outrora condenados pelos monges e padres da Igreja, são exaltados, não de uma forma sexual, mas de uma forma quase mística. Alguns trovadores também abordaram temas satíricos fazendo críticas à sociedade da época, principalmente ao clero. A tradição dos troubadors foi continuada pelos trouvères, no norte da frança, e pelos minessinger, na Alemanha. Com o triunfo econômico da segunda fase da Idade Média, os jovens começaram a circular pela Europa, em viagens de estudos, dando abrangência internacional para as artes, que circulavam e se espalhavam por todo o continente. A realidade secular e os diferentes estilos de vida passaram a ser retratados em diversos meios artísticos, seja na poesia, na pintura, ou na música. Esta prosperidade se encerrou com o bacilo da peste negra, mergulhando toda a região numa macabra e tenebrosa sensação de pavor e desespero. Este sentir foi retratado pelos pintores da época, e as artes em geral sofreram demasiadamente perdendo o senso de universalidade que estava conquistando. Foi nesse período também que a indumentária de toda a população passou a sofrer grandes alterações, imprimindo grande diferença entre as roupas masculinas e femininas que até então não havia. c) Renascimento Com o advento das pinturas a óleo, notou-se que um quadro representativo de uma estátua custava muito menos que a mesma obra em escultura. As encomendas aos pintores começaram a crescer e o estatuário a cair no esquecimento. Posteriormente, as gravuras começaram a aparecer fazendo concorrência para a pintura, pois com a impressão poderiam produzir com mais facilidade diversas cópias da mesma obra. A arte do buril impulsionou a criação do sistema de impressão de Gutenberg, revolucionando o meio artístico da época.

Page 12: LA Idade Média e Renascimento

Com a valorização econômica o artista passa a não depender exclusivamente dos senhores feudais e do clero, e passa a oferecer suas obras também aos mercadores, que passavam a possuir melhores residências, e que sentiam cada vez mais necessidade de decorar o interior delas. É a partir desse momento que o artista passa a sair do anonimato, e começa a ser transformado em membro notável da sociedade, sendo requisitado pelos ricos que rivalizavam o resplendor de suas mansões. É a partir desse momento que a arte começa a sair da igreja, e conquista novas necessidades. As pinturas passam a não mais apenas representar figuras religiosas, como também a exprimir retratos sob encomenda de mercadores. O artista passa a ter mais variedade em sua criação e a estabelecer novas técnicas de composição para sua obra. A arquitetura renascentista tinha suas raízes fincadas no passado. O estilo da construção era eclético, uma mescla de elementos derivados da Idade Média e da antiguidade pagã. A basílica de São Pedro em Roma sintetiza todos os detalhes da arquitetura da época. i) Trecento

No campo da literatura, começaram a surgir figuras como Petrarca e Boccaccio na Itália, possuíam muitos vínculos com a literatura produzida no final da Idade Média, com tons bastante parecidos com o das poesias cavaleirosas de amor, porém diferiam-se por possuir tons mais licenciosos, egoísticos, anticlericais e mais preocupados com a vida carnal. Ambos

possuem importância por terem estabelecido o modelo de poesia e prosa italiana e exercido influência considerável nos escritores de outros países. A pintura foi a arte que apresentou as mais soberbas realizações do Renascimento, e sua história acompanha a mesma divisão temporal da literatura. Todavia, no período do Trecento apenas um pintor notável, Giotto,

responsável por levar a sua arte a uma posição independente. ii)Quattrocento

A fase que veio em seguida na literatura distinguiu-se pelo revivescimento da língua latina. A paixão pelos clássicos atingiu tal dimensão que só se concebia escrever em tal língua, relegando a língua nacional para segundo plano. Porém, tal atitude limitou-se a imitar os modelos latinos, não desenvolvendo talentos superiores de criação. Foi neste período que as pinturas a óleo começaram a surgir, e temas não religiosos começaram a tomar lugar no quadros, ainda que algumas vezes se misturasse com motivos eclesiásticos. Grande nome artístico do período foi Leonardo da Vinci, um dos mais talentosos artistas de toda a história, e tinha uma capacidade incomum, não só como pintor, mas também escultor, músico, arquiteto, matemático, cientista e filósofo.

Page 13: LA Idade Média e Renascimento

iii) Cinquecento

Dessa forma houve uma retomada da língua nacional e voltou-se a produzir em patamar de igualdade tanto na língua nacional como com o grego e o latim, fundindo perfeitamente as influências clássicas e modernas apresentando maior originalidade, tanto na forma quanto no conteúdo, produzindo-

se poesias épicas, bucólicas, drama e compêndios históricos. Este período foi o apogeu da pintura renascentista. Os grandes nomes de pintores estão nesse período. O maior gigante é Michelangelo grande pintor e exímio escultor.

Page 14: LA Idade Média e Renascimento

4 - A MÚSICA Após a elucidação a respeito do período histórico que estamos trabalhando e um breve panorama das artes que refletiam as sociedades de cada civilização abordada, passamos a falar estritamente de música, fazendo alguns comentários históricos que por vezes complementam as informações anteriores, e por vezes pode ser melhor compreendida, com leitura do que já foi exposto nos capítulos antecedentes. Trataremos de abordar como a música era concebida em cada período e seus aspectos técnicos, quem eram as pessoas que a executavam, através de quais instrumentos, para quem e com qual objetivo. a) Música Cristã Primitiva

Os cristãos primitivos, devido às perseguições que sofriam, se reuniam nas catacumbas e lá também faziam música. Unidos pela fé comum faziam suas preces coletivamente inspirando seus cantos nos cantos dos gregos, romanos e hebraicos, em conseqüência de suas origens, optando pelos cantos mais simples e austeros. Devido à precariedade do ambiente onde essa música era executada, e também aos interesses extraterrenos católicos, em que negavam tudo que era pagão ou construído pelo homem, se utilizavam apenas do canto para produzir música, sem o uso de qualquer instrumento. Apenas no início do século IV o imperador Constantino reconheceu o cristianismo e moldou a Igreja na forma da Instituição que conhecemos. A partir desse momento os cristãos passam a sair das catacumbas edificando igrejas, e algumas vezes se reunindo nos claustros dos mosteiros. Com a organização do tempo nos mosteiros inicia-se a formação da liturgia cristã, e a dedicação de momentos no dia em que se faziam preces coletivas cantadas. b) Cantochão

Esse canto sacro do início da Idade Média era monofônico, composto de apenas uma voz, e após sucessivas alterações regionais foi se unificando, graças à dedicação de alguns papas. Cabe a Santo Ambrósio a instituição dos modos autênticos utilizados no canto, e posteriormente São Gregório Magno, ordenou o rito do canto, estabeleceu os respectivos modos plagais em derivação dos autênticos, e, sobretudo, foi responsável por difundir por toda a Igreja as regras do canto, criando e dirigindo a Schola Cantorum. Alguns historiadores consideram que São Gregório Magno tenha estabelecido o Antifonário - coletânea de cantos em forma manuscrita, que auxiliou a uniformização - porém este é um fato de veracidade discutível no meio histórico, devido às precárias evidências e também o conhecimento de que o canto era transmitido oralmente. Era no antifonário que o chantre poderia encontrar diversas fórmulas prontas de cantos notadas em neumas, escritos em modos salmódicos, onde estavam dispostas as antífonas, cânticos para acompanhar os salmos. Muitas vezes denomina-se o cantochão como Canto Gregoriano, em homenagem ao Papa, mas tal denominação é errônea em termos genéricos, pois representa apenas um dos estilos de canto sacro monofônico – cantochão.

Page 15: LA Idade Média e Renascimento

O cantochão foi elemento essencial na difusão da Igreja Católica, pois através dele que se deu a catequização de muitas pessoas, que viviam em uma fase de conflitos sem esperanças e sem educação, funcionando o canto como forma eficiente de persuasão dos ideais cristãos. Os ideais extraterrenos de abnegação de tudo que era humano fez com que cada vez mais a música fosse essencialmente ligada à Igreja, o que culminou com a proibição da execução musical que não fosse cristã. Durante quase mil anos, o cantochão foi a única forma de música na Europa. São fortes os característicos do cantochão: música pura, vocal, composta em modos, sem cooperação instrumental, monódica, com abrangência normalmente dentro de uma oitava, sem contraponto, sem acompanhamento. O ritmo era oratório, composto em função do texto, abstraindo o rigor da métrica, sem compasso. para que a palavra fosse o elemento de fácil compreensão. Por mais numeroso que fosse o coro, o cantochão era sempre executado em rigorosa homofonia, com todos cantando em uníssono ou oitavas. Os monges que cantavam este tipo de música imaginavam-se baseados em coros angelicais, dominados por profunda devoção divina. Sentiam unidade absoluta, nenhum cantor sobrepunha-se a outro ou valia mais. Era a mais alta expressão de sentimento, todavia, a música, como a pintura, a escultura ou a poesia, ainda não tinha caráter de arte, sendo anônimas, servindo-se exclusivamente a Deus. Com a evolução criativa das monodias criadas pôde ser definido alguns gêneros de cantochão: silábico, que apresentava uma nota musical para cada sílaba do texto; melismático, com várias notas para cada sílaba; neumático, com poucas notas para algumas sílabas; e o salmódico que utlizava a mesma nota para todas as sílabas. Embora tenha sofrido numerosas modificações ao longo dos séculos e não se cante mais como se cantava nas Scholae Cantorum, ainda hoje, diariamente, nos mosteiros beneditinos como o de Solesmes, é executado o cantochão, sendo considerada a mais antiga música ainda em uso. c) Notação Musical

O filósofo Boécio, do início do Século VI, foi uma fonte importante para teóricos da música desde a época carolíngia até o quattrocento italiano. Fundindo pensamentos novos com a teoria grega, pitagórica, estabeleceu uma série de conceitos, e também colaborou para a grafia musical. Foi Boécio quem colaborou para definir letras do alfabeto como certas notas musicais, o que conhecemos hoje como: A, lá; B, si; C, dó; D, ré; E, mi; F, fá; G, sol. Os cantos litúrgicos não necessitavam de uma profunda notação musical, uma vez que eram ensinados pela tradição oral nos mosteiros. Porém no século IX,com a evolução dos cantos melismáticos, começou-se a sentir a necessidade da criação de símbolos que representassem combinações de acento e de sinais de pontuação do discurso. Chamados de neumas, estes símbolos, inseridos acima do texto, representavam simploriamente o desenho melódico, ajudando a memorização de quem os

Page 16: LA Idade Média e Renascimento

executava, não indicando a altura relativa ou absoluta dos intervalos que separam cada nota de outras, mas só a direção da melodia do agudo para o grave ou vice-versa.

Guido D’arezzo foi um dos monges teóricos de extrema importância para a história da música. No início do século XI contribuiu muito para evolução da notação musical, introduzindo a importância de linhas para facilitar a leitura das notas, usando linhas diferentes para o dó e para o fá. Para evitar confusão se escrevia C e F representando estas notas no início da linha, o deu origem aos símbolos das claves ainda hoje usadas. Foi Guido D’arezzo que criou exercícios para treinamento da entoação – solfejo - que constavam da “Mão de Guido”, e a inventou o alfabeto musical utilizado primeiramente nos países de

língua latina e usado hoje em quase todo o mundo: do, re, mi, fa, sol, la, si. Para treinar a entoação criou um hino a São João, com uma melodia em que cada frase começava em um grau mais alto que o anterior: Ut queant laxis Para que nós, servos, com nitidez (ut posteriormente substituído por dó, para facilitar o canto)

Resonare fibris e língua desimpedida Mira gestorum o milagre e a força de teus feitos Famuli tuorum elogiemos, Solve polluti Tira-nos a grave culpa

Labii reatum da língua maculada Sancte Ioannes Ó São João (verso adicionado posteriormente)

Giovanni Battista Doni Foi quem substituiu no século XVII a sílaba ut por dó. O si foi adicionado posteriormente ao alfabeto musical, uma vez que no sofejo, ele era “mole” ao subir e “duro ao descer” mas não em todos os modos. Essa distinção que deu origem ao b molle, e b durum, que posteriormente foram sendo substiuídos pelos acidentes, bemol, sustenido e bequadro. d) A Canção Profana

Mesmo com a proibição pela Igreja de qualquer manifestação musical que não fosse sacra, aos poucos, a partir da renascença carolíngia, começa a surgir a canção, cultivada pelos nobres em seus castelos e pelo povo, nas ruas, nas festas e nas feiras. Durante a Alta Idade Média também se imagina haver música profana, porém esta nada alcançou o conhecimento historiográfico. Celebrava-se com regozijo a entrada da primavera após o tenebroso inverno europeu. Grandes responsáveis pela divulgação das canções eram os trovadores (troubadours, trouvères, minessingers), ambulantes de origem nobre. Normalmente eram acompanhados por músicos, chamados de menestréis ou jograis, normalmente vindos de baixa categoria social, que além de tocar instrumentos exibiam-se como dançarinos, acrobatas. Aos poucos, por volta do século XIII esses músicos

Page 17: LA Idade Média e Renascimento

passaram a se organizar em confrarias, espécie de associação de músicos profissionais organizadas junto à igreja. Os verbos trobar e trouver vêm de Tropare e significam inventar, compor tropos. Enquanto o monge, no silêncio do mosteiro, celebra a grandeza de Deus com hinos e tropos, o trovador e o troveiro (troubadours e trouvères) compõem na intimidade do coração, cantigas de louvação à mulher, amada, desejada de forma sublime. Guillaume de Machault e) Ars Antiqua

A partir do século IX o canto passa a ser acompanhado de órgão, originando aos poucos vozes simultâneas distintas. No início o acompanhamento do órgão era feito em uníssono ou por oitavas. Pouco a pouco, começou-se a empregar outros intervalos. Os primeiros a aparecer foram a quinta e a quarta, em conseqüência à teoria grega das consonâncias, sustentada por Boécio. Começa-se então a configurar a diafonia ou organum. O organum paralelo, a duas vozes, mantendo uma sequência entre a voz que mantinha a melodia principal, gregoriana, chamada tenor (de tenere, manter), ou Vox principalis e a outra, chamada de Vox organalis em intervalos de quintas paralelas. Acredita-se que esta segunda voz era atribuída ao órgão, pois em grego organa significa instrumento. Depois do uso das quintas passa a ser duplicada com quartas ou oitavas. Aos poucos o organum paralelo vai tornando-se livre, principalmente para evitar o intervalo de quarta aumentada, o trítono, considerado à época como diabolus in musica. A partir do século XII desenvolve-se a escrita dos organa. Além do discantus, espécie de organum nota contra nota (punctus contra punctus) nota-se o surgimento do organum melismático, com os melismas aparecendo em grande número, na razão de 20 notas contra uma, relegando a voz tenor a um segundo plano. Dessa forma a técnica passa a sobrepor liturgia, ofuscando o cantochão em relação ao organum. Este período inicial de trabalho contrapontístico é chamado de Ars Antiqua. Dois mestres da Escola de Notre Dame desse período são Léonin e Pérotin. Todavia esta denominação só foi introduzida quando o desenvolvimento do contraponto chegou a tal ponto que a produção posterior passou a ser chamada de Ars Nova f) Ars Nova

Desenvolvida principalmente na França e na Itália, a chamada Ars Nova apresenta características diferentes da música até então produzida. Apresentava-se maior influência da música profana sobre a polifonia erudita, empregando temas populares como cantus firmus, ou mesmo sua invenção livre, abandonando o repertório gregoriano que até então servia de base para a formação dos tenores. Maior variedade rítmica era usada, empregando valores de duração mais curta que os anteriormente usados. Era freqüente o uso do ritmo binário, e as terças e sextas passaram a ser incorporadas nas possibilidades de intervalos a serem usados. Portanto tinha-se uma polifonia mais rica, harmoniosa e expressiva, com acentuado caráter profano. Os compositores passam a ser reconhecidos e do início da

Page 18: LA Idade Média e Renascimento

Ars Nova podem ser destacados os nomes de Filipe de Vitry, francês, teórico do contraponto, João da Cascia de Florença, John Dunstable, inglês. Mas foram os mestres flamengos os maiores expoentes desse período, atingindo seu ápice no século XV. O adjetivo caracteriza uma região geográfica que abrange os Países Baixos e o norte da França, até então ocupada pelo ducado de Borgonha, região mais civilizada do norte dos Alpes. Entre os compositores flamengos estão Gilherme Dufay, João Okeghem, Jacob Obrechet e Josquin dês Près. Estes mestres descobriram e desenvolveram todos os meios técnicos e os artifícios do contraponto, que ficaram incorporados à arte, e dos quais mais tardes puderam valer-se com eficácia os novos compositores para seus fins artísticos. Dos flamengos vem a fuga, essa forma de composição considerada em todos os tempos a melhor ginástica para robustecer tecnicamente o musicista. Todavia o contraponto não era considerado um artifício para se chegar à obra de arte, mas era seu próprio fim. Dessa forma o contraponto flamengo passou a sofrer de grandes exageros contrapontísticos, transformando tanto a melodia original que muitas vezes desvirtuava o caráter estético da obra, que passava a ser mais matemática do que musical. g) Renascimento

O estilo do renascimento é a continuidade do estilo franco-flamengo, porém centro desloca-se para outras regiões, França, Alemanha, Itália e Inglaterra. Cada vez mais, nos países que continuam fiéis a fé romana a música sai das igrejas, e passa a preencher a vida da sociedade aristocrática. Nos países que aderem a Revolução Protestante, a música retira-se novamente para as igrejas, porém adaptando-se às formas simples de devoção do povo. Não existe um limiar exato que define a transição da Idade Média para o Renascimento na música, mas o estabelecimento da polifonia, o crescimento da música profana e as novidades que a Revolução Protestante e a conseqüente Reforma Católica, são fatores que desencadeiam, juntamente com todas as mudanças artísticas e culturais do período, a passagem da música antiga para a música moderna. Na Inglaterra, com a ascensão de Elizabeth como rainha, começou-se a surgir os compositores chamados elisabetanos. Estes, dentre os quais pode se destacar William Byrd, compunham madrigais e virginais, principalmente no terreno profano. Já na Alemanha, devido Lutero ter profunda musicalidade moldou-se o coral luterano, melodia sacra popular, ou de origem popular e depois harmonizada, cantada não por um coro de cantores profissionais, mas pela comunidade inteira, acompanhada pelo órgão, ao qual também se concede o direito de preludiar o canto ou de orná-lo com variações livres. Possuía um caráter folclórico, e aos poucos outros instrumentos foram sendo incorporados e temas mais sutis foram incorporados ao repertório que passavam a necessitar novamente de cantores profissionais para executá-los. Jacobus Gallus e Michael Praetorius são nomes que se destacam nesse estilo.

Page 19: LA Idade Média e Renascimento

A música da Reforma Católica foi encabeçada por um grande nome do período. Giovanni Pierluigi Palestrina. Ao seu lado, como compositor também de missas e motetos estava Orlando de Lassus. Palestrina baseou-se em muitos cantos gregorianos para compor seus motetos. O ambiente musical do período não era mais totalmente controlado pela Igreja. A música passava a tomar orientações estéticas independentes nas mãos dos compositores que misturavam o sagrado e o profano h) Formas Musicais

Para clarear algumas expressões usadas, abaixo segue algumas das formas musicais citadas que foram utlizadas no período da Idade Média e do Renascimento. A principal cerimônia da liturgia cristã é a missa, que é dividida em cinco partes: Kyrie, Glória, Credo, Sanctus e Benedictus e Agnus Dei. Na música sacra a composição que ilustra a cerimônia leva o mesmo nome: missa. Ofertório chama-se um trecho musical intercalado entre o Credo e o Sanctus, entoado durante a oferenda, consolidado como cantochão, e revestido de caráter polifônico a partir do Renascimento. Conductus é a música entoada para a entrada do padre ao altar.Peça a duas vozes Motete é uma música coral polifônica que consiste no acréscimo de palavras (mots) à voz tenor (duplum). Antífona era inicialmente o canto dos salmos e hino, alternando as duas partes do coro, mais tarde em coro e povo, em que o povo cantava um versículo em repetição enquanto o coro executava outros versículos com melodias diferentes entre si, facilitando a execução. No fim da renascença já se podia identificar diversas formas regionais de música profana como a vilanela ou frotola – canção italiana, leve, brejeira ou cômica. A canção (canzonetta – Itália, chanson – França, song – Inglaterra, Lied – Alemanha) semelhante a vilanela porém com texto mais elevado, geralmente com duas partes. O madrigal era cantado a quatro ou cinco vozes por damas e cavalheiros e mais tarde também acompanhados pelo alaúde, espécie de motete de caráter profano, as vezes de lirismo erótico. Fuga é uma técnica composicional baseada em elaborar por imitação temas entre diversas vozes. Antes de consolidar como técnica, na Idade Média, o nome era usado para se referir a diversos procedimentos imitativos. i) Instrumentos

Apresentamos abaixo alguns instrumentos surgidos e utilizados no período da Idade Média e do Renascimento, separados nas quatro categorias. Os instrumentos eram pouco usados no início da Idade Média, e posteriormente começaram a aparecer na música profana, mais tarde sendo absorvidos também pela música sacra.

Page 20: LA Idade Média e Renascimento

i) Aerófonos

Os instrumentos de sopro de tubos simples, feitos de cana, osso ou chifres, eram usados na época medieval

O portativo (organetto) é uma espécie de órgão medieval. Era tocado com a mão direita enquanto a mão esquerda operava o fole. Era usado apoiado no joelho do tocador. Aos poucos os órgãos foram evoluindo e se fazendo presente nas músicas cristãs, como o órgão-bíblia, que também era pequeno portátil e executado por

apenas um instrumentista.

ii) Idiófonos

Os sinos medievais eram usados nos dedos das mãos e tem origem oriental. Sinos também começaram a ser pendurados nas igrejas

iii) Membranófonos

O tambor começou a aparecer na Europa por volta do século VI Possuía uma corda para ser pendurada ao ombro e a pele era tensionada por cordas.

iv) Cordófonos

A lira desde a antiguidade já fazia parte da lista de instrumentos de corda. Possuía cordas verticais com afinações diferentes. O monocórdio, era uma caixa acústica com apenas uma corda esticada com uma régua que possuía um regulador que poderia produzir diferentes notas. Era usado no ensino de música de mosteiros principalmente para checar a afinação. Tem origem nos estudos acústicos de Pitágoras.

Outros instrumentos de cordas presentes no período eram a harpa e o alaúde.

Com a evolução da música profana passou a ser comum o uso do alaúde e posteriormente da guitarra renascentista, e também das rabecas e violas de gamba.

Page 21: LA Idade Média e Renascimento

5 - CONCLUSÃO Encerramos nosso trabalho com uma ilustração de H. Van Loon em seu livro “As Artes”, que sintetiza a evolução da história da música como o curso de um rio, mostrando com eficácia a influência do período da Idade Média e do Renascimento. Procuramos demonstrar de forma sintética os principais elementos da música do período, sem no entanto ter a pretensão de ter aqui esgotado o assunto que é tão bem explicado em diversos livros da literatura historiográfico-musical e também, de certa forma, ainda muito desconhecido, na medida que carecemos de evidências precisas de como a música era realmente executada à época.

Page 22: LA Idade Média e Renascimento

6 - BIBLIOGRAFIA ABRASHEV, Bozhidar, GADJEV, Vladimir. The Illustrated Encyclopedia of Musical Instruments. Bulgária: Konemann, 2000 ALALEONA, Domingos. Noções de História da Música. São Paulo: Ricordi, 1945 BENNETT, Roy. Uma Breve História da Música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1986 BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental. Porto Alegre: Ed. Globo, 1968 CANDÉ, Roland de. História Universal da Música, vol. 1.. São Paulo: Martins Fontes, 2001 CARPEAUX, Otto Maria. O Livro de Ouro da História da Música. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001 CORTE, A. Della, PANNAIN, G.. Historia de la Musica. Barcelona: Ed. Labor, 1950 DOURADO, Henrique Autran. Dicionário de Termos e Expressões Da Música. São Paulo: Ed. 34, 2004 DURANT, Will. História da Civilização, Vols. 15 – 19. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1959 ELLMERICH, Luis. História da Música. São Paulo: Boa Leitura Editora, 1962 LOON, H. Van. As Artes. Rio de Janeiro: Ed. Livraria do Globo, 1945 MASSIN, Jean e Brigitte. História da Música Ocidental. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 OLING, Bert, WALLISCH, Heinz. Enciclopédia dos Instrumentos Musicais. Lisboa: Livros e Livros. 2004 PAHLEN, Kurt. História Universal da Música. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1968 SPENCE, Keith. O Livro da Música. São Paulo: Círculo do Livro, 1979 Imagens retiradas da Internet em pesquisa http://images.google.com.