Labohidro Volume 20

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA

Boletim do Laboratório de Hidrobiologia

Bol. Lab. Hidrobiol., v.20, n.1, p. 1-82, 2007.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

REITORProf. Dr. Natalino Salgado Filho

VICE-REITORProf. Dr. Antonio José Siva Oliveira

PRÓ-REITOR DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICOProf. Dr. Fernando Carvalho Silva

DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDEProfa. MSc. Elisabeth de Sousa Barcelos Barroqueiro

DIRETOR DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIAProf. Dr. Ricardo Barbieri

CHEFE DO DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIAProf. Dr. Marco Valério Jansen Cutrim

CONSELHO TÉCNICO DESTE VOLUMEProf. Dr. Antonio Carlos Leal de Castro - Universidade Federal do Maranhão

Prof. Dr. Evandro Severino Rodrigues - Universidade de São PauloProfa. Dra. Gilda Vasconcellos de Andrade - Universidade Federal do Maranhão

Prof. Dr. João Marcos de Góes - Universidade Estadual do PiauíProf. Dr. José Souto Rosa Filho - Universidade Federal do Pará

Prof. Dr. Luís Roberto Takiyama - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado do PiauíProfa. Dra. Maria Cristina Alves Maneschy - Universidade Federal do Pará

Profa. Dra. Maria Isabel Vitorino - Universidade Federal do MaranhãoProfa. Dra. Maria Luise Koening - Universidade Federal de Pernambuco

Prof. Dr. Richard Carl Vogt - Instituto Nacional de Pesquisas da AmazôniaProf. Dr. Tommaso Giarrizzo - Universidade Federal do Pará

Profa. Dra. Victoria Judith Isaac Nahum - Universidade Federal do Pará

Endereço para correspondênciaUniversidade Federal do Maranhão

Laboratório de Hidrobiologia – LABOHIDROAv. dos Portugueses s/n, Campus Universitário do Bacanga, São Luis – MA

CEP: 65085-580Fone: 0xx(98) 2109-8561/ 8566Fone/Fax: 0xx(98) 2109-8569

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BOLETIMDO LABORATÓRIODE HIDROBIOLOGIA

Volume 20 - 2007

EDITORESAntonio Carlos Leal de CastroNivaldo Magalhães Piorski

COMISSÃO EDITORIALAntonio Carlos Leal de CastroMaria Marlúcia Ferreira CorreiaMilton Gonçalves da Silva JúniorMarco Valério Jansen CutrimNivaldo Magalhães PiorskiRicardo Barbieri

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Boletim do Laboratório de Hidrobiologia/ UniversidadeFederal do Maranhão. São Luís: Lab. Hidrobiologia, 2007.v.1, n.1, 1977.

v20: il.; 27 cm.

AnualTexto em português e inglês.ISSN - 0102-4337

1. Biologia aquática I. Laboratório de Hidrobiologia

O Boletim do Laboratório de Hidrobiologia destina-se a publicar trabalhos originais e de real valor

científico que tratam da Biologia Aquática e outras ciências correlatas.

Publicação anual/ Anual Publication

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ISSN - 0102-4337

BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA

VOLUME 20 2007

ARTIGOS

TEORES DE ZINCO E COBRE EM OSTRA (Crassostrea rhizophorae) E SURURU (Mytella falcata)DO ESTUÁRIO DO RIO BACANGA EM SÃO LUÍS (MA)M. O. A. I. Rojas, P. R. S. Cavalcante, R. C. Souza & E. C. S. Dourado ......................................... 1 - 8

CARACTERÍSTICAS ECOLÓGICAS DO HABITAT DE Kinosternon scorpioides scorpioidesLINNAEUS, 1766 (Reptila, Chelonia, Kinosternidae) NO MUNICÍPIO DE SÃO BENTO – BAIXA-DA MARANHENSE (MARANHÃO, BRASIL).L. A. Pereira, A. L. Sousa, M. V. J. Cutrim & E. G. Moreira ........................................................... 9 - 14

BIOECOLOGIA DE Ucides cordatus LINNAEUS, 1763 (DECAPODA: BRACHYURA) NA COSTADO ESTADO DO AMAPÁM. E. B. Fernandes & M. L.Carvalho ......................................................................................... 15 - 22

INFLUÊNCIA DE ANOMALIAS DE TSM NO REGIME DE CHUVAS DO BANHADO DO TAIMM. A. G. Cardoso, D. M. Marques, C. A. B. Mendes & A. Villanueva ........................................ 23 - 30

RELAÇÃO PESO-COMPRIMENTO DE ESPÉCIES DE PEIXES DO ESTUÁRIO DO RIO PACIÊN-CIA DA ILHA DO MARANHÃO, BRASILM. G. Silva-Júnior, A. C. L. Castro, L. S. Soares & V. L. França ................................................... 31 - 38

ORGANIZAÇÃO SOCIAL E ASPECTOS TÉCNICOS DA ATIVIDADE PESQUEIRA NO MUNICÍ-PIO DE VIGIA - PAK. R. M. Mourão L. A. Pinheiro & F. Lucena ............................................................................. 39 - 52

TAXONOMIA DAS MACROALGAS DOS MANGUEZAIS DA BAÍA DE TURIAÇU, ESTADO DOMARANHÃO, BRASILE. O. Caridade & M. M. Ferreira-Correia .................................................................................... 53 - 60

EVALUATION OF THE MANAGEMENT PLAN OF THE BACANGA STATE PARK, ISLAND OFMARANHÃO, NORTHEAST,BRAZILA. A. S. Andrade & A. C. L. Castro ............................................................................................ 61 - 68

ANÁLISE ECOMORFOLÓGICA DE TRÊS ESPÉCIES DE PEIXES DO PARQUE ESTADUAL MA-RINHO DO PARCEL DE MANUEL LUIZ, MARANHÃO, BRASILN. M. Piorski, E. C. S. Dourado & J. L. S. Nunes ....................................................................... 69 - 76

NOTAS

PRIMEIRO REGISTRO DE Charybdis hellerii (MILNE EDWARDS, 1867) PARA O LITORALMARANHENSE-BRASIL. (CRUSTÁCEA, DECAPODA, PORTUNIDAE)S. J. C. Feres, A. T. L. Lopes & L. A. Santos ............................................................................... 77 - 82

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Pede-se permutaWe ask for exchange

On démande l’échangeAustausch wird gebetenSi tichiede lo scambioOni petas intersangon

Pidese permuta

Editoração e Projeto Gráfico:Marcelo Henrique Lopes Silva

Impressão: Gráfica UniversitáriaTiragem: 2.000 exemplares

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BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA, 20:01-08. 2007

TEORES DE ZINCO E COBRE EM OSTRA (Crassostrea rhizophorae)E SURURU (Mytella falcata) DO ESTUÁRIO DO RIO BACANGA EM

SÃO LUÍS (MA)

Mariano Oscar Aníbal Ibañez Rojas1

Paulo Roberto Saraiva Cavalcante2

Rogério Chaves Souza2

Elãine Christine dos Santos Dourado3

RESUMO

Foram determinados os teores de zinco e cobre em ostra (Crassostrea rhizophorae) e sururu (Mytellafalcata) através da técnica de espectrofotometria de absorção atômica. As amostras de ostra e sururuforam coletadas no estuário do rio Bacanga, em São Luís (MA), durante a estação chuvosa. A conversãodo material biológico em matéria mineral foi efetuada pelo método de digestão por via úmida (sistemaaberto), com uma mistura de ácido nítrico/octanol. Os resultados encontrados, em base seca, para asostras foram Cu (66,35 – 125,09 µg.g-1) e Zn (123,86 – 140,71 µg.g-1) e para o sururu, Cu (21,33 – 31,51µg.g-1) e Zn (31,23 – 45,41 µg.g-1). Tais resultados mostraram influência de fatores antrópicos quandocomparados com aqueles encontrados para a ostra de “background” local do Campo de Perizes (Cu – 4,22µg.g-1 ± 0,06; Zn – 120,44 µg.g-1 ± 0,03), bem como a necessidade de estudos mais detalhados sobre metaispesados com o objetivo de monitorar o ecossistema do estuário do rio Bacanga.

Palavras-chave: Crassostrea rhizophorae, Mytella falcata, metais pesados, estuário, fatores antrópicos.

ABSTRACT

Copper and zinc levels in oyster (Crassostrea rhizophorae) and mussel (Mytella falcata)in the Bacanga river estuary, São Luís (MA)

Zinc and copper contents in oyster (Crassostrea rhizophorae) and mussel (Mytella falcata) were determinedby atomic absorption spectrometry. The samples of oyster and mussel were collected from BacangaEstuary in São Luís (MA), along the rainy season. The conversion of the biological material into mineralmaterial was performed by wet digestion methodology with a nitric acid/octanol mixture. The results ofdry weight obtained for oysters were: Cu (66,35 – 125,09 µg.g-1) and Zn (123,86 – 140,71 µg.g-1) and formussels, Cu (21,33 – 31,51 µg.g-1) and Zn (31,23 – 45,41 µg.g-1). They showed the influence of antropicfactors when compared with the results found for natural background oysters of Perizes Field (Cu – 4,22µg.g-1 ± 0,06; Zn – 120,44 µg.g-1 ± 0,03), and the necessity of a more detailed work about heavy metals inorder to control the environment of Bacanga Estuary.

Key words: Crassostrea rhizophorae, Mytella falcata, heavy metals, estuary, antropic factors.

Uma das formas mais nocivas de poluiçãoambiental, considerada nas últimas décadas, é apoluição aquática por metais pesados (Jardim, 1983;Pereira et al., 2002), uma vez que as concentrações

1Departamento Acadêmico de Química, CEFET-MA. Av. Getúlio Vargas, 4, Monte Castelo - 65030-000, São Luís - MA.e-mail: [email protected] Departamento de Oceanografia e Limnologia, UFMA. Av. dos Portugueses, s/n, Campus Universitário do Bacanga -65080-040, São Luís - MA. e-mail: [email protected] Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura, Universidade Estadual de Maringá (NUPELIA/UEM). Av.Colombo, 5790, 87020-900, Maringá-PR. E -mail:; [email protected]

destes elementos, para as diferentes espécies dabiota e para o homem, podem tornar-se altamentetóxicas com os processos de bioacumulação ebiomagnificação (Pereira et al., 2002). Tais substân-

INTRODUÇÃO

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cias, além de causarem sérios danos ao meio ambi-ente, podem provocar problemas de intoxicação eenvenenamento dos organismos via cadeia alimen-tar, podendo chegar até o homem (Jardim, 1983).

Alguns metais são classificados como elemen-tos-traço, indispensáveis à vida animal; no entanto,quando ocorrem em taxas elevadas, tornam-se pre-judiciais, como é o caso do Cobre (Cu) e do Zinco(Zn) (Parson et al., 1997). Metais pesados como omercúrio, o cádmio e o chumbo são consideradosnão-essenciais devido à sua elevada toxicidade, alémde apresentarem efeito cumulativo (Joiris et al., 2000).Esses metais estão presentes, naturalmente no am-biente, em baixas concentrações, entretanto, a des-carga de efluentes domésticos e/ou industriais emecossistemas aquáticos, como rios, lagos e estuári-os, tem contribuído de forma substancial para a ele-vação de suas concentrações nestes ambientes (Car-valho et al., 1999).

O estuário do rio Bacanga, situado a oeste daIlha de São Luís, recebe uma carga considerável deefluentes domésticos não-tratados dos bairros ad-jacentes. Contudo, esse ecossistema ainda apresen-ta uma relativa diversidade biológica, sendo bastan-te utilizado pela população ribeirinha na exploraçãodos recursos como meio de subsistência.

O estudo da poluição estuarina por metaispesados pode ser avaliado pela análise desses ele-mentos na água, sedimento e organismos aquáti-cos. Os moluscos, por serem organismos filtradorese concentrarem poluentes presentes na água ondevivem, são utilizados mundialmente como indicado-res de poluição aquática. Dentre estes, destacam-seos moluscos bivalves dos gêneros Mytillus, Pernae Crassostrea, por apresentarem, além de grande re-levância ecológica, distribuição mundial, naturezasedentária, grande potencial de concentração depoluentes e tamanho razoável, o que facilita aamostragem (Paes-Osuna, 1994).

Na Ilha de São Luís, poucos são os estudossobre a análise dos níveis de metais pesados emorganismos aquáticos. Dentre estes, pode-se citaros trabalhos de Juras (1988), realizado na região su-doeste de São Luís, Cavalcante et al. (1988), na por-ção interna do Golfão Maranhense e na zonaestuarina dos rios Itapecuru e Mearim e Castro et al.(1999), no estuário do rio Tibiri. No entanto, comexceção deste último, tais estudos foram efetuadosem áreas isentas de efluentes domésticos e caracte-rizadas por intenso padrão de circulação de águas.

Diante disso, o presente trabalho teve comoobjetivo analisar os níveis de metais pesados (Cu eZn) em ostra (Crassostrea rhizophorae) e sururu(Mytella falcata) do estuário do rio Bacanga, po-dendo gerar, dessa forma, informações que contri-buam para o biomonitoramento através da qualifica-ção do grau de contaminação do ambiente investi-gado.

MATERIAL E MÉTODOS

As amostras de ostra e sururu foram coletadasno estuário do rio Bacanga, situado à oeste da Ilhade São Luís (MA). Os exemplares de Crassostrearizophorae (25 indivíduos) e Mytella falcata (35 in-divíduos) foram amostrados manualmente durante aestação chuvosa (abril de 1999), no período de bai-xa-mar (Figura 1). Esta área apresenta um alto poten-cial de contaminantes, uma vez que recebe grandequantidade de esgoto doméstico, proveniente dediversos bairros adjacentes ao corpo hidrico, comoSá Viana, Coroadinho, Coroado, Parque Timbiras eAreinha, tendo sido coletadas as amostras de"background" no Campo de Perizes, (Figura 2) emlocais onde a interferência humana é mínima ouinexistente, supondo, dessa forma a total ausênciade poluição.

As amostragens de ostra e sururu seguiram asrecomendações do I Seminário sobre poluição pormetais pesados em Brasília (1979) o qual sugere quea amostragem dos moluscos deve ser realizada nabaixa-mar, durante as marés sizígias. Tanto naamostragem das ostras quanto do sururu não foramfeitas considerações quanto ao tamanho dos indiví-duos ou quanto ao local onde estes se encontra-vam.

Após coletadas e lavadas, as amostras de ostrae sururu foram acondicionadas em sacos devidamen-te etiquetados, armazenadas em caixas de isopor con-tendo gelo e levados ao Laboratório de Hidrobiologia,da Universidade Federal do Maranhão, onde apósselecionados por tamanho (4 a 6 cm para ostra e 3,5 a4,5 cm para o sururu) foram extraídos os tecidos mo-les, com auxílio de uma espátula inox, para pesagem(peso úmido - médio) (n=25 e 35) de 14,58 g 11,49 g,para a ostra e sururu, respectivamente em BalançaAnalítica marca Sartorius, modelo GMGH-2842. Pos-teriormente, secou-se em estufa da marca FanemModelo 315/6 a 105ºC ± 1, por um período de 3 a 5dias, até atingir peso constante.

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Depois de secas, as amostras foram trituradashomogeneizadas e novamente pesadas, para a toma-da de sub-amostras de 1g, aproximadamente confor-me recomendações de Cavalcante et al. (1994); Ibañez-Rojas (1998); Carvalho et al. (1998). Em seguida, fo-ram transferidas para tubos digestores devidamenteidentificados, onde foram adicionados 5 ml de HNO360% Ultrapur Merck e 0,2 ml de Octanol P.A. Os tu-bos foram cobertos com filme de P.V.C, para evitarcontaminação do material, e deixados em repouso porcerca de 12 horas para minimizar a formação de emulsãoou espuma (Magalhães et al., 1996) . Após este perí-odo, os filmes foram retirados e as amostras decom-postas em bloco digestor Marca Quimis ModeloQ327M, a uma temperatura de 180ºC por 2 horas, atécompleta mineralização da amostra. Foi efetuada a di-

gestão de um branco dos reagentes em triplicata(Mouchereck Filho, 2004; Cavalcante et al., 1994;Carvalho et. al, 1998; Ibanez-Rojas, 2003).

Concluída a digestão, os tubos contendo asamostras e o branco foram resfriados a temperaturaambiente e seu conteúdo transferido para balões de50 ml, com o auxílio de água ultra purificada. Depoisde ajustado o volume dos balões, as soluções foramdevidamente acondicionadas em frascos para poste-riores análises.

A determinação dos teores de cobre e zinco dasamostras foi efetuada em espectrofotômetro de ab-sorção atômica de chama, marca Varian, modelo AAS/200. Os comprimentos de onda utilizados para o Cu eZn foram de 327,4 nm e 213,9 nm, respectivamente(Ibañez-Rojas, 1998).

Figura 1. Mapa de localização do estuário do rio Bacanga, Ilha de São Luís, Maranhão.

Figura 2. Mapa de localização do rio do Sampaio na área do campo de Perises.

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Devido à ausência de material de referênciacertificada, analisou-se a concentração de cobre ezinco em amostras de ostra background natural, istoé, amostras coletadas em locais onde a interferênciahumana é mínima ou nenhuma, seguindo-se os pro-cedimentos e recomendações adotados para amos-tras do presente estudo.

Para avaliação estatística dos resultados, foiaplicado teste "t de Student" para identificar possí-veis diferenças entre os teores de Cu e Zn de amos-tras de ostra e sururu (Zar, 1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os níveis de metais encontrados no presenteestudo mostraram que as concentrações analisadasvariaram de 21,33 a 31,51 µg.g-1 (r = 0,99853) para oCu e de 31,23 a 45,41 µg.g-1 (r = 0,99923) para o Zn,em amostras de sururu, e de 66,35 a 125,09 µg.g-1 (r =0,99768) para o Cu e de 123,86 a 140,71 µg.g-1 (r =0,99902) para o Zn, em amostras de ostra (Tabela 1)com um coeficiente de correlação de 0,99853.

Diferenças altamente significativas foram en-contradas entre as amostras de ostra e sururu, com

relação aos teores de cobre e zinco (t11,1 = -7,34; p =0,000; Xsururu = 27,66; Xostra = 91,53) e zinco (t11,1 = -27,37; p = 0,000; Xsururu = 37,64; Xostra = 133,87) entreas amostras de ostra e sururu. MacCulloch (1989)afirma que as ostras têm alta capacidade de acumu-lar tais elementos, principalmente o zinco. Talacúmulo está diretamente relacionado com as fun-ções alimentares, reprodutivas e o estágio dematuração gonadal do organismo, os quais não fo-ram objeto deste estudo.

Esses organismos podem assimilar metais atra-vés do alimento, da ingestão de material particuladoinorgânico e da solução sendo, no entanto, de difícilavaliação as quantidades decorrentes de cada umadessas vias envolvidas (Moore, 1971 in Phillips,1977).

Os baixos teores encontrados para o sururuem relação à ostra, deveram-se provavelmente a queo substrato alimentar da ostra é predominantementeformado por partículas e sólidos suspensos além defitoplâncton e zooplancton da coluna d'água, en-quanto que o substrato alimentar do sururu é cons-tituído de matéria orgânica particulada (MOP) e dis-solvida (MOD) e a matéria inorgânica dissolvida

Tabela 1. Resultados das concentrações de Zn e Cu encontradasem amostras de ostra e sururu, coletadas no Estuário do Rio Bacanga,durante a estação chuvosa.

* (background natural, amostras coletadas no Campo de Perizes,durante a estação seca).

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(MID), materiais estes que ficam na interface sedi-mento/água e no sedimento superficial, comparti-mentos estes nos quais predominam MOP, MOD eMID (CARMOUSE, 1994), que nos ambientesestuarinos sofrem uma influencia marcante do fluxoe refluxo das marés. Tal fato não permite uma perma-nência acentuada e contínua dos íons adsorvidosou absorvidos no depósito superficial do sedimen-to do qual também se alimentam os sururus, uma vezque a transferência e distribuição dos elementosbiogênicos dentro do material vivo e não vivoparticulado e dissolvido no ecossistema, dificilmen-te se mantêm no estado de equilíbrio dinâmico pormuito tempo, evoluindo continuamente devido aopermanente desequilíbrio entre os fluxos de entradae saída ao nível de cada compartimento.

Por outro lado, existe a probabilidade de queas variáveis físico-químicas como força iônica, Eh epH, característicos de águas salinas e salobras, te-nham contribuído para a manutenção de cobre e zin-co na coluna da água e conseqüente absorção/adsorção destes metais no material suspenso.

Quanto ao elevado teor de zinco nas ostrasisto talvez se deva às necessidades metabólicas daostra por este metal, uma vez que, nestes organis-mos, o zinco é requerido em grandes concentraçõespara o seu metabolismo, potencializando, assim, osprocessos de quelação com subseqüente incorpo-ração pelo organismo, além do que historicamente,os níveis de zinco sempre se mostraram superioresaos de cobre, tanto na água como em organismos.Com relação à água, sua superioridade pode ser atri-buída ao seu tempo de residência que é cerca de 4vezes maior que a do cobre na água do mar (Castroet al., 1999).

Os valores médios de Cu e Zn (27,65 µg.g-1 e

37,64 µg.g-1, respectivamente), encontrados nosururu, situam-se na faixa do limite desses metais emalimentos destinados ao consumo humano, estabe-lecido pelo Decreto nº 55.871/65-GP, que fixa o limitede 30 µg.g-1 para o cobre e 50 µg.g-1 para o zinco(BRASIL, 1965). Para as ostras, os teores médiosdesses metais (91,54 µg.g-1 e 133,87 µg.g-1, para o Cue Zn, respectivamente) estão muito acima do esta-belecido pela legislação brasileira.

A ingestão do cobre em concentrações supe-riores ao limite máximo permissível pela legislaçãobrasileira pode provocar intoxicação grave, comovômitos, icterícia, coma, hipertensão, entre outros.Cerca de 40% a 70% do cobre ingerido oralmentesão retidos no organismo, sendo o restante elimi-nado através das fezes e urina. Por sua vez, o zin-co, em concentrações acima do limite máximo per-mitido, determina vários efeitos tóxicos, como con-gestão, edemas, náuseas, diarréia, cólicas, cho-que e pneumonia; no entanto, a deficiência destemetal pode ocasionar atraso no crescimento(Eysink et al., 1988).

Os teores de cobre das amostras de ostracoletadas no estuário do rio Bacanga encontram-se bastante elevados quando comparados com asde background natural, provenientes do Campode Perizes (Figura 3). Para o zinco, as concentra-ções das amostras dos dois locais não foram mui-to diferentes. Tal fato, provavelmente, pode estarassociado à grande quantidade de efluentes do-mésticos lançados no estuário do rio Bacanga, osquais devem comportar elevadas quantidades decobre e zinco que, possivelmente, teriam sidoretidas durante o ciclo alimentar dos moluscos.

As concentrações dos metais detectadasneste estudo foram comparadas com valores de

Figura 3. Comparação entre os teores de Cu e Zn (µg.g-1) deamostras de ostras background natural, coletadas no Campo dePerizes (MA), e daquelas amostradas no estuário do rio Bacanga,São Luís (MA). *Background natural.

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outras regiões, com o intuito de avaliar o grau decontaminação da área estudada. A Tabela 2 apre-senta os valores médios dos teores de Cu e Zn emambientes com diferentes graus de contaminação.

No estuário do rio Bacanga, os teores de Cue Zn foram relativamente altos, quando compara-dos com estudos realizados em outras regiõesestuarinas brasileiras, mas revelaram níveis com-patíveis e até inferiores quando confrontados comresultados obtidos de trabalhos desenvolvidos emestuários de outros países.

Pfeiffer et al. (1985), analisando o teor demetais em espécies dos gêneros Crassostrea eMytella da Baía de Sepetiba, verificaram concen-trações médias de Cu de 7,61 µg.g-1, para C.rhizophorae , e de 8,83 µg.g-1, para M.guayanensis. Machado et al. (2002), avaliando opotencial de acumulação de metais pesados emtecido da ostra do mangue C. brasiliana do estu-ário de Cananéia, verificaram concentrações deCu e Zn de 14 µg.g-1 e 2010 µg.g-1, respectivamen-te.

Estudos realizados com Crassostreavirginia e C. gigas, em dois ambientes com altograu de contaminação, no México (Vasquez et al.,

1993) e na Baía de Kaneohe (Hunter et al., 1995),respectivamente, mostraram teores bastante ele-vados, tanto para o Cu quanto para o Zn.

CONCLUSÃO

Muito embora o tamanho da amostra no pre-sente estudo tenha sido limitado, os níveis de me-tais encontrados nas amostras de ostra(Crassostrea rhizophorae) e sururu (Mytellafalcata), do estuário do rio Bacanga, indicaramuma considerável influência antrópica neste am-biente. Apenas as concentrações médias de Cu eZn registradas nas amostras de sururu situaram-se dentro da faixa limite para contaminantesinorgânicos em alimentos, estabelecida pela legis-lação brasileira.

Fica evidente a necessidade de um estudoespacial e sazonal mais detalhado sobre os teoresde metais pesados em moluscos, para que se pos-sa fazer projeções futuras sobre a situação do es-tuário do rio Bacanga, bem como de todos os ou-tros ambientes que apresentam potencial de po-luição por metais pesados, ao longo dasreentrâncias maranhenses.

Tabela 2. Valores médios das concentrações de Cu e Zn, dados emµg.g-1 de peso seco, em moluscos de ambientes com diferentes grausde contaminação. (+) contaminação fraca; (++) contaminaçãomoderada; (+++) contaminação crítica.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido em 22 de junho de 2006.Aprovado em 2 de maio de 2007.

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BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA, 20:9-14. 2007

Lígia Almeida Pereira1

Alana Lislea de Sousa2

Marco Valério Jansen Cutrim3

Evandro Gilson Moreira4

RESUMO

Caracteriza-se ecologicamente o habitat de Kinosternon scorpioides scorpioides nomunicípio de São Bento – MA (02040’00”S e 44043’12”W). A pesquisa foi realizada dejaneiro/2003 a janeiro/2004, em ambiente de campos inundáveis e secos durante umciclo sazonal completo (período chuvoso e período de estiagem) e em diferentes sítios eintervalos de tempo. Nessa região os indivíduos dessa espécie habitam corpos d’águatropicais, com pH ácido, coeficiente de transparência variando entre 0, 20 a 0, 70 m eturbidez entre 11 a 50 (NTU). O conteúdo de oxigênio dissolvido oscilou entre 1,46 a8,40 mg.L-1, evidenciando semelhanças entre as características ecológicas do habitat deK. scorpioides scorpioides no município de São Bento com o habitat da espécie naregião da Costa Rica.

Palavras-chave: habitat, Kinosternon scorpioides scorpioides, Maranhão.

ABSTRACT

Ecological characteristics of the habitat of Kinosternon scorpioides scorpioidesLinnaeus,1766 (Reptila, Chelonia, Kinosternidae) in the municipality of São Bento -

Maranhense Lowlands ( Maranhão, Brazil).

The habitat of Kinosternon scorpioides scorpioides is ecologically characterized in theMunicipality of São Bento – MA ((02040’00”S e 44043’12”W). The research was carried outfrom January 2003 to January 2004, in dry and flooded fields during a complete seasonal cycle(rainy season and dry season), and in different sites and time. In this region the individuals ofthis species inhabit tropical water bodies, with acidic pH, transparency coefficient varyingbetween 0,20 and 0,70 m, and cloudiness between 11 and 50 (NTU). The dissolved oxygenoscillated between 1,46 and 8,40 mg.L-1 , evidencing similarities between the ecologicalcharacteristics of the habitat of Kinosternon scorpioides scorpioides in São Bento and thespecies habitat in Costa Rica region.

Key words: habitat, Kinosternon scorpioides scorpioides, Maranhão.

1 Departamento de Química e Biologia, Universidade Estadual do Maranhão, Cidade Universitária Paulo VI, s/n,Tirirical – Caixa Postal 09 – São Luís-MA. E-mail: [email protected] Departamento das Clínicas Veterinárias, Universidade Estadual do Maranhão. E-mail: [email protected] Departamento de Oceanografia e Limnologia,Universidade Federal do Maranhão. Av. dos Portugueses, s/n, CampusUniversitário do Bacanga, 65080-540 – São Luís- MA. E-mail: [email protected] Graduando em Ciências Aquáticas – UFMA.

*Capítulo integrante de dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Agroecologia da Universidade Estadualdo Maranhão.

CARACTERÍSTICAS ECOLÓGICAS DO HABITAT DE Kinosternonscorpioides scorpioides Linnaeus, 1766 (Reptila, Chelonia, Kinosternidae)

NO MUNICÍPIO DE SÃO BENTO – BAIXADA MARANHENSE(MARANHÃO, BRASIL).*

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INTRODUÇÃO

O Maranhão se caracteriza por apresen-tar uma transicionalidade de ecossistemas, compar t icu lar idades d is t in tas . A BaixadaMaranhense, região ecológica localizada aonorte do estado, apresenta uma grande exten-são de campos naturais, com áreas inundáveise abriga uma fauna silvestre representativa,com a ocorrência de répteis como Kinosternonscorpioides scorpioides, um quelônio semi-aquático conhecido regionalmente como muçuãou jurará. Este cágado constitui-se em recursoalimentar e econômico, dada a sua apreciaçãona culinária regional. No município de SãoBento-MA, a espécie vem sendo retirada danatureza há pelo menos quatro décadas, o queprovavelmente vem ocasionando seu declíniopopulacional.

Segundo Acuña-Mesén (1994), a distribui-ção geográfica deste quelônio é bastante ampla,tendo sido encontrado no Brasil, Peru, Equador,norte da Colômbia, Venezuela, Bolívia e Argenti-na, além de todos os países da América Central.No Brasil, está presente nas regiões Norte e Nor-deste. Delduque (2000) assinala a ocorrência daespécie nos estados do Maranhão e Pará. Pereira(2000) relata que no Maranhão este quelônio éencontrado em campos e à beira de rios da baixa-da maranhense e Lima (2002) fez o registro da es-pécie na Ilha de Curupu, região costeira do esta-do.

Apesar de sua ampla distribuição, existempoucas informações sobre as condições ecológi-cas do habitat da espécie, apontando a necessida-de de mais elementos. Segundo Acuña-Mesén(1994), K. scorpioides scorpioides sofre forte in-fluência abiótica em seu microhabitat e interaçãofreqüente com outros seres vivos, especialmentecom vertebrados predadores. Estas característicasanalisadas individualmente ou em conjunto forne-cem importantes informações que podem ser utili-zadas na conservação deste quelônio. Te n d oem vista a inexistência de dados ecológicos sobreo habitat da espécie no estado, realizou-se estapesquisa com o objetivo de caracterizar ecologica-mente o habitat natural de K. scorpioidesscorpioides no município de São Bento-MA.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A pesquisa foi realizada de janeiro de 2003 a janei-ro de 2004 no município de São Bento-MA, em ambientede campos inundáveis e secos durante um ciclo sazonalcompleto (período chuvoso e período de estiagem) e emdiferentes sítios e intervalos de tempo. No perí-odo chuvoso (fevereiro a junho) os campos inundadosoriginam lagos temporários e no período de estiagem(julho a janeiro) apresentam-se totalmente secos, cons-tituindo o habitat da espécie. O município de São Bento(20 40’00”S e 44043”W) está localizado na mesorregiãonorte maranhense e na microrregião baixada maranhense(estado do Maranhão - Brasil) (Figura 1), apresentandouma área de 585,3 Km2.. Está inserido na Área de Preser-vação Ambiental (APA) da baixada maranhense, ondepredominam terras planas, baixas e inundáveis com ve-getação de manguezais, campos aluviais e flúvio-mari-nhos e matas de galerias, possuindo também o maiorconjunto de bacias lacustres do Nordeste (Costa-Netoet al., 2002).

Os solos são constituídos de cerca de 80% deplintossolo e 20% de gleissolos (solos de baixada). Oclima da região segundo a classificação de Thorntwaite(1948) é úmido. Apresenta temperatura média anual su-perior a 270 C, umidade relativa do ar anual superior a82% e precipitação pluviométrica anual com totais entre1600 e 2000m (Atlas do Maranhão, 2002).

Metodologia

A partir de entrevistas informais com a comunida-de ribeirinha e observações “in loco” do habitat da espé-cie, realizou-se a caracterização ecológica do ambienteconsiderando-se as características de profundidade e tem-peratura da água, turbidez, transparência, pH, conteúdode oxigênio dissolvido e condutividade elétrica. Acondutividade elétrica e temperatura da água foram medi-das com um termo-salinômetro-condutivímetro YSI-33; atransparência (m) com disco de Secchi (Kirk, 1986); o oxi-gênio dissolvido (mg. L-1) foi determinado em laboratórioatravés do método de Winkler (Golterman et al., 1978). OpH foi medido com um potenciômetro HANNA HI 9025.Além disso, caracterizou-se a vegetação através de estu-dos realizados por SEMATUR (1991), Barbieri e Pinto(1999), Barbieri (2000), Azevedo (2002) e Silva (2003).

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HABITAT DE Kinosternon scorpioides scorpioides 11

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período de estiagem, observou-seque K. scorpioides scorpioides refugia-se em locaisúmidos como folhas secas, capins e moitas ou sob osolo, permanecendo nestes locais até o início doperíodo chuvoso. Cabe assinalar que este é um me-canismo utilizado pela espécie para regular a trocade calor entre ela própria e o ambiente constituindoo controle comportamental que, de acordo com Eckertet al. (2000) inclui movimentação do animal para umaparte do habitat onde a troca de calor com o meiofavorece o alcance de temperatura corporal ótima. Éatravés deste mecanismo que os ectotermos reali-zam regulação térmica.

Segundo Acuña-Mesén (1994), dentre os prin-cipais efeitos diretos da seca sobre as tartarugasestão sufocação e desidratação e ambos os fatorespodem eventualmente, desencadear a morte se oanimal não inicia ou desenvolve comportamentosapropriados para compensá-los. Delduque (2000)relata que K. scorpioides scorpioides passa por umtipo de “hibernação” em uma época do ano. Acredi-ta-se que a espécie experimenta uma dormência clas-sificada como estivação, embora este termo aindapossua uma definição imprecisa, sendo chamada“sono de verão” e que de acordo com Eckert et al.(2000) refere-se a uma dormência em que algumas

espécies de vertebrados e invertebrados adotam emresposta a temperaturas ambientes elevadas e/ouperigo de desidratação. Acuña-Mesén (1990) obser-vou na Costa Rica que nos locais onde a seca édrástica, K. scorpioides se enterra por várias sema-nas ou abandona o local no qual tenha permanecidoa maior parte do ano e para o autor, este comporta-mento visa conservar seus líquidos internos, assimcomo uma temperatura reduzida, permitindo-lhe su-portar melhor as condições adversas até que che-gue a época chuvosa. No município de São Bento,os campos secam e originam uma paisagem comple-tamente árida, ocasionando no período de seca maisintensa, a formação de fissuras no solo, que sãoconhecidas como “torrões”. (Figura 2). Acuña-Mesén (1990) também verificou a presença dessasfissuras em região da Costa Rica, as quais podemalcançar até dois metros de profundidade e que cau-sam a morte de muitos animais por inanição, pois aodeslocarem-se em busca de ambientes mais favorá-veis, caem e não conseguem mais sair. Nos campossecos de São Bento-MA, os filhotes de K.scorpioides scorpioides estão submetidos ao mes-mo risco, pela presença das fissuras e pelo tamanhoda espécie que ao nascer mede aproximadamente 3cm de carapaça, embora as fissuras não atinjam amesma profundidade relatada por Acuña-Mesén(1990).

Figura 1. Mapa do Maranhão (à esquerda) com destaque para a baixada maranhensee o município de São Bento.

Fonte: adaptado de Atlas..., 2002.

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PEREIRA ET AL.12

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Barbieri (2000) relata que em um ciclo de trocade energia que se renova anualmente, os camposnaturais desta região ficam descobertos duranteaproximadamente seis meses do período de estia-gem, conhecido regionalmente por “verão”. Neles éproduzida grande quantidade de biomassa vegetal,representada basicamente por gramíneas eciperáceas. Silva (2003) cita dentre as espécies ca-racterísticas da região, o capim marreca (Paspalumsp), capim andraquicé (Ichnauthus bambusiflones),canarana (Panicum sp) e o algodoeiro bravo(Hibiscus bifurcatus).

Foi observado que no período chuvoso, a águaque inunda os campos transforma-os em extensoslagos, com profundidade média de um metro e vege-tação aquática abundante, abrigando K. scorpioidesscorpioides, constituindo, pois, seu habitat aquáti-co.

Estas características assemelham-se àsverificadas por Acuña-Mesén (1994) em Palo Verde(Costa Rica), onde K. scorpioides scorpioides habi-ta numerosas lagoas que desaparecem durante aépoca seca e no período chuvoso, quando as águasinundam a região, apresentam uma profundidademédia de 0,90m. Entretanto, em Cidade Cortês, outraregião de estudo do autor, a espécie habita peque-nos riachos cuja profundidade varia entre 0,25m e2,0 m, sendo que na época chuvosa aumentam con-sideravelmente e no período seco diminuem, porémnão desaparecem.

Na baixada maranhense, os campos inundáveissão conhecidos também como campos de várzea oucampos baixos e apresentam plantas como o aguapé

(Eicchornia spp), lírios (Nimphaea spp) epteridófitas aquáticas (Salvinia) (SEMATUR, 1991;Azevedo, 2002). Destacam-se também macrófitasaquáticas, conhecidas como mururus, cujas famíliasmais comuns são Pontederiaceae, Cyperaceae eSalviniaceae, sendo que o crescimento vegetal seinicia entre os meses de dezembro a janeiro, com ocomeço do período de inundação e a morte das plan-tas ocorre em outubro, no período seco (Barbieri &Pinto, 1999).

Conforme os dados obtidos, K. scorpioidesscorpioides permanece em águas com temperaturasque variaram de 26 a 300C, sendo que na Costa Rica,Acuña-Mesén et al. (1983) verificaram valores entre23 e 270 C, indicando que a espécie habita corposd’água tropicais. Em relação à condutividade elétri-ca, os valores encontrados no município de SãoBento – MA, oscilaram de 70 a 480 mS.cm-1, enquan-to na Costa Rica os valores foram de 225, 265 e 325mS.cm-1. K. scorpioides scorpioides sobrevive emáguas de pH ácido, variando entre 4,26 e 6,65; dife-rindo dos resultados encontrados por Acuña-Mesénet al. (1983) para a mesma espécie, que verificaramsua ocorrência tanto em águas com pH ácido quan-to básico. Estes autores assinalam que um pH ácidoprovavelmente possa provocar alterações nacalcificação da carapaça deste quelônio, tornando-o predisposto ao ataque de parasitos invertebrados,como por exemplo, sanguessugas. Foi verificado emum único exemplar de K. scorpioides scorpioides,um parasito artrópode da família Ixodidae,Amblyomma rotundatum (Koch, 1844) (ACARI:IXODIDAE), o qual também foi observado por Guerra

Figura 2. Campos secos do município de São Bento- MA, no período deestiagem intensa, com a formação dos torrões.

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HABITAT DE Kinosternon scorpioides scorpioides 13

et al. (2000) para este testudines.Acuña-Mesén et al. (1983) assinalam tam-

bém que habitats aquáticos com pH igual ou menora seis, geralmente correspondem a pântanos ou la-goas em estado avançado de eutrofização, ondefreqüentemente se estabelece o lírio aquático(Eichornia crassipes), formando grandes massas devegetação, as quais retêm e acumulam grande quan-tidade de sedimentos. Estas observações são váli-das para a região estudada, pois corresponde aecossistemas pantanosos (pantanal maranhense)onde a massa de água permanece estagnada duran-te aproximadamente seis meses do ano, servindo debebedouro a bovinos, bubalinos, suínos e aves, alémde apresentar a mesma espécie vegetal.

Sobre os valores do coeficiente de transpa-rência, os habitats aquáticos mostraram variaçõesentre 0,20m a 0,70m e valores de turbidez entre 11 a50 (NTU). Os dados mínimos de transparência pro-vavelmente se relacionam com os bubalinos, os quaissão criados extensivamente na região e que segun-do Costa-Neto et al. (2002), por serem muito pesa-dos, provocam através do pisoteio, a ressuspensãode grande quantidade de material sólido, causandoelevação nos níveis de turbidez do ambiente comouma das conseqüências imediatas. Em relação aooxigênio dissolvido verificou-se oscilação entre 1,46a 8,40 mg.L-1. Para Costa-Neto et al (2002), os fortesventos que ocorrem em toda a região no período deagosto a dezembro e o fato de se tratar de ambientesrasos podem explicar a ausência de anoxia na colunad’água. No que se refere à fauna, foi possível obser-var a ocorrência da jaçanã (Porphyrula martinica),presente na região nos meses de fevereiro a novem-bro, devido tratar-se de ave migratória (Aguirre,1962). Verificou-se também a ocorrência de outraespécie de quelônio, Trachemys adiutrix, conheci-do como cangapara. Os bubalinos (Bubalus bubalis)apesar de não se constituírem em predadores de K.scorpioides scorpioides podem interferir na sobre-vivência destes animais pelo seu pisoteio. Isto sedeve, conforme apontado anteriormente, ao fato deque esta espécie de quelônio compartilha o mesmohabitat com os búfalos, nesta região. Os dados obti-dos evidenciaram semelhanças entre as característi-cas ecológicas do habitat de K. scorpioidesscorpioides no que se refere à profundidade e tem-peratura da água e vegetação aquática no municípiode São Bento-MA com o habitat da espécie na re-gião da Costa Rica.

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Recebido em 28 de março de 2007.Aprovado em 17 de abril de 2007.

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15

BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA, 20:15-22. 2007

Marcus Emanuel Barroncas Fernandes1

Muzenilha Lira Carvalho1

RESUMO

Aspectos da bioecologia do caranguejo-uçá (Ucides cordatus Linnaeus, 1763) foram investigados emduas localidades do Estado do Amapá. Na Ilha de Maracá dois bosques de mangue foram selecionados,sendo um dominado por Rhizophora mangle e outro por Avicennia germinans. Dois bosques mistos (A.germinans e R. mangle), onde há exploração do caranguejo-uçá, também foram estudados na Vila doSucuriju. A análise da largura e comprimento da carapaça e peso demonstrou que existe diferença signifi-cativa entre as áreas de R. mangle e A. germinans, sendo os indivíduos da primeira área maiores e maispesados. A densidade populacional do caranguejo-uçá na Ilha de Maracá não apresentou diferença signi-ficativa quando comparada àquela estimada para a Vila do Sucuriju. A biomassa dos dois bosques (R.mangle = 23,2 t.ha e A. germinans = 24,2 t.ha) não apresentou diferença significativa. O mesmo resultadofoi obtido entre a Ilha de Maracá e a Vila do Sucuriju (30,2 e 22,3 t.ha, respectivamente). A capturacontrolada do caranguejo-uçá na Vila do Sucuriju foi de 20.333 indivíduos, correspondente ao esforço de116 homem.dia e Captura por Unidade de Esforço (CPUE) de 175,28 caranguejos.homem.dia. A compa-ração entre os resultados obtidos na Ilha de Maracá, área sem pressão de pesca, e na Vila do Sucuriju,sugere que a pesca do caranguejo-uçá nesta última localidade não tem afetado os parâmetros bioecológicosdesta espécie.

Palavras-chave: Ucides cordatus, biometria, produtividade, manguezal, Amapá.

ABSTRACT

Bioecology of Ucides cordatus Linnaeus, 1763 (Decapoda: Brachyura) on the coast of thestate of Amapá

Aspects of the bioecology of Ucides cordatus Linnaeus, 1763 were studied in two localities of the stateof Amapá. Two mangrove stands were chosen on Maracá Island, one dominated by Rhizophora mangleand the other by Avicennia germinans. Another two mixed mangrove stands (A. germinans and R.mangle), where crabs are exploited, were also studied in the Sucuriju Village. The analysis of the carapacewidth and length and weight showed that there is a significant difference between the site dominated byR. mangle and A. germinans, being individuals from the former site bigger and heavier than the latter. Thepopulation density on Maracá Island did not presented significant difference when compared to thedensity estimates for the Sucuriju Village. Biomass of the two sites (R. mangle = 23.2 t.ha and A.germinans = 24.2 t.ha) did not show significant difference. The same result was presented betweenMaracá Island and Sucuriju Village (30.2 and 22.3 t.ha, respectively). The number of captured crabs at theSucuriju Village reached around 20,333 individuals, which correspond to 116 man.day and Capture PerUnity of Effort (CPUE) of 175.28 crabs.man.day. The comparison between results obtained on MaracáIsland and Sucuriju Village suggest that, at the latter locality, the fishing on Ucides cordatus has notaffected the bioecological parameters of this species.

Key words: Ucides cordatus, biometria, produtividade, manguezal, Amapá.

1 Laboratório de Ecologia de Manguezal, Campus de Bragança, Universidade Federal do Pará, Alameda LeandroRibeiro s/n, Aldeia, Bragança, Pará. CEP: 68.6000-000. E-mails: [email protected] e [email protected]. Fone:(091) 3425 1209 - Fax: (091) 3425 1593.

BIOECOLOGIA DE Ucides cordatus LINNAEUS, 1763 (DECAPODA:BRACHYURA) NA COSTA DO ESTADO DO AMAPÁ

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FERNANDES & CARVALHO16

BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA, 20:15-22. 2007

INTRODUÇÃO

O manguezal é um ecossistema que proporci-ona diversas e contínuas atividades pesqueiras porabrigar muitas espécies de peixes, moluscos e crus-táceos, beneficiando, desta forma, as comunidadesribeirinhas que se utilizam destes recursos para con-sumo e/ou comercialização (Schaeffer-Novelli, 1983,1989).

O caranguejo-uçá (Ucides cordatus Linnaeus,1763), um dos maiores crustáceos dos nossosmanguezais, habita galerias situadas na zona entremarés, permanecendo escondido durante a preamare saindo no início da baixa-mar para a captura dealimentos. Esse organismo escavador é livre evagante, o que o caracteriza como parte integranteda epifauna (Eltringhan, 1971).

Segundo Melo (1996), o caranguejo-uçá ocor-re na costa ocidental americana, desde a Flórida(EUA) (28ºN, 81ºW) até Santa Catarina (Brasil) (27ºS,49ºW). É uma espécie comercial ao longo da costanordestina do Brasil e seu sistema de coleta ainda émanual (Paiva et al., 1971). Estudos realizados sobrea importância comercial de crustáceos consideram ocaranguejo-uçá como um recurso importante dentreaqueles oriundos da fauna estuarina e um dos crus-táceos de maior valor comercial (Coelho, 1962;Fausto-Filho, 1968; Nascimento et al., 1982; Glaser& Diele, 2004). Por outro lado, poucos são os estu-dos realizados sobre esta espécie de caranguejo nacosta amazônica brasileira (Almeida & Mello, 1966;Barros, 1976; Castro, 1986; Paiva, 1997; Diele, 2000;Diele et al., 2005; Diele & Simith, 2006; Nordhaus etal., 2006), onde seu comércio e exploração aumen-tam gradativamente. Assim, o presente trabalho temcomo objetivo comparar a biometria, a demografia ea produtividade das populações de U. cordatus emduas localidades (Ilha de Maracá e Vila do Sucuriju),no intuito de verificar se a pesca, nessa última loca-lidade, tem afetado os parâmetros bioecológicosdessa espécie comercial.

METODOLOGIA

Áreas de Estudo

As áreas onde este estudo foi realizado en-contram-se no litoral do Estado do Amapá entre oCabo Orange (04o20’N) e o Cabo Norte (01o40’N)

(Figura 1). Esta região é fortemente influenciada pelorio Amazonas e muitos outros rios secundários, osquais são defletidos na direção noroeste pelo fluxoda corrente das Guianas. Apresenta clima quente eúmido, com precipitação anual em torno de 3.250mm, potencial de evapotranspiração de aproximada-mente 1.300 mm, bem como uma amplitude média demaré acima de 5 m de altura, com as marés de sizígiaalcançando mais de 9 m (Schaeffer-Novelli & Cintrón,1988; Schaeffer-Novelli et al., 1990, Fernandes, 1997).

Duas localidades foram escolhidas para a co-leta dos dados, a Estação Ecológica das Ilhas deMaracá-Jipioca e a Vila do Sucuriju. A Ilha de Maracáé uma unidade de conservação federal onde a açãoantrópica é quase nula. Em contrapartida, a segundalocalidade, a Vila do Sucuriju, apresenta-se como umaárea de intensa ação antrópica, considerada como aárea de maior atividade de coleta do caranguejo-uçáno Estado do Amapá.

Biometria

A coleta dos dados biométricos na Ilha deMaracá foi realizada nas populações de carangue-jos presentes em dois bosques distintos de man-gue, um dominado por Rhizophora mangle L. e ou-tro por Avicennia germinans L. Por outro lado, acoleta na Vila do Sucuriju foi realizada em dois bos-ques de vegetação mista (R. mangle e A. germinans).

Para todos os indivíduos capturados, nas duaslocalidades, foram determinados o peso (g) e as di-mensões do cefalotórax, sendo medidos o compri-mento (mm) e a largura (mm) da carapaça. O Teste-tfoi utilizado para detectar diferenças significativas(a=0,05) entre o peso (g), o comprimento (mm) e alargura (mm) da carapaça desses indivíduos. A rela-ção isométrica entre as medidas do cefalotórax foianalisada através do modelo de regressão linear. Arelação existente entre o comprimento da carapaça(mm) e o peso (g) dos indivíduos, tanto na Ilha deMaracá quanto na Vila do Sucuriju, foi estimada atra-vés da equação W=KLb, a partir dos valoreslogaritmizados do modelo de regressão linear do tipo(y = a+bx) ou (lnW=lna+blnL) (Castro, 1986).

sendo:W= peso total (g);L= comprimento da carapaça (mm);K ou a = constante eb= expoente (retirado da equação y = a + bx)

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DensidadeA densidade do caranguejo-uçá foi estimada a

partir da contagem do número de galerias contidasem quadrados de 5 m2 alternados (n= 10 quadrados),com intervalos de cinco metros,.ao longo de umatransecção de 100 m. Em cada localidade foram aber-tas quatro transecções de 100 m, sendo duas emcada bosque de mangue. De acordo com metodologiasimilar utilizada por Alcântara-Filho (1978), conside-ra-se que cada galeria é habitada por um único ca-ranguejo, dado o seu comportamento bastanteterritorial. O Teste-t foi utilizado para comparar asestimativas de densidade entre a Ilha de Maracá e aVila do Sucuriju.

Produtividade

Para a estimativa da produtividade do caran-guejo-uçá foram calculados a Biomassa (t.ha) e oEstoque de caranguejos (ind.ha). Os dados de Es-forço de Pesca (E) (homem.dia) foram coletados so-mente na Vila do Sucuriju, devido à pesca do caran-

guejo-uçá nesta localidade ser bastante intensa nosperíodos de reprodução desta espécie, e represen-tam apenas o mês de fevereiro de 1996, que servemde base para o cálculo do índice de Captura porUnidade de Esforço – CPUE(caranguejos.homem.dia). Os caranguejos-uçácoletados pelas 70 famílias moradoras da Vila dosucuriju foram computados para o presente traba-lho. O cômputo de todas as famílias ocorreu em doisdias de contagem durante o soatá, período da anda-da dos caranguejos-uçá.

RESULTADOS

Biometria

Para a caracterização dos caranguejos-uçá naIlha de Maracá foram medidos 63 indivíduos, consi-derando os dois bosques (um de R. mangle e outrode A. germinans). Os indivíduos pertencentes aobosque de R. mangle apresentaram valores do com-primento, largura da carapaça e peso superiores aos

Figura 1. Mapa mostrando a localização da Ilha de Maracá, com os doisbosques mangue (01 e 02), e a Vila de Sucuruju, no Estado do Amapá.

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dos indivíduos do bosque de A. germinans (Figura2). A análise comparativa desses três parâmetrosbiométricos entre os dois bosques mostrou diferen-ças significativas, sendo: comprimento t=13,85;gl=31; p<0,001; largura t=14,18; gl=35; p<0,001; pesot=19,88; gl=40; p<0,001. Por outro lado, de acordocom as medidas de comprimento e peso dos caran-guejos-uçá na Vila do Sucuriju (amostragem de 500indivíduos), foi registrada uma proporção de 23%(ind.< 9 cm), 61,3% (ind. entre 9 e 10 cm) e 15% (ind.> 10 cm).

tre a largura e o comprimento da carapaça dos indi-víduos do bosque de A. germinans apresenta maiorproporcionalidade entre as variáveis, de acordo comos valores obtidos pela Correlação de Pearson (Fi-gura 3).

Figura 2. Comparação entre Largura (mm),Comprimento (mm) e Peso (g) de Ucides cordatusem dois bosques de mangue (R. mangle, n=35 e A.germinans,n=28) na Ilha de Maracá - Amapá. Estãorepresentados os erros padrões para os dois tiposde bosque.

Uma análise da relação entre a largura e o com-primento da carapaça dos indivíduos coletados nosdois tipos de mangue para a Ilha de Maracá, revelouque estes parâmetros biométricos são, em ambos osbosques, positiva e significativamente relacionados(R. mangle F(1,34)=11,9; p<0,01 e A. germinansF(1,27)=1087,2; p<0,001). No entanto, a relação en-

Foi também realizada uma análise comparati-va entre os parâmetros biométricos das populaçõesde caranguejo-uçá da Ilha de Maracá e da Vila doSucuriju. Esta análise considerou a relação entre opeso (g) e o comprimento (mm) da carapaça, calcu-lada através da análise de regressão, ajustada pelométodo dos mínimos quadrados, resultando nasseguintes equações:

Ilha de Maracá (lnW = - 4,07 + 2,613lnL) (1)Vila do Sucuriju (lnW = - 4,61 + 2,639lnL) (2)

Ambas as localidades apresentaram correla-ção positiva e significativa entre os parâmetrospeso e comprimento da carapaça (Ilha de MaracáF(1,62)=1094,3; p<0,001 e Vila do SucurijuF(1,7)=37,9; p<0,001 - Figuras 4 e 5, respectivamen-te).

Figura 3. Relação entre a Largura (mm) e oComprimento da carapaça de Ucides cordatus emdois tipos de bosque de mangue na Ilha de Maracá- Amapá.

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BIOECOLOGIA DE UCIDES CORDATUS NO AMAPÁ 19

Produtividade

Para a estimativa da densidade das popula-ções de caranguejo-uçá da Ilha de Maracá foramutilizados os dados coletados apenas no bosquedominado por R. mangle, ao passo que os dados daVila do Sucuriju são provenientes dos dois bosquesmistos estudados (R. mangle e A. germinans).

A densidade do caranguejo-uçá na Ilha deMaracá e na Vila do Sucuriju alcançou um valor cor-respondente a 4,95 e 6,51 ind.m2, respectivamente,sendo que não houve diferença significativa(p>0,05) entre os valores de densidade das duas áreasestudadas. O mesmo resultado foi obtido quandoestas áreas foram comparadas quanto aos valoresde biomassa (p>0,05), sendo 23,2 t.ha para a Ilha deMaracá e 22,3 t.ha para a Vila do Sucuriju (Tabela 1).

Os dados apresentados na Tabela 1 apenascaracterizam a captura controlada do caranguejo-uçá(exclusivamente indivíduos machos) no mês de fe-vereiro de 1996, somente para a Vila do Sucuriju. O

número de capturas do caranguejo-uçá nesta locali-dade foi de 20.333 indivíduos, correspondente aoesforço de 116 homem.dia e CPUE de 175,28caranguejos.homem.dia.

DISCUSSÃO

Alguns estudos já foram realizados sobre asrelações biométricas de U. cordatus, ao longo dolitoral norte e nordeste do Brasil (Castro, 1986; Diele,2000). Para a Ilha de Maracá-AP, os resultados so-bre as relações biométricas nesta espécie demons-traram que os indivíduos dos bosques deRhizophora apresentam dimensões maiores do queos dos bosques de Avicennia. Considerando-se quea maior parte da dieta de U. cordatus é à base defolhas e propágulos de espécies de mangue(Robertson & Daniel, 1989; McIvor & Smith III, 1995),é razoável esperar que tais diferenças no tamanhodos indivíduos estejam relacionadas com a compo-sição química (principalmente lipídios) dos itens ali-

Figura 4. Relação entre o Peso (g) e o Comprimento da Carapaça(mm) de Ucides cordatus na Ilha de Maracá - Amapá.

Figura 5. Relação entre o Peso (g) e o Comprimento da Carapaça(mm) de Ucides cordatus na Ilha de Maracá - Amapá.

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mentares disponíveis e utilizados por estas popula-ções nos diferentes bosques onde se encontram.De acordo com Castell et al. (1975), a quantidade decolesterol necessária para favorecer o crescimentonormal e a sobrevivência de crustáceos varia de 0,2a 2,0%, sendo que a variação das necessidades decolesterol está atrelada às interações com outrosnutrientes, tais como fosfolipídios e absorção, con-versão, deposição e excreção de esteróis (Kanazawa& Koshio, 1994).

Comparativamente, a produção do carangue-jo-uçá registrada no Estado do Amapá é aproxima-damente seis vezes maior do que aquela registradano Estado do Maranhão, ao passo que os valoresencontrados para o estoque de caranguejos alcan-çam o triplo dos valores registrados para oMaranhão. Em sendo a pesca estuarina predominan-temente artesanal e quase sempre uma atividade desubsistência (Alcântara-Filho, 1978), a captura docaranguejo-uçá, na Vila do Sucuriju – AP, é feitamanualmente e sua exploração atende exclusivamen-te à demanda do mercado local. Os resultados obti-dos na Ilha de Maracá e na Vila do Sucuriju sugeremque a pesca do caranguejo-uçá nesta última locali-dade não tem afetado, sobremaneira, os parâmetros

bioecológicos desta espécie, tais como o compri-mento médio (Ilha de Maracá = 10,1 cm e Vila doSucuriju = 9,1 cm), podendo-se considerar que o ta-manho mínimo para coleta poderia ser estipulado em9 cm, o que equivale ao peso médio de 341,47 g. Éimportante ressaltar que os machos, com dimensõesacima de 9 cm, são os alvos preferenciais dos cole-tores durante o período de pesca, o que além deevitar a captura de fêmeas, salvaguarda a captura deindivíduos menores para uma estação de capturaposterior, mais apropriada.

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Tabela 1. Produtividade de Ucides cordatus em algumas localidades da costa norte do Brasil.CPUE = Captura por Unidade de Esforço. * = média de cinco anos de dados do mês de fevereiro(1997-2001).

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Recebido em 28 de março de 2007.Aprovado em 17 de abril de 2007.

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BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA, 20:23-30. 2007

Maria Angélica Gonçalves Cardoso1

David da Motta Marques2

Carlos André Bulhões Mendes2

Adolfo Villanueva2

Walter Collischonn2

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a influência dos eventos El Niño e La Niña na precipitação da regiãodo banhado do Taim. Determinou-se os quartis 25% e 75% para definir períodos de precipitação extremapara os municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar entre os anos de 1950 a 1998, para verificarse os eventos El Niño e La Niña consecutivamente determinam precipitações superiores e inferiores àsnormais climatológicas. Este estudo é importante, pois a agricultura é especialmente sensível aos impac-tos da variabilidade climática. Os resultados mostram que durante o evento El Niño as precipitações nãoforam sempre superiores a normais climatológicas em todos os eventos, podendo ocorrer secas emperíodos normais, durante o evento La Niña. Em alguns eventos ocorreram períodos com precipitaçãoacima da normal climatológica e períodos com precipitação em torno da normal climatológica.

Palavras-chave: Precipitação, El Niño, La Niña, Taim.

ABSTRACT

INFLUENCE OF ANOMALIES OF TSM IN THE RAINY SEASON OF BANHADO TAIM

The objective of this study was to analyze the influence of the events El Niño and La Niña in theprecipitation of the region of the wetlands of the Taim. If it determined quartiles 25% and 75% to defineperiods of extreme precipitation for the cities of Rio Grande e Santa Vitoria do Palmar between years of1950 the 1998, to verify if the events El Niño and La Niña respectively determines superior and inferiorprecipitations the normal climatologic. This agriculture study is important because is especially sensiblethe impacts of the climatic variability. The results show that during the event the El Niño rainfall were notalways higher than normal climatologic in all events, drought may occur in normal periods, during La Niñaevent, in some events occurred with periods of precipitation above normal climatologic and periods withprecipitation around the normal climatologic.

Key words: Precipitation, El Niño, La Niña, Taim.

1 Doutoranda do curso de Pós-Gradução em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do Instituto de PesquisasHidráulicas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Av. Bento Gonçalves , 9500, caixaPostal 15029, CEP 91501-970. Fone: (55-51) 3308-6662, [email protected] Professor do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos do Instituto de Pesquisas Hidpráulicas ,Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, Avenida Bento Gonçalves, Caixa Postal 15029 91501-970, Porto Alegre - RS, Fone (55-51) 3308-6670, [email protected]

INFLUÊNCIA DE ANOMALIAS DE TSM NO REGIME DE CHUVASDO BANHADO DO TAIM

Apesar dos recentes avanços tecnológicos ecientíficos, o clima ainda é a variável mais importan-te na produção agrícola. O conhecimento das ca-racterísticas do clima é, portanto, muito importante

para se decidir sobre a quantidade de água que de-verá ser utilizada na irrigação.

A precipitação pluviométrica tem um papel fun-damental na caracterização do clima de uma região,

INTRODUÇÃO

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CARDOSO ET AL.24

BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA, 20:23-30. 2007

interferindo nas alternâncias de rendimento das cul-turas. O estudo dessa variável, de grande influênciana caracterização do clima da região do banhado doTaim, torna-se relevante no planejamento de ativi-dades agrícolas, permitindo previsões com melho-res aproximações e decisões mais confiáveis sobre aquantidade de água que deverá ser utilizada na irri-gação.

A precipitação no Rio Grande do Sul é em ge-ral bem distribuída ao longo do ano, não possuindouma estação chuvosa ou seca bem definida. No en-tanto, alguns meses são mais chuvosos do que ou-tros. A agricultura é especialmente sensível aos im-pactos decorrentes da variabilidade climática, naRegião Sul do Brasil a principal causa desta variabi-lidade, especialmente ao que se refere aos eventosextremos de precipitação, são os fenômenos El Niñoe La Nina (Rao e Hada, 1990; Studzinski, 1995; Grimmet al., 1996 a, 1996 b; Fontana e Berlato,1997). NoRio Grande do Sul o El Niño determina precipitaçõessuperiores à normal climatológica e o La Nina deter-mina precipitação inferior a normal climatológica(Fontana e Berlato, 1997; Puchalski, 2000, Assis etal., 1997).

Este estudo tem por objetivo verificar a influ-ência dos eventos El Niño e La Niña na precipitaçãona região onde o banhado do Taim esta inserido eno nível do banhado.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a realização desta pesquisa, os dados fo-ram obtidos junto ao 8º DISME/Porto Alegre do Ins-tituto Nacional de Meteorologia do Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), da Fun-dação Estadual de Pesquisa Agronômica (FEPAGRO).São dados de precipitação anual (mm), para os muni-cípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar noperíodo de 1950 a 1998. A escolha destes municípiosse deve ao fato de que o sistema Hidrológico do Taimestar inserido parte no município de Rio Grande eparte no município de Santa Vitória do Palmar.

Os Dados de temperatura do mar (TSM) foramfornecidos pelo National Oceanic & AtmosphericAdministration (NOAA, 2007), para o período de 1950a 1998 da região denominada como El Niño 3 + 4 (5ºN- 5ºS; 170ºW - 120ºW). Consideramos anos normaisou neutros aqueles em que os fenômenos não ocor-reram.

A caracterização de períodos úmidos e secos

utiliza uma técnica estatística que permite identificarpara os totais mensais de precipitação os valores má-ximos, os mínimos, a mediana, o primeiro quartil e oterceiro quartil. Assim, a série de cada mês será dividi-da em quatro blocos, sendo que 25% dos dados esta-rão entre o valor mínimo e o limiar do primeiro quartil(mês seco), 25% entre o limiar do primeiro quartil e amediana (mês normal), 25% entre a mediana e o limiardo terceiro quartil (mês normal) e os outros 25% dosdados daquele mês acima do limiar do terceiro quartil(mês úmido).

Também foi utilizado dados de níveis para obanhado do Taim no período de 1960 a 1998, são mé-dias anuais, esse período foi escolhido por apresen-tarem dados confiáveis. Os níveis foram classifica-dos em secos, normais e úmidos segundo Richter(1996).

A partir dos dados de precipitação dos municí-pios de Santa Vitória do Palmar e Rio Grande e osdados de temperatura da superfície do mar (TSM)fez-se uma análise comparativa dos anos em que ocor-reram precipitação abaixo do 1° quartil e acima do 3°quartil com os anos em que ocorreram os fenômenosEl-Niño e La-Niña.

Aspectos Locais da Região de EstudoCaracterização Climática da região de estudo

A média pluviométrica anual da região oscilaentre 1200 e 1300 mm, bem distribuída pelo ano, au-mentando ligeiramente nos meses de inverno devidoà penetração dos Ciclones Migratórios Polares e dasfrentes a eles associadas.

A análise da evaporação relacionada com a pre-cipitação é de grande importância, pois essa combi-nação caracteriza o balanço hídrico ao nível do solo.Tendo em vista o exposto acima, verifica-se na regiãouma tendência a ocorrer um déficit hídrico nos mesesde novembro, dezembro e janeiro, devido à evapora-ção superar a precipitação.

Santa Vitória do Palmar

Santa Vitória do Palmar localiza-se no extremosul do Rio Grande do Sul latitude entre as coordena-das 33° 31' S e 53° 21'W (Figura 1). Atualmente a dis-ponibilidade de terras cultivadas de arroz no municí-pio é de 350 mil ha, totalmente irrigáveis e cultiváveis(IBGE, 2002). Isoladamente foi o município que tevemaior área colhida do estado na safra 2004/05.

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BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA, 20:23-30. 2007

INFLUÊNCIA DE ANOMALIAS DE TSM 25

Atualmente, a orizicultura constitui a principalatividade econômica da região, e é quase a únicafonte de emprego e sobrevivência da população lo-cal (Villanueva et al., 2000), sendo responsável pormais de 92% do PIB.

O Banhado do Taim

Os banhados são ecossistemas de grande im-portância ecológica, principalmente por servirem dehabitat para uma ampla variedade de fauna e flora e

por constituírem áreas de transição entre ambientesaquáticos e terrestres.

O Sistema Hidrológico do Taim consta de vári-os banhados e lagoas de água doce, estando situa-do na região sul-leste do Estado de Rio Grande doSul entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim (32º20' - 33º 00' S e 52º 20' - 52º 45' W), estando parte nomunicípio de Rio Grande e parte no município deSanta Vitória do Palmar. O Banhado do Taim se en-contra entre a Lagoa Mangueira e a BR 417 (Figura2).

Figura 1. Localização dos municípios de Santa Vitória, Rio Grande e Estação Ecológicado Taim. (Fonte: Paz, 2003).

Figura 2. Sistema Hidrológico do Taim (Villanueva, 1997).

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A área total da unidade perfaz 33.935 ha, com-preendendo praias oceânicas, dunas, campos, ma-tas, lagoas e principalmente banhados e alaga-dos, estando contida no Sistema Hidrológico doTaim com aproximadamente 2254 Km2.

A área destinada à Estação Ecológica se ca-racteriza pela existência de banhados, lagoas, cam-pos e dunas, que se localizam próximos à mataexistente na área, considerada uma das mais meri-dionais do Brasil. Nessa mata há um bosque decorticeiras e figueiras, com árvores de grande por-te. Com relação à fauna, observa-se nos banha-dos, grande variedade de aves aquáticas, princi-palmente gansos e marrecos (estes provenientesda Patagônia, que emigram para a área em seu vôosazonal), e uma variada fauna ictícola, com diver-sas espécies de peixes de água doce. Na regiãonorte da lagoa Mangueira encontram-se os úni-cos representantes de cisne de pescoço negro exis-tentes no Brasil, que em épocas anteriores podi-am ser encontrados em outras lagoas, ao longo dacosta meridional. Mamíferos e répteis também sãoencontrados na área, que abriga populações im-portantes de capivaras, jacarés e ratões do ba-nhado (Villanueva, 1997).

O principal impacto ambiental incidente naregião, no tocante aos recursos hídricos, é o in-cremento da orizicultura, que tem uma demandade água elevada, e que alterou e continua alteran-do a hidrodinâmica da região, exigindo a manu-tenção de lâminas de água sobre os cultivos du-rante todo o desenvolvimento dos mesmos, entreos meses de outubro a março, que são os mesesmais críticos em termos de déficit hídrico. A águacaptada para irrigação e manutenção da laminanecessária para a cultura do arroz é retirada atra-vés de bombas das lagoas Mangueira, Caiubá,Flores e Mirim para os canais de distribuição deágua.

Esse fato, associado aos picos deevapotranspiração que ocorrem normalmente nes-sa época, pode ocasionar uma diminuição no vo-lume de água necessário à manutenção dos ambi-entes palustres da região, em especial os da ESECTAIM

A alteração do hidroperíodo do banhadopode levar a mudanças significativas na riquezade espécies, na modificação dos padrões das co-munidades, na produtividade e o habitat, entreoutras (Motta Marques et al. 1997).

Fenômenos El Niño e La Niña

O El Niño e a La Niña são fenômenos de grandeescala, cuja região de origem situa-se no Oceano Pací-fico tropical, caracterizados pela ocorrência de anoma-lias no padrão de temperatura da superfície das águase no padrão de diferença de pressão atmosférica, medi-das nas localidades do Taiti, na Polinésia Francesa(17,5°S; 149,6°W) e de Darwin, no norte da Austrália(12,4°S; 130,9°E). Esses fenômenos provocam anoma-lias climáticas em várias regiões do mundo(Ropelewisky & Halpert, 1997).

No Brasil, as regiões mais afetadas são: a partenorte da Região Norte e o leste da Amazônia (na faixatropical) e a Região Sul (na faixa extra-tropical).

No Rio Grande do Sul o El Niño determina preci-pitação pluvial superior à média climatológica, durantea primavera e início do verão e a La Niña determinaprecipitação pluvial inferior à média climatológica, nes-te mesmo período (Fontana & Berlato, 1997; Puchalski,2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A agricultura é a atividade econômica básica daRegião Sul do Brasil, e a mais dependente de fatoresclimáticos. Dentre os fatores de produção, a água éaquele que, geralmente, mais limita os rendimentos dasplantas cultivadas, sendo importante em todas as fa-ses de seu desenvolvimento.

A média pluviométrica anual da região oscila entre1200 e 1300 mm, bem distribuída ao longo do ano.

As Figuras 3 e 4 nos mostra a precipitação anualpara as cidades de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar,respectivamente, no período de 1950 - 1998. Os valoresabaixo do primeiro quartil (linha pontilhada) são consi-derados períodos secos, entre o primeiro quartil e ter-ceiro quartil (linha tracejada) são considerados perío-dos normais e acima do terceiro quartil períodos úmi-dos.

A Tabela 1 foi adaptada de forma a representar asfases (fria, neutra e quente) do fenômeno ENOS, se-gundo o critério de Trenberth (1997). De acordo com aTabela 1, durante o período de 1950 a 1998 (49 anos)foram classificados como eventos La Niña 10 eventos,neutros 12 eventos e El Niño 15 eventos.

Os eventos ENOS não foram analisados segun-do sua magnitude, apenas verificou-se para cada eventoquantos anos registraram precipitação e níveis abaixo,igual e acima do 1° e 3° quartil.

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INFLUÊNCIA DE ANOMALIAS DE TSM 27

Do período estudado (49 anos), 13 anos ficaram abaixodo 1° quartil, 12 anos acima do 3° quartil e 24 anos entre osquartis, para ambos os municípios(Tabelas 2 e 3).

Quando há a divulgação que um evento El Niñoou La Niña poderá ocorrer nos próximos meses, cria-seum ambiente de preocupação e de expectativa no sul doBrasil pelo menos, para aqueles que trabalham em ati-

vidades agrícolas, pois se espera um aumento oudiminuição na precipitação.

A Tabela 3 mostra os resultados para a cidadede Rio Grande, ou seja, dos 49 anos analisados em19 anos ocorreu o fenômeno El Niño, sendo que em4,08% do total de anos analisados tivemos precipi-tação abaixo do 1º quartil, em plena atuação do fenô-

Figura 3. Precipitação para a cidade de Santa Vitória do Palmarno período de 1950- 1998. (Fonte: INMET 8º DISME/PortoAlegre do Instituto Nacional de Meteorologia do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da FundaçãoEstadual de Pesquisa Agronômica (FEPAGRO)).

Figura 4. Precipitação para a cidade de Santa Vitória do Palmarno período de 1950- 1998. (Fonte: INMET 8º DISME/PortoAlegre do Instituto Nacional de Meteorologia do Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e daFundação Estadual de Pesquisa Agronômica (FEPAGRO)).

Tabela 1. Anos de ocorrência de El Niño/La Nina e neutros.

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Tabela 2. Classificação dos anos em secos, neutros e úmidos para o município deRio Grande.

Tabela 3. Classificação dos anos em secos, neutros e úmidos para o município deSanta Vitória do Palmar.

meno. No evento La Niña em 10,20%, do total deanos observados, ocorreu em períodos com precipi-tação acima do 3° quartil

Observando os resultados, dos 15 anos de LaNiña ocorridos em Rio Grande, esperava-se que ape-nas períodos secos tivessem ocorrido, mas pela Ta-bela 3 vemos que ocorreram períodos neutros e úmi-dos. O mesmo ocorrendo para o El Niño e neutro.

A Tabela 4 mostra em destaque as anomaliasque ocorreram na atuação dos fenômenos El Niño eLa Niña, onde respectivamente 6,12% e 4,08% daprecipitação ficaram abaixo do 1° quartil e acima do3° quartil.

Observa-se que não existe durante os even-tos El Niño/La Niña uma característica marcantecomo cita a literatura, que o El Niño determina preci-pitações superiores a normal climatológica e o LaNiña determina precipitação inferior a normalclimatológica no mesmo período. De modo geral aocorrência de períodos neutros é maior em qualquerfase dos ENOS para ambas as cidades.

No final da década de 1960, quando foiconcluida a BR- 471, facilitando a maior integraçãoda área com a zona Norte do Estado, ocorreu umgrande incremento na atividade agrícola, principal-mente a orizicultura. Nesta época, as políticas vi-gentes visavam drenar áreas de banhados de manei-ra a utilizá-las para a agricultura, caso seus solosfossem férteis, aumentando a produção de 47.851toneladas de arroz em 1965/66 para 430.000 tonela-das na safra 1988/89 (Dorinon, 1989).

Em relação aos níveis, a Tabela 5 mostra que emperíodos de El Nino 15,38% do total de anos observa-dos o nível estava baixo, e em 7,69% dos eventos deLa Nina o nível estava alto ou acima do normal. Espe-rava-se que os níveis também acompanhassem oseventos, ou seja, quando ocorresse El Nino o nívelestivesse acima do normal e quando ocorresse LaNina os níveis estivessem abaixo do normal.

Tabela 4. Comparação entre precipitação e eventosde El Niño e La Niña para a cidade de Rio Grande.

Tabela 5. Comparação entre precipitação e eventosde El Niño e La Niña e Níveis para o Banhado doTaim.

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INFLUÊNCIA DE ANOMALIAS DE TSM 29

A Lagoa Mangueira e o Banhado do Taim cons-tituem constituem sub-sistemas do SistemaHidrológico do Taim, cuja principal fonte de aflu-ência de água é a precipitação (Villanueva, 1997).A Lagoa Mangueira apresenta uma grande su-perfície líquida (~820 Km2) e importante baciade contribuição. Além das perdas por evapora-ção e da demanda por irrigação, a lagoa alimen-ta o Banhado do Taim.

CONCLUSÕES

Os resultados mostram que durante oevento El Niño as precipitações não foram sem-pre superiores à normal climatológica em todosos eventos, podendo ocorrer secas e períodosnormais. Estiagens, não é exclusividade do LaNiña, pois ocorreram períodos com precipita-ção acima da normal climatológica e períodoscom precipi tação em torno da normalclimatológica. O mesmo foi observado em rela-ção aos níveis do banhado do Taim.

Espera-se que os resultados obtidos nes-te trabalho sirvam de subsídio para o planeja-mento e tomada de decisões, visando minimizaros riscos da agricultura e conservação do meioambiente na região no que se refere às condi-ções hídricas.

Agradecimentos

A autora agradece a CAPES pelo apoio fi-nanceiro.

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Recebido em 17 de abril de 2007.Aprovado em 14 de agosto de 2007.

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Milton Gonçalves da Silva Júnior1

Antonio Carlos Leal de Castro1

Leonardo Silva Soares2

Victor Lamarão França 3

RESUMO

A relação peso-comprimento descreve as formas de crescimento, tornando-a um bom indicativo dasatividades alimentares e reprodutivas. Neste estudo foram avaliadas as formas de crescimento das espé-cies mais abundantes da ictiofauna do estuário do rio Paciência - MA, entre janeiro/2006 e janeiro/2007,com amostragens bimestrais em três igarapés, utilizando-se redes de tapagem e malhadeira. A relação pesototal (g) /comprimento total (cm) (Wt/Lt) foi estimada através de regressão e o teste t-Student foi aplicadopara avaliar o tipo de crescimento e detectar possíveis diferenças entre os coeficientes de alometria. Osparâmetros da relação foram estimados de 9241 espécimes. Os valores do coeficiente de alometria (b)variaram entre 2,5 a 3,4. O valor médio de b foi 2,89 (±0,27 SD), sendo estatisticamente não diferente de3,0 (P> 0,05). Vinte espécies apresentaram crescimento alométrico negativo, oito apresentaram cresci-mento alométrico positivo e seis com crescimento isométrico. As diferenças entre os tipos de crescimentoe valores de b das espécies analisadas estão provavelmente associadas com as diferentes estruturas detamanho das populações e com mudanças interanuais na condição alimentar dos organismos.

Palavras-chave: Crescimento, relações peso-comprimento, Rio Paciência, peixes.

ABSTRACT

Length-weight relationships of estuarine fish from Paciência River in the MaranhãoIsland, Brazil

The length-weight relationship describes the modes of growth, making it a good indicator of food andreproductive activities. This study evaluated modes of growth to most abundant species of the fish faunaof the Paciência River estuary, from january/2006 to january/2007, with samplings bimonthly in threetidal creek, using two different gill net types (driftnets and fixed gillnets). The total weight (g) / totallength (cm) (Wt / Lt) relationship was estimated by regression analysis and the t-test Student was usedto assess the type of growth and detect possible differences in the allometry coefficients. The parametersof the relationship were estimated for 9.241 specimens. The values of the allometry coefficient (b) variedbetween 2.5 to 3.4. The average value of b was 2.89 (± 0.27 SD), being not statistically different from 3.0(P> 0.05). Twenty species showed negative growth alometric, eight showed positive growth alometricand six were isometric in growth. The differences between the types of growth and b values are probablyassociated with various structures of populations size and interannual changes in food condition of theichtiofauna.

Key words: Growth, weight-length relationships, Paciência river, fish.

1Departamento de Oceanografia e Limnologia - UFMA, Av. dos Portugueses s/n, Campus Universitário do Bacanga,CEP 65080 - São Luís -MA e-mail: [email protected] em Ciências Aquáticas/ UFMA, Av. dos Portugueses s/n, Campus Universitário do Bacanga CEP 65080 -São Luís -MA2Graduando em Ciências Aquáticas/ UFMA, Av. dos Portugueses s/n, Campus Universitário do Bacanga CEP 65080 -São Luís -MA

RELAÇÃO PESO-COMPRIMENTO DE ESPÉCIES DE PEIXES DOESTUÁRIO DO RIO PACIÊNCIA DA ILHA DO MARANHÃO,

BRASIL.

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INTRODUÇÃO

O conhecimento de aspectos quantitativos,como a relação peso-comprimento, de uma espéciede peixe, é uma importante ferramenta para os estu-dos da biologia pesqueira, necessária para o mane-jo e para a preservação de um ambiente, pois forne-cem informações sobre a autoecologia das espécies(Lizama & Ambrósio, 2003; Vazzoler, 1982). Essasaplicações permitem a determinação indireta do pesoatravés do comprimento, e a análise do ritmo de cres-cimento, através do coeficiente alométrico, mostran-do eventuais mudanças na forma ao longo do de-senvolvimento ontogenético (Braga, 1993; Agosti-nho & Gomes, 1997 apud Santos et al. 2002).

De acordo com Royce (1972), o crescimentopode ter uma influência endógena representado pelaherança e ação de hormônios e exógena que é repre-sentado por um complexo de fatores ambientais,sendo provavelmente a quantidade e qualidade dosalimentos o mais importante (Rocha et al., 2005).

De acordo com os estudos de Froese (2006), oparâmetro a é o coeficiente linear da relação peso-comprimento, sendo o intercepto na formalogarítmica, enquanto, o parâmetro b é o coeficienteangular da forma aritmética da relação peso-compri-mento e a inclinação da linha de regressão na formalogarítmica.

Contudo os coeficientes a e b da relação po-dem diferir, não somente entre as espécies de pei-xes, mas também entre estoques da mesma espécie(Bagenal & Tesch 1978 apud Nahara et al. 1985).Assim, quando (b) = 3,0 a espécie pode ter um cres-cimento isométrico, isto é, o peso aumenta propor-cionalmente com o comprimento. No entanto, quan-do b é menor que 3,0 o crescimento é alométriconegativo, ou seja, incremento é devido ao peso equando b é maior que 3,0 o crescimento é alométricopositivo, com o incremento em comprimento maisacentuado que o peso. Le Cren (1951), assinala queos valores de b para peixes podem variar entre 2,5 e4,0, mas geralmente encontram-se em torno de 3,0(crescimento isométrico) (Rocha et al. 1997).

A relação peso-comprimento descreve as for-mas de crescimento nos diferentes estágios do ci-clo de vida das espécies de peixes, tornando-se bomindicativo das atividades alimentares e reprodutivas(Weatherley, 1972 apud Fernandes et al. 2006). Adi-cionalmente, esta relação pode servir de base paracomparar o grau de estresse ou diferentes condi-

ções ambientais entre peixes de ampla distribuiçãogeográfica (Bolger & Connolly 1989).

O presente estudo pretende estimar a relaçãopeso-comprimento das espécies mais abundantesda ictiofauna estuarina do rio Paciência-MA, forne-cendo informações biológicas para análises quanti-tativas e evidenciando a forma de crescimento dasespécies investigadas.

MATERIAL E MÉTODOS

A ilha do Maranhão, mais comumente conhe-cida como ilha de São Luís é na verdade um arquipé-lago com mais de 50 ilhas das mais variadas origense dimensões. A maior delas, a ilha de São Luís pro-priamente dita, tem extensão areal de aproximada-mente 70 Km², sendo constituída na sua totalidadede rochas sedimentares da formação Barreiras eItapecuru e de depósitos recentes nas suas áreas demarés e aluvionais.

O relevo da ilha de São Luís é caracterizadopor ondulações suaves com altitudes máximas emtorno de 60m, favorecendo a intrusão marinha emdireção aos rios e formando extensas áreasestuarinas. O litoral é extremamente recortado, comparímetro de 626 Km, sendo revestido pormanguezais em cerca de 90% desta área.

A região de pesquisa envolve o sistemaestuarino compreendido pela bacia do rio Paciência,que localiza-se na porção nordeste da Ilha doMaranhão, compreendida entre os paralelos 2° 23'05" a 2° 36' 42" de latitude sul e entre os meridianos44° 02' 49" a 44° 15' 49" oeste. Drena uma área deaproximadamente 171,74 Km2. A rede hidrográfica tempredominância do padrão dendrítico e da cabeceiraà foz, abrange cerca de 32,03 Km, percorridos nadireção sul-leste, distribuindo-se pelos quatro mu-nicípios integrantes da Ilha do Maranhão. O Rio Pa-ciência nasce na parte central da ilha do Maranhão.A partir da nascente desloca-se em direção nordes-te, passa por parte do meio rural dos municípios deSão José de Ribamar e Paço do Lumiar, desembo-cando, na baía de São José, em frente à ponta doCurupu através de um pequeno estuário numa áreaintensamente recortada (Maranhão, 1998).

Mensurações de variáveis físico-químicas as-sinalaram que, o pH do rio Paciência variou de 7,05 a8,15 durante o ano. Sendo que próximo às águascosteiras da baia de São José de Ribamar os valoresforam ligeiramente mais alcalinos, diminuindo em

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RELAÇÃO PESO-COMPRIMENTO DE PEIXES DA ILHA DO MARANHÃO 33

direção a zona superior do estuário devido à descar-ga fluvial, principalmente no período chuvoso(BASA/UFMA, 2007). A salinidade apresentou umaamplitude de variação entre 5,1 a 31,7 ao longo doano, apresentando também uma variação sazonalsignificativa com valores menores no período chu-voso (março a maio) e valores máximos no períodoseco (setembro a novembro). O oxigênio dissolvidoapresenta uma variação entre 3 e 5mg/L durante oano. Em média os valores mais elevados foram de-terminados próximo às águas costeiras e os meno-res na área de influencia límnica, demonstrando va-riação espacial semelhante a do pH e da salinidade.

Neste trabalho foram realizadas capturasbimestrais no período de janeiro/2006 a Janeiro/2007em três pontos localizados na área estuarina do rioPaciência, definidos em função do caudal fluvial edo gradiente de salinidade: Estação 1 - IgarapéIguaíba, Estação 2 - Igarapé Grande, Estação 3 -Igarapé Cristóvão.

As capturas foram realizadas utilizando redesde emalhar do tipo tapagem e malhadeira. As redesde tapagem são aparelhos de pesca fixos que têmcomo finalidade fechar o igarapé na preamar pararecolher os peixes que margeiam o mangue ou quepenetram parcialmente nele. Apresentam comprimen-to variando entre 100 a 200 metros, com tamanho demalha de 2 cm entre nós adjacentes para a regiãolateral e 1 cm para o saco, enquanto a altura atingede 4 a 5 metros.

A Malhadeira ou Rede de Espera é uma arte depesca passiva, na qual são empregadas bóias decortiça ou isopor na parte superior e pesos de chum-bo na parte inferior para mantê-las no sentido verti-cal, atravessando a correnteza em posição de pesca.É lançada em canais e igarapés mais profundos paraapanhar diversas espécies de peixes pelágicos edemersais. Depois de lançada no mar, a malhadeirafica presa apenas por uma corda à embarcação daqual é lançada e, depois de certo tempo, é feita adespesca, com o recolhimento da rede à canoa, reti-rando os peixes que ficam entre as malhas.

Após a coleta, os peixes foram acondiciona-dos em sacos plásticos etiquetados com informa-ções do tipo: local de amostragem data de captura efase da maré, colocados em caixas de isopor conten-do gelo e transportados para o laboratório, ondeforam determinadas as características biométricas eefetuada a identificação das espécies baseada emFigueiredo (1977), Figueiredo & Menezes (1978,

1980), Fischer (1978) e Cervigon (1992).De cada exemplar foram registrados o compri-

mento total (Lt) em cm e o peso total (Wt) em g. Osdados referentes à medição do peso e comprimentodos peixes, foram submetidos a uma análise estatís-tica exploratória para a verificação da presença deoutliers (Rossi et al. 2007). A relação entre compri-mento total e peso total foi estimada através de re-gressão dos pontos observados no gráfico de dis-persão, de acordo com o ajustamento da curva quetende à expressão matemática: Wt = aLtb, onde: Wt= peso total; Lt = comprimento total; (a) fator decondição relacionado com o grau de engorda e (b)coeficiente de alometria relacionado com a forma decrescimento do indivíduo. A partir da transformaçãologarítmica resultou na seguinte equação: LnWt =LnA+B LnLt, onde a=eA e b=B. Para testar as dife-renças entre os parâmetros das curvas ajustadas paracada espécie, uma análise de qui-quadrado (X2), comnível de significância de 5%, foi aplicada aosparâmetros das regressões potenciais do comprimen-to e peso transformados. O teste t-Student foi apli-cado para determinar se b difere significativamentede 3,0 (crescimento isométrico ou alométrico), defi-nindo o tipo de crescimento, assim como, para de-tectar diferenças significativas entre os coeficientesde alometria (Le Cren, 1951; Zar, 1984). Como critériopara saber se a equação ajustada representa ade-quadamente a relação entre o peso e o comprimento,usou-se o coeficiente de determinação (r2) (Araújo,2002). A Normalidade da distribuição dos valores deb, estimados neste trabalho, foi verificada medianteuso dos coeficientes de simetria e curtose propos-tas por (Zar, 1996), para a hipótese nula de que todasas espécies apresentam crescimento isométrico(b=3).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As estimativas dos parâmetros da relaçãopeso-comprimento de 34 espécies, representando umtotal de 9.241 espécimes, juntamente com o númerode indivíduos da amostra, a variação no comprimen-to e peso, os parâmetros a, b da relação, o coeficien-te correlação (r2) e o tipo de crescimento das espéci-es, são apresentados na Tabela 1.

Um dos mais importantes parâmetros no estu-do das populações de peixes é a relação peso-com-primento, sendo de importância fundamental para oestudo do ciclo de vida de uma população e a forma

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mais apropriada para estimativa do peso, a partir deum comprimento conhecido e vice-versa . Suas apli-cações permitem estimar o crescimento dos indiví-duos, além de ser útil como indicadora do acúmulode gordura e de desenvolvimento das gônadas. Arelação obtida no presente trabalho é do tipo poten-cial, seguindo o comportamento da maioria dosteleósteos (Le Cren, 1951; Gurgel & Barbieri, 1990).

De acordo com Tesch (1971) o expoente b tipi-camente tem um valor próximo a 3, mas pode variarentre 2 e 4 sendo que o valor de 3 indica que o peixetem crescimento simétrico ou isométrico, já valoresdiferentes indicam crescimento alométrico. Ricker(1975), estabeleceu que valores de b fora do interva-lo de 2,5-3,5 são geralmente considerados atípicos.

No presente estudo os valores estimados da incli-nação de b ficaram dentro da escala prevista peloautor, variando de 2,5 a 3,4, com um valor extremo de2,250 para Micropogonias furnieri. Esse valor ex-tremo pode ser causado possivelmente pelo peque-no tamanho da amostra (N=35). O valor médio de bfoi 2,890 (±0,273 SD), sendo considerado estatisti-camente não diferente de 3,0, (P> 0,05). Verani (1980)apud Silva et al. (2005), comenta que pequenas vari-ações em torno do parâmetro b podem estar relacio-nadas às diferenças de condições ambientais e aaspectos biogenéticos inerentes a cada espécie. Apartir dos estudos de Froese (2000) foi estabelecidaa relação entre log a com b, para as espécies estuda-das no qual foram detectados outliers (Figura1).

Tabela 1. Estimativa dos parâmetros da relação peso-comprimento (W=a Lb, em centímetros e gramas) para 34espécies de peixes do estuário do rio Paciência da Ilha do Maranhão. Tipos de Crescimento: Alométricopositivo (A+), Alométrico negativo (A-) e isométrico (I)

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Esses outliers só puderam ser identificadosporque segundo Froese (2000), a relação peso-com-primento das espécies resulta em uma relação lineare essa relação pode ser usada para identifica-los(Stergiou & Moutopoulos, 2001). Todavia, em al-guns casos os outliers podem ser uma má identifica-ção da espécie ou uma população que difere dasoutras na forma do corpo (Froese, 2006).

De acordo com Hosokawa & Souza (1988) apudAraújo (2002), o coeficiente de determinação (r2) éum parâmetro que indica quanto de variação da va-riável dependente está associada com a variação davariável independente. Sendo que esse coeficienteindica que a variação do peso corporal é explicadapela quase totalidade (90%) da variação do compri-mento corporal, para as espécies estudadas (Rochaet al. 2005). No presente estudo, o menor valor de r2

para as espécies amostradas foi 0,81 paraCetengraulis edentulus e o maior valor 0,99 foi en-contrado para Macrodon ancylodon, indicando quetodas as regressões foram significantes quando sub-metidas ao Teste-t (P<0,05).

As espécies Anableps anableps, Anchoviaclupeoides, Arius rugispinis, Aspredinichthystibicen, Batrachoides surinamensis, Colomesuspsittacus, Cynoscion leiarchus, Genyatremusluteus, Hexanematichthys bonillai,Hexanematichthys herzbergii, Nebris microps,

Oligoplites palometa, Pseudauchenipterusnodosus, Stellifer naso e Stellifer rastrifer, tiveramos valores de b comparados com registros encon-trados na literatura por Giarrizzo et al. 2006; Haimovici&Velasco, 2000; Duarte et al,1999; Bohnsack &Harper, 1988; García et al, 1998; Gallo, 1993; Robins& Ray, 1986; Colmenero et al, 1982; van der Elst,1981; Alvarez-Lajonchere, 1980; Chao, 1978; Fraser,1978; Dawson, 1965; Nomura, 1962. Os resultadosmostraram que Anableps anableps, Arius rugispinis,Aspredinichthys tibicen, Chaetodipterus faber,Colomesus psittacus, Cynoscion acoupa,Cynoscion leiarchus, Diapterus rhombeus,Genyatremus luteus, Hexanematichthys bonillai,Hexanematichthys herzbergii, Lutjanus jocu, Mugilcurema, Nebris microps, Oligoplites palometa,Trichiurus lepturus, apresentaram estimativas de bmaiores que as descritas na literatura (Tabela 01).Contudo, algumas das espécies estudadas apresen-taram estimativas mais elevadas de b quando compa-radas a outras áreas de ocorrência, como: Cathoropsspixii (3,18), Cetengraulis edentulus (3,32),Pomadasys corvinaeformis (3,39) e Trachinotusfalcatus (3,19) que ocorreram no Golfo de Salamanca/Colômbia (Duarte et al,1999 e Gallo, 1993), Bairdiellaronchus (3,14), Macrodon ancylodon (3,30),Micropogonias furnieri (2,99) e Symphurus plagusia (3,32)com ocorrência na Costa Sul do Brasil (Haimovici e Velasco,

Figura 1. Figura 1: Log a vs b para as relações peso-comprimento de 34 espécies depeixes do estuário do rio Paciência da Ilha do Maranhão. Outliers são marcados comum círculo no gráfico; veja na Tabela 1.)

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2000 e Nomura, 1962), Achirus lineatus (2,84),Centropomus parallelus (3,00), Centropomuspectinatus (3,00), Elops saurus (2,90) e Sphoeroidestestudineus (2,99) encontrados no Sul da Flórida eGolfo do México (Bohnsack & Harper, 1988; Robins& Ray, 1986; Colmenero et al. 1982; Fraser, 1978; eDawson, 1965) As diferenças nos valores de b po-dem ser atribuídas a um ou mais fatores, como efeitode diferentes áreas, mudanças na salinidade e tem-peratura da água, sexo, diferenças no número deespécimes examinados e amplitude de comprimentodas espécies capturadas (Tesch, 1971; Weatherley& Gill, 1987; Moutopoulos & Stergiou, 2002).

Em peixes os parâmetros da relação podemvariar significativamente de acordo com a estaçãodo ano e habitat, podendo ser afetada pela maturaçãogonadal, sexo, dieta alimentar e técnicas de preser-vação (Baganel & Tesch, 1978; Tesch, 1971 apudDulcic & Glamuzina, 2004).

Em relação ao tipo de crescimento, os resul-tados demonstraram que as espécies das famíliasCarangidae, Centropomidae, Engraulidae apresen-taram crescimento alométrico negativo (b<3), isto é,o incremento em peso é maior que o desenvolvimen-to em comprimento. Contudo as espécies Anablepsanableps, Diapterus rhombeus, Hexanematichthysherzbergii, Lutjanus jocu, Nebris microps,Pomadasys corvinaeformis, Trichiurus lepturus, de-

monstraram crescimento alométrico positivo (b>3),com o incremento em comprimento superior ao de-senvolvimento em peso. Somente as espéciesBatrachoides surinamensis, Chaetodipterus faber,Cynoscion acoupa, Cynoscion leiarchus,Genyatremus luteus, Hexanematichthys bonillaiapresentaram crescimento isométrico (b=3), o pesoaumentando proporcionalmente ao comprimento (Fi-gura 1). As variações da isometria podem ser devidoaos espécimes muito pequenos que não alcançaramà fase adulta e que foram incluídos na regressão(Basusta & Cicek, 2006). A diferença entre os tiposde crescimento das espécies está provavelmenteassociada com as diferentes estruturas de tamanhodas populações, incluídas nas relações peso-com-primento analisadas ou com mudanças interanuaisna condição alimentar dos organismos (Zorica et al.2006). A distribuição do expoente (b) da relação peso-comprimento de 34 espécies exibiu simetria(g1=0,0226) e normalidade em curva platicúrtica (g2=-0,2970), p=0,832 (Figura 2).

O tipo de crescimento das espécies de pei-xes do estuário do rio Paciência mostra varia-ções compatíveis com espécies que ocorrem emambientes estuarinos tropicais, ressaltando-sea limitação de aplicabilidade dos parâmetros ob-tidos para a amplitude de comprimento analisa-da.

Figura 2. Distribuição dos valores de b da relação peso-comprimento de34 espécies de peixes capturadas no estuário do rio Paciência da Ilha doMaranhão.

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Recebido em 23 de julho de 2007.Aprovado em 1 de agosto de 2007.

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Keila Renata Moreira Mourão1

Ludmila Assunção Pinheiro2

Flávia Lucena3

RESUMO

O município de Vigia é um dos principais municípios no que diz respeito a volume de pescado desembar-cado, capturado no Estuário do Amazonas, e ocupa o segundo lugar em volume de captura no Estado doPará. O presente trabalho descreve a atividade pesqueira no município de Vigia, enfocando os aspectossociais e técnicos da pesca artesanal e industrial. A organização social é caracterizada, bem como asprincipais artes de pesca, embarcações utilizadas, processo de operação de pesca e zonas de pesca. Asinformações foram obtidas em entrevistas realizadas junto a pescadores, dirigentes da categoria, funcio-nários do município e em uma empresa de pesca sediada no município. A pesca artesanal está represen-tada por uma colônia e oito associações de pescadores. Uma grande diversidade de artes de pesca éregistrada em Vigia. Predominam as redes de emalhar, com malhas (medida entre nós opostos) variandoentre de 50 a 320 mm, e o espinhel. O puçá e o matapi são utilizados na pesca artesanal do camarãoMacrobrachium sp.; o laço e o gancho empregados na captura artesanal do caranguejo-uçá Ucides cordatus.Em relação à pesca industrial, a rede de arrasto, voltada para a captura da piramutaba Brachyplatystomarousseauxii, e o manzuá, utilizado na captura do pargo Lutjanus spp são as atividades relevantes. Asembarcações utilizadas na pesca artesanal são de casco de madeira e variam de 3 a 18 m de comprimento,enquanto que as utilizadas na pesca industrial são de casco de ferro e medem de 20 a 27 m de comprimen-to.

Palavras-chave: Pesca Artesanal, Pesca Industrial, Vigia, Estado do Pará.

ABSTRACT

Social organization and technical aspects of the fisheries in the city of in Vigia-PA

The city of Vigia is one of the main fishing ports in the Estuary of Amazon River. The volumes of fishdisembarked rank Vigia in the second position within the state of Pará. This study focuses the social andtechnical characteristics of artisanal and industrial fisheries in Vigia. Interviews were carried out withskippers and enterprise managers based in Vigia. A great number of fishing techniques were reported. Gillnets, with stretched mesh sizes varying from 50 to 320 mm, and long liners dominate. The ́ puçá´ nets and`matapi` (traps) are used for the artisanal catch of the shrimp Macrobrachium sp.; the ´laço´ and´gancho´, used to capture the crab Ucides cordatus. The industrial fleet employs trawlers, for capturingthe laulao catfish, and also traps, for catching the red snapper Lutjanus spp. The artisanal fishing fleetcomprises wooden boats, 2 to 18 m long, whereas the industrial fishing operates with steely boats from20 to 27 m long. The autonomy of the boats varies from one to 30 days for the artisanal fleet, with crewvarying from one to 12 men.

Key words: Artisanal Fishery, Industrial Fishery, Vigia, Pará State.

1Oceanógrafa. Universidade Federal do Pará / Centro de Geociências / Departamento de Oceanografia /- Pa. E-mail:[email protected]ógrafa. Universidade Federal do Pará / Centro de Geociências / Departamento de Oceanografia / - Pa. E-mail:[email protected] Adjunto da Universidade Federal do Pará / Centro de Geociências / Departamento de Oceanografia/ Belém -Pa. E-mail: [email protected]

ORGANIZAÇÃO SOCIAL E ASPECTOS TÉCNICOS DA ATIVIDADEPESQUEIRA NO MUNICÍPIO DE VIGIA - PA

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INTRODUÇÃO

A Amazônia possui a maior bacia hidrográficado mundo, abrangendo 6.112.000 Km2 que, somadaà bacia do Tocantins, perfaz uma área total de6.869.000 Km2 (Cobraphi, 1984). A descarga médiados rios Amazonas e Tocantins é de 213.000 m3/s(Cobraphi, op. cit). Estas águas deságuam no Oce-ano Atlântico, na costa dos Estados do Pará eAmapá, formando um ambiente aquático complexo,denominado de Estuário do Amazonas, que suportauma biomassa substancial de espécies de peixes ex-ploradas por frotas artesanais e industriais,estabelecidas em ambos os Estados. Esta região éconsiderada uma das mais produtivas do País (SanyoTechno Marine, 1998). Os estudos realizados porIsaac & Braga (1999), revelam que a desembocadu-ra do Rio Amazonas é uma importante área de pescada costa Norte e está compreendida entre as latitu-des 00°50' N a 02° 39' N. Esta região apresenta ban-cos de fundos de lama, areia e pedra e profundida-des entre 40 e 60 m.

Segundo (www.ibama.gov.br), no Setor Pes-queiro Nacional em 2004, a pesca extrativa estuarinae marinha comportou uma produção de 500.116 to-neladas. O Estado do Pará foi responsável pela pro-dução de 88.980 t em 2004 o que assegurou, paraeste Estado, o segundo lugar em termos de volumede desembarque da pesca extrativa marinha. Estemontante representou para o Estado, um rendimen-to em torno de US$ 44.910 milhões de dólares, gera-dos através da exportação de pescado(www.ibama.gov.br).

O litoral do Estado do Pará se estende por 562Km de costa (Brito et al., 2002), situada entre a baíado Marajó (0°30'S e 48°00'W) e a baía do rio Gurupi(0°30'S e 46°00'W) (Bastos et al., 2002) e conta com123 comunidades pesqueiras ao longo de 17 muni-cípios litorâneos (Brito et. al., 2002). Em especial nolitoral paraense, destaca-se o município de Vigia,reconhecido como um dos principais e mais antigoporto pesqueiro do Estado do Pará, sendo respon-sável pelo escoamento de cerca de 25% do pescadocapturado, o que resulta ao município a posição desegundo lugar em volume de desembarque comaproximadamente 22.000 t (2003 e 2004) de pescado(www.ibama.gov.br).

O município de Vigia foi fundado em 06 dejaneiro de 1616. Possui uma área de 386,60 mil hecta-res e uma população de 40.176 habitantes, sendo

28.006 habitantes da zona urbana e 12.170 habitan-tes da zona rural (IBGE 2000). A economia do municí-pio está voltada para os setores da pesca, agricultu-ra e comércio. A atividade pesqueira do municípioestá representada pela colônia de pescadores Z-03(Vigia- PA), 14 comunidades pesqueiras e 8 associa-ções de pescadores.

Dada à importância sócio-econômica destemunicípio no contexto pesqueiro do Estado do Pará,bem como a presença de informações incompletassobre a atividade pesqueira local, o presente estudotem por objetivo descrever a atividade pesqueiraartesanal e industrial do município de Vigia,enfocando a organização social dos pescadores, asartes de pesca e embarcações utilizadas, bem comoas principais zonas de pesqueiras.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O Município de Vigia está localizado nas coor-denadas geográficas 00° 51' 33"S e 48° 08'28"W, namesorregião do Nordeste Paraense, na microrregiãodo Salgado. Distante 77 quilômetros de Belém, capi-tal do Estado, limita-se a oeste pela ilha de Colares,ao sul pelos Municípios de Castanhal e Santo Antô-nio do Tauá, a leste pelo Município de São Caetanode Odivelas e ao norte pelo Oceano Atlântico (Britoet al., 2002) (Figura 1). Apresenta clima equatorialsuper úmido, com temperatura máxima de 39° C emínima de 26° C (Brito et al., 2002) e precipitaçãopluviométrica de cerca de 2.770 mm/ano (Rayol,2002). O município de Vigia está localizado, pratica-mente, ao nível do mar com a sede municipal apre-sentando valores em torno de 6 m, havendo peque-nos acréscimos de costa mais ao sul de seu território(Rayol, 2002).

Coleta de dados

As informações utilizadas neste estudo foramobtidas através de entrevistas junto aos pescado-res artesanais, líderes comunitários, representantesdas associações e colônia de pesca, moradores daregião, chefe do departamento administrativo da pre-feitura, mercado municipal e indústria debeneficiamento de pescado. Adicionalmente foi fei-ta pesquisa bibliográfica em bibliotecas e institui-ções públicas.

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ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE PESQUEIRA 41

Os dados foram coletados no período de mar-ço de 2003 a maio de 2004, nas diversas localidadesonde há o desembarque de pescado em Vigia. Nomunicípio, na colônia e nas associações pesqueirasforam aplicados 10 questionários que tiveram o ob-jetivo de caracterizar a organização social, o funcio-namento, o número de integrantes e qual aespecificidade de cada associação. No mercadomunicipal local foi realizada a caracterização dasembarcações, levando em consideração o tipo e aarte de pesca empregada.

Junto aos pescadores artesanais foram reali-zadas 28 entrevistas que caracterizaram os aspectossociais e tecnológicos da pesca. Na indústria pes-queira foram entrevistados os responsáveis pela ar-mação das embarcações e pelo gerenciamento daempresa. Em ambos os casos, as seguintes informa-ções foram obtidas:

- Pescaria: dias no mar, número de lances, tem-po de lance, processamento a bordo, tripulação, ven-da, área da pescaria e espécie alvo da captura;

- Arte de pesca: descrição das artes utilizadas,tipo do anzol, quantidade de anzóis e distância entreos mesmos (espinhel); tamanho da malha e número

de manzuás (manzuá); comprimento e altura da rede(puçá); número de matapis (matapi), formato do cur-ral e tempo de duração (curral); tamanho e forma damalha, tipo de fio, comprimento e altura da rede (redede emalhar e rede de arrasto);

- Embarcações: comprimento, material do cas-co, potência do motor, capacidade de estocagem ecomplexidade tecnológica;

- Áreas de pesca: principais espécies captura-das em cada área, identificação das áreas através demapas e relatos dos pescadores.

As embarcações foram classificadas de acor-do com a classificação utilizada pelo CEPNOR/IBAMA (Brito et al., 2002), a saber:

Montaria (MON) - embarcação movida a remo,casco de pequeno porte, conhecida popularmentecomo bote a remo, casquinho ou montaria; Canoa(CAN) - embarcação movida a vela ou a remo e vela,sem convés ou com convés semi-fechado, referidana região como canoa ou batelão; Canoa Motoriza-da (CAM) - embarcação movida a motor ou motor avela com ou sem convés, comprimento até 7,99metros, comumente denominada de canoa motoriza-da, bastardo ou lancha; Barco de pequeno porte

Figura 1. Mapa com a localização do município de Vigia no Estado doPará.

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(BPP) - embarcação movida a motor ou motor e vela,com casco de madeira, convés fechado ou semi-fe-chado, comprimento entre 8 e 11,99 metros, popular-mente referida como barco motorizado de pequenoporte; Barco de médio porte (BMP) - embarcaçãomovida a motor ou motor e vela, com caso de madei-ra ou ferro, com casaria, convés fechado, com com-primento igual ou maior que 12 metros, conhecidapopularmente como barco de médio porte; Barcoindustrial (BIN) - embarcação motorizada com cascode aço, dotada de equipamentos de apoio à navega-ção, captura e conservação de pescado, comprimentoigual ou maior que 15 metros, com casaria, convésfechado e com maior autonomia, comumente deno-minada de barco industrial ou barco de ferro e Gelei-ra (GEL) - embarcação movida a motor ou motor evela, dotada de uma ou mais câmaras, que recolhe asproduções de embarcações menores.

RESULTADOS

Organização social da atividade pesqueiraartesanal

a) Colônia: A colônia de pescadores, Z-03 deVigia - PA foi fundada em 27 de maio de 1921, portan-to uma das mais antigas do país, que conta atual-mente com mais de 3 mil pescadores cadastrados. Olíder entrevistado, opinião essa corroborada pelospescadores entrevistados e dirigentes de associa-ção, relata que organização social da colônia é ex-pressiva com ativa participação dos associados nasatividades da entidade e que os representantes sãoeleitos por voto direto dos pescadores em períodode 3 em 3 anos. Cabe à colônia questionar e solucio-nar os problemas dos pescadores, representando-os perante o governo ou outras instituições.

b) Associações: As associações de pescado-res foram criadas, principalmente, com a finalidadede concorrer a fontes de financiamentos dos recur-sos disponíveis apenas através de firmas registradasou associações de classe. A partir de 1995, um gran-de número de financiamentos foi disponibilizado peloFundo Institucional do Norte através do Banco daAmazônia (FNO/BASA), destinados principalmen-te à construção de barcos e compra de apetrechosde pesca. Em decorrência disto, um grande númerode associações pesqueiras foi surgindo, sendo mui-tas delas formadas não apenas por pescadores, mastambém por comerciantes e pequenos agricultores.

As associações diferem quanto ao número de asso-ciados e quanto ao número de embarcações financi-adas. Destaca-se a presença de duas associaçõesde mulheres e uma mista, de pescadores e agriculto-res, em uma localidade interiorana (Tabela 1). Atual-mente, oito associações são registradas no municí-pio, a saber: CAPAV (Caixa Pesqueira Artesanal deVigia); AMAPESCA (Associação das Mulheres Pes-cadoras da Comunidade de Vigia); ACAPAV (Asso-ciação Comunitária e Ambiental dos PescadoresArtesanais do Município de Vigia); ASSPAV (Asso-ciação dos Pescadores Artesanais de Vigia); ATAPAV(Associação dos Trabalhadores na Pesca Artesanalde Vigia); ASMUPEB (Associação das MulheresPesqueiras das Regiões das Barretas); ASPESCA(Associação dos Pescadores Artesanais deCuruçazinho e Adjacentes) e ASPHONAB (Associ-ação de Produtores de Hortaliças, Frutas, Frangos ePescados de Macapá da Barreta e regiões vizinhas).Delas, apenas duas haviam recebido financiamen-tos para embarcações. As associações formadaspelas mulheres dos pescadores, AMAPESCA eASMUPEB, merecem destaque pelo elevado núme-ro de filiadas. A AMAPESCA foi criada com o obje-tivo de confeccionar e comercializar redes de pesca(emalhar). A ASMUPEB foi criada com o objetivo debeneficiar e comercializar a carne de caranguejo(Ucides cordatus), camarão (Macrobrachiumamazonicum) e siri (Callinectes sp.).

Aspectos técnicos da pesca artesanal

A atividade pesqueira artesanal do municípiode Vigia é bastante diversificada tanto em relação àsartes de pesca quanto no que diz respeito às embar-cações.

Embarcações

As embarcações amostradas no mercado munici-pal de Vigia totalizaram 684 barcos. A maior porcentagem49,7% representa os barcos de pequeno porte (Figura2A). Considerando as artes de pesca utilizadas (Figura2B) tem-se que 91,52% das embarcações pescam ape-nas com rede e 6,14% pescam somente com espinhel(6,14%). Para todos os tipos de embarcações, predomi-na o uso da rede de emalhar. Entretanto, a CAN e a CAMutilizam também, embora em menor proporção, o espinhel(Tabela 2). As embarcações industriais não foramamostradas no mercado municipal de Vigia e as embar-cações tipo geleira não utilizam artes de pesca.

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Tabela 1. Características gerais da organização social dos pescadores artesanais de Vigia.

Figura 2. A) Percentual das embarcações por tipo; B) Percentual de artes de pesca utilizadas napesca artesanal em Vigia.

Tabela 2. Artes de pesca utilizadas por Tipo de embarcação.

Rede de emalhar

A rede de emalhar, utilizada pela pescaartesanal, captura uma grande diversidade de es-pécies, e os apetrechos são adaptados, quanto aomaterial e dimensões, de acordo com a captura daespécie ou grupo alvo (Tabela 3). O fornecimentode pescado é garantido para todo o ano, uma vezque se registram safras tanto no período de chu-

vas (Janeiro a Junho) quanto no período "seco",de menor incidência de chuvas, (Julho a Dezem-bro).

O tipo do espinhel também é bastante diversi-ficado no município de Vigia, variando no compri-mento e no tipo de anzol de acordo com a espécie ougrupo alvo, e também em relação à embarcação queo opera. Destacam-se, nesta modalidade, três tiposde anzóis, conforme as Tabelas 5 e 6.

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Tabela 3. Tipos de Rede de Emalhar de acordo com a espécie alvo.

Tabela 4. Característica das embarcações utilizadas e processo de operação de pesca para as pescarias realizadascom rede de emalhar.

Tabela 5. Tipos de Espinhel de acordo com a espécie alvo.

Principalmente espécies dos gêneros Mustelus, Sphyrna e Carcharhinus.( - ) sem informação

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Pesca de camarão

A captura do camarão Macrobrachiumamazonicum no município de Vigia é realizada prin-cipalmente por puçá e matapi. O puçá é uma redecom um saco no fundo, possui 3 m de comprimentoe 2 m de altura. Esta pescaria é realizada geralmenteno período da noite e com a utilização de uma canoa.Dois pescadores fazem cerca de 15 arrastos com opuçá. O camarão é vendido cozido. O matapi é umaarmadilha, confeccionada com talas de madeira dis-postas de forma cilíndrica, com o objetivo de permi-tir a entrada do animal, impossibilitando sua saída.Para atrair os camarões para o interior dos matapis, éutilizado o babaçu (Orbignya phalerata, Mart.). Sãoutilizados entre 50 e 60 matapis, que permanecem naágua por cerca de 8 h. A despesca é realizada namaré seca, por dois pescadores. Todo o camarãocapturado permanece em um viveiro até o final dasemana, quando são vendidos para um atravessador.A maior produção ocorre entre os meses de julho adezembro (período menos chuvoso). As capturassão realizadas em áreas rurais, nos rios que margeiamas vilas de pescadores.

Captura do caranguejo Ucides cordatus

a) Gancho: A pesca é realizada por dois pesca-dores, que geralmente utilizam uma montaria (MON)com cerca de 3 m para chegar até o local da captura.Os pescadores vão e voltam no mesmo dia e podemcapturar de 70 a 150 caranguejos por viagem. Emuma semana são feitas de 5 a 6 viagens.

b) Laço: Esta técnica de captura também é rea-lizada por dois pescadores, que utilizam montarias(MON) para chegar ao local da captura. Os pesca-dores armam entre 200 e 300 laços por dia, na saídada toca do caranguejo. No dia seguinte eles voltamao local e recolhem os animais que ficaram presos.Em seguida armam novamente os laços, reiniciandoo processo. As capturas de caranguejo no municí-pio de Vigia, com esta arte de pesca, ocorrem o anotodo, porém são mais intensificas entre dezembro ejunho (período chuvoso da região).

Aspectos técnicos da pesca industrial

Característica das embarcações, artes de pesca eprocesso de operação de pesca

No município de Vigia existe apenas uma em-presa que realiza a pesca industrial. A mesma traba-lha com a captura e beneficiamento do pescado. Elapossui 13 embarcações próprias, sendo 10 de ferro e3 de madeira, cujo tamanho varia de 20 a 26 metros ea capacidade de estocagem entre 33 a 54 toneladas.A principal espécie capturada é a piramutaba. O pes-cado é comercializado na forma de posta, filé, espe-tinho (tipo churrasco) e medalhão (carne utilizadapara sanduíche). A produção é voltada para o mer-cado nacional e, principalmente, para a exportação.A pesca industrial no município de Vigia utiliza pou-cas artes de pesca, a saber: rede de arrasto, manzuá,rede de emalhar e espinhel, descritas a seguir:

a) Rede de arrasto: utilizada em contato com oleito do ambiente, esta rede é voltada para a pesca

Tabela 6. Característica das embarcações utilizadas e processo de operação de pesca para as pescarias realizadascom espinhel.

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da piramutaba, cuja safra ocorre de janeiro a junho.Além desta, captura também dourada, pescada bran-ca e bagre. O tamanho da malha (entre nós opostos)varia entre as diferentes partes da rede, sendo de150 mm na manga (parte inicial da rede, onde ficapresas as cordas), 70 mm na tuna (parte intermediá-ria da rede) e 60 mm o saco (parte final da rede ondeficam retidos os espécimes). As embarcações queutilizam a rede de arrasto estão inseridas na catego-ria barco industrial (BIN). São construídas com cas-co de ferro e possuem comprimento variando de 22 a26 m. Estão equipadas com rádio, GPS, ecosonda e,em alguns casos, sonar. Possuem motor com potên-cia média de 425 HP e capacidade de estocagem va-riando de 34 a 54 t. As embarcações trabalham emsistema de parelha e trilheira, onde 1 ou 2 redes sãoarrastadas por 2 ou 3 barcos respectivamente. O ar-rasto dura de 4 a 6 horas e são realizados cerca de 3arrastos por dia. Cada embarcação passa de 5 a 10dias no mar, com uma tripulação entre 7 e 10 pesso-as.

b) Manzuá: O mazuá tem altura de 1,6 m, com-primento de circunferência maior é de 4 m e a abertu-ra de entrada (sanga) possui 30 cm de diâmetro Amalha do manzuá tem formato de hexágono e mede 6/ 7 cm. Em cada viagem são utilizados cerca de 20manzuás, que ficam em contato com o fundo e sãovoltados para a pesca do pargo Lutjanus sp. no pe-ríodo de agosto a novembro. São ainda capturadasas espécies realito Rhomboplites aurorubens,garoupa Epinephelus spp., porquinho Balistes sp.,entre outras. As embarcações que utilizam o manzuácomo arte de pesca estão inseridas na categoria bar-co industrial (BIN). São construídas com casco deferro e medem cerca de 22 m de comprimento. Estãoequipadas com rádio, GPS e ecosonda. Possuemmotor com potência média de 375 HP e capacidadede estocagem de 38 t. A autonomia dura cerca de 15dias e cada embarcação possui uma média de 10 tri-pulantes. O principal atrator utilizado é a sardinhaAnchovia clupeoides e Cetengraulis edentulus. Otempo de cada lance varia de 20 a 30 minutos e sãorealizados de 4 a 6 lances por dia. Todo o pescadocapturado é eviscerado e posteriormente gelado. Estapescaria ocorre em mar aberto, com profundidadesentre 90 e 110 m.

c) Espinhel: voltado para a captura da pesca-da amarela, gurijuba, cação (principalmente espéci-es dos gêneros Mustelus, Sphyrna e Carcharhinus)e uritinga A. proops. A empresa opera com barcos

artesanais, com características semelhantes ao des-critos na pesca artesanal. Entretanto, as embarca-ções utilizadas nesta modalidade sãotecnologicamente mais sofisticadas. O espinhel uti-lizado pela empresa possui cerca de 3.000 anzóis dotipo 13/0. As embarcações utilizadas estão inseridasna categoria barco de médio porte (BMP). Sãoconstruídas com casco de madeira e medem cerca de23 m de comprimento. Estão equipadas com rádio,GPS e ecosonda. Possuem motor com potência mé-dia de 220 HP, capacidade de estocagem média de 42t, autonomia entre 22 e 23 dias e cerca de 10 tripulan-tes. A principal isca utilizada nesta pescaria é obandeirado. O tempo de duração de cada lance podevariar de 4 a 6 horas, sendo realizados 2 lances pordia. Todo o pescado capturado é eviscerado e pos-teriormente gelado. O espinhel é utilizado em conta-to com o fundo em áreas com profundidade varian-do de 15 a 30 m.

d) Rede de emalhar: utilizada em contato como fundo, está voltada para a captura da pescada ama-rela e gurijuba, mas captura também cações, corvina,pirapema, xaréu Caranx spp. e Alectis ciliaris, entreoutros. Assim como para o espinhel, esta pescariatambém acontece com barcos artesanais, com carac-terísticas semelhantes ao descrito na pesca artesanal,apresentando, entretanto maior tecnologia. As re-des apresentam malha (entre nós opostos) medindo200mm, com fio de multifilamento nº 40. O compri-mento da rede varia de 3.000 a 4.500m, sendo a alturaem torno de 3 m e as pescarias acontecem a umaprofundidade de cerca de 23m. As embarcações queutilizam esta rede estão inseridas na categoria barcode médio porte (BMP). São construídas com cascode madeira e apresentam comprimento em torno de20 m. Possuem equipamentos como rádio, GPS eecosonda, motor com potência média de 114 HP ecapacidade de 33 t. Estas embarcações possuemautonomia de cerca de 22 dias, sendo que permane-cem embarcados em torno de 10 tripulantes. Cadalance dura 8 h e são realizados de 1 a 2 lances pordia. Todo o pescado capturado é eviscerado e pos-teriormente gelado.

Zonas de pesca na costa norte do Brasil

As zonas de pesca mais exploradas pelos pes-cadores da costa Norte, especialmente em relaçãoaos pescadores do município de Vigia, estão repre-sentadas na Figura 3A. A área de pesca dos pesca-

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dores de Vigia estende-se desde o estuário e desem-bocadura do Rio Pará, passando pela Ilha do Marajó,foz do Rio Amazonas e toda a costa do Amapá. Estaárea foi sub-dividida em 3 zonas de pesca: ZONA I,ZONA II E ZONA III.

A Zona I (Figura 3B) estende-se ao longo dacosta do Amapá, desde o Cabo Orange, até o CaboNorte. Nesta Zona, há três áreas distintas que pos-suem características peculiares, no que diz respeitoà exploração dos recursos pesqueiros. A primeiraárea (Zona I-A) está compreendida entre a foz dosRios Oiapoque e Caciporé, desde suas margens atéas profundidades de aproximadamente 18 metros,onde diversas espécies são capturadas pela pescaartesanal, destacando-se a gurijuba, tainha, bagre,tubarão e principalmente a pescada amarela, na qualé considerado o principal pesqueiro (local de pescaonde é maior a abundância de peixes) da espécie. Asegunda área (Zona I-B) distribui-se desde as proxi-midades da foz do Rio Caciporé, passando pelosRios Cunani, Marrecal, Pau Alto até a foz do RioCalçoene. Várias espécies são capturadas por em-barcações artesanais e industriais. A espécie maiscapturada (volume de captura) é a gurijuba e, emmenor escala, a pescada amarela e a corvina. Final-mente, a terceira área (Zona I-C) estende-se desde afoz do Rio Amapá até as proximidades do Cabo doNorte. Nesta área está localizada a Ilha de Maracáque apresenta duas margens (interna direcionadaao continente e externa direcionada a costa). De acor-do com os relatos dos pescadores entrevistados, amargem direcionada para a costa, margeada peloOceano Atlântico representa um berçário de gurijuba.

A Zona II (Figura 4A), estende-se desde oCabo do Norte, passando pela foz do Rio Araguariaté a foz do Rio Amazonas. Na foz amazônica, umdos pesqueiros mais importantes é o Canal do Curuá,localizado entre o Cabo do Norte e a Ilha do Marajó.Na parte mais interna do Rio Amazonas (água doce),a pescaria no período chuvoso é voltada principal-mente para a captura do filhote ou piraíba. As captu-ras são realizadas nas desembocaduras próximas dasIlhas Jaraucu, Caviana de Fora e Mexiana. Na parteintermediária do estuário do Rio Amazonas, tambémno período do inverno, a pesca da piramutaba pelapesca industrial é efetuada. A dourada também éabundante neste período e muito explorada nestaárea. Na parte mais externa da foz do Amazonas en-tre as coordenadas 01°25.623'N e 49°22.224'W loca-liza-se o pesqueiro denominado Bóia do Navio. Nesta

área, a profundidade é de aproximadamente 12 m e apesca é muito intensa o ano todo. As espécies maiscapturadas são a gurijuba, cação, dourada, camorimCentropomus spp. e tubarões.

A Zona III (Figura 4B) é a área de pesca maispróxima do município de Vigia e a mais exploradapela pesca artesanal. Localiza-se desde a frente daIlha do Marajó, passando pela foz do Rio Pará até oCanal do Espadarte. No período do inverno, com odeslocamento das águas do Rio Amazonas, apiramutaba margeia toda a costa da Ilha do Marajó,penetra no Rio Pará e chega até Soure, onde passa aser capturada em menor escala pela pesca artesanal.Destacam-se nesta Zona importantes pesqueiroscomo Balisa e Espadarte. A Balisa fica próxima domunicípio de São Caetano de Odivelas e no invernocaptura-se principalmente a piramutaba, dourada,bagre e pescada branca. No verão, a água salgadaavança para dentro do estuário e pescada amarela,serra, sardinha (Anchovia clupeoides), corvina,xaréu, pescada gó, pirapema e pratiqueira são bas-tante exploradas. O Canal do Espadarte fica localiza-do entre as coordenadas 00°22.542'S e 7°53.333'W, ea profundidade no canal varia de 21 a 25 m. A pescanesta área ocorre em menor escala, destacando-seas capturas de serra, pescada gó e xaréu.

DISCUSSÃO

A importância da pesca na Amazônia remotaao período anterior ao da colonização, quando osindígenas já utilizavam o pescado como parte es-sencial de sua alimentação (Veríssimo, 1895). Nesteperíodo, já era registrada a pesca na costa da ilha deMarajó e no salgado paraense (microrregião repre-sentada por onze municípios, que se estende domunicípio de Colares até São João de Pirabas), ten-do como principais espécies a tainha e a gurijuba e,como fauna secundária, o bagre, cação, raias,corvinas, sardas e "pescadas" (sem especificar aespécie) (Veríssimo, op. cit.). A tecnologia da pescaartesanal tem influência lusitana e, sobretudo, indí-gena, encontrando-se também aspectos da ativida-de pesqueira do caboclo amazônico, dispersos pe-las áreas flúvio-lacustres e marítimas da região (Fur-tado, 1981).

A pesca na região amazônica, até o final dadécada de 60, limitou-se à atividade artesanal ousemi-artesanal, com fins de abastecer o mercado re-gional de pescado fresco ou salgado (Barthem, 1990).

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Figura 3. A) Figura ilustrativa da Costa Norte Zonas de pesca I, II e III. B) Zona I, figura ilustrativa dopesqueiro denominado de “Norte” sub-dividida em: Zona I-A (pescada amarela); Zona I-B (gurijuba) e ZonaI-C (berçário de gurijuba).

Figura 4. A) Zona II, figura ilustrativa do pesqueiro denominado de "Amazonas". B) Zona III, figura ilustrativaque representa os pesqueiros da Balisa e Canal do Espadarte.

A

A

B

B

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Neste período, o governo Federal estimulou a ampli-ação e aparelhamento da frota pesqueira e instala-ção de frigoríficos, principalmente nas proximidadesdo estuário amazônico (Brito et al., 1975). Um par-que industrial foi montado no município de Belémcom a finalidade de processar e congelar o pescadopara atender principalmente o mercado internacio-nal (Barthem, 2004). Desde então, a piramutaba tor-nou-se o principal produto de exportação da Ama-zônia (Barthem, 1990). A importância deste recursopermanece até o presente momento, destacando opólo industrial do município de Vigia, como obser-vado neste estudo.

A região amazônica é fortemente influenciadapela sazonalidade e a distribuição dos recursos pes-queiros se dá em função dos períodos seco e chu-voso da região. Segundo Barthem (1985) essa acen-tuada alteração na salinidade faz com que haja umaalteração considerável na composição da ictiofauna.O primeiro semestre no estuário, conhecido comoinverno, é caracterizado pelo afastamento das águasmais salinas, de origem oceânica, que são deslocadaspara longe da foz pela forte descarga do rio Amazo-nas (Egler & Schwassmann, 1962; Schwassmann etal., 1989). Neste período, os peixes de água docepredominam na região. No "verão", com a diminui-ção da pluviosidade, ocorre o fenômeno inverso, azona de mistura salina se aproxima da foz amazônicae peixes de água salgada dominam.

As principais espécies capturadas na pescaartesanal do município de Vigia são caracterizadaspor esta sazonalidade. Destacam-se como espéciesde água salgada, a pescada amarela, gurijuba, serrae pescada gó que são capturadas de agosto a de-zembro (período seco) e, como espécies de águadoce, a dourada, pescada branca, piramutaba e fi-lhote Brachyplatystoma filamentosum capturadosno primeiro semestre do ano, nos meses de janeiro ajunho (período chuvoso).

Os recursos pesqueiros da região norte do paíssão amplamente explorados pela pesca artesanal eindustrial, que operam com frotas e apetrechos depesca altamente diversos. A pesca extrativa marinhae estuarina do Estado do Pará foi responsável pelaprodução de 88.980 toneladas de pescado em 2004(www.ibama.gov.br). A produção do pescado é cons-tituída principalmente pela pesca artesanal com apro-ximadamente 86% do total, o que lhe confere umaposição de grande destaque, quando comparada comas demais regiões costeiras do país

(www.ibama.gov.br).Especificamente no município de Vigia, a pes-

ca artesanal é a principal fonte de exploração dosrecursos pesqueiros. De acordo com Maneschy &Escallier (2002), no referido município, a pesca é hojeo principal absorvedor de mão-de-obra, salientandoum importante movimento migratório de famíliasoriundas de outros municípios pesqueiros para Vi-gia, atraídos pelo movimento comercial e pela proxi-midade de zonas de pesca tidas como altamente pro-dutivas. As serreiras e a caiqueiras eram as artes depesca mais utilizadas na captura da serra, enchova,corvina e caíca. As pescadeiras ocupavam o 3º lugarem importância de captura, geralmente com malhade 90 mm. Embora, não explícito, acredita-se que estarede tinha como espécie alvo à pescada amarela, umavez que segundo esta obra, as "pescadas" eram asprincipais espécies capturadas em 1974 (ACAR - Pará,1976).

A pescada amarela ainda hoje é o principal re-curso capturado no Estado do Pará(www.ibama.gov.br) e o município de Vigia possui omaior desembarque da espécie. Barthem et al. (1987),Espírito Santo (2002) e Isaac et al. (2005), em estu-dos realizados sobre a pesca artesanal, observaramque a mesma possui características bastante varia-das, em relação ao comprimento da embarcação, ca-pacidade de estocagem, habitat onde atua e esto-ques que exploram. Esta diversidade também foi re-gistrada para o município de Vigia, uma vez que asembarcações variam desde montarias até barcos demédio porte, podendo estocar desde 0,6 a 26 t depescado, atuar em águas interiores até águas pro-fundas e se direcionar para uma diversidade de es-pécies-alvo.

Em relação às artes de pesca, em Vigia foramregistradas oito modalidades de pesca, sendo domi-nantes as redes de emalhar e o espinhel. EspíritoSanto (2002) registrou para a pesca artesanal de pe-quena escala, no município de Bragança, um total devinte e uma formas de captura distribuídas entre ar-madilha móvel, armadilha fixa, linhas e redes. EmAugusto Corrêa, Isaac et al. (2005) identificaram apresença de dezenove artes ou modalidades de pes-ca, distribuídas entre armadilhas fixas, armadilhasmóveis, redes e espinhel. De acordo com Loureiro(1985), na década de 80 era observado o uso dasredes caçoeiras, serreiras, douradeiras, pescadeiras,pratiqueira e tainheira pelos pescadores vigienses.O uso destas redes assim como sua diversidade é

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relatada neste trabalho para a pesca em Vigia, ondesete diferentes tipos de redes de emalhar sãoregistrados, dependendo da espécie-alvo.

Em relação à pesca do caranguejo, Diele (2000)identificou dois modos de captura de caranguejo U.cordatus no Estuário do rio Caeté: o gancho e obraço (captura tradicionalmente realizada com a uti-lização das mãos e dos braços). Isaac et al. (2005),para o município de Augusto Corrêa, identificaramos mesmos métodos. Isaac et al. (1998), para o Esta-do do Amapá, registraram apenas a coleta manualdo crustáceo. Nas pescarias de camarão, de acordocom Isaac et al. (2005), no município de AugustoCorrêa, as capturas do camarão branco Litopenaeusschmitti são realizadas com puçás de arrasto, cujasdimensões da malha entre nos opostos são 10mm naboca e 5mm no funil da rede. De acordo com Miranda(1968) puçás e matapis são artes de pesca de origemtupi editada pela primeira vez em 1905. Silva (2002),no município de Vigia, registrou a presença marcantedo camarão M. amazonicum, camarão rosaFarfantepenaeus subtilis, camarão branco, camarãosete barbas Xiphopenaeus kroyeri e camarãoMacrobrachium surinamicum. Martinelli (2005), noestuário do rio Caeté, identificou a presença de qua-tro famílias e nove espécies de camarões, as espéci-es X. kroyeri, F. subtilis e L. schmitti da famíliaPenaeidae representaram 93% das capturas. De acor-do com as entrevistas realizadas para este trabalho,o Macrobrachium surinamicum representou as cap-turas predominantes dentre os camarões.

Considerando o exposto, no município de Vi-gia, são registradas várias similaridades em relaçãoàs artes de pesca artesanal utilizadas em outras regi-ões do nordeste paraense. Estas similaridades estãorelacionadas não somente em relação às artes, mastambém no que diz respeito às suas dimensões eoperações de pesca.

Segundo Barthem et al. (1987), a frota indus-trial constitui-se de barcos geralmente com cascosde aço, comprimento entre 17 e 27 m, tonelagem lí-quida entre 20 e 105 t e potência de motor variandode 165 a 565 HP (horse power). Isaac & Braga (1999)relatam que, a partir do fim da década de 70, foiintroduzida a modalidade de pesca de arrasto emparelhas, na qual dois barcos operam uma única rede,sem portas. Em Vigia, a maior parte das embarcaçõesindustriais são confeccionadas com cascos de aço,capacidade de estoque entre 33 e 53 t e potência demotor variando de 114 a 425 HP. Todas as embarca-

ções também utilizam tecnologia sofisticada e a prin-cipal atividade da empresa é a pesca de arrasto emparelhas para a captura da piramutaba. No Estadodo Pará, a evolução da pesca industrial dapiramutaba, teve inicio em 1971 com a utilização debarcos camaroneiros adaptados para a pesca de pei-xes demersais, utilizando redes-de-arrasto (IBAMA,1999).

Segundo Carvalho et al. (2004), a pescaria foiimpulsionada por políticas de incentivo, como isen-ção de impostos e facilidades de financiamento, e aprodução era voltada para o mercado externo, ocasi-onando um grande incremento do esforço de pescae da captura. De acordo com o IBAMA (1999), esseincremento no esforço pode ser observado nas for-mas dos arrastos de piramutaba, que inicialmenteeram realizados em parelha e atualmente têm sidooperados em trilheiras e quatrilheiras, isto é, arrastocom três ou quatro (e até mais) embarcações, au-mentando a eficiência em termos de captura por bar-co. As pescarias industriais com covo ou manzuáforam introduzidas a partir de 1997 quando ocorreuo declínio da pesca do pargo com linhas pargueirasnos bancos oceânicos do nordeste. Esta nova mo-dalidade de pesca passou a ser explorado na costanorte do Brasil, inicialmente pela frota artesanal eindustrial, no entanto, apenas a frota industrial do-minou esta tecnologia (Souza, 2002). No presenteestudo, os dados corroboraram com os de Souza(2002), onde as capturas com os covos foramregistradas apenas para a pesca industrial do muni-cípio de Vigia.

Segundo Braga (2002), as seguintes artes depesca são utilizadas pela pesca artesanal de largaescala ou semi-industrial no município de Bragança:espinhel com bicicleta, linha e anzol, malhadeira,lagosteira e serreira. No município de Vigia as artesutilizadas são semelhantes, sendo empregado, prin-cipalmente, a rede-de-arrasto e o covo, seguidos demalhadeira e espinhel.

De acordo com Loureiro (1985), os pescado-res de Vigia atuam em regiões distintas do litoralnorte: foz dos Rios Tocantins, Maguari e Pará, emáguas compreendidas entre Vigia e a costa nordesteda Ilha do Marajó, desembocadura do Rio Amazo-nas até as proximidades do território do Amapá eextremo norte do Brasil, desde a Ponta Grossa e a fozdo Rio Oiapoque, nas fronteiras com as Guianas Fran-cesas. Maneschy & Escallier (2002), também para omunicípio de Vigia, afirmam que os pescadores divi-

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ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE PESQUEIRA 51

dem-se em três grandes zonas de pesca. A mais pró-xima situa-se na baía do Marajó, junto à foz dos riosTocantins e Pará. A zona intermediária é chamadaAmazonas, próxima ao estuário desse rio. A maisdistante, com vários dias de navegação a partir deVigia é denominada de Norte, que se estende ao lon-go da costa do Amapá até a fronteira com a GuianaFrancesa. Segundo Isaac et al. (1998), as zonas depesca localizadas na costa do Amapá, onde são cap-turados os recursos pesqueiros desembarcados nomunicípio de Vigia, apresenta o rio Araguari e seusafluentes como a maior bacia hidrográfica, no entan-to destacam-se também, pela sua localização, tama-nho e importância para a pesca, os rios Jari, Caciporée Calçoene.

Este trabalho contribuiu com o conhecimentoda atividade pesqueira no município de Vigia. Estasinformações podem subsidiar projetos de cunhosocial e tecnológico, bem como possíveis medidasde ornamento pesqueiro para a região.

Agradecimentos

Aos pescadores e aos responsáveis pela co-lônia de pesca, associações pesqueiras e empresade pesca, que gentilmente responderam às entrevis-tas. A Thierry Frédou, Roberto Espírito-Santo eMarcelo Torres pela revisão da versão preliminar domanuscrito.

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Recebido em 23 de agosto de 2007.Aprovado em 7 de outubro de 2007.

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Elenice de Oliveira Caridade1

Maria Marlúcia Ferreira-Correia2

RESUMO

As macroalgas de ambiente estuarino têm uma função primordial na manutenção da vida deste ambiente,pois mantém protegida entre seus filamentos uma fauna bastante diversificada, servindo de alimento paramuitos animais herbívoros e local de reprodução para diversas espécies de organismos aquáticos, contri-buindo significativamente para elevar a biodiversidade marinha e estuarina. Devido ao papel de grandeimportância ecológica das macroalgas nesse ecossistema, esse trabalho tem o objetivo de ampliar oconhecimento e a distribuição das macroalgas dos manguezais do Estado do Maranhão. No período denovembro de 2001 a fevereiro de 2003 foram realizadas coletas de macroalgas bentônicas na Baía deTuriaçu-MA em quatro pontos de amostragens distribuídos ao longo da Baía. O material foi coletadomanualmente ou com o auxílio de uma espátula metálica e os espécimes foram acondicionados em frascosplásticos contendo solução de formalina 4% etiquetados e transportados ao laboratório. Foram identifi-cados 9 táxons de algas, dentre estas 3 Chlorophyta (33%) e 6 Rhodophyta (67%), pertencentes àsfamílias: Cladophoraceae, Siphonocladaceae, Rhodomelaceae, Delesseriaceae e Rhabdoniaceae. Bostrychiafoi o gênero mais representativo com 3 espécies, seguido de Rhizoclonium com 2 espécies. A composiçãoflorística das macroalgas aderidas em troncos, pneumatóforos e rizóforos de Rhizophora mangle Linnaeuse Avicennia germinans Jacq. dos manguezais de Turiaçu é semelhante às de outros manguezais da costabrasileira e do mundo.

Palavras-chave: Taxonomia, macroalgas, manguezal, Baía de Turiaçu.

ABSTRACT

TAXONOMY OF THE MACROALGAE OF THE MANGROVES FROM TURIAÇU BAYSTATE OF MARANHÃO, BRAZIL

The marine algae of an estuarine environment have a primordial function in the maintenance of life in thisenvironment, since they keep protected among their filaments a well-diversified fauna. Moreover, theyserve as food for many herbivore animals, and as sites for reproduction of diverse species of aquaticorganisms, contributing significantly to the increase of sea and estuarine biodiversity. Due to the greatecological importance of the role of the marine algae in this ecosystem, the objective of this study is toextend the knowledge of and the distribution of the marine algae of the mangrove forests in the State ofMaranhão. In the period of November 2001 to February 2003 bentonic marine algae collections werecarried out in the Bay of Turiaçu-MA in four samplings points distributed throughout the Bay. Thematerial was collected manually or with the aid of a metallic spatula and the specimens were stored inplastic bottles with a 4% formalin solution which were then labelled and transported to the laboratory. Atotal of nine taxa marine algae, were identified amongst these: 3 Chlorophyta (33%) and 6 Rhodophyta(67%), pertaining to the families Cladophoraceae, Siphonocladaceae, Rhodomelaceae, Delesseriaceae andRhabdoniaceae. Bostrychia was the most represented genus with 3 species, followed by Rhizocloniumwith 2 species. The floristic composition of the marine algae adhered in trunks, pneumatophores andrhizophores of Rhizophora mangle Linnaeus e Avicennia germinans Jacq. of the mangrove forests of Bayof Turiaçu is similar to other mangrove forests of the Brazilian coast as well as throughout the world.

Key words: Taxonomy, macroalgae, mangrove, Turiaçu bay .

1Bacharel em Ciências Aquáticas; e-mail: [email protected] Titular do Departamento de Oceanografia e Limnologia, UFMA. Av. dos Portugueses, s/n, CampusUniversitário do Bacanga- 65080-540, São Luís - MA. Telefone: 55 + 98 + 2109-8561; e-mail:[email protected]: Companhia Vale do Rio Doce - CVRD.

TAXONOMIA DAS MACROALGAS DOS MANGUEZAIS DA BAÍADE TURIAÇU, ESTADO DO MARANHÃO, BRASIL

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CARIDADE &FERREIA-CORREIA54

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INTRODUÇÃO

O manguezal é um sistema ecológico tropi-cal que apresenta grande representatividade nolitoral brasileiro, com cerca de 10.136.720 Km² deárea aproximada, estendendo-se desde o CaboOrange ao Norte, até o Estado de Santa Catarinaao Sul (Herz, 1991).

São importantes sistemas costeiros tropicaiscaracterizados por uma vegetação arbórea adap-tada a um substrato salino, instável e anóxico(Cintrón & Schaeffer-Novelli, 1992). Constituemum dos tipos mais notáveis de vegetação costei-ra crescendo em ambientes protegidos e sob in-fluência constante da água do mar. Não se res-tringem estritamente à orla marítima, mas podempenetrar vários quilômetros no continente, se-guindo o curso dos rios cujas águas se misturamcom o mar durante as marés cheias (Camargo,1982).

Diversos autores ressaltam a importânciaecológica dos manguezais como sendo ambien-tes de alta produtividade a nível global, contribu-indo decisivamente na fertilidade dosecossistemas costeiros, adjacentes (Schaeffer-Novelli & Cintrón, 1986; Odum, 1988; Panitz, 1986).

As macroalgas de ambiente estuarino têmuma função primordial na manutenção da vida des-te ambiente, pois mantêm protegida entre seusfilamentos uma fauna bastante diversificada, alémdisso, elas servem de alimento para muitos ani-mais herbívoros e como local de reprodução paradiversas espécies de organismos aquáticos, con-tribuindo significativamente para elevar abiodiversidade marinha e estuarina.

Nos manguezais ocorrem importantes asso-ciações de macroalgas aderidas empneumatóforos, rizóforos e troncos das árvoresdos gêneros Avicennia L., Rhizophora L. eLaguncularia Gaertn com alta representatividadedos gêneros de rodofïceas Bostrychia Mont.,Caloglossa (Harv.) G. Martens e Catenella Grev.(Pedroche et al. 1995).

No Estado do Maranhão, a flora marinha dealgas bentônicas vem sendo estudada desde 1931,inicialmente por expedições estrangeiras, cujas in-formações estão contidas no trabalho de Taylor(1931) e posteriormente, pelos ficólogos brasilei-ros, sendo poucos os trabalhos existentes nessaárea, podendo-se destacar os de Ferreira-Correia

& Brandão (1974), Ferreira-Correia et al. (1977) eFerreira-Correia (1983) que fizeram um levantamen-to das algas marinhas bentônicas da Ilha de SãoLuís e do litoral oriental do Estado do Maranhão.

Nogueira (1991) e Nogueira & Ferreira-Cor-reia (2001) realizaram em levantamento das algasde mangue das feições Rhizophoretum no sul daIlha de São Luís/MA, dando ênfase àscianobactérias e macroalgas. Pacheco (1994) fezum levantamento taxonômico das macroalgasbentônicas de manguezais da Ilha de São Luís/MA.

Cutrim (1998) estudou a distribuição espa-ço-temporal de macroalgas em troncos epneumatóforos em áreas de manguezais na Ilhade São Luís/MA. Silva (1998) estudou a distribui-ção vertical das macroalgas aderidas em rizóforosde Rhizophora mangle Linnaeus nos manguezaisde São Luís. Ferreira-Correia (2001) estudou asmacroalgas associadas à vegetação de manguezalna Ilha de São Luís/MA. Coêlho (2001) e Castro(2001), observaram a estrutura e recolonização dasmacroalgas aderidas em pneumatóforos no perío-do chuvoso e de estiagem, respectivamente, am-bos realizados no manguezal de Parna-Açu, SãoLuís. Fontes (2002) estudou a sucessão demacroalgas em substrato artificial no manguezalde Parna-Açu, São Luís/MA.

O presente trabalho tem como objetivo con-tribuir para o conhecimento das macroalgas dosmanguezais do Estado do Maranhão, ampliando oconhecimento florístico e a distribuição deste gru-po no litoral brasileiro.

Caracterização da Área

Os manguezais da costa norte brasileira, nosquais está inserido o Estado do Maranhão, pos-suem como características marcantes a grande am-plitude de marés, altura das árvores de mangues,além do sedimento bastante fino, alta turbidez daágua e grande variação de salinidade (Cutrim etal. 2004).

Incluída na Área de Proteção Ambiental dasReentrâncias Maranhense (APA), a Baía deTuriaçu, apresentando mais de 60% da área demanguezais de todo o Estado. Localiza-se no lito-ral ocidental do Maranhão entre o estado do Paráe a Baía de São Marcos (1°15'- 2°01' S e 45º00' -45°40" W) com uma área de 900 Km2 e com 700 Km

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de extensão, é formada pela desembocadura doRio Turiaçu, que nasce na Serra do Tiracambu.

O Rio Turiaçu, em seu curso médio formauma região lacustre com diversos tipos de lagosque têm como principais utilidades a navegação,pesca e abastecimento de água. A precipitaçãomédia anual é 2.000 mm, com máxima de 475 mm nomês de março e mínimas de 14 mm entre os mesesde setembro e novembro, caracterizando-se porapresentar uma estação chuvosa de janeiro a ju-lho e uma estação de seca de agosto a dezembro(Rebelo-Mochel, 1996).

MATERIAL E MÉTODOS

No período de novembro de 2001 a fevereirode 2003 foram realizadas coletas de macroalgasbentônicas na Baía de Turiaçu. Estabeleceram-sequatro pontos de amostragens distribuídos ao lon-go da Baía, assim localizados: Ponto I-Ilha deJapariquara (01º 37' 56" S e 45º 14' 28" W), PontoII- Ilha de Japariquara (1º 37' 56" S e 45º 14' 27"W), Ponto III-Ilha do Inglês (1° 38' 44" S e 45° 17'04" W) e Ponto IV (1º 38' 47" S e 45º 16' 01" W)(Figura 1).

O material foi coletado manualmente ou como auxílio de uma espátula metálica, permitindo aobtenção de plantas inteiras. Os espécimes foram

acondicionados em frascos plásticos contendosolução de formalina 4% em água do mar,etiquetados e transportados ao laboratório. Oscortes para observação dos aspectos anatômicosforam feitos à mão-livre, com lâmina de barbear, apartir de material fixado em formalina.

Adotou-se os métodos usuais em ficologia,compreendendo:

Herborização: No laboratório, o material co-letado foi limpo com água de torneira e triadassob a lupa, o que possibilitou a separação dasmacroalgas coletadas que posteriormente foramprensadas, secadas, montadas em exsicatas e in-corporadas ao acervo do herbário do Departamen-to de Oceanografia e Limnologia da UniversidadeFederal do Maranhão.

Identificação taxonômica: Na identificaçãodo material coletado foram utilizados trabalhoscomo os de Baptista (1974), Pedrini (1980), Santos(1983), Araújo (1993), Kanagawa (1984) para asclorofíceas; Cordeiro-Marino (1978) e Ferreira-Correia (1983) para as rodofíceas. Foram seguidasa classificação taxonômica e a nomenclatura ado-tada por Wynne (2005).

Documentação: As fotografias foram feitascom auxílio do fotomicroscópio Zeiss, onde foramrepresentados detalhes observados, como as estru-turas internas e externas das macroalgas estudadas.

Figura 1. Baía de Turiaçu, Maranhão, com os respectivos pontos de coleta.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

As principais espécies de macroalgas encontra-das na Baía de Turiaçu estão ilustradas na Figura 2.

As macroalgas foram representadas em 2 divi-

sões: Chlorophyta (3) e Rhodophyta(6), sendo aRhodophyta a melhor representada, com 67% dostáxons identificados, seguida da Chlorophyta 33%(Figura 3).

A ficoflora estuarina dos manguezais da Baía

Figura 2. Principais espécies de macroalgas identificadas nomanguezal da Baía de Turiaçu - MA: A-Rhizoclonium riparium, B-Caloglossa leprieurii, C-Bostrychia calliptera, D-Cladophoropsismembranacea, E-Bostrychia radicans f. moniliformis, F - Caloglossaleprieurii (em reprodução).

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de Turiaçu apresentou a Divisão Rhodophyta comoa mais representativa coincidindo com os estudosde Fontes (2002) que também comenta que ospneumatóforos, rizóforos e troncos de árvores demangue são densamente cobertos por macroalgas,que em sua maioria pertencem à divisão Rhodophyta,predominante tanto em termos de biomassa comode diversidade sendo essa cobertura resultante desuas diferentes estratégias adaptativas em respostaàs variações de inúmeros fatores ambientais, comotambém da ocorrência de interações biológicas.

As macroalgas que compõem a flora domanguezal de Turiaçu apresentaram representantesbem semelhantes às encontradas em outrosmanguezais da costa brasileira verificados em traba-lhos como Ferreira-Correia et al. (1977), Miranda etal. (1988), Paula et al. (1989), Eston et al. (1991),Eston et al. (1992), Fortes (1992), Cutrim (1998) eSilva (1998); e de outras regiões do mundo Phillipset al. (1996), West & Zucarello (1999); Karsten et al.(2000), West et al. (2001); Zucarello et al. (2001) eNedwell et al. (2002).

As árvores de mangue do gênero RhizophoraL., Avicennia L. e Laguncularia Gaertn criam ambi-entes especiais, apropriados ao crescimento de umaflora algal típica (Taylor, 1959). As macroalgas for-mam uma associação onde predominam os gênerosde algas Rhizoclonium, Cladophoropsis,Caloglossa, Catenella e Bostrychia (Oliveira, 1984).

Na divisão Rhodophyta, as espécies comoCatenella caespitosa (Withering) L. Irvine eBostrychia calliptera (Mont.) Mont. destacaram-se por estarem presentes na maioria das estações da

Baía de Turiaçu. Bostrychia foi o gênero mais repre-sentativo, com 3 espécies e 1 forma. Na divisãoClorophyta a espécie Rhizoclonium riparium (Roth)Kütz. ex Harv. foi a de ocorrência mais freqüente naárea estudada (Tabela 1).

A composição florística identificada nos pon-tos de coleta apresentou predomínio dos gênerosBostrychia, Catenella e Caloglossa, o mesmo foiobservado por Cutrim et al. (2004). Hadlich (1984)comenta que o gênero Rhizoclonium vive associadoa outras algas, principalmente as do gêneroBostrychia. King (1990) menciona a associação demacroalgas "Bostrychia-Caloglossa" no manguezalda Nova Guiné, que também foi muito observadanas coletas da Baía de Turiaçu.

Oliveira (1984) comenta que o manguezal aolongo da costa brasileira se constitui em um ambien-te desfavorável para muitas espécies de algas e queos fatores que contribuem para essa baixa diversi-dade são: a baixa concentração de oxigênio, a varia-ção da salinidade e a instabilidade do solo lamoso, oqual é inadequado para fixação da maioria das algas,sendo também responsável pela turbidez da água.O autor afirma ainda que apesar dos troncos, raízese pneumatóforos dos manguezais brasileiros apre-sentarem uma cobertura densa de algas, o mesmoexibe uma flora relativamente pobre e monótona dealgas, sempre dominadas por três a cinco espécies,associadas a outras poucas espécies menos eviden-tes.

Nestes ambientes dominam espécies represen-tantes de uma comunidade algal denominada"Bostrychietum", encontrada sobre os troncos,

Figura 3. Percentual das divisões de macroalgas na Baía de Turiaçu - MA.

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raízes e pneumatóforos. Dentre os representantesalgais mais freqüentes pode-se destacar Bostrychiaspp., Caloglossa leuprieurii (Mont.) G. Martens,Catenella caespitosa (Wither.) L. M. Irvine in Parke& Dixon e Rhizoclonium spp.

As observações realizadas em manguezais donordeste brasileiro relatam uma diversidade mais ele-vada de espécies (Miranda, 1986; Pinheiro-Joventino& Lima-Verde, 1988). A diversidade elevada demacroalgas nesses manguezais está relacionada aosubstrato mais consistente, à elevada transparênciada água e a salinidade estável, como observado emmanguezais caraíbicos (Cordeiro-Marino et al. 1992).

O período de estiagem apresentou o maiornúmero de táxons, sendo a estação IV aquela queobteve o maior número de espécies (6), seguidosdas estações I e III como pode ser observado naTabela 1. Já no período chuvoso o número de táxonsfoi constante.

As espécies Rhizoclonium riparium eBostrychia calliptera estiveram presentes durantetodo o ano e em todos os locais estudados.

Observou-se um crescimento exuberante dasmacroalgas no manguezal da Baía de Turiaçu, pro-vavelmente em decorrência da ausência de indústri-as poluidoras na região e de outras atividades de

maiores impactos.Recomenda-se a realização de estudos com-

parativos da ficoflora com parâmetros ambientais naBaía de Turiaçu com a finalidade de se obter umamaior compreensão da distribuição das macroalgasnesta área, já que a mesma está incluída em uma áreade proteção ambiental e apresenta elevado índice depluviosidade e aporte de águas fluviais. Evidencia-se ainda a necessidade de trabalhos que enfoquema contribuição das macroalgas associadas a tron-cos, raízes e pneumatóforos para a produção primá-ria nos manguezais.

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Tabela 1. Ocorrência de macroalgas nas estações de coleta na Baíade Turiaçu - MA.

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Recebido em 21 de agosto de 2007.Aprovado em 9 de outubro de 2007.

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Adriana Alves Santos Andrade1

Antonio Carlos Leal de Castro2

ABSTRACT

The accelered demographic growth has been causing alterations of the natural landscape and an inadequateexploration of the natural resources. Of those processes, are important conserving parts of environments,to protect the biological diversity and improve the quality of life of the present and future generations.The guidelines for the management of protected area and the appropriate use of your natural resourcesshould be present in the management plan. The goals of this work were evaluate the Management Plan ofthe Bacanga State Park elaborated in 1992 and your updating document elaborated in 2002. TheManagement Plan was well elaborated and it presented good programs for be accomplished in the Park,however the non implement of the programs provoked serious consequences for the protected area, asillegal invasion, deforestation, burned, among other problems. Differently of the Management Plan, theupdating document failed in several points of your goals and development. It's suggested to change thecategory of the Bacanga State Park, of the group of Integral Protection for a category of the group ofSustentainable Use.

Palavras-chave: management plan, protected area, park, Bacanga.

RESUMO

O crescimento demográfico acelerado tem causado alterações da paisagem natural e a exploração inade-quada dos recursos naturais. Para reduzir este processo a conservação do ambiente é importante paraproteger a diversidade biológica e melhorart a qualidade de vida das gerações presentes e futuras. Asdiretrizes para o manejo de áreas protegidas e o uso apropriado de seus recursos devem estar presentesno Plano de Manejo de uma unidade de conservação. O objetivo deste trabalho foi avaliar o Plano deManejo do Parque Estadual do Bacanga elaborado em 1992 e seu documento atualizado elaborado em2002. O Plano de Manejo foi bem elaborado e apresentou bons programas para ser acompanhado noParque, contudo a não implementação dos programas provocou sérias consequências para a área protegi-da, como invasão ilegal, desmatamento, queimadas, entre outros problemas. Diferentemente do Plano deManejo, o documento atualizado falhou em vários pontos de seus objetivos e desenvolvimento. Sugere-se, a partir das informações obtidas, a mudança da categoria do Parque Estadual do Bacanga do grupo deProteçõa Integral para a categoria do grupo de Uso Sustentável.

Palavras-chave: plano de manejo, área protegida, parque, Bacanga.

1Mestrado de Sustentabilidade em Ecossistemas - UFMA

EVALUATION OF THE MANAGEMENT PLAN OF THE BACANGA STATEPARK, ISLAND OF MARANHÃO, NORTHEAST BRAZIL

Conservation Units (UC) constitutes oneof the best strategies of protection of thebiodiversity, since they are organized in astructure that allows to conserve and managethese natural areas, keeping the maintenance ofthe ecological processes, of the cultural heritageand of the samples of the Brazilian ecosystemsthat represent (MMA,2000).

The World Commission on Protected Areas(WCPA), defined a protected area an area of landand/or sea especially dedicated to the protectionand maintenance of biological diversity, and of

natural and associated cultural resources, andmanaged through legal or other effective means,classified them in six associated managementcategories (Anon, 1994). The Bacanga State Parkis framed in Category II: : protected area managedmainly for ecosystem protection and recreation -natural area of land and/or sea designated to (a)protect the ecological integrity of one or moreecosystems for present and future generations,(b) exclude exploitation or occupation inimical tothe purposes of designation of the area and (c)provide a foundation for spiritual, scientific,

INTRODUÇÃO

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educational, recreational and visitor opportunities,all of which must be environmentally and culturallycompatible.

The Brazilian strategy to select newprotected areas includes two key considerations:a focus on areas of high biological importanceand the prioritization of areas under stronganthropogenic pressure (Silva, 2005).

The Maranhão State, located in theNortheast Brazil region, it occupies an area of328.663 Km2 and it presents important ecosystemsas the humid tropical forest (amazon type), thesavannah, the mangroves forest, the estuaries, thelacustrine basins and the flood plain. Currently,the Maranhão State possesses in your territory16 Protected Area (PA), among the ones which 05are federal units, subordinated to BrazilianInstitute for the Environment and NaturalRenewable Resources - IBAMA and 11 are linkedto the Secretariat of Environment of Maranhão StatGovernment.(SEMA)

Of the units under responsibility of the State,

04 are at the Island of Maranhão, precisely in themunicipal district of São Luís, among them is theBacanga State Park (Figure 1).

Units Conservation (UC) located in São LuísIsland, are suffering alterations of yourcharacteristics physical-chemistries andbiological, provoked, mainly, for the disordereddemographic growth of São Luís, demonstratingthat, as mentioned by Morsello (2001), the simpleselection and delimitation of conservation unitsdoesn't contain the solution of the conservationproblem. In that way it is necessary theelaboration and the implantation of ManagementPlan for the maintenance of the environmentalcharacteristics of the unit.

This paper intends to analyze theManagement Plan of the Bacanga State Parkelaborated in 1992, as well as its updatingdocument finished in 2002, to adapt the currentcharacteristics of the State Park of Bacanga to thecurrent legislation, proposing the alteration ofcategory of that Conservation Unit.

Figure 1. Zonine Map of the state Park of Bacanga. ManagementPlan, 1992.

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EVALUATION OF THE MANAGEMENT PLAN OF THE BACANGA STATE PARK 63

MATERIAL AND METHODS

The Bacanga State Park is located at the areacenter-west of the Island of Maranhão and it leavesof the central zone of the municipal district of SãoLuís. It was created by the State Decree no. 7,545 ofMarch 02, 1980, with an area of 3,065 ha,corresponding to the remaining part of the oldProtecting Forest of the Streams of the Island of SãoLuís (created by the Federal Decree no. 6,833 ofAugust 26, 1944).

The used methodology involvedbibliographical analyses of all the available informationon the Bacanga State Park, the maps contained in theManagement Plan of the Bacanga State Park(SEMATUR, 1992) and of the map contained in thedocument of updating of the Management Plan(ELETRONORTE, 2002).

Aerial photography (CAEMA,1988), scale 1:10.000Map of Vegetable Covering of the Management

Plan (ELETRONORTE,1991), scale 1:20.000Map of the Current Limits and Zoning of the

Updating of the Management Plan(ELETRONORTE,2002), scale 1:20.000

Visits were accomplished for the recognition ofthe area and the principal aspects impacting, that arehappening in the area of the Park.

For the analysis of the Management Plan of theBacanga State Park, the Methodological Route was usedfor the Planning of Units of Conservation of IntegralProtection (IBAMA, 1996) and the Methodological Routeof Planning (IBAMA, 2002), that they establish theguidelines for elaboration, revision and also updating ofa Management Plan. It was used the norms still containedin the decree no. 84.017 / 79 (PARANÁ, 1990), thatapproves the Regulation of the National Parks.

The analised aspects in the Management Plan ofthe Bacanga State Park of 1992 and in your document ofupdating of 2002 were:

• assurances of the effective implementation of theestablished objectives in the decree of creation of thePark;

• definition of the specific objectives of managementthat should guide the administration of UC;

• elaboration of diagnosis of UC to guide themanagement;

• accomplishment of the zoning of UC, based on theintensity of use of the natural and cultural resources;

• fitting of UC in the State scenery, outstanding therelevance of your creation;

• representativiness of UC for the SNUC front to theprotected natural attributes;

• promotion of the socioeconomic integration ofresident communities UC;

• establishment of specific actions for to compatibilythe presence of the resident populations with theobjectives of UC to your compensation or realocation;

• establishment of specific norms with relationshipto the use of the soil and resources in the zone ofreduction;

• accomplishment of socio-environmental diagnosisof the neighbourhood area and environmental andinstitutional characterization of UC;

• proposition of programs for UC and neighbourhoodarea aiming at to minimize and or to revert conflictsituations and to optimize favorable situations to UC.

RESULTS AND DISCUSSION

In 1984, the Decree 9,550 established new limitsfor the Park, removing the areas considered as irreversiblefor the recovery. To the excluded areas, new destinationswere given through the Decree no. 9,677/84, no. 10,084/86 and no. 12,448/92. The first and second Decreedestined 13,19 ha and 6,50 ha for the establishment of273 and 416 destitutes families, respectively. The thirdDecree provided 1,80 ha for the implantation of the projectMy People.

On December 24, 2001 the Law no. 7,712 waspublished, that in your art. 1st exclude of the limits of theUC the district Pindorama Park, Timbira Park, NobresPark, Bom Jesus, Primavera Vila dos Frades andCoroadinho, area that comprise the geographicalcoordinates of 2º34 S and 44º14' W, in your totality,inside of which is installed the Andrade Gutierresenterprise, the Association of the Servers of theCompany of Waters and Sewer of Maranhão (CAEMA),Plant of Asphalt of the City Hall of São Luís, Vila Itamar,Vila Esperança and portion of the Vila Sarney. (Tabela 1).

It's registred in the unique paragraph of that decreethat the expansion of the busy and excluded areas won'tbe allowed, by the construction of homes or otheroccupation form, that come, to reach the area of the Park.

According to the document of updating of theManagement Plan of the Bacanga State Park, the currentarea of the Park is of 2,634.06 ha, corresponding,approximately to 86% of the original area. Theadministration of the Bacanga State Park is ofresponsibility of the SEMA and of CAEMA, for havingconcession to explore the water used in the provisioningof some neighborhoods districts of the capital.

The Bacanga State Park it is a category of UC ofthe group of Integral Protection. That category maintainsthe same objectives of the current National Parks inSNUC (2000), comprises the preservation of natural

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ecosystems of great ecological relevance and scenicbeauty, making possible the accomplishment of scientificresearches and the development of education activitiesand environmental interpretation, in the recreation incontact with the nature and of ecological tourism.

However, the Management Plan of this UC,elaborated in 1992 was not implemented, what mighthave contributed to enhance the current problemsin the area, as invasions, deforestation, mudextraction, sands, stone, hunts and, consequentlythe loss of existent biological diversity (Rocha, 2003,Fonseca, 2003, Ribeiro, 2003).

That Management Plan it was revised for thefirst time in the 1st semester of 2002. The responsibleentity for your updating was ELETRONORTE, dueto need of environmental compensation for theinstallation of the transmission line of the Municipal

district of President Dutra to the Municipal districtof Peritoró. Besides arching with the expenses ofthe document of updating it should also implementsome of the programs proposed in the sameManagement Plan. The programs will be chosen forthe SEMA in agreement with the priorities of UC.

The Management Plan of the Bacanga StatePark assists in your largest part to the guidelinesestablished for IBAMA (1996, 2002). Initially theManagement Plan demonstrated the interestgovernment's in conserving an UC and it mentionedas one of the reflexes of this action, the improvementin the environmental quality of the Municipal districtof São Luís -MA. It described the location of UC,made a synthesis of your creation report and of thelimits, mentioning the national objectives of an UC,presented by IBDF (1982). In agreement with theguidelines of IBAMA (1996, 2002), it should havebeen outstanding for the Management Plan of theState Park of Bacanga, the representativiness of UCin relation to the biomas of the area and your framingin the State scenery, in way to detach the relevanceof your creation. These information have beensupply by the Document of Updating of theManagement Plan of 2002.

For the accomplishment of the zoning of UC,in other words, the differentiation of your area inagreement with the intensity of use of the naturaland cultural resources, is necessary the knowledgeof the biotic characteristics and abióticas, for somuch the environmental diagnosis of the unit, surveyof the physical characteristics was accomplished(hidrologia, geology, geomorphology, etc.),biological (knowledge of the flora and local fauna)and the socioeconomic characteristics of the areasurroundings and of the resident population in somepoints of the interior of the Bacanga State Park.

Of ownership of those knowledge, theManagement Plan of 1992, divided the area of thePark in 6 zones: Primitive 1-zone; 2 - recovery zone;3 - zone of extensive use; 4 - zone of intensive use; 5- historical-cultural zone and 6 - zone of special use.(Illustration 1)

The Primitive zone is defined as that wherethere was low human intervention, containing onlyecosystems, fauna species and flora, or natural

Table 1. Resident populations in neighboringof Bacanga State Park.

*Settlements inside the State Park of BacangaFonte: Fundação Nacional de Saúde -Cartography Division (January - December,2001).

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EVALUATION OF THE MANAGEMENT PLAN OF THE BACANGA STATE PARK 65

phenomena of great scientific value, that can toleratethe public's restricted use. The zone of Recovery isthat that contains areas considerably altered by theman and with intense degradation signs, where sheintend to reach the re-establishment of the naturalresources. The zone of Extensive Use is characterizedas a transition zone between the Primitive zone andthe one of Intensive Use, that is the zone constitutedby natural areas or altered by the man.

The Historical-cultural zone is that where theyare found sitio historical, cultural or archaeologicale/ou signs, in several levels, of a previous occupation.The zone of Special Use is already the one that itcontains necessary areas to the administration,maintenance and services of the Park, encompassingrelative infrastructure to the administration,maintenance, protection, circulation and other usesand services.

The established objectives for each one of thezones corroborate with those presents in the art. 7thof the Decree Federal no. 84017/79. The paragraphVII, of the art. 7th of the Decree no. 84017/79, itestablishes that the zone of special use should belocated, whenever possible, in the periphery of thePark. Thus, constructions were foreseen in strategicpoints, in the boundaries of the Park, the necessaryinstalations to the administration, and protection ofthe Park.

However, in the zone of special use wereincluded, not only the destined areas the installationof necessary infrastructure to the administration ofthe Park, to the maintenance, to the protection, tothe circulation and other services; as well as thestation of treatment of water of CAEMA, theelevatória of the Dam of the Batatã, the station ofthe System Silver River, Escola Agrotécnica's areaand the line of transmission of ELETRONORTE.

Those enterprises, in spite of they be of publicusefulness, they could not be included in the area ofthe Bacanga State Park. The Decree no. 84.017/79that regulates the National Park, in your art. 9th, itmentions that they are not allowed, inside of theareas of the Parks, any dam, hydroelectric, of controlof flood, of rectification of beds, of alterations ofmargins and other activities that can alter yourconditions natural hídricas. And the art. 24th, of the

same Decree, it mentions that it is prohibited theexecution of works that seek the construction ofcable cars, railway, highways, barrages, aqueducts,oilpipe, transmission lines or other, that are not ofinterest of the Park.

For each one of the zones were establishedthe general and specific objectives, description ofyour location and the norms of use of those zones,in way to improve the state of conservation of thoseareas along the time, making possible the re-establishment of the vegetation and the return ofthe fauna to the areas more impactadas for actionsantrópicas (recovery zones, of extensive use and Iuse intensive).

The document of updating of the ManagementPlan of 2002 maintained the previous zoning (Fig. 2).Compared the two zoning maps, of the ManagementPlan of 1992 and of your document of updating of2002, it is ended that the limits of the zones wereredefined. The limits of the recovery zone movedforward on the limits of the primitive zone and, thelimits of the zone of extensive use moved forward onthe one of the recovery zone, being the Dam of theBatatã (before in the recovery zone), inside of thezone of extensive use for the zoning of 2002. Theupdating document doesn't mention the criteria andit doesn't also describe the new limits of the zones.

The document of updating of the Plan wouldmust of to compare the zoning from 2002 to the of1992, to justify the alterations happened and toelaborate a report of the evolution of the zoning(IBAMA, 2002). In addition to present the definitionof the zones, general and specific objectives, normsof use of the zones and description of your limits.

The Management Plan of the Bacanga StatePark (SEMATUR, 1992) it presented three handlingprograms: 1 - program of environmental control,divided in 3 sub-programs (investigation sub-programs, monitoring and of recovery), 2 - programof public use consisting of 4 sub-programs(education sub-program, of recreation, of publicrelationships and of community development) and 3- program of operations, divided in administrationsub-program, of maintenance and protection.

For the execution of the programs proposed inthe Mangement Plan of 1992, the area of the park it

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was divided in 15 areas, called areas of integrateddevelopment. The activities proposed for thoseareas they would go from interpretation and walksalong trails to research activities. The objective ofthe proposed activities would be to sensitize thevisitors, through explanations on the functions anduses of the environment, waking up them about thepreservation need and conservation of the natureand allowing to understand them the importance ofthe maintenance of the existent relationshipsbetween man and environment.

Among the activities proposed in therecreation sub-program it is the construction of fieldsfor soccer games and volleyball Those activities arenot appropriate to waking up the visitors' perceptionfor the environmental subjects. The MethodologicalRoute for the Planning of Units of Conservation ofIntegral Protection of IBAMA (2002), it proposesthat the interpretation activities and recreation, inthe zone of extensive use, they should facilitate theunderstanding and the appreciation of the naturalresources for the visitor and, in the zone of intensiveuse, the activities should take the visitor tounderstand the philosophy and the practices ofconservation of the nature. In that way, if thoseprecepts are not followed the integrationrelationships and interaction between the visitorsand the Park will be hindered.

In the sub-program of community developmentthey were organized specific actions forcompatibilizar the presence of the residentpopulation with the objectives of the Park, until yourretreat of the Unit. Some of the objectives of thatsub-program were: - to substitute the existentagricultural activity, for another that was moreappropriate to the reality of the Park; - to formulateand to execute the development of maintainablealternatives and to implement the residentcommunity's participation in the area in this activity.

Considering the report of illegal occupation ofUC, the Managment Plan of 1992 and your documentof updating of 2002, should have proposed a specificprogram to promote the integration of UC with thepopulations of surrounding area, aiming at tominimize and or to revert the situations of existentconflict.

To supply the interaction lack with thecommunity, the responsible consultants for thedocument of Updating of the Management Plan,credenciados in IBAMA, should have employee themethodology of planning participativo, proposed byIBAMA during the revision of the Management Planof 1992.

Of the programs proposed by the ManagementPlan of 1992, they were just initiate: the opening of atrail of 1800m of extension in the primitive zone thatleft from a close point to the station of CAEMA tospring Mãe Isabel's channel; and amplification ofthe barracks of the Forest battalion, in the zone ofintensive use. In 1997, it was organized in the area ofthe Battalion, a center of production of seedlings.

The programs and sub-programs should beimplemented in a period of 5 years. However, of theforeseen actions and initiate, the Forest Battalionjust continues in the Unit, being responsible for thefiscalization of the area, in the attempt of avoidingthe extraction of stones, sands and wood. TheBattalion counts with a contigente of eight soldiersevery 24 hours.

The updating of the Management Plan of theBacanga State Park realized in the first semester of2002 it should present an evaluation of thecharacteristics of the area of the unit, withrelationship to the state of conservation of the forest,the fragmentation degree, the recovery of the areasdegraded the last years and other biotic and abioticcharacteristics, to compare with the results of thediagnosis accomplished previously that subsidizedthe elaboration of the Management Plan of 1992.

However this document was limited to presenta zoning map with the new limits of the BacangaState Park, some informal survey about the illegaloccupation, agricultural use of the soil, ore extractionand few considerations on the programs ofenvironmental control, of public use and ofoperations.

The document of updating of 2002, besideslifting the problems that happen in the unit, asdeforestation, burned and presence of enterprises,contrary to the objectives of the park; once wouldowe, mainly, to identify the negative consequencesof those problems on the park, updating the socio-

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economic data of the population and thecommunity's perception on UC and to evaluate thealternatives of sustainable development for thepopulation of the I adjecent area.

It is also of responsibility of the revisiondocument, after the evaluation of the currentconditions of the unit, to identify and to justify, whennecessary, change in the category of managementof UC.

CONCLUSION

The intentions of creation of the Bacanga StatePark and elaboration of the Management Plan of 1992were good. However, if specific and effective actionsfor the recovery and conservation of that UC, be nottaken soon, the area of the Bacanga State Park willbe considered unrecoverable, in the same way thatthe areas of Coroadinho, Vila Itamar, Vila Conceição,Vila Esperança, among so many another that werepart of the area of the Park and that were excluded.

Considering that to effective the area of theBacanga State Park, as an unit of conservation, ofthe group of Integral Protection, foreseen in the Lawn° 9,985/2000, it will be necessary, among otherdecisions, the conscienting of the population on theimportance of that area as an unit of conservation;to remove the whole resident population inside ofUC, compensating her; what demands readiness offinancial and local resource appropriate for therealocation of that population.

On the other hand, to reduce the conflictsamong the involved segments (government andpopulation) on the use of UC, it is suggested to alterthe category of the Bacanga State Park, of the groupof Integral Protection for a category of the group ofSustentainable Use. In that group, the Park could beframed in the category of APA - Area ofEnvironmental Protection.

That category doesn't need a buffer zone (thatno longer it exists in the State Park of Bacanga) andit allows the residents' presence in the area, nothaving the need to compensate the resident familiesin the Park, being able to the compensation resourceto be channeled for studies that assure recoveryand conservation of the area and make possible the

maintainable use of the natural resources, besidesmaintaining this unit as research laboratory forstudents and teachers of the courses of biologicalsciences and geography, that already accomplishedseveral works in that unit of conservation.

The resident population should be registered,to avoid the installation of new families and shouldbe become aware on the objectives of that type ofUC. For the best administration of the unit, ancommittee manager should be formed, in which,necessarily, the resident population should be part,in way to integrate it to the objectives of UC.

Mannigel et al. (2002) discuss about theparticipation of the population in the administrationof UCs and they conclude that that practiceconstitutes incentive for the local populations theyexercise your citizenship, to improve theunderstanding on what represents an UC and therelationship of these with the technicians of UC.

A new zoning of the area should beaccomplished to establish the use norms andoccupation of the soil, for the establishment ofcompatible activities with the objectives of the unitand development of activities that can come back inbenefits for the community.

We thank to Claudio Urbano B. Pinheiro forcomments and suggestions on the manuscript.

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Recebido em 20 de julho de 2007.Aprovado em 15 de novembro de 2007.

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Nivaldo M. Piorski 1

Elãine C. S. DouradoJorge L. S. Nunes2

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi descrever padrões ecológicos relacionados com aspectos morfológicos deBalistes vetula, Ocyurus chrysurus e Haemulon plumieri, espécies que representam cerca de 10% daabundância da comunidade de peixes do Parque Estadual Marinho Parcel de Manuel Luiz. Dez indivíduosde cada espécie foram utilizados no estudo e, sobre cada um, 12 medidas morfométricas foram obtidaspara o cálculo de nove atributos morfológicos. Uma matriz combinada de atributos e espécies foi subme-tida a uma ACP para identificar os padrões ecomorfológicos. Os resultados mostraram diferenças entre asespécies relacionados com o uso de microhabitat. B. vetula tem maior capacidade para realizar girosverticais e possui há bito associado com o fundo. H. plumieri e O. chrysurus, por sua vez, estão associ-ados com o fundo e possuem fenótipo adaptado para natação rápida. Estas duas espécies podem serdiferenciadas pelo tamanho da presa ingerida, que é maior em H. plumieri.

Palavras-chave: Ecomorfologia, Peixes Recifais, Nordeste do Brasil, Parcel de Manuel Luiz.

ABSTRACT

Ecomorphological analysis of three species of fishes from Parcel de Manuel Luiz MarineState Park, Brazilian northeast

The goal of this paper was to describe ecological patterns related to morphological characteristics ofBalistes vetula, Ocyurus chrysurus and Haemulon plumieri, which represent 10% of the total abundanceof the Marine State Park of Parcel Manuel Luiz fish community. Ten individuals of each species wereused for an ecomorphological analysis. On each exemplar, 12 morphometric measures were obtained inorder to compute nine morphological attributes. A matrix with attributes and species was submited to aPrincipal Components Analysis (PCA) aiming to identify ecomorphological patterns. The results showeddifferences among species, related to the microhabitat uses. B. vetula has the highest capacity to dovertical turns and has a benthic habit. H. plumieri and O. chrysurus are associated with the bottom andbear phenotype adaptated to high swim velocities. These two species are yet diferenciated by the size ofthe prey ingested, which is larger in H. plumieri.

Key words: Ecomorphology, Reef fishes, Northeastern Brazil, Parcel de Manuel Luiz.

1Departamento de Oceanografia e Limnologia, Universidade Federal do Maranhão. Av. dos Portugueses s/n, CampusUniversitário do Bacanga, São Luís-MA-Brasil. CEP 65080-040. [email protected];2Departamento de Biologia, Universidade Federal do Maranhão, Campus de Chapadinha. [email protected]

ANÁLISE ECOMORFOLÓGICA DE TRÊS ESPÉCIES DE PEIXES DOPARQUE ESTADUAL MARINHO DO PARCEL DE MANUEL LUIZ,

NORDESTE DO BRASIL

A ecomorfologia fundamenta-se na idéia deque as diferenças morfológicas existentes entre asespécies podem estar associadas à ação de diferen-tes pressões ambientais e biológicas por elas sofri-das (Gatz, 1979; Keast, 1985; Labropoulou &

INTRODUÇÃO

Eleftheriou, 1997; Piorski et al., 2005). Tais diferen-ças podem ser estudadas através do emprego deíndices morfo-biométricos denominados atributosecomorfológicos, que são padrões que expressamcaracterísticas do indivíduo em relação ao seu meio

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e podem ser interpretados como indicadores de há-bitos de vida ou de adaptações das espécies à ocu-pação de diferentes habitats (Jerry & Cairns, 1998;Ferrito et al., 2007)

A distribuição de peixes recifais é bem docu-mentada em pequenas escalas biogeográficas, ondeos padrões são atribuídos a várias características físi-cas do ambiente (Bellwood & Wainwright, 2001). En-tretanto, como o ambiente recifal corresponde a umaampla estrutura tridimensional, este oferece enormevariedade de nichos ecológicos disponíveis para umainfinidade de organismos (Vilaça, 2002). Emecossistemas complexos como estes, o tamanho e aforma de um organismo fornecem informações sobrealimentação, uso de microhábitat, pressão seletiva ecompetição, uma vez que estas características sãoresultados de um longo processo de evolução orgâ-nica (Peres-Neto, 1995; Mittelbach et al., 1999).

No Brasil os estudos de ecomorfologia são re-centes, iniciados na década de 90 e aplicados princi-palmente às comunidades de peixes de água doce(Beaumord & Petrere, 1994; Smith, 1999; Piorski et al.,2005). Entretanto, a aplicação da ecomorfologia aospeixes marinhos e estuarinos é incipiente, podendoser citados os estudos realizados por Mendes (2000)com gobióides e blenóides de Fernando de Noronha- PE, Gomes et al. (2003) que trabalharam com umacomunidade de peixes estuarinos do rio Anil - MA,Lemos (2006) que estudou peixes marinhos no RioGrande do Norte e Gibran (2007) que analisou quatroespécies simpátricas da família Serranidae.

O Parque Estadual Marinho do Parcel de Ma-nuel Luiz é um complexo recifal localizado ao norte dolitoral do Brasil (Projeto REMAC,1979; Rocha & Rosa,2001), onde já foi registrado um total de 132 espéciesde peixes. Balistes vetula, Ocyurus chrysurus eHaemulon plumieri são três das principais espéciesque ocorrem neste ambiente (Rocha & Rosa, 2001).

Ocyurus chrysurus (Bloch, 1791), comumenteconhecido como guaiúba, pertence à famíliaLutjanidade. É uma espécie pelágica ou demersal deáreas costeiras, encontrada com freqüência em águasoceânicas. Possuem 10 espinhos fracos na nadadeiradorsal e 12 a 13 raios pequenos; nadadeira caudalacentuadamente furcada formando lobos afilados.Diferencia-se de outros lutjanídeos pela presença deuma faixa amarela na porção média lateral do corpoiniciada na narina, estendendo-se por todo o corpo

até alargar-se no pedúnculo caudal; a cauda é inteira-mente amarela (Fisher, 1978; Cervigón et al., 1993).

Haemulon plumieri (Lacépède, 1802), conhe-cido por biquara, pertence à família Haemulidae. Estaespécie é comum tanto em águas costeiras quantoáguas oceânicas, ocorrendo associado a fundo semi-duro a duro, tais como fundos rochosos e coralinosem profundidades próximas de 40m, podendo aindaser encontrados em profundidades menores (Fisher,1978; Cervigón et al., 1993). Adultos de H. plumieriapresentam como características distintivas, nadadeiradorsal com 12 espinhos e 15 a 17 raios moles; 8 a 9raios na nadadeira anal; 48 a 51 poros na linha lateral;padrão de colorido de claro a prateado, com linhasazul escuro margeadas por amarelo-bronze na cabeçae na porção anterior do corpo; são diferenciados deoutras espécies co-genéricas por suas escamas lar-gas acima da linha lateral (Fisher, 1978; Cervigón etal., 1993).

Balistes vetula Linnaeus, 1758, vulgarmentechamado de cangulo e membro da família Balistidae,é uma espécie comum nas águas do nordeste doBrasil. Geralmente são encontradas em áreas de fun-do rochoso e coralino até aproximadamente 100mde profundidade, ocorrendo normalmente em pro-fundidades menores. Balistes vetula é caracteriza-da pela presença de três espinhos visíveis na na-dadeira dorsal; evidentes manchas azuis radiaiscercando os olhos e duas faixas azuis na face, par-tindo da boca até a base da nadadeira peitoral(Fisher, 1978; Cervigón et al., 1993). SegundoMenezes (1979), o cangulo participa com granderelevância na produção da pesca artesanal, sendoum subproduto da pesca industrial de lagostas epargo.

O objetivo deste estudo foi descrever os atri-butos morfológicos relacionados com as diferen-ças ecológicas entre as espécies B. vetula, O.chrysurus e H. plumieri do Parcel de Manuel Luiz.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O complexo recifal Parque Estadual Marinho doParcel de Manuel Luiz (Lat. 0°46'12''S e Long.43°58'28''W), está localizado na plataforma continentaldo estado do Maranhão, distando 86,3 Km da linha de

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costa e 51,4 Km da borda da plataforma continental(Figura 1). Sua formação é composta por rochas de forma-tos irregulares, compreendendo uma área de 40 Km2, cober-tas por várias algas calcárias, esponjas, corais duros e ascídias.Sua profundidade varia entre 10 e 30m e durante a baixamartopos das pilastras podem ficar descobertos até 0,6m. Aságuas do Parcel são muito claras durante todo o ano e aCorrente Norte do Brasil atua intensamente com velocidadesde até 2,5 nós (PROJETO REMAC, 1979; Rocha & Rosa,2001).

Amostragem

Os peixes foram capturados em outubro de 1997,utilizando-se linha de pesca com três a cinco anzóis e iscasde sardinha. Para o estudo foi utilizada uma amostra com-posta por 10 exemplares de cada uma das espécies B. vetula,O. chrysurus e H. plumieri, nos quais foram realizadas 12medidas morfométricas lineares (Tabela 1). A partir destasmedidas, foram calculados nove atributos morfológicos(Tabela 2), segundo Gatz (1979) e Mahon (1984).

Figura 1. Desenho esquemático da área do Parcel de Manuel Luiz, mostrando aslocalizações das formações coralíneas e as profundidades registradas para a região.

Tabela 1. Medidas morfométricas utilizadas para obtenção dos atributos ecomorfológicos em indivíduosde B. vetula, O. chrysurus e H. plumieri do Parcel de Manuel Luiz..

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Em seguida, a matriz combinada de atributosmorfológicos e espécies foi submetida a uma Análi-se de Componentes Principais (ACP), a fim de des-crever os padrões ecomorfológicos. A análise foirealizada utilizando a rotina Factor Analysis do pa-cote STATISTICA (STATSOFT, 2001). Para obser-vação e identificação dos fatores que melhor expli-cam as diferenças entre os grupos analisados se-guiu-se a recomendação de Watson & Balon (1984),procedendo-se uma rotação ortogonal através daopção VARIMAX. Para evitar superfatorização, ape-nas os fatores com autovalores maiores que 1,0 fo-ram considerados significantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dois primeiros eixos produzidos pela

ACP acumularam 71,24% da variância explicada.O primeiro eixo explicou 43,20% da variação ediscriminou B. vetula de H. plumieri e O.chrysurus (Figura 2). Este eixo indicou que em B.vetula a altura relativa do corpo (ARC) e a posi-ção relativa dos olhos (PRO) são maiores. Poroutro lado, em H. plumieri e O. chrysurus, osmaiores valores foram encontrados para o com-primento relativo do pedúnculo caudal (CRPC) ea configuração da nadadeira peitoral (CNP) (Ta-bela 3).

O segundo componente principal explicou28,04% da variação entre as amostras, discrimi-nando H. plumieri e O. chrysurus (Figura 2), comrelação ao comprimento relativo da cabeça (CRC)e da largura relativa da boca (LRB), maiores emH. plumieri (Tabela 3).

Tabela 2. Atr ibutos morfológicos ut i l izados para determinação dos padrõesecomorfológicos das espécies B. vetula, O. chrysurus e H. plumieri do Parcel de ManuelLuiz.

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Os resultados obtidos com a ACP sugeremdiferenças quanto ao uso de microhabitat entre B.vetula, H. plumieri e O chrysurus. No espaçomorfométrico produzido pela ACP, B. vetula des-taca-se das outras espécies pela maior capacida-de de realizar giros verticais, tal como evidencia-do pelos valores maiores para a variável ARC. A

posição elevada dos olhos, combinada com o cor-po alto, permite que B. vetula tenha um comporta-mento bentônico, adaptando-o para a coleta dealimento sobre o fundo.

As características anatômicas do aparelhobucal desta espécie confirmam as informaçõesfornecidas pela ACP. Em B. vetula o aparelho bu-

Figura 2. Distribuição dos escores individuais das espécies estudadasno espaço ecomorfológico produzido pelos dois primeiroscomponentes principais.

Tabela 3. Cargas dos atributos morfológicos sobre os doisprimeiros componentes principais, com indicação dasvariáveis mais importantes (*) e que explicam adistribuição dos indivíduos de B. vetula, O. chrysurus eH. plumieri no espaço morfométrico. (Veja texto paradefinição das siglas).

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cal é composto por oito dentes incisivos superio-res e oito dentes incisivos inferiores em formatode cunha, permitindo capturar alimentosbentônicos (Fisher, 1978; Cervigón et al., 1993);além destes, podem ser observadas duas sériesde dentes faringeanos inferiores (Menezes, 1979).A dieta entre jovens e adultos de B. vetula é dife-rente; enquanto os jovens se alimentam preferen-cialmente de invertebrados bentônicos, nos adul-tos a dieta é composta principalmente por peixes(Menezes, 1979), os quais, quando estão presen-tes nos estômagos analisados, pertencem à famí-lia Bothidae, um grupo de peixes bentônicos(Froese & Pauly, 2004).

Haemulon plumieri e O. chrysurus compar-tilham os atributos morfológicos que os descre-vem como peixes de associação com o fundo,podendo desenvolver velocidades maiores doque B. vetula. Estes atributos são corroboradospor Fisher (1978) e Cervigón et al. (1993), queafirmam que ambas as espécies podem serpelágicas e demersais de áreas costeiras e/ouáguas claras de ilhas oceânicas, encontradas comfreqüência em bancos de algas ou prados defanerógamas marinhas. Quanto à relação de H.plumieri com o fundo, Ferreira et al. (2001), es-tudando uma comunidade de peixes de águas ra-sas, reportaram que esta espécie foi observadanos pontos mais profundos da área de estudo.Costa et al. (2003) apontaram que a abundânciae a captura de O. chrysurus são maiores em águasrasas, decrescendo com a profundidade.

O padrão morfológico geral de H. plumierie O. chrysurus indica a forma de um corpo próxi-ma à fusiforme, típica de peixes de natação rápi-da, pois reduz as forças geradas pela fricção docorpo com a água e pelas diferenças de pressãoresultantes do deslocamento da água à medidaque o peixe se movimenta (Helfman et al., 1997).Da mesma forma, valores altos da configuraçãoda nadadeira peitoral indicam aumento na efici-ência natatória, tal como observado por Bellwood& Wainwright (2001) e Fulton et al. (2001), queutilizaram a configuração da nadadeira peitoralpara definir padrões de associação entre formado corpo e eficiência da locomoção em labrídeos.

De acordo com as análises, H. plumieri eO. chrysurus apresentam diferenças relaciona-

das com o tamanho da presa capturada. Os maio-res valores do comprimento relativo da cabeça eda largura relativa da boca em H. plumieri suge-rem que esta espécie captura presas de tamanhosrelativamente maiores do que O. chrysurus.Haemulon plumieri é categorizada comopredadora de invertebrados bentônicos, alimen-tando-se de anelídeos, poríferos, equinodermos,moluscos e, principalmente, de crustáceos(Ferreira et al., 2001; Feitosa e Araújo, 2002).

Os resultados obtidos permitiram ainferência de padrões ecológicos das diferentesespécies estudadas a partir de caracteresmorfológicos. Entretanto, uma vez que os fato-res abióticos também podem exercer algum papelno processo modificador de característicasmorfológicas e ecológicas, recomenda-se a apli-cação de análises ecomorfológicas como ferra-mentas auxiliares para estudos que objetivaminterpretar o papel de uma espécie na comunida-de.

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NOTA CIENTÍFICA

Samir Jorge Cutrim Feres1

Ana Tereza Lyra Lopes1

Luiza de Andrade Santos2

RESUMO

O objetivo deste trabalho é informar a ocorrência do siri de exótico invasor Charybdis hellerii no litoral doMaranhão. As coletas foram realizadas nos meses de fevereiro a julho de 2005, onde foram capturadostrinta-três espécimes em quatro locais: Praia de Panaquatira (02° 28' S e 44° 02' W), Praia do Araçagy (02°27' S e 44° 10' W), Praia da Ponta d'Areia (02° 30' S e 44° 19 ' W) e Praia de Jacamim (02° 38' S e 44° 17'W) ao longo da zona entre marés em substrato rochoso. Os espécimes foram submergidos em uma soluçãode MgCl2 e então levados para o laboratório. Foram tiradas medidas de morfológicas usando paquímetrocom de precisão 2 mm. Foram aferidas as medidas de largura de comprimento das carapaças do dos siris.Depois disso, os animais foram gelados preservar as características de diagnóstico, como cor. Entre osmachos, a menor e a maior medida comprimento/ largura foram respectivamente 42,34mm/ 59,16mm e18,30mm/ 25,16mm. Entre as fêmeas, a menor e a maior medida comprimento/ largura foram respectiva-mente 33,26mm/ 45,54mm e 15,0mm/ 21,06mm. Diversas características da biologia de C. hellerii favo-recem a invasão de novas áreas, destacando-se a sua maturidade sexual precoce e a sua dieta exclusivacarnívora generalizada tornando-o um grande competidor das espécies comercialmente importantes dafauna local.

Palavras-chave: Invasor, Charybdis hellerii, Maranhão.

ABSTRACT

The first record of Charybdis hellerii (Milne Edwards, 1867) to Maranhao littoral - Brazil

The aim of this work is to report the occurrence of the nonindigenous crab Charybdis hellerii in Maranhãolittoral. The collections were accomplished the months of February and July of 2005, where thirty-threespecimens were captured in four sampling sites: Panaquatira (02° 28' S e 44° 02' W), Araçagy (02° 27' 56"S e 44° 10' 55" W), Ponta d'Areia (02° 30' 19" S e 44° 19' 14" W) and Jacamim (02° 38' 12" S e 44° 17'50" W) beaches along the intertidal rocky substrate. The specimens were drowned in a MgCl2 solutionand then carried out to the laboratory. Morfological measurements were taken using vernier calipers,accurate to 2 mm. After that, the animals were frozen to preserve the diagnostic characteristics, likecolorimetry. Among the males, the smallest and the largest measure length / width was 42,34mm respectively/ 59,16mm and 18,30mm / 25,16mm. Among the females, the smallest and the largest measure length /width was 33,26mm respectively / 45,54mm and 15,0mm / 21,06mm. Several characteristics of thebiology of C. hellerii favor the invasion of new areas, standing out your precocious sexual maturity andyour carnivorous exclusive diet widespread turning him/it commercially a great competitor of the speciesimportant of the local fauna.

Key words: nonindigenous, Charybdis hellerii, Maranhão.

1Laboratório de Zoologia - UFMA. Campus do Bacanga. Av. dos Portugueses s/n. CEP 65085-580. São Luis - [email protected] de Biologia - UFMA. Campus do Bacanga. Av. dos Portugueses s/n. CEP 65085-580. São Luis - [email protected]

PRIMEIRO REGISTRO DE Charybdis hellerii (MILNE EDWARDS,1867) PARA O LITORAL MARANHENSE-BRASIL. (CRUSTÁCEA,

DECAPODA, PORTUNIDAE).

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As espécies exóticas invasoras são organis-mos que, introduzidos fora da sua área de distribui-ção natural, ameaçam ecossistemas, habitats ou ou-tras espécies. São consideradas as segundas maio-res causa de extinção de espécies no planeta, afe-tando diretamente a biodiversidade, a economia e asaúde humana (MMA, 2006).

A navegação é a principal rota de dispersãopara introdução de espécies exóticas invasoras ma-rinhas. Vetores associados incluem água de lastro esedimentos, água de porão e incrustações no cascoe em outras partes da embarcação (GISP, 2005).

Os navios utilizam água nos tanques de lastropara manter a segurança, aumentar seu calado e aju-dar na propulsão e manobras, compensar perdas depeso por consumo de combustível e de água, regu-lar a estabilidade e manter os níveis de estresse naestrutura em patamares aceitáveis (Committee onShips' Ballast Operations, 1996). Mais esta realidadenem sempre foi assim, pois segundo Carlton & Geller,(1993), no passado o lastro era sólido (pedras e tron-cos), o que causava instabilidade aos navios, espe-cialmente com o movimento de embarque e desem-barque da carga nos portos. A partir de 1880, com amelhoria da estrutura dos navios e a revolução in-dustrial, começou-se a utilizar água nos tanques;entretanto, é provável que somente após a 2ª Gran-de Guerra Mundial, a água de lastro tenha começa-do a circular em grandes volumes.

Invasões de organismos marinhos têm ocor-rido em virtualmente todas as regiões do mundo eseus impactos sobre as comunidades locais podemser deletérios (Ruiz et al. 2000, Hayes & Sliwa 2003,Occhipinti-Ambrogi & Savini 2003). Espéciesintroduzidas podem alterar profundamente a estru-tura das populações e comunidades já existentes,promovendo, na maioria dos casos, perda dabiodiversidade, que pode ser ainda mais acentuadaquando espécies endêmicas são atingidas(Stachowicz et al. 1999, Kado 2003). Dentre os pro-cessos causadores da diminuição da diversidadepode-se destacar a exclusão competitiva de espéci-es nativas, a predação de espécies naturais, ahibridização e a alteração na estrutura de cadeiastróficas (Berman et al. 1992, Huxel 1999, Grosholz2002). Além disso, os prejuízos causados por espé-cies exóticas para diversas atividades comerciaispodem exigir medidas mitigadoras de alto custo.

Um caso típico de organismo marinho, intro-duzido por água de lastro, e que causa prejuízos

econômicos e causa preocupação em vários paisesdo mundo é o Charybdis hellerii, também conheci-do como siri-espinhoso, siri-da-pedra etc. C. helleriié um portunídeo originário do Indo-Pacífico, o qualtem migrado para várias áreas do Mar Mediterrâneoe Atlântico ocidental (Mantelatto, 2000). C. helleriichegou ao Atlântico ocidental provavelmente a par-tir do Mediterrâneo oriental onde, na década de 80, aespécie já se encontrava bem estabelecida (Campos& Türkay, 1989).

No Indo-Pacífico C. hellerii ocorre em habitatstão diversos quanto recifes de coral, manguezais ecostões rochosos (Undekem D'Acoz apud Tavares& Mendonça Jr., 2004). Na costa brasileira a presen-ça de C. hellerii tem sido mencionada em baías eestuários (Tavares & Mendonça Jr., 2004), ocupan-do desde o entre marés até profundidades além dos30 metros.

C. hellerii foi encontrado pela primeira vez naparte ocidental do Oceano Atlântico em 1987; Cuba,Venezuela e Colômbia, em 1988; e posteriormente,em 1995, foi encontrado na Flórida. No Brasil, em1996, foi encontrado em Alagoas, Bahia, Rio de Ja-neiro, São Paulo e Santa Catarina. No Rio Grande doNorte a partir de 1997, Pernambuco em 2003 e porultimo no estado do Ceará em 2004. Desta forma éesperada sua ocorrência em áreas intermediárias (Co-elho & Santos, 2003), não sendo surpreendente suaocorrência no litoral maranhense.

Este trabalho tem como objetivo notificar aocorrência do siri exótico portunidae Charybdishellerii para o Golfão Maranhense.

Nos meses de fevereiro e março de 2005, foramrealizadas capturas na praia do Araçagy (02° 27' S e 44°10' W) e posteriormente na praia de Panaquatira (02°28' S e 44° 02' W), em áreas contendo formações rocho-sas. Nos meses de junho e julho mais espécimes foramencontrados e capturados na praia da Ponta d'Areia(02° 30' S e 44° 19' W) e na Ilha de Tauá-Mirim (02° 38' Se 44° 17' W) em condições ambientais idênticas as dosprimeiros pontos (Figura 1). Os espécimes foramcoletados manualmente e anestesiados em campo comcloreto de magnésio (MgCl2) diluído em água do mar elevados ao laboratório de zoologia da UniversidadeFederal do Maranhão, onde foram aferidas as medidasdo comprimento e largura do cefalotórax comauxílio de paquímetro de precisão 0,02mm, eatualmente estão mantidos congelados em

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freezer para que sejam preservadas suas colo-rações naturais.

Para a identificação da espécie foi utiliza-da a chave de identificação de Rathbun (1930)adaptada por Tavares & Mendonça (1996).

O material em estudo é constituído por33 espécimes sendo 19 machos (Figuras 2 e 3)e 14 fêmeas (Figuras 4 e 5). O número de espé-

cimes por área foi de 20 para a praia doAraçagy, 7 para a praia de Panaquatira, 1 paraa praia da Ponta d'Areia e 5 para a Ilha deTauá-Mirim.

Foram capturados, entre eles exemplares ma-chos e fêmeas (ambos jovens ou adultos) e tambémuma fêmea ovada (Figura 5) ainda bastante jovem.Entre os machos, a menor e a maior medida compri-mento/ largura foram respectivamente 42,34mm/

Figura 1. Áreas de coleta.

Figura 2. Vista dorsal de um espécime macho de Charybdis hellerii.

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Figura 3. Vista ventral de um espécime macho de Charybdis hellerii.

Figura 4. Vista dorsal de um espécime fêmea de Charybdis hellerii.

Figura 5. Vista dorsal de um espécime fêmea de Charybdis hellerii. Emdetalhe a bolsa de ovos.

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59,16mm e 18,30mm/ 25,16mm. Entre as fêmeas, amenor e a maior medida comprimento/ largura foramrespectivamente 33,26mm/ 45,54mm e 15,0mm/21,06mm. A média e o desvio padrão das medidas delargura e comprimento das carapaças de todos osindivíduos amostrados encontram-se nas Tabelas 1e 2.

De acordo com os habitats onde C. helleriiTabela 1. Médias e desvio da largura das carapaças detodos os indivíduos amostrados.

Tabela 2. Médias e desvios do comprimento dascarapaças de todos os indivíduos amostrados.

pode ser encontrado no Indo-Pacífico e no litoralbrasileiro descrito por Undekem d'Acoz (1999 apudTavares & Mendonça Jr., 2004) e Tavares & Men-donça Jr. (2004), respectivamente, pode-se deduzirque estes fatos corroboram com as condiçõesambientais das praias em que C. hellerii foi encon-trado em São Luis. Infere-se então que C. helleriiencontra no litoral maranhense os habitats adequa-dos para se estabelecer e perpetuar, pois o Estadopossui o 2° maior litoral e a maior zona de manguezaisdo Brasil, e ainda, a capital São Luis está inseridaentre as baías de São Marcos e a de São José.

Há uma grande dificuldade em descrever opercurso de C. hellerii até este chegar ao Brasil,pois Campos & Türkay (1989) indicam duas possibi-lidades desta espécie ter chegado ao hemisfério oci-dental: em água de lastro ou presa em cascos denavios. Mantelatto & Dias (1999) inferem que C.hellerii teria chegado ao Brasil em estágio larval,trazida através da água de lastro de navios por voltade 1993 e 1994. Segundo Lemaitre (1995), não se devedescartar a hipótese de decápodes serem transpor-tados no interior dos pontos de captação de águadestinada à refrigeração do motor. Dodgshum &Coutts (2002 apud Coelho & Santos, 2003), estu-dando cinco embarcações no Porto de Nelson, Nova

Zelândia, entre maio de 2000 e janeiro de 2002, en-contraram uma variedade de invertebrados incluin-do crustáceos, moluscos, briozoários, poliquetas esipúnculos. Entre os crustáceos, estava Charybdishellerii, mostrando assim a possibilidade do seutransporte através desse mecanismo (Coelho & San-tos, 2003).

Segundo Lemaitre (1995), C. hellerii tem im-portância econômica no sudeste da Ásia. Os pesca-dores das áreas amostradas neste trabalho alegamque esta espécie não tem valor comercial, mas é co-letado para o consumo próprio já que as populaçõesnativas estão ficando cada vez mais difíceis de se-rem encontradas. Alegam também que C. helleriivem causando um sensível prejuízo, pois este já foivisto predando camarões e até mesmo pequenospeixes, além de outros siris da fauna local, diminuin-do a quantidade para venda.

Apesar da ênfase dada à água de lastro, a possi-bilidade de transporte de crustáceos como C. helleriino casco de embarcações não deve ser descartada,pois tais embarcações possuem caixas nas quais ocor-re captura de água do mar que é utilizada para finalida-des diversas.

Diversas características da biologia de C. helleriifavorecem a invasão de novas áreas, destacando-se asua maturidade sexual precoce e a sua dieta exclusivacarnívora generalizada tornando-o um grande competi-dor das espécies comercialmente importantes da faunalocal. A transmissão de doenças letais para espécies lo-cais também é um risco, pois C. hellerii, assim como outrosdecápodes invasores, é um hospedeiro potencial para oWhite Spot Syndrome Virus (WSSV) que tem grande faci-lidade de transmissão em ambientes aquáticos. No BrasilC. hellerii não tem valor comercial e também é poucoaceito pelas populações ribeirinhas, o que coloca todo oesforço de pesca sobre populações nativas. A grandepressão exercida por C. hellerii como competidor, além daexercida pelo homem através da pesca descontrolada, podecausar sérios danos às espécies nativas, principalmenteem habitats sensíveis como manguezais e recifes coralinos.

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Recebido em 13 de agosto de 2007.Aprovado em 21 de setembro de 2007.

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BOLETIM DO LABORATÓRIO DEHIDROBIOLOGIA

Instruções para os autores

O Boletim do Laboratório de Hidrobiologiaé uma publicação organizada pelospesquisadores do Laboratório de Hidrobiologiada Universidade Federal do Maranhão. Destina-se a publicar trabalhos científicos originais depesquisadores brasileiros e estrangeiros na áreade Biologia Aquática e outras ciências correlatas.

Os manuscritos escritos em português,espanhol, francês ou inglês encaminhados àpublicação somente serão aceitos após avaliaçãopelo Conselho Técnico do Boletim e assessoriaad hoc.

Os trabalhos deverão seguir as seguintes normas:1. Título

O título, em negrito e caixa alta, deverá ser omais conciso possível e dar clara idéia sobre oconteúdo do artigo. Um título abreviado deveser fornecido para impressão nas cabeças depáginas.2. Autores

Os nomes dos autores devem ser escritosem minúsculas e um abaixo do outro, comosegue:

Zafira da S. de Alemida1

Verônica Fonsêca-Genevois2

O endereço dos autores deverá vir em notade rodapé, informando a instituição de origem e,se possível, o endereço eletrônico.3. Resumo e Abstract

Todos os trabalhos deverão apresentar umresumo em português e inglês sumariandoresultados e conclusões. Estes deverão constarno início do trabalho e iniciar com o títulotraduzido para o idioma correspondente.4. Palavras-Chave

Os autores deverão apresentar de 3 a 5palavras-chave em português e inglês.5. Texto

O corpo principal do trabalho deverá serdividido em Introdução, Material e Métodos,Resultados, Discussão, Agradecimentos eReferências Bibliográficas. O título de cada umadas seções deverá estar centralizado e escritoem caixa alta. Sub-seções, quando houver,deverão ter seus títulos alinhados à margemesquerda e escritos em minúsculas.6. Citações Bibliográficas

No corpo principal do trabalho os autoresdeverão observar as seguintes normas: para um

autor – Tundisi (1993); para dois autores –Sassaki & Felippe (1997); para três ou maisautores – Guerra et al. (1997).

No ítem Referências Bibliográficas ostrabalhos citados no texto deverão serapresentados da seguinte forma:TUNDISI, J.G. 1993. Theoretical basis for reser-voir management. Verh. Internat. Verein.Limnol., 25: 1153-1156.GUERRA, R.F., SILVEIRA, N.L.D. da, BERNARDI, N.& LEGAL, E.J. 1997. Hand preference duringbehavioral tests and spontaneous activity in twospecies of common marmoset (Callithrix jacchuc andCallithrix penicillata). Rev. Bras. Biol., 57(4): 563-570.SCHOWERBEL, J. 1975. Métodos dehidrobiologia. Madri: H. Blume. 262 p.7. Ilustrações

Fotografias, desenhos, gráficos e mapasdevem ser denominados figuras. As ilustraçõesdevem ser preparadas levando-se emconsideração que o tamanho da página útil é de22,0 cm X 15,0 cm, e apresentadas em sentidovertical. Tabelas e figuras devem ser numeradascom algarismos arábicos e chamadas no textoem ordem crescente (p.ex. Figura 1, Tabela 1).Tabelas e gráficos devem ser preparados emExcel 4.0 ou superior, armazenados e enviadosem arquivos individuais. Desenhos e mapasesquemáticos devem ser feitos a traço denanquim. No momento, apenas fotografias empreto e branco são impressas no Boletim, sendonecessário o envio das fotos originais.8. Considerações finais

Os trabalhos devem ser enviados em três viasdigitados em papel A4, espaço duplo, commargens de 2,5 cm. Após as correções os autoresdevem enviar um original e cópia em disquete(Word 6.0 ou versão superior, Times New Ro-man, fonte 12).Os autores devem enviar suas correspondênciaspara: UNIVERSIDADE FEDERAL DOMARANHÃO/ DEPARTAMENTO DE OCEA-NOGRFIA E LIMNOLOGIA/ LABORATÓRIO DEHIDROBIOLOGIA Comissão Editorial do Boletimdo Laboratório de Hidrobiologia.Av. dos Portugueses s/n - 65085-580 - São Luis,MA - BrasilFone: 0xx98 2109-8185/ 8561Fax: 0xx98 2109-8569/ 8186E-mail: [email protected] / [email protected]

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ISSN - 0102-4337

BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA

VOLUME 20 2007

ARTIGOS

TEORES DE ZINCO E COBRE EM OSTRA (Crassostrea rhizophorae) E SURURU (Mytella falcata)DO ESTUÁRIO DO RIO BACANGA EM SÃO LUÍS (MA)M. O. A. I. Rojas, P. R. S. Cavalcante, R. C. SOUZA & E. C. S. Dourado ...................................... 1 - 7

CARACTERÍSTICAS ECOLÓGICAS DO HABITAT DE Kinosternon scorpioides scorpioidesLINNAEUS, 1766 (Reptila, Chelonia, Kinosternidae) NO MUNICÍPIO DE SÃO BENTO – BAIXA-DA MARANHENSE (MARANHÃO, BRASIL).L. A. Pereira, A. L. Sousa, M. V. J. Cutrim & E. G. Moreira ........................................................... 8 - 13

BIOECOLOGIA DE Ucides cordatus LINNAEUS, 1763 (DECAPODA: BRACHYURA) NA COSTADO ESTADO DO AMAPÁM. E. B. Fernandes & M. L.Carvalho ......................................................................................... 14 - 21

INFLUÊNCIA DE ANOMALIAS DE TSM NO REGIME DE CHUVAS DO BANHADO DO TAIMM. A. G. Cardoso, D. M. Marques, C. A. B. Mendes & A. Villanueva ........................................ 22 - 29

RELAÇÃO PESO-COMPRIMENTO DE ESPÉCIES DE PEIXES DO ESTUÁRIO DO RIO PACIÊN-CIA DA ILHA DO MARANHÃO, BRASILM. G. Silva-Júnior, A. C. L. Castro, L. S. Soares & V. L. França ................................................... 30 - 37

ORGANIZAÇÃO SOCIAL E ASPECTOS TÉCNICOS DA ATIVIDADE PESQUEIRA NO MUNICÍ-PIO DE VIGIA - PAK. R. M. Mourão L. A. Pinheiro & F. Lucena ............................................................................. 38 - 52

TAXONOMIA DAS MACROALGAS DOS MANGUEZAIS DA BAÍA DE TURIAÇU, ESTADO DOMARANHÃO, BRASILE. O. Caridade & M. M. Ferreira-Correia .................................................................................... 53 - 61

EVALUATION OF THE MANAGEMENT PLAN OF THE BACANGA STATE PARK, ISLAND OFMARANHÃO, NORTHEAST,BRAZILA. A. S. Andrade & A. C. L. Castro ............................................................................................ 62 - 69

ANÁLISE ECOMORFOLÓGICA DE TRÊS ESPÉCIES DE PEIXES DO PARQUE ESTADUAL MA-RINHO DO PARCEL DE MANUEL LUIZ, MARANHÃO, BRASILN. M. Piorski, E. C. S. Dourado & J. L. S. Nunes ....................................................................... 70 - 76

NOTAS

PRIMEIRO REGISTRO DE Charybdis hellerii (MILNE EDWARDS, 1867) PARA O LITORALMARANHENSE-BRASIL. (CRUSTÁCEA, DECAPODA, PORTUNIDAE)N. M. Piorski, E. C. S. Dourado & J. L. S. Nunes ....................................................................... 77 - 82