Laboratório de Físico-Química: Diagrama Sólido-Líquido
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Prática IV
Diagrama Sólido-Líquido
Laboratório de Físico-Química
Douglas
Leonardo
Setembro de 2014
1. INTRODUÇÃO
Ao se misturar dois componentes distintos e variar suas composições fazendo-se
diferentes misturas, é possível observar que a temperatura de fusão de ambos os sólidos
vão sendo alterados formando o que chamamos de equilíbrio Sólido-Líquido. A
temperatura de fusão da mistura diminui, pois ocorre um abaixamento crioscópico
destes dois componentes.
Os diagramas de fases mostram quais fases podem existir em dadas condições.
Em quaisquer sistemas, as condições de equilíbrio podem estar subordinadas ou
referidas às três variáveis: temperatura, pressão e composição.
De maneira geral, o resfriamento de um líquido composto por duas substâncias
A e B pode levar à formação de um sólido. A temperatura da formação deste sólido é
dependente da composição e segue a equação:
A
afus
ATTR
Hx
0
, 11ln (eq. 1)
Onde Hfus é a entalpia molar de fusão de A puro, T é temperatura de início de
solidificação e T0A é a temperatura de solidificação do solvente puro. Esta equação dá a
curva onde ocorre o equilíbrio entre o sólido puro a esteja em equilíbrio com a solução
liquida ideal esta curva é denominada liquidus.
Em uma mistura de dois componentes, é muito comum a existência de sistemas
do tipo eutético (Figura 1). Acima da primeira linha (linha liquidus) todo o sistema se
encontra no estado líquido e, abaixo da segunda linha (linha solidus) somente sólido
Figura 1. Representação esquemática o equilíbrio S/L para um sistema do tipo eutético.
Neste tipo de diagramas existe o chamado ponto eutético, onde a fase líquida
está em equilíbrio com a fase sólida. A temperatura eutética é a temperatura mais baixa
em que se pode existir líquido. Também é a temperatura de intercepção das duas linhas,
na qual a mistura apresenta uma composição fixa a qual tem comportamento tal qual a
de uma substancia pura (funde e congela em temperaturas definidas).
Os métodos mais utilizados para determinação dessas fases são o dinâmico e
estático. Os métodos dinâmicos valem-se da mudança de propriedades do sistema, como
condutividade térmica, viscosidade, dentre outros. Especificamente para este caso foi
realizado o Método Dinâmico de Análise.
Esta análise do comportamento das fases pode ser feita através de curvas de
arrefecimento, ou, de forma análoga, através de curvas de aquecimento.
Para o caso das curvas de arrefecimento, consiste em resfriar várias misturas
(inicialmente em fase líquida) com diferentes concentrações, ler a evolução da
temperatura com o tempo e tirar conclusões a partir de pontos de inflexão e patamares
(porções horizontais do gráfico) das curvas obtidas que representam o processo de
cristalização (Figura 2).
Figura 2. Construção de um diagrama de fases por análise termo-diferencial.
Neste caso, pode-se observar a curva de resfriamento para um líquido
consistindo de B puro. A temperatura cai até atingir um patamar em que se inicia a
solidificação. Num segundo ensaio com uma mistura de A e B tem-se um primeiro
ponto de inflexão onde se inicia a solidificação de B, em seguida há um patamar quando
o líquido apresenta a composição eutética e começa a aparecer o sólido. A temperatura
permanece constante até todo o líquido se solidificar. Com a composição eutética há
apenas um patamar em que os dois sólidos começam a se formar.
2. OBJETIVOS
Esta prática tem como principal objetivo a obtenção de diagramas de fases
sólido-líquido para o sistema naftaleno-difenilamina.
3. PARTE EXPERIMENTAL
3.1. Materiais:
Tubos de ensaio de 30 mL
Suporte com garra para tubos de ensaio
Béquer
Termômetro de precisão
Chapa aquecedora
Almorafiz com pistilo
Cronômetro
3.2. Reagentes:
Naftaleno
Difenilamina
3.3. Procedimento utilizado para obtenção de dados
Primeiramente as misturas naftaleno-difenilamina foram pesadas e colocadas no
tubo de ensaio. As misturas foram determinadas para pesarem 5g no total, sendo que as
proporções fixadas foram em: 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100% em peso de
difenilamina. Devido ao fato de a sala ser numerosa, nosso grupo (Grupo 06) foi
selecionado para fazer as misturas contendo 40%-p e 50%-p de difenilamina.
As misturas nos tubos foram levadas para o aquecimento (colocou-se o tubo de
ensaio em béquer com água aquecida a aproximadamente 100°C), sendo fundidas
totalmente. Após isso, as misturas foram deixadas ao ar para resfriarem lentamente,
sendo que suas temperaturas foram determinadas a cada 20 segundos. Dessa forma, foi
possível verificar a temperatura em que se iniciou a solidificação da mistura e a
temperatura a qual o sistema se tornou completamente sólido.
Sendo assim, foi possível representar graficamente as curvas de resfriamento
relativas a cada mistura e elaborar uma tabela contendo as frações molares de cada
amostra com a temperatura de início de solidificação.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Procedimento para obtenção do diagrama de fases
\
Como dito anteriormente, foram anotadas as temperaturas de resfriamento das
misturas a cada 20 segundos. Cada grupo ficou responsável por fazer essas medidas
para duas porcentagens e os resultados foram disponibilizados para que os outros
grupos fizessem o gráfico das temperaturas de resfriamento.
A tabela abaixo (Tabela 1) contém as temperaturas de resfriamento das misturas
de 40% e 50% em massa de difenilamina em naftaleno, medidas pelo Grupo 06. Sendo
assim, para a Mistura 1 (40%-p) foram pesados 3,03g de naftaleno e 2,07 de
difenilamina e para a Mistura 2 (50%-p) foram pesados 2,51g de naftaleno e 2,50g de
difenilamina.
Tabela 1. Valores das temperaturas em função do tempo para as misturas estudadas (40%-p e 50%-p).
Tempo (s)
Temperatura (°C)
40% (1) 40% (2) 50% (1) 50% (2)
0 71,3 70 78 64
20 68,5 67,7 75,3 61,9
40 66,4 65,2 71,9 60 PFinicial
60 64 63,6 69,5 57,5 PF final
80 61,9 62 67,5 55,5
100 59,8 60,1 65,4 54,4
120 58 58,3 63,6 53,1
140 56,6 57,4 61,4 51,7
160 55,2 56,5 59,9 50,5
180 54,5 56 58,3 49,6
200 54,4 55,3 56,8 48,7
220 54,4 54,8 54,7 48,6
240 54,6 54,3 53,8 48,2
260 54,1 53,9 52,4 47,6
280 53,6 53,5 51,3 47,7
300 52,8 53 50,4 47,3
320 52,4 53 49,5 46,5
340 51,9 52,4 48,9 46,5
360 51 51,8 48,9 46
380 50,2 51,4 48,9 45,7
400 49,4 49,9 49 45,3
420 49 49,5 48,7 45
440
49,2 48,4 44,5
460
49 48 44
480
48,5 47,5 43,7
500
47,7 46,8 43,3
520
47,3 46,4 43
540
46,9 46,1 42,5
Dessa forma foi possível construir os gráficos das curvas de resfriamento
relativas a cada mistura. Para este caso, as medidas foram tomadas em duplicata e os
gráficos são dados a seguir (Figuras 3 e 4).
Figura 3. Curva de resfriamento relativa à mistura de 40%-p de difenilamina.
De acordo com o comportamento da curva, é possível observar que por volta de
55°C temos um ponto de inflexão seguido de certo patamar, onde a temperatura das
misturas permanece constante. Isso pode estar relacionado a um fenômeno conhecido
como super-resfriamento da amostra e de cristalização exotérmica da difenilamina. O
super-resfriamento contribui para um aumento posterior da temperatura, pois se trata de
uma situação em que as moléculas estão numa condição metaestável, e que ao serem
desbalanceadas liberarão esta energia extra que não foi anteriormente dissipada.
46
51
56
61
66
71
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550
Tem
per
atu
ra º
C
Tempo (s)
Misturas 40%
Figura 4. Curva de resfriamento relativa à mistura de 50%-p de difenilamina.
Novamente para o caso da mistura de 50%-p foi observado um certo patamar,
por volta de 50°C onde a temperatura se estabilizou por um certo período de tempo,
houve um pequeno acréscimo de temperatura e novamente voltou a reduzir-se.
Juntamente com os dados obtidos dos outros grupos, para misturas contendo de
0 a 100% de difenilamina em naftaleno, foi possível construir o diagrama de fases para
este sistema binário. Abaixo (Tabela 2) é possível verificar os valores encontrados de
início de solidificação e fim de solidificação para as frações molares estudadas.
Tabela 2. Valores das temperaturas de solidificação para as diferentes frações molares da mistura
naftaleno-difenilamina.
Proporção
Medida 1 Medida 2
PF Inicial PF Final PF Inicial PF Final
0
79,2 76 79 77,6
77,6 75,7 78,5 75,5
10
76 71,9 75,5 71,5
79 72 78,7 72,1
20
77,2 64 79,2 66,1
79 64 79,5 63,5
30
74,5 61 75 60,5
64,7 59,9 64,5 59,7
40
60,5 51,2 59,5 49,5
54,5 54,1 56,5 52,4
50
48,9 48,4 48,7 47,3
49 47,9 49,2 48,6
60
37,4 30,2 36,8 30,4
36,1 31 36,3 31,5
70
30,6 32,1 30,5 32,1
31 30,9 32 31,2
45
50
55
60
65
70
75
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550
Tem
per
atu
ra º
C
Tempo (s)
Misturas 50%
80
39,2 33,4 39 32
36,5 32 37,2 32,3
90
48,2 39,4 46,8 38,9
50,5 48 51 47,8
100
53,8 51,7 53,9 51,5
54,2 50,3 54,6 50,6
Através das médias dos valores obtidos em duplicata para cada fração molar foi
possível construir o diagrama de fases para este sistema binário (Figura 5).
Figura 5. Diagrama de fases para o sistema naftaleno-difenilamina.
Figura 6. Equilíbrio sólido-líquido para um sistema binário.
Comparando qualitativamente o gráfico obtido com o dado em literatura,
observa-se certa similaridade. Para o sistema naftaleno-difenilamina foi possível
observar que por volta de 70%-p de difenilamina tem-se o ponto eutético da mistura.
Alguns desvios podem ser observados devido a erros experimentais, principalmente
causados pela divisão dos pontos entre vários grupos, e além disso a dificuldade de ler
as temperaturas no termômetro e de observar a total solidificação também aumentam os
desvios. O menor valor de temperatura corresponde ao valor de solidificação da mistura
eutética (~30 ºC). A mistura eutética é, então, neste caso, composta por cerca 70% de
difenilamina. A temperatura relativa a este ponto é denominada de temperatura eutética,
o menor valor de temperatura de solidificação para o sistema binário. Uma mistura com
composição eutética solidifica à temperatura constante sem precipitação de quaisquer
dos componentes.
Os valores da literatura mostram que as técnicas utilizadas apesar de conterem
dificuldades e erros experimentais dão resultados que não diferem em ordem de
grandeza dos valores esperados.
5. CONCLUSÕES
De acordo com o experimento realizado pode-se construir um diagrama de fases
para a mistura e então determinar os pontos pertinentes como temperatura de
solidificação da mistura eutética, contendo apenas naftaleno e contendo apenas
difenilamina. Foram determinadas as curvas para duas frações molares diferentes de
difenilamina em mistura com naftaleno. Foi observado que os resultados experimentais
condizem qualitativamente com o esperado para um sistema de dois componentes que
formam uma solução líquida, mas que não formam uma solução sólida. . Pode-se dizer
também que 70% de difenilamina corresponde à mistura eutética do sistema
difenilamina/naftaleno. Desvios dos valores experimentais podem ter ocorrido por erro
inerente aos operadores do termômetro, falta de experiência em se tomar medidas de
temperatura e pelo simples fato da observação do momento exato do início da
solidificação das misturas.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Apostila - Laboratório de físico química, 2014
[2] Castellan, G.W.; Fundamentos de físico-química. Rio de Janeiro : Ltc, 1994
[3] Diagramas de Equilíbrio Aplicados à Cerâmica – Geraldo Eduardo, ABM.