LAPS-Revista Minerios Minerales Novembro e Dezembro de 2015

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    Foto:AngloAmerican

    De acordo com especialistas, nos

    ltimos anos houve uma evo-luo dos mtodos de geofsica

    aplicados na investigao de reas sub-mersas, sobretudo em relao s tecno-logias acsticas de alta potncia, que,utilizadas na rea de minerao, podemidentificar possveis anomalias durante asfases de construo, uso e monitoramen-to de barragens de rejeitos.

    Em uma primeira fase, os processosgeofsicos contribuem para os estudosde caracterizao da natureza geolgica

    da rea onde o projeto ser implantado,fornecendo informaes relevantes paraa avaliao da viabilidade do empreen-dimento, como os ensaios de refraossmica realizados na superfcie da ter-ra, que podem mostrar falhas e relevossuscetveis. Na parte de monitoramen-to, os aparelhos sonoros analisam comdetalhes as camadas de sedimentosacumulados na barragem, parmetrosimportantes para determinar o volume eo peso da estrutura e as capacidades de

    expanso (alteamento).A partir deles (mtodos geofsicos)

    Tecnologias ssmicas aprimoramensaios de monitoramento

    Equipamentos modernos complementam atividades de controle,identifcando parmetros importantes dessas barragens de rejeitos, como nveis de enchimento,

    compactao dos resduos, volume e peso do material armazenado

    possvel obter a velocidade de propa-

    gao do som nos diferentes materiaisgeolgicos que compem o terreno in-vestigado, um critrio fundamental parao dimensionamento das estruturas a se-rem implantadas, explica o gelogo LuizAntonio Pereira de Souza, do Centro deTecnologias Geoambientais do Institutode Pesquisas Tecnolgicas (IPT), em SoPaulo (SP).

    Souza, que atua na rea de GeofsicaAplicada Investigao de AmbientesSubmersos, ressalta que os produtos

    dos ensaios permitem mensurar a evo-luo do processo de acmulo de sedi-mentos na bacia da lagoa de decantao,assim como avaliar se o processo de en-chimento da barragem evolui conformeprevisto no projeto original. Em certomomento, o responsvel pelo empreen-dimento poder concluir se a lagoa dedecantao atingiu o mximo de sua ca-pacidade, determinando a interrupo doprocesso de lanamento de resduos e aconstruo de uma nova bacia de decan-

    tao, afirma Souza.Quando a lagoa de decantao en-

    contra-se coberta por lama e gua, o

    mtodo geofsico empregado o de per-filagem ssmica contnua, que consisteno uso de equipamentos acsticosinstalados em uma embarcao depequeno porte. A navegao ocorre emvrias direes de um lado ao outro dalagoa, possibilitando a determinaoda espessura dos estratos sedimentaresacumulados ao longo dos anos.

    Segundo o pesquisador, atualmen-te, existem equipamentos poderososde perfilagem ssmica contnua, que

    podem identificar e analisar camadasde sedimentos com menos de 10 cm deespessura. Esses dados so utilizadospara elaborao de grficos, que podemilustrar espaos vazios, fugas de gua ecomo o corpo da barragem est se alte-rando ao longo do tempo. Ele refora queos nveis e histricos de enchimento soextremamente vitais para a operao e se-gurana dessas estruturas.

    A perfilagem ssmica contnua baseia-se tambm no princpio da reflexo das

    ondas acsticas e constitui-se nummtodo indireto de investigao de re-

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    as submersas rasas (entre 100 150 mde profundidade). Esse processo utilizaespectros de baixa frequncia (abaixo de10 Khz) o que possibilita a penetrao dosinal na superfcie de fundo, identificandoa espessura das camadas de sedimentosinconsolidados, explica.

    Um desses equipamentos o sistema

    Meridata, fabricado na Finlndia e quemostra nitidamente o material acumuladona barragem, sob ponto de vista da reso-luo e da penetrao, com a utilizao detrs fontes acsticas que atuam simulta-neamente (pinger 24kHz, chirp2-8kHz eboomer0,5-2kHz). O sistema de aquisi-o de dados composto basicamente deuma fonte repetitiva de sinais ssmicoscom caractersticas especficas para atuarno meio lquido, um sistema de recepodo sinal ssmico (hidrofones), que sorebocados na superfcie da gua, e umsistema de gravao, processamento eimpresso dos dados, que instalado nointerior da embarcao.

    O engenheiro civil Ruben Jos RamosCardia, diretor da RJC Engenharia, res-salta que o monitoramento deve contem-plar um conjunto de ensaios, que inclui,alm dos testes de sondagem snica, ins-peo visual e subaqutica e o uso de c-maras fotogrficas trmicas. Atualmentetem merecido destaque o uso de mtodosgeofsicos (auxiliar instrumentao de

    auscultao e complementar para inspe-es visuais). Temos tambm o monito-ramento de condies subterrneas porenergia infravermelha, com viso trmica,sensores termogrficos, fibra tica e/outomografia (3D), afirma Cardia.

    O monitoramento visual pode ser feitocom fotografias estacionrias (repetidassempre em um mesmo ponto), as quaispodem ser feitas inclusive na forma a-rea, com a utilizao de drones. Outroequipamento importante para anlise do

    comportamento das barragens piez-metro, que determina as presses inters-ticiais e/ou de percolao (deslocamentoda gua atravs do solo), permitindo aavaliao do fluxo com uma estimativado mapa potenciomtrico.

    O surgimento de vazes de gua (e aspresses correspondentes ao fluxo sub-terrneo) devem ser monitoradas commedidores de vazo, medidores de nveldgua (para determinao da linha fre-tica) e/ou piezmetros. Logicamente,

    devem ser obtidas amostras de gua (demontante e da surgncia) para anlises

    qumicas, ao menos de turbidez, com-pleta Cardia.

    IPT j atuou em projetode recuperao de barragem

    Recentemente, o IPT atuou na recupera-o de uma barragem de minerao emPoos de Caldas (MG). Na ocasio, foiidentificada, por meio de ensaios de re-frao ssmica, uma rea mais suscetvelno terreno de entorno do reservatrio, queaps um projeto de engenharia, recebeuenxertos de concreto para reforo.

    O IPT possui um corpo tcnico de alta

    capacitao e equipamentos geofsicosde ltima gerao para a realizao deensaios geofsicos tanto no corpo dabarragem quanto na rea submersa. Issopermite gerar um conjunto de dados quecontribui efetivamente para a maior segu-rana das barragens, completa Souza.

    O instituto foi solicitado a contribuircom o grupo de estudo da Secretaria deEnergia e Minerao do Estado de SoPaulo, que ir verificar as barragens deminerao que operam no Estado. O gru-

    po ir visitar 21 barragens de minerao,analisando os parmetros tcnicos e ve-rificando se a lei est sendo cumprida.Posteriormente, o estudo ser apresenta-do aos rgos federais, como o DNPM,responsvel pela fiscalizao.

    Barragens:rejeitos x hidreltricas

    Para o engenheiro Ruben Jos RamosCardia, da RJC Engenharia, a barragemde rejeitos possui um maior grau de

    complexidade, em relao segurana,quando comparada com as estruturas

    para gerao de energia (hidreltricas)e abastecimento de gua. Isso porque,a barragem de rejeito envolve a inte-grao de diferentes tipos de materiaiscom o corpo da estrutura de contenoe comumente feito obras de alteamento que aumentam a altura do reservatriovisando a incrementar a sua capacidadede armazenamento.

    O grande teste de resistncia, nasbarragens com gua, integral por oca-sio do primeiro enchimento. J para asbarragens de rejeito, cada alteamentorepresenta um novo e maior risco (com

    o aumento de altura e de carga) para a se-gurana, afirma Cardia.

    O engenheiro diz que todo projeto deveser cuidadoso, mas a construo do alte-amento um dos pontos mais crticos. Elelembra que deve existir apoio de monito-ramento, para garantir que as condiesexistentes permitam a elevao do aterro.

    Uma barragem de rejeito precisa detodos os cuidados possveis para sua se-gurana. Desde um projeto adequado, porprojetista experiente, passando por cons-

    truo, alteamento cuidadoso por cons-trutora capacitada nesse tipo de obra,depois sendo garantido o monitoramentoapropriado s condies dessa obra emparticular, para que seja possvel a aplica-o de eventuais atividades de manuten-o, reparo e reforo. Logicamente, nodeve ser excedida a capacidade de projetoe as condies previstas devem ser exe-cutadas de maneira correta, sem econo-mia indesejada, comenta.

    Na mesma linha, Fabio De Gennaro

    Castro, consultor e vice presidente doComit Brasileiro de Barragens (CBDB),

    Foto:IPT Monitoramento deve contemplar testes de sondagem

    snica, inspeo visual e subaqutica e o uso decmaras fotogrficas trmicas, entre outros

    Nov./Dez. 2015 |21www.revistaminerios.com.br

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    afirma que a construo de uma bar-ragem de rejeitos minerais ou indus-trial deve contemplar um conjunto deatividades. Ele ressalta que a seguranadeveria ser incorporada com um valorcultural e praticada harmonicamente portodos envolvidos.

    A segurana um objetivo a ser perma-

    nentemente alcanado, comeando pelaobteno de dados bsicos para elabora-o do projeto, pela forma de contrataodas obras, pelo acompanhamento poruma junta de consultores independentes,se o risco envolvido for grande at a faseoperativa, e mesmo um possvel desco-missionamento da estrutura, completa.

    Barragens no Brasil

    14.966 barragens cadastradas

    89% para uso mltiplo de gua

    5% conteno de rejeitos de minerao4% gerao de energia

    2% conteno de resduos industriaisFonte: Agncia Nacional das guas

    Legislao e fscalizaoA lei 12.334 de 2010, que determina

    Poltica Nacional de Segurana de Barra-gens, que criou, dentre outras coisas, oSistema Nacional de Segurana de Barra-gens (SNISB), definiu os procedimentosa serem seguidos pelos tcnicos do De-

    partamento Nacional de Pesquisa Mineral(DNPM) durante a fiscalizao das bar-ragens de rejeito. O controle se faz pelaa anlise processual, na qual se avaliamos aspectos documentais, de atendimento legislao vigente e vistoria de campo,que envolve a realizao de verificaoin locode diversos aspectos referentes operao, manuteno, monitoramento, ede segurana.

    No entanto, a legislao no especificaquais ensaios e tecnologias devem ser

    utilizadas no controle das barragens.Somado a isso, o baixo nmero de fis-cais compromete o trabalho de fiscaliza-o e aplicao das leis o DNPM con-ta com 200 tcnicos especialistas pararealizar o controle de todas as barragensde conteno de rejeitos. de acordocom a prpria direo do departamento,o nmero insuficiente para atender to-das as estruturas.

    As barragens so classificadas pelosagentes fiscalizadores por categoria de

    risco, dano potencial associado e volu-me, com base em critrios gerais esta-

    belecidos pelo Conselho Nacional deRe-cursos Hdricos (CNRH). A classificaopor categoria de risco em alto, mdio oubaixo feita em funo das caractersti-cas tcnicas, do estado de conservaodo empreendimento e do atendimento aoPlano de Segurana da Barragem.

    Para especialistas ouvidos pela revistaMinrios & Minerales a legislao efiscalizao tem que acompanhar o de-senvolvimento das tecnologias e dosensaios tcnicos dessas estruturas. Odescompasso entre a adequao das leise a velocidade do surgimento e aprimora-mento das solues um dos principaisgargalos. Na parte de monitoramento, osregulamentos no preveem alguns en-saios at porque alguns equipamentos fo-ram lanados no ano passado, comenta

    Luiz Antonio Pereira de Souza, do Centrode Tecnologias Geoambientais do Institu-to de Pesquisas Tecnolgicas (IPT).

    Para o engenheiro Ruben Jos Ramos,da RJC Engenharia, no est na finalidadeda lei (ou da regulamentao) prever o usode equipamentos ou metodologias, issonormalmente do conhecimento geral emnormas (guidelines)e no estado-da-artee/ou no estado-da-prtica. A legislaono falha. Ela simplesmente nova eainda no est adequadamente utilizada.

    A lei apenas um documento, que deveter seu uso explicado na regulamentao

    (a qual ainda est em desenvolvimento).A fiscalizao normalmente insuficiente,seja por falta de verbas, seja por falta depessoal, seja por falta de experincia ememergncias, ainda mais tendo em vista ogrande nmero de estruturas de rejeitosexistentes, comenta.

    Aps a tragdia de Mariana (MG), umacomisso do Senado ir revisar a legis-lao de segurana de barragens, com oobjetivo de avaliar a Poltica Nacional daSegurana de Barragens e do Sistema Na-cional de Informaes sobre Seguranade Barragens. O DPMN tambm anunciouque precisa rever toda a normatizao darea e contratar novos consultores paraauxiliar no estudo em relao s barra-gens de minerao. Nesse sentido, e emconjunto com Agncia Nacional de guas

    (ANA), o rgo solicitou a participaodos empreendedores de barragens deminerao a participar da pesquisa des-tinada a elaborao do Relatrio de Segu-rana de Barragens (RSB) 2015 o prazopara envio das informaes se encerrouem 20 de dezembro.

    O DNPM relaciona 602 barragens de re-jeitos minerais porm, somente 397 delasesto enquadradas na Poltica Nacional deSegurana de Barragens (PNSB). Dessas,218 (duzentos e dezessete) localizam-se

    no estado de Minas Gerais. Em 2014, fo-ram vistoriadas 141 estruturas.

    Nmero de barragens de rejeitos de minerao no Brasil(por Estado e Criticidade)

    Estado Baixo Risco Mdio Risco Alto Risco Total / UF

    Amazonas 2 11 13

    Amap 3 1 4

    Bahia 9 1 10

    Gois 10 1 11

    Maranho 1 1 2Minas Gerais 212 2 4 218

    Mato Grosso do Sul 15 2 17

    Mato Grosso 21 1 1 23

    Par 49 8 57

    Paran 2 2 4

    Rio de Janeiro 1 1

    Roraima 6 6

    Santa Catarina 3 1 4

    Sergipe 2 2

    So Paulo 16 6 22Tocantins 3 3

    Total 353 18 26 397

    Fonte: DNPM

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