Lar da Criança Emmanuel - 50 Anos

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50 anos

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Livro com a história dos 50 anos de atividades do Lar da Criança Emmanuel, de São Bernardo do Campo/SP.

Transcript of Lar da Criança Emmanuel - 50 Anos

50anos

Há muito o quecontar...

Uma história que perdura por 50 anos coleciona in-contáveis acontecimentos. Passou pela vida de velhi-nhos, de crianças que se tornaram adultas e é ouvida hoje por outras, que montam na imaginação os qua-

dros de um passado muito diferente da realidade atual.Ela tem início poucos anos antes de 1959, quando um sonho

começou a fazer parte dos anseios de um grupo batalhador, que aprendeu a buscar a concretização de seus nobres ideais.

Um dos fundadores, Raymundo Rodrigues Espelho, 73 anos, é quem conta:

“Quando cheguei em São Bernardo do Campo, em 1959, vin-do de Catanduva, interior de São Paulo, praticamente na mes-ma época em que veio meu amigo do movimento espírita, Is-mael Sgrignolli, fomos participar do Centro Espírita Emmanuel, em São Bernardo, o único existente até então, na cidade. Lá co-nhecemos Manoel Martins Romero, Alberto D’Angeli, Milton Te-nório Cavalcante, Andrés Garcia Guerrero, Manoel Guarini, José Corrêa Gomes, Álvaro Moreira e Expedito Teófilo da Silva. Nesse

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grupo, já existiam estudos para se fundar um lar para crianças órfãs. Mas não tínhamos dinheiro e tampouco o terreno.

“O grupo tomou então conhecimento de que havia uma família espírita que possuía terras na zona rural da cidade, na antiga Linha Camargo, que mais tarde teve sua denominação mudada para Estrada Jurubatuba e depois para a atual Avenida Humberto Alencar Castelo Branco. Era uma trilha para pedestres e carroças. Não havia ônibus e os veículos eram raros. Ladeando essa trilha, apenas a grama e capim eram fartos. Não havia asfalto ou mesmo sarjeta.”

O casal Felipe e dona Leonor de Freitas Audi foi quem doou parte de suas terras – cerca de 6.000 metros quadrados – onde se inicia a história da instituição. No dia 30 de março de 1960, em As-

sembleia Geral realizada no Centro Espírita Emma-nuel, o projeto de um lar para crianças órfãs passa oficialmente a existir, tendo assim sido aprovado seu estatuto, eleitos os 33 primeiros membros do Conselho Deliberativo, Conselho Administrativo e primeira Diretoria.

Assinaram o livro de presença na Assembleia como conselheiros fundadores: Ismael Sgrignolli, Expedito Teófilo da Silva, Manoel Guarini, Ray-mundo R. Espelho, Alberto D’Angeli; Manoel Mar-tin Romero, José Corrêa Gomes. Ismael e os três últimos (todos já desencarnados) se sucederam na Presidência da Casa. Outros que participaram da fundação da instituição foram: Ernesto e João Domingues Tavares, Antonio Carlos de Carvalho, Maria Aparecida de Carvalho, Aluisio Parajara, Mil-ton Tenório Cavalcante, Rolando Coppini, Leonor

Termo de abertura da assembleia de fundação.

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pelho e Aurelino Pereira Lima.Na tarde de 31 de julho de

1960, o lançamento da pedra fun-damental do Lar da Criança Em-manuel levou muitos amigos e simpatizantes para a clareira aber-

de Freitas Audi e seu filho Ari de Freitas Audi (da família que doou a primeira metade do terreno e depois vendeu, a preço acessível, a outra metade), Antonio Lopes Raposo, Vanderlei Rodrigues Es-

Assinaturas dos presentes – conselheiro e fundadores – na assembleia de fundação.

Pedra fundamental, assentada com mensa-gem de Emmanuel, ata de fundação assina-da pelos presentes e um jornal do dia.

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D. Leonor Audi, doadora do terreno. Vista do terreno. Preparação para a obra.

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ta meses antes na mata. Logo de-pois, um pequeno lanche foi servi-do com muita alegria, na casa de dona Leonor, selando o importan-te acontecimento.

Mãos à obra – e literalmente na enxada –, aos poucos o terre-no é nivelado pelos próprios di-retores da casa, grande parte de-les sem o talho para tal função. Mas a necessidade era maior...

“Lembro-me de que, carregan-do baldes de concreto para en-cher as lajes do Lar, tive cãibras nos dois braços ao mesmo tem-po. Larguei tudo e enfiei-os em um latão cheio de água que esta-

va perto. Eu tinha então 21 anos”, conta José Perez Perez, que tra-balhou na Casa desde o início e fez parte da Diretoria. Tendo sido por muitos anos seu contador, mora hoje no interior do estado.

Antigos trabalhadores recor-dam do dinamismo de seu Al-berto D’Angeli, dizendo que ele incentivava a equipe, com frases que resumiam a grande verdade: “temos que pegar e fazer”.

Assim que o Lar foi fundado, uma coleta entre amigos foi rea-lizada, mas não chegou a somar mais que 90 cruzeiros. Não era nada perto do que seria neces-

sário. Foi quando se começou a fazer campanha para arrecadar sucatas em domicílio – papel, garrafa e ferro, pois plástico nem existia. Seu Corrêa, que era ma-çom, conseguiu entre seus con-tatos que a indústria automo-bilística Volkswagen doasse as sucatas – hoje recicláveis. Logo depois, seu Alberto D’Angeli teve sucesso, ao pedir em outra mon-tadora, a Willys, para que os re-síduos também viessem para o Lar. Por esse motivo, caminhões passaram a entrar e sair do ter-reno, até mesmo depois do pri-meiro pavilhão estar de pé.

Sucatas doadas pelas indústrias automobilísticas.

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Foi realizando a campanha da sucata que outros novos trabalhadores se somaram e marcaram a história da Casa, como a família Tonetto (Belmiro, Carlos, Pedro e Oripes e seus familiares). Muitos deles até hoje são dedicados tarefeiros.

Um ano rapidamente se passa e as paredes do Lar Emmanuel vão ganhando dimensão. A conclu-são da laje do primeiro pavilhão inspira uma gran-de ideia: fazer uma peixada beneficente.

A comunidade se mobiliza. Até mesmo ônibus grátis para o bairro, que ainda nem era servido pelo benefício, foi conseguido.

Finalmente o Lar pôde abrir as suas portas. No

dia 18 de outubro de 1964. Amigos, simpatizantes e autoridades do município compareceram à ceri-mônia e festividades. Cheirando a novo, naquela noite mesmo, a casa abrigaria as primeiras quatro crianças, que já estavam abrigadas nas casas de al-guns membros do grupo. Para recebê-las, faltava apenas a ligação dos serviços de água e esgoto, providência que o prefeito Higino Batista de Lima assumiria, em seu discurso pela manhã, e que real-mente se cumpriria na semana seguinte.

“A primeira criança – lembra seu Belmiro – foi o Roberto, que chamávamos de Xerife, por ser um menino bem grande. Tinha meses. Depois, vieram

No canteiro de obras, a promoção de eventos beneficentes.

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João e Marcos. O pai era moto-rista de ônibus e levava as crian-ças junto, por não ter com quem deixá-las. Também chegou a Wil-ma, cuja mãe morreu e o pai fi-cou sozinho. Veio junto com seu irmão, Osmarzinho, que por si-nal continua vindo sempre aqui. A Wilma, criança, via a mãe (em espírito) na janela. Tia Ruth, que cuidou das crianças do Lar por mais de vinte anos, e que não era espírita, arrepiava-se.”

Os bercinhos, que aos poucos iam sendo ocupados, tinham diversas procedências. Alguns doados pela indústria moveleira na cidade, e outros, usados, do-ados pela comunidade. Os col-chõezinhos, porém, foram feitos com as espumas e os retalhos de tecidos doados como suca-tas. Maria Aparecida Montoro Toneto, dona Cida, esposa de seu Belmiro Toneto, conta que as flanelas usadas para a limpe-

za das peças nas indústrias eram clareadas e delas saíram muitos pijaminhas para as crianças. “Fa-zíamos no Lar mesmo as cos-turas. Enquanto uma cortava, a outra ia costurando.”

Essa tarefa teve a grande de-dicação de outras companheiras, como dona Janette Rodrigues Sgrignolli, Célia Guimarães, Clarice Tonetto, Maria Elena S. Rodrigues e de outras voluntárias, em sua maioria esposas dos diretores.

Fachada do primeiro pavilhão concluído.

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Ambulatório médico, farmacêutico e odontológico.

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Vista da cozinha central.

Autoridades visitam o Lar. Atrás, o trabalho de seleção de sucatas.

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três caminhões que trabalhavam no transporte desse material. O incêndio finalizou as atividades com as sucatas e fez a Diretoria e amigos chorarem sentidos, o dia todo”, lembra Cida.

Mas, no dia seguinte, já co-meçaram a chegar caminhões de material de construção para “reconstruir” o salão. Muitas em-presas da cidade ajudaram com doações. Dona Odete Tavares Bellinghausen, por exemplo, já doava em outra instituição rou-pas para os necessitados, um projeto especialmente desen-volvido para tal função, que não havia ainda na cidade. A doação de material foi uma alavanca para uma nova fase de captação de recursos para manter a obra. Algumas semanas depois tinha início uma nova fase do Lar – al-moços e jantares beneficentes, servidos com alegria renovada pela equipe, agora reforçada de colaboradores.

“Por muitos anos, no galpão reconstruído, esses almoços se constituíram numa das realiza-ções que mais deixaram sau-dades, tanto para os trabalha-dores da linha de frente, como para nós, na época crianças. Foi a cartilha onde muitos espíritas, filhos dos trabalhadores da casa, entenderam o significado da ex-pressão solidariedade. A gente se testava como ‘gente grande’ nos serviços. A sensação que te-nho é que o nosso trabalho, ape-sar de crianças, fazia a diferença.

Picar legumes, servir o pão, reti-rar pratos, tudo isso fazia parte do trabalho... Tempos de boas recordações e sólidas amiza-des!”, recorda Izabel Rodrigues Vitusso, hoje vice-presidente do Lar e editora do jornal Correio Fraterno, que surgiu logo depois, em 1967, como o primeiro pro-duto da Editora Correio Fraterno, com o objetivo de divulgar o Es-piritismo, o trabalho social e as atividades do Lar.

São muitas as recordações. Gente disposta, que atendeu ao chamado de ajuda em uma obra que crescia e ampliava o número de seus assistidos, necessitando sempre de novos colaboradores.

“Cheguei aqui em São Bernar-do, vindo do interior, em 1945. Frequentava um centro espíri-ta na Vila Maria, em São Paulo. Foi quando soubemos do Lar, que ia receber crianças e estava precisando de ajuda. Pegamos o trabalho com amor. A gente tra-balhava com prazer mesmo, que rendia. Seu Manoel [Romero] tinha um coração enorme. Le-vava todo mundo de caminhão, tempos depois de irmos de pe-rua com o seu Corrêa” – recorda seu Pedrinho, 79 anos, o irmão mais velho da família Tonetto. “Na época dos almoços, no sá-bado eu chegava às seis da ma-nhã. Ia até acabar o almoço de domingo à tarde, todos os ter-ceiros domingos do mês. Todos trabalhavam. Tinha vez de aten-der quinhentas pessoas no dia.

“Como não existia linha de ônibus para o Lar, a gente vinha com o seu Corrêa [José Corrêa Gomes], presidente na época. Os homens vinham a pé, ele tra-zia só as mulheres e as crianças. Normalmente de sábado e do-mingo. Vínhamos com os filhos pequenos, eu com a Márcia e o Márcio. Tinha o Raymundo com a família (a Izabel e o André), o seu Corrêa com uma funcioná-ria dele, o Clóvis com a mulher e duas crianças, e às vezes a dona Maria, esposa do seu Manoel Romero. A diretoria vinha toda para trabalhar. Lembro-me do Is-mael [Sgrignolli], advogado, um homem estudado, o Raymundo, todo mundo ajudava no concre-to” – recorda dona Cida.

Esposa de Ismael Sgrignolli (desencarnado na década de 1980), Janette Rodrigues Sgrig-nolli compara o trabalho desses anos todos como o do passari-nho, que leva água no bico para apagar um incêndio. “É pouco, mas ele faz a sua parte. Pelo me-nos essas crianças tiveram um futuro diferente. Muitas teriam apenas a rua”, assinala.

Foram muitos momentos de alegria, de conquistas, e alguns poucos, mas marcantes, de dor. Como o incêndio no galpão, ain-da na década de 1960. Era o lo-cal onde se separava e se arma-zenava todo o material reciclável, fardos de papel; tecidos e outros materiais. “O fogo devorou tudo o que havia no recinto, inclusive

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Acolhimento e carinho dedicado às crianças.

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Lançamento da pedra fundamental do segundo pavilhão.

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E dava tudo certo. Um ajudava, o outro ajudava... Era uma festa.”

Segundo sua esposa, dona Clarice Tonetto, as histórias pessoais e a do Lar muitas vezes acabam se misturando. “O Lar foi muito importante para nossa vida. Aumentou nosso amor ao próximo. Eu adorei trabalhar assim, no que eu fiz. A história dessa Casa faz parte de nossa vida”, completa.

Daí para frente, também vieram as Noites da Pizza e o Chá e Bazar. Graças a isso, o segundo pré-dio foi erguido com o que era arrecadado.

Os depoimentos são unânimes em admitir que os eventos beneficentes tinham múltiplas fun-ções. Dentre elas a de propiciar que muitos pas-sassem pela Casa e conhecessem a qualidade do trabalho que ali era realizado, o que tornava o Lar uma referência.

Como profissionais ou voluntárias, diversas pes-soas passaram pelo Lar, prestando seus serviços e exemplificando o verdadeiro amor desinteressado, nas mais diversas atividades.

Para administrar as funcionárias, tarefeiros e as crianças, contratou-se primeiramente um casal e, só depois, dona Ruth Manzini chegou para ajudar na administração dos serviços e pessoas, tarefa que desenvolveu por muitos anos, tratando a to-dos, crianças, pais e colaboradores com muito cari-nho e conhecimento de causa. Ela permaneceu por décadas no Lar, até a sua desencarnação.

“Tia Ruth veio para cá com recomendações para trabalhar com crianças, tinha problemas no cora-ção. Dentre as restrições, ela não poderia descer escadas. Passou décadas aqui, subindo e descen-do. Envolveu-se tanto com as crianças que nunca mais lembrou do coração. Ela morreu de outra coi-sa” – relembra Belmiro Toneto.

Também Leonor Antoniassi (Tia Lolô), uma das mais antigas trabalhadoras da Casa, chegou em 1972. Veio do interior à procura de emprego. Hoje, aos 75 anos de idade, ainda na ativa, lem-bra que, quando veio para o Lar, havia em tor-no de 60 crianças. Dormia no emprego. Lavava e passava. Com a morte de dona Inácia, assumiu as tarefas da cozinha, sendo uma das responsáveis atualmente pela elaboração das mais de 25 mil D. Ruth Manzini: um trabalho de décadas.

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refeições mensais servidas. Ela conta:

“Sempre gostei daqui. Nunca faltou comida nessa dispensa. Sempre aproveitamos tudo, in-ventando cardápios que as crian-ças gostam. Meu dia até hoje co-meça cedo. Levanto às cinco, às seis já estou fazendo o café. Às oito já começamos o almoço”. Tia Lolô lembra muito bem das crianças. “Eles eram danados, o mais levado era o Manoel. Sem-pre me apeguei muito a eles. Só

Deus sabe. Quase morria quan-do as crianças iam embora. Era sofrido, mas se tivesse que mu-dar alguma coisa na minha vida, não mudaria nada”, conclui.

Maria Geni Francisco, uma das crianças acolhidas, hoje direto-ra da Creche, conta que um dos maiores apegos de Tia Lolô no Lar foi justamente com seu irmão, Gilmar. “Ele veio para cá doenti-nho e foi quem colocou o apelido nela de Tia Lolô, a mesma forma carinhosa com que hoje minha fi-

lha, Laís, que também frequenta a creche, a chama.

“Esta é minha verdadeira famí-lia”, diz tia Lolô, que deixou ca-samento e família consanguínea para depois.

Há fatos curiosos, claro, nesses 50 anos de Lar da Criança Em-manuel, por onde já passaram ao todo mais de 2.500 crianças. Raymundo Espelho recorda com muita emoção:

“Na época do internato, num domingo por mês, as mães vi-

Residência de D. Leonor de Freitas Audi, à frente do Lar da Criança Emmanuel.

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Raymundo R. Espelho e Maria Elena Rodrigues

Pedro Raymundo dos Santos Pedro e Clarice Tonetto

Diretores e voluntários do Lar da Criança Emmanuel:

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Belmiro Toneto Aparecida Toneto Janette Rodrigues Sgrignolli

Adão Ribeiro da Cruz

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nham visitar os filhos. Em um deles, uma mãe se-questrou o filho. Ela já estava entrando no ônibus, quando eu vi e dei um grito, pulando também para dentro do ônibus. No caminho, fui tentando con-vencer a mãe a retornar com a criança. O ônibus seguiu até próximo à Polícia Rodoviária, na via An-chieta, já em São Paulo. Na polícia, esclareci a his-tória. De lá seguimos para a delegacia, em São Ber-nardo, onde o delegado, Dr. Arimateia, um amigo da Casa, ajudou na solução do caso. Nem me lem-bro se fomos na viatura policial. Naquele tempo

não havia condução fácil. Essa história nos marcou muito, porque a mãe não tinha saúde mental para ficar com a criança; se tivesse, a criança não estaria no Lar. Mas ela fazia promessas ao filho de que o pai voltaria, que iria comprar carro, o que deixava o menino fixado na ideia! Muito triste!”

Em meio século, o Lar teve um progresso gigan-tesco. Até os anos 1980, talvez em virtude de ser um internato, as crianças chegavam subnutridas e enfermas. As preocupações dos dirigentes eram muitas nesse sentido. A impressão que fica, olhan-

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do-se para trás, é que não havia progresso. A mudança para o sis-tema de creche, com as crianças convivendo com seus familiares, trouxe vida nova para a Casa e uma integração maior com a co-munidade, compartilhando-se maiores responsabilidades.

O atual presidente do Lar, Adão Ribeiro da Cruz, lembra que as conquistas alcançadas acabaram envolvendo até par-ceiros, como o governo do Ja-pão, que possibilitou a instalação de uma nova unidade para am-pliar o atendimento à comunida-de, em dezembro de 2008. “Ago-

ra as crianças podem ficar até os 14 anos. Elas vêm nos horários alternativos aos da escola, como complementação dos programas educativos. Temos reforço esco-lar, atividades de arte, em mo-derno ateliê, biblioteca, capoei-ra, artes marciais, atividade com violão e música, e estamos pla-nejando também aulas de edu-cação física”, explica.

“Quando chegamos ao Lar com a esposa, Rosa Maria, em maio de 1980, começamos a participar dos eventos sociais. Nesta época, a instituição es-tava justamente passando seu

atendimento de orfanato para creche. Passados quase trinta anos, é com muita alegria que participamos de todas essas conquistas”, revela.

Ao saber da inauguração do novo pavilhão, em dezembro de 2008, Miltes Bonna, presidente do CEOS (Centro Espírita Obreiros do Senhor) e da IAM (Instituição Assistencial Meimei), ambos tam-bém de São Bernardo do Campo, manifestou seu carinho pelo gru-po e pela tarefa realizada:

“Sei da imensa emoção que envolve a todos nesse dia e sei também das abençoadas lutas

Lar da Criança Emmanuel recebe visita do então Cônsul Geral do Japão em São Paulo.

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realizada. Hoje, está comprovado como o Amor faz a diferença. É esse amor que alimenta vibra-toriamente todos nós, contex-tualizado no respeito ao outro, no carinho expresso em cada olhar. Por mais simples que apa-rentemente seja a tarefa execu-tada, podemos deixar marcas de luz pelo exemplo. Quando crian-ças e adolescentes recebem de nós um gesto de carinho e de atenção, multiplicarão, no dia a dia, essa forma de ser. A constru-ção de um mundo melhor come-

ça nas pequeninas mudanças.”Ela é uma das contemporâ-

neas, vinda da mesma cidade de origem de muitos pioneiros do Lar, Catanduva.

E as histórias não acabam. Ex-periências inesquecíveis de to-dos aqueles que vieram para ajudar, como a de seu Pedro Rai-mundo dos Santos, 66 anos, de Paraisópolis, Minas Gerais, que chegou na instituição em 1980, com poucos conhecimentos. “Vim por causa do Centro [Cen-tro Espírita Pátria do Evangelho,

para levar adiante o compro-misso assumido na Espirituali-dade. Transformar esse recanto abençoado em um ponto de luz onde a esperança renasça em cada dia, é tarefa que se realiza tendo Jesus como lema. E vocês conseguiram!

“Emocionada, recordo o dia da inauguração da pedra funda-mental. Todos nós, muito jovens, integrantes da Mocidade Espírita de São Bernardo do Campo, tão cheios de sonhos e entusiasmo também, de ver um dia a obra

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ligado à Casa]. Ganhei um livro de um amigo so-bre a Doutrina. Comecei a ler e a me entusiasmar cada vez mais. Depois conheci o Lar. Achei bonito seu objetivo e então alguma coisa me despertou. A primeira atividade minha e da Vanny [esposa] foi o evento da FEDES, Federação das Entidades Sociais, realizado anualmente com objetivo de arrecadar fundos para depois dividir entre as entidades. Mas foi a partir das Noites da Pizza, um evento que nós iniciamos, que passei a trabalhar pra valer. “O Lar me deu um sentido na vida diferente. Onde a gen-te se valoriza e se acha valorizado, como ser huma-no. E esse valor é o Bem Maior, que leva a gente a não parar.”

Há também histórias daqueles que vieram dar sentido a outras vidas, como a da própria direto-ra e pedagoga Maria Geni Francisco. Emociona-da, ela relata:

“Com cinco anos, em 1972, quando eu vim para cá, eu era a mais velha de meus irmãos que pu-deram ser aceitos, pelo limite da idade: éramos eu, o Gilmar, a Gisleine e a Cida. Eu pensava: vou ficar aqui para cuidar dos meus irmãos. Tudo o que sei hoje aprendi com a Tia Ruth. No começo, tive dificuldades. Talvez por medo de me apegar novamente a alguém e voltar a perder, como foi com a perda da minha mãe. Foi Tia Ruth quem me ensinou a conversar, sem gritar. Ela tinha uma fala mansa, mas firme. Era bem rígida. Quando ela morreu, eu tinha 16 anos e foi uma perda muito difícil para mim. Lembro que o Lar era muito bo-nito, bem cuidado. O chão era um ‘brinco’ e hoje, eu procuro fazer a mesma coisa. Quem chegar na creche, vai ver que as crianças são bem cuidadas. Não posso dizer que minha vida foi ruim. Foi de aprendizado. Aqui eu tive só que dividir o amor com um montão de crianças. O que eu recebi no Lar, tento dar para essas crianças hoje. Olhando para trás, eu gostaria de ter tido mais entendi-mento, ter aceitado melhor algumas coisas, por-que, se eu perdi minha mãe aos cinco anos, eu cresci e tive meus irmãos próximos de mim. Se não tive um pai presente, tive uma outra estrutura que me acolheu. Eu só tenho a agradecer. Tudo veio a seu tempo. Amadurecer é assim”.

Geni permaneceu no Lar até os 23 anos. “Saí da-

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Público presente durante o lançamento da nova unidade de atendimento, em parceria com o governo do Japão.

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qui casada. Aí fiz faculdade de pedagogia”, conta, recordando com emoção suas dificuldades de infância. “As pessoas vinham nos visitar e eu adorava mostrar a ‘minha’ casa, mas eu não gos-tava quando elas vinham para olhar as crianças, fazia cara feia mesmo, principalmente se de-monstravam desejo de levar al-guma criança; e eu já ficava de olho nos meus irmãos para ver se não iriam levá-los.”

Para ela, lembrança boa mes-mo é recordar quando seus ir-mãos retornaram, depois de ten-tarem uma experiência morando, distantes, com o pai. Outro mo-mento feliz foi sua volta para o Lar, como profissional. “Foi o momento de eu falar: agora vou fazer a minha parte, tudo o que fizeram por mim eu vou retribuir. Na verdade, eu nunca saí daqui”, confessa sorrindo.

São histórias assim, de supera-ção, esperança e muita coragem

que acabam impulsionando dire-tores, colaboradores, funcioná-rios e assistidos. É preciso fazer bem e sempre mais. Valorizam sim o passado, mas não perdem o foco do desafio do presen-te, com olhos de futuro, sempre pleno de sonhos, projetos e rea-lizações. É o que explica o presi-dente Adão Ribeiro:

“Há três anos, quando assu-mimos a presidência, assumimos o desafio de ampliar a casa. Ela já estava no máximo, na época com 180 crianças. A partir daí, colocamos os projetos para se-rem executados. Um deles era a ampliação da creche, para que pudéssemos aumentar o núme-ro de crianças; outro seria a co-bertura da quadra, também uma necessidade na época; o terceiro, a ampliação do salão de even-tos; e o quarto, um prédio para o centro espírita. Alguns projetos já estão aprovados pela Prefeitu-ra, outros em andamento, aguar-

dando parcerias e recursos finan-ceiros para que novos sonhos se tornem realidades. É o Lar sem-pre atento, tentando se adequar às necessidades da comunidade, que também tem se empenhado em fazer a sua parte, comparti-lhando conosco tantos traba-lhos. Sozinho, ninguém faz nada. Acho que ainda vão ficar algu-mas coisas para a outra Diretoria dar sequência. Mas o importante é que temos projetos. Sonhamos e trabalhamos.”

A participação dos pais tam-bém é fundamental no trabalho desenvolvido, o que pode ser percebido nas palavras de Ana Paula Verçoza, coordenadora da Comissão de Pais do Lar Emma-nuel, mãe de Matheus Verçoza, de quatro anos: “Aqui é uma escola de verdade. A educação é com-pleta, tem apoio e orientação aos pais, tem tudo o que uma criança precisa. É claro que precisamos melhorar sempre, precisamos

Ana Paula Verçoza, mãe do aluno Matheus Verçoza.

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reformar a quadra, mas a esco-la precisa de mais parceiros. Tem que ter ajuda de novos parceiros para poder crescer, porque tem criança doida para entrar aqui. Ninguém quer perder a vaga”.

Os depoimentos de tantas ou-tras pessoas importantes nessa história não param aqui.

Quantas Marias, Josés e Má-rios estão ligados à casa e guar-

dam recordações valiosas, que precisam ser resgatadas.

O desafio continua grande, mas conta com muita coragem, disciplina e bom-ânimo de todos que se doam a esse projeto, que celebram com gratidão e alegria cada conquista.

E o que é melhor de tudo é que essa história é viva e não pode ter um capítulo final tão cedo. Conti-

nuemos, pois a história do Lar não vai parar. Aliás, pode ser até que esteja apenas começando. Depen-de de cada um de nós. Sigamos em frente, pois, com a gratidão no coração, o trabalho nas mãos e a fé em Deus, na certeza de que apoio nunca nos faltará.

O melhor motivo de tudo isso há de sempre permanecer em todos que por aqui passarem: AMOR.

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LAR DA CRIANÇA EMMANUELPresidente: Adão Ribeiro da Cruz – 1º Vice-presidente: João Sgrignoli Júnior – 2ª Vice-presidente: Izabel R. Rodrigues Vitusso – 1º Tesoureiro: Pedro Raymundo dos Santos – 2ª Tesoureira: Tânia S. Teles da Mota – 3º Tesoureiro: José Natal Inácio – 1º Secretário: Vladimir Gutierrez Lopes – 2º Secretário: Vicente Rodrigues da Silva – 3º Secretário: Sérgio Sukis – Procurador: Raymundo Rodrigues Espelho – Biblio-tecária: Rosa Maria Scucel da Cruz – Diretora Administrativa: Gení Silva FranciscoAv. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 – Vila Alves DiasCEP 09851-000 – São Bernardo do Campo – SPTelefone/Fax: 11 4109-8938 | [email protected] | www.laremmanuel.org.br

AGRADECIMENTOSCriação e produção do folder institucional: Fred Aguiar ([email protected]); Fotolitos e impressão do folder institucional e do convite do evento: Master’s Gráfica e Editora (www.mastersgrafica.com.br); Roteiro do vídeo institucional: Érica Sandrini ([email protected]); Criação e produção do vídeo institucional: Tori Produções ([email protected]); Roteiro e de-senhos de As aventuras de Fraterninho especial: Hamilton Dertonio (www.packcom.com.br); Website: Celso Rodrigues e Eduardo Tani ([email protected]); Comunica-T (www. comunica-t.com.br); Escritório Brasil – Contabilidade e Serviços ( [email protected]); Fun-dação Salvador Arena (www.fundacaosalvadorarena.org.br); Joyce Stefana da Silva; Maria Helena Rossi; Medical Systems (www.medicalsystems.com.br); Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo; Silvio Luis Francisco; ZF Sachs (www.sachs.com.br); e a todos os demais que apoia-ram e colaboraram na realização do Projeto 50 Anos do Lar da Criança Emmanuel.

EDITORA CORREIO FRATERNOPresidente: Izabel Regina R. VitussoVice-presidente: Belmiro TonettoTesoureiro: Adão Ribeiro da CruzSecretário: Vladimir Gutierrez Lopes

CONSELHO DO PROJETOAdão Ribeiro da Cruz, Cristian Fernandes, Eliana Haddad, Izabel Vitusso e Tânia TelesEDITORCristian FernandesJORNALISTASIzabel VitussoEliana HaddadPESQUISAIzabel VitussoFOTOSAcervo do Lar da Criança Emmanuel e Regina Rodrigues

DIRETOR DE ARTE E PRODUTORBruno Tonelwww.brunotonel.com.br

COLABORADORESGení Silva FranciscoGeorge De MarcoPriscila Bernardo PescaraRaymundo Rodrigues EspelhoRosângela Bernardo PescaraSérgio SerkysTânia Teles

FALE COM A GENTEAv. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 – Vila Alves DiasCEP 09851-000 – São Bernardo do Cam-po – SPTelefone/Fax: 11 4109-2939editora@correiofraterno.com.brwww.correiofraterno.com.brwww.twitter.com/CorreioFraterno50 Anos – Lar da Criança Emmanuel é uma publicação especial da Editora Correio Fraterno, exclusivamente para distribuição virtual.