Laurinda Branco da Cunha correr para ir à missa.” “Quando não havia outra coisa, andávamos à...
Transcript of Laurinda Branco da Cunha correr para ir à missa.” “Quando não havia outra coisa, andávamos à...
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ANEXOS
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NDICE DE ANEXOS
Grelha n 1 ........................................................................................................................ 4
Grelha n 2 ...................................................................................................................... 10
Grelha n 3 ...................................................................................................................... 14
Grelha n 4 ...................................................................................................................... 17
Grelha n 5 ...................................................................................................................... 22
Grelha n6 ....................................................................................................................... 27
Grelha n7 ....................................................................................................................... 31
Grelha n 8 ...................................................................................................................... 37
Grelha n 9 ...................................................................................................................... 43
Grelha n 10 .................................................................................................................... 46
Grelha 11 ........................................................................................................................ 54
Grelha n 12 .................................................................................................................... 59
Grelha n 13 .................................................................................................................... 63
Grelha n 14 .................................................................................................................... 69
Grelha n 15 .................................................................................................................... 73
Grelha n 16 .................................................................................................................... 79
Grelha n 17 .................................................................................................................... 83
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Grelha n 1
Residente
Ano de Nascimento: 1934
Estado Civil: Viva
Naturalidade: Viana do Castelo
Habilitaes acadmicas:
Profisso: Comerciante
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao sem dificuldade.
Higiene pessoal, sem dificuldade.
Vestir-se - sim
Fala - bem
Viso - boa
Audio diz ser boa
Memria - boa
Orientao espacial - sim
Orientao temporal - sim
Humor - sim
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior - sim
Trabalho domstico
Comunicao - comunicativa
Administrar dinheiro sim (o que tem em
sua posse)
Tomar medicamentos - instituio
Ainda consigo comer sozinha, s
preciso de um pouco de ajuda para me
lavarem as costas e esfregarem creme no
meu corpo
J no vejo muito bem mas para isso
uso culos e ouvir acho que ainda ouo
bem.
Ui! A minha memria ainda se lembra
de muita coisa, no me esquecem as
coisas com muita facilidade.
Gosto de ter o meu dinheirinho para
comprar algumas coisas, at o meu genro
um dia veio aqui e trouxe-me 50 euros,
pensava que eu no tinha, e tambm vou
at ao mercado que tem aqui perto com a
D B. (tambm utente residente do lar)
comprar o que me faz falta.
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Famlia:
A utente tem uma nica filha, 3 netos,
sendo que um est no Brasil.
Fala da famlia com muito carinho,
entendem-se todos muito bem.
Casada emigrou para a Amrica durante
alguns anos e regressou a Portugal por
motivos de sade de marido. Uma vez em
Portugal abriram um comrcio de compra
e venda de carnes.
Com a morte do marido viu-se na
obrigao de continuar a cuidar da sua
sogra que entretanto acamou, ficando
nesta situao durante 7 anos, faleceu
quando j contava 102 anos.
A minha filha j casou 27 anos e o meu
genro como se fosse hoje que entrou na
minha casa, nunca nos chateamos, ele
muito meu amigo. Quando eu digo alguma
coisa, o meu genro diz: Voc que sabe.
Eu estava na minha casa e eles na deles.
A casa deles era muito pequena. Um certo
dia eu ca, parti as costelas, j fui operada
e tirei um peito e como eu no podia estar
sozinha, vim para ca. Eu que pedi para
me arranjarem um lar porque como no
podia ir para a casa deles pois j estavam
l os meus compadres (pais do genro, um
com 92 e outro com 94 anos), no havia
lugar para mim. O que eu queria era ficar
o mais perto possvel de Viana do Castelo,
mas como no pode ser, arranjaram-me
aqui e aqui estou.
Casei aos 26 anos e fui para a Amrica,
mas o meu marido ficou doente e tivemos
de voltar. C em Portugal tnhamos dois
talhos.
Eu tomava conta da minha sogra e quando
o meu marido morreu a minha sogra ainda
era viva e durou mais sete anos do que o
meu marido. Estava acamada e fui eu que
tomei conta dela.
Vivncias da juventude:
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uma senhora que tem muito que contar,
que para alm de festeira tambm era
namoradeira.
Quando era nova, era sempre mordoma
de todas as festas, at me deram um fato
vermelho.
De noite no ia para as festas porque
no me deixavam, era sempre de dia.
Casei aos 26 anos, namorei 4 anos com o
meu marido, sempre com o mesmo, mas
antes namorei com outros rapazes (ria-se
quando relatava este tempo).
Era meu vizinho e passou a ser meu
marido, mas fui eu quem o arranjei, no
foram os meus pais, a minha me s me
dizia: - Se bem fizeres a cama, bem
dormes nela.
Ia s festas da Agonia, ia ver sempre o
corteja das mordomas, das lavradeiras e
no domingo o fogo do jardim e as
serenatas. Ia sempre a p porque no
havia carros, por vezes para ningum
saber embrulhava os sapatos num pano ou
numa saca e amos descalas assim
ningum desconfiava que amos para a
festa.
Ai! Quando amos erva ao campo e os
rapazes iam connosco para ajudar os
cestos, os feixes.
A nossa casa era uma casa muito grande
de lavoura, trabalhava muito mas tambm
me divertia.
Ia sempre missa, andava sempre a
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correr para ir missa.
Quando no havia outra coisa,
andvamos roda e ponhamos os rapazes
no meio e cantvamos.
Institucionalizao:
O seu marido faleceu e como tinha a sua
sogra a seu cargo s veio para lar quando
a sua sogra faleceu e tambm por motivos
de doena.
A utente tem muita pena de ver a casa
como est agora, quando vai at l e v
tudo abandonado com tanta erva.
Os primeiros dias quando abri a janela do
meu quarto e s via monte, campos e onde
eu vivia havia uma estrada, tinha um
supermercado, eu via sempre tanta gente,
fiquei to triste!!
De manh quando me levantei, ai que
tristeza me deu!
Est tudo sem granjear e tenho muita
pena, mas no posso.
Chorei muito para deixar a minha
casinha. O meu netinho quando me v
triste diz-me: Av, eu vou crescer, ganhar
muito dinheiro e vou fazer uma casa para
mim e para ti. Eu gosto tanto deles, fui eu
quem os criei.
Eu entrei no lar em setembro de 2011, em
maio fiz anos, nunca me cantaram tanto os
parabns, foi no quarto, foi no refeitrio e
deram-me prendas, um par de sapatos e
uma blusa, mas eu tambm lhes comprei
alguma coisa para os anos delas (duas das
funcionrias do lar que lhe deram as
prendas).
Primeiro fiquei num quarto com outra
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Tambm tem dificuldade em se
relacionar, entrando mesmo em conflito
com duas das utentes (D A. e D Aa.),
chamando-a de corvo.
A sua nica filha vem de vez em quando
visit-la e tambm vem busca-la para
passar tempo em famlia.
A utente faz parte de um grupo de idosos
que, dois de cada vez vo at Rdio
local, a Rdio Ondas do Lima, participar
num programa, todas as quintas feiras,
das 16:30 at s 17:00.
O lar tem por hbito, para alm de muitas
ouras atividades tambm fazem
caminhadas e a utente gosta sempre de
utente, a D C., mas ela fazia muito
barulho de noite e eu disse Senhora
Diretora, quando houve possibilidade
passei para um quarto particular, assim
que estou bem.
No lar j tive muitos contras, mas tenho
muita gente por mim e gosto de estar
aqui.
Aqui j tive dois atritos com duas utentes
do lar, com a D C. e com a D Aa., mas se
tiver mais no vai ficar assim.
Rezo todos os dias o tero em conjunto
com os outros utentes na sala, menos no
fim-de-semana.
A minha filha no me vem buscar todos os
fins-de-semana porque tem muito trabalho,
vem de vez em quando, leva-me para a
casa dela e durmo no quarto do Rodrigo
(neto que foi para o Brasil).
s caminhadas vou quando me deixam ir,
quando me convidam.
Vo os mais queridos, porque no cabem
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participar, mas
.
Participa em todas as atividades do
Centro, ginstica, passeios e festas.
Gosta de jogar as cartas e tem pena que
no gente interessada em fazer esse tipo
de atividade.
No nada que a preocupe assim tanto a
velhice, at que ela diz
todos na carrinha.
Aqui h muitos cimes porque uns vo e
outros no. Ainda ontem, a M. (utente
residente do lar) no quis jantar noite,
estava toda zangada porque no saiu fazer
a caminhada.
Fao parte das pessoas escolhidas para ir
falar rdio com outras pessoas. Gosto de
participar nas atividades aqui no lar e
gosto tambm de sair:
Ainda pouco tempo fomos a Ftima.
Gosto muito de jogar s cartas, mas no
ningum que o faa
J morreram outros antes de mim e mais
novos e eu ainda aqui estou com tantos
trambolhes que tive, tudo o que me
aconteceu.
Ainda no chegou a minha hora, no
posso pensar que vou morrer, s pensei
quando estive muito doente, mas graas a
Deus ainda aqui estou.
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Grelha n 2
Residente
Ano de nascimento: 1918
Estado Civil: Viva
Naturalidade: Arcozelo
Habilitaes acadmicas: No andou na escola
Profisso: Agricultura
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao - Dependente
Higiene pessoal ajuda total
Vestir-se Dependente
Fala - bem
Viso Fraca
Audio - fraca
Memria - Excelente
Orientao espacial - boa
Orientao temporal - boa
Humor - Excelente
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior No
Trabalho domstico
Comunicao - comunicativo
Administrar dinheiro - No
Tomar medicamentos
A utente encontra-se fisicamente
debilitada, visto que est acamada, e
necessita de ajuda total em todas as
tarefas, apresenta uma memria excelente,
a chamada memria de elefante, recorda
factos e acontecimentos sem dificuldades
bem como tambm comunica com fluidez
expondo as suas ideias com clareza e no
deixa de dizer as suas brincadeiras Sou
pobre mas sou rica na lria, e ainda
Um pobre nem quieto nem calado
Famlia:
Casei com 23 anos e tive quatro filhos
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Do seu casamento aos 23 anos, teve 4
filhos, uma rapariga e trs rapazes, sendo
que a nica filha faleceu ainda beb. A
morte da filha est associada a uma histria
que a utente no capaz de esquecer.
Cada nome dado aos seus filhos tem um
significado
A utente mantm bom relacionamento com
os seus filhos.
Um certo dia estava a costurar e uma
senhora entrou e disse-me: - Ai que linda
menina voc tem. Parece que me
embruxou. Dali a dois dias ela ficou
doente e morreu logo a seguir. Morreu-
me nos braos no largo de Cames
O meu marido ia sempre ver qual era o
nome dos santos do dia em que eles
nasciam para lhes dar esse mesmo
nome.
Vivncias da juventude:
Uma passagem da sua vida bem preenchida
de trabalho e do gosto pelas borgadas da
aldeia mas nunca virada para a dana.
A noite tambm no era desperdiada.
E os trabalhos eram vendidos na feira de
Paredes de Coura, que se realizavam
quinzenalmente.
Danar no era o meu forte mas um dia
fui danar para aprender. Eu era de
Arcozelo e um rapaz que era da Ribeira
pediu-me para danar com ele, mas ele
encostou-se a mim e ficou logo com o
pau teso. Ento eu disse-lhe que no
sabia danar s para sair da beira dele e
nunca mais quis danar com rapazes, fui
sempre com raparigas.
Era uma casa de lavoura, tinha 4 vacas.
De noite fazia seres a bordar e de dia
trabalhava no campo. Eu ganhava muito
dinheiro, fazia toalhas para vender na
feira.
Saa, sozinha, de casa por volta das 5
ou 6h da manh mas em Cepes j
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Entre os namoros, cimes e as intrigas,
casou aos 23 anos e o enxoval j estava
preparado.
encontrava mais gente. s 8h tinha de
estar l na feira em Paredes de Coura
para vender.
Chegou um dia em que ele disse: -
Posso vir ter contigo no domingo? -
Claro que podes, disse-lhe eu. E assim
comeou o namoro.
Ele falava com outras raparigas e eu
disse-lhe: ou elas ou eu. Ele respondeu-
me: mas eu s te quero a ti.
Tinha uma dzia de lenis da teia e
mantas de farrapos.
Institucionalizao:
A utente optou pela
institucionalizao porque
devido a problemas de sade
no lhe era possvel continuar
a viver sozinha.
A senhora encontra-se
institucionalizada, acamada
mas com grande sentido de
humor, prova disso so as
quadras que a utente sabe e
cantava na sua juventude e que
se encontram escritas num
quadro pendurado na parede
do seu quarto.
Eu vim para c porque as minhas pernas comearam a prender-se e eu
no conseguia estar sozinha. O corpo di-me, mas o pior so as pernas.
Aqui estou, aqui estarei
Aqui me hei-de deixar estar
O amor que aqui me trouxe
Aqui me h-de buscar.
Casai-me meu pai casai-me
Casai-me que bem podeis
O casar aos catorze
E eu j tenho dezasseis.
Anjinho da minha guarda
Guardai o meu corao
Eu escrevia-te uma carta
Se tu soubesses ler
Vais a dar a ler a outro
E tudo se vai saber.
Tenho um amor tenho dois
Tenho trs e no quero mais
Para que quero mais amores
Se eles no me so leais.
Adeus que me vou embora
Adeus que membora vou
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Quanto a visitas, no lhe
faltam, os filhos sempre que
podem esto l para dar dois
dedos de conversa.
Para que em mim se perca
O preo da remisso.
Adeus que me vou embora
Embora eu me quero ir
Sou criada de meu pai
J no quero mais servir.
Do outro lado do rio
Tem meu pai um castanheiro
D castanhas em Agosto
Uvas brancas em Janeiro.
A cantar e a danar,
ganhei uma saia nova
Agora vou ganhando fitas,
para deitar roda.
Vou-me embora porque eu quero
Que a mim ningum me mandou
meu amor de to longe
Vem de longe para o perto
J me di o corao
De te ver nesse deserto.
Adeus meu amor adeus
De mim no levas nada
Mais vale ires embora
Do que eu ficar enganada.
Meninas vamos ao coxo
O coxo tambm se ama
O coxo l por ser coxo
Vai aos saltinhos para a cama.
Eu queria cantar alto no tenho peito que me assuba,
Vou pedir ao meu amor para ver se ele me ajuda.
O A. vem ver-me de vez em quando. No domingo vem sempre, muito
meu amigo. O C., est em Frana, quando vem c tambm vem sempre
visitar-me.
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Grelha n 3
Utente de Centro de Dia
Data Nascimento:1944
Estado Civil: Solteira
Naturalidade: Refios
Habilitaes acadmicas:
Profisso: Agricultura
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao - s
Higiene pessoal - s
Vestir-se - s
Fala - bem
Viso - boa
Audio - boa
Memria - fresca
Orientao espacial - sim
Orientao temporal - sim
Humor - sim
Comportamento -normal
Deslocao ao exterior - sim
Trabalho domstico - no
Comunicao - comunicativa
Administrar dinheiro no ( a prima)
Tomar medicamentos - sim
Utente autnoma, do centro de dia, solteira
e dependente monetariamente de uma
prima.
comunicativa e mantm bom
relacionamento com os restantes utentes,
dentro da instituio.
Famlia:
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A filha que ficou em casa com os pais,
solteira. Cuidou deles, mas um dia os pais
faleceram e a sua vida complicou-se porque
encontrava-se sozinha, embora tivesse mais
irmos. Para no estar sozinha foi morar
para Torres Vedras com uma irm, s que o
carater no dava um com o outro e fez
fasca.
Neste momento a ligao que tem com a
famlia, uma prima onde a utente dorme
todos os dias e passa o fim-de-semana. O
relacionamento no dos melhores entre as
primas.
A sua prima quem gere tudo, at o prprio
dinheiro da senhora, as tarefas domsticas e
as compras tambm so realizadas pela
mesma.
Ela zangou-se comigo duas vezes, uma
l e outra c em Refios. Ento eu disse-
lhe que no ia mais com ela.
A minha prima que tem o meu
dinheiro, eu quando quero alguma coisa
tenho de lhe pedir e s vezes ela no mo
quer dar.
Olhe ,eu quero ir ao dentista e preciso
de umas botas novas porque estas esto
velhas, mas ela resmunga sempre quendo
eu lhe peo dinheiro.
Vivncias da juventude:
semelhana da maioria dos utentes do
lar, dedicou toda a sua vida ao trabalho no
campo, ora para os de casa ora ao jornal
para angariar algum dinheiro.
As festas e as desfolhadas eram o seu
passatempo favorito. Tambm dedicou
algum do seu tempo Igreja.
Sempre trabalhei na lavoura, andava ao
jornal.
Gostava de ir para as festas e ento as
desfolhadas que eu gostava. No fim de
desfolhar havia po quente com sardinhas
e cervejas para toda a gente.
Quando era nova fui catequista.
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Institucionalizao:
Os problemas de sade apareceram e tudo
se complicou, o que levou uma assistente
social a tratar do seu problema e encontrar
uma soluo.
Uma vez ter encontrado um lar e sentindo-
se bem, a utente queria ainda mais se fosse
possvel, para o seu conforto e
estabilidade.
Quando so realizadas atividades ou festas
na instituio verifica-se que a utente est
sempre pronta para participar, seja para
falar, danar ou cantar, larga logo o saco e
salta para a pista.
Vim para aqui porque me deu um
enfarte, estava sozinha e comecei a gritar
at que algum me ouviu e chamou o
INEM. Estive 15 dias no hospital
Gostava muito de estar aqui de noite e de
dia, como no posso vou-me embora
tardinha e durmo na casa de uma minha
prima, e no fim-de-semana tambm.
J gostava de nova e agora continuo a
gostar de cantar e danar, mas j no
como dantes.
Gosto de tudo o que se faz aqui no lar,
eu vou para tudo o que me convidam.
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Grelha n 4
Utente Residente
Ano de nascimento: 1926
Estado Civil: Casada
Naturalidade: Refios Ponte de Lima
Habilitaes acadmicas: 4 classe
Profisso: Supervisora, Regente, Costureira
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao - s
Higiene pessoal s
Vestir-se - s
Fala - bem
Viso usa culos
Audio - satisfatria
Memria - fresca
Orientao espacial - boa
Orientao temporal - boa
Humor - bom
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior - sim
Trabalho domstico
Comunicao - comunicativa
Administrar dinheiro - sim
Tomar medicamentos
Atualmente uma senhora que ainda
mantm as suas capacidades fsicas e
funcionais: autnoma, alimenta-se sem
dificuldades, fala e ouve bem. Gosto
muito de sarrabulho e cozido
portuguesa, mas fao muito cuidado com
o que como para no engordar e porque
tenho que ter dieta.
Recorda factos e acontecimentos sem
dificuldades e tambm identifica os
elementos de caracterizao temporal.
Est capaz de tomar as suas prprias
decises, administra o seu dinheiro e por
vezes desloca-se ao exterior para realizar
as suas pequenas compras ou ir at ao
cemitrio.
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Famlia:
A utente gosta que lhe chamem
Mariazinha.
Uma famlia pequena e hoje todos
dispersos uns dos outros.
Uma senhora que teve uma vida um pouco
agitada aps ter-se casado aos 50 anos
com um Sr. J divorciado e com filhos.
Deste casamente no h filhos.
Quando deixou de ser regente no ficou
parada, j casada, foi com o marido para
Frana onde ficou a trabalhar durante 14
anos, mas por motivos de sade teve de
abandonar mais cedo do que aquilo que
desejava e regressar de novo sua terra
natal.
Amargurada com a vida diz
Aborda o tema da sexualidade e a relao
com o marido a esse nvel que no era dos
melhores antes de entrar no lar e da
muitas das discrdia.
Por vezes a utente que se desloca at
capital para visitar os seus familiares, mas
so os sobrinhos que a vem buscar de
carro.
Toda a gente me conhece por
Mariazinha.
Tenho dois irmos, que esto tambm em
lares em Lisboa.
Eu no tenho filhos, mas ajudei a criar
os do meu marido porque a me deles
morreu ainda eram eles muito pequenos.
Eu tinha de vir porque estava doente,
mas ele - refere-se ao marido podia ter
ficado a ganhar mais dinheiro, porque
que veio atrs de mim?
Nunca me devia ter casado.
Eu vou s vezes a Lisboa visitar os meus,
eles vem buscar-me aqui ao lar e vem
trazer-me.
Vivncias da juventude:
Com 86 anos, a utente, assim que gosta
de ser chamada, o seu nome Maria Isabel
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e a vida dela uma histria.
Aos 20 anos queria mais alguma coisa
alm da aldeia de Refios, situada no
Concelho de Ponte de Lima, onde residia,
foi ento que decidiu ir para Lisboa
espera de encontrar melhor situao
profissional, onde ficou durante 17 anos.
Entre o tempo que regressou de Lisboa e a
poca de ser regedora, tirou um curso de
costura que lhe serviu, alis, ainda hoje lhe
til dentro do lar, chegou mesmo a fazer
trabalhos de costura a domiclio em casas
de fidalgos.
Fala do percurso profissional dos pais
assim como do seu com orgulho. Seguiu
as pisadas dos seus progenitores e que
ento explica de uma forma clara qual
era o papel de um regente escolar.
Foi complicado em termos de poder ter
uma reforma uma vez que todo o tempo
Fui para Lisboa trabalhar como
supervisora, na casa do Gaiato, a
chamada casa dos rapazes e fiquei l 17
anos.
Queria aprender mais e ficar com um
diploma.
Os meus pais eram regentes escolares,
davam aulas apenas 2 e 3classe. Eu
aos 38, 39 anos tambm fui regente
escolar como os meus pais, tinha apenas a
4 classe, fiz um exame que era necessrio
na altura e tive 14 valores, o necessrio
para exercer o cargo de regente. Dava
aulas 2,3 e 4 classe. Os regentes
apenas podiam lecionar a 2 e 3 classe
mas como eu estava longe de casa, numa
aldeia dos Arcos de Valdevez S. Jorge -
lecionava tambm a 3 classe. Lecionei
durante 5 anos, durante o tempo do
Salazar. Logo a seguir ao tempo
Salazarista cortaram muita coisa e os
regentes acabaram logo com eles.
Como regente nunca tive descontos, s
fiz descontos do tempo que esteve em
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que trabalhou como regente nunca teve
descontos, s fez descontos do tempo que
esteve em Frana a trabalhar. Em Portugal
teve de pagar umas cotas na casa do Povo
para conseguir mais um pouco de reforma,
acumulando assim da Frana.
Frana a trabalhar. Em Portugal teve de
pagar umas cotas na casa do Povo para
conseguir mais um pouco de reforma.
Institucionalizao:
Entrou apenas este ano, h 6 meses na
instituio, sozinha, porque o marido,
segundo a utente acabou por desistir no
ltimo momento.
A seguir ao almoo sobe at ao seu quarto
e passa l quase o tempo todo, sobretudo
em horrio de visitas.
No seu quarto pode ver-se uma cafeteira
eltrica, caf solvel, bolachas, para poder
lanchar tranquila.
Nota-se, embora seja uma pessoa que gosta
da brincadeira, mas como uma carapaa
que ela fabricou para se proteger, dado que
o medo persegue-a.
Os problemas de sade acumulam-se e o
O meu marido como eu vim para aqui
contra a sua vontade, agora s vem ca
quando resolve fazer espalhafatos, pois
ele deu o nome que tambm vinha comigo
para aqui e na ltima roeu a corda e disse
que no vinha nem queria que eu viesse.
Mas eu tenho uma palavra e vim e ele que
faa o que entender. Eu j tinha dado a
minha palavra instituio que ia, peguei
nas minhas trochas e foi.
Gosto de c estar, fui uma escolha,
como era para vir eu e o meu marido
tinha um quarto com duas camas, mas
como e decidiu no vir passei para um
quarto s com uma cama, privado.
No meu quarto tenho tudo, o meu caf, a
cafeteira, porque de tarde fico sempre
resguardada no meu quarto com receio
que ele (o marido) aparece por ai e me
envergonhe na frene de toda a gente.
Agora j no posso fazer o que fazia
porque as pernas no me deixam.
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fsico j no acompanha.
Falando da morte, a utente, diz:
A deciso de vir para o lar e a recusa aps
consentimento do marido transformou-se
num pesadelo para a utente. A violncia
passou a fazer parte do quotidiano desta
mulher, entre palavras, a violncia
psicolgica e as ameaas fsicas no
pararam.
Tem um sobrinho que se ocupa das suas
coisas e ele que vem visit-la porque
o que est mais perto.
Tambm j fez parte da equipa que
participa no programa de rdio Reviver o
passado, programa do qual guarda boas
recordaes.
A morte no existe, ns que
morremos.
Cheguei a temer pela minha vida.
O J. M. vem visitar-me e nele que eu
confio e me trata das minhas coisinhas.
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Grelha n 5
Utente Residente
Ano de nascimento: 1928
Estado Civil: Viva
Naturalidade: Brandara Ponte de Lima
Habilitaes acadmicas: 2 classe
Profisso: Domstica
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao sem dificuldade
Higiene pessoal sem dificuldade
Vestir-se sem dificuldade
Fala sem dificuldade
Viso usa culos
Audio algumas dificuldades
Memria - Boa
Orientao espacial - Boa
Orientao temporal - Boa
Humor - sim
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior quando sai com
os outros utentes da instituio
Trabalho domstico
Comunicao Comunicativa, sobretudo
com a colega com quem fez amizade.
Administrar dinheiro - sim
Tomar medicamentos sim
As suas capacidades fsicas e funcionais:
autnoma, recorda factos e
acontecimentos sem dificuldades,
identifica os elementos de caracterizao
temporal, comunica verbalmente com
fluidez expondo as suas ideias com
clareza, administra o seu dinheiro e
ocasionalmente desloca-se ao exterior.
Apenas se verificam algumas dificuldades
ao nvel da audio.
J no ouo muito bem, s vezes o
senhor enfermeiro at me faz limpeza aos
ouvidos, de resto se no fosse a doena
estava bem.
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Famlia:
Famlia extensa, me de 13 filhos, mas
um morreu com trs anos. Uma famlia
feliz embora o trabalho fosse muito e um
marido ciumento e por conseguinte
violento.
Embora no tivesse um trabalho
remunerado, o da casa e os 12 filhos j
eram suficientes.
Tive 13 filhos, mas um morreu com trs
anos, quando a mais pequena j tinha
quatro anos pegava num banco e dizia-
me:- Me d a teta.
Aos 48 anos tive um aborto e depois no
tive mais nenhum.
No tinha trabalho, ocupava-me dos
filhos e da casa.
Casei com 21 anos e o meu marido tinha
26, ele trabalhava como ferreiro, mas no
havia trabalho e foi para Angola, eu nessa
altura j tinha 3 filhos, depois foi para a
Frana, j fiquei com 10filhos e um na
barriga. O meu marido reformou-se da
Frana porque em Portugal no quis
descontar.
Enquanto o meu marido estava fora eu fui
morar com os meus pais em Brandara.
O meu marido veio para ca porque
tambm no tinha trabalho e algum nos
arranjou uma casa em Refios. Depois
arranjamos dinheiro e fizemos uma
casinha.
Era o meu marido que comprava tudo
para casa, no me dava dinheiro.
Eu descontava para a Casa do Povo, mas
eu no tinha dinheiro e pedia-lhe, mas ao
chegar ao fim do ms ele zangava-se
sempre comigo que era para no me dar o
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dinheiro para os descontos.
Fui visitar os meus filhos Frana, j era
viva, passei pela Sua e foi at Lisboa ver
os outros. Os meus filhos queriam que eu
ficasse com eles em Frana, mas por causa
da lngua no quis. Fiquei em Lisboa
durante 18 anos com o meu filho mais
novo, depois ele arranjou uma moa e eu
disse-lhe: - Se quiseres traz-la para casa
podes que eu no me importo, ficai vossa
vontade, mas eu vou para um lar.
O meu marido batia-me, tinha muitos
cimes, no podia falar para os homens.
Quando eu ia lavar roupa para os
lavadouros, os homens passavam e
viravam a cara para o lado por causa do
meu marido, ele tinha conta em mim. Eu
gostava tanto de cantar mas depois de
casar nunca mais cantei.
Homens.!!!! Chegou-me aquele e
sobrou-me.
Muita porrada que eu levei.
Passei uma vida negra. Uma triste vida.
Vivncias da juventude:
uma senhora mais reservada e tmida.
O meu missal no assim to grande -
Referindo-se sua colega.
Namorei um ano, ele j era ciumento e eu
-
25
dizia minha me, mas ela dizia-me que
era por eu ser muito bonita.
Tive tantos namorados que gostavam de
cantar e danar e tive de casar com
aquele, fui a minha sorte!
Antes de casar trabalhava na lavoura.
Institucionalizao:
de realar a fora de vontade e a
felicidade de uma senhora com tanta
vontade de vir para o lar e a forma como
exprime essa felicidade.
A utente uma senhora calma, e reservada
e que tem as suas preferncias no que diz
respeito aos outros utentes, notando-se uma
grande amizade e companheirismo com a
colega, tambm ela utente residente,
encontrando-se sentadas lado a lado na sala.
Primeiro fui para o Lar da Correlh,
durante dois meses, at arranjar um
lugar aqui, no que no gostasse de la
estar mas no conhecia ningum, era
uma tristeza, eu dizia: Ai que tristeza eu
tenho.
Quando tive lugar aqui, peguei nos
trapos e vim para aqui, ao menos aqui
conheo toda a gente. Mas primeiro quis
vir ver, vim com o meu filho, mostraram-
me tudo e eu gostei, disse logo: - Quero
vir para aqui hoje!.
Gostei muito e estou muito contente.
Toda a minha vida gostei do lar. Eu via
as pessoas na televiso, o que eles faziam
nos lares, e gostava muito porque faziam
tantas coisas.
A minha reforma pequena, so os
meus filhos que do dinheiro para ajudar
a pagar o lar.
-
26
Mas no se esconde ao mesmo tempo de
falar acerca de quem gosta menos
Esta senhora tambm outra das utentes
que pertence ao grupo que compe os
elementos do programa da Rdio Ondas do
Lima Reviver o passado.
Pensava que vinha para aqui o corvo,
ai que eu j ia fugir, aquela mula branca
andava sempre a peguilhar connosco
(referindo-se a uma colega do lar).
-
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Grelha n6
Utente de Centro de dia
Ano de nascimento: 1939
Estado Civil: Solteiro
Naturalidade: Refios Ponte de Lima
Habilitaes acadmicas: No tem estudos
Profisso: Construo civil/lavoura
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao - s
Higiene pessoal ajuda parcial
Vestir-se - s
Fala - bem
Viso - boa
Audio diz que boa
Memria - boa
Orientao espacial - sim
Orientao temporal - sim
Humor - bom
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior
Trabalho domstico
Comunicao - comunicativo
Administrar dinheiro - sim
Tomar medicamentos
um senhor autnomo, comunicativo e
com bom sentido de humor.
Consigo, graas a Deus ainda comer
sozinho e vestir-me tambm.
Eu estou em casa, s venho para aqui de
dia ento tenho de me vestir.
As coisas no me esquecem.
O dinheiro, eu tambm sei como gast-
lo.
Nunca andei na escola.
Famlia:
Tenho uma irm, que mora por cima na
casa onde eu moro mas no quer saber de
-
28
So nove irmos, mas vive s numa casa,
no rs-do-cho da casa do irmo, sem
quaisquer condies, uma famlia
destruturada.
mim. Ela viva, andava e anda sempre
atrs de mim porque quer o meu dinheiro
e no fala para mim.
A minha irm bebe e depois tambm no
regula bem.
A minha irm uma trafulhice e
interesseira a minha irm. a nica
porque as outras no so assim, todas
falam para mim, mas no tem posses para
cuidar de mim, no tem dinheiro. Os meus
sobrinhos, filhos da minha irm que mora
no primeiro andar da mesma casa que eu,
eles falam para mim mas ela no gosta
que eles falem, ento anda sempre a
meter-lhes minhocas na cabea.
Vivncias da juventude:
Um senhor que sofreu na vida,
comeando no sei familiar com os maus
tratos que o pai lhe infligia.
Viviu uma juventude com muito trabalho,
entre a construo civil e a agricultura.
Pouca diverso, a no ser as danas de
folclore no convento. Era como uma
espcie de troca de servios, danavam e
em troca durante a semana iam para l
Ns ramos 9 filhos, quando era novo fui
servir, aos 12, 13 anos. Fugi ao meu pai
porque ele batia-me.
O meu pai s se preocupou em ir buscar o
meu dinheiro e no a mim.
Comecei por trabalhar numa quinta em S.
Pedro D Arcos, a cuidar de uma vacaria,
depois fui para a Areosa, trabalhar na
floresta a abrir estradas, cortvamos os
pinheiros e arrancvamos os ps dos
pinheiros.
Mais tarde fui para Lisboa onde fiquei 10
anos, trabalhava nas obras, fui de comboio
-
29
trabalhar.
aos 17 anos.
Voltei minha terra a trabalhar na
lavoura, andava para uns e para outros,
andava ao jornal, em Refios. Tambm
fazia o bagao nessa quinta, trabalhava de
noite e de dia. Sachava o milho e regava,
semeava batatas. Nesta altura ainda a
minha me era viva e eu comia em casa.
Danava folclore no convento, os gajos de
l eram tocadores e ento faziam o baile.
As pessoas iam para o baile e os do
convento pediam para irem trabalhar para
eles, para os ajudar.
Institucionalizao:
Est na instituio e veio de livre vontade,
fica apenas na valncia de Centro de Dia.
Tem pena em no estar no Centro
Comunitrio todos os dias porque quando
no vem come apenas po e bebe, no
sabe nem tem ningum para cozinhar.
Fui eu que pedi para vir para aqui
porque me aleijei.
Comecei a vir para o Centro
Comunitrio, s Centro de Dia, depois de
me ter aleijado e no tinha ningum para
me ajudar. Houve um dia que tive uma dor
to grande e no tive ningum para me
socorrer. a carrinha que me vai buscar
a casa na semana.
Comigo toda a gente se d.
Gostava de estar aqui de noite e de dia,
porque no sbado e no domingo no venho
e eu preciso tanto.
Quando no venho para aqui no como
nada porque ningum o faz, como s vezes
-
30
Um Senhor cansado de tanto trabalhar e
agora s se deixa descansar, mas ainda
gosta de ir at ao caf beber os seus
copinhos e diz no sofrer de nenhuma
maleita.
po, quando o tenho, ou ento se venho
tenho de andar a p durante uma hora a
p.
Eu j ando tanto a p e quando o
professor diz para eu fazer ginstica, no
me apetece muito, e eu j lhe disse.
A carrinha no me vai buscar porque eu
moro muito longe e para vir a p no
posso, eu no sei cozinhar e no como,
bebo e como po.
J trabalhei muito, agora descanso.
-
31
Grelha n7
Utente Residente
Ano de nascimento: 1923
Estado Civil: Viva
Naturalidade: Refios
Habilitaes acadmicas: sem habilitaes literrias
Profisso: Domstica e agricultura
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao s
Higiene pessoal - no
Vestir-se com ajuda
Fala - devagar
Viso - boa
Audio - boa
Memria - fresca
Orientao espacial - sim
Orientao temporal - sim
Humor bom
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior - no
Trabalho domstico
Comunicao - comunicativa
Administrar dinheiro
Tomar medicamentos
uma senhora que necessita de ajuda
parcial.
capaz de se alimentar sozinha, mas no
se desloca, necessrio um carrinho de
rodas.
Quanto higiene e vestir-se tambm
necessita de ajuda.
Tem uma boa memria, noo espacial e
temporal. A viso, com ajuda de culos v
bem e exprime-se de forma clara embora
um problema de garganta a faa cansar
com facilidade.
Bom sentido de humor e comunicativa.
-
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Famlia:
Com uma famlia abastada, para a poca,
mas com muito trabalho mistura. Uma
famlia onde a escola no fazia parte dos
planos.
Depois de casada, a utente passou a viver
com o marido numa casa herdada do
sogro.
O desgosto de amor que o seu filho mais
novo sofreu e que o levou morte. Uma
histria contada por uma me ainda em
sofrimento ao fim de tantos anos.
A suspeita de que uma terceira pessoa se
Eramos uma famlia que vivamos todos
muito bem. Mas o meu pai e a minha me
nunca nos deixaram ir escola porque
havia sempre muito trabalho.
Do lado do meu marido eram 4 irmos,
eles tinham uma quinta que foi repartida
por todos, eu e o meu marido ficamos com
a casa, era muito grande.
O meu filho, mais novo casou e ficou
connosco, depois casou-se com uma
rapariga da vila, ela era nova que precisou
do consentimento dos pais para casar, era
tudo uma panelinha. No disseram ao meu
filho que davam uns ataques mulher e
pouco tempo depois comearam a dar,
uma vez deu-lhe e eu e o meu marido
estvamos em casa sentados mesa, tinha
uma vara do gado perto, ela pegou nela e
queria bater no meu marido, eu disse-lhe
O que ests a fazer?- e ela tambm queria
bater em mim.
Os ataques davam-lhe de bastas vezes, s
vezes vinha para a casa da me dela.
Houve uma altura que lhe arranjaram
trabalho numa fbrica, e certo dia vieram
dizer-nos que um senhor ia sempre ter
fbrica e era ele quem a trazia.
Disseram-me a mim e comearam a dizer
-
33
aproximava da sua nora fez com que o seu
filho entrasse em sofrimento sem saber o
que fazer para o travar, a no ser o
silncio.
Uma casa grande de mais para duas
pessoas, ao que decidiram, a utente e o
marido passar para o rs-do-cho, fugir
um pouco s recordaes do andar de
cima.
Uma senhora que no queria incomodar
ningum quando o seu marido faleceu,
passou a viver s numa casa arrendada
junto da casa da sua filha.
tambm ao meu filho, ele ficava muito
triste at nem queria comer, ele vinha a
casa comer porque andava a trabalhar nas
obras. At um dia disseram-lhe A tua
mulher uma puta! E eu tinha tanta pena
dele porque ele andava muito triste. Ela
engravidou e at disseram que o filho no
era do meu filho. Ela fugiu de casa vrias
vezes, ia para a casa da mo e quando se
lembrava vinha para casa do meu filho e
ele aceitava-a at a um dia que ela
desapareceu durante um ms e quando
veio ter casa do meu filho ele fechou-lhe
a porta e no a deixou entrar. O meu filho
comeou a ficar doente, meteu-se cama e
da morreu. Quando morreu foi a mulher
que decidiu para onde ele ia ns os pais
no podemos fazer nada.
Fiquei com o meu marido em casa
durante 5 anos, depois do meu filho
morrer, o meu marido ficou doente e
acabou por morrer no hospital em Viana,
nesta altura eu disse Tone eu no vou
ficar na casa to grande, vou passar para
a de baixo (uma anexo construdo para a
filha ir morar quando casou, que mais tarde
saiu).
Quando o meu marido morreu a minha
filha queria que eu fosse para a casa dela
-
34
mas minha filha no vou porque tu e o
teu homem no vos entendeis muito bem!.
Mas arrendei uma casa pequena beira
dela, pagava 30 contos, eu ganhava
100contos, 50 do meu marido e 50 meus,
chegava para tudo e ainda dava muito
minha filha que ela dizia que no tinha.
Vivncias da juventude:
Embora a prioridade fosse o trabalho e
sempre o trabalho na lavoura, a utente
adorava danar, s que havia quem
tentasse impedir. Com um pai rigoroso
mas mesmo assim conseguia dar o seu
pezinho de dana e missa no se podia
faltar.
Afirma ter sido uma menina bem
comportada, segundo os ensinamentos do
Eu gostava tanto de danar, mas o nosso
pai no nos deixava.
Todos os domingos amos missa, era o
meu pai que nos repartia, porque aqui em
Refios havia trs missas, umas iam mais
cedo e outras a outras horas que era para
tomar conta do gado, ns tnhamos 4 bois,
para trabalhar e no para cobrir.
O meu pai deixava-me ir para as
sachadas, para as lavradas e l eu
danava.
Na nossa casa, ele nunca se importou
que eu danasse, ns fazamos os
trabalhos e depois, tnhamos uma eira em
pedra, uns amigos do meu pai tinham uma
concertina e ento toda a gente cantava e
danava, eu muito gostava.
O meu pai e a minha mo diziam sempre
que havia uma soga se elas no se
-
35
pai.
Uma senhora muito engraada que relata a
sua juventude e o tempo de namoro, tempo
em que um bom namorado era aquele que
possua um bom dote.
Depois de 10 anos de namoro com um
rapaz de quem ela no gostava, mas que
possua o dote, acabou por terminar o
namoro e namorar com outro, com o qual
veio a casar.
portassem bem, ento ns andvamos
direitinhas.
Sabe eu era muita linda, quando tinha
15 anos comecei a namorar com um rapaz
que era muito feio, mas tinha de ser
porque o meu pai queria... Sabe, na altura
o que contava era o dote, que eles e elas
tinham e esse meu namorado tinha um
bom dote por isso que o meu pai
gostava. O meu pai at dizia que ele no
era assim to feio. Mas eu tinha vergonha
dele, mesmo assim namorei 10anos com
ele.
Um certo dia encontrei outro rapaz de
quem eu gostava e como ele tambm tinha
dote, (no to grande quanto o outro), e o
meu pai tambm gostou dele, ento casei
com ele.
Institucionalizao:
Sozinha em sua casa at ao dia que algum
passou e lhe fez a proposta de ir para o lar.
Foi uma deciso da prpria vir para o lar e
ficar como residente, s que para alguns o
dinheiro era mais importante do que o seu
Um dia passou uma carrinha aqui do lar e
uma menina parou e disse-me D C.
voc no quer ir para o lar, esta aqui
sozinha e podem vir os ladres.
Eu disse minha filha, mas ela dizia-me
sempre para eu no vir porque ela queria
era que eu lhe desse sempre dinheiro.
-
36
bem- estar.
Hoje considera que fez uma boa escolha.
Um dia, foi logo no incio quando isto
abriu, eu decidi mesmo vir para aqui, e
estou to bem.
A minha filha vinha visitar-me duas, trs
vezes por semana, mas sempre para vir
buscar a massa. Um dia ela veio aqui e eu
fui casa de banho, ela nem me deixou
apertar as calas, estava sempre a dizer
para eu lhe dar dinheiro, eu enervei-me e
disse-lhe: - pe-te a andar daqui para
fora. Quando eu sa da casa de banho
ela j no estava aqui, se calhar com a
vergonha, e zangou-se comigo porque eu
no lhe dei dinheiro e agora no me vem
visitar. Ela tem um filho que tem um
bocadinho de deficincia e esse vem
sempre visitar.
Os meus filhos que esto em Frana,
quando vem de frias visitam-me sempre.
Estou to bem aqui! tudo gente
boa.
-
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Grelha n 8
Utente de Centro de dia
Ano de Nascimento: 1936
Estado Civil: Viva
Naturalidade: Refios Ponte de Lima
Habilitaes acadmicas: Sem estudos
Profisso: Criada de servir/lavoura
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao-s
Higiene pessoal -s
Vestir-se -s
Fala -bem
Viso - boa
Audio - boa
Memria - boa
Orientao espacial - sim
Orientao temporal - sim
Humor - bom
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior
Trabalho domstico
Comunicao - comunicativa
Administrar dinheiro - sim
Tomar medicamentos
uma senhora autnoma, comunicativa,
com bom sentido de humor, mas um
pouco conflituosa.
A utente faz questo de administrar o seu
prprio dinheiro poupando o que pode
para deixar tudo pago e algum para os
filhos Vou pondo um pouco de lado, se
morrer os meus filhos no precisam de
gastar dinheiro no funeral. Os meus filhos
dizem para que que eu quero o
dinheiro? At agora no comi nenhum
dinheiro aos meus filhos e ainda consigo
pr um bocado de lado.
Os trabalhos domsticos vo-se fazendo
aos poucos Ainda consigo fazer as
minhas coisas, vou fazendo paro e
quando posso volto a fazer.
-
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Famlia:
Casou aos 22 anos e aps 50 anos de
casamento afirma estar arrependida em ter
contrado matrimnio, o seu marido no
era assim to fcil, tendo-lhe infligido
maus tratos durante 30 anos.
Durante meses viu-se sozinha com os seus
filhos, sem que o marido desse notcias.
Sem marido e sem os filhos por perto,
sente a solido deambular, embora o
relacionamento com os filhos seja bom.
Chegou a ser emigrante, partiu e deixou
todos os filhos que j eram adultos em
Portugal sozinhos.
Arrependi-me de me ter casado, assim
no me afligia. O meu marido era muito
mau, bateu-me durante 30anos, estive
casada com ele durante 50 anos e por fim
que nos dvamos bem Deus levou-mo.
Tive 13 filhos mais a perca de um, agora
tenho 11 vivos, a que me resta aqui a P.
(tambm utente residente do lar).
Dou-me bem com os meus filhos, por eles
dou a minha vida. Passei muito para criar
os meus filhos, o meu marido esteve 7
meses em Lisboa, no dava notcias, tinha
la outra.
Agora vejo-me arreliada de estar
sozinha.Tenho receio que me acontea
alguma coisa, a minha irm tem as chaves
da minha casa e se no me v vai l a casa
ver.
Estive 14 anos em Frana j era casada,
os meus filhos j eram de maior idade e
ficaram c sozinhos.
Vivncias da juventude:
Comeou muito nova a trabalhar, a
necessidade assim a obrigou.
Quando tinha 7 anos foi trabalhar, foi
servir para Crasto (Ribeira Ponte de
Lima). Fui muitas vezes pedir para matar
-
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Passou dias difceis, a comida no
abundava e viu-se obrigada a pedir para
matar a fome, a vergonha e ao mesmo
tempo a coragem de ir ter com algum por
uma questo de subsistncia.
O dia para esta utente comeava muito
antes de amanhecer, no todos os dias,
mas quando era para ir para o monte.
Criada de servir, diz ter sido tratada como
fazendo parte integrante da famlia onde
exercia funes domsticas.
A histria de amor da utente com o seu
primo e a rutura por causa dos caracis.
a fome.
Tinha vergonha de pedir, s vezes
sentava-me na eira e o senhor da casa
perguntava-me o que que eu queria, mas
a senhora (esposa) j sabia o que eu
queria, ento dava-me a tigela do caldo e
o po.
Passei muito, levantava-me s 2 horas da
manh para ir para o monte, trabalhava
ao jornal para ganhar, agora um regalo
viver!
Fui servir para uma senhora mais rica,
passeava com ela, ia comer com ela ao
restaurante. Em Santa Luzia, iam pr-me
numa mesa parte e comida diferente, mas
a senhora no deixou, eu comi com ela na
mesma mesa. Fui com ela para Lisboa. Se
eu no tivesse sado da beira dela se
calhar vivia bem.
Servi at aos 21 anos, aos 22 anos casei-
me.
Fui para a casa do meu tio, o meu primo
queria casar comigo, mas ele queria que
eu fizesse a permanente e eu no queria,
tinha um cabelo que me dava pelo rabo.
Eu gostava do meu primo e se no fosse
isso eu at casava com ele. Eu ia sempre
com ele e os irmos, gozava quanto quis,
queria-me para casar e por isso nunca me
-
40
A vontade do pai no foi respeitada, logo
houve represlias.
desrespeitou.
O meu pai queria que eu casasse com o
meu primo e quando eu namorava com
outros batia-me.
Institucionalizao:
Foi por influncia de um dos filhos que a
utente decidiu ir para o lar como residente
de centro de dia.
H trs anos que est na instituio, mas
tem dificuldade de se relacionar com
alguns dos utentes, sejam eles residentes ou
do Centro de dia. Neste momento esta fora
de questo entrar no lar como residente,
apenas fica de dia.
Quando fiquei viva, 8 ou 15 dias
depois o meu filho veio a casa e disse: -
Me sozinha no esta bem porque pode
dar-lhe alguma coisa, vem para a minha
casa ou para um lar!.
Eu no queria ir para a casa do meu
filho porque a minha nora tem muito
gnio, e ento ele perguntou-me se queria
o lar da Vila ou o lar de Refios e eu
disse-lhe que queria vir para Refios.
H trs anos que estou aqui no Centro
de dia.
1 gostava de ficar de noite e de dia,
porque nunca me peguei com ningum,
agora j no quero ficar porque a da
areosa muito malcriada.
No estou l dentro porque est la uma
senhora da Areosa que me detesta.
Aqui na instituio j acertei o passo a
um senhor que me disse uma coisa que eu
no gostei e com a minha filha tambm
-
41
No fica muito tempo dentro da instituio,
gosta do seu espao s ou a conversar com
algum, mas mais distante da sala onde se
encontram pessoas com quem a utente diz
no gostar. A utente acaba por passar a
maior parte do dia no exterior da
instituio, por opo, sentada numa
cadeira porta de entrada no deixando de
participar em atividades e sadas
organizadas pela instituio.
Com uma personalidade forte que revela
dificuldade em perdoar quem quer que seja
que a tenha magoado.
Tem pena que algumas das atividades
tenham acabado e outras no sejam
proporcionadas com mais frequncia
So apenas trs utentes com quem no
consegue entende-se, talvez uma questo
de orgulho! Com os outros utentes
entrou no quarto dela todo nu, ela
levantou-se da cama e assapou-lhe.
Um dia ao ver a minha filha ir buscar o
meu casaco que estava na minha cadeira,
ela disse: - Ai vem a vaca!
No quero conversar com essa mulher!
Com o de cadeira de roda, se eu falar na
carrinha ele ralha comigo, primeiro foi
por causa do A., porque ele emborracha-
se e cheirava a cigarro e lcool. Ele disse
que as minhas filhas eram uma camada
de putas. Ele um burro!
Eu estou ca fora assim no ouo e no
conto.
Quem me magoar no consigo falar com
essa pessoa, fico nervosa.
Dou-me bem com todos, s menos com
esses trs, no tenho queixa de mais
ningum.
Gosto de sair com os outros utentes,
antes ia a Ponte de Lima ginstica,
dana e agora acabaram com isso. Gosto
muito das caminhadas que fazemos
agora.
por causa da d Areosa que eu no
fico na ginstica na sala.
-
42
relaciona-se de forma normal.
Hoje com 76 anos, utente do centro de dia
e quando abordada acerca da forma como
sente e vive a fase da vida em que se
encontra fala
As foras vo diminuindo, o cansao de
tanto trabalhar notvel
Quando chove ponho-me debaixo do
alpendre ou ento dentro na entrada.
Antes trazia uma cadeira e s vezes
sentavam-se nela e eu dizia que era
minha, mas diziam que no estava
marcada, ento eu resolvi trazer uma de
casa, assim ningum ma tira.
No tenho paixo nenhuma de deixar o
mundo, s peo a Deus Nosso Senhor que
me leve como a minha me (a me faleceu
de repente e no sofreu nada).
Queria andar a trabalhar e que me desse
e ficasse. S se est c no mundo para
sofrer. Parece que at era feliz que me
desse e ficasse, a gente tem de morrer.
Agora penso que tenho tudo de velho e
tenho de pagar para ver tudo limpo,
porque se eu pudesse trabalhar pensam
que eu estava aqui?.
-
43
Grelha n 9
Utente Residente
Data Nascimento: 1957
Estado Civil: Solteiro
Naturalidade: Refios
Habilitaes acadmicas: 1 classe
Profisso:
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao sem dificuldade
Higiene pessoal sem dificuldade
Vestir-se sem dificuldade
Fala com alguma dificuldade
Viso - boa
Audio - boa
Memria Esquecimentos mais ou menos
frequentes.
Orientao espacial - sim
Orientao temporal -
Humor - sim
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior sim, com a
instituio
Trabalho domstico
Comunicao - boa
Administrar dinheiro - no
Tomar medicamentos sim
Apesar de um atraso cognitivo mostrado
pelo Sr. Antnio, um homem cheio de
vida, um senhor que gosta de ajudar nas
tarefas do lar, um senhor que se mostra
sempre disponvel no que diz respeito a
ajudar os mais debilitados, amigo de
toda a gente, sempre bem-disposto.
Famlia:
Uma histria repleta de sofrimento e Dormia no cho da casa de banho, na
-
44
tristeza.
Um utente cujas relaes familiares no
eram as mais desejadas para um ser
humano.
Com a famlia no tem nenhuma ligao,
apenas com o amigo de sempre que quando
vem c de Frana visita-o no Lar e leva-o a
passear.
loja, tinha tbuas no cho e eu dormia em
cima, porque a minha irm fechava-me a
porta e no me deixava entrar.
O meu amigo quando vem de Frana,
vem buscar-me para ir com eles passear e
liga-me s vezes para aqui. A mulher
tambm me ajudou muito, a S.
Vivncias da juventude:
Par alm da carncia afetiva, somavam-se
tambm as dificuldades financeiras, logo
carncias alimentares bsicas. Muitas das
vezes s se alimentava graas ajuda de
um amigo ou de outras pessoas da
freguesia.
Um verdadeiro amigo que lhe matou a
fome muitas vezes e que ainda hoje lhe
telefona para o lar. Era este amigo que
pagava na mercearia o que ele comia, as
sandes e s vezes a sopa.
Eram as pessoas de fora que me davam
de comer.
s vezes eu tinha fome e ligava para um
amigo e eu dizia: - A minha irm no me
da de comer.
Ele dizia-me: - Vai ao A. (a mercearia) e
ele que te d sandes. e ele pagava.
Institucionalizao:
De seu nome A., mas todos, na instituio
lhe chama carinhosamente de T..inho.
Andava a vaguear pelas ruas, ora dormia ao
-
45
relento, ora dormia encostado a alguma
coisa, at que um dia sempre conseguiu ser
institucionalizado.
Tanto que tentou entrar numa instituio
que conseguiu.
Embora sem o acordo da irm, mas com a
ajuda de um cmplice, um amigo,
conseguiu chegar instituio.
Sente-se muito bem no Lar.
um Senhor que ajuda muito os outros no
Lar, foi possvel observ-lo ajudar outros
idosos empurrando os carrinhos de rodas
para os levar para o refeitrio, vai trabalhar
na horta da instituio. novo, autnomo,
carinhosos para com os outros utentes e
com fora e vontade para ajudar os mais
debilitados, at pega na vassoura e varre o
que v sujo em qualquer lado.
Eu ligava sempre para a Santa Casa,
mas diziam sempre que no havia vagas,
todos os dias. Um dia liguei para a Casa
da Caridade e disseram-me: Vamos
ver. Fui Junta de Freguesia, eu
chorava e o Presidente ajudou-me. Eu
vim aqui falar sozinho com a Doutora, eu
chorava.
Eu quis vir para aqui porque passava
fome e dormia fora de casa.
Custou-me vir para aqui, tive sorte.
Eu para tirar a roupa de casa foi de
noite, a minha irm dizia: - No dormes
Tone. porque eu tinha a luz acesa. Eu
enchi o saco da roupa, atirei-a da janela
abaixo e fugi de noite de casa, atravessei
os campos (ele apontava em direo aos
campos que atravessou que se avistavam
do Lar) a p com o saco s costas, meti o
saco numa carrinha de um amigo e vim
para aqui, o saco ainda est aqui.
Aqui estou bem, tenho roupa lavada,
comidinha
-
46
Grelha n 10
Utente Residente
Data Nascimento: 1942
Estado Civil: Casada
Naturalidade: Caminha
Habilitaes acadmicas: 4 classe
Profisso: Agricultura
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao
Higiene pessoal
Vestir-se
Fala -bem
Viso
Audio - boa
Memria - excelente
Orientao espacial
Orientao temporal
Humor- bom
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior
Trabalho domstico
Comunicao - comunicativa
Administrar dinheiro
Tomar medicamentos
Uma senhora invisual e acamada h seis
anos.
Dependente totalmente, com uma boa
memria e muito faladora.
Famlia:
ramos quatro irmos, mas uma minha
irm foi criada com os avs desde que eu
-
47
A famlia era composta pelos pais e pelos
quatro filhos.
H uma retaguarda dos avs, presente,
para ajudar a famlia que passa um perodo
difcil aquando do nascimento da utente.
Casada h 40 anos e sete meses, com um
senhor que viuvou e ficou com dois filhos.
Uma vez que os seus enteados se viram
privados da me biolgico pro motivo de
falecimento, a utente passou a ser
madrasta e me ao mesmo tempo.
Do seu matrimnio apenas resultou um
nico filho.
doena no conseguiu escapar, atirando-
a para uma cama h j seis anos. Com
nasci. Eu nasci tinha ela 19 meses. Depois
a minha me no lhe correu muito bem
depois do parto, estive muito malzinha.
Ento os meus avs levaram-na com
eles.
Trabalhei na lavoura at casar e
continuei depois de casar. Fiz 40 anos e 7
meses no dia de Natal. O meu marido era
vivo. Ficou vivo com 40 anos e os
filhos, um com 11 e outro com 9anos.
No por ser meu marido mas ele era
muito jeitoso era. Com 42 anos, quando se
casou comigo, era muito jeitoso.
Fui eu quem os criei. E ainda tinha o
sogro, o pai da outra mulher. Cuidei dele
2 anos.
O meu filho tem 38 anos, e solteiro. J
la teve uma moa connosco e eu at
gostava muito da rapariga. Mas eles no
se entenderam e pronto. Nasceu em
Fevereiro e eu fazia 2 anos de casada em
Maio. O meu marido tem dois filhos da
outra mulher, uma com 53 anos e um
rapaz de 52.
Eu estou doente h mais ou menosh 6
anos que acamei.
Chegamos a ter l uma moa da terra.
-
48
algum a cuidar dela mas que no foi por
muito tempo, acabando por continuar o
marido e o filho.
Como se costuma dizer, uma desgraa
nunca vem s, e no que a senhora
O marido no estava pela conta de alertar
qualquer servio para ajudar dizendo
que
Mantm boas relaes com os irmos, s
existe um entrave entre a utente e eles, que
o marido, com quem ningum quer
conflito, ento resolvem a situao de uma
outra forma porque os valores da famlia
falam mais alto.
Mas ela s l ia pelo dinheiro e no pela
limpeza que fazia. Comeamos a ver que
ela no fazia nada e tambm comearam a
faltar-nos umas coisas em casa, ento
O meu marido e o meu filho que
tratavam de mim.
Em 2000 parti este brao, fui operada.
Tinha 3 ferros, prteses, aqui dentro.
Duas saram elas por si e uma era para
tirar mas nunca se tirou.
Parti o brao porque mancava um
bocadinho. Tenho artrose na perna
direita. No pde ser operada porque
tinha o mal no fgado, o mal da hepatite.
Ainda mais Eu, esta vista esquerda j h
muito tempo que eu via pouco e depois
acabei por cegar. Mais tarde que ceguei
da direita tambm. O mdico disse-me que
no havia nada a fazer. O que eu chorei!
O meu marido nunca quis que fosse l
algum da segurana social. Dizia que o
que elas vinham fazer tambm eu e ele
fazamos.
Os meus irmos no se do com o meu
marido e ele importa-se que eles falem
comigo. O meu irmo mora perto de mim,
a 30 metros. Ento a minha irm liga para
o meu irmo para ver se o meu marido
est em casa, se ele estiver ento telefona-
me porque est segura.
-
49
Vivncias da juventude:
Gostava da escola, de estudar s que na
altura no surgiram oportunidades para
que tal acontecesse ficando com a 4
classe.
Uma vida de trabalho, para os seus e
para os outros, o objetivo era ganhar
dinheiro para ajudar em casa e para fazer
o enxoval.
A senhora bem-disposta que nem o
trabalho de outrora no campo a paravam
de cansao, havia tempo para as
borgadas.
Onde houvesse uma concertina, ela era a
rainha
Eu fui para a escola com sete anos mas
com onze tambm j estava c fora. Com a
4classe e distino, fui eu e um rapaz s
naquele ano.
Terminada a 4class,e terminava a idade
de estudar. No havia mais, no havia
ciclos no havia nada.
Ao chegar da escola estava a minha me
espera para eu ir buscar uns cestinhos de
erva ou ir com a vaca.
Trabalhei sempre na casa, para a minha
me. Depois comecei a ser uma mocinha e
com 12 anos j ia ganhar meios-dias no
campo, para aqui e para acol. Ia ao
jornal e fui assim que fez o meu enxoval e
ajudei para a casa.
Cantarbem, cantava. Mas danar que
eu sabia bem. Em Venade no me punham
c os cotos em cima, isso que verdade.
O meu maior desporto era danar. No
era namorar nem isto ou aquilo, era danar.
Eu se sentisse uma concertina, estivesse ela
onde estivesse, eu tinha de ir l. Gostava
muito de danar verdade. E no era pra
andar agarrada a um homem. Eu gostava de
danar o vira
Havia coisas muito bonitas no campo. O
trabalho na lavoura no custava. Era duro
sim mas era bonito. Era muito alegre. A
-
50
Gostava do trabalho do campo, era duro
mas alegreo orgulho se ser lavradeira.
E no final de cada trabalho havia a
recompensa to esperada, a merenda e as
brincadeiras.
Muito pormenorizada vai desenvolvendo
e contando a sua histria de vida, que
passa pela eternizao de um momento
fotogrfico.
A utente chega mesmo a comparar os
gente ia para as desfolhadas muitas vezes
na madrugada. Outras vezes ia-se noite,
ia-se esfolhar noite at s tantas.
Cantar no faltava. No faltava tambm o
vinho americano.
ns tnhamos l uma leira que eu tinha de
dizer quando esfolhvamos l porque
tnhamos a estrada nacional a passar
beira e ento toda a gente sabia. Era
esfolhar de noite e cantar era pra botar a
freguesia abaixo.
E depois era o lanche na estrada. H 50
anos no havia os carros como h hoje.
Ponhamos o nosso lanche no meio da
estrada: biscoitos, bolachas, bolinhos de
cacau, trigo, uma pingaPassvamos ali
um pedao da noite com a leira desfolhada.
E nas desfolhadas havia tambm os
mascarados, tambm l apareciam. Se s
vezes pudessem rapinar o lanchetambm
faziam daquilo uma graa. Escondiam o
garrafo de vinho tambm. Mas ningum
levava a mal.
Ia-se para o sacharchegvamos a andar
11 pessoas a sachar. O campo era muito
grande.
Tenho l em casa uma fotografia muito
bonita. Todas ns com a enxada na mo.
bonito, bonito.
-
51
tempos de outrora com os de agora tanto
em relao ao trabalho como em relao
s atitudes do ser humano, sobretudo das
mulheres.
Foi uma senhora namoradeira e
convencida de que a melhor maneira de
se encontrar um rapaz era saber danar.
O trabalho era uma pardia, uma alegria.
Hoje no, hoje no . Primeiro as leiras
esto a ficar todas de monte. As terras que
eu tanto trabalhei e que tanto davam hoje
vm-se cheias de salgueiros, giestas e
silvas.
Agora uma moa que canta no meio de
uma leira dizem logo que: quem canta
quer galo. Agora feio cantar, o que dantes
era to bonito.
Ai tive, tive! E sabe que eu depois sabia
danar e os moos gostavam de quem sabia
danar, Ao som da dana arranjava-se um
namoro.
Institucionalizao:
A instituio no foi uma deciso fcil,
embora por vezes o pensasse e dissesse,
no era o que queria na realidade, era s
um desabafo pelo facto do seu marido ser
um pouco agressivo.
Esta nova etapa da sua vida fala das
pessoas que a rodeiam, no lar, com imenso
carinho, at j consegue, em to pouco
tempo, distinguir pela voz algumas das
pessoas que lidam com ela todos os dias.
Eu vim para aqui h fora. Eu primeiro
disse, uma vez, que queria vir-me embora
porque o meu marido um bocado
bravo.
No me quero lembrar. O que eu tenho
chorado este ms que c estou. Fica-me
marcado o dia 12 de Dezembro, nem que
eu durasse mais cinquenta anos.
Eu sinto-me bem. No podia ser mais
acarinhada do que sou. Lar por l ento
que seja neste. A Doutora M. muito boa,
vem muitas vezes aqui falar comigoj a
conheo pela voz. A doutora C. tambm
me parece ser mas essa lida e fala menos
-
52
Na instituio recebe visitas tanto do seu
marido como do filho e enteado. Quanto
aos seus irmos mais atravs do telefona
para que no haja conflito.
E mais ainda, h uma visita especial que
tanto agradou a utente, o Marco, o seu
cozinho de estimao que ela criou desde
os 22 dias com muita dedicao.
Uma senhora ainda com uma entrada
recente na instituio mas j com
estratgias de comunicao com outros
colegas, nomeadamente com a colega de
quarto, uma senhora que no grande noo
comigo.
O enfermeiro s chega minha beira,
toca-me nas mos e eu j vejo que a
mo amiga do Sr. Enfermeiro. Ele farta-se
de rir.
Acrescenta que Os nossos dedos so os
olhos dos cegos.
A minha irm quando me telefona tenho
de estar aqui meia hora, ou at deve
passar.
Tm vindo c vrias vezes. O meu filho,
o meu marido e o meu enteado tambm.
At j veio o Marco tambm, que a
Senhora Doutora autorizou. Primeiro
achou este stio estranho, depois eu
chamava pelo seu nome e ele comeou a
lamber-me as mos, estava to contente.
O Marco um cozinho que eu criei.
Criei-o porque a me dele morreu quando
ele tinha 22 dias. Amolecia as bolachas
na minha boca e depois ele vinha comer
minha boca, para beber tambm metia a
gua na minha boca e ele vinha beber.
Quando a O. Est mais alterada, eu
chamo-lhe pelo nome para lhe ser mais
-
53
do espao onde se encontra e a utente
adotou, com conhecimento prvio sobre
colega, quando se apercebe que ela est
alterada, fala-lhe acerca do que ainda lhe
resta na memria, que a lavoura, e logo
consegue, segundo a utente, resultados.
Diz trat-la pelo seu nome para que no lhe
parea estranho, porque no gosta de tratar
assim as pessoas, trata toda a gente por D.
familiar e digo-lhe: L.(diminutivo )olha
as vacas, vamos dar de comer s vacas e
no que resulta.
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54
Grelha 11
Utente Residente
Ano de nascimento: 1925
Estado Civil: Solteiro
Naturalidade: Refios Ponte de Lima
Habilitaes acadmicas: 4 classe
Profisso: Agricultor
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao - s
Higiene pessoal - s
Vestir-se s
Fala - Bem
Viso - Bem
Audio - Mal
Memria -. Boa
Orientao espacial - Tem
Orientao temporal - Tem
Humor - Bom
Comportamento - Normal
Deslocao ao exterior- Adora
Trabalho domstico
Comunicao - Comunicativo
Administrar dinheiro
Tomar medicamentos Com ajuda
um utente autnomo, tranquilo,
comunicativo e com bom sentido de
humor.
Ainda me visto e como sozinho.
A carteira anda sempre aqui (refere-se
ao bolso) mas tem pouco dinheiro.
Nunca fui muito da parranda (mas o
senhor at engraado )!
Famlia:
Somos 4 irmos, sou o mais novo e o meu
-
55
Famlia de muita lavoura, em que as
raparigas ficavam quase sempre por casa
com a me a fazer as atividades
domsticas, como costurar, lavar roupa e
fazer a comida.
O nico solteiro da famlia, que acabou
por ficar com uma das suas irms.
pai morreu quando eu tinha 1 ano.
A minha me ficava em casa e as minhas
irms tambm ficavam, cozinhavam,
lavavam a roupa. S na apanhada da
azeitona que uma saa, a outra ficava a
saraquitar em casa.
Todos casaram s eu que fiquei
solteiro.
Estava com a minha irm, mas ela queria
ficar vontade.
Vivncias da juventude:
Trabalhador da agricultura, nunca foi um
moo muito namoradeiro, no havia moa
que lhe agradasse.
A escola era uma das suas paixes, com
grande orgulho dos 4 anos passados na
escola, vinca que entrou aos 7 e saiu aos
11 anos e mais, era o mais esperto da sua
classe.
Trabalhava na lavoura, era escrava
avida, no tinha carro, nem tinha bicicleta.
No podia andar por muito longe, ficava
na aldeia. As moas eram grosseiras.
Havia poucas escolas, mas eu fui para a
escola, fui com 7 anos e sai com 11.
Quando sai da escola, com a 4 classe,
tive a aprovado e distinto.
Era sossegado e ainda hoje sou.
Na escola eu ficava na carteira da frente
porque era mais esperto. Os melhores
estavam sempre nas carteiras da frente.
Sa da escola e fui trabalhar para a
agricultura. Andava com as vacas, levava-
as para a boua. Diziam-me: - J que no
fazes mais nada vai com o gado.
Elas convidavam para ver se engatavam
-
56
A sua companhia era o bandolim, ainda
hoje gosta.
Foi-nos feita uma narrativa dos tempos
em que os grandes senhores organizavam
as festas dentro da quinta com o interesse
de angariar pessoas para fazer os
trabalhos.
Casar era palavra que no fazia qualquer
sentido para este utente.
A me, mulher que geria tudo, at o
dinheiro dos prprios filhos, que mesmo
sendo adultos, d-nos a sensao de
continuarem para ela como os menininhos
que no eram capazes de tomar as rdeas.
algum.
Eu pegava no bandolim e ia para as
festas fazer os bailes, com rapazes e
raparigas, mas eram todos escolhidos, no
era de porta aberta.
Havia aqui uns senhores, que eram ricos
e ento faziam bailes nos domingos para
irmos, no era toda a gente, eram aqueles
que eles achavam que deviam ir. Ao fim do
baile pediam s pessoas para irem
trabalhar para eles durante a semana,
eram como uma troca, divertamos, mas
em troca trabalhvamos para os senhores
na semana.
No me puxava para casar.
Nunca andei nos copos, nem nas
meninas, sempre cuidei da minha vida.
S aos 25 anos que comecei a ter
dinheiro. Era a minha me que nos dava o
dinheiro quando nos fazia falta, mas um
dia dissemos minha me que queramos
ter um bocado de dinheiro, e ento ela
comeou a dar-nos. Comecei a juntar, abri
uma conta com dois contos de reis, foi
juntando, juntando e o que eu gastei!!!
Institucionalizao:
Para a instituio caiu um pouco de
paraquedas aps ter sofrido um problema
Deu-me o chelique e vim parar aqui. Vim
do hospital para aqui.
No me perguntaram se eu queria ou no,
-
57
de sade.
J conta com trs anos de casa e diz-se
satisfeito com todo e com todos.
Quanto s visitas da famlia, so escassas,
mas no problema que interfira no seu
bom humor e bem-estar social.
Na instituio gosta de participar nas
atividades.
Um dos seus passatempos preferidos,
depois de j c estar, perguntaram-me se
eu queria estar s de dia ou ficar, eu ento
comecei s no Centro de Dia, at que um
dia disseram-me que era muito cansativo
andar para baixo e para cima, arranjaram-
me lugar para ficar de dia e de noite.
Deixaram-me ca ficar, j no foi mais para
casa.
Perguntaram-me: Quer ficar aqui de
noite e de dia? Eu respondi: E era.
Paguei tudo de uma vez para ficar aqui
descansado.
H trs anos que estou aqui.
Gosto de estar aqui, no tenho queixa de
ningum, so todas boas.
Tinha sempre a canseira de me vestir,
agora sou daqui.
Ningum da famlia me vem visitar, mas
eu no me importo, no quero saber disso
para nada.
Acham-se duma classe superior e tem
vergonha de mim que no sou da mesma
classe.
Gosto de tudo aqui, as pernas que j
esto um bocado fracas.
-
58
pegar no seu bandolim e tocar as msicas
populares, pe a restante populao alerta
e aqueles que at gostam de cantar, no o
fazem muito alto para no incomodar mas
cantam mais baixo.
Outra atividade que gosta fazer, o jogo
das cartas.
Esta bem e no quer pensar em mais nada.
J no toco nada de jeito, toco pr` aqui
um bocado, para passar o tempo.
S sei jogar s orelhas, mas sem as puxar
e no sou batoteiro.
A morte quando vier, veio, no tem
data.
-
59
Grelha n 12
Utente de Centro de Dia
Ano de nascimento: 1938
Estado Civil: Viva
Naturalidade: Refios
Habilitaes acadmicas:
Profisso: Agricultura
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao - s
Higiene pessoal - s
Vestir-se - s
Fala - bem
Viso - boa
Audio - boa
Memria - boa
Orientao espacial - capaz
Orientao temporal - capaz
Humor - bom
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior sai com os filhos e
com a instituio.
Trabalho domstico vai fazendo devagar.
Comunicao - comunicativa
Administrar dinheiro ainda capaz
Tomar medicamentos s
uma utente do Centro de Dia, muito
tranquila, autnoma e sempre agarrada
ao seu crochet.
Tenta consoante pode, fazer as suas
tarefas.
Famlia:
Bom relacionamento com os filhos, ao Todos os dias a minha filha que est
-
60
ponto de no passar um dia sem que
algum telefone.
Salienta-se que a utente aps deixar o
centro de dia encaminhada at sua
residncia onde permanece sozinha durante
a noite. Do lar leva sempre algum alimento
para a noite.
Ainda consegue realizar a sua higiene
pessoal sem dificuldades assim como o
trabalho domstico de sua casa.
As compras so os filhos que realizam uma
vez que a utente no pode realizar esforos
devido ao seu problema de sade.
mais longe liga-me s 9horas da noite.
Levo uma panelinha de sopa para comer
noite e ao deitar bebo leite com
cevada.
Vou fazendo aos bocadinhos.
Sofro do corao.
Vivncias da juventude:
Bastante festeira, mas s para ver porque
danar no era o seu forte, e festa da Boa
Morte nunca faltava, era um gnero de
promessa que ficava de uns anos para os
outros.
Era apreciadora acerca da maneira como
as moas se preparavam para ir festa.
O seu trabalho sempre foi dedicado
agricultura, mesmo hoje com os
Antigamente gostava de ir s festas,
feiras e gostava de ver danar, mas no
danava.
Ia sempre Boa Morte.
Via algumas moas com o cesto da
merenda cabea, tiravam a saia para
no a sujar, iam em saiote e a saia era
colocada em cima do cesto junto com um
ramo de alfdega, ponham um ramo de
cada lado do cesto. Eu gostava de ver mas
no o fazia
Sempre trabalhei na agricultura, ainda
hoje tenho a minha horta.
-
61
problemas de sade que tem ainda gosta
de fazer a sua horta familiar.
Conta-nos com nostalgia e surpresa para
os mais novos, a forma como decoravam o
pinheiro de natal, fantsticoe a comida,
entre couves, batatas, bacalhau, enfim
nada faltava, nem as rabanadas .
Quando amos ao monte j trazamos o
pinheiro em cima do carro (de vacas,
claro).Mais ou menos 15 dias antes do
natal comevamos a preparar, a minha
me trazia uma saca de laranjas, eram
partidas ao meio, limpas e metamos
dentro azeite e com algodo em rama fazia
um pavio e acendia. A minha me tinha
muito medo que ardesse. Era bonito as
luzes todas volta do pinheiro. No
pinheiro metamos farinha, parecia neve.
Institucionalizao:
Passou a frequentar o lar como utente de
centro de dia aps ter sofrido um ataque
cardaco, sendo que nem o mdico nem os
filhos achavam bem que ela ficasse
sozinha em casa.
O incio foi reticente, hoje diz gostar e at
pensar, quem sabe, ficar como utente
residente.
uma senhora tranquila, discreta, que
passa a maior parte do seu tempo a fazer
tapete de arraiolos ou ento a fazer
crochet que ela gosta de oferecer aos seus
filhos e a outras pessoas.
No podia ficar s em casa por causa dos
meus problemas do corao.
De primeiro eu no queria vir. Agora at
gostava de ficar de noite pois fico sozinha,
os meus filhos todos trabalham.
No me dou quieta, gosto muito de fazer
coisas e oferecer aos meus filhos e at j
fiz para o lar.
-
62
Faz parte da equipa que vai at rdio nas
quintas-feiras, no programa Reviver o
passado, das 16:30 at s 17:00.
-
63
Grelha n 13
Utente Residente
Ano de nascimento: 1936
Estado Civil: Viva
Naturalidade: Melgao
Habilitaes acadmicas: 4 classe
Profisso: Comerciante
Capacidades Fsicas e Funcionais
(expresses dos utentes)
Alimentao - s
Higiene pessoal - s
Vestir-se - s
Fala - bem
Viso - boa
Audio - boa
Memria bem fresca
Orientao espacial - boa
Orientao temporal - boa
Humor - sim
Comportamento - normal
Deslocao ao exterior com a instituio
e com os filhos.
Trabalho domstico
Comunicao - comunicativa
Administrar dinheiro
Tomar medicamentos com apoio
Utente autnoma, com boa capacidade de
memria.
Possui uma boa orientao tanto espacial e
temporal.
Com um comportamento normal e tem
bom sentido de humor. acolhedora e
comunicativa.
Famlia:
A utente natural de Melgao. ramos uma famlia muito rica.
-
64
Descendente de uma famlia abastada,
sendo que ainda hoje com a idade que
tem as partilhas dos bens dos pais ainda
esto por fazer.
O marido e a D Jlia eram primos,
ambos eram ricos, ironia do destino
Casada durante 44 anos, uma vida a dois
sobre a qual guarda boas recordaes.
Casada aos 26 anos de idade, passou a
morar na casa dos sogros que tambm
eram da sua famlia e faziam-lhe toda a
confiana. O seu marido tambm ele de
uma famlia abastada, tinham j um
comrcio no qual a utente trabalhou e
mais tarde herdou.
Morando, esta senhora numa zona
fronteiria com Espanha, o comrcio do
contrabando no faltava e a utente
descreve-nos um pouco desse modo de
vida da poca que fez com que ela e
muita gente ganhassem a sua vida.
Para alm da loja tambm tinha um
Ainda hoje no fizemos as partilhas, das
quatro todas temos bastante e no