Laurinda Branco da Cunha correr para ir à missa.” “Quando não havia outra coisa, andávamos à...

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1 ANEXOS

Transcript of Laurinda Branco da Cunha correr para ir à missa.” “Quando não havia outra coisa, andávamos à...

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    ANEXOS

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  • 3

    NDICE DE ANEXOS

    Grelha n 1 ........................................................................................................................ 4

    Grelha n 2 ...................................................................................................................... 10

    Grelha n 3 ...................................................................................................................... 14

    Grelha n 4 ...................................................................................................................... 17

    Grelha n 5 ...................................................................................................................... 22

    Grelha n6 ....................................................................................................................... 27

    Grelha n7 ....................................................................................................................... 31

    Grelha n 8 ...................................................................................................................... 37

    Grelha n 9 ...................................................................................................................... 43

    Grelha n 10 .................................................................................................................... 46

    Grelha 11 ........................................................................................................................ 54

    Grelha n 12 .................................................................................................................... 59

    Grelha n 13 .................................................................................................................... 63

    Grelha n 14 .................................................................................................................... 69

    Grelha n 15 .................................................................................................................... 73

    Grelha n 16 .................................................................................................................... 79

    Grelha n 17 .................................................................................................................... 83

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    Grelha n 1

    Residente

    Ano de Nascimento: 1934

    Estado Civil: Viva

    Naturalidade: Viana do Castelo

    Habilitaes acadmicas:

    Profisso: Comerciante

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao sem dificuldade.

    Higiene pessoal, sem dificuldade.

    Vestir-se - sim

    Fala - bem

    Viso - boa

    Audio diz ser boa

    Memria - boa

    Orientao espacial - sim

    Orientao temporal - sim

    Humor - sim

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior - sim

    Trabalho domstico

    Comunicao - comunicativa

    Administrar dinheiro sim (o que tem em

    sua posse)

    Tomar medicamentos - instituio

    Ainda consigo comer sozinha, s

    preciso de um pouco de ajuda para me

    lavarem as costas e esfregarem creme no

    meu corpo

    J no vejo muito bem mas para isso

    uso culos e ouvir acho que ainda ouo

    bem.

    Ui! A minha memria ainda se lembra

    de muita coisa, no me esquecem as

    coisas com muita facilidade.

    Gosto de ter o meu dinheirinho para

    comprar algumas coisas, at o meu genro

    um dia veio aqui e trouxe-me 50 euros,

    pensava que eu no tinha, e tambm vou

    at ao mercado que tem aqui perto com a

    D B. (tambm utente residente do lar)

    comprar o que me faz falta.

  • 5

    Famlia:

    A utente tem uma nica filha, 3 netos,

    sendo que um est no Brasil.

    Fala da famlia com muito carinho,

    entendem-se todos muito bem.

    Casada emigrou para a Amrica durante

    alguns anos e regressou a Portugal por

    motivos de sade de marido. Uma vez em

    Portugal abriram um comrcio de compra

    e venda de carnes.

    Com a morte do marido viu-se na

    obrigao de continuar a cuidar da sua

    sogra que entretanto acamou, ficando

    nesta situao durante 7 anos, faleceu

    quando j contava 102 anos.

    A minha filha j casou 27 anos e o meu

    genro como se fosse hoje que entrou na

    minha casa, nunca nos chateamos, ele

    muito meu amigo. Quando eu digo alguma

    coisa, o meu genro diz: Voc que sabe.

    Eu estava na minha casa e eles na deles.

    A casa deles era muito pequena. Um certo

    dia eu ca, parti as costelas, j fui operada

    e tirei um peito e como eu no podia estar

    sozinha, vim para ca. Eu que pedi para

    me arranjarem um lar porque como no

    podia ir para a casa deles pois j estavam

    l os meus compadres (pais do genro, um

    com 92 e outro com 94 anos), no havia

    lugar para mim. O que eu queria era ficar

    o mais perto possvel de Viana do Castelo,

    mas como no pode ser, arranjaram-me

    aqui e aqui estou.

    Casei aos 26 anos e fui para a Amrica,

    mas o meu marido ficou doente e tivemos

    de voltar. C em Portugal tnhamos dois

    talhos.

    Eu tomava conta da minha sogra e quando

    o meu marido morreu a minha sogra ainda

    era viva e durou mais sete anos do que o

    meu marido. Estava acamada e fui eu que

    tomei conta dela.

    Vivncias da juventude:

  • 6

    uma senhora que tem muito que contar,

    que para alm de festeira tambm era

    namoradeira.

    Quando era nova, era sempre mordoma

    de todas as festas, at me deram um fato

    vermelho.

    De noite no ia para as festas porque

    no me deixavam, era sempre de dia.

    Casei aos 26 anos, namorei 4 anos com o

    meu marido, sempre com o mesmo, mas

    antes namorei com outros rapazes (ria-se

    quando relatava este tempo).

    Era meu vizinho e passou a ser meu

    marido, mas fui eu quem o arranjei, no

    foram os meus pais, a minha me s me

    dizia: - Se bem fizeres a cama, bem

    dormes nela.

    Ia s festas da Agonia, ia ver sempre o

    corteja das mordomas, das lavradeiras e

    no domingo o fogo do jardim e as

    serenatas. Ia sempre a p porque no

    havia carros, por vezes para ningum

    saber embrulhava os sapatos num pano ou

    numa saca e amos descalas assim

    ningum desconfiava que amos para a

    festa.

    Ai! Quando amos erva ao campo e os

    rapazes iam connosco para ajudar os

    cestos, os feixes.

    A nossa casa era uma casa muito grande

    de lavoura, trabalhava muito mas tambm

    me divertia.

    Ia sempre missa, andava sempre a

  • 7

    correr para ir missa.

    Quando no havia outra coisa,

    andvamos roda e ponhamos os rapazes

    no meio e cantvamos.

    Institucionalizao:

    O seu marido faleceu e como tinha a sua

    sogra a seu cargo s veio para lar quando

    a sua sogra faleceu e tambm por motivos

    de doena.

    A utente tem muita pena de ver a casa

    como est agora, quando vai at l e v

    tudo abandonado com tanta erva.

    Os primeiros dias quando abri a janela do

    meu quarto e s via monte, campos e onde

    eu vivia havia uma estrada, tinha um

    supermercado, eu via sempre tanta gente,

    fiquei to triste!!

    De manh quando me levantei, ai que

    tristeza me deu!

    Est tudo sem granjear e tenho muita

    pena, mas no posso.

    Chorei muito para deixar a minha

    casinha. O meu netinho quando me v

    triste diz-me: Av, eu vou crescer, ganhar

    muito dinheiro e vou fazer uma casa para

    mim e para ti. Eu gosto tanto deles, fui eu

    quem os criei.

    Eu entrei no lar em setembro de 2011, em

    maio fiz anos, nunca me cantaram tanto os

    parabns, foi no quarto, foi no refeitrio e

    deram-me prendas, um par de sapatos e

    uma blusa, mas eu tambm lhes comprei

    alguma coisa para os anos delas (duas das

    funcionrias do lar que lhe deram as

    prendas).

    Primeiro fiquei num quarto com outra

  • 8

    Tambm tem dificuldade em se

    relacionar, entrando mesmo em conflito

    com duas das utentes (D A. e D Aa.),

    chamando-a de corvo.

    A sua nica filha vem de vez em quando

    visit-la e tambm vem busca-la para

    passar tempo em famlia.

    A utente faz parte de um grupo de idosos

    que, dois de cada vez vo at Rdio

    local, a Rdio Ondas do Lima, participar

    num programa, todas as quintas feiras,

    das 16:30 at s 17:00.

    O lar tem por hbito, para alm de muitas

    ouras atividades tambm fazem

    caminhadas e a utente gosta sempre de

    utente, a D C., mas ela fazia muito

    barulho de noite e eu disse Senhora

    Diretora, quando houve possibilidade

    passei para um quarto particular, assim

    que estou bem.

    No lar j tive muitos contras, mas tenho

    muita gente por mim e gosto de estar

    aqui.

    Aqui j tive dois atritos com duas utentes

    do lar, com a D C. e com a D Aa., mas se

    tiver mais no vai ficar assim.

    Rezo todos os dias o tero em conjunto

    com os outros utentes na sala, menos no

    fim-de-semana.

    A minha filha no me vem buscar todos os

    fins-de-semana porque tem muito trabalho,

    vem de vez em quando, leva-me para a

    casa dela e durmo no quarto do Rodrigo

    (neto que foi para o Brasil).

    s caminhadas vou quando me deixam ir,

    quando me convidam.

    Vo os mais queridos, porque no cabem

  • 9

    participar, mas

    .

    Participa em todas as atividades do

    Centro, ginstica, passeios e festas.

    Gosta de jogar as cartas e tem pena que

    no gente interessada em fazer esse tipo

    de atividade.

    No nada que a preocupe assim tanto a

    velhice, at que ela diz

    todos na carrinha.

    Aqui h muitos cimes porque uns vo e

    outros no. Ainda ontem, a M. (utente

    residente do lar) no quis jantar noite,

    estava toda zangada porque no saiu fazer

    a caminhada.

    Fao parte das pessoas escolhidas para ir

    falar rdio com outras pessoas. Gosto de

    participar nas atividades aqui no lar e

    gosto tambm de sair:

    Ainda pouco tempo fomos a Ftima.

    Gosto muito de jogar s cartas, mas no

    ningum que o faa

    J morreram outros antes de mim e mais

    novos e eu ainda aqui estou com tantos

    trambolhes que tive, tudo o que me

    aconteceu.

    Ainda no chegou a minha hora, no

    posso pensar que vou morrer, s pensei

    quando estive muito doente, mas graas a

    Deus ainda aqui estou.

  • 10

    Grelha n 2

    Residente

    Ano de nascimento: 1918

    Estado Civil: Viva

    Naturalidade: Arcozelo

    Habilitaes acadmicas: No andou na escola

    Profisso: Agricultura

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao - Dependente

    Higiene pessoal ajuda total

    Vestir-se Dependente

    Fala - bem

    Viso Fraca

    Audio - fraca

    Memria - Excelente

    Orientao espacial - boa

    Orientao temporal - boa

    Humor - Excelente

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior No

    Trabalho domstico

    Comunicao - comunicativo

    Administrar dinheiro - No

    Tomar medicamentos

    A utente encontra-se fisicamente

    debilitada, visto que est acamada, e

    necessita de ajuda total em todas as

    tarefas, apresenta uma memria excelente,

    a chamada memria de elefante, recorda

    factos e acontecimentos sem dificuldades

    bem como tambm comunica com fluidez

    expondo as suas ideias com clareza e no

    deixa de dizer as suas brincadeiras Sou

    pobre mas sou rica na lria, e ainda

    Um pobre nem quieto nem calado

    Famlia:

    Casei com 23 anos e tive quatro filhos

  • 11

    Do seu casamento aos 23 anos, teve 4

    filhos, uma rapariga e trs rapazes, sendo

    que a nica filha faleceu ainda beb. A

    morte da filha est associada a uma histria

    que a utente no capaz de esquecer.

    Cada nome dado aos seus filhos tem um

    significado

    A utente mantm bom relacionamento com

    os seus filhos.

    Um certo dia estava a costurar e uma

    senhora entrou e disse-me: - Ai que linda

    menina voc tem. Parece que me

    embruxou. Dali a dois dias ela ficou

    doente e morreu logo a seguir. Morreu-

    me nos braos no largo de Cames

    O meu marido ia sempre ver qual era o

    nome dos santos do dia em que eles

    nasciam para lhes dar esse mesmo

    nome.

    Vivncias da juventude:

    Uma passagem da sua vida bem preenchida

    de trabalho e do gosto pelas borgadas da

    aldeia mas nunca virada para a dana.

    A noite tambm no era desperdiada.

    E os trabalhos eram vendidos na feira de

    Paredes de Coura, que se realizavam

    quinzenalmente.

    Danar no era o meu forte mas um dia

    fui danar para aprender. Eu era de

    Arcozelo e um rapaz que era da Ribeira

    pediu-me para danar com ele, mas ele

    encostou-se a mim e ficou logo com o

    pau teso. Ento eu disse-lhe que no

    sabia danar s para sair da beira dele e

    nunca mais quis danar com rapazes, fui

    sempre com raparigas.

    Era uma casa de lavoura, tinha 4 vacas.

    De noite fazia seres a bordar e de dia

    trabalhava no campo. Eu ganhava muito

    dinheiro, fazia toalhas para vender na

    feira.

    Saa, sozinha, de casa por volta das 5

    ou 6h da manh mas em Cepes j

  • 12

    Entre os namoros, cimes e as intrigas,

    casou aos 23 anos e o enxoval j estava

    preparado.

    encontrava mais gente. s 8h tinha de

    estar l na feira em Paredes de Coura

    para vender.

    Chegou um dia em que ele disse: -

    Posso vir ter contigo no domingo? -

    Claro que podes, disse-lhe eu. E assim

    comeou o namoro.

    Ele falava com outras raparigas e eu

    disse-lhe: ou elas ou eu. Ele respondeu-

    me: mas eu s te quero a ti.

    Tinha uma dzia de lenis da teia e

    mantas de farrapos.

    Institucionalizao:

    A utente optou pela

    institucionalizao porque

    devido a problemas de sade

    no lhe era possvel continuar

    a viver sozinha.

    A senhora encontra-se

    institucionalizada, acamada

    mas com grande sentido de

    humor, prova disso so as

    quadras que a utente sabe e

    cantava na sua juventude e que

    se encontram escritas num

    quadro pendurado na parede

    do seu quarto.

    Eu vim para c porque as minhas pernas comearam a prender-se e eu

    no conseguia estar sozinha. O corpo di-me, mas o pior so as pernas.

    Aqui estou, aqui estarei

    Aqui me hei-de deixar estar

    O amor que aqui me trouxe

    Aqui me h-de buscar.

    Casai-me meu pai casai-me

    Casai-me que bem podeis

    O casar aos catorze

    E eu j tenho dezasseis.

    Anjinho da minha guarda

    Guardai o meu corao

    Eu escrevia-te uma carta

    Se tu soubesses ler

    Vais a dar a ler a outro

    E tudo se vai saber.

    Tenho um amor tenho dois

    Tenho trs e no quero mais

    Para que quero mais amores

    Se eles no me so leais.

    Adeus que me vou embora

    Adeus que membora vou

  • 13

    Quanto a visitas, no lhe

    faltam, os filhos sempre que

    podem esto l para dar dois

    dedos de conversa.

    Para que em mim se perca

    O preo da remisso.

    Adeus que me vou embora

    Embora eu me quero ir

    Sou criada de meu pai

    J no quero mais servir.

    Do outro lado do rio

    Tem meu pai um castanheiro

    D castanhas em Agosto

    Uvas brancas em Janeiro.

    A cantar e a danar,

    ganhei uma saia nova

    Agora vou ganhando fitas,

    para deitar roda.

    Vou-me embora porque eu quero

    Que a mim ningum me mandou

    meu amor de to longe

    Vem de longe para o perto

    J me di o corao

    De te ver nesse deserto.

    Adeus meu amor adeus

    De mim no levas nada

    Mais vale ires embora

    Do que eu ficar enganada.

    Meninas vamos ao coxo

    O coxo tambm se ama

    O coxo l por ser coxo

    Vai aos saltinhos para a cama.

    Eu queria cantar alto no tenho peito que me assuba,

    Vou pedir ao meu amor para ver se ele me ajuda.

    O A. vem ver-me de vez em quando. No domingo vem sempre, muito

    meu amigo. O C., est em Frana, quando vem c tambm vem sempre

    visitar-me.

  • 14

    Grelha n 3

    Utente de Centro de Dia

    Data Nascimento:1944

    Estado Civil: Solteira

    Naturalidade: Refios

    Habilitaes acadmicas:

    Profisso: Agricultura

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao - s

    Higiene pessoal - s

    Vestir-se - s

    Fala - bem

    Viso - boa

    Audio - boa

    Memria - fresca

    Orientao espacial - sim

    Orientao temporal - sim

    Humor - sim

    Comportamento -normal

    Deslocao ao exterior - sim

    Trabalho domstico - no

    Comunicao - comunicativa

    Administrar dinheiro no ( a prima)

    Tomar medicamentos - sim

    Utente autnoma, do centro de dia, solteira

    e dependente monetariamente de uma

    prima.

    comunicativa e mantm bom

    relacionamento com os restantes utentes,

    dentro da instituio.

    Famlia:

  • 15

    A filha que ficou em casa com os pais,

    solteira. Cuidou deles, mas um dia os pais

    faleceram e a sua vida complicou-se porque

    encontrava-se sozinha, embora tivesse mais

    irmos. Para no estar sozinha foi morar

    para Torres Vedras com uma irm, s que o

    carater no dava um com o outro e fez

    fasca.

    Neste momento a ligao que tem com a

    famlia, uma prima onde a utente dorme

    todos os dias e passa o fim-de-semana. O

    relacionamento no dos melhores entre as

    primas.

    A sua prima quem gere tudo, at o prprio

    dinheiro da senhora, as tarefas domsticas e

    as compras tambm so realizadas pela

    mesma.

    Ela zangou-se comigo duas vezes, uma

    l e outra c em Refios. Ento eu disse-

    lhe que no ia mais com ela.

    A minha prima que tem o meu

    dinheiro, eu quando quero alguma coisa

    tenho de lhe pedir e s vezes ela no mo

    quer dar.

    Olhe ,eu quero ir ao dentista e preciso

    de umas botas novas porque estas esto

    velhas, mas ela resmunga sempre quendo

    eu lhe peo dinheiro.

    Vivncias da juventude:

    semelhana da maioria dos utentes do

    lar, dedicou toda a sua vida ao trabalho no

    campo, ora para os de casa ora ao jornal

    para angariar algum dinheiro.

    As festas e as desfolhadas eram o seu

    passatempo favorito. Tambm dedicou

    algum do seu tempo Igreja.

    Sempre trabalhei na lavoura, andava ao

    jornal.

    Gostava de ir para as festas e ento as

    desfolhadas que eu gostava. No fim de

    desfolhar havia po quente com sardinhas

    e cervejas para toda a gente.

    Quando era nova fui catequista.

  • 16

    Institucionalizao:

    Os problemas de sade apareceram e tudo

    se complicou, o que levou uma assistente

    social a tratar do seu problema e encontrar

    uma soluo.

    Uma vez ter encontrado um lar e sentindo-

    se bem, a utente queria ainda mais se fosse

    possvel, para o seu conforto e

    estabilidade.

    Quando so realizadas atividades ou festas

    na instituio verifica-se que a utente est

    sempre pronta para participar, seja para

    falar, danar ou cantar, larga logo o saco e

    salta para a pista.

    Vim para aqui porque me deu um

    enfarte, estava sozinha e comecei a gritar

    at que algum me ouviu e chamou o

    INEM. Estive 15 dias no hospital

    Gostava muito de estar aqui de noite e de

    dia, como no posso vou-me embora

    tardinha e durmo na casa de uma minha

    prima, e no fim-de-semana tambm.

    J gostava de nova e agora continuo a

    gostar de cantar e danar, mas j no

    como dantes.

    Gosto de tudo o que se faz aqui no lar,

    eu vou para tudo o que me convidam.

  • 17

    Grelha n 4

    Utente Residente

    Ano de nascimento: 1926

    Estado Civil: Casada

    Naturalidade: Refios Ponte de Lima

    Habilitaes acadmicas: 4 classe

    Profisso: Supervisora, Regente, Costureira

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao - s

    Higiene pessoal s

    Vestir-se - s

    Fala - bem

    Viso usa culos

    Audio - satisfatria

    Memria - fresca

    Orientao espacial - boa

    Orientao temporal - boa

    Humor - bom

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior - sim

    Trabalho domstico

    Comunicao - comunicativa

    Administrar dinheiro - sim

    Tomar medicamentos

    Atualmente uma senhora que ainda

    mantm as suas capacidades fsicas e

    funcionais: autnoma, alimenta-se sem

    dificuldades, fala e ouve bem. Gosto

    muito de sarrabulho e cozido

    portuguesa, mas fao muito cuidado com

    o que como para no engordar e porque

    tenho que ter dieta.

    Recorda factos e acontecimentos sem

    dificuldades e tambm identifica os

    elementos de caracterizao temporal.

    Est capaz de tomar as suas prprias

    decises, administra o seu dinheiro e por

    vezes desloca-se ao exterior para realizar

    as suas pequenas compras ou ir at ao

    cemitrio.

  • 18

    Famlia:

    A utente gosta que lhe chamem

    Mariazinha.

    Uma famlia pequena e hoje todos

    dispersos uns dos outros.

    Uma senhora que teve uma vida um pouco

    agitada aps ter-se casado aos 50 anos

    com um Sr. J divorciado e com filhos.

    Deste casamente no h filhos.

    Quando deixou de ser regente no ficou

    parada, j casada, foi com o marido para

    Frana onde ficou a trabalhar durante 14

    anos, mas por motivos de sade teve de

    abandonar mais cedo do que aquilo que

    desejava e regressar de novo sua terra

    natal.

    Amargurada com a vida diz

    Aborda o tema da sexualidade e a relao

    com o marido a esse nvel que no era dos

    melhores antes de entrar no lar e da

    muitas das discrdia.

    Por vezes a utente que se desloca at

    capital para visitar os seus familiares, mas

    so os sobrinhos que a vem buscar de

    carro.

    Toda a gente me conhece por

    Mariazinha.

    Tenho dois irmos, que esto tambm em

    lares em Lisboa.

    Eu no tenho filhos, mas ajudei a criar

    os do meu marido porque a me deles

    morreu ainda eram eles muito pequenos.

    Eu tinha de vir porque estava doente,

    mas ele - refere-se ao marido podia ter

    ficado a ganhar mais dinheiro, porque

    que veio atrs de mim?

    Nunca me devia ter casado.

    Eu vou s vezes a Lisboa visitar os meus,

    eles vem buscar-me aqui ao lar e vem

    trazer-me.

    Vivncias da juventude:

    Com 86 anos, a utente, assim que gosta

    de ser chamada, o seu nome Maria Isabel

  • 19

    e a vida dela uma histria.

    Aos 20 anos queria mais alguma coisa

    alm da aldeia de Refios, situada no

    Concelho de Ponte de Lima, onde residia,

    foi ento que decidiu ir para Lisboa

    espera de encontrar melhor situao

    profissional, onde ficou durante 17 anos.

    Entre o tempo que regressou de Lisboa e a

    poca de ser regedora, tirou um curso de

    costura que lhe serviu, alis, ainda hoje lhe

    til dentro do lar, chegou mesmo a fazer

    trabalhos de costura a domiclio em casas

    de fidalgos.

    Fala do percurso profissional dos pais

    assim como do seu com orgulho. Seguiu

    as pisadas dos seus progenitores e que

    ento explica de uma forma clara qual

    era o papel de um regente escolar.

    Foi complicado em termos de poder ter

    uma reforma uma vez que todo o tempo

    Fui para Lisboa trabalhar como

    supervisora, na casa do Gaiato, a

    chamada casa dos rapazes e fiquei l 17

    anos.

    Queria aprender mais e ficar com um

    diploma.

    Os meus pais eram regentes escolares,

    davam aulas apenas 2 e 3classe. Eu

    aos 38, 39 anos tambm fui regente

    escolar como os meus pais, tinha apenas a

    4 classe, fiz um exame que era necessrio

    na altura e tive 14 valores, o necessrio

    para exercer o cargo de regente. Dava

    aulas 2,3 e 4 classe. Os regentes

    apenas podiam lecionar a 2 e 3 classe

    mas como eu estava longe de casa, numa

    aldeia dos Arcos de Valdevez S. Jorge -

    lecionava tambm a 3 classe. Lecionei

    durante 5 anos, durante o tempo do

    Salazar. Logo a seguir ao tempo

    Salazarista cortaram muita coisa e os

    regentes acabaram logo com eles.

    Como regente nunca tive descontos, s

    fiz descontos do tempo que esteve em

  • 20

    que trabalhou como regente nunca teve

    descontos, s fez descontos do tempo que

    esteve em Frana a trabalhar. Em Portugal

    teve de pagar umas cotas na casa do Povo

    para conseguir mais um pouco de reforma,

    acumulando assim da Frana.

    Frana a trabalhar. Em Portugal teve de

    pagar umas cotas na casa do Povo para

    conseguir mais um pouco de reforma.

    Institucionalizao:

    Entrou apenas este ano, h 6 meses na

    instituio, sozinha, porque o marido,

    segundo a utente acabou por desistir no

    ltimo momento.

    A seguir ao almoo sobe at ao seu quarto

    e passa l quase o tempo todo, sobretudo

    em horrio de visitas.

    No seu quarto pode ver-se uma cafeteira

    eltrica, caf solvel, bolachas, para poder

    lanchar tranquila.

    Nota-se, embora seja uma pessoa que gosta

    da brincadeira, mas como uma carapaa

    que ela fabricou para se proteger, dado que

    o medo persegue-a.

    Os problemas de sade acumulam-se e o

    O meu marido como eu vim para aqui

    contra a sua vontade, agora s vem ca

    quando resolve fazer espalhafatos, pois

    ele deu o nome que tambm vinha comigo

    para aqui e na ltima roeu a corda e disse

    que no vinha nem queria que eu viesse.

    Mas eu tenho uma palavra e vim e ele que

    faa o que entender. Eu j tinha dado a

    minha palavra instituio que ia, peguei

    nas minhas trochas e foi.

    Gosto de c estar, fui uma escolha,

    como era para vir eu e o meu marido

    tinha um quarto com duas camas, mas

    como e decidiu no vir passei para um

    quarto s com uma cama, privado.

    No meu quarto tenho tudo, o meu caf, a

    cafeteira, porque de tarde fico sempre

    resguardada no meu quarto com receio

    que ele (o marido) aparece por ai e me

    envergonhe na frene de toda a gente.

    Agora j no posso fazer o que fazia

    porque as pernas no me deixam.

  • 21

    fsico j no acompanha.

    Falando da morte, a utente, diz:

    A deciso de vir para o lar e a recusa aps

    consentimento do marido transformou-se

    num pesadelo para a utente. A violncia

    passou a fazer parte do quotidiano desta

    mulher, entre palavras, a violncia

    psicolgica e as ameaas fsicas no

    pararam.

    Tem um sobrinho que se ocupa das suas

    coisas e ele que vem visit-la porque

    o que est mais perto.

    Tambm j fez parte da equipa que

    participa no programa de rdio Reviver o

    passado, programa do qual guarda boas

    recordaes.

    A morte no existe, ns que

    morremos.

    Cheguei a temer pela minha vida.

    O J. M. vem visitar-me e nele que eu

    confio e me trata das minhas coisinhas.

  • 22

    Grelha n 5

    Utente Residente

    Ano de nascimento: 1928

    Estado Civil: Viva

    Naturalidade: Brandara Ponte de Lima

    Habilitaes acadmicas: 2 classe

    Profisso: Domstica

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao sem dificuldade

    Higiene pessoal sem dificuldade

    Vestir-se sem dificuldade

    Fala sem dificuldade

    Viso usa culos

    Audio algumas dificuldades

    Memria - Boa

    Orientao espacial - Boa

    Orientao temporal - Boa

    Humor - sim

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior quando sai com

    os outros utentes da instituio

    Trabalho domstico

    Comunicao Comunicativa, sobretudo

    com a colega com quem fez amizade.

    Administrar dinheiro - sim

    Tomar medicamentos sim

    As suas capacidades fsicas e funcionais:

    autnoma, recorda factos e

    acontecimentos sem dificuldades,

    identifica os elementos de caracterizao

    temporal, comunica verbalmente com

    fluidez expondo as suas ideias com

    clareza, administra o seu dinheiro e

    ocasionalmente desloca-se ao exterior.

    Apenas se verificam algumas dificuldades

    ao nvel da audio.

    J no ouo muito bem, s vezes o

    senhor enfermeiro at me faz limpeza aos

    ouvidos, de resto se no fosse a doena

    estava bem.

  • 23

    Famlia:

    Famlia extensa, me de 13 filhos, mas

    um morreu com trs anos. Uma famlia

    feliz embora o trabalho fosse muito e um

    marido ciumento e por conseguinte

    violento.

    Embora no tivesse um trabalho

    remunerado, o da casa e os 12 filhos j

    eram suficientes.

    Tive 13 filhos, mas um morreu com trs

    anos, quando a mais pequena j tinha

    quatro anos pegava num banco e dizia-

    me:- Me d a teta.

    Aos 48 anos tive um aborto e depois no

    tive mais nenhum.

    No tinha trabalho, ocupava-me dos

    filhos e da casa.

    Casei com 21 anos e o meu marido tinha

    26, ele trabalhava como ferreiro, mas no

    havia trabalho e foi para Angola, eu nessa

    altura j tinha 3 filhos, depois foi para a

    Frana, j fiquei com 10filhos e um na

    barriga. O meu marido reformou-se da

    Frana porque em Portugal no quis

    descontar.

    Enquanto o meu marido estava fora eu fui

    morar com os meus pais em Brandara.

    O meu marido veio para ca porque

    tambm no tinha trabalho e algum nos

    arranjou uma casa em Refios. Depois

    arranjamos dinheiro e fizemos uma

    casinha.

    Era o meu marido que comprava tudo

    para casa, no me dava dinheiro.

    Eu descontava para a Casa do Povo, mas

    eu no tinha dinheiro e pedia-lhe, mas ao

    chegar ao fim do ms ele zangava-se

    sempre comigo que era para no me dar o

  • 24

    dinheiro para os descontos.

    Fui visitar os meus filhos Frana, j era

    viva, passei pela Sua e foi at Lisboa ver

    os outros. Os meus filhos queriam que eu

    ficasse com eles em Frana, mas por causa

    da lngua no quis. Fiquei em Lisboa

    durante 18 anos com o meu filho mais

    novo, depois ele arranjou uma moa e eu

    disse-lhe: - Se quiseres traz-la para casa

    podes que eu no me importo, ficai vossa

    vontade, mas eu vou para um lar.

    O meu marido batia-me, tinha muitos

    cimes, no podia falar para os homens.

    Quando eu ia lavar roupa para os

    lavadouros, os homens passavam e

    viravam a cara para o lado por causa do

    meu marido, ele tinha conta em mim. Eu

    gostava tanto de cantar mas depois de

    casar nunca mais cantei.

    Homens.!!!! Chegou-me aquele e

    sobrou-me.

    Muita porrada que eu levei.

    Passei uma vida negra. Uma triste vida.

    Vivncias da juventude:

    uma senhora mais reservada e tmida.

    O meu missal no assim to grande -

    Referindo-se sua colega.

    Namorei um ano, ele j era ciumento e eu

  • 25

    dizia minha me, mas ela dizia-me que

    era por eu ser muito bonita.

    Tive tantos namorados que gostavam de

    cantar e danar e tive de casar com

    aquele, fui a minha sorte!

    Antes de casar trabalhava na lavoura.

    Institucionalizao:

    de realar a fora de vontade e a

    felicidade de uma senhora com tanta

    vontade de vir para o lar e a forma como

    exprime essa felicidade.

    A utente uma senhora calma, e reservada

    e que tem as suas preferncias no que diz

    respeito aos outros utentes, notando-se uma

    grande amizade e companheirismo com a

    colega, tambm ela utente residente,

    encontrando-se sentadas lado a lado na sala.

    Primeiro fui para o Lar da Correlh,

    durante dois meses, at arranjar um

    lugar aqui, no que no gostasse de la

    estar mas no conhecia ningum, era

    uma tristeza, eu dizia: Ai que tristeza eu

    tenho.

    Quando tive lugar aqui, peguei nos

    trapos e vim para aqui, ao menos aqui

    conheo toda a gente. Mas primeiro quis

    vir ver, vim com o meu filho, mostraram-

    me tudo e eu gostei, disse logo: - Quero

    vir para aqui hoje!.

    Gostei muito e estou muito contente.

    Toda a minha vida gostei do lar. Eu via

    as pessoas na televiso, o que eles faziam

    nos lares, e gostava muito porque faziam

    tantas coisas.

    A minha reforma pequena, so os

    meus filhos que do dinheiro para ajudar

    a pagar o lar.

  • 26

    Mas no se esconde ao mesmo tempo de

    falar acerca de quem gosta menos

    Esta senhora tambm outra das utentes

    que pertence ao grupo que compe os

    elementos do programa da Rdio Ondas do

    Lima Reviver o passado.

    Pensava que vinha para aqui o corvo,

    ai que eu j ia fugir, aquela mula branca

    andava sempre a peguilhar connosco

    (referindo-se a uma colega do lar).

  • 27

    Grelha n6

    Utente de Centro de dia

    Ano de nascimento: 1939

    Estado Civil: Solteiro

    Naturalidade: Refios Ponte de Lima

    Habilitaes acadmicas: No tem estudos

    Profisso: Construo civil/lavoura

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao - s

    Higiene pessoal ajuda parcial

    Vestir-se - s

    Fala - bem

    Viso - boa

    Audio diz que boa

    Memria - boa

    Orientao espacial - sim

    Orientao temporal - sim

    Humor - bom

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior

    Trabalho domstico

    Comunicao - comunicativo

    Administrar dinheiro - sim

    Tomar medicamentos

    um senhor autnomo, comunicativo e

    com bom sentido de humor.

    Consigo, graas a Deus ainda comer

    sozinho e vestir-me tambm.

    Eu estou em casa, s venho para aqui de

    dia ento tenho de me vestir.

    As coisas no me esquecem.

    O dinheiro, eu tambm sei como gast-

    lo.

    Nunca andei na escola.

    Famlia:

    Tenho uma irm, que mora por cima na

    casa onde eu moro mas no quer saber de

  • 28

    So nove irmos, mas vive s numa casa,

    no rs-do-cho da casa do irmo, sem

    quaisquer condies, uma famlia

    destruturada.

    mim. Ela viva, andava e anda sempre

    atrs de mim porque quer o meu dinheiro

    e no fala para mim.

    A minha irm bebe e depois tambm no

    regula bem.

    A minha irm uma trafulhice e

    interesseira a minha irm. a nica

    porque as outras no so assim, todas

    falam para mim, mas no tem posses para

    cuidar de mim, no tem dinheiro. Os meus

    sobrinhos, filhos da minha irm que mora

    no primeiro andar da mesma casa que eu,

    eles falam para mim mas ela no gosta

    que eles falem, ento anda sempre a

    meter-lhes minhocas na cabea.

    Vivncias da juventude:

    Um senhor que sofreu na vida,

    comeando no sei familiar com os maus

    tratos que o pai lhe infligia.

    Viviu uma juventude com muito trabalho,

    entre a construo civil e a agricultura.

    Pouca diverso, a no ser as danas de

    folclore no convento. Era como uma

    espcie de troca de servios, danavam e

    em troca durante a semana iam para l

    Ns ramos 9 filhos, quando era novo fui

    servir, aos 12, 13 anos. Fugi ao meu pai

    porque ele batia-me.

    O meu pai s se preocupou em ir buscar o

    meu dinheiro e no a mim.

    Comecei por trabalhar numa quinta em S.

    Pedro D Arcos, a cuidar de uma vacaria,

    depois fui para a Areosa, trabalhar na

    floresta a abrir estradas, cortvamos os

    pinheiros e arrancvamos os ps dos

    pinheiros.

    Mais tarde fui para Lisboa onde fiquei 10

    anos, trabalhava nas obras, fui de comboio

  • 29

    trabalhar.

    aos 17 anos.

    Voltei minha terra a trabalhar na

    lavoura, andava para uns e para outros,

    andava ao jornal, em Refios. Tambm

    fazia o bagao nessa quinta, trabalhava de

    noite e de dia. Sachava o milho e regava,

    semeava batatas. Nesta altura ainda a

    minha me era viva e eu comia em casa.

    Danava folclore no convento, os gajos de

    l eram tocadores e ento faziam o baile.

    As pessoas iam para o baile e os do

    convento pediam para irem trabalhar para

    eles, para os ajudar.

    Institucionalizao:

    Est na instituio e veio de livre vontade,

    fica apenas na valncia de Centro de Dia.

    Tem pena em no estar no Centro

    Comunitrio todos os dias porque quando

    no vem come apenas po e bebe, no

    sabe nem tem ningum para cozinhar.

    Fui eu que pedi para vir para aqui

    porque me aleijei.

    Comecei a vir para o Centro

    Comunitrio, s Centro de Dia, depois de

    me ter aleijado e no tinha ningum para

    me ajudar. Houve um dia que tive uma dor

    to grande e no tive ningum para me

    socorrer. a carrinha que me vai buscar

    a casa na semana.

    Comigo toda a gente se d.

    Gostava de estar aqui de noite e de dia,

    porque no sbado e no domingo no venho

    e eu preciso tanto.

    Quando no venho para aqui no como

    nada porque ningum o faz, como s vezes

  • 30

    Um Senhor cansado de tanto trabalhar e

    agora s se deixa descansar, mas ainda

    gosta de ir at ao caf beber os seus

    copinhos e diz no sofrer de nenhuma

    maleita.

    po, quando o tenho, ou ento se venho

    tenho de andar a p durante uma hora a

    p.

    Eu j ando tanto a p e quando o

    professor diz para eu fazer ginstica, no

    me apetece muito, e eu j lhe disse.

    A carrinha no me vai buscar porque eu

    moro muito longe e para vir a p no

    posso, eu no sei cozinhar e no como,

    bebo e como po.

    J trabalhei muito, agora descanso.

  • 31

    Grelha n7

    Utente Residente

    Ano de nascimento: 1923

    Estado Civil: Viva

    Naturalidade: Refios

    Habilitaes acadmicas: sem habilitaes literrias

    Profisso: Domstica e agricultura

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao s

    Higiene pessoal - no

    Vestir-se com ajuda

    Fala - devagar

    Viso - boa

    Audio - boa

    Memria - fresca

    Orientao espacial - sim

    Orientao temporal - sim

    Humor bom

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior - no

    Trabalho domstico

    Comunicao - comunicativa

    Administrar dinheiro

    Tomar medicamentos

    uma senhora que necessita de ajuda

    parcial.

    capaz de se alimentar sozinha, mas no

    se desloca, necessrio um carrinho de

    rodas.

    Quanto higiene e vestir-se tambm

    necessita de ajuda.

    Tem uma boa memria, noo espacial e

    temporal. A viso, com ajuda de culos v

    bem e exprime-se de forma clara embora

    um problema de garganta a faa cansar

    com facilidade.

    Bom sentido de humor e comunicativa.

  • 32

    Famlia:

    Com uma famlia abastada, para a poca,

    mas com muito trabalho mistura. Uma

    famlia onde a escola no fazia parte dos

    planos.

    Depois de casada, a utente passou a viver

    com o marido numa casa herdada do

    sogro.

    O desgosto de amor que o seu filho mais

    novo sofreu e que o levou morte. Uma

    histria contada por uma me ainda em

    sofrimento ao fim de tantos anos.

    A suspeita de que uma terceira pessoa se

    Eramos uma famlia que vivamos todos

    muito bem. Mas o meu pai e a minha me

    nunca nos deixaram ir escola porque

    havia sempre muito trabalho.

    Do lado do meu marido eram 4 irmos,

    eles tinham uma quinta que foi repartida

    por todos, eu e o meu marido ficamos com

    a casa, era muito grande.

    O meu filho, mais novo casou e ficou

    connosco, depois casou-se com uma

    rapariga da vila, ela era nova que precisou

    do consentimento dos pais para casar, era

    tudo uma panelinha. No disseram ao meu

    filho que davam uns ataques mulher e

    pouco tempo depois comearam a dar,

    uma vez deu-lhe e eu e o meu marido

    estvamos em casa sentados mesa, tinha

    uma vara do gado perto, ela pegou nela e

    queria bater no meu marido, eu disse-lhe

    O que ests a fazer?- e ela tambm queria

    bater em mim.

    Os ataques davam-lhe de bastas vezes, s

    vezes vinha para a casa da me dela.

    Houve uma altura que lhe arranjaram

    trabalho numa fbrica, e certo dia vieram

    dizer-nos que um senhor ia sempre ter

    fbrica e era ele quem a trazia.

    Disseram-me a mim e comearam a dizer

  • 33

    aproximava da sua nora fez com que o seu

    filho entrasse em sofrimento sem saber o

    que fazer para o travar, a no ser o

    silncio.

    Uma casa grande de mais para duas

    pessoas, ao que decidiram, a utente e o

    marido passar para o rs-do-cho, fugir

    um pouco s recordaes do andar de

    cima.

    Uma senhora que no queria incomodar

    ningum quando o seu marido faleceu,

    passou a viver s numa casa arrendada

    junto da casa da sua filha.

    tambm ao meu filho, ele ficava muito

    triste at nem queria comer, ele vinha a

    casa comer porque andava a trabalhar nas

    obras. At um dia disseram-lhe A tua

    mulher uma puta! E eu tinha tanta pena

    dele porque ele andava muito triste. Ela

    engravidou e at disseram que o filho no

    era do meu filho. Ela fugiu de casa vrias

    vezes, ia para a casa da mo e quando se

    lembrava vinha para casa do meu filho e

    ele aceitava-a at a um dia que ela

    desapareceu durante um ms e quando

    veio ter casa do meu filho ele fechou-lhe

    a porta e no a deixou entrar. O meu filho

    comeou a ficar doente, meteu-se cama e

    da morreu. Quando morreu foi a mulher

    que decidiu para onde ele ia ns os pais

    no podemos fazer nada.

    Fiquei com o meu marido em casa

    durante 5 anos, depois do meu filho

    morrer, o meu marido ficou doente e

    acabou por morrer no hospital em Viana,

    nesta altura eu disse Tone eu no vou

    ficar na casa to grande, vou passar para

    a de baixo (uma anexo construdo para a

    filha ir morar quando casou, que mais tarde

    saiu).

    Quando o meu marido morreu a minha

    filha queria que eu fosse para a casa dela

  • 34

    mas minha filha no vou porque tu e o

    teu homem no vos entendeis muito bem!.

    Mas arrendei uma casa pequena beira

    dela, pagava 30 contos, eu ganhava

    100contos, 50 do meu marido e 50 meus,

    chegava para tudo e ainda dava muito

    minha filha que ela dizia que no tinha.

    Vivncias da juventude:

    Embora a prioridade fosse o trabalho e

    sempre o trabalho na lavoura, a utente

    adorava danar, s que havia quem

    tentasse impedir. Com um pai rigoroso

    mas mesmo assim conseguia dar o seu

    pezinho de dana e missa no se podia

    faltar.

    Afirma ter sido uma menina bem

    comportada, segundo os ensinamentos do

    Eu gostava tanto de danar, mas o nosso

    pai no nos deixava.

    Todos os domingos amos missa, era o

    meu pai que nos repartia, porque aqui em

    Refios havia trs missas, umas iam mais

    cedo e outras a outras horas que era para

    tomar conta do gado, ns tnhamos 4 bois,

    para trabalhar e no para cobrir.

    O meu pai deixava-me ir para as

    sachadas, para as lavradas e l eu

    danava.

    Na nossa casa, ele nunca se importou

    que eu danasse, ns fazamos os

    trabalhos e depois, tnhamos uma eira em

    pedra, uns amigos do meu pai tinham uma

    concertina e ento toda a gente cantava e

    danava, eu muito gostava.

    O meu pai e a minha mo diziam sempre

    que havia uma soga se elas no se

  • 35

    pai.

    Uma senhora muito engraada que relata a

    sua juventude e o tempo de namoro, tempo

    em que um bom namorado era aquele que

    possua um bom dote.

    Depois de 10 anos de namoro com um

    rapaz de quem ela no gostava, mas que

    possua o dote, acabou por terminar o

    namoro e namorar com outro, com o qual

    veio a casar.

    portassem bem, ento ns andvamos

    direitinhas.

    Sabe eu era muita linda, quando tinha

    15 anos comecei a namorar com um rapaz

    que era muito feio, mas tinha de ser

    porque o meu pai queria... Sabe, na altura

    o que contava era o dote, que eles e elas

    tinham e esse meu namorado tinha um

    bom dote por isso que o meu pai

    gostava. O meu pai at dizia que ele no

    era assim to feio. Mas eu tinha vergonha

    dele, mesmo assim namorei 10anos com

    ele.

    Um certo dia encontrei outro rapaz de

    quem eu gostava e como ele tambm tinha

    dote, (no to grande quanto o outro), e o

    meu pai tambm gostou dele, ento casei

    com ele.

    Institucionalizao:

    Sozinha em sua casa at ao dia que algum

    passou e lhe fez a proposta de ir para o lar.

    Foi uma deciso da prpria vir para o lar e

    ficar como residente, s que para alguns o

    dinheiro era mais importante do que o seu

    Um dia passou uma carrinha aqui do lar e

    uma menina parou e disse-me D C.

    voc no quer ir para o lar, esta aqui

    sozinha e podem vir os ladres.

    Eu disse minha filha, mas ela dizia-me

    sempre para eu no vir porque ela queria

    era que eu lhe desse sempre dinheiro.

  • 36

    bem- estar.

    Hoje considera que fez uma boa escolha.

    Um dia, foi logo no incio quando isto

    abriu, eu decidi mesmo vir para aqui, e

    estou to bem.

    A minha filha vinha visitar-me duas, trs

    vezes por semana, mas sempre para vir

    buscar a massa. Um dia ela veio aqui e eu

    fui casa de banho, ela nem me deixou

    apertar as calas, estava sempre a dizer

    para eu lhe dar dinheiro, eu enervei-me e

    disse-lhe: - pe-te a andar daqui para

    fora. Quando eu sa da casa de banho

    ela j no estava aqui, se calhar com a

    vergonha, e zangou-se comigo porque eu

    no lhe dei dinheiro e agora no me vem

    visitar. Ela tem um filho que tem um

    bocadinho de deficincia e esse vem

    sempre visitar.

    Os meus filhos que esto em Frana,

    quando vem de frias visitam-me sempre.

    Estou to bem aqui! tudo gente

    boa.

  • 37

    Grelha n 8

    Utente de Centro de dia

    Ano de Nascimento: 1936

    Estado Civil: Viva

    Naturalidade: Refios Ponte de Lima

    Habilitaes acadmicas: Sem estudos

    Profisso: Criada de servir/lavoura

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao-s

    Higiene pessoal -s

    Vestir-se -s

    Fala -bem

    Viso - boa

    Audio - boa

    Memria - boa

    Orientao espacial - sim

    Orientao temporal - sim

    Humor - bom

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior

    Trabalho domstico

    Comunicao - comunicativa

    Administrar dinheiro - sim

    Tomar medicamentos

    uma senhora autnoma, comunicativa,

    com bom sentido de humor, mas um

    pouco conflituosa.

    A utente faz questo de administrar o seu

    prprio dinheiro poupando o que pode

    para deixar tudo pago e algum para os

    filhos Vou pondo um pouco de lado, se

    morrer os meus filhos no precisam de

    gastar dinheiro no funeral. Os meus filhos

    dizem para que que eu quero o

    dinheiro? At agora no comi nenhum

    dinheiro aos meus filhos e ainda consigo

    pr um bocado de lado.

    Os trabalhos domsticos vo-se fazendo

    aos poucos Ainda consigo fazer as

    minhas coisas, vou fazendo paro e

    quando posso volto a fazer.

  • 38

    Famlia:

    Casou aos 22 anos e aps 50 anos de

    casamento afirma estar arrependida em ter

    contrado matrimnio, o seu marido no

    era assim to fcil, tendo-lhe infligido

    maus tratos durante 30 anos.

    Durante meses viu-se sozinha com os seus

    filhos, sem que o marido desse notcias.

    Sem marido e sem os filhos por perto,

    sente a solido deambular, embora o

    relacionamento com os filhos seja bom.

    Chegou a ser emigrante, partiu e deixou

    todos os filhos que j eram adultos em

    Portugal sozinhos.

    Arrependi-me de me ter casado, assim

    no me afligia. O meu marido era muito

    mau, bateu-me durante 30anos, estive

    casada com ele durante 50 anos e por fim

    que nos dvamos bem Deus levou-mo.

    Tive 13 filhos mais a perca de um, agora

    tenho 11 vivos, a que me resta aqui a P.

    (tambm utente residente do lar).

    Dou-me bem com os meus filhos, por eles

    dou a minha vida. Passei muito para criar

    os meus filhos, o meu marido esteve 7

    meses em Lisboa, no dava notcias, tinha

    la outra.

    Agora vejo-me arreliada de estar

    sozinha.Tenho receio que me acontea

    alguma coisa, a minha irm tem as chaves

    da minha casa e se no me v vai l a casa

    ver.

    Estive 14 anos em Frana j era casada,

    os meus filhos j eram de maior idade e

    ficaram c sozinhos.

    Vivncias da juventude:

    Comeou muito nova a trabalhar, a

    necessidade assim a obrigou.

    Quando tinha 7 anos foi trabalhar, foi

    servir para Crasto (Ribeira Ponte de

    Lima). Fui muitas vezes pedir para matar

  • 39

    Passou dias difceis, a comida no

    abundava e viu-se obrigada a pedir para

    matar a fome, a vergonha e ao mesmo

    tempo a coragem de ir ter com algum por

    uma questo de subsistncia.

    O dia para esta utente comeava muito

    antes de amanhecer, no todos os dias,

    mas quando era para ir para o monte.

    Criada de servir, diz ter sido tratada como

    fazendo parte integrante da famlia onde

    exercia funes domsticas.

    A histria de amor da utente com o seu

    primo e a rutura por causa dos caracis.

    a fome.

    Tinha vergonha de pedir, s vezes

    sentava-me na eira e o senhor da casa

    perguntava-me o que que eu queria, mas

    a senhora (esposa) j sabia o que eu

    queria, ento dava-me a tigela do caldo e

    o po.

    Passei muito, levantava-me s 2 horas da

    manh para ir para o monte, trabalhava

    ao jornal para ganhar, agora um regalo

    viver!

    Fui servir para uma senhora mais rica,

    passeava com ela, ia comer com ela ao

    restaurante. Em Santa Luzia, iam pr-me

    numa mesa parte e comida diferente, mas

    a senhora no deixou, eu comi com ela na

    mesma mesa. Fui com ela para Lisboa. Se

    eu no tivesse sado da beira dela se

    calhar vivia bem.

    Servi at aos 21 anos, aos 22 anos casei-

    me.

    Fui para a casa do meu tio, o meu primo

    queria casar comigo, mas ele queria que

    eu fizesse a permanente e eu no queria,

    tinha um cabelo que me dava pelo rabo.

    Eu gostava do meu primo e se no fosse

    isso eu at casava com ele. Eu ia sempre

    com ele e os irmos, gozava quanto quis,

    queria-me para casar e por isso nunca me

  • 40

    A vontade do pai no foi respeitada, logo

    houve represlias.

    desrespeitou.

    O meu pai queria que eu casasse com o

    meu primo e quando eu namorava com

    outros batia-me.

    Institucionalizao:

    Foi por influncia de um dos filhos que a

    utente decidiu ir para o lar como residente

    de centro de dia.

    H trs anos que est na instituio, mas

    tem dificuldade de se relacionar com

    alguns dos utentes, sejam eles residentes ou

    do Centro de dia. Neste momento esta fora

    de questo entrar no lar como residente,

    apenas fica de dia.

    Quando fiquei viva, 8 ou 15 dias

    depois o meu filho veio a casa e disse: -

    Me sozinha no esta bem porque pode

    dar-lhe alguma coisa, vem para a minha

    casa ou para um lar!.

    Eu no queria ir para a casa do meu

    filho porque a minha nora tem muito

    gnio, e ento ele perguntou-me se queria

    o lar da Vila ou o lar de Refios e eu

    disse-lhe que queria vir para Refios.

    H trs anos que estou aqui no Centro

    de dia.

    1 gostava de ficar de noite e de dia,

    porque nunca me peguei com ningum,

    agora j no quero ficar porque a da

    areosa muito malcriada.

    No estou l dentro porque est la uma

    senhora da Areosa que me detesta.

    Aqui na instituio j acertei o passo a

    um senhor que me disse uma coisa que eu

    no gostei e com a minha filha tambm

  • 41

    No fica muito tempo dentro da instituio,

    gosta do seu espao s ou a conversar com

    algum, mas mais distante da sala onde se

    encontram pessoas com quem a utente diz

    no gostar. A utente acaba por passar a

    maior parte do dia no exterior da

    instituio, por opo, sentada numa

    cadeira porta de entrada no deixando de

    participar em atividades e sadas

    organizadas pela instituio.

    Com uma personalidade forte que revela

    dificuldade em perdoar quem quer que seja

    que a tenha magoado.

    Tem pena que algumas das atividades

    tenham acabado e outras no sejam

    proporcionadas com mais frequncia

    So apenas trs utentes com quem no

    consegue entende-se, talvez uma questo

    de orgulho! Com os outros utentes

    entrou no quarto dela todo nu, ela

    levantou-se da cama e assapou-lhe.

    Um dia ao ver a minha filha ir buscar o

    meu casaco que estava na minha cadeira,

    ela disse: - Ai vem a vaca!

    No quero conversar com essa mulher!

    Com o de cadeira de roda, se eu falar na

    carrinha ele ralha comigo, primeiro foi

    por causa do A., porque ele emborracha-

    se e cheirava a cigarro e lcool. Ele disse

    que as minhas filhas eram uma camada

    de putas. Ele um burro!

    Eu estou ca fora assim no ouo e no

    conto.

    Quem me magoar no consigo falar com

    essa pessoa, fico nervosa.

    Dou-me bem com todos, s menos com

    esses trs, no tenho queixa de mais

    ningum.

    Gosto de sair com os outros utentes,

    antes ia a Ponte de Lima ginstica,

    dana e agora acabaram com isso. Gosto

    muito das caminhadas que fazemos

    agora.

    por causa da d Areosa que eu no

    fico na ginstica na sala.

  • 42

    relaciona-se de forma normal.

    Hoje com 76 anos, utente do centro de dia

    e quando abordada acerca da forma como

    sente e vive a fase da vida em que se

    encontra fala

    As foras vo diminuindo, o cansao de

    tanto trabalhar notvel

    Quando chove ponho-me debaixo do

    alpendre ou ento dentro na entrada.

    Antes trazia uma cadeira e s vezes

    sentavam-se nela e eu dizia que era

    minha, mas diziam que no estava

    marcada, ento eu resolvi trazer uma de

    casa, assim ningum ma tira.

    No tenho paixo nenhuma de deixar o

    mundo, s peo a Deus Nosso Senhor que

    me leve como a minha me (a me faleceu

    de repente e no sofreu nada).

    Queria andar a trabalhar e que me desse

    e ficasse. S se est c no mundo para

    sofrer. Parece que at era feliz que me

    desse e ficasse, a gente tem de morrer.

    Agora penso que tenho tudo de velho e

    tenho de pagar para ver tudo limpo,

    porque se eu pudesse trabalhar pensam

    que eu estava aqui?.

  • 43

    Grelha n 9

    Utente Residente

    Data Nascimento: 1957

    Estado Civil: Solteiro

    Naturalidade: Refios

    Habilitaes acadmicas: 1 classe

    Profisso:

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao sem dificuldade

    Higiene pessoal sem dificuldade

    Vestir-se sem dificuldade

    Fala com alguma dificuldade

    Viso - boa

    Audio - boa

    Memria Esquecimentos mais ou menos

    frequentes.

    Orientao espacial - sim

    Orientao temporal -

    Humor - sim

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior sim, com a

    instituio

    Trabalho domstico

    Comunicao - boa

    Administrar dinheiro - no

    Tomar medicamentos sim

    Apesar de um atraso cognitivo mostrado

    pelo Sr. Antnio, um homem cheio de

    vida, um senhor que gosta de ajudar nas

    tarefas do lar, um senhor que se mostra

    sempre disponvel no que diz respeito a

    ajudar os mais debilitados, amigo de

    toda a gente, sempre bem-disposto.

    Famlia:

    Uma histria repleta de sofrimento e Dormia no cho da casa de banho, na

  • 44

    tristeza.

    Um utente cujas relaes familiares no

    eram as mais desejadas para um ser

    humano.

    Com a famlia no tem nenhuma ligao,

    apenas com o amigo de sempre que quando

    vem c de Frana visita-o no Lar e leva-o a

    passear.

    loja, tinha tbuas no cho e eu dormia em

    cima, porque a minha irm fechava-me a

    porta e no me deixava entrar.

    O meu amigo quando vem de Frana,

    vem buscar-me para ir com eles passear e

    liga-me s vezes para aqui. A mulher

    tambm me ajudou muito, a S.

    Vivncias da juventude:

    Par alm da carncia afetiva, somavam-se

    tambm as dificuldades financeiras, logo

    carncias alimentares bsicas. Muitas das

    vezes s se alimentava graas ajuda de

    um amigo ou de outras pessoas da

    freguesia.

    Um verdadeiro amigo que lhe matou a

    fome muitas vezes e que ainda hoje lhe

    telefona para o lar. Era este amigo que

    pagava na mercearia o que ele comia, as

    sandes e s vezes a sopa.

    Eram as pessoas de fora que me davam

    de comer.

    s vezes eu tinha fome e ligava para um

    amigo e eu dizia: - A minha irm no me

    da de comer.

    Ele dizia-me: - Vai ao A. (a mercearia) e

    ele que te d sandes. e ele pagava.

    Institucionalizao:

    De seu nome A., mas todos, na instituio

    lhe chama carinhosamente de T..inho.

    Andava a vaguear pelas ruas, ora dormia ao

  • 45

    relento, ora dormia encostado a alguma

    coisa, at que um dia sempre conseguiu ser

    institucionalizado.

    Tanto que tentou entrar numa instituio

    que conseguiu.

    Embora sem o acordo da irm, mas com a

    ajuda de um cmplice, um amigo,

    conseguiu chegar instituio.

    Sente-se muito bem no Lar.

    um Senhor que ajuda muito os outros no

    Lar, foi possvel observ-lo ajudar outros

    idosos empurrando os carrinhos de rodas

    para os levar para o refeitrio, vai trabalhar

    na horta da instituio. novo, autnomo,

    carinhosos para com os outros utentes e

    com fora e vontade para ajudar os mais

    debilitados, at pega na vassoura e varre o

    que v sujo em qualquer lado.

    Eu ligava sempre para a Santa Casa,

    mas diziam sempre que no havia vagas,

    todos os dias. Um dia liguei para a Casa

    da Caridade e disseram-me: Vamos

    ver. Fui Junta de Freguesia, eu

    chorava e o Presidente ajudou-me. Eu

    vim aqui falar sozinho com a Doutora, eu

    chorava.

    Eu quis vir para aqui porque passava

    fome e dormia fora de casa.

    Custou-me vir para aqui, tive sorte.

    Eu para tirar a roupa de casa foi de

    noite, a minha irm dizia: - No dormes

    Tone. porque eu tinha a luz acesa. Eu

    enchi o saco da roupa, atirei-a da janela

    abaixo e fugi de noite de casa, atravessei

    os campos (ele apontava em direo aos

    campos que atravessou que se avistavam

    do Lar) a p com o saco s costas, meti o

    saco numa carrinha de um amigo e vim

    para aqui, o saco ainda est aqui.

    Aqui estou bem, tenho roupa lavada,

    comidinha

  • 46

    Grelha n 10

    Utente Residente

    Data Nascimento: 1942

    Estado Civil: Casada

    Naturalidade: Caminha

    Habilitaes acadmicas: 4 classe

    Profisso: Agricultura

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao

    Higiene pessoal

    Vestir-se

    Fala -bem

    Viso

    Audio - boa

    Memria - excelente

    Orientao espacial

    Orientao temporal

    Humor- bom

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior

    Trabalho domstico

    Comunicao - comunicativa

    Administrar dinheiro

    Tomar medicamentos

    Uma senhora invisual e acamada h seis

    anos.

    Dependente totalmente, com uma boa

    memria e muito faladora.

    Famlia:

    ramos quatro irmos, mas uma minha

    irm foi criada com os avs desde que eu

  • 47

    A famlia era composta pelos pais e pelos

    quatro filhos.

    H uma retaguarda dos avs, presente,

    para ajudar a famlia que passa um perodo

    difcil aquando do nascimento da utente.

    Casada h 40 anos e sete meses, com um

    senhor que viuvou e ficou com dois filhos.

    Uma vez que os seus enteados se viram

    privados da me biolgico pro motivo de

    falecimento, a utente passou a ser

    madrasta e me ao mesmo tempo.

    Do seu matrimnio apenas resultou um

    nico filho.

    doena no conseguiu escapar, atirando-

    a para uma cama h j seis anos. Com

    nasci. Eu nasci tinha ela 19 meses. Depois

    a minha me no lhe correu muito bem

    depois do parto, estive muito malzinha.

    Ento os meus avs levaram-na com

    eles.

    Trabalhei na lavoura at casar e

    continuei depois de casar. Fiz 40 anos e 7

    meses no dia de Natal. O meu marido era

    vivo. Ficou vivo com 40 anos e os

    filhos, um com 11 e outro com 9anos.

    No por ser meu marido mas ele era

    muito jeitoso era. Com 42 anos, quando se

    casou comigo, era muito jeitoso.

    Fui eu quem os criei. E ainda tinha o

    sogro, o pai da outra mulher. Cuidei dele

    2 anos.

    O meu filho tem 38 anos, e solteiro. J

    la teve uma moa connosco e eu at

    gostava muito da rapariga. Mas eles no

    se entenderam e pronto. Nasceu em

    Fevereiro e eu fazia 2 anos de casada em

    Maio. O meu marido tem dois filhos da

    outra mulher, uma com 53 anos e um

    rapaz de 52.

    Eu estou doente h mais ou menosh 6

    anos que acamei.

    Chegamos a ter l uma moa da terra.

  • 48

    algum a cuidar dela mas que no foi por

    muito tempo, acabando por continuar o

    marido e o filho.

    Como se costuma dizer, uma desgraa

    nunca vem s, e no que a senhora

    O marido no estava pela conta de alertar

    qualquer servio para ajudar dizendo

    que

    Mantm boas relaes com os irmos, s

    existe um entrave entre a utente e eles, que

    o marido, com quem ningum quer

    conflito, ento resolvem a situao de uma

    outra forma porque os valores da famlia

    falam mais alto.

    Mas ela s l ia pelo dinheiro e no pela

    limpeza que fazia. Comeamos a ver que

    ela no fazia nada e tambm comearam a

    faltar-nos umas coisas em casa, ento

    O meu marido e o meu filho que

    tratavam de mim.

    Em 2000 parti este brao, fui operada.

    Tinha 3 ferros, prteses, aqui dentro.

    Duas saram elas por si e uma era para

    tirar mas nunca se tirou.

    Parti o brao porque mancava um

    bocadinho. Tenho artrose na perna

    direita. No pde ser operada porque

    tinha o mal no fgado, o mal da hepatite.

    Ainda mais Eu, esta vista esquerda j h

    muito tempo que eu via pouco e depois

    acabei por cegar. Mais tarde que ceguei

    da direita tambm. O mdico disse-me que

    no havia nada a fazer. O que eu chorei!

    O meu marido nunca quis que fosse l

    algum da segurana social. Dizia que o

    que elas vinham fazer tambm eu e ele

    fazamos.

    Os meus irmos no se do com o meu

    marido e ele importa-se que eles falem

    comigo. O meu irmo mora perto de mim,

    a 30 metros. Ento a minha irm liga para

    o meu irmo para ver se o meu marido

    est em casa, se ele estiver ento telefona-

    me porque est segura.

  • 49

    Vivncias da juventude:

    Gostava da escola, de estudar s que na

    altura no surgiram oportunidades para

    que tal acontecesse ficando com a 4

    classe.

    Uma vida de trabalho, para os seus e

    para os outros, o objetivo era ganhar

    dinheiro para ajudar em casa e para fazer

    o enxoval.

    A senhora bem-disposta que nem o

    trabalho de outrora no campo a paravam

    de cansao, havia tempo para as

    borgadas.

    Onde houvesse uma concertina, ela era a

    rainha

    Eu fui para a escola com sete anos mas

    com onze tambm j estava c fora. Com a

    4classe e distino, fui eu e um rapaz s

    naquele ano.

    Terminada a 4class,e terminava a idade

    de estudar. No havia mais, no havia

    ciclos no havia nada.

    Ao chegar da escola estava a minha me

    espera para eu ir buscar uns cestinhos de

    erva ou ir com a vaca.

    Trabalhei sempre na casa, para a minha

    me. Depois comecei a ser uma mocinha e

    com 12 anos j ia ganhar meios-dias no

    campo, para aqui e para acol. Ia ao

    jornal e fui assim que fez o meu enxoval e

    ajudei para a casa.

    Cantarbem, cantava. Mas danar que

    eu sabia bem. Em Venade no me punham

    c os cotos em cima, isso que verdade.

    O meu maior desporto era danar. No

    era namorar nem isto ou aquilo, era danar.

    Eu se sentisse uma concertina, estivesse ela

    onde estivesse, eu tinha de ir l. Gostava

    muito de danar verdade. E no era pra

    andar agarrada a um homem. Eu gostava de

    danar o vira

    Havia coisas muito bonitas no campo. O

    trabalho na lavoura no custava. Era duro

    sim mas era bonito. Era muito alegre. A

  • 50

    Gostava do trabalho do campo, era duro

    mas alegreo orgulho se ser lavradeira.

    E no final de cada trabalho havia a

    recompensa to esperada, a merenda e as

    brincadeiras.

    Muito pormenorizada vai desenvolvendo

    e contando a sua histria de vida, que

    passa pela eternizao de um momento

    fotogrfico.

    A utente chega mesmo a comparar os

    gente ia para as desfolhadas muitas vezes

    na madrugada. Outras vezes ia-se noite,

    ia-se esfolhar noite at s tantas.

    Cantar no faltava. No faltava tambm o

    vinho americano.

    ns tnhamos l uma leira que eu tinha de

    dizer quando esfolhvamos l porque

    tnhamos a estrada nacional a passar

    beira e ento toda a gente sabia. Era

    esfolhar de noite e cantar era pra botar a

    freguesia abaixo.

    E depois era o lanche na estrada. H 50

    anos no havia os carros como h hoje.

    Ponhamos o nosso lanche no meio da

    estrada: biscoitos, bolachas, bolinhos de

    cacau, trigo, uma pingaPassvamos ali

    um pedao da noite com a leira desfolhada.

    E nas desfolhadas havia tambm os

    mascarados, tambm l apareciam. Se s

    vezes pudessem rapinar o lanchetambm

    faziam daquilo uma graa. Escondiam o

    garrafo de vinho tambm. Mas ningum

    levava a mal.

    Ia-se para o sacharchegvamos a andar

    11 pessoas a sachar. O campo era muito

    grande.

    Tenho l em casa uma fotografia muito

    bonita. Todas ns com a enxada na mo.

    bonito, bonito.

  • 51

    tempos de outrora com os de agora tanto

    em relao ao trabalho como em relao

    s atitudes do ser humano, sobretudo das

    mulheres.

    Foi uma senhora namoradeira e

    convencida de que a melhor maneira de

    se encontrar um rapaz era saber danar.

    O trabalho era uma pardia, uma alegria.

    Hoje no, hoje no . Primeiro as leiras

    esto a ficar todas de monte. As terras que

    eu tanto trabalhei e que tanto davam hoje

    vm-se cheias de salgueiros, giestas e

    silvas.

    Agora uma moa que canta no meio de

    uma leira dizem logo que: quem canta

    quer galo. Agora feio cantar, o que dantes

    era to bonito.

    Ai tive, tive! E sabe que eu depois sabia

    danar e os moos gostavam de quem sabia

    danar, Ao som da dana arranjava-se um

    namoro.

    Institucionalizao:

    A instituio no foi uma deciso fcil,

    embora por vezes o pensasse e dissesse,

    no era o que queria na realidade, era s

    um desabafo pelo facto do seu marido ser

    um pouco agressivo.

    Esta nova etapa da sua vida fala das

    pessoas que a rodeiam, no lar, com imenso

    carinho, at j consegue, em to pouco

    tempo, distinguir pela voz algumas das

    pessoas que lidam com ela todos os dias.

    Eu vim para aqui h fora. Eu primeiro

    disse, uma vez, que queria vir-me embora

    porque o meu marido um bocado

    bravo.

    No me quero lembrar. O que eu tenho

    chorado este ms que c estou. Fica-me

    marcado o dia 12 de Dezembro, nem que

    eu durasse mais cinquenta anos.

    Eu sinto-me bem. No podia ser mais

    acarinhada do que sou. Lar por l ento

    que seja neste. A Doutora M. muito boa,

    vem muitas vezes aqui falar comigoj a

    conheo pela voz. A doutora C. tambm

    me parece ser mas essa lida e fala menos

  • 52

    Na instituio recebe visitas tanto do seu

    marido como do filho e enteado. Quanto

    aos seus irmos mais atravs do telefona

    para que no haja conflito.

    E mais ainda, h uma visita especial que

    tanto agradou a utente, o Marco, o seu

    cozinho de estimao que ela criou desde

    os 22 dias com muita dedicao.

    Uma senhora ainda com uma entrada

    recente na instituio mas j com

    estratgias de comunicao com outros

    colegas, nomeadamente com a colega de

    quarto, uma senhora que no grande noo

    comigo.

    O enfermeiro s chega minha beira,

    toca-me nas mos e eu j vejo que a

    mo amiga do Sr. Enfermeiro. Ele farta-se

    de rir.

    Acrescenta que Os nossos dedos so os

    olhos dos cegos.

    A minha irm quando me telefona tenho

    de estar aqui meia hora, ou at deve

    passar.

    Tm vindo c vrias vezes. O meu filho,

    o meu marido e o meu enteado tambm.

    At j veio o Marco tambm, que a

    Senhora Doutora autorizou. Primeiro

    achou este stio estranho, depois eu

    chamava pelo seu nome e ele comeou a

    lamber-me as mos, estava to contente.

    O Marco um cozinho que eu criei.

    Criei-o porque a me dele morreu quando

    ele tinha 22 dias. Amolecia as bolachas

    na minha boca e depois ele vinha comer

    minha boca, para beber tambm metia a

    gua na minha boca e ele vinha beber.

    Quando a O. Est mais alterada, eu

    chamo-lhe pelo nome para lhe ser mais

  • 53

    do espao onde se encontra e a utente

    adotou, com conhecimento prvio sobre

    colega, quando se apercebe que ela est

    alterada, fala-lhe acerca do que ainda lhe

    resta na memria, que a lavoura, e logo

    consegue, segundo a utente, resultados.

    Diz trat-la pelo seu nome para que no lhe

    parea estranho, porque no gosta de tratar

    assim as pessoas, trata toda a gente por D.

    familiar e digo-lhe: L.(diminutivo )olha

    as vacas, vamos dar de comer s vacas e

    no que resulta.

  • 54

    Grelha 11

    Utente Residente

    Ano de nascimento: 1925

    Estado Civil: Solteiro

    Naturalidade: Refios Ponte de Lima

    Habilitaes acadmicas: 4 classe

    Profisso: Agricultor

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao - s

    Higiene pessoal - s

    Vestir-se s

    Fala - Bem

    Viso - Bem

    Audio - Mal

    Memria -. Boa

    Orientao espacial - Tem

    Orientao temporal - Tem

    Humor - Bom

    Comportamento - Normal

    Deslocao ao exterior- Adora

    Trabalho domstico

    Comunicao - Comunicativo

    Administrar dinheiro

    Tomar medicamentos Com ajuda

    um utente autnomo, tranquilo,

    comunicativo e com bom sentido de

    humor.

    Ainda me visto e como sozinho.

    A carteira anda sempre aqui (refere-se

    ao bolso) mas tem pouco dinheiro.

    Nunca fui muito da parranda (mas o

    senhor at engraado )!

    Famlia:

    Somos 4 irmos, sou o mais novo e o meu

  • 55

    Famlia de muita lavoura, em que as

    raparigas ficavam quase sempre por casa

    com a me a fazer as atividades

    domsticas, como costurar, lavar roupa e

    fazer a comida.

    O nico solteiro da famlia, que acabou

    por ficar com uma das suas irms.

    pai morreu quando eu tinha 1 ano.

    A minha me ficava em casa e as minhas

    irms tambm ficavam, cozinhavam,

    lavavam a roupa. S na apanhada da

    azeitona que uma saa, a outra ficava a

    saraquitar em casa.

    Todos casaram s eu que fiquei

    solteiro.

    Estava com a minha irm, mas ela queria

    ficar vontade.

    Vivncias da juventude:

    Trabalhador da agricultura, nunca foi um

    moo muito namoradeiro, no havia moa

    que lhe agradasse.

    A escola era uma das suas paixes, com

    grande orgulho dos 4 anos passados na

    escola, vinca que entrou aos 7 e saiu aos

    11 anos e mais, era o mais esperto da sua

    classe.

    Trabalhava na lavoura, era escrava

    avida, no tinha carro, nem tinha bicicleta.

    No podia andar por muito longe, ficava

    na aldeia. As moas eram grosseiras.

    Havia poucas escolas, mas eu fui para a

    escola, fui com 7 anos e sai com 11.

    Quando sai da escola, com a 4 classe,

    tive a aprovado e distinto.

    Era sossegado e ainda hoje sou.

    Na escola eu ficava na carteira da frente

    porque era mais esperto. Os melhores

    estavam sempre nas carteiras da frente.

    Sa da escola e fui trabalhar para a

    agricultura. Andava com as vacas, levava-

    as para a boua. Diziam-me: - J que no

    fazes mais nada vai com o gado.

    Elas convidavam para ver se engatavam

  • 56

    A sua companhia era o bandolim, ainda

    hoje gosta.

    Foi-nos feita uma narrativa dos tempos

    em que os grandes senhores organizavam

    as festas dentro da quinta com o interesse

    de angariar pessoas para fazer os

    trabalhos.

    Casar era palavra que no fazia qualquer

    sentido para este utente.

    A me, mulher que geria tudo, at o

    dinheiro dos prprios filhos, que mesmo

    sendo adultos, d-nos a sensao de

    continuarem para ela como os menininhos

    que no eram capazes de tomar as rdeas.

    algum.

    Eu pegava no bandolim e ia para as

    festas fazer os bailes, com rapazes e

    raparigas, mas eram todos escolhidos, no

    era de porta aberta.

    Havia aqui uns senhores, que eram ricos

    e ento faziam bailes nos domingos para

    irmos, no era toda a gente, eram aqueles

    que eles achavam que deviam ir. Ao fim do

    baile pediam s pessoas para irem

    trabalhar para eles durante a semana,

    eram como uma troca, divertamos, mas

    em troca trabalhvamos para os senhores

    na semana.

    No me puxava para casar.

    Nunca andei nos copos, nem nas

    meninas, sempre cuidei da minha vida.

    S aos 25 anos que comecei a ter

    dinheiro. Era a minha me que nos dava o

    dinheiro quando nos fazia falta, mas um

    dia dissemos minha me que queramos

    ter um bocado de dinheiro, e ento ela

    comeou a dar-nos. Comecei a juntar, abri

    uma conta com dois contos de reis, foi

    juntando, juntando e o que eu gastei!!!

    Institucionalizao:

    Para a instituio caiu um pouco de

    paraquedas aps ter sofrido um problema

    Deu-me o chelique e vim parar aqui. Vim

    do hospital para aqui.

    No me perguntaram se eu queria ou no,

  • 57

    de sade.

    J conta com trs anos de casa e diz-se

    satisfeito com todo e com todos.

    Quanto s visitas da famlia, so escassas,

    mas no problema que interfira no seu

    bom humor e bem-estar social.

    Na instituio gosta de participar nas

    atividades.

    Um dos seus passatempos preferidos,

    depois de j c estar, perguntaram-me se

    eu queria estar s de dia ou ficar, eu ento

    comecei s no Centro de Dia, at que um

    dia disseram-me que era muito cansativo

    andar para baixo e para cima, arranjaram-

    me lugar para ficar de dia e de noite.

    Deixaram-me ca ficar, j no foi mais para

    casa.

    Perguntaram-me: Quer ficar aqui de

    noite e de dia? Eu respondi: E era.

    Paguei tudo de uma vez para ficar aqui

    descansado.

    H trs anos que estou aqui.

    Gosto de estar aqui, no tenho queixa de

    ningum, so todas boas.

    Tinha sempre a canseira de me vestir,

    agora sou daqui.

    Ningum da famlia me vem visitar, mas

    eu no me importo, no quero saber disso

    para nada.

    Acham-se duma classe superior e tem

    vergonha de mim que no sou da mesma

    classe.

    Gosto de tudo aqui, as pernas que j

    esto um bocado fracas.

  • 58

    pegar no seu bandolim e tocar as msicas

    populares, pe a restante populao alerta

    e aqueles que at gostam de cantar, no o

    fazem muito alto para no incomodar mas

    cantam mais baixo.

    Outra atividade que gosta fazer, o jogo

    das cartas.

    Esta bem e no quer pensar em mais nada.

    J no toco nada de jeito, toco pr` aqui

    um bocado, para passar o tempo.

    S sei jogar s orelhas, mas sem as puxar

    e no sou batoteiro.

    A morte quando vier, veio, no tem

    data.

  • 59

    Grelha n 12

    Utente de Centro de Dia

    Ano de nascimento: 1938

    Estado Civil: Viva

    Naturalidade: Refios

    Habilitaes acadmicas:

    Profisso: Agricultura

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao - s

    Higiene pessoal - s

    Vestir-se - s

    Fala - bem

    Viso - boa

    Audio - boa

    Memria - boa

    Orientao espacial - capaz

    Orientao temporal - capaz

    Humor - bom

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior sai com os filhos e

    com a instituio.

    Trabalho domstico vai fazendo devagar.

    Comunicao - comunicativa

    Administrar dinheiro ainda capaz

    Tomar medicamentos s

    uma utente do Centro de Dia, muito

    tranquila, autnoma e sempre agarrada

    ao seu crochet.

    Tenta consoante pode, fazer as suas

    tarefas.

    Famlia:

    Bom relacionamento com os filhos, ao Todos os dias a minha filha que est

  • 60

    ponto de no passar um dia sem que

    algum telefone.

    Salienta-se que a utente aps deixar o

    centro de dia encaminhada at sua

    residncia onde permanece sozinha durante

    a noite. Do lar leva sempre algum alimento

    para a noite.

    Ainda consegue realizar a sua higiene

    pessoal sem dificuldades assim como o

    trabalho domstico de sua casa.

    As compras so os filhos que realizam uma

    vez que a utente no pode realizar esforos

    devido ao seu problema de sade.

    mais longe liga-me s 9horas da noite.

    Levo uma panelinha de sopa para comer

    noite e ao deitar bebo leite com

    cevada.

    Vou fazendo aos bocadinhos.

    Sofro do corao.

    Vivncias da juventude:

    Bastante festeira, mas s para ver porque

    danar no era o seu forte, e festa da Boa

    Morte nunca faltava, era um gnero de

    promessa que ficava de uns anos para os

    outros.

    Era apreciadora acerca da maneira como

    as moas se preparavam para ir festa.

    O seu trabalho sempre foi dedicado

    agricultura, mesmo hoje com os

    Antigamente gostava de ir s festas,

    feiras e gostava de ver danar, mas no

    danava.

    Ia sempre Boa Morte.

    Via algumas moas com o cesto da

    merenda cabea, tiravam a saia para

    no a sujar, iam em saiote e a saia era

    colocada em cima do cesto junto com um

    ramo de alfdega, ponham um ramo de

    cada lado do cesto. Eu gostava de ver mas

    no o fazia

    Sempre trabalhei na agricultura, ainda

    hoje tenho a minha horta.

  • 61

    problemas de sade que tem ainda gosta

    de fazer a sua horta familiar.

    Conta-nos com nostalgia e surpresa para

    os mais novos, a forma como decoravam o

    pinheiro de natal, fantsticoe a comida,

    entre couves, batatas, bacalhau, enfim

    nada faltava, nem as rabanadas .

    Quando amos ao monte j trazamos o

    pinheiro em cima do carro (de vacas,

    claro).Mais ou menos 15 dias antes do

    natal comevamos a preparar, a minha

    me trazia uma saca de laranjas, eram

    partidas ao meio, limpas e metamos

    dentro azeite e com algodo em rama fazia

    um pavio e acendia. A minha me tinha

    muito medo que ardesse. Era bonito as

    luzes todas volta do pinheiro. No

    pinheiro metamos farinha, parecia neve.

    Institucionalizao:

    Passou a frequentar o lar como utente de

    centro de dia aps ter sofrido um ataque

    cardaco, sendo que nem o mdico nem os

    filhos achavam bem que ela ficasse

    sozinha em casa.

    O incio foi reticente, hoje diz gostar e at

    pensar, quem sabe, ficar como utente

    residente.

    uma senhora tranquila, discreta, que

    passa a maior parte do seu tempo a fazer

    tapete de arraiolos ou ento a fazer

    crochet que ela gosta de oferecer aos seus

    filhos e a outras pessoas.

    No podia ficar s em casa por causa dos

    meus problemas do corao.

    De primeiro eu no queria vir. Agora at

    gostava de ficar de noite pois fico sozinha,

    os meus filhos todos trabalham.

    No me dou quieta, gosto muito de fazer

    coisas e oferecer aos meus filhos e at j

    fiz para o lar.

  • 62

    Faz parte da equipa que vai at rdio nas

    quintas-feiras, no programa Reviver o

    passado, das 16:30 at s 17:00.

  • 63

    Grelha n 13

    Utente Residente

    Ano de nascimento: 1936

    Estado Civil: Viva

    Naturalidade: Melgao

    Habilitaes acadmicas: 4 classe

    Profisso: Comerciante

    Capacidades Fsicas e Funcionais

    (expresses dos utentes)

    Alimentao - s

    Higiene pessoal - s

    Vestir-se - s

    Fala - bem

    Viso - boa

    Audio - boa

    Memria bem fresca

    Orientao espacial - boa

    Orientao temporal - boa

    Humor - sim

    Comportamento - normal

    Deslocao ao exterior com a instituio

    e com os filhos.

    Trabalho domstico

    Comunicao - comunicativa

    Administrar dinheiro

    Tomar medicamentos com apoio

    Utente autnoma, com boa capacidade de

    memria.

    Possui uma boa orientao tanto espacial e

    temporal.

    Com um comportamento normal e tem

    bom sentido de humor. acolhedora e

    comunicativa.

    Famlia:

    A utente natural de Melgao. ramos uma famlia muito rica.

  • 64

    Descendente de uma famlia abastada,

    sendo que ainda hoje com a idade que

    tem as partilhas dos bens dos pais ainda

    esto por fazer.

    O marido e a D Jlia eram primos,

    ambos eram ricos, ironia do destino

    Casada durante 44 anos, uma vida a dois

    sobre a qual guarda boas recordaes.

    Casada aos 26 anos de idade, passou a

    morar na casa dos sogros que tambm

    eram da sua famlia e faziam-lhe toda a

    confiana. O seu marido tambm ele de

    uma famlia abastada, tinham j um

    comrcio no qual a utente trabalhou e

    mais tarde herdou.

    Morando, esta senhora numa zona

    fronteiria com Espanha, o comrcio do

    contrabando no faltava e a utente

    descreve-nos um pouco desse modo de

    vida da poca que fez com que ela e

    muita gente ganhassem a sua vida.

    Para alm da loja tambm tinha um

    Ainda hoje no fizemos as partilhas, das

    quatro todas temos bastante e no