Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

97
2020 Universidade de Aveiro Ano 2020 Leandro Abreu de Oliveira Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

Transcript of Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Page 1: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

2020

Universidade de Aveiro Ano 2020

Leandro Abreu

de Oliveira

Conhecimento e Perceção do Valor dos

Medicamentos Genéricos

Page 2: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Universidade de Aveiro Ano 2020

Leandro Abreu

de Oliveira

Conhecimento e Perceção do Valor dos

Medicamentos Genéricos

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos

requisitos necessários à obtenção de grau de Mestre em Marketing, realizada

sob a orientação científica do Especialista em Marketing José Manuel de

Almeida Lima Soares de Albergaria, Professor Adjunto do Instituto Superior de

Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro

2020

Page 3: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

À minha família

Page 4: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

i

o júri

presidente Prof. Doutor Hugo Márcio Rodrigues de Almeida

professor adjunto convidado da Universidade de Aveiro

Prof.ª Doutora Ana Filipa Côrte-Real

professora adjunta da Universidade Católica Portuguesa-Porto

Prof. Licenciado José Manuel de Almeida Lima Soares de

Albergaria

professor adjunto da Universidade de Aveiro

Page 5: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

ii

agradecimentos

Aos meus pais pelo apoio incondicional.

Aos Professor José Albergaria pela preciosa ajuda e afabilidade

que tornaram este trabalho tão mais fácil.

Aos meus amigos por ouvirem sempre que precisei de falar.

A todos aqueles que olharam por mim enquanto este trabalho

ganhou forma.

A ti, Sofia.

Page 6: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

iii

palavras-chave

Medicamento genérico, medicamento de marca, conhecimento, perceção do

valor, saúde, consumidor

resumo

A despesa pública em saúde tem vindo a crescer nos últimos anos

e, como tal, é importante explorar as ferramentas disponíveis para

a contenção de gastos. Neste sentido, os medicamentos genéricos

oferecem uma oportunidade de poupança para todos os

stakeholders do consumo de medicamentos. A evolução da quota

de mercado de medicamentos genéricos portuguesa tem ficado

aquém das espectativas e o desenvolvimento do mercado dos

medicamentos genéricos depende de vários fatores incluíndo,

naturalmente, os consumidores. Neste sentido, o presente estudo

propôs-se avaliar o atual conhecimento e perceção do valor da

população portuguesa em relação aos medicamentos genéricos.

Com base numa revisão da literatura sobre a perceção do valor,

opinião e conhecimento dos indivíduos em relação aos

medicamentos genéricos, foi realizado um inquérito com recurso a

um questionário online aplicado a 213 indivíduos, através do qual

se verificou que a população apresenta um bom conhecimento e

uma perceção positiva sobre as características dos medicamentos

genéricos o que foi associado a uma maior confiança neste tipo de

medicamentos. No entanto, a população não tem ainda um nível

de confiança com medicamentos genéricos semelhante ao que

tem com medicamentos de marca. Novas investigações devem ser

conduzidas no sentido de perceber que outros fatores para além

dos mencionados neste estudo exercem influência sobre a

confiança e intenção de utilização dos medicamentos genéricos

Page 7: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

iv

keywords

Generic medicine, branded medicine, knowledge, perception of value, health,

consumer

Abstract

Public expenses on health have been growing in recent years and,

as such, it is important to explore the tools available for expenditure

restraint. Therefore, generic medicines offer a savings opportunity

for all stakeholders of medicine consumption. The portuguese

generic medicine market share’s evolution has been below

expectations and the development of the generic medicine market

depends on several factores including, naturally, the consumer. In

this sense, the present study aimed to assess the current

knowledge and perception of value of the portuguese poplation in

regards to generic medicines. Based on a literature review on the

perception of value, opinion and knowledge of the general

population regarding generic medicines, a survey was carried out

using na online questionnaire applied to 213 individuals, through

which was found that the population has good knowledge and a

positive perception of the characteristics of generic medicines,

which was associated with greater confidence in this type of

medication. However, the population still does not have the same

level of confidence with generic medicines as they do with branded

medicines. Further investigations should be carried out in order to

percieve what other factores excluding those mentioned in this

study exert some level of influence on trust and intention of use of

generic medicines.

Page 8: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

v

Page 9: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...
Page 10: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

1

Índice

Índice ..................................................................................................................................... 1

Índice de Gráficos, Figuras e Tabelas .................................................................................... 3

Glossário ................................................................................................................................ 4

Lista de Abreviaturas ............................................................................................................. 6

Introdução ............................................................................................................................. 9

Objetivos .............................................................................................................................. 13

1. O Mercado Farmacêutico e o Mercado de Genéricos ................................................. 17

1.1. Os Números da Indústria Farmacêutica em Portugal e no Mundo .............................. 17

1.2. Os Medicamentos Genéricos ....................................................................................... 18

1.3. O Problema da Despesa em Saúde e o Valor Dos Medicamentos Genéricos Para a

Economia .................................................................................................................................. 20

1.4. O Mercado Mundial de Medicamentos Genéricos ...................................................... 22

1.5. O Mercado Português de Medicamentos Genéricos ................................................... 24

1.6. Fatores influentes sobre o mercado de genéricos ....................................................... 27

2. Revisão da Literatura .................................................................................................... 31

2.1. Conhecimento e utilização de medicamentos genéricos............................................. 31

2.2. O papel dos profissionais de saúde na opinião dos utentes ........................................ 34

2.3. Fatores sociodemográficos de influência sobre a opinião e conhecimento ................ 35

2.4. Perceção das características e atributos ...................................................................... 37

2.5. Impacto do estado de saúde ........................................................................................ 39

2.6. Experiência passada com medicamentos genéricos .................................................... 40

2.7. A Realidade Portuguesa ............................................................................................... 40

3. O Processo de Investigação .......................................................................................... 45

3.1. A Metodologia Operacional ......................................................................................... 45

3.1.1. A População Alvo .............................................................................................................. 45

3.1.2. Amostragem ..................................................................................................................... 45

3.1.3. Amostra ............................................................................................................................ 46

3.1.4. Metedologia de Contacto ................................................................................................. 46

Page 11: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

2

3.1.5. Trabalho de Campo ........................................................................................................... 46

3.1.6. Questionário ..................................................................................................................... 46

3.1.7. Metodologia de Análise .................................................................................................... 47

4. Resultados .................................................................................................................... 51

4.1. Caracterização da Amostra .......................................................................................... 51

4.2. Perceção e Imagem ...................................................................................................... 51

4.2.1. Perceção das características ............................................................................................. 51

4.2.2. O impacto da experiência e conhecimento na perceção das características ................... 55

4.3. Confiança ...................................................................................................................... 56

4.3.1. Impacto da experiência na confiança ............................................................................... 57

4.3.2. Impacto da perceção das características na confiança ..................................................... 58

5. Discussão ...................................................................................................................... 61

6. Conclusão ..................................................................................................................... 67

7. Limitações e Propostas de Investigação Futura ........................................................... 71

7.1. Limitações do Estudo ................................................................................................... 71

7.2. Investigação Futura ...................................................................................................... 71

Bibliografia ........................................................................................................................... 75

Page 12: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

3

Índice de Gráficos, Figuras e Tabelas

Gráficos

Gráfico 1 - - Top 10 empresas farmacêuticas a nível mundial em termos de receitas em

milhares de milhão de dólares ............................................................................................. 18

Gráfico 2 - Top 10 empresas de medicamentos genéricos em termos de receitas em milhares

de milhão de dólares ........................................................................................................... 23

Gráfico 3 - Quota de mercado dos medicamentos genéricos no mercado de medicamentos

comparticipados em regime ambulatório do SNS em unidades dispensadas ..................... 25

Gráfico 4 - Quota de mercado de medicamentos genéricos no mercado concorrencial .... 26

Gráfico 5 - Quota de mercado de genéricos no mercado farmacêutico total (fonte: OCDE,

2019) .................................................................................................................................... 27

Gráfico 6 - "Conhecimento e experimentação" dos participantes ...................................... 53

Gráfico 7 – Confiança relativa ............................................................................................. 57

Gráfico 8 - Confiança no médico.......................................................................................... 57

Tabelas

Tabela 1 - Resumo das características sociodemográficas da população do estudo ......... 52

Tabela 2 -Resumo dos resultados para a perceção das características .............................. 54

Figuras

Figura 1 - Ciclo de vida do medicamento ............................................................................ 20

Figura 2 - Empresas farmacêuticas de medicamentos genéricos associadas à APOGEN ... 24

Page 13: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

4

Glossário

Biodisponibilidade – velocidade e grau de extensão com que um princípio ativo ou a sua

forma molecular terapeuticamente ativa é absorvida a partir de um medicamento e se

torna disponível no local de ação (Infarmed, 2020a).

Bioequivalência – característica dos medicamentos que são idênticos no seu princípio

ativo, dosagem, forma farmacêutica e respetiva via de administração (Infarmed, 2020a).

Efeito nocebo – produção de efeitos adversos a partir de uma expectativa negativa (Planès,

Villier, & Mallaret, 2016)

Forma farmacêutica – estado final que as substâncias activas ou excipientes apresentam

depois de submetidas às operações farmacêuticas necessárias, a fim de facilitar a sua

administração e obter o maior efeito terapêutico desejado (Decreto lei n.º 176/2006 de 30

de Agosto).

Medicamento de marca, referência, inovador ou original – medicamento que foi

autorizado com base em documentação completa, incluindo resultados de ensaios

farmacêuticos, pré-clínicos e clínicos (Decreto lei n.º 176/2006 de 30 de Agosto).

Medicamento genérico - medicamento com a mesma composição qualitativa e

quantitativa em substâncias ativas, a mesma forma farmacêutica e cuja bioequivalência

com o medicamento de referência haja sido demonstrada por estudos de

biodisponibilidade apropriados (Decreto lei n.º 176/2006 de 30 de Agosto).

Princípio ou substância ativa – qualquer substância ou mistura de substâncias destinada a

ser utilizada no fabrico de um medicamento e que, quando utilizada no seu fabrico, se torna

um princípio ativo desse medicamento, destinado a exercer uma ação farmacológica,

Page 14: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

5

imunológica ou metabólica com vista a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas

ou a estabelecer um diagnóstico médico (Decreto lei n.º 176/2006 de 30 de Agosto).

Efeito ou reação adversa - qualquer reacção nociva e involuntária a um medicamento que

ocorra com doses geralmente utilizadas no ser humano para profilaxia, diagnóstico ou

tratamento de doenças ou recuperação, correcção ou modificação de funções fisiológicas

(Decreto lei n.º 176/2006 de 30 de Agosto).

Page 15: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

6

Lista de Abreviaturas

AIM – Autorização de Introdução no Mercado

APOGEN – Associação Portuguesa de Medicamentos genéricos e Biossimilares

EFPIA - Federação Europeia das Indústrias e Associações Farmacêuticas

INE – Instituto Naional de Estatística

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

OMS – Organização Mundial da Saúde

PIB – Produto Interno Bruto

SNS – Serviço Nacional de Saúde

Page 16: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

7

Introdução

Page 17: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

8

Page 18: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Introdução

9

Introdução

Em Maio de 2011, a crise económica sentida em Portugal e no Mundo levou a que

o governo do Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho assinasse um acordo com o Fundo

Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, para o

empréstimo de 78 mil milhões de Euros, mediante um acordo económico e um programa

de ajuste financeiro do qual constariam 34 medidas de contenção de gastos e de melhoria

da regulação e eficiência do setor da saúde e do Serviço Nacional Saúde (SNS). Algumas

destas medidas foram direcionadas ao mercado de medicamentos genéricos, com o

objetivo de aumentar a utilização deste tipo de medicamentos. De facto, os medicamentos

genéricos fornecem a oportunidade de obter tratamento similar a um custo reduzido para

todos os stakeholders da utilização de medicamentos, proporcionando uma libertação de

recursos do sistema de saúde. Segundo a Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Económico (OCDE) (2019), os gastos com medicamentos em Portugal no

ano de 2017 representaram 14,7% da despesa total em saúde, o que se traduziu em 1,3%

do Produto Interno Bruto (PIB). Estes números realçam a importância de encontrar

soluções para a melhor gestão de recursos, sendo que uma dessas soluções passa pelo

crescimento da utilização de medicamentos genéricos que, apesar de ser uma das soluções

que tem vindo a ser explorada, não atingiu ainda o seu potencial máximo.

Este projeto de investigação foi então realizado com o intuito de conjugar os

mundos da Farmácia e do Marketing. Estas são duas áreas de interesse pessoal e

profissional e acredito que os tópicos sobre os quais este estudo se debruça possuem

grande relevo no contexto económico atual. O estudo propôs-se a analisar o conhecimento

e perceção do valor dos medicamentos genéricos da população portuguesa, fornecendo

uma visão atualizada sobre a imagem que os portugueses têm em mente sobre este tipo

de medicamentos. O plano de investigação consistiu, de forma resumida, na identificação

do problema de investigação e as hipóteses de investigação, realização de uma revisão da

literatura associada ao problema em questão, aplicação de uma metodologia quantitativa

de investigação com recurso a um inquérito estatístico com base na revisão da iteratura, a

Page 19: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

10

partir do qual se obteram os dados e resultados que foram analisados e de onde foram

retiradas as conclusões do estudo.

Page 20: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

11

Objetivos

Page 21: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

12

Page 22: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Objetivos

13

Objetivos

Dentro do contexto apresentado na introdução surgem então as seguintes

questões: “Qual é o atual conhecimento e perceção que os portugueses têm em relação

aos medicamentos genéricos e quais são os parâmetros que exercem influência sobre esses

aspetos?”.

Assim sendo, os objetivos propostos pelo presente estudo são a avaliação do atual

conhecimento da população portuguesa sobre os medicamentos genéricos, a avaliação da

perceção que a população portuguesa tem sobre o valor e sobre as características dos

medicamentos genéricos, nomeadamente a sua eficácia, segurança e qualidade e,

finalmente, identificar quais os fatores que exercem influência sobre a confiança que os

portugueses têm nos medicamentos genéricos e sobre a perceção das suas características.

Estes são aspetos de relevo uma vez que são alguns dos modeladores do mercado e

certamente exercem um forte impacto sobre aquilo que se pode extrair deste tipo de

medicamentos como uma estratégia de contenção de gastos para as contas públicas.

Neste sentido, surgem as seguintes hipóteses de investigação:

H1 A perceção das características dos medicamentos genéricos é influenciada positivamente

pela experiência dos consumidores.

H2 A confiança que os participantes depositam nos medicamentos genéricos é influenciada

positivamente pelo conhecimento e experiência que os mesmos têm da sua utilização.

H3 A confiança que os participantes depositam nos medicamentos genéricos é influenciada

positivamente pela perceção que os mesmos têm das suas características.

Tendo o proposto em mente, foi realizado um inquérito com base numa revisão da

literatura sobre a perceção do valor, opinião e conhecimento dos indivíduos em relação

aos medicamentos genéricos e com recurso a um questionário online. Os resultados

obtidos através da aplicação do inquérito foram revistos e avaliados de maneira a retirar

as possíveis ilações e conclusões sobre aquilo que os mesmos representam para o contexto

atual e para o futuro.

Page 23: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

14

Page 24: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

15

Capítulo 1: Visão Geral Sobre o

Mercado Farmacêutico e o Mercado de Genéricos

Page 25: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

16

Page 26: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 1 – Visão Geral Sobre o Mercado Farmacêutico e o Mercado de Genéricos

17

1. Visão Geral Sobre o Mercado Farmacêutico e o Mercado de

Genéricos

1.1. Os Números da Indústria Farmacêutica em Portugal e no Mundo

O mercado farmacêutico constitui, hoje em dia, um pilar essencial para a economia

Europeia e mundial. Numa era de grandes avanços tecnológicos, a indústria farmacêutica

é uma das que mais evoluiu nos últimos anos graças ao forte investimento em investigação

e desenvolvimento por parte das grandes empresas do setor. Segundo a EFPIA (Federação

Europeia das Indústrias e Associações Farmacêuticas) (2018), o investimento em

investigação e desenvolvimento, no ano de 2018, foram de 36,5 mil milhões de euros na

Europa apenas, valor esse com uma tendência crescente. Este valor é liderado pela

Alemanha, Suíça, Reino Unido e França, países onde se encontram instaladas algumas das

maiores empresas farmacêuticas a nível mundial. Este forte investimento em inovação é

aliado a um forte crescimento na utilização de medicamentos. Segundo o IMS Institute for

Healthcare Informatics (2015a), em 2020 o gasto em medicamentos obterá um

crescimento estimado entre 29% a 32%, face aos 5 anos anteriores, chegando aos 1,4

milhões de milhão de dólares, em todo o mundo. Este aumento, segundo a mesma

instituição dever-se-á às marcas farmacêuticas e ao aumento da utilização de

medicamentos, sendo que este último chegará aos 4,5 milhões de milhão de doses em

2020, mais 24% que em 2015.

São várias as instituições que representam o topo das empresas farmacêuticas. No

gráfico 1 encontram-se representadas as dez maiores empresas farmacêuticas a nível

mundial, ordenadas em termos de receitas, segundo dados da Proclinical (2020), todas elas

com atividade dentro do território português. Para além destas, muitas outras empresas

farmacêuticas com impacto a nível global marcam presença no espaço português e existem

também algumas empresas caseiras que vale a pena mencionar. Empresas como a BIAL

que no ano de 2018 atingiu um volume de negócios na ordem dos 200 milhões de euros.

Como a Bluepharma com um volume de negócios de 34,2 milhões de euros e cuja empresa

adjacente Bluepharma Genéricos obteve um lucro bruto antes de juros, impostos,

depreciação e amortização de 651 mil euros, ambos no ano de 2017. Como os Laboratórios

Page 27: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

18

Basi com volume de negócios de 27,6 milhões de euros. São estas e outras empresas que

impulsionam o facto de mercado farmacêutico em Portugal ter vindo a crescer nos últimos

anos. Segundo dados partilhados pela empresa de desenvolvimento biofarmacêutico IQVIA

(2019), o mercado farmacêutico português ultrapassou os 2,9 mil milhões de euros em

vendas no ano de 2019, atingindo em Julho do mesmo ano um crescimento de 15,3% em

valor face aos 12 meses anteriores.

Gráfico 1 - Top 10 empresas farmacêuticas a nível mundial em termos de receitas em milhares de milhão de dólares Fonte: Proclinical (2020)

No que diz respeito ao mercado dos medicamentos genéricos, a que este trabalho

se dedica, é importante primeiro perceber o que são os medicamentos genéricos de

maneira a ter uma perspetiva ajustada à realidade em que este tipo de medicamento se

enquadra.

1.2. Os Medicamentos Genéricos

De acordo com a legislação portuguesa (Decreto lei n.º 176/2006 de 30 de Agosto)

e a regulamentação europeia, um medicamento genérico é um “medicamento com a

mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias ativas, a mesma forma

23

,4 25

,7

26

,1 31

,1 33

,3 37

,7 41

,8

42

,2

49

,7 53

0

10

20

30

40

50

60

Top 10 Empresas Farmacêuticas em Termos de Receitas, 2020

Page 28: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 1 – Visão Geral Sobre o Mercado Farmacêutico e o Mercado de Genéricos

19

farmacêutica e cuja bioequivalência com o medicamento de referência haja sido

demonstrada por estudos de biodisponibilidade apropriados”.

O mesmo decreto-lei define as regras sobre as quais este tipo de medicamentos

pode ser comercializado:

a) “Dez anos após a autorização inicial do medicamento de referência, concedida a

nível nacional ou comunitário;

b) Onze anos após a autorização inicial do medicamento de referência, caso, nos

primeiros oito dos dez anos, o titular da autorização de introdução no mercado do

medicamento de referência tenha obtido uma autorização para uma ou mais

indicações terapêuticas novas que, na avaliação científica prévia à sua autorização,

se considere trazerem um benefício clínico significativo face às terapêuticas até aí

existentes “.

Pode afirmar-se, então, que os medicamentos genéricos são, na sua essência,

réplicas mais baratas de um medicamento original, também apelidado de inovador, de

marca ou de referência, cuja entrada no mercado é permitida após o término da proteção

que a patente confere ao produto. A razão pela qual os medicamentos genéricos serem

mais baratos advém do facto de o seu processo de desenvolvimento ser rápido e de baixo

custo, já que não requerem a realização de estudos clínicos e préclinicos (Baumgärtel,

2012). Estes processos de investigação e desenvolvimento são essências para o

desenvolvimento de medicamentos originais e podem ser bastante dispendiosos para a

indústria farmacêutica (DiMasi, Hansen, & Grabowski, 2003). Assim sendo, a par do grande

inverstimento na inovação, a indústria dos medicamentos genéricos tem vindo a crescer

continuamente, proporcionando aos utentes e aos governos uma “nova” solução para o

problema do aumento das despesas em saúde.

Sendo uma alternativa de menor custo, representam um grande potencial de

poupança, quer para os utentes, quer para o Estado que, em média, é responsável pela

parcela maior dos gastos com medicamentos, nomeadamente através do processo de

comparticipação dos medicamentos em que é o Estado que paga uma parte do preço dos

medicamentos de venda ao público. Esclarecendo, a comparticipação do Estado no preço

de um medicamento depende do pedido do titular da Autorização de Introdução no

Page 29: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

20

Mercado (AIM) ao Ministério da Saúde e depende da avaliação efetuada pelo Infarmed

(autoridade do medicamento e produtos de saúde em Portugal) sobre o valor acrescentado

do medicamento em questão, em relação a outros medicamentos já comparticipados, quer

em termos de valor terapêutico, quer de valor económico. O pedido de comparticipação é

avaliado, portanto, segundo as vertentes farmacêutica, clínica e económica.

Figura 1 - Ciclo de vida do medicamento Fonte: Comissão Europeia (2019)

1.3. O Problema da Despesa em Saúde e o Valor Dos Medicamentos

Genéricos Para a Economia

De acordo com a Constituição da República Portuguesa (2005), a assistência médica

é constitucionalmente garantida independentemente das condições socioeconómicas dos

utentes, o que resulta num alargado acesso a todos os serviços de saúde, por todos os

cidadãos. Ainda assim, apesar do papel dos governos na acessibilidade dos serviços de

saúde proporcionar melhorias na qualidade de vida e longevidade das populações, a

garantia da equidade no acesso aos serviços de saúde tem um preço. Por essa e outras

razões, o crescimento da despesa pública em saúde em Portugal exerce uma grande

pressão sobre o Estado e sobre as contas públicas. Consequentemente, tem vindo a ser

atribuída cada vez mais importância ao mercado farmacêutico e às medidas adotadas para

garantir a acessibilidade e disponibilidade dos produtos farmacêuticos, controlando os seus

Page 30: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 1 – Visão Geral Sobre o Mercado Farmacêutico e o Mercado de Genéricos

21

custos, não só em Portugal mas também nos outros estados membros da União Europeia

(Pereira & Vilares, 2014). Ainda assim, o crescimento da despesa em saúde não parou.

Segundo Vogler, Zimmermann, Leopold e de Joncheere (2011), entre 2000 e 2009, o

aumento médio da despesa pública no setor farmacêutico ambulatório foi de 76% para os

países da União Europeia, enquanto que o aumento nominal médio do PIB foi de 2,8%, o

que significa que a despesa pública no setor farmacêutico passa a representar uma fatia

muito maior da despesa pública total.

Portugal não escapa a esta estatística. No ano de 2018, o aumento nominal da

despesa em saúde no país foi de 5,1%, ultrapassando a variação nominal do PIB (3,6%),

segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) (2019). A despesa total em saúde cresceu

de forma contínua de 7,5% do PIB em 1995 para 9,5% em 2014 (Simões, Augusto, Fronteira,

& Hernández-Quevedo, 2017). Este cenário de aumento de gastos em saúde, segundo

projeções da União Europeia, será um problema recorrente até 2050, graças ao

envelhecimento da população (Carone et al., 2011).

A OCDE (2018) defende que a redução do desperdício e a otimização dos gastos em

medicamentos são fundamentais para a eficiência dos sistemas de saúde. Com esse

objetivo em mente, propõe um conjunto de medidas, entre as quais se engloba a

exploração da adoção dos medicamentos genéricos e a promoção do seu consumo.

De facto, o potencial para poupança com o aumento de utilização de medicamentos

genéricos é um fator aliciante em termos de formulação de políticas para a saúde,

essencialmente porque vários medicamentos de sucesso têm perdido a sua proteção por

patente nos últimos anos (Wouters, Kanavos, & Mckee, 2017). Por exemplo, a

Rosuvastatina (medicamento para redução do colesterol), um dos medicamentos mais

vendidos de sempre (8,2 mil milhões de dólares em todo o mundo, em 2013), perdeu a sua

patente em 2016 nos Estados Unidos da América e em vários países Europeus (Wolfe,

2015), incluindo Portugal, em 2018. A introdução do genérico deste medicamento no

mercado comparticipado do SNS gerou, segundo o Infarmed (2018), uma redução de

despesa de quase 3 milhões de euros no primeiro trimestre de 2018. Segundo o IMS

Institute for Healthcare Informatics (2015a), o impacto do término de patentes durante o

período de 2016-2020 será maior que o de 2011-2015, incluíndo um impacto estimado de

Page 31: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

22

cerca de 41 mil milhões de dólares, o que significa que, graças ao forte investimento em

inovação e na crição de novos medicamentos, existe um mutualismo entre os

medicamentos de marca e genéricos, sendo que o atual investimento em investigação e

desenvolvimento será seguido de uma maior oportunidade no futuro já que um maior

número de medicamentos perderá a sua patente num dado período de tempo.

Em Portugal, segundo a APOGEN (Associação Portuguesa de Medicamentos

Genéricos e Biossimilares) (2018), a poupança gerada no ano de 2018 foi de 424,3 milhões

de euros no mercado ambulatório sendo que, num período de 8 anos (2011-2018) a

poupança foi de 3,3 mil milhões de euros. É graças a este grande potencial de poupança

que a utilização de medicamentos genéricos tem vindo a crescer em todo o mundo (Rana

& Roy, 2015) e, apesar de variar significativamente entre os seus estados membros, é agora

claro que a indústria de medicamentos genéricos tem sido vital para a sustentabilidade da

prestação de serviços de saúde na União Europeia (IMS Institute for Healthcare Informatics,

2015b).

1.4. O Mercado Mundial de Medicamentos Genéricos

Tendo olhado para os números da poupança, é igualmente importante saber quem

os torna possíveis. Existe uma divergência na penetração dos medicamentos genéricos nos

mercados farmacêuticos a nível mundial. Indiscutívelmente, o líder mundial no que diz

respeito ao mercado dos medicamentos genéricos são os Estados Unidos da América com

o mercado fortemente consolidado, em que 90% dos medicamentos dispensados através

de receita médica no ano de 2018 foram medicamentos genéricos, sendo que a poupança

total gerada por este tipo de medicamentos, no mesmo ano, foi de 292,6 mil milhões de

dólares (Association for Acessible Medicines, 2019). Uma melhor perspetiva da supremacia

estanudiense do mercado de medicamentos genéricos é obtida quando se comparam os

mercados do EUA e de outros países. Embora alguns países apresentem quotas de mercado

algo semelhantes, como o Reino Unido, a média dos países da OCDE é muito inferior a esses

valores, como veremos mais à frente.

No gráfico 2 encontram-se representadas as 10 maiores empresas de

medicamentos genéricos, segundo dados da Mistubishi UFJ Financial Group (2016).

Page 32: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 1 – Visão Geral Sobre o Mercado Farmacêutico e o Mercado de Genéricos

23

Gráfico 2 - Top 10 empresas de medicamentos genéricos em termos de receitas em milhares de milhão de dólares Fonte: Mistubishi UFJ Financial Group (2016)

O importante a reter do gráfico anterior não será a ordem pela qual as empresas se

encontram distribuídas, pois certamente a tabela seria diferente com dados mais

atualizados. Antes é importante perceber a dimensão das empresas de medicamentos

genéricos. Existem empresas como a TEVA Pharmaceutical Industries, empresa líder do

mercado de genéricos dos EUA, sediada em Israel, que dedica grande parte da sua atividade

ao desenvolvimento de medicamentos genéricos. No entanto, existem também empresas

como a Allergan, adquirida recentemente pela AbbVie que aparecia em 6º lugar das

maiores empresas farmacêuticas a nível mundial (capítulo 1.1., gráfico 1). Isto mostra que

as grandes empresas farmacêuticas, as mesmas que investem grande parte das suas

receitas em investigação e desenvolvimento têm vindo a apostar também no mercado dos

genéricos uma vez que, mais inovação hoje traduzir-se-á numa crescente oportunidade

para o desenvolvimento de um mercado cada vez maior e mais abrangente de

medicamentos genéricos.

1,8 2 2,1 2,4 2,7 2,8 4

,5

7,7

13

,1

20

,3

0

5

10

15

20

25

Top 10 Empresas de Medicamentos Genéricos em Termos de Receitas, 2014

Page 33: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

24

1.5. O Mercado Português de Medicamentos Genéricos

São várias as empresas dedicadas aos medicamentos genéricos com presença no

territórios português. Atualmente, são 12 as empresas da indústria farmacêutica de

medicamentos genéricos associadas à APOGEN, algumas delas entre as maiores

anteriormente referidas, como a TEVA e a Mylan.

Figura 2 - Empresas farmacêuticas de medicamentos genéricos associadas à APOGEN Fonte: APOGEN (2020)

O crescimento do mercado de medicamentos genéricos em Portugal é inegável. De

facto, várias das razões mencionadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a

baixa utilização de medicamentos genéricos têm vindo a ser combatidas, como os hábitos

de prescrição e o sistema de preços (World Health Organizaton, 2010). Ainda assim, o

crescimento da quota de mercado de medicamentos genéricos em Portugal abrandou nos

últimos anos, em comparação com o crescimento inicial. De acordo com os dados

presentes num comunicado de imprensa do Infarmed (2018), entre 2016 e 2018, o

crescimento da quota de mercado de medicamentos genéricos foi de apenas 0,9%,

contrastando com o crescimento de 9,8% entre 2010 e 2012 (de 31,4% para 41,2%). O

mesmo é evidente para anos anteriores, como é ilustrado no gráfico 3. Estes dados

referem-se aos medicamentos comparticipados e dispensados em regime de ambulatório

aos utentes do SNS. Para o mercado total, a quota de mercado dos medicamentos

genéricos é de apenas cerca de 40% (Infarmed, 2018b).

Page 34: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 1 – Visão Geral Sobre o Mercado Farmacêutico e o Mercado de Genéricos

25

Gráfico 3 - Quota de mercado dos medicamentos genéricos no mercado de medicamentos comparticipados em regime ambulatório do SNS em unidades dispensadas Fonte: Infarmed (2018a).

Para o mercado concorrencial, ou seja, tendo em conta apenas os medicamentos

para os quais existem uma alternativa genérica, a quota de mercado atingida foi de

sensivelmente 64% (gráfico 4), o que indica que, para os medicamentos que possuem uma

alternativa genérica no mercado, sensivelmente 2 em cada 3 medicamentos dispensados

são genéricos. Apesar desta percentagem aparentar ser relativamente elevada, o que na

realidade indica é que o mercado de medicamentos genéricos ainda não atingiu a sua

eficácia máxima, existindo ainda algum espaço para crescer.

6,9

0%

9,2

0% 14

,30

%

16

,80

%

19

,40

%

21

,70

%

25

,40

% 31

,40

%

36

,20

%

41

,20

%

44

,70

%

46

,50

%

47

%

47

,30

%

47

,50

%

48

,20

%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Quota de Mercado de Medicamentos Genéricos em Portugal

Quota de mercado de medicamentos genéricos

Page 35: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

26

A indústria de medicamentos genéricos tem sido um pilar fundamental para a

sustentabilidade dos serviços de saúde da União Europeia, sem a qual muito dificilmente

os governos da região conseguiriam acompanhar o aumento dos gastos em saúde que se

têm vindo a sentir nos últimos anos (IMS Institute for Healthcare Informatics, 2015b). Em

Portugal, o aumento da utilização de genéricos tem sido uma das medidas de controlo de

gastos de maior relevo para a industria farmacêutica (Simões et al., 2017) dados os

números expressivos mencionados anteriormente.

Os preços e as quotas de mercado de genéricos variam de forma acentuada em toda

a Europa (Wouters et al., 2017) e, realmente, Portugal tem ficado aquém das espectativas

no que toca ao crescimento da quota de mercado de medicamentos genéricos nos últimos

anos. E, embora não seja o país com pior desempenho, em 2019 encontrava-se abaixo da

média para os países da OCDE no que toca à quota de mercado de medicamentos genéricos

(OCDE, 2019), como é evidente no gráfico 5.

36%

64%

Quota de mercado concorrencial

Medicamento de Referência Medicamento Genérico

Gráfico 4 - Quota de mercado de medicamentos genéricos no mercado concorrencial Fonte: Infarmed (2018a)

Page 36: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 1 – Visão Geral Sobre o Mercado Farmacêutico e o Mercado de Genéricos

27

Gráfico 5 - Quota de mercado de genéricos no mercado farmacêutico total 1 – Mercado farmacêutico comparticipado 2 – Mercado de farmácia comunitária Fonte: OCDE (2019)

1.6. Fatores influentes sobre o mercado de genéricos

Sabendo agora a importância que os medicamentos genéricos têm sobre as contas

públicas, torna-se igualmente importante perceber quais os fatores que exercem influência

sobre a utilização deste tipo de medicamentos e quais são os elementos chave para o

desenvolvimento do setor (Howard et al., 2018). Só assim será possível perceber as razões

que causaram o travão no crescimento do mercado português e de que maneira é possível

provocar um novo impulso no crescimento.

Um estudo realizado com o objetivo de avaliar a baixa utilização de medicamentos

genéricos em Portugal, realizado em 2012 chegou à conclusão que, na altura, os maiores

entraves para o desenvolvimento do mercado seriam a falta de informação, confiança e

problemas com a prescrição de medicamentos (Quintal & Mendes, 2012). Todos estes

aspetos têm vindo a ser combatidos, mas ainda assim o mercado não cresce de forma

significativa há já vários anos, encontrando-se ainda distante de outros mercados de

referência (Duque, Rocha, & Balteiro, 2014). Assim sendo, para que o impulsionamento da

quota de mercado de medicamentos genéricos seja possível, é necessário avaliar quais os

0102030405060708090

Rei

no

Un

ido

1

Ch

ile 2

Ale

man

ha

1

No

va Z

elân

dia

1

Can

adá

Paí

ses

Bai

xos

1

Latv

ia

Eslo

váq

uia

Rep

úb

lica

Ch

eca

Din

amar

ca 1

Turq

uia

Áu

stri

a 1

ECD

E26

Eslo

vén

ia 2

No

rueg

a

Po

rtu

gal

Esp

anh

a 1

Fin

lân

dia

Jap

ão

Irel

and

a 1

Estó

nia

Bél

gica

Fran

ça 1

Gré

cia

1

Itál

ia

Suíç

a

Luxe

mb

urg

o 1

Quota de mercado de genéricos no mercado farmacêutico total, 2019 (ou ano mais próximo)

Valor Volume

Page 37: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

28

elementos que podem servir de entrave. Os autores Quintal e Mendes (2012) afirmam que

“o sucesso de qualquer medida para a promoção do consumo de medicamentos genéricos

depende de vários agentes e barreiras à substituição que podem surgir em diferentes

áreas. A atitude dos utentes e dos farmacêuticos pode ser uma dessas barreiras” (p. 63).

Então, embora os fatores influentes sobre o mercado farmacêutico sejam de

diversas fontes, este estudo focar-se-á naqueles que partem do consumidor, ou seja, os

fatores que exercem influência e que partem do lado da procura. Tendo isso em mente, foi

realizada uma revisão da literatura sobre o conhecimento e perceção dos consumidores

em relação aos medicamentos genéricos com o objetivo de identificar os principais fatores

com influência sobre os mesmos.

Page 38: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

29

Capítulo 2: Revisão da Literatura

Page 39: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

30

Page 40: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 2 – Revisão da Literatura

31

2. Revisão da Literatura

A presente revisão da literatura teve como principal objetivo perceber até que

ponto existem, na literatura, evidências sobre os parâmetros que exercem influência sobre

a perceção do valor, opinião e conhecimento dos indivíduos em relação aos medicamentos

genéricos e quais as diferenças desses mesmos parâmetros entre os consumidores

portugueses e de outros países.

Para a presente revisão da literatura foram considerados artigos publicados entre

Janeiro de 2005 e Outubro de 2019, arquivados nas bases de dados da PubMed e Scopus,

cujos objetivos fossem a avaliação da opinião dos utentes ou consumidores em relação aos

medicamentos genéricos. Por “opinião” entenda-se “perceção”, “ponto de vista”,

“atitude”, “comportamento” e “conhecimento”. Os títulos e abstracts dos artigos foram

revistos para publicações contendo as seguintes palavras ou expressões: “consumidor”,

“doente”; “genérico”, “opinião”, “ponto de vista”, “perceção” e “atitude” (em inglês

“consumer”,” patiente”, “generic”, “opinion”, “view”, “perception”, “attitude”). Foram

incluídos na revisão da literatura apenas artigos publicados na língua inglesa e portuguesa.

Estudos relativos à perceção, atitudes, opiniões e pontos de vista sobre os medicamentos

genéricos por parte de médicos e outros profissionais de saúde não foram incluídos.

A utilização destes parâmetros de pesquisa resultou em 1047 artigos na base de

dados da PubMed e 1664 artigos na Scopus, cujos títulos e abstracts foram revistos de

maneira a avaliar a sua adequação no contexto do presente estudo. Foram incluídos para

revisão um total de 59 artigos. Para o caso dos estudos realizados em Portugal, foram

incluídas todas as publicações encontradas, independentemente da data de publicação.

Foram incluídos 5 estudos realizados em Portugal.

A revisão dos artigos selecionados foi realizada tendo como guia estrutural os temas

recorrentes na investigação do tema em questão.

2.1. Conhecimento e utilização de medicamentos genéricos

De um modo geral as populações pelo mundo fora já estão razoavelmente bem

informadas sobre o que são os medicamentos genéricos (Al Ameri, Whittaker, Tucker,

Page 41: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

32

Yaqoob, & Johnston, 2011; Costa-Font, Rudisill, & Tan, 2014; O’Leary et al., 2015) e são

recetivas ao seu consumo (Drozdowska & Hermanowski, 2014; El-Dahiyat & Kayyali, 2013;

Fraeyman et al., 2015; Kohli & Buller, 2013). Na Bélgica, por exemplo, apenas cerca de 5%

dos participantes de um estudo realizado através de um questionário online preferia não

utilizar medicamentos genéricos (Fraeyman et al., 2015). Na Irlanda, 84% dos participantes

de um estudo realizado com doentes em visita a uma farmácia comunitária consideravam-

se familiarizados com os medicamentos genéricos e mostraram-se apoiantes do conceito

de “substituição genérica” (O’Leary et al., 2015).

Não obstante, existem ainda países em que o conceito de medicamento genérico

ou os seus atributos são desconhecidos por uma boa parte da população. Em alguns

estudos realizados em países em desenvolvimento, mais de metade dos participantes não

conhecia o termo medicamento genérico (Sharrad & Hassali, 2011; Stuart, Gupta, & Sealy,

2017; Wong et al., 2014). Outro aspeto a ter em conta é o facto de, embora um indivíduo

possa ter conhecimento do conceito de medicamento genérico, pode não ter

conhecimento sobre todos os outros aspetos que rodeiam o mesmo. Um desses aspetos

diz respeito aos processos de aprovação de medicamentos, como mostra um estudo

realizado nos Estados Unidos da América que concluia que cerca 74% dos participantes do

estudo consideravam ter pouco conhecimento sobre o processo de aprovação de

medicamentos genéricos (Kesselheim et al., 2017). Este é um dado muito importante uma

vez que existem evidências na literatura de que o conhecimento sobre o conceito de

medicamento genérico e das suas características é um dos aspetos que exercem influência

sobre a preferência pelo consumo dos mesmos (Al Ameri et al., 2011; Babar et al., 2010;

Costa-Font et al., 2014; Domeyer, Katsari, Sarafis, Aletras, & Niakas, 2018; Guttier, Silveira,

Luiza, & Bertoldi, 2017; Sharrad & Hassali, 2011) (Al Ameri et al., 2011; Babar et al., 2010;

Costa-Font et al., 2014; Domeyer et al., 2018; Guttier et al., 2017; Sharrad & Hassali, 2011).

Por exemplo, um estudo realizado no Brasil identificava uma tendência de maior

preferência pela compra de medicamentos genéricos relacionada com o aumento do

conhecimento do indivíduo sobre o tema (Guttier et al., 2017). De igual modo, um estudo

realizado com estudantes universitários gregos concluia que o conhecimento sobre o tema

Page 42: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 2 – Revisão da Literatura

33

é um dos elementos chave modeladores da atitude em relação aos medicamentos

genéricos (Domeyer et al., 2018).

No caso de Portugal, um estudo publicado em 2014 concluia que de uma população

de 375 indivíduos, apenas 5 nunca tinha ouvido falar de medicamentos genéricos (Duque

et al., 2014). Isto mostra que, à data do estudo mencionado, a população portuguesa

aparentava estar bem informada sobre o assunto em questão. Ainda assim, nesse mesmo

estudo, cerca de 40 participantes não definia os medicamentos genéricos como sendo mais

baratos e de igual qualidade. Um outro estudo realizado em Portugal dois anos antes

demonstrava que uma das principais razões para a subutilização dos medicamentos

genéricos é a falta de conhecimento sobre os mesmos (Quintal & Mendes, 2012). Nesse

mesmo estudo todos os participantes afirmavam conhecer o termo “medicamento

genérico”, mas apenas 65% da população desse estudo demonstrava um correto

entendimento do termo e das suas características. Portanto, o real conhecimento da

população portuguesa poderá não ser tão bom quanto o estudo mais recente leva a crer.

Mesmo assim, houve uma evolução no conhecimento no espaço de tempo entre os dois

estudos mencionados.

É importante pois notar que a “consciência dos benefícios dos medicamentos

genéricos não equivale a preferência para uso pessoal” (Keenum, DeVoe, Chisolm, &

Wallace, 2012). Um estudo realizado no Estados Unidos da América concluia que apesar de

97% dos participantes que diziam estar confortáveis com o uso de medicamentos genéricos

recomendados pelo médico, aproximadamente metade pedia ao seu médico

medicamentos de marca (Kesselheim et al., 2016). Existem ainda populações que

acreditam fortemente que os medicamentos genéricos são uma “invenção” para poupar

dinheiro aos governos, ideia que deteriora fortemente a predisposição dos consumidores

para optar por este tipo de medicamentos (Al Ameri et al., 2013; Domeyer et al., 2018;

Himmel et al., 2005; Karampli, Triga, Kyriopoulos, Athanasakis, & Tsiantou, 2016).

Para combater esta “desinformação” é essencial um papel ativo dos médicos e

farmacêuticos no processo de educação dos seus utentes e clientes. De facto, o médico e

o farmacêutico constituem as maiores e mais fiáveis fontes de informação para os doentes

e exercem um grande impacto nas suas decisões, nomeadamente no que toca à escolha

Page 43: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

34

entre medicamentos genéricos e de marca (Drozdowska & Hermanowski, 2014; Dunne &

Dunne, 2015; Guttier et al., 2017; Heikkilä, Mäntyselkä, & Ahonen, 2010; Karampli et al.,

2016; Kjoenniksen, Lindbaek, & Granas, 2006; Quintal & Mendes, 2012; Zerbini, Luceri, &

Vergura, 2017). O mesmo se verificava em Portugal num estudo que identificava o médico

e o farmacêutico como sendo as principais fontes de informação escolhidas pelos utentes

para obter informações sobre os medicamentos genéricos (Duque et al., 2014). É por isso

importante que seja estabelecido um diálogo coerente entre os profissionais de saúde e os

seus doentes, o que nem sempre acontece (Al-Gedadi, Hassali, & Shafie, 2008; Al Ameri et

al., 2011; Keenum et al., 2012; Oyetunde, Aina, & Tayo, 2014; Saleh et al., 2017; Shrank,

Cox, Fischer, Mehta, & Choudhry, 2009; Stuart et al., 2017; Toverud, Røise, Hogstad, &

Wabø, 2011; Wong et al., 2014).

Assim sendo, o consenso é de que os consumidores devem ser educados no sentido

de erradicar as más perceções que estes têm sobre os medicamentos genéricos (Al-Gedadi

et al., 2008; Athanasakis, Kyriopoulos, & Kyriopoulos, 2018; Drozdowska & Hermanowski,

2016; Fraeyman et al., 2015; Guttier et al., 2017; Hassali, Kong, & Stewart, 2005;

Kjoenniksen et al., 2006; Quintal & Mendes, 2012; Saleh et al., 2017; Sharrad & Hassali,

2011; Stuart et al., 2017; Toklu et al., 2012; Wong et al., 2014; Zerbini et al., 2017). Más

perceções essas que são resultado sobretudo da falta de conhecimento sobre o assunto e

pela falta de comunicação entre os profissionais de saúde e os seus utentes a este respeito.

2.2. O papel dos profissionais de saúde na opinião dos utentes

Como já foi referido, o médico e os restantes profissionais de saúde exercem um

forte impacto sobre as escolhas dos doentes em relação à sua saúde, nomeadamente em

relação aos medicamentos que consomem. No entanto, existem casos em que até os

profissionais de saúde não têm o conhecimento necessário sobre os medicamentos

genéricos de maneira a aconselhar os seus doentes de forma eficaz ou têm uma visão

negativa sobre os mesmos (Kieran, O’Reilly, O’Dea, Bergin, & O’Leary, 2017; Nardi & Ferraz,

2016; Toklu et al., 2012). Neste caso, o médico pode constituir uma barreira para o

desenvolvimento do mercado de medicamentos genéricos e para a sua aceitação de forma

geral, caso a sua inclinação seja para a recomendação de medicamentos de marca (Hassali

Page 44: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 2 – Revisão da Literatura

35

et al., 2005; Sharrad & Hassali, 2011). O mesmo parece verificar-se na população

portuguesa. Num estudo realizado em Portugal e já citado anteriormente, cerca de 40%

dos participantes referiam como causa para a não utilização de medicamentos genéricos,

o facto de o médico não prescrever este tipo de fármacos (Duque et al., 2014). É pois

importante educar não só os consumidores, mas também os profissionais de saúde no

sentido de uma maior aceitação dos medicamentos genéricos, enaltecendo as suas

qualidades e o seu valor para a economia e sociedade, quer do ponto de vista de gestão de

recursos, quer para melhoria do acesso à saúde - já que a opinião do médico e do

farmacêutico é determinante para a aceitação e para a formulação de atitudes positivas

por parte dos doentes e consumidores (Yousefi, Mehralian, Peiravian, & NourMohammadi,

2015). Existem evidências na literatura de que a aceitação dos medicamentos genéricos é

maior por parte dos doentes quando estes são recomendados pelo médico ou pelo

farmacêutico (Al-Gedadi et al., 2008; Al Ameri et al., 2013, 2011; Babar et al., 2010; Costa-

Font et al., 2014; Jacomet et al., 2015; Kieran et al., 2017; Kjoenniksen et al., 2006;

Kobayashi, Abe, & Satoh, 2019; Skaltsas & Vasileiou, 2015; Yousefi et al., 2015). À mesma

conclusão chegou um estudo em Portugal que concluia que a principal razão para aceitar a

substituição da sua medicação por genéricos é a recomendação pelo médico ou

farmacêutico (Quintal & Mendes, 2012).

2.3. Fatores sociodemográficos de influência sobre a opinião e

conhecimento

No que diz respeito à influência que as características sociodemográficas dos

indivíduos têm sobre as suas crenças e atitudes em relação aos medicamentos genéricos,

existem alguns elementos de destaque, nomeadamente:

• Idade;

• Rendimento e/ou escolaridade;

• Género;

Começando pela idade, vários estudos indicam uma associação inversa entre a

idade e as atitudes e predisposição ao consumo de medicamentos genéricos, ou seja,

Page 45: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

36

indivíduos mais velhos mostram-se mais apreensivos em relação ao consumo de

medicamentos genéricos e são os que adotam uma perspetiva mais negativa em relação à

sua qualidade e eficácia e, contrariamente, indivíduos mais novos adotam um ponto de

vista mais positivo (Al-Gedadi et al., 2008; Costa-Font et al., 2014; Fraeyman et al., 2015;

Hassali et al., 2005; Heikkilä et al., 2010; Kjoenniksen et al., 2006; Kulikovska, Poplavska,

Ceha, & Mezinska, 2019; Olsson et al., 2018; Yousefi et al., 2015). O mesmo acontecia num

estudo realizado em Portugal em 2008 (Figueiras, Marcelino, & Cortes, 2008).

Em respeito ao rendimento e à escolaridade dos indivíduos, existem evidências na

literatura de um impacto quer positivo, quer negativo do rendimento e da escolaridade nas

opiniões e conhecimento dos consumidores em relação aos medicamentos genéricos. Ou

seja, existem estudos que concluem que indivíduos com maior rendimento monetário e/

ou com maior grau de escolaridade são aqueles que apresentam uma inclinação mais

positiva para os medicamentos genéricos, o seu consumo ou o conhecimento das suas

características (Al Ameri et al., 2013, 2011; Athanasakis et al., 2018; Himmel et al., 2005;

Kulikovska et al., 2019; Skaltsas & Vasileiou, 2015; Wong et al., 2014) e existem, ao mesmo

tempo, estudos que concluem que indivíduos com menor escolaridade e/ ou rendimento

têm maior preferência ou conhecimento sobre genéricos (Das et al., 2017; Drozdowska &

Hermanowski, 2014, 2016; El-Dahiyat & Kayyali, 2013; Toklu et al., 2012; Yousefi et al.,

2015). Estes resultados mostram que, em boa parte dos casos, aqueles que mais

beneficiariam da redução de custos com o consumo de medicamentos genéricos são os

mais reticentes à sua utilização.

Diferenças entre a opinião de cada género são também incoerentes na literatura,

havendo evidências que demonstram uma maior recetividade para o sexo masculino

(Athanasakis et al., 2018; Guttier et al., 2017; Jacomet et al., 2015; Olsson et al., 2018) e

para o sexo feminino (Babar et al., 2010; Heikkilä et al., 2010; Kulikovska et al., 2019; Shrank

et al., 2009)

No contexto português, associações entre a perceção e a idade e escolaridade

também foram encontradas. Em relação ao papel da idade nas crenças na eficácia dos

medicamentos genéricos, indivíduos mais jovens possuem crenças mais positivas

(Figueiras, Marcelino, & Cortes, 2007). Quintal e Mendes (2012) concluiam existir uma

Page 46: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 2 – Revisão da Literatura

37

associação positiva entre a escolaridade e o correto entendimento sobre o que são

medicamentos genéricos, conclusão a que Figueiras et al. (2007) já haveriam chegado.

2.4. Perceção das características e atributos

Características como a qualidade e eficácia dos medicamentos são percecionados

de forma diferente por diferentes pessoas. Como já foi dito, populações bem informadas

tendem a apresentar uma perceção positivas sobre estes aspetos. Países em que o

conhecimento sobre os medicamentos genéricos não é tão generalizado, existe ainda

alguma apreensão quanto à utilização destes medicamentos, que são percecionados como

menos eficazes e de menor qualidade. Assim sendo, é importante perceber quais as

características ou atributos inerentes aos medicamentos genéricos em que os utentes

depositam menor confiança de maneira a perceber porquê e em que circunstâncias é que

isto acontece.

Começando pela perceção do aumento de efeitos adversos, a toma de todo e

qualquer medicamento está sujeita a ser acompanhada pelo surgimento de um ou mais

efeitos adversos. Este fenómeno é definido como “uma resposta nociva e não intencional

a um fármaco que ocorre com doses e utilização normais no Homem com o objetivo

profilático, de diagnóstico ou tratamento de uma doença ou para a modificação da função

fisiológica” (World Health Organization, 1972). Uma das principais preocupações dos

consumidores em relação ao consumo de medicamentos genéricos é a perceção de que os

mesmos provocam uma maior ocorrência de efeitos adversos, o que conduz a uma menor

intenção de compra e predisposição dos consumidores para optar por este tipo de

medicamentos (Jacomet et al., 2015; Keenum et al., 2012; Oyetunde et al., 2014; Papsdorf,

Ablah, Ram, Sadler, & Liow, 2009; Piguet, D’Incau, Besson, Desmeules, & Cedraschi, 2015;

Stuart et al., 2017). Nestes casos pode existir a ocorrência o efeito de nocebo (antagonista

do efeito placebo). Ou seja, podem ocorrer “efeitos adversos produzidos a partir de uma

expectativa negativa” (Planès et al., 2016) em relação aos medicamentos genéricos, o que

conduz a uma menor adesão a este tipo de medicamentos. Ainda assim, existem

populações que não põem em causa a segurança dos medicamentos genéricos, que podem

Page 47: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

38

ser considerados tão seguros como qualquer outro medicamento (Heikkilä et al., 2010;

Nardi & Ferraz, 2016; Ngo, Stupans, & McKinnon, 2013; Shrank et al., 2009).

No que diz respeito à perceção da eficácia, existem populações em que parte

considerável dos indivíduos percecionam os medicamentos genéricos como menos

eficazes ou “potentes” que os medicamentos de marca e consideram a eficácia como uma

das principais preocupações para a aceitação dos medicamentos genéricos (Al Ameri et al.,

2011; Frisk, Rydberg, Carlsten, & Ekedahl, 2011; Hassali et al., 2005; Lee et al., 2018; Nardi

& Ferraz, 2016; Ngo et al., 2013; Patel, Gauld, Norris, & Rades, 2012; Piguet et al., 2015;

Saleh et al., 2017; Sewell, Andreae, Luke, & Safford, 2012; Wong et al., 2014; Yousefi et al.,

2015). A perceção de falta de eficácia pode ser consequência da fraca perceção da sua

qualidade ou da ideia de que os medicamentos genéricos não são “medicamentos a sério”.

Não obstante, existem populações em que a eficácia dos medicamentos genéricos não é

vista como um problema, como é o caso da Finlândia, em que 80,9% dos respondentes de

um questionário considerava os medicamentos mais baratos igualmente eficazes e 84,9%

como igualmente seguros (Heikkilä et al., 2010). Em Portugal, Figueiras et al. (2007)

referiam uma “forte crença” na eficácia dos medicamentos genéricos e na sua semelhança

com os medicamentos de marca por parte dos participantes do estudo. No entanto, a falta

de confiança na eficácia dos medicamentos genéricos era apontada pelos participantes de

um outro estudo como uma das razões para a baixa utilização deste tipo de fármacos no

país (Quintal & Mendes, 2012).

O preço é muitas vezes visto pelos consumidores como um indicador direto da

qualidade dos produtos (Chang & Wildt, 1996). Por este motivo, o facto de os

medicamentos genéricos serem mais baratos é ao mesmo tempo um aspeto positivo e

negativo. Em muitos casos, o preço é o principal fator para a aceitação destes

medicamentos e é referido como a principal vantagem pelos consumidores (Drozdowska

& Hermanowski, 2016; Frisk et al., 2011; Hassali et al., 2005; Heikkilä, Mäntyselkä, &

Ahonen, 2011; Kjoenniksen et al., 2006; Kulikovska et al., 2019; Lins Ferreira et al., 2017;

Nardi & Ferraz, 2016; Papsdorf et al., 2009; Piguet et al., 2015; Toklu et al., 2012). Noutros

casos, o preço poderá ter um efeito negativo na perceção da qualidade do produto, do

Page 48: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 2 – Revisão da Literatura

39

ponto de vista do consumidor (Al Ameri et al., 2013; Himmel et al., 2005; Patel et al., 2012;

Piguet et al., 2015; Wong et al., 2014).

Em Portugal, “verificou-se que um fator que parece promover a escolha de um

medicamento genérico é o facto de este ter um preço diferente do medicamento de

marca” (Figueiras, Marcelino, & Cortes, 2007). O impacto que o preço tem na perceção da

qualidade os medicamentos genéricos não foi ainda, à data do presente estudo, avaliado

em Portugal.

2.5. Impacto do estado de saúde

De um modo geral, indivíduos que percecionam (ainda que hipoteticamente) o seu

estado de saúde como grave mostram-se menos dispostos para optar por medicamentos

genéricos e preferem os medicamentos de marca, atribuindo menor importância ao preço

dos medicamentos (Al Ameri et al., 2013, 2011; Figueiras et al., 2008; Hensler, Uhlmann,

Porschen, Benecke, & Rösche, 2013; Nardi & Ferraz, 2016; Ngo et al., 2013; Sewell et al.,

2012; Shrank et al., 2009; Wong et al., 2014). Este facto é especialmente relevante para o

caso dos doentes crónicos que são um dos grupos que mais pode beneficiar da utilização

deste tipo de medicamentos. Mesmo assim, a predisposição para a utilização de

medicamentos genéricos em situações de doença crónica é menor quando comparanda

com a predisposição para a utilização em doenças agudas (Al-Gedadi et al., 2008; Al Ameri

et al., 2013, 2011; Athanasakis et al., 2018; Hassali et al., 2005; Himmel et al., 2005).

Existem, no entanto, populações em que isto não se verifica. Países em que o mercado de

medicamentos genéricos é bem desenvolvido, existe uma maior aceitação de

medicamentos genéricos para doenças crónicas e/ou doenças mais graves, como é o caso

dos Estados Unidos da América (Shrank et al., 2009).

Em Portugal, um estudo concluia que doentes crónicos têm menor probabilidade

de optar por medicamentos genéricos (Quintal & Mendes, 2012). Outros 2 estudos

concluiam que os participantes optam menos por medicamentos genéricos para o

tratamento de doenças mais graves (Figueiras et al., 2008; Figueiras, Marcelino, Cortes,

Horne, & Weinman, 2007).

Page 49: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

40

2.6. Experiência passada com medicamentos genéricos

Outro elemento de relevo para a perceção que os consumidores têm em respeito

aos medicamentos genéricos é a experiência de utilização. Diversos estudos concluiam que

a experiência de utilização prévia positiva deste tipo de medicamentos era um fator

positivo sobre a sua perceção (Babar et al., 2010; Drozdowska & Hermanowski, 2014;

Heikkilä, Mäntyselkä, Hartikainen-Herranen, & Ahonen, 2007; Lins Ferreira et al., 2017;

Rathe et al., 2013; Rathe, Søndergaard, Jarbøl, Hallas, & Andersen, 2014; Sharrad & Hassali,

2011). O mesmo se verificava no estudo português realizado por Quintal e Mendes (2012)

que concluia que a perceção de que a substituição genérica produz uma redução de gastos

está associada à experiência passada com a substituição.

2.7. A Realidade Portuguesa

Comparativamente com os estudos realizados no resto do globo, a perceção dos

portugueses em relação aos medicamentos genéricos permanece um tópico relativamente

pouco desenvolvido, com apenas alguns estudos sobre o tema. Ainda assim, os estudos

revelam uma população aparentemente bem informada sobre o que são medicamentos

genéricos, ainda que algum deste conhecimento pareça ser leigo. Isso que leva a crer que

a população possa não estar tão bem informada como se pensa. Por exemplo, o estudo de

Duque et al. (2014) concluia que 40% dos participantes não definiam corretamente os

medicamentos genéricos como mais baratos e de igual qualidade. A reavaliação do

conhecimento da população portuguesa sobre o conceito de medicamento genérico torna-

se pertinente no sentido de perceber até que ponto as intervenções do Infarmed no

sentido de educar a população têm ou não sortido efeito. A criação de um correto

entendimento sobre o tema entre os consumidores portugueses é muito importante já

que, segundo a literatura revista, o correto entendimento e experiência prévia com os

medicamentos genéricos podem estar associados a uma perceção positiva e predisposição

para a sua utilização. É igualmente importante avaliar o impacto que o conhecimento tem

sobre a perceção das características e atributos dos medicamentos genéricos como a

qualidade, a eficácia, a segurança e o preço.

Page 50: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 2 – Revisão da Literatura

41

Outro aspeto a ter em conta é o facto de o estudo realizado por Duque et al. (2014)

ter revelado que 24,4% dos participantes não têm confiança nos medicamentos genéricos.

É importante então, verificar se os níveis de confiança são os mesmos desde 2014 (data do

estudo português mais recente) e definir as causas desta falta de confiança de maneira a

combatê-las.

Em suma, é importante fazer uma reavaliação do conhecimento da população,

assim como uma reavaliação das suas perceções de maneira a perceber se se verifica

alguma alteração desde a realização do último estudo em Portugal (2014) já que é a partir

dessa altura que o crescimento da quota de mercado abranda. É igualmente importante

perceber quais os aspetos que exercem impacto sobre a perceção e a confiança que os

portugueses têm nos medicamentos genéricos.

Page 51: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

42

Page 52: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

43

Capítulo 3: O Processo de

Investigação

Page 53: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

44

Page 54: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 3 – O Processo de Investigação

45

3. O Processo de Investigação

O processo de investigação adotado foi o da pesquisa quantitativa baseada no

processo de recolha e análide de informação numérica e cujo instrumento principal foi um

inquérito estatístico. O inquérito estatístico é uma das metodologias de investigação mais

utilizadas, nomeadamente nas ciências sociais (Ferreira & Campos, 2009). Dada a

necessidade de recolha de informação de um conjunto de comportamentos da população,

foi realizado um inquérito estatístico por questionário com o objetivo de avaliar o

conhecimento e perceção da população portuguesa relativamente aos medicamentos

genéricos e a sua utilização. A recolha deste tipo de informação permite comparar tanto

quanto possível os resultados com a investigação anteriormente realizada no contexto

português avaliando eventuais alterações no paradigma, assim como estudar outros

fenómenos ainda não abordados na literatura. A investigação é, neste sentido tanto

descritiva como correlacional.

3.1. A Metodologia Operacional

Como já foi referido, optou-se por uma metodologia de investigação quantitativa

com recurso à realização de um inquérito por questionário. Uma vez decidida a aplicação

de um inquérito descrevem-se de seguida as sucessivas fases da sua aplicação.

3.1.1. A População Alvo

População portuguesa maior de 18 anos de idade com acesso a computador e

internet.

3.1.2. Amostragem

Para recolha da amostra a ser utilizada neste estudo foi aplicada uma metodologia

que consistiu na realização de um questionário estruturado. Foi utilizado um processo de

amostragem por conveniência. Devido ao caráter oportunista da amostragem, os

resultados obtidos não são representativos da população. No entanto, o uso de uma

amostra por conveniência permite captar, identificar e avaliar aspetos importantes e

cientificamente objetivos na população (Ferreira & Campos, 2009).

Page 55: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

46

3.1.3. Amostra

A amostra válida recolhida foi de 213 indivíduos. É caracterizada por ser constituída

maioritariamente por indivíduos do género feminino (57,28%), indivíduos com menos de

45 anos (71,83%) e indivíduos com nível superior de escolaridade (76,53%). Todavia, cerca

de 36 observações foram rejeitadas por não obedecerem aos pressupostos do

questionário.

3.1.4. Metedologia de Contacto

O questionário foi distribuído na plataforma web LimeSurvey (LimeSurvey Project

Team & Schmitz, 2012) com recurso à sua difusão pelas redes sociais. Apesar de a

realização de questionários com recurso a plataformas em rede seja um tópico

sobejamente debatido desde a sua origem, a verdade é que a sua aplicação apresenta

várias vantagens: alcance global, flexibilidade, rapidez, conveniência, facilidade na

introdução e análise de dados, diversidade, facilidade de obtenção de grandes amostras,

entre outras (Evans & Mathur, 2018). Não quer isto dizer que é uma metodologia sem

falhas. A mais preocupante, no caso do presente estudo em específico, será o desvio nos

atributos da “população online”.

3.1.5. Trabalho de Campo

O questionário permaneceu acessível na plataforma online entre o dia 31 de março

de 2020 e dia 4 de maio de 2020.

3.1.6. Questionário

De maneira a melhor avaliar a opinião e perceção dos participantes do estudo,

optou-se pela elaboração de um questionário estruturado, tendo como base a literatura

revista e os objetivos do estudo. Foi realizado um pré-teste ao questionário com 10

participantes recolhidos numa farmácia escolhida de forma aleatória, pertencente ao

município de Aveiro. Deste pré-teste não surgiu nenhuma alteração ao questionário. O

questionário final foi composto por 18 itens de resposta fechada, à exceção de uma

questão de resposta aberta referente à ocupação profissional do participante. O

questionário foi dividido em quatro partes distintas. A primeira parte focou-se na avaliação

do perfil sociodemográfico dos participantes. A segunda parte foi constituída por questões

Page 56: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 3 – O Processo de Investigação

47

com o objetivo de avaliar a notoriedade dos medicamentos genéricos e a experiência dos

participantes com os mesmos. A terceira parte incidiu sobre a perceção e imagem dos

medicamentos genéricos na mente do consumidor, avaliando estes parâmetros através de

escalas de Likert com 6 níveis de concordância (entre 1 - “discordo totalmente” e 6 -

“concordo totalmente”). A quarta e última parte do questionário foi constituída por apenas

uma questão de autoavaliação do estado de saúde geral dos participantes (entre 1 – “um

péssimo estado de saúde” e 9 – “um excelente estado de saúde”).

3.1.7. Metodologia de Análise

Com o objetivo de avaliar a perceção e conhecimento dos participantes aquando a

sua participação no estudo foi realizada uma análise descritiva e correlacional dos dados

obtidos. A metodologia estatística foi aplicada tendo em conta as recomendações de

Khamis (2008) e Murray (2013) para a análise estatística de escalas do tipo Likert. Valores

de significância menores que 0,05 foram considerados estatisticamente significativos.

Foi criada uma nova variável (“perceção das características”) representada pela

soma das respostas de cada participante aos itens relacionados com a perceção das

características dos medicamentos genéricos (“princípio ativo”, “potência/eficácia”,

“segurança”, “padrões de produção, controlo e qualidade”, “preço” e “perceção da

redução da despesa”). De maneira a avaliar a consistência interna das escalas utilizadas

para a formulação da nova variável, foi calculado o valor de Alpha de Cronbach que avalia

a consistência interna e fiabilidade das escalas de Likert e o seu cálculo é essencial,

especialmente quando se utiliza o somatório dos resultados das escalas (James T.

Croasmun & Lee Ostrom, 2011) uma vez que o Alpha de Cronbach não avalia a fiabilidade

de escalas individuais (Gliem & Gliem, 2003). O valor do Alpha de Cronbach obtido foi de

α=0,811. Este valor é indicador de uma elevada consistência interna das escalas utilizadas.

Ou seja, as escalas utilizadas estão intimamente relacionadas como um grupo.

O estudo da relação entre esta nova variável contínua e as restantes escalas de

Likert foi feito com recurso ao coeficiente de correlação de postos de Spearman denotado

pela letra grega ρ (ró). Para os casos em que o número de níveis da variável ordinal é baixo

(menos de 5), foi utilizado o coeficiente de correlação tau-b de Kendall denotado pela letra

grega T (tau). A mesma metodologia se aplicou para estudar a correlação entre variáveis

Page 57: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

48

ordinais, aplicando a mesma regra para a escolha da medida de correlação. Correlações

que envolvessem variáveis nominais foram avaliadas utilizando o coeficiente de correlação

ponto bisseral (rpb). Toda esta metodologia estatística segue as recomendações de Khamis

(2008) e Murray (2013) para a análise estatística de escalas do tipo Likert.

Todos os dados foram introduzidos no Statistical Package for the Social Sciences

(SPSS, versão 26) e toda a análise estatística foi realizada com recurso a este software.

Page 58: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

49

Capítulo 4: Análise dos Resultados

Page 59: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

50

Page 60: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 4 – Análise dos Resultados

51

4. Resultados

4.1. Caracterização da Amostra

A amostra recolhida (N=213) é caracterizada por ser constituída maioritariamente

por indivíduos do género feminino (57,28%), indivíduos com menos de 45 anos (71,83%) e

indivíduos com nível superior de escolaridade (76,53%). Um resumo das características da

população encontra-se na tabela 1.

A população da amostra revelou possuir um nível relativamente elevado de

conhecimento e experimentação em relação aos medicamentos genéricos. De facto, como

se verifica no gráfico 6, cerca de 29% dos participantes afirmaram utilizá-los de forma

ocasional enquanto que a maioria (aproximadamente 60%) afirmou utilizar com alguma ou

muita regularidade. Apenas 1 participante admitiu nunca ter ouvido falar sobre

medicamentos genéricos e apenas 14 indivíduos admitiram não conhecer as principais

características deste tipo de medicamentos.

Para além disso, cerca de 69% dos participantes afirmou ter tomado pelo menos 1

medicamento nos 30 dias anteriores à implementação dos questionário. Destes (148

indivíduos), 70% afirma que pelo menos 1 dos medicamentos que tomou nos 30 dias

anteriores era um medicamento genérico. Assim, da população total do estudo, 49,28%

afirmou ter consumido pelo menos 1 medicamento genérico nos 30 dias anteriores à

recolha dos dados.

No que diz respeito ao próprio estado de saúde, a maior parte dos participantes

autoavaliou-se positivamente (6 ou mais), sendo que apenas 9 participantes indicaram um

nível de saúde igual ou inferior a 5 (média=7,35).

4.2. Perceção e Imagem

4.2.1. Perceção das características

No que diz respeito à perceção das características dos medicamentos genéricos,

foram utilizadas escalas de Likert com o objetivo de avaliar a perceção dos participantes

relativamente à “potência/eficácia”, “segurança”, “padrões de produção, controlo e

qualidade”, “preço” e “redução da despesa em saúde” dos medicamentos genéricos.

Page 61: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

52

Variável Frequência Percentagem

Género N=213 Masculino Feminino

91 122

42,7 57,3

Escalão Etário N=213 18-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65+

79 49 25 23 26 11

37,1 23,0 11,7 10,8 12,2 5,2

Escolaridade N=213 Básica Secundária Superior

10 40 163

4,7 18,8 76,3

Tomou algum medicamento nos últimos 30 dias N=213 Sim Não Não me lembro

148 61 4

69,5 28,6 1,9

N.º de medicamentos tomados nos últimos 30 dias N=148 1 2 3 4 5 ou mais Não me lembro

52 25 30 7 30 4

35,1 16,9 20,3 4,7 20,3 2,7

Algum dos medicamentos tomados era genérico N=148 Sim Não Não me lembro

103 40 5

69,6 27,0 3,4

Tenho experiência passada positiva com os genéricos N=213 Concordo Discordo Não sei

188 12 13

88,3 5,6 6,1

Como avalia o seu atual estado de saúde N=213 4 5 6 7 8 9

4 5 32 78 59 35

1,9 2,3 15,0 36,6 27,7 16,4

Tabela 1 - Resumo das características sociodemográficas da população do estudo

Page 62: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 4 – Análise dos Resultados

53

Gráfico 6 - "Conhecimento e experimentação" dos participantes

Na tabela 2 encontram-se resumidos os resultados das escalas de Likert para cada

um destes parâmetros. A média de cada escala foi calculada tendo em conta os valores de

1 a 6 da escala (1 – “discordo totalmente”; 2 – “discordo”; 3 – “discordo mais do que

concordo”; 4 – “concordo mais do que discordo”; 5 – “concordo”; 6 – “concordo

totalmente”), não contabilizando as respostas “não sei”. Para facilitar a interpretação da

tabela onde se encontram resumidos os resultados obtidos para a perceção e imagem, os

valores da escala encontram-se apresentados de forma abreviada (níveis de 1 a 3

representados por “discordo” e níveis de 4 a 6 representados por “concordo”).

Através da análise da tabela 2 é possível perceber que, de uma forma geral, existe

uma perceção positiva das principais características dos medicamentos genéricos.

Em primeiro lugar, o resultado que diz respeito à perceção de que os medicamentos

genéricos partilham o mesmo princípio ativo do medicamento original comprova que os

participantes do estudo, na sua maioria, possuem um correto entendimento sobre aquilo

que são os medicamentos genéricos (92% concorda; média=5,40).

Existe também uma perceção positiva em relação à potência/ eficácia dos

medicamentos genéricos já que cerca de 85% concordaram que os mesmos são tão

potentes ou eficazes que os medicamentos de marca (média=4,76).

A segurança é outro fator que a maioria dos participantes concordou ser

equivalente entre os dois tipos de medicamentos (89% concorda; média=4,99).

0,47%6,57% 4,23%

28,64%

60,09%

Não conheço, nemnunca ouvi falar

Já ouvi falar, masdesconheço as suas

principaiscaracterísticas

Sei o que são,conheço as suas

principaiscaracterísticas, mas

nunca os usei

Já os usei mas apenasocasionalmente

Já usei / uso comalguma ou muita

regularidade

Qual das seguintes afirmações traduz melhor o seu grau de conhecimento e experimentação relativamente aos medicamentos

genéricos

Page 63: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

54

Ainda assim, o preço foi a característica que mais concordância gerou, sendo que

cerca de 97% dos participantes concordou que o preço dos medicamentos genéricos é

menor do que os medicamentos de marca (média=5,42) e cerca de 91% concordou que a

utilização deste tipo de medicamentos pode fazer reduzir a despesa própria em saúde.

Variável Frequência Percentagem Média1

Os medicamentos genéricos, em relação aos medicamentos de marca:

Têm o mesmo princípio ativo N=213 Concordo Discordo Não sei

196 8 9

92,0 3,8 4,2

5,40

Têm a mesma potência/eficácia N=213 Concordo Discordo Não sei

182 24 7

85,4 11,3 3,3

4,76

Têm a mesma segurança N=213 Concordo Discordo Não sei

189 18 6

88,7 8,5 2,8

4,99

Têm os mesmos padrões de produção, controlo e qualidade N=213 Concordo Discordo Não sei

162 24 27

76,0 11,3 12,7

4,74

Têm menor preço N=213 Concordo Discordo Não sei

206 5 2

96,7 2,4 0,9

5,42

Permitem reduzir a despesa N=213 Concordo Discordo Não sei

193 13 7

90,6 6,1 3,3

5,12

Tabela 2 -Resumo dos resultados para a perceção das características 1Os valores da media não contabilizam as respostas “Não Sei”

Page 64: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 4 – Análise dos Resultados

55

A escala que se destacou das restantes pelo seu resultado menos positivo foi a

escala com o objetivo de avaliar a perceção dos “padrões de produção, controlo e

qualidade” dos medicamentos genéricos. A grande diferença surge porque cerca de 13%

dos participantes afirma não saber definir a sua posição relativamente à característica em

causa e por esta ser a que gera menor concordância (76,0% concordou; média=4,74). Este

não deixa de ser um valor positivo, mas é importante notar que esta é a característica em

relação à qual os participantes se encontravam menos esclarecidos. Esta, juntamente com

a “potência/ eficácia” foram as duas escalas que produziram maior número de respostas

negativas (24 indivíduos discordaram em ambos os casos).

4.2.2. O impacto da experiência e conhecimento na perceção das

características

Para estudar a relação entre a perceção das características como um todo com as

outras variáveis do estudo foi criada uma nova variável (“perceção das características”)

representada pelo somatório das respostas de cada participante aos itens relacionados

com a perceção das características dos medicamentos genéricos (“princípio ativo”,

“potência/eficácia”, “segurança”, “padrões de produção, controlo e qualidade”, “preço” e

“perceção da redução da despesa”). O valor do Alpha de Cronbach foi calculado, avaliando

a consistência interna das escalas utilizadas na criação da nova variável (α=0,811). Este

valor é indicador de uma elevada consistência interna para as escalas utilizadas para a

construção da nova variável.

Ao estudar a relação entre a experiência dos utilizadores com os medicamentos

genéricos e a perceção das características deste tipo de medicamentos verificou-se que,

em primeiro lugar, existe uma forte correlação entre o “conhecimento e experimentação”

dos participantes e a “perceção das características”, através do teste de correlação de

Spearman (N=213; ρ=0,434; sig.=0,000). Utilizando mesmo teste verificou-se que o facto

de os participantes terem uma experiência positiva com os medicamentos genéricos

também se verificou estar fortemente correlacionada com a “perceção das características”

(N=213; ρ=0,590; sig.=0,000). Também se verificou, através do teste do coeficiente de

correlação ponto-bisseral, uma correlação moderada positiva entre a “perceção das

Page 65: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

56

características” e a toma de pelo menos um medicamento genérico nos 30 dias anteriores

à implementação do questionário (N=204; rpb=0,300; sig.=0,000), sendo que os valores

traduzem uma melhor perceção das características dos medicamentos genéricos entre os

indivíduos que reportaram ter consumido pelo menos um destes medicamentos nos 30

dias anteriores. Estes resultados estão todos de acordo com o proposto na hipótese 1, pelo

que se pode afirmar que a perceção das características dos medicamentos genéricos é

influenciada de forma positiva pela experiência e conhecimento que os consumidores

possuam acerca do tema.

4.3. Confiança

Apesar dos resultados positivos referenciados até aqui, os valores obtidos para a

confiança que os participantes atribuem aos medicamentos genéricos não são tão

positivos, uma vez que 85 participantes (cerca de 43%) concordaram que confiam mais em

medicamentos de marca do que em medicamentos genéricos, como se pode verificar no

gráfico 7. Cerca de 54% dos participantes discordaram com esta suposição e 8 participantes

mostraram-se indecisos quando à sua posição. É importante notar que, no entanto, o facto

de um indivíduo concordar que confia mais em medicamentos de marca não implica que o

mesmo não confie nos medicamentos genéricos, mas sim que a sua posição tende mais

para a confiança nos medicamentos de marca em termos relativos. Assim sendo, a maneira

como foi colocada a questão pode ter influenciado os resultados e deveria ter sido colocada

de outra forma.

Por outro lado, a confiança no médico não foi posta em causa pelos participantes

quando o próprio recomenda o uso de medicamentos genéricos, como é evidente no

gráfico 8. Este resultado indica que a recomendação de medicamentos por parte do médico

seria bem recebida.

Page 66: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 4 – Análise dos Resultados

57

Gráfico 7 – Confiança relativa

Gráfico 8 - Confiança no médico

4.3.1. Impacto da experiência na confiança

Como se verificou anteriormente, a experiência e o conhecimento que os

consumidores possuem acerca dos medicamentos genéricos é um fator influente na

perceção que os mesmos têm sobre as características deste tipo de medicamentos. É

importante também perceber se este fator tem influência sobre a confiança, ou seja, se o

conhecimento e a experiência influenciam a confiança atribuida aos medicamentos

genéricos.

4,00%

12,50%

26,50%

14,50%

20,00%

16,00%

6,50%

Não sei Discordototalmente

Discordo Discordo maisdo que

concordo

Concordo maisdo que

discordo

Concordo Concordototalmente

Confio mais em medicamentos de marca do que em medicamentos genéricos

7,50%

41,50%

33,50%

9,00%

2,50%4,50%

1,50%

Não sei Discordototalmente

Discordo Discordo maisdo que

concordo

Concordo maisdo que

discordo

Concordo Concordototalmente

É de confiar mais num médico que recomenda medicamentos de marca do que num médico que recomenda medicamentos genéricos

Page 67: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

58

Através de um teste de Spearman, verificou-se que indivíduos com maior grau de

“conhecimento e experimentação” em relação aos medicamentos genéricos concordaram

menos com a expressão “confio mais em medicamentos de marca do que em

medicamentos genéricos” (N=200; ρ=-0,300; sig.=0,000). O mesmo se verificou através de

um teste de correlação de tau-b de Kendall para indivíduos que consumiram pelo menos 1

medicamento genérico nos 30 dias anteriores à implementação do questionário (N=196;

T=-0,157; sig.=0,028) e para aqueles que afirmaram ter uma experiência passada positiva

com a utilização de medicamentos genéricos (N=192; ρ=-0,498; sig.=0,000). Estes

resultados vão ao encontro da hipótese 2 de investigação que diz que a experiência e

conhecimento que os consumidores têm com os medicamentos genéricos é preponderante

na confiança depositada nos mesmos.

4.3.2. Impacto da perceção das características na confiança

No que diz respeito à influência da perceção das características na confiança dos

participantes, verificou-se através de um teste de correlação de Spearman que indivíduos

com valores mais positivos para a “perceção das características” concordam menos com a

expressão “confio mais em medicamentos de marca do que em medicamentos genéricos”

(N= 204; ρ= -0,448; sig.= 0,000). Sendo assim, a hipótese 3 de investigação é confirmada

uma vez que a confiança que os participantes depositam nos medicamentos genéricos é

influenciada de forma positiva pela perceção que os mesmos têm das suas características.

Page 68: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

59

Capítulo 5: Discussão dos Resultados

Page 69: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

60

Page 70: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 5 - Discussão

61

5. Discussão

Como já foi referido, o consumo de medicamentos genéricos em Portugal tem vindo

a aumentar apesar de em anos mais recentes o crescimento ter chegado a um planalto.

Numa primeira análise dos resultados obtidos, é possível observar que o número de

participantes que indica ser consumidor de medicamentos de forma regular é

relativamente elevado. Cerca de metade dos participantes do estudo afirmaram ter

consumido pelo menos um medicamento genérico nos 30 dias anteriores à implementação

do questionário, para além de que cerca de 29% afirmou utilizar ocasionalmente e 60%

disse utilizar com alguma ou muita regularidade este tipo de medicamentos. Apenas 11%

dos participantes do estudo afirmou nunca ter consumido um medicamento genérico. Este

resultado representa uma melhoria quando comparado com o resultado do último estudo

realizado em Portugal que concluiu que 21,1% dos participantes nunca tinha utilizado

medicamentos genéricos (Duque et al., 2014).

Para além disso, os resultados obtidos dão a entender que a população está bem

familiarizada com os medicamentos genéricos e apresenta um conhecimento satisfatório

em relação àquilo que eles são e as suas principais características. Este dado é confirmado

pelos resultados obtidos para a perceção das características, principalmente pelos

resultados bastante positivos para as questões relacionadas com o princípio ativo e o preço

dos medicamentos genéricos. A grande maioria dos participantes do estudo apresentou

um correto entendimento das principais características dos medicamentos genéricos, ao

contrário dos participantes de um outro estudo português em que apenas cerca de 65%

dos participantes apresentaram um correto entendimento sobre as características deste

tipo de medicamentos (Quintal & Mendes, 2012). Assim sendo, contrariamente à

conclusão destes autores, a falta de informação não parece ser um dos travões ao

crescimento da quota de mercado os medicamentos genéricos. Os participantes também

se mostraram otimistas quanto à potência/ eficácia e segurança dos medicamentos

genéricos sendo que apenas uma minoria discordou que estes medicamentos fossem tão

potentes/ eficazes e/ou seguros como os medicamentos de marca o que corrobora o

estudo de Figueiras et al. (2007) que concluiu que existe uma forte crença na semelhança

Page 71: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

62

de eficácia entre os dois tipos de medicamentos. É importante notar que, no entanto, os

“padrões de produção, controlo e qualidade” foram a característica que, apesar de

positivo, apresentou o resultado menos favorável. Uma razão que poderá explicar este

dado é o facto de as campanhas informativas praticadas pelo Infarmed se debruçarem

principalmente sobre o preço, segurança e eficácia dos medicamentos genéricos. Pode-se

especular que campanhas informativas realizadas no futuro pelo Infarmed que se

debrucem sobre as características dos medicamentos genéricos como a segurança, preço

e eficácia não serão tão eficazes uma vez que a população aparenta estar esclarecida em

relação a estas características. De todas as campanhas informativas disponíveis na página

de internet do Infarmed, nenhuma utilizou como foco central os padrões de produção,

controlo e qualidade dos medicamentos genéricos, apesar destas características serem

mencionadas (Infarmed, 2020b). Uma mudança no paradigma destas campanhas pode ser

benéfica de maneira a evidenciar alguns aspetos que podem não estar tão bem

esclarecidos como os padrões de produção, controlo e qualidade e a disponibilidade dos

medicamentos genéricos, característica esta última evidenciada por Quintal & Mendes

(2012) como pouco esclarecida entre os consumidores. Para além disso, tal como sugerido

por Figueiras et al (2007), a linguagem utilizada neste tipo de campanhas deve ser adaptada

ao público geral adotando uma linguagem mais corrente e não tão técnica. Apesar disso, a

realização de campanhas informativas será sempre importante. Segundo Duque et al.

(2014), os meios televisivos e a rádio são a segunda fonte de informação a que os utentes

mais recorrem. Os mesmos autores concluem que os profissionais de saúde são as fontes

de informação mais importantes para os utentes, no que toca à informação sobre os

medicamentos genéricos. A confiança no médico não foi posta em causa pelos

participantes quando a recomendação de medicamentos genéricos por parte do médico é

referida. Sendo então os profissionais de saúde a mais importante fonte de informação

para os utentes no que concerne os medicamentos genéricos o seu papel na

desmistificação dos parâmetros referidos como menos esclarecidos é crucial. Como tal, a

mensagem que os médicos e profissionais de farmácia transmitem aos utentes deve ser

avaliada no sentido de perceber se incorpora estes aspetos que se revelam como menos

esclarecidos.

Page 72: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 5 - Discussão

63

Por outro lado, a experiência revelou-se como um mediador da perceção que os

consumidores têm sobre as características dos medicamentos genéricos. A experiência

com os medicamentos genéricos já havia sido anteriormente associada com o correto

entendimento das suas características, assim como com uma maior predisposição para

aceitar a substituição da sua medicação por genéricos (Quintal & Mendes, 2012) e os

resultados do presente estudo apoiam estas evidências.

Quando se fala em confiança, a experiência passada é novamente um fator a

considerar. Tal como se verificou para a perceção das características, a experiência passada

dos medicamentos genéricos revelou-se como um fator com influência positiva na

confiança neste tipo de medicamentos. Ou seja, participantes com experiência passada

com os medicamentos genéricos foram aqueles que apresentaram maior nível de discórdia

com a expressão “confio mais em medicamentos de marca do que em medicamentos

genéricos”.

Ainda assim, cerca de metade dos participantes do estudo deposita ainda maior

confiança nos medicamentos de marca. Esta diferença na confiança, no entanto, parece

não ter origem na falta de confiança na qualidade, segurança ou eficácia destes

medicamentos, dados os resultados positivos para a perceção destes parâmetros e apesar

de se ter verificado a existência de uma correlação positiva entre a perceção das

características e a confiança. De facto, o conhecimento e a experiência são modeladores

positivos para a confiança nos medicamentos genéricos, no entanto, à luz do presente

estudo, não parecem servir para explicar a desigualdade na confiança entre os dois tipos

de medicamentos. Assim sendo, a experiência passada, o conhecimento e a perceção das

características dos medicamentos genéricos são fatores com uma influência positiva na

confiança que os utentes depositam nos mesmos. No entanto, este tipo de medicamentos

não é visto com os mesmos olhos que os medicamentos de marca, já que uma boa parte

da população do estudo, apesar de ter uma boa perceção das características e

conhecimento satisfatório, afirma confiar mais em medicamentos de marca do que em

medicamentos genéricos. Este dado levanta a seguinte questão. Se a falta de conhecimento

e a falta de confiança nas características como a segurança e eficácia é coisa do passado,

de onde vem a relutância para a aceitação e utilização dos medicamentos genéricos?

Page 73: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

64

Page 74: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

65

Capítulo 6: Conclusão

Page 75: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

66

Page 76: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 6 – Conclusão

67

6. Conclusão

Os medicamentos genéricos representam uma ferramenta muito apelativa para a

redução de despesas em saúde, facto que se torna cada vez mais importante por diversos

motivos. É agora claro que o problema do aumento da despesa pública em saúde tem de

ser confrontado e os medicamentos genéricos podem ser uma das armas utilizadas para o

seu combate.

Nas palavras dos autores portugueses Quintal e Mendes (2012), “o sucesso de

qualquer medida para a promoção do consumo de medicamentos genéricos depende de

vários agentes e barreiras à substituição que podem surgir em diferentes áreas. A atitude

dos utentes e dos farmacêuticos pode ser uma dessas barreiras” (p.63). Como tal, o

presente estudo teve como objetivo avaliar o atual conhecimento da população

portuguesa sobre os medicamentos genéricos, avaliar a perceção que os mesmos têm

sobre este tipo de medicamentos e identificar parâmetros com influência sobre a confiança

neles depositada. Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que a população do

estudo tem um bom conhecimento sobre o que são os medicamentos genéricos e as suas

características e este conhecimento provou ter um impacto positivo na perceção das

características deste tipo de medicamentos e na confiança que os utentes lhes conferem.

Para além disso, os resultados indicam que, para além do conhecimento, a experiência

prévia é um fator com influência positiva na confiança e perceção das características dos

medicamentos genéricos.

Graças a este conhecimento, o papel das campanhas informativas realizadas pelo

Infarmed deveria ser revisto, assim como deve ser feita uma avaliação da mensagem que

os profissionais de saúde transmitem aos seus utentes uma vez que são estes os principais

meios de informação a que os utentes recorrem para obter informação sobre os

medicamentos genéricos. As causas da falta de confiança parecem não ter origem na fraca

perceção das características dos medicamentos genéricos como a segurança e a eficácia

dados os resultados positivos obtidos neste estudo. Por essa razão, a informação que as

campanhas informativas e os profissionais de saúde transmitem devem abordar os aspetos

Page 77: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

68

menos esclarecidos como a disponibilidade e os padrões de produção, controlo e

qualidade.

Page 78: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

69

Capítulo 7: Limitações e Propostas de

Investigação Futura

Page 79: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

70

Page 80: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Capítulo 7 – Limitações e Propostas de Investigação Futura

71

7. Limitações e Propostas de Investigação Futura

7.1. Limitações do Estudo

O presente estudo sofre por algumas limitações que devem ser tidas em conta para

a interpretação dos resultados. Em primeiro lugar, é importante referir que a amostra

recolhida não é representativa da população. A utilização de uma amostra por

conveniência sem obedecer a grandes regras para a sua recolha conduziu a uma maior

representação de grupos particulares de participantes, nomeadamente participantes mais

jovens e com nível de escolaridade superior. Assim sendo, algumas características da

amostra recolhida podem ter fortemente influenciado os resultados obtidos.

Nomeadamente, a faixa etária e o nível de escolaridade são dois parâmetros com influência

no comportamento do consumidor e no conhecimento em relação aos medicamentos

genéricos, como foi referido no capítulo dedicado à revisão da literatura, sendo que vários

autores comprovaram a existência de uma relação entre estes parâmetros no contexto

português (Figueiras, Marcelino, & Cortes, 2007; Quintal & Mendes, 2012). Assim sendo, o

facto de a população do estudo ser maioritariamente jovem e com nível de escolaridade

superior pode ter provocado um desvio positivo nos resultados obtidos, o que deve ser tido

em conta ao pensar na relevância dos resultados e nas suas implicações.

Para além disso, pela forma como foi abordado, o item que classificou a confiança

dos participantes nos medicamentos genéricos não quantificou o nível de confiança em si.

O facto de um indivíduo concordar que confia mais em medicamentos de marca não implica

que o mesmo não confie nos medicamentos genéricos, mas sim que a sua posição tende

mais para a confiança nos medicamentos de marca em termos relativos. Por esta razão, a

questão deveria ter sido colocada de outra forma uma vez que não quantifica a confiança

que os participantes depositam nos medicamentos genéricos.

7.2. Investigação Futura

Posto isto, é importante perceber que outros parâmetros para além dos que foram

avaliados no presente estudo podem afetar a confiança nos medicamentos genéricos. A

confiança neste tipo de medicamentos continua a não ser equivalente à dos medicamentos

Page 81: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

72

de marca apesar de o conhecimento que os utentes têm sobre os mesmos ser bastante

satisfatório.

Como sugerido por Duque et al. (2014), seria pertinente uma avaliação da posição

dos profissionais de saúde em relação aos medicamentos genéricos, estudando o seu real

impacto nas escolhas dos utentes quanto à sua medicação. De igual modo, é importante

saber qual a informação que estes mesmos profissionais de saúde consideram mais

pertinente passar na sua mensagem à população e qual a sua opinião relativamente aos

medicamentos genéricos.

Para além disso, dado o impacto comprovado das variáveis sociodemográficas na

confiança e utilização dos medicamentos genéricos em Portugal seria também importante

uma avaliação das diferenças no consumo e comportamento de consumidor tendo em

conta as diferenças da população entre zonas geográficas.

Finalmente, o impacto de futuras campanhas informativas sobre os medicamentos

genéricos deveria ser quantificado de maneira a perceber até que ponto a população é

sensível a este tipo de iniciativas e de que forma as mesmas podem ser melhoradas para

que transmitam as informações de que os portugueses realmente necessitam.

Page 82: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

73

Bibliografia

Page 83: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

74

Page 84: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Bibliografia

75

Bibliografia

Al-Gedadi, N. A., Hassali, M. A., & Shafie, A. A. (2008). A pilot survey on perceptions and

knowledge of generic medicines among consumers in Penang, Malaysia. Pharmacy

Practice, 6(2), 93–97. https://doi.org/10.4321/S1886-36552008000200006

Al Ameri, M. N., Mohamed, W., Makramalla, E., Shalhoub, B., Tucker, A., & Johnston, A.

(2013). Renal patients’ views on generic prescribing and substitution: example from

the United Arab Emirates. Eastern Mediterranean Health Journal, 19(04), 373–381.

https://doi.org/10.26719/2013.19.4.373

Al Ameri, M. N., Whittaker, C., Tucker, A., Yaqoob, M., & Johnston, A. (2011). A survey to

determine the views of renal transplant patients on generic substitution in the UK.

Transplant International, 24(8), 770–779. https://doi.org/10.1111/j.1432-

2277.2011.01268.x

APOGEN. (2018). Poupança Medicamento Genérico. Retrieved September 14, 2020, from

https://www.apogen.pt/galeria/media/2019DEZ_apogen_infografico-poupanca.pdf

APOGEN. (2020). APOGEN - Os Nossos Associados. Retrieved September 21, 2020, from

https://www.apogen.pt/os-nossos-associados.php

Association for Acessible Medicines. (2019). The Case for Competition 2019 Generic Drug &

Biosimilars Access & Savings in the U.S. Report.

https://doi.org/10.1080/05775132.1965.11469830

Athanasakis, K., Kyriopoulos, I., & Kyriopoulos, J. (2018). To switch or not to switch? Patient

attitudes towards generic substitution in Greece. Journal of Pharmaceutical Health

Services Research, 9(3), 271–273. https://doi.org/10.1111/jphs.12246

Babar, Z. U. D., Stewart, J., Reddy, S., Alzaher, W., Vareed, P., Yacoub, N., … Rew, A. (2010).

An evaluation of consumers’ knowledge, perceptions and attitudes regarding generic

medicines in Auckland. Pharmacy World and Science, 32(4), 440–448.

https://doi.org/10.1007/s11096-010-9402-0

Baumgärtel, C. (2012). Myths, questions, facts about generic drugs in the EU. Generics and

Biosimilars Initiative Journal, 1(1), 34–38.

https://doi.org/10.5639/gabij.2012.0101.009

Page 85: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

76

Carone, G., Costello, D., Diez Guardia, N., Mourre, G., Przywara, B., & Salomäki, A. (2011).

The Economic Impact of Ageing Populations in the EU25 Member States. In SSRN

Electronic Journal. https://doi.org/10.2139/ssrn.873872

Chang, T. Z., & Wildt, A. R. (1996). Impact of product information on the use of price as a

quality cue. Psychology and Marketing, 13(1), 55–75.

https://doi.org/10.1002/(SICI)1520-6793(199601)13:1<55::AID-MAR4<3.0.CO;2-O

Comissão Europeia. (2019). Aplicação das Regras de Concorrência no Setor Farmacêutico

(2009-2017). In Relatório da Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeu.

Retrieved from https://ci.nii.ac.jp/naid/110004000229/

Constituição da República Portuguesa - VII Revisão Consitucional (2005). (2005). In

Assembleia da República. Retrieved from

https://www.parlamento.pt/Legislacao/paginas/constituicaorepublicaportuguesa.as

px

Costa-Font, J., Rudisill, C., & Tan, S. (2014). Brand loyalty, patients and limited generic

medicines uptake. Health Policy, 116(2–3), 224–233.

https://doi.org/10.1016/j.healthpol.2014.01.015

Das, M., Choudhury, S., Maity, S., Hazra, A., Pradhan, T., Pal, A., & Roy, R. K. (2017). Generic

versus branded medicines: An observational study among patients with chronic

diseases attending a public hospital outpatient department. Journal of Natural

Science, Biology and Medicine, 8(1), 26–31. https://doi.org/10.4103/0976-

9668.198351

DiMasi, J. A., Hansen, R. W., & Grabowski, H. G. (2003). The price of innovation: New

estimates of drug development costs. Journal of Health Economics, 22(2), 151–185.

https://doi.org/10.1016/S0167-6296(02)00126-1

Domeyer, P. J., Katsari, V., Sarafis, P., Aletras, V., & Niakas, D. (2018). Greek students’

attitudes, perception and knowledge regarding generic medicines in times of

economic crisis: A cross-sectional study. BMC Medical Education, 18(1), 4–11.

https://doi.org/10.1186/s12909-018-1379-8

Drozdowska, A., & Hermanowski, T. (2014). Exploring the opinions and experiences of

patients with generic substitution: a representative study of Polish society.

Page 86: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Bibliografia

77

International Journal of Clinical Pharmacy, 37(1), 68–75.

https://doi.org/10.1007/s11096-014-0041-8

Drozdowska, A., & Hermanowski, T. (2016). Predictors of generic substitution: The role of

psychological, sociodemographic, and contextual factors. Research in Social and

Administrative Pharmacy, 12(1), 119–129.

https://doi.org/10.1016/j.sapharm.2015.03.003

Dunne, S. S., & Dunne, C. P. (2015). What do people really think of generic medicines? A

systematic review and critical appraisal of literature on stakeholder perceptions of

generic drugs. BMC Medicine, 13(1). https://doi.org/10.1186/s12916-015-0415-3

Duque, M., Rocha, C., & Balteiro, J. (2014). Adesão dos utentes aos medicamentos

genéricos. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 32(2), 181–187.

https://doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.03.002

El-Dahiyat, F., & Kayyali, R. (2013). Evaluating patients’ perceptions regarding generic

medicines in Jordan. Journal of Pharmaceutical Policy and Practice, 6(1), 1.

https://doi.org/10.1186/2052-3211-6-3

European Federation of Pharmaceutical Industries and Associations. (2018). The

Pharmaceutical Industry in Figures. In EFPIA Key Data 2018. Retrieved from

www.efpia.eu

Evans, J. R., & Mathur, A. (2018). The value of online surveys: a look back and a look ahead.

Internet Research, 28(4), 854–887. https://doi.org/10.1108/IntR-03-2018-0089

Ferreira, M., & Campos, P. (2009). O Inquérito Estatístico: uma introdução à elaboração de

questionários, amostragem, organização e apresentação de resultados. In Um mundo

para conhecer os números. Retrieved from

http://www.alea.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=317&Itemid=

1720&lang=pt

Figueiras, M. J., Marcelino, D., & Cortes, M. A. (2007). Medicamentos genéricos: crenças de

senso-comum da população portuguesa. Rev Port Clin Geral, 23(1), 43–51. Retrieved

from http://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/download/10321/10057

Figueiras, M. J., Marcelino, D., & Cortes, M. A. (2008). People’s views on the level of

agreement of generic medicines for different illnesses. Pharmacy World and Science,

Page 87: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

78

30(5), 590–594. https://doi.org/10.1007/s11096-008-9247-y

Figueiras, M. J., Marcelino, D., Cortes, M. A., Horne, R., & Weinman, J. (2007). Crenças de

senso comum sobre medicamentos genéricos vs. medicamentos de marca: Um estudo

piloto sobre diferenças de género. Análise Psicológica, 25(3), 427–437.

https://doi.org/10.14417/ap.455

Fraeyman, J., Peeters, L., Van Hal, G., Beutels, P., De Meyer, G. R. Y., & De Loof, H. (2015).

Consumer choice between common generic and brand medicines in a country with a

small generic market. Journal of Managed Care Pharmacy, 21(4), 288–296.

https://doi.org/10.18553/jmcp.2015.21.4.288

Frisk, P., Rydberg, T., Carlsten, A., & Ekedahl, A. (2011). Patients’ experiences with generic

substitution: A Swedish pharmacy survey. Journal of Pharmaceutical Health Services

Research, 2(1), 9–15. https://doi.org/10.1111/j.1759-8893.2011.00036.x

Gliem, J. A., & Gliem, R. R. (2003). Calculating, Interpreting, and Reporting Cronbach’s Alpha

Reliability Coefficient for Likert-Type Scales. Midwest Research-to-Practice Conference

in Adult, Continuing, and Community Education, 82–88.

Guttier, M. C., Silveira, M. P. T., Luiza, V. L., & Bertoldi, A. D. (2017). Factors influencing the

preference for purchasing generic drugs in a Southern Brazilian city. Revista de Saúde

Pública, 51, 59. https://doi.org/10.1590/S1518-8787.2017051006786

Hassali, M. A., Kong, D. C. M., & Stewart, K. (2005). Generic medicines: perceptions of

consumers in Melbourne, Australia. International Journal of Pharmacy Practice, 13(4),

257–264. https://doi.org/10.1211/ijpp.13.4.0004

Heikkilä, R., Mäntyselkä, P., & Ahonen, R. (2010). Do people regard cheaper medicines

effective? Population survey on public opinion of generic substitution in Finland.

Pharmacoepidemiology and Drug Safety, 20, 185–191.

Heikkilä, R., Mäntyselkä, P., & Ahonen, R. (2011). Price, familiarity, and availability

determine the choice of drug - a population-based survey five years after generic

substitution was introduced in Finland. BMC Clinical Pharmacology, 11(20), 1–6.

https://doi.org/10.1186/1472-6904-11-20

Heikkilä, R., Mäntyselkä, P., Hartikainen-Herranen, K., & Ahonen, R. (2007). Customers’ and

physicians’ opinions of and experiences with generic substitution during the first year

Page 88: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Bibliografia

79

in Finland. Health Policy, 82(3), 366–374.

https://doi.org/10.1016/j.healthpol.2006.10.006

Hensler, K., Uhlmann, C., Porschen, T., Benecke, R., & Rösche, J. (2013). Generic

substitution of antiepileptic drugs - A survey of patients’ perspectives in Germany and

other German-speaking countries. Epilepsy and Behavior, 27(1), 135–139.

https://doi.org/10.1016/j.yebeh.2012.12.029

Himmel, W., Simmenroth-Nayda, A., Niebling, W., Ledig, T., Jansen, R. D., Kochen, M. M.,

… Hummers-Pradier, E. (2005). What do primary care patients think about generic

drugs? International Journal of Clinical Pharmacology and Therapeutics, 43(10), 472–

479. https://doi.org/10.5414/CPP43472

Howard, J. N., Harris, I., Frank, G., Kiptanui, Z., Qian, J., & Hansen, R. (2018). Influencers of

generic drug utilization: A systematic review. Research in Social and Administrative

Pharmacy, 14(7), 619–627. https://doi.org/10.1016/j.sapharm.2017.08.001

IMS Institute for Healthcare Informatics. (2015a). Global Medicines Use in 2020 Outlook

and Implications. In IMS Institute for Healthcare Informatics.

IMS Institute for Healthcare Informatics. (2015b). The Role of Generic Medicines in

Sustaining Healthcare Systems: A European Perspective. Retrieved from

https://www.medicinesforeurope.com/wp-

content/uploads/2016/03/IMS_Health_2015_-

_The_Role_of_Generic_Medicines_in_Sustaining_Healthcare_Systems_-

_A_European_Perspective.pdf

Infarmed. (2018a). Comunicado de Imprensa - Quota de genéricos atinge 48,2% em 2018.

In Infarmed. Retrieved from

https://www.infarmed.pt/documents/15786/1879176/Quota+de+genéricos+atinge+

48%2C2%25+em+2018/9a75b32a-d627-4e29-8644-de8834830528

Infarmed. (2018b). Estatística do Medicamento e Produtos de saúde - 2018. Retrieved from

https://www.infarmed.pt/documents/15786/1229727/Estatística+do+medicamento

+2018+%28pdf%29/343a8ff0-40fe-0be3-be6d-82c79be3f680?version=1.3

Infarmed. (2020a). Avaliação Biodisponibilidade/Bioequivalência. Retrieved July 12, 2020,

from https://www.infarmed.pt/web/infarmed/alertas-de-seguranca/-

Page 89: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

80

/journal_content/56_INSTANCE_0000/15786/27945?p_p_state=pop_up&_56_INSTA

NCE_0000_page=1&_56_INSTANCE_0000_viewMode=print

Infarmed. (2020b). Campanhas - INFARMED, I.P. Retrieved July 1, 2020, from

https://www.infarmed.pt/web/infarmed/institucional/documentacao_e_informacao

/campanhas

Instituto Nacional de Estatística. (2019). Conta Satélite da Saúde 2016 - 2018Pe. Retrieved

from

https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdes

t_boui=354230489&DESTAQUESmodo=2&xlang=pt

IQVIA. (2019). Evolução do Mercado de Farmácia em Portugal.

Jacomet, C., Allavena, C., Peyrol, F., Pereira, B., Joubert, L. M., Bagheri, H., … Dellamonica,

P. (2015). Perception of antiretroviral generic medicines: One-day survey of HIV-

infected patients and their physicians in France. PLOS ONE, 10(2), 1–13.

https://doi.org/10.1371/journal.pone.0117214

James T. Croasmun, & Lee Ostrom. (2011). Using Likert-type scales in the social sciences.

Journal of Adult Education, 40(1), 19–22.

Karampli, E., Triga, E., Kyriopoulos, J., Athanasakis, K., & Tsiantou, V. (2016). Views of

physicians and patients with chronic conditions on generic medicines in Greece after

the introduction of measures to promote their consumption: Findings from a

qualitative study. Generics Ad Biosimilars Initiative Journal, 5(1), 9–20.

https://doi.org/10.5639/gabij.2016.0501.005

Keenum, A. J., DeVoe, J. E., Chisolm, D. J., & Wallace, L. S. (2012). Generic medications for

you, but brand-name medications for me. Research in Social and Administrative

Pharmacy, 8(6), 574–578. https://doi.org/10.1016/j.sapharm.2011.12.004

Kesselheim, A. S., Gagne, J. J., Franklin, J. M., Eddings, W., Fulchino, L. A., Avorn, J., &

Campbell, E. G. (2016). Variations in Patients’ Perceptions and Use of Generic Drugs:

Results of a National Survey. Journal of General Internal Medicine, 31(6), 609–614.

https://doi.org/10.1007/s11606-016-3612-7

Kesselheim, A. S., Gagne, J. J., Franklin, J. M., Eddings, W., Fulchino, L. A., & Campbell, E. G.

(2017). Do patients trust the FDA?: a survey assessing how patients view the generic

Page 90: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Bibliografia

81

drug approval process. Pharmacoepidemiology and Drug Safety, 26(6), 694–701.

https://doi.org/10.1002/pds.4205

Khamis, H. (2008). Measures of association: How to choose? Journal of Diagnostic Medical

Sonography, 24(3), 155–162. https://doi.org/10.1177/8756479308317006

Kieran, J. A., O’Reilly, E., O’Dea, S., Bergin, C., & O’Leary, A. (2017). Generic substitution of

antiretrovirals: patients’ and health care providers’ opinions. International Journal of

STD and AIDS, 28(12), 1239–1246. https://doi.org/10.1177/0956462417696215

Kjoenniksen, I., Lindbaek, M., & Granas, A. G. (2006). Patients’ attitudes towards and

experiences of generic drug substitution in Norway. Pharmacy World and Science,

28(5), 284–289. https://doi.org/10.1007/s11096-006-9043-5

Kobayashi, E., Abe, C., & Satoh, N. (2019). Patients’ perspectives on generic substitution

among statin users in Japan. Journal of Public Health, 27(1), 11–19.

https://doi.org/10.1007/s10389-018-0918-4

Kohli, E., & Buller, A. (2013). Factors influencing consumer purchasing patterns of generic

versus brand name over-the-counter drugs. Southern Medical Journal, 106(2), 155–

160. https://doi.org/10.1097/SMJ.0b013e3182804c58

Kulikovska, I. S., Poplavska, E., Ceha, M., & Mezinska, S. (2019). Use of generic medicines in

Latvia: Awareness, opinions and experiences of the population. Journal of

Pharmaceutical Policy and Practice, 12(1), 1–7. https://doi.org/10.1186/s40545-018-

0159-5

Lee, V. W. Y., Cheng, F. W. T., Fong, F. Y. H., Ng, E. E. N., Lo, L. L. H., Ngai, L. Y. S., & Lam, A.

S. M. (2018). Branded versus generic drug use in chronic disease management in hong

kong— perspectives of health care professionals and the general public. Hong Kong

Medical Journal, 24(6), 554–560. https://doi.org/10.12809/hkmj177087

LimeSurvey Project Team, & Schmitz, C. (2012). LimeSurvey: An Open Source survey tool.

Retrieved from http://www.limesurvey.org

Lins Ferreira, V., Pereira da Veiga, C. R., Kudlawicz-Franco, C., Scalercio, P., Ramires, Y.,

Pontarolo, R., … da Veiga, C. P. (2017). Generic drugs in times of economic crisis: Are

there changes in consumer purchase intention? Journal of Retailing and Consumer

Services, 37(February), 1–7. https://doi.org/10.1016/j.jretconser.2017.02.008

Page 91: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

82

Ministério da Saúde. (2006). Decreto lei no 176/2006 de 30 de agosto. Retrieved from

https://www.infarmed.pt/documents/15786/1068535/035-

E_DL_176_2006_12ALT/d2ae048e-547e-4c5c-873e-b41004b9027f

Mistubishi UFJ Financial Group. (2016). Global Generic Pharmaceutical Industry Review.

Murray, J. (2013). Likert Data: What to Use, Parametric or Non-Parametric? International

Journal of Business and Social Science, 4(11), 258–264.

Nardi, E. P., & Ferraz, M. B. (2016). Perception of the value of generic drugs in São Paulo,

Brazil. Cadernos de Saúde Pública, 32(2), 1–11. https://doi.org/10.1590/0102-

311x00038715

Ngo, S. N. T., Stupans, I., & McKinnon, R. A. (2013). Generic substitution in the treatment

of epilepsy: Patient attitudes and perceptions. Epilepsy and Behavior, 26(1), 64–66.

https://doi.org/10.1016/j.yebeh.2012.10.032

O’Leary, A., Usher, C., Lynch, M., Hall, M., Hemeryk, L., Spillane, S., … Barry, M. (2015).

Generic medicines and generic substitution: Contrasting perspectives of stakeholders

in Ireland. BioMed Central, 8(1), 1–10. https://doi.org/10.1186/s13104-015-1764-x

OCDE. (2019a). Generics and biosimilars. In Health at a Glance 2019: OECD Indicators (pp.

212–214). https://doi.org/10.1787/d58d7923-en

OCDE. (2019b). Pharmaceutical Spending Indicators. https://doi.org/doi:

10.1787/998febf6-en

Olsson, E., Svensberg, K., Wallach-Kildemoes, H., Carlsson, E., Hällkvist, C., Kaae, S., &

Kälvemark Sporrong, S. (2018). Swedish patients’ trust in the bioequivalence of

interchangeable generics. What factors are important for low trust? Pharmacy

Practice, 16(4), 1–9.

https://doi.org/https://doi.org/10.18549/PharmPract.2018.04.1298

Organization for Economic Co-Operation and Development. (2018). Health at a Glance

2018. Retrieved from

https://ec.europa.eu/health/sites/health/files/state/docs/2018_healthatglance_rep

_en.pdf

Oyetunde, O. O., Aina, B. A., & Tayo, F. (2014). Impact of generic substitution practice on

care of diabetic patients. International Journal of Clinical Pharmacy, 36(3), 623–629.

Page 92: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Bibliografia

83

https://doi.org/10.1007/s11096-014-9946-5

Papsdorf, T. B., Ablah, E., Ram, S., Sadler, T., & Liow, K. (2009). Patient perception of generic

antiepileptic drugs in the Midwestern United States. Epilepsy and Behavior, 14(1),

150–153. https://doi.org/10.1016/j.yebeh.2008.09.009

Patel, A., Gauld, R., Norris, P., & Rades, T. (2012). Quality of generic medicines in South

Africa: Perceptions versus Reality - A qualitative study. BMC Health Services Research,

12(1). https://doi.org/10.1186/1472-6963-12-297

Pereira, M. C., & Vilares, H. (2014). A review of the pharmaceutical market in Portugal. In

Banco de Portugal - Economic Bulletin. Retrieved from

https://www.bportugal.pt/sites/default/files/anexos/papers/ab201411_e.pdf

Piguet, V., D’Incau, S., Besson, M., Desmeules, J., & Cedraschi, C. (2015). Prescribing generic

medication in chronic musculoskeletal pain patients: An issue of representations,

trust, and experience in a swiss cohort. PLOS ONE, 10(8), 1–12.

https://doi.org/10.1371/journal.pone.0134661

Planès, S., Villier, C., & Mallaret, M. (2016). The nocebo effect of drugs. Pharmacology

Research and Perspectives, 4(2), 1–15. https://doi.org/10.1002/prp2.208

Proclinical. (2020). Who are the top 10 pharmaceutical companies in the world? (2020).

Retrieved September 12, 2020, from https://www.proclinical.com/blogs/2020-8/the-

top-10-pharmaceutical-companies-in-the-world-2020

Quintal, C., & Mendes, P. (2012). Underuse of generic medicines in Portugal: An empirical

study on the perceptions and attitudes of patients and pharmacists. Health Policy,

104(1), 61–68. https://doi.org/10.1016/j.healthpol.2011.10.001

Rana, P., & Roy, V. (2015). Generic medicines: Issues and relevance for global health.

Fundamental and Clinical Pharmacology, 29(6), 529–542.

https://doi.org/10.1111/fcp.12155

Rathe, J., Larsen, P., Andersen, M., Paulsen, M., Jarbøl, D., Thomsen, J., & Soendergaard, J.

(2013). Associations between generic substitution and patients’ attitudes, beliefs and

experiences. European Journal of Clinical Pharmacology, 69(10), 1827–1836.

https://doi.org/10.1007/s00228-013-1539-z

Rathe, J., Søndergaard, J., Jarbøl, D., Hallas, J., & Andersen, M. (2014). Patients’ concern

Page 93: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Conhecimento e Perceção do Valor dos Medicamentos Genéricos

84

about their medicine after a generic switch: a combined cross-sectional questionnaire

and register study. Pharmacoepidemiology and Drug Safety, 23(June), 965–973.

https://doi.org/10.1002/pds.3671

Saleh, S., Abou Samra, C., Jleilaty, S., Constantin, J., El Arnaout, N., Dimassi, H., & Al-Bittar,

D. (2017). Perceptions and behaviors of patients and pharmacists towards generic

drug substitution in Lebanon. International Journal of Clinical Pharmacy, 39(5), 1101–

1109. https://doi.org/10.1007/s11096-017-0509-4

Sewell, K., Andreae, S., Luke, E., & Safford, M. M. (2012). Perceptions of and barriers to use

of generic medications in a rural African American population, Alabama, 2011.

Preventing Chronic Disease, 9(8), 6–13. https://doi.org/10.5888/pcd9.120010

Sharrad, A. K., & Hassali, M. A. (2011). Consumer perception on generic medicines in

Basrah, Iraq: Preliminary findings from a qualitative study. Research in Social and

Administrative Pharmacy, 7(1), 108–112.

https://doi.org/10.1016/j.sapharm.2009.12.003

Shrank, W. H., Cox, E. R., Fischer, M. A., Mehta, J., & Choudhry, N. K. (2009). Patients’

perceptions of generic medications. Health Affairs, 28(2), 546–556.

https://doi.org/10.1377/hlthaff.28.2.546

Simões, J. de A., Augusto, G. F., Fronteira, I., & Hernández-Quevedo, C. (2017). Portugal -

Health system review. In Health systems in Transition (Vol. 19). Retrieved from

https://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0007/337471/HiT-Portugal.pdf

Skaltsas, L. N., & Vasileiou, K. Z. (2015). Patients’ perceptions of generic drugs in Greece.

Health Policy, 119(11), 1406–1414. https://doi.org/10.1016/j.healthpol.2015.09.007

Stuart, A. V., Gupta, M. M., & Sealy, P. (2017). Patients’ Perception of Generic Drugs at

Health Institutions in Trinidad and Tobago. Journal of Young Pharmacists, 9(3), 362–

366. https://doi.org/10.5530/jyp.2017.9.72

Toklu, H. Z., Dülger, G. A., Hidiroglu, S., Akici, A., Yetim, A., Gannemoglu, H. M., & Günes, H.

(2012). Knowledge and attitudes of the pharmacists, prescribers and patients towards

generic drug use in Istanbul-Turkey. Pharmacy Practice, 10(4), 199–206.

https://doi.org/10.4321/s1886-36552012000400004

Toverud, E. L., Røise, A. K., Hogstad, G., & Wabø, I. (2011). Norwegian patients on generic

Page 94: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

Bibliografia

85

antihypertensive drugs: A qualitative study of their own experiences. European

Journal of Clinical Pharmacology, 67(1), 33–38. https://doi.org/10.1007/s00228-010-

0935-x

Vogler, S., Zimmermann, N., Leopold, C., & De Joncheere, K. (2011). Pharmaceutical policies

in European countries in response to the global financial crisis. Southern Med Review,

4(2), 22–32.

Wolfe, S. (2015). Rosuvastatin: Winner in the statin wars, patients’ health notwithstanding.

BMJ, 350(March), 1–3. https://doi.org/10.1136/bmj.h1388

Wong, Z. Y., Hassali, M. A., Alrasheedy, A. A., Saleem, F., Yahaya, A. H., & Aljadhey, H.

(2014). Patients´ beliefs about generic medicines in Malaysia. Pharmacy Practice,

12(4), 1–8. https://doi.org/10.4321/s1886-36552014000400006

World Health Organization. (1972). International drug monitoring: the role of national

centres. Report of a WHO meeting. In World Health Organization - Technical Report

Series (Vol. 498). Retrieved from

https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/40968/WHO_TRS_498.pdf?seque

nce=1&isAllowed=y

World Health Organizaton. (2010). The World Health Report HEALTH SYSTEMS FINANCING.

Retrieved from

https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/44371/9789241564021_eng.pdf?

sequence=1&isAllowed=y

Wouters, O. J., Kanavos, P. G., & Mckee, M. A. R. T. I. N. (2017). Comparing Generic Drug

Markets in Europe and the United States: Prices, Volumes, and Spending. Milbank

Quarterly, 95(3), 554–601. https://doi.org/10.1111/1468-0009.12279

Yousefi, N., Mehralian, G., Peiravian, F., & NourMohammadi, S. (2015). Consumers’

perception of generic substitution in Iran. International Journal of Clinical Pharmacy,

37(3), 497–503. https://doi.org/10.1007/s11096-015-0085-4

Zerbini, C., Luceri, B., & Vergura, D. T. (2017). Leveraging consumer’s behaviour to promote

generic drugs in Italy. Health Policy, 121(4), 397–406.

https://doi.org/10.1016/j.healthpol.2017.01.008

Page 95: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...

86

Page 96: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...
Page 97: Leandro Abreu Conhecimento e Perceção do Valor dos de ...