Leandro Vieira Especialização 2011

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O ESTUDO DOS TEMPOS VERBAIS EM REDADAÇÕES DE VESTIBULAR NA PERSPECTIVA DOS PONTOS TEMPORAIS DE REICHENBACH Leandro Rocha Vieira(Autor) Sérgio Menuzzi 1 (Orientador) Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar, em linhas gerais, uma descrição de ocorrências linguísticas relacionadas ao emprego de tempos verbais em português brasileiro. Para tanto, iremos considerar o constructo desenvolvido por Reichenbach (1948), amplamente utilizado na linguística contemporâneas, que condicionou o estudo do verbo a três pontos temporais ou momentos distintos: o momento da fala (ou enunciação), o momento do evento e o momento de referência. Pretendemos, assim, contrastar a teoria formulada por este estudioso com aquela abordada na gramática tradicional, cujo mote de ensino são os paradigmas verbais. Faremos isso por meio do estudo , a partir de problemas encontrados visualizados em redações de vestibulares. Para o desenvolvimento da análise, alicerçamos nosso estudo em produções textuais dos concursos de ingresso da UFRGS referente aos períodos de 2007 a 2010. Palavras-chave: linguística, perspectiva funcional, tempos verbais, produção textual. Introdução 1 Professor da 5ª. Edição do Curso de Especialização em Gramática e Ensino da Língua Portuguesa – UFRGS.

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Este trabalho tem por objetivo apresentar, em linhas gerais, uma descrição de ocorrências linguísticas relacionadas ao emprego de tempos verbais em português brasileiro. Para tanto, iremos considerar o constructo desenvolvido por Reichenbach (1948), amplamente utilizado na linguística contemporâneas, que condicionou o estudo do verbo a três pontos temporais ou momentos distintos: o momento da fala (ou enunciação), o momento do evento e o momento de referência. Pretendemos, assim, contrastar a teoria formulada por este estudioso com aquela abordada na gramática tradicional, cujo mote de ensino são os paradigmas verbais. Faremos isso por meio do estudo, a partir de problemas encontrados em redações de vestibulares. Para o desenvolvimento da análise, alicerçamos nosso estudo em produções textuais dos concursos de ingresso da UFRGS referente aos períodos de 2007 a 2010.

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O ESTUDO DOS TEMPOS VERBAIS EM REDADAÇÕES DE VESTIBULAR NA PERSPECTIVA DOS PONTOS TEMPORAIS DE REICHENBACH

Leandro Rocha Vieira(Autor)Sérgio Menuzzi1 (Orientador)

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar, em linhas gerais, uma descrição de ocorrências

linguísticas relacionadas ao emprego de tempos verbais em português brasileiro. Para tanto, iremos

considerar o constructo desenvolvido por Reichenbach (1948), amplamente utilizado na linguística

contemporâneas, que condicionou o estudo do verbo a três pontos temporais ou momentos distintos:

o momento da fala (ou enunciação), o momento do evento e o momento de referência. Pretendemos,

assim, contrastar a teoria formulada por este estudioso com aquela abordada na gramática

tradicional, cujo mote de ensino são os paradigmas verbais. Faremos isso por meio do estudo, a

partir de problemas encontradosvisualizados em redações de vestibulares. Para o desenvolvimento

da análise, alicerçamos nosso estudo em produções textuais dos concursos de ingresso da UFRGS

referente aos períodos de 2007 a 2010.

Palavras-chave: linguística, perspectiva funcional, tempos verbais, produção textual.

Introdução

O ser humano tem a língua natural como uma faculdade inata. A capacidade de comunicação

permite-nos interpretar e (re)formular conceitos mentais produzindo significado, o que nos

diferencia de outros animais. Comunicar é produzir enunciados, sejam orais ou verbais, que relatam

um determinado acontecimento no espaço e no tempo. A produção desses enunciados se efetiva

através de unidades linguísticas que se inter-relacionam e são dispostas em cadeia. À composição

destas unidades em um conjunto maior dotado de sentido, chamamos texto.

Quando um texto ou uma sequência textual não apresenta sentido, dizemos que não possui

coerência. Isto ocorre quando determinados enunciados contrariam a sintaxe ou a semântica da

língua, ou seja, o conjunto de regras ou o conhecimento de mundo convencionado.

Como já dissemos, os enunciados relatam um determinado acontecimento no espaço-

temporal, sendo o verbo o principal responsável pela expressão sistemática do tempo em português,

1 Professor da 5ª. Edição do Curso de Especialização em Gramática e Ensino da Língua Portuguesa – UFRGS.

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entre outras estruturas gramaticais que podem cumprir tal função. Somente podemos dizer que

qualquer sequência temporal é coesa e coerente se a sequencialização dos enunciados satisfizer as

condições conceituais sobre localização temporal e ordenação relativa que sabemos serem

características das situações do mundo que devem ser interpretadas na sequência textual. Assim,

cabe-nos questionar como a utilização dos tempos verbais são empregadas para se tornar um texto

coerente, quais elementos podem, além dos verbos, manifestar noção temporal em expressões do

português e como se processam, nestes mesmos textos, ideias de continuidade, simultaneida,

sequencialização, entre outras.

Em busca de respostas à tais perguntas – especialmente, tentando entender os casos em que

o texto “falha” precisamente por não veicular adequadamente tais noções –, selecionamos um

corpus de redações com objetivo de verificar como estão aplicados os tempos verbais nestes textos.,

bem como possíveis de uso. Para tanto, analisamos um conjunto de 50 redações de concursos

vestibulares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), produzidasaplicadas entre

2007 e 2010.

O trababalho é constituído de quatro partes. Na primeira apresentamos uma síntese da

classificação tradicional dos tempos verbais na Gramática Tradicional, e a descrição da sintaxe dos

tempose aplicação na perspectiva da GT com suas principais observações de uso . Na segunda,

iremos abordar como a linguística contemporânea vem tratanto o estudo dos tempos verbais,

considerando-se, ainda, a categoria gramatical do Aspecto e outras estruturas linguísticas que

apresentam a perspectiva doe tempo, como advérbios, locuções adverbiais, perífrases, entre outros.

Na terceira parte, apresentamos o estudo de problemas verificados no uso e aplicação dos tempos

verbais em redações do vestibular, fazemos uma tipificação destes problemas, buscamos apresentar

a frequência com que ocorrem nestas composições e, finalmente, uma análise qualitativa dos

problemas encontrados. Por fim, apresentamos nossas conclusões.

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1. Tempos verbais na gramática tradicional

1.1 Síntese da Classificação Tradicional

Conforme conceito expresso na Gramática Tradicional (GT), conjugar um verbo é expô-lo

de maneira sistemática em todas as formas em que pode ser empregado. Essas formas

correspondem à flexão do verbo, que apresenta variações de número, de pessoa, de modo, de tempo,

de aspecto e de voz. Para o presente estudo nos interessa, particularmente, a exposição dos tempos

verbais, que segundo Cunha e Cintra é “a variação que indica o momento em que se dá o fato

expresso pelo verbo”, (2001, pág. 381). Em português, existem três tempos chamados naturais ou

absolutos –: o presente, o pretérito (ou passado) e o futuro – que designam, na tradição gramatical

portuguesa, respectivamente, um fato ocorrido no momento em que se fala, antes do momento em

que se fala e após o momento em que se fala. O presente é indivisível, mas o pretérito e o futuro

apresentam modalidades diversas, subdividindo-se no indicativo e no subjuntivo [Não há presente

do subjuntivo, também?]. Os verbos [ou os tempos verbais?] podem se apresentar na forma simples,

quando representados por uma só palavra, ou na forma composta, quando expressos por duas ou

mais palavras.

De acordo com a Nomeclatura Gramatical Brasileira – NGB, os tempos verbais em

português são os seguintes: do modo indicativo - o presente, o pretérito imperfeito, o pretérito

perfeito simples e o pretérito perfeito composto, o pretérito mais-que-perfeito simples e o pretérito

mais que perfeito composto, o futuro do presente simples e o futuro do presente composto, o futuro

do pretérito simples e o futuro do pretérito composto; do modo subjuntivo - o presente, o pretérito

imperfeito, o pretérito perfeito e o pretérito mais-que-perfeito, o futuro simples e o futuro composto;

e do imperativo – o presente. Além destes tempos, temos as formas nominais que compreendem o

infinitivo pessoal e impessoal, o gerúndio e o particípio.

Quanto a sua estrutura, o verbo é composto morfologicamente por um radical, parte

invariável que lhe dá a base de significação, e a qual se juntam morfemas classificatórios e

gramaticais: vogal temática, para indicar a conjugação, o sufixo temporal, para indicar o tempo e o

modo, e a desinência número-pessoal, para indicar a pessoa do discurso e o número singular ou

plural. Todo o mecanismo de formação do tempo simples, em português, é baseado na composição

do radical verbal com esses elementos flexivos ou em sua falta (morfema zero), que também é uma

forma particular de contraste. Em português, três são os chamados tempos fundamentais ou

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primitivos: o presente do indicativo, o pretérito perfeito do indicativo e o infinitivo impessoal.

Recebem esta denominação porque a partir de suas raízes irão se formar os outros tempos verbais,

que se denominam tempos derivados. Assim, do presente do indicativo formam-se o imperfeito do

indicativo, o presente do subjuntivo e o imperativo; do pretérito perfeito do indicativo formam-se o

pretérito mais-que-perfeito do indicativo, o pretérito imperfeito do subjuntivo e o futuro do

subjuntivo e do infinitivo impessoal derivam-se o futuro do presente e o futuro do pretérito do modo

indicativo, o infinitivo pessoal, o gerúndio e o particípio.

Os tempos verbais também são utilizados na formação de locuções verbais, que se

constituem em um conjunto de verbos [de formas verbais? de tempos verbais?] formados de um

verbo auxiliar e de um verbo principal. Nestas locuções conjuga-se apenas o auxiliar, pois o verbo

principal vem em uma das formas nominais. Tais construções são amplamente utilizadas como

recurso expressivo da língua. Já os tempos compostos formam-se por meio dos verbos auxiliares

ter e haver, que se juntam a formas nominais (infinitivo e particípio) do verbo que se quer conjugar.

As composições operadas a partir dos tempos primitivos do verbos com as desinências

temporais e pessoais são largamente utilizadas no ensino da língua portuguesa, uma vez que o

modelo de paradigmas verbais tornou-se um recurso didático amplamente difundido em sala de

aula., para o ensino e aprendizagem dos tempos verbais, Pporém, por outro lado, este ensino é alvo

de críticas, uma vez que o modelo de paradigmas aprisiona o estudo dos tempos verbais, não

propiciando a observaçào de ndo propriedades semânticas da língua.

1.2 Descrição do uso dos tempos verbais na Gramática Tradicional

Ensinam Cunha e Cintra que “a sintaxe dos verbos está relacionada ao emprego do modo e

do tempo. No modo temos a atitude (de certeza, de dúvida, de suposição, de mando, etc.) da pessoa

que fala em relação ao fato que enuncia; e, por tempo, a de localizar o processos verbal referindo-o

seja à pessoa que fala, seja a outro fato em causa” (2005).

No estudo realizado na obra “ Nova Gramática do Português Contemporâneo”, podemos

notar que os autores descrevem uma lista de aplicação dos verbos, correlacionando-os ao modo e ao

tempo. Ressaltamos, que a categoria gramatical do Aspecto, não recebe uma distinção esxpecífica

no trato da sintaxe dos verbos, porém está presente em toda a categorização realizada pelos autores.

Assim, temos como principais anotações de uso o abaixo disposto.

Dizem que, com o Modo Indicativo, exprime-se, em geral, uma ação ou um estado

considerado na sua realidade ou na sua certeza, quer em referência ao presente, quer ao passado ou

ao futuro. É, fundamentalmente, o modo da oração principal. [ Isso está literalmente igual!!]

No O presente do Indicativo serve: para enunciar um fato atual, no momento em que se

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fala; para indicar ações ou estados permanentes, ou assim considerados (presente durativo); para

expressar uma ação habitual ou uma faculdade do sujeito, ainda que não estejam sendo exercidas no

momento em que se fala (presente habitual ou frequentativo); para, ao narrar, dar vivacidade a fatos

ocorridos no passado (presenteo histórico ou narrativo); para marcar um fato futuro, mas próximo

ao presente, caso em que o acompanha um adjunto adverbial; como forma polida de expressar um

pedido, quando deveria ser utilizado um verbo no imperativo ou no futuro; para atenuar a rudeza do

tom imperativo.

O pretérito imperfeito tem como principal valor designar um fato passado, mas não

concluído (imperfeito: não perfeito/inacabado). Encerra, pois, ideia de continuidade, de duração do

processo verbal mais acentuada do que os outros tempos pretéritos, razão por que se presta

especialmente para a descrição e narrações de acontecimentos que se estendem no passados. Serve

para nos transportamos a uma época passada e descrevermos o que então era presente; para indicar,

entre ações simultâneas, a que se estava processando quando sobreveio a outra; para denotar uma

ação passada habitual ou repetida (imperfeito frequentativo);, para designar fatos passados

concebidos como contínuos ou permanentes. Pode ainda ser concorrer com outros outros tempos,

sendo usado por eles: ; pelo futuro do pretérito, para denotar um fato que seria consequência certa e

imediata de outro, que não ocorreu, ou não poderia ocorrer; pelo presente do indicativo, como

forma de polidez para atenuar uma afirmação ou um pedido (imperfeito de cortesia); para situar

vagamenteo no tempo contos, lendas, fábulas, etc, caso em que se usa o imperfeito do verbo ser,

com sentido existencial; para expressar um fato inacabado, impreciso, em contínua realização na

linha do passado para o presente. É um tempo relativo, assim pode ter outros empregos, já que,

sendo um tempo relativo, seu valor temporal é comandado pelos verbos com os quais se relaciona

ou pelas expressões temporais que o acompanham.

Cunha e Cintra aApresentam o pretérito perfeito com a distinção entre a forma simples e a

composta: verbo ter + particípio do verbo principal. A forma simples indica uma ação que se

produziu em certo momento do passado. É a que se emprega para descrever o passado tal como

aparece a um observador situado no presente e que o considera do presente. A forma composta

exprime geralmente a repetição de um ato ou a sua continuidade até o presente que falamos. Em

síntese, o ponto temporal do perfeito simples, denotador de uma ação concluída, afasta-se do

presente; o ponto temporal do perfeito composto é a expressão de uma fato repetido ou contínuo,

que se aproxima-se do presente. Para exprimir uma ação repetida ou contínua, o pretérito perfeito

simples exige sempre o acompanhamento do advérbio ou locuções adverbiais, como sempre, várias

vezes, todos os dias, etc. Em tais casos, a idéia da repetição ou continuidade é dada pelo advérbio e

não pelo verbo. [Difícil ver sem exemplos...]

Cabe ressaltar que, em seus estudos, os gramáticos distinguiram o pretérito perfeito

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composto do pretérito simples;, informam que o pretérito imperfeito exprime o fato passado

habitual, e o perfeito, o não habitual; e que o pretérito imperfeito exprime a ação durativa, e não a

limitada no tempo; o pretérito perfeito, ao contrário, indica a ação momentânea, definida no tempo.

O pretérito mais-que-perfeito apresenta como valor normal uma ação que ocorreu antes de

outra ação já passada. Além desse valor, pode denotar um fato vagamente situado no passado; um

fato passado em relação ao momento presente, quando se deseja atenuar uma afirmação ou um

pedido. Na linguagem literária emprega-se, vez por outra, o mais-que- perfeito simples em lugar do

futuro do pretérito (simples ou composto) e do pretérito imperfeito do subjuntivo.

O futuro do presente pode indicar fatos certos ou prováveis, posteriores ao momento em que

se fala; para exprimir a incerteza (probabilidade, dúvida, suposição) sobre fatos atuais; é utilizado

como forma polida do presente; como expressão de uma súplica, de um desejo, de uma ordem, caso

em que o tom de voz pode atenuar ou reforçar o caráter imperativo; nas afirmações condicionadas,

quando se referem a fatos de realização provável. Cunha e Cintra; observam-se que na língua falada

o futuro simples é de emprego raro, preferindo-se o emprego de locuções constituídas: a) do

presente do indicativo do verbo haver + preposição de + infinitivo do verbo principal; b) do

presente do indicativo do verbo ter + preposição de + infinitivo do verbo principal, para indicar uma

ação futura de caráter obrigatório, independente da vontade do sujeito; e, c) do presente do

indicativo do verbo ir + infinitivo do verbo principal, para indicar uma ação futura imediata. O

futuro do presente composto emprega-se: a) para indicar que uma ação futura estará consumada

antes de outra; b) pra exprimir certeza de uma ação futura; e, c) para exprimir a incerteza

(probabilidade, dúvida, suposição) sobre fatos passados [? Oops... futuros?].

O futuro do pretérito emprega-se para designar ações posteriores à época de que se fala; para

exprimir a incerteza (probabilidade, dúvida, suposição) sobre fatos passados; como forma polida de

presente, em geral denotadora de desejo: “Ddesejaríamos ouvi-lo sobre o crime” [Primeiro

exemplo!]; em certas frases interrogativas e exclamativas, para denotar surpresa ou indignação; nas

afirmações condicionadas quando se referem a fatos que não se realizaram e que, provavelmente,

não se realizarão. O futuro do pretérito pode ser substituído pelo imperfeito do indicativo nas

afirmações condicionadas. Já o futuro do pretérito composto serve parara indicar que um fato teria

acontecido no passado, mediante certa condição:. “Teria sido diferente, se eu ao amasse”; para

exprimir a possibilidade de um fato passado e para indicar a incerteza sobre fatos passados, em

certas frases interrogativas que dispensam a resposta do interlocutor.

Ao empregarmos o modo subjuntivo, encaramos a existência ou não existência de um

determinado fato como uma coisa incerta, duvidosa, eventual ou, mesmo, irreal. O Subjuntivo

denota que uma ação, ainda não realizada, é concebida como dependente de outra, expressa ou

subentendida. Daí o seu emprego normal na oração subordinada. Quando utilizado em orações

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absolutas ou orações principais, recebe o nome de “Subjuntivo Independente”, e envolve sempre a

ação verbal de tom afetivo que acentua fortemente a expressão da vontade do indivíduo que fala.

O Subjuntivo absoluto é empregado em orações absolutas, em orações coordenadas ou em

orações principais. Pode exprimir, além das noções imperativas,: um desejo, um anseio; uma

hipótese; uma concessão; uma dúvida (geralmente precedida do advérbio talvez); uma ordem, uma

proibição (na 3º pessoa) e uma exclamação denotadora de indignação. Estas orações geralmente se

iniciam por que, partícula de classificação difícil, pois o seu valor, no caso, é mais afetivo do que

lógico. É uma espécie de prefixo conjuncional, peculiar ao subjuntivo. Observa-se que alguns

linguiístas, principalmente os da escola gerativo-transformacional, negam a existência do subjuntivo

independente, interpretando-o como o efeito do apagamento, na superfície, da oração principal.

O subjuntivo subordinado é o modo da oração subordinada por excelência. Emprega-se tanto

nas subordinadas substantivas, como nas adjetivas e nas adverbiais. Nas Orações Substantivas,: usa-

se geralmente quando a oração principal exprime: vontade (do comando ao desejo) com referência

ao fato que se fala; um sentimento ou uma apreciação que se emite com referência ao próprio fato

em causa; e a dúvida que se tem quanto à realidade do fato enunciado. Nas orações adjetivas,

exprimem um fim que se pretende alcançar, uma consequência; um fato improvável ou uma

hipótese, uma conjectura, uma simulação. E, nas orações adverbiais, geralmente não tem valor

próprio: é. É um mero instrumento sintático de emprego regulado por certas conjunções. Em

princípio, podemos dizer que é de regra depois das conjunções: causais que negam a ideia de causa

(não porque, não que); concessivas: (embora, ainda que, conquanto, posto que, mesmo que, se bem

que, etc); finais: (para que, a fim de que, porque) e temporais que marcam anterioridade (antes que,

até que e semelhantes).

Usa-se também o subjuntivo, em razão de ser o modo do eventual e do imaginário, nas: a)

orações comparativas iniciadas pela hipotética como se; b) orações condicionais, em que a condição

é irrealizável ou hipotética; e nas orações consecutivas que exprimem uma concepção, um fim a que

se pretende ou pretenderia chegar, e não uma realidade.

Por vezes a construção com o subjuntivo é pesada ou mal soante. Nesses casos, podem ser

substituídas por uma forma expressional equivalente. Entre os substitutos possíveis do subjuntivo,

temos: o infinitivo; o gerúndio, principalmente nas orações condicionais; um substantivo abstrato;

uma construção elíptica e a substituição do imperfeito do subjuntivo pelo mais-que-perfeito do

indicativo.

Frisamos, ainda, o uso temporal do subjuntivo que enuncia a ação do verbo como eventual,

incerta, ou irreal, em dependência estreita com a vontade, a imaginação ou o sentimento daquele

que as emprega. Por isso, as noções temporais que encerram não são precisas como as expressas

pelas formas do indicativo, denotadoras de ações concebidas em sua realidade. Assim, temos como

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principais valores de tempo no subjuntivo: a) o presente do subjuntivo, que pode indicar um fato

presente ou futuro; b) o imperfeito do subjuntivo, que pode ser de passado, de futuro ou de presente;

c) o pretérito perfeito do subjuntivo, que pode exprimir um fato passado (supostamente concluído)

ou futuro (terminado em relação a outro fato futuro); d) o pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo,

que pode indicar uma ação anterior a outra ação passada (dentro do sentido eventual do modo

subjuntivo) ou uma ação irreal no passado; e) o futuro do subjuntivo simples, que marca a

eventualidade no futuro, e emprega-se em ações subordinadas adverbiais (condicionais,

conformativa e temporais), cuja principal vem enunciada no futuro ou no presente ou adjetivas,

dependentes de uma principal também enunciada no futuro ou no presente; f) o futuro do subjuntivo

composto, que indica um fato futuro como terminado em relação a outro fato futuro.

Quanto ao Modo Imperativo, há em português um afirmativo e outro negativo. O imperativo

afirmativo possui formas próprias somente na segunda pessoa do singular (tu) e do plural (vós). As

demais pessoas são supridas pelo presente do subjuntivo. O imperativo negativo não tem nenhuma

forma própria, e é integralmente suprido pelo presente do subjuntivo. Como no imperativo o

indivíduo que fala se dirige a um interlocutor, só admite este modo aàs pessoas que indicam aquele

a quem se fala, isto é, 2º e 3º singular/plulral, e 1º plural (o indivíduo que fala se associa). Usamos

o Imperativo, em geral, para mandarmos cumprir a ação indicada pelo verbo, como um conselho,

um convite, um comando ou uma ordem. Tanto o Imperativo afirmativo, quanto o negativo usam-

se somente em orações absolutas, em orações principais ou em orações coordenadas. Emprega-se

também o imperativo para sugerir uma hipótese em lugar de asserções condicionadas expressas por

se + futuro do subjuntivo. Esses diversos valores dependem do significado do verbo, do sentido

geral do contexto e, principalmente, da entoação que dermos à frase imperativa. O imperativo é

enunciado no tempo presente, mas na realidade este presente do imperativo tem valor de um futuro,

pois a ação que exprime está por realizar-se. A língua oferece-nos outros meios para exprimir os

diversos significados apresentados pelo Imperativo, uma ordem pode ser enunciada por frases

nominais ou por simples interjeições, oportunidade em que a supressão do verbo reforça o tom de

comando, as palavras ou locuções vocabulares perdem o seu valor próprio para denotar uma ideia

verbal de ação. Certos tempos do indicativo podem ser usados com valor imperativo: com o

presente, para atenuação da rudeza da forma imperativa, e com o futuro do presente simples, para

reforçamos o caráter imperativo de frases. O imperefeito do subjuntivo transforma a ordem numa

simples sugestão; com valor de imperativo impessoal, usam-se o infinitivo (principalmente na

expressão de um comando, de uma proibição) ou o gerúndio (construção elíptica, frequente na

linguagem popular, de valor geralmente depreciativo para quem recebe a ordem). Ressalta

sobremaneira o sentido do verbo a perífrase formada de ir (no imperativo) e do verbo principal no

infinitivo; em frases de entoação interrogativa usa-se não raro o infinitivo do verbo que exprime a

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ordem antecedido de formas do presente ou do imperfeito do indicativo do verbo querer, e,

finalmente, para se fazer sentir a intervenção do indivíduo que fala, costuma-se suborodinar o

verbo denotador da ação que deve ser cumprida a outro verbo, o qual marca a vontade do locutor.

São formas nominais do verbo o INFINITIVO, GERÚNDIO e o PARTICÍPIO.

Caracterizam-se todas por não poderem exprimir por si nem o tempo nem o modo. O seu valor

temporal e modal está sempre em dependência do contexto em que aparecem. Dinstinguem-se,

fundfamentalmente, pelas seguintes peculiaridades: o infinitivo apresenta o processo verbal em

potência; exprime a ideia da ação, aproximando-se, assim do substantivo; o gerúndio apresenta o

processo verbal em curso e desempenha funções exercidas pelo advérbio ou pelo adjetivo e o

particípio apresenta o resultado do processo verbal, acumula as características de verbo com os

adjetivos, podendo, em certos casos, receber como este as desinências -a de feminino e -s de plural.

Acrescenta-se, ainda, que o infinitivo e o gerúndio possuem ao lado da forma simples, uma forma

composta, que exprime a ação concluída, apresentam, pois, internamente, uma opocição de

Aspecto: infinitivo - ler (aspecto não concluído), ter lido (aspecto concluído); gerúndio - lendo

(aspecto não concluído); tendo lido (aspecto concluído). O infinitivo assume, em português, duas

formas: uma não flexionada e outra flexionada, como qualquer forma pessoal do verbo, o gerúndio

é invariável e o particípio se flexiona em pessoa.

Quanto ao emprego do infinitivo, por não haver uma regra clara referente ao seu emprego,

postulam Cunha e Cintra que é mais acertado falar-se em tendências que se observam no emprego

de uma e de outra forma.

O Gerúndio apresenta duas formas uma simples (lendo) e uma composta (tendo ou havendo

lido). A forma composta é de caráter perfeito e indica uma ação concluída anteriormente à que

exprime o verbo da orção principal. A forma simples expressa uma ação em curso, que pode ser

imediatamente anterior ou posterior à do verbo da oração principal, ou contemporânea dela. Este

valor temporal do Gerúndio depende quase sempre de sua colocação na frase. Colocado no início do

período, o gerúndio exprime: a) uma ação realizada imediatamente antes da indicada na oração

principal; e b) uma ação que teve começo antes ou no momento da indicada na oração principal e

ainda continua. Colocado junto do verbo principal, o gerúndio expressa de regra uma ação

siultânea, correspondente a um adjunto adverbial de modo. Colocado depois da oração principal, o

Gerúndio indica uma ação posterior e equivale, na maioria das vezes, a uma oração coordenada

iniciada pela conjunção “e”. Precedido da preposição “em”, o Gerúndio marca enfaticamente a

anterioridade imediata da ação com referência à do verbo principal. Nas construções afetivas o

Aspecto inacabado do gerúndio permite-lhe exprimir a ideia de progressão indefinida, naturalmente

mais acentuda se a forma vier repetida. Já na linguagem popular, o Gerúndio substitui por vezes a

forma imperativa. Nas locuções verbais, o gerúndio combina-se com os auxiliares estar, andar, ir e

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vir, para marcar diferentes aspectos da execução do processo verbal, como: estar + gerúndio - indica

uma ação durativa no momento rigoroso; andar + gerúndio - indica uma ação durativa em que

predomina a ideia de intensidade ou de movimento reiterado; ir + gerúndio - expressa uma ação

durativa que se realiza progressivamente ou por etapas sucessivas e vir + gerúndio expressa uma

ação durativa que se desenvolve gradualmente em direção à época ou ao lugar em que nos

encontramos.

Quanto ao Particípio desempenha importantíssimo papel no sistema do verbo como permitir

a formação dos tempos compostos que exprimem o Aspecto conclusivo do processo verbal, como

em: a) com auxiliares ter e haver para formar os tempos compostos da voz ativa; b) com o auxiliar

ser, para formar os tempos da voz passiva de ação e c) com o auxiliar estar, para formar os tempos

da voz passiva de estado. Desacompanhado de auxiliar, o Particípio exprime fundamentalmente o

estado resultantede uma ação acabada, tem de regra valor passivo, quase sempre possui valor ativo.

Exprimindo embora o resultado de uma ação acabada, o particípio não indica por si próprio se a

ação em causa é passada, presente ou futura, só o contexto a que pertence precisa a sua relação

temporal. Assim, a mesma forma pode expressar ação passada, ação presente ou ação futura.

Quando o Particípio exprime apenas o estado, sem estabelecer nenhuma relação temporal, ele se

confunde com o adjetivo.

[Leandro, corres o sério risco de seres imputado de plágio...Queres corrê-lo?]

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2. Aspectos da descrição linguística contemporânea

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3. Estudo dos problemas de uso nos tempos verbais

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Considerações finais

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Referências Bibliográficas

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley, Nova Gramática do Português Contemporâneo. 4. ed. Rio de Janeiro: Lexikon Editora Digital, 2007.