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Leandro Z'lnctti Silva A JANELA SECRETA: UMA ANALISE SIMBOLICA MOllogratia aprcscmaJa ao Curso de Psicologia Clinica da Univcrsidade TuilLli do Parana, como requisito parcilll para a obten~lio do grau de espccialista. Oricl1\ador: Nelio Pereira da Silva j' Curitiba rcoN"SOTTA J 2006 L.i!:!.I.§ R NA

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Leandro Z'lnctti Silva

A JANELA SECRETA: UMA ANALISE SIMBOLICA

MOllogratia aprcscmaJa ao Curso de Psicologia Clinicada Univcrsidade TuilLli do Parana, como requisitoparcilll para a obten~lio do grau de espccialista.

Oricl1\ador: Nelio Pereira da Silva

j'

Curitiba rcoN"SOTTA J2006 L.i!:!.I.§ R NA

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SUMARJO

I INTROOU<;:AO... . . 062 STEPHEN KING.............. .. 073 REFEllENCIAL TEORICO... . 083.1 INCONSCIENTE COLETIVOI PSI QUE OBJETIV 1\... . 083.2 ARQUETIPO... .. 0933 SiMBOLO.. . 093.4 COMI'L.EXO.. . 103.5 SOMBRA.. . 113.6 EGO I EU...... . 124. METOOOLOGIA UTI LIZAIlA... . 125. FIOlA ni;CNICA 00 PILME .IANELA SECRETA.... . 13.6. SOBRE 0 FILME... . 137.INTERPRETA<;:Ao 00 FILMK..... . 208.0 ARQUETII'O f)A SOMBRA. 229. CONCLUsAo... . 247 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 26

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RESUMO

o objetivos do presente trabalho sao dernonstrar as manifestacyoes de psiqueobjetiva na personagem principal do filme A janera secreta, bern como a possssaodo Ego pelos Arquetipos e Complexos, em especifico, a posses sao do Ego peloArquetipo da Sombra. 0 metoda utilizado foj a analise sirnb6lica juntamente com ainterpretac;:ao do filme dentro do contexto da PSicologia AnaHtica. Nodesenvolvimento do trabalho podemos perceber as manifestacyoes da Psiqueobjet iva e a possessao do Ego pelo Arquetipo da Sombra nas diversas cenas dofilme. Conclui-se a partir da analise feita a importancia das manifestacyoes artisticaspara a Psicologia Analitica bern como as perigos recorrentes da negacyao e da nacconscientizacyclo do Arquetipo da Sombra.

Palavras-chave: Manifesta90es da Psique Objetiva; Posses sao do Ego; Complexos;Arquetipo da Sombra

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I.INTRODU<;:AOA prcsente monografia visa fazer uma analise simb61ica e interpreta9ao do

filme a Jancla Secreta, de 2004, filme esse inspirado nUIl1 conto do aut or Stephen

King, lanela Secreta . .Iardim Secreto, que faz parte do livro Depois cia Meia Noite, de

1990

Olema foi escolhido devido a grande importancia para a Psicologia Analitica e

para a Psicoiogia em gera!, das manifesta~5es artfsticas. Wahba (2005) cila que lung

considcra a criatividade um delcfminantc que possui a fOfya de lim instinto, all seja, a

arlc scria vista como lim produto fundamental a cspecie humana, c nao secundario.

Wahba (2005) continua em suas palavras:

.. Assim, cada obra de £Inc e uma resposta a uma necessidade coletiva e uma

compensavllO aquila que falta em uma cpoca; suas imagens sao miticas c arquclipicas.

ainda que 0 art iSla nao saiba disso,"

Estando 0 cinema inserido nesse contexte das arles em geral, Beebe (1996) diz

que 0 cincma e um mcio peculiarmcntc adequado para a analise psicol6gica porque

esta !TIaisproximo, mais talvez que qualquer outra forma de arte , do processo natural

all'aves do qual 0 inconscicnte se f~lz conhccido - Par vislializa((fio. como nos sonhos.

Ainda nas palavras de Beebe:

Os gran des cineastas p"recem ler compreendido quase que instintjvamente 0potencial dcsse meio para representllf aspectos do inCOllscicntc diretamente.como llma parte eomum da realidade, como Freud demonslrou empsicopalologia cia vida cotidiana (1901), Jung Faloll das figuras da vidainconseienle c. IllLm filme bem realizado, essas figuras freqUclltementeinscrem-se como personagens quc reprcscnlmn aliludes rnais conscientes.(Beebe, 2005, pag. 80)

Vendo a riqucza de material inconscientc e arquetipico a scr explorado nos

tilmes de cinema, cscolhi (-~lzeressa analise do filme jancla secrela, justamcnte par

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esse filme encerrar no seu contexto lTIuito material para analise psicol6gica, e pelo fato

que constatei que os filmcs bascados na obra do grande alltor Stcphen King sao um

material POliCO explorado nas analiscs psicol6gicas.

Os objelivos do prcsente trabalho sao demonstrar as manifestavoes de Psiquc

objetiva na personagem principal, como a posscssao do Ego pelos arquctipos c

complexos, em especifico a posses sao do Ego pelo Arquctipo da Sombra.

2. STEPHEN KING

Stephen King nasceu em 1947 em Portland, no estado norte americana do

Maine, segundo filho de uma familia modesta. COI11CVOUa esc rever ainda nos tcmpos

de colcgio, e no segundo ana da universidadc pas sou a assinar tuna col una no jornal do

campus. Seu primeiro con to vendido foi .•The Glass Floor" (0 Chao de Vidro, 1967

), para uma revista de hist6rias de misterio. Pacilisla e alivo em polilica estudantil,

King formou-se em Lingua Inglcsa em 1970 nil Universidade do Maine, e cm 1971

casou-sc com Tabitha Spruce, que conheceu entre as prateleiras da biblioteca da

universidadc.

Durante 0 infeio da dccada de 1970, King escreveu diversos contos publicados

em revistas ( mais tarde rcunidos na coletanea Sombras da Noite e oulras antologias ) e

romances, ao mesmo tempo que trabalhava como professor de ensino media. Em

1974, a succsso l1a venda de seu romance Carrie para uma edic;ao de bolso Ihe perl1litiu

se dedicar a cserita em tempo integral. Scguiram-se noves sucessos como a Iluminado

( 1977 ), A Danya dos Vampiros (1978 ), Christine (1983), Desespero (1987), Depois

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outros livros, alcm de contribuiyoes para jornais e revislas. Sua obra [oi adaptada para

o cinema inumeras vezes dando origem a cI£lssicos como 0 lIuminado (1980) Carrie

(1980) e, mais recentemente, A Espera de um Milagre (1999) e A .Ianela Secreta

(2004).

Dcsde 1997, King d,l aulas de criayao literaria na mcsmH Universidade do

Maine onde estudou.Em 2003, 0 escriLOr reccbeu uma medalha da National Book

Foundation, a fundayao norte americana do livro, por sua contribuir;ao a Iiteratura dc

seu pais. Stephen e Tabitha King tem Ires mhos - Naomi Rachel, Joe Hill e Owen

Phillip - e tres netos. 0 easal divide seu tempo entre os estados do Maine e da Florida.

3. REFERENCIAL TEORICO

Visando 0 melhar entcndimento do trabalho realizado, scrao CXpOSlOS aqui

alguns conceitos basieos da Psieologia Analitica.

3.1 - INCONSCIENTE COLETIVO / PSIQUE OB.JETI VA.

Nas paJavras do proprio lung (2002), elc assim define 0 inconsciente coielivo:

Entendo par cssa cxprcssao urn runcionamcnto psiquico inconscicnte,gcncrico, humano, que csta nll origem nao s6 das nossas representa~ocssimb61icas 1l1odernas, mas tambt:1l1 dc todos os produlos amilogos dopassado da humanidadc. Tais imagens brotam de uma Ilcccssidadc natural, cesta, por sLia vez, Cpor elas satisfeita. (Jung. 2002, pag 48).

E Whitmont (2002) nos diz que 0 tcrmo Psiquc objetiva substitui e amplia 0

coneeilo anterior de inconscicnte coletivo originalmcntc utilizado por Jung para

denotar uma dimcnsao da Psiquc inconseiente que e de um carater humane geral, a

priori, em vez de ser simplesmente 0 precipitado de material pessoal reprimido.

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Devido ao ralO do termo lnconsciente coletivo dar origens a mllitas cOllfllsoes e

interprela90eS en·oneas - tais C01110 a aparente defesa da coletividade ou de lima psiquc

de massa - em cscrilOs posteriores ele a substitui pela lermo psique objetiva, que c

considerado um cstralO prociulor de imagens tambem manifestado em emor;oes e

impulsos.

3.2-ARQuETIPO

Na der.l1i~ao do proprio lung (1999) Arquetipo e:

Dcsignayiio com a qual indica ccrtas fortnas e imagens de natureza colctiva.que surgcm par toda parle como elemcntos conslitUlivos dos lllilOS e a 0mesmo tempo como produtos aulocloncs individuais de origem inconscienlc.Os lemas arquetipicos provcm, provavclmentc, daquclas criai):ocs do espiritoImmano transrnitidas nao so par tradiyiio e migrai):iio como tarnbcm parheranya. Essa ultima hip6tcse e absohnamentc necessaria, pais imagensarquetipicas eomplexas podem ser reproduzidas cspontanearncllle semqualqLlcr possibilidade de tradit;iio dire!a. (JUl1g, 1999. p{lgS55 - 56).

Ulson (1988) nos adverle que lim ponto cssencial a ser csclarecido ao

abordannos 0 conccito de arquctipo e que ele nada tem a ver com ideias inatas. lung,

diversas vezes, insistiu no fato de hcrdarmos predisposiyoes c nao ideias estruturadas.

Esses padroes a que se reicre nada tcm a vcr com ideia lamarckiana da lransfercncia de

conhecimento e qualidades adquiridos aos descendentes, mas sim a incorporacao de

maneiras de reagir de uma especie ao longo dos miJCnios.

3.3 -SiMBOLO

Uison (\988) relata que 0 simbolol para lung, e a melhor expressao que hi, para

realidades impossiveis dc serem conscientizadas. Entao, por definir;ao, 0 simbola e

inconscientizavel.Se ele, por ventura, esgotar seu contelldo oculto, deixara de ser um

simbolo para se torn<lr um sinai. Enquanto 0 sinal transmitc algo definido c passivel de

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scr claramcnte conhecido, 0 simbolo transmite vivencias impossiveis de ser

transferidas intcgrallllcnte.

E Whitmont (2002) tambem discorre sobre 0 assunlo:

Um simbolo genuino nos lerl110S de JUllg nao C lima dcsigna(j:fio abstratalivrcmentc cscolhida ligada a um objeto cspecifico por conven~iio (I<lis cal110signos verbais au malclmiticos), mas a cxpressao de Ulna cxpcrienciaespolltanea que aponta para alem de 51 mesilla na dirc(j:ao de LUllsignificadonao transmitido por urn {erma racional, devido a lirnilm;:iio inlrinseca doultimo (Whitmon!, 2002. pags 17-18).

3.4 - COMPLEXO

Segundo Uison (1988), 0 complexo C lim agrupamcnto de icieias, sentimcnlos e

imagens com um nucleo de significado comum c que se comporta como uma

individualidadc.

Whitmont (2002) nos rclata que Jung via dois aspectos em todo 0 complcxo.

Aos primeiros cle chamava de casca do complexo. ao segundo ele chamava de nucleo.

A casca e aqucJa superficic que imediatamcntc sc aprcsenta como 0 padrao pcculiar de

rcar;ao, dependcnte de uma rcdc de associa~ocs agrupadas cm torno de lima emor;ao

central c adquiridos individualmenlc, de natureza pessoal. Ela scmprc apollla para

expcriencias pessoais c e uma rcdc de associayoes emocionalmcntc carregadas,

constitllidas a partir da hist6ria c do condicionamcnto pcssoais, agrllpadas cm lorna dc

certas silliarrOCSgeradoras de af'eto.

E Whitmant (2002), sobre 0 nuclco do complexo, nos diz que eSle se constitui

de um padrao humane universal chamado de arquelipo do incanscientc colctivo au da

psique objetiva. Esses alicerces tipicos au arquetipos sao par sua vez considerados

correspondentcs a instintos, especificamente aptid5es basicas ou tend0ncias pre

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rormadas para modos tipicos de rcayao. Ou scja, 0 nllcleo de um complexo c scmprc

um arquclipo.

E .lung (1999), sobre a aUlonomia dos complexos, nos diz:

,. E como se 0 complcxo Fosse um ser autono111o, capaz de perturbar as

intenyoes do Ell. Na realidadc, as complexos sc comporlam como se ('osscm

pcrsonalidades secundarias ou parciais, dotadas de vida espiritual aut6noma,"

(.lung, 1999, pag 15).

E cle continua:

.•Ccrtos complcxos s6 estaa scparados da conscicncia porque esla prereriudescartar-sc dcles, mediante a rcpressao. Mas ha Quiros complexos quenUllca estiveram na conscicilcia c. por iSSQ, llunC<1 (oram rcprimidosvolulltariarncnie. Brotam do inconscientc c invadclll a consciencia com suasconvicyoes c sells impulsos eSlranhos c illlutilVCis.'· (Jung. 1971, Pflg 15-16).

3.5 - SOMBRA

Uison (1988) nos diz que dentre as contetldos arquetipicos, a que sc cncontra

mais proximo do Ego e a Sombra. Sell estrato mais superficial constitui a que

chamamos de inconsciente pessoaJ, formado par elcmentos que .iiI fizeram parte do

consciente, mas que foram rcprimidos par serem incompativeis com os valores do

conscicnte, Oll ainda por contelldos subliminarcs, que, per nao screm suficicntemente

fortes para atravcssar 0 limiar da consciencia, pcnnanccem em estado de latencia.

E lung (1988) nos diz:

" A Sombra conslilui um problema de orc.1em moral que desaf"ia apcrsonalidade do Ell como um lodo, pais ningucm e eapaz de tomarCOllseicncia desta realidade sem dispender cncrgias marais. Mas nestatomada de consciencia da sombra Irala-se de reconhccer os aspectosobscuros da personalidade, !ais como cxistern na realid<lde. Esle alo c a baseindispcnsnvel para qualquer tipo de aUloconhccimenlO c, por isso, via dercgra, ele se derronta com consideravcl resistencia." (Jung. 198&,pag 6)

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Sanford (J 988) cntretanto nos fala da parte positiva da sombra, dizendo que csla

possui muitas qualidades vitais que podcm seT adicionadas a nossa vida e fortalccc-Ia

se SQUbCTmOs nos relacionar com elas devidamcnte:

Nos prccisamos das cnergias de nossas vidas nao vividas, especialmentcquando a1can~amos a mcia idadc, que c uma fase em que loda cnergia ateenta~ usada cOlllc~a a se esvair. (E logico que CSICcontalo deve sc darat.-aves de 11m rcconhccimcnto psicologico da personalidade da sombra cuma inlcgr:l(;:ao da sornbra, c nao alraves de lima mera libcrarrao do ladoobscliro de Ilossa pcrsonalidade para que viva concrclamente por si 111CS1110).(Sanford, 1988, pag 67 - 68)

3.6- EGO! EU

Uison (1988), nos diz que lung considera a Ego, Oll Ell, como 0 centro da

consciencia. 0 Ego sc desenvolve a partir de ll111nuclco arquctipico que atrai oulros

contcudos, as quais ao cntrarem em contato com ele vfio scndo assimilados. 0 Ego

corrcsponde aquela parle de nossa personalidade com a qual mais nos identificamos.

Portanto, e cle que nos da nossa identidade eonseientc.

Eo Proprio lung (1988) nos filla sobre 0 Ego, ou Eu:

Entclldcmos por "Ell" aquele fator complexo com a qual lodos COlltclldosconsciciltes sc rclnciOlltlm. E cstc fator que cOllstitui como 0 centro docampo da consciencia, Cdado que cste campo inclui lambent a personalidadcempirica, 0 "Ell" e 0 sujeilo de (odos os alOS cOllscicnles da pessoa." (Jung,1988, rag I).

4. METODOLOGIA UTiLIZADA

A 11lctodoiogia utilizada e a an{ilise simb61ica e interpretac;ao do fihnc dentro do

referencial leo rico da Psicologia Analilica.

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5. FICHA TltCNICA DO FILM E JANELA SECRETA

Titulo Original: Secret Window I Secret Window, Secret Garden

Genera: Suspense

Origem/Ano: EUA/2004

Oural(ao: 97 min

Direl'ao: David Koepp

Elenco

Johnny Deep: Morton Rainey

John Turturro: John Shooter

Maria Bello: Amy Rayney

Timothy I-Iutton: Ted

Charles Dutton: Ken Karseh

Len Cariou: SherifTDavc

John Dunn-Hill: Tom Greenleaf

Sinopse: Mort Rainey (.Johnny Depp) e lim eseritor qlle aeaba de se divoreiar de Amy

(Maria Bello), depois de fragra-Ia com Qulro homcl11. Dcprimido, vai morar em uma

cabana it beira do lage Tashmore, em busca de lranqUilidadc. Ate que 0 lunatico John

Shooter (John Tuturro) aparecc e come<;:a a alormenta-Io, acusando-o de pJagio

6. SOBRE 0 FILME

o f1Ime inicia com Morton Rainey flagrando a lrai<;:ilo da csposa Amy com Ted

em lim motel da cidade, e tcndo uma crise enquanto presencia 0 rato.

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Seis mcses dcpois, Morton, Oll Mort, como e chamado durante lodo 0 filme,

eSli.lem sua casa, quando aparecc John Shooler, lim caipira do Mississipi, em sua casa,

e 0 acusa de plagiar lima histeria sua. Eles tem uma discussao, Shooter vai embora,

Illas deixa as manuscritos da cst6ria embaixo de lima pcdra em [rente a casa de Morl.

Mort pcga os manuscrilos da est6ria, que se chamava ., 0 tempo de plantar" c

as joga no lixo. A emprcgada de Mort tira as manuscritos do lixo e deixa sabre uma

mesa da casa. Mort come((<l a leT a est6ria de Shooter e pcrcebc que e igual a lima

est6ria sua, cujo nome e a ".Jancla Secreta" A estbria de ambos fala de Todd Downey,

lllll marido que [oi traido e que mala a esposa e a entcrra em um jardim que csta

cuidava.

Vcm a lcmbranc;;apara Mort de uma cena do seu passado na qual a esposa Amy

acha uma janela secreta atras de um anmirio. e esta jancla secreta tinha vista para um

jardim secreto. Morl olha para a respect iva janela em sua casa, que atualmente nao

mais e encoberta pelo armario.

Ele pensa em ligar para Amy, acaba desistindo, e repcte menlalmente, por

varias vezes, que nao roubou a est6ria de Shooler. Amy acaba ligando para Mort,

dizendo ter uma intuic;;aode que csle nao estava bem. Mort diz para cia estar bem e

acabe perguntando se ela lembra da cst6ria Janela Secreta, na qual 0 marido assassina

a esposa adultcra. Ela diz que cssa nao e uma das est6rias preferidas dela.

Ele entao pergullta para Amy se cia Icmbra de ele tcr sido inf1uenciado ncssa

est6ria. Amy rica preocupada, pois Mort ja havia sofrielo a acusac;;ao de pl{lgio

antcrionnente. Mort pergunta para Amy sobre Ted, 0 atual amanle de Amy, e fica

decepcionado elll saber que ambos cstao jun1os.

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IS

Ap6s isso, Mort caminha pelo campo e encontra novamenlc Shooter. Nissa

passa rapidamenle pela estrada Ton GreenlcaC um vclho habitanle da cidadc, e aeena

para Morl. Shooter f~lla para Mort que cscrcvcu sua est6ria em 1997. Morl [ala para

Shooter que escrevcu sua cst6ria el11 1994 e que linha Como provar isso. pais sua

cst6ria fora publjeada em lima revista em 1995. Mort e Shooter entao discutem e quase

sc agridem fisicamentc. Shooter enta~ da lim prazo de lres dias para MOrLconscguir a

revista com a cst6ria, rcvista esta que Amy, ex esposa de Mort, possuia em sua cas,1.

HI ao anoitecer, Mort eSla donn indo no sofa de sua casa c lelll lim pcsadelo no

qual caia dentro do mar. Cai do sofa e acorda. Pcga LIma lanterna c vasculha sua casa.

Do lado de fora cncontra tim bilhete colado em uma janela de sua casa com os

seguintes dizeres: ., Voce (em tres dias, nao e brincadeira. scm policia." Ele enconlra

lambcm 0 cachorro de sua ex esposa morto com uma chave de fellda cnlcrrada na

cabcca.

Mort da qlleixa do acontecido ao xeri fe local, Dave Newsome, e descreve John

Shooter. Vendo 0 desinleresse do xerilc pelo seu caso, elc eontrata Ken Karsch, lim

dctetive para protege-Ia. Sic relata a caso para Karsch. e rala para 0 dctetive que vai

conscguir a revista com a est6ria original, que estu em posse de Amy.

Mort entao pass a em frente cia casa de Amy, e vc esta com Ted, apcnas de

longe, cvitalldo 0 conlata. Ele ehega em sua casa e Karseh ja estava lhe esperando.

Mort relata a Karseh que Ton Greenleaf havia prescneiada um de seus cneantros com

Shooter. Ele fala que Karseh poderia encontrar Greenleaf no Bowie's cafe, as 09:00

horas da manha. Mort pergunta para Karseh se este ia donnir na cidade.

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Por coincidcncia Karsch ia donnir no mcsmo hOlCI aonde Morl flagroll 0

aduherio de Amy e Ted, vcia uma icmbrancya do fato nn mente de Mort. Apcs Karsch

if em bora, Mort cscula barulhos em sua casa, pega um objeto pontiagudo que lCl11bra

lima espada. asstlslado ele cnlra no banhciro e qucbra 0 Box e 0 Espclho. Encontra um

ratinho dcnlro de sua banheira.

Sai para fora de casa para levar 0 ratinho embora, c encontra novamen Ie

Shooter. Nova discussao entre os dais, Shooter fala que a revisla com a est6ria nao

existe. Mort pede 0 que ele pode fazer por Shooter, e Shooter pedc que Mort restaure 0

final cia eSloria, citando 0 final do canto: " Sci que eu consigo" disse Todd Downey ..

pegando Dutra cspiga de milho na tigcla fumegante ... " Garama que com 0 tcmpo ..

Qualquer vestigia dela desaparccenl.. A mortc dela sera lim misterio.. Ate para

mim," Relcrindo se a esposa do personagem principal da est6ria.

Shooter rala para Marl que viu Amy. Morl fala para Shooter dcixar a ex esposa

fora disso e tcnta accrtar-Ihe com uma pa. Shooter se defcnde, Quasc cstrangulando

Mort, e amea~a matar Amy,

No dia seguintc, Mort recebe uma ligac;ao de Amy, desesperada, avisando que a

outra casa de propriedade do casal, na qual Amy estava morando, havia sido

incendiada. Mort vai ate os destro90s cia casa e lem lima lell1bran~a do antigo

casamento. Encol1tra Amy com Ted e tem mais uma cena de 1c111branya do dia em que

flagrou Amy em adulterio com Ted.

Os policiais falam que ° incendio roi criminoso. Eles perguntam ao antigo casal

se elcs lem inimigos e Mort fala que ICIll um illimigo. Marl, Ted e Amy vao it

correlara de seguras, e MOrl e Ted se deselllendem, pois Ted queria ver a lista de

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pcrtences do antigo casal c MOrl 0 chama de xereta. Apcs. isso Ted c Mort tem lima

discussao em particular, sem Amy. No meio cia discllssao, Mort pergunta se cle e Ted

sao cia mesma localidade, Tcd diz que sao, do Tcnc:ssc. Morl en tao fala que aeha Ted e

do Mississipi, provavclmcntc comparancio Ted a John Shooter, e Ted diz que nao e de

la, e sim de lim lugar chamado Shooter's Bay, a baia dos atiradores.

Mort chega em casa e rccebe uma liga((ao de Karseh. Ele conta 0 ocorrido e

Karseh diz ja saber. Ele lambcm diz para Mort de ter plagiado. Karseh diz ter falado

com Ton Greenleaf, c eSlc se contradiz, pais primciro diz LeI" vista Shooter e Morl, e

depois diz nao ler vista ningucm.

Karseh diz que esta pensancio na hip6tese cle Shooter ter sido contratado par

algucm para asslistar Mort, e cstc ja fala para Karsch que suspeita que seja Ted.

Karsch entao eombina com Mort de ambos enconlrarem Greenleaf para obtercm

informac;ocs sobre Shooter, as 9:00 hs, no Bowie's cafe.

Mort acorda atrasado no dia seguinte e cnconlra 0 chapell de Shooter jogado na

frente de sua casa c seu carro aberto. Elc ajunta 0 chapell de Shooter em um saeo

pl{lstieo e vai ate 0 cafe ondc tinham combinado 0 enconlro. Chega no cafe e nao

encontra Karsch nem Greenleaf.

Mort enta~ sai do cafe, para cm lun posta de gasolina e eneontra Ted.

Novamcntc cles discutem e Ted fala para Mort assinar os papcis do div6rcio. Mort se

reeusa a assinar, eles quasc se agridem tisicamente. E Mort faJa para Ted que nao

reage bem a intimida-rao, insinuando que Ted csta conlratalldo Shooter para intimida-

10.

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Mort chega em casa e rcccbc Lim tclcfoncma de Shooter, pedindo il Mort que va

no lugar que eles se encontraram a primcira vcz. Mon vai ao tugar e encontra Ton

Greenleaf e Ken Karseh martos. Ele desmaia.

Ele acorda 14: J 5 hs e dtt de eara COm Shooter. Esle diz que Mort dOfmiu por 3

haras, e fala tambcl11 que llSOlI a chave de fenda de Mort para assassinar Greenleaf.

Ambos brigam, Mort fala que lem a revista para provar a Shooter que escrevcu ames a

cst6ria. Shooter desaparece, Mort vai ate 0 carro lira a chave de rcnda da cabc<;3 de

Greenleaf e de po is joga 0 carro com as dois cadilveres num precipicio que tinha Lim rio

abaixo.

Mort chega em casa, rccebe uma ligacrao de Amy, que se diz prcocupada com

cle, mas na verdade cobra de Morl as assinaturas dos papcis do divorcio. Eles disculem

e Amy resolve ir alrc.isde Mort.

Mort vai ao correia, e pega a exemplar da revista com sua eSloria. Encontra 0

xerife da eidade e 0 evila, saindo rapidamcnte. Ele chcga em casa, abre a revisla e ve

que as paginas com sua estoria roram retiradas. Ele se pergunta como Shooter fez isso,

Mort enlao come.;:a a tcr alucina.yoes vendo um duplo seu, que 0 faz perceber que ele

I11CSl110 comeleu os assassinatos, Shooter era apenas lima criac;:aodo proprio Mort. 0

duplo de Morl lenla eonvenee-Io a se cnlregar a policia antes que ele cause mais

desgrac;:as.Mort se reeusa.

Entao aparece a alucina.yao de Shooter, dizcndo para Mort que era ulna cria.;:ao

delc, que roi eriado para eomcter os crimes que Mort queria comeier mas nao tinha

coragem. Novamentc Mort sc Icmbra da cella no moteL quando flagra Amy e Ted e

tcnta atirar ncles, mas 0 revolver estava sem bala, e Shooler rclcmbra isso para Mort.

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Mort tambem lcmbra das cenas em que ele incendeia a casa de Amy c lambem que ele

assassin a Karsch e Greenleaf.

A aiucin8yao de Shooter aparcee e fala para Mort que ele precisa rcstaurar 0

final do conto, que agora era a hora, fazenclo de certa forma uma alusao vclada para

que MorL assassinasse Amy. Mort poe 0 chapell nova mente.

Amy chega na casa de Mort e aeha as paginas do conto janela secreta rasgadas

no chao. Ela entra na cas a e cncontra tudo rcvirado, a casa csta toda pichada com 0

nome Shooter. Alras de uma poria aparece Mort no I1lcio das palavras pichadas shoot e

her, atire nela. Eic diz para Amy que Mort havia morrido, e que ali quem eslava era

Shooter. Tenia Illata-Ia com uma teSQura. Poc novamcnte 0 chapell na cabcya. Ela lenla

fugir com seu carro, ele a tira do carro e lhc acerta C0111uma chave de fenda na perna,

cia cai no chao. Ele [ala que isso nao foi ideia dele, e sim de Mort Rainey. Ele pega

lima pa. Amy diz que ele c Mort Rainey.

Ted chega, e Mort Ihc acerta com a p{\ na cabeva, c Ihe mata com mais 1I1lS

golpes de p;:i.. Ap6s isso elc mala Amy. Dcpois do ocorrido, Mort vai a cidade fazer

compras, C0l110 se nada livesse acontecido, e e cvitado pel as pcssoas.

o xeri f"e da cidade vai a casa de Mort e ve uma pancla chcia de espigas de

milho. Ele diz que sabe 0 que Mort fez, cliz que elc acabaria sendo preso, iam

el1contrar os corpos. Ele tam bern pede que Mort l1ao va a cidacle, pois conslrange as

pessoas. Mort diz ao xerife que s6 0 final imporLa, e que esse final eslava perfeito.

o xerife vai embora, e Mort repete as partes do conto: " Sci qlle ell consigo ..

Dissc Todd Downey .. Pcgando outra cspiga de milho na tigela fumegante .. Garanto

que com 0 tempo ... A Illolic dela sera urn miSlcrio ... Ale para mil11.·· Aparece en tao a

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jancla secreta da casa de Mort, com vistas para 0 jardim secreta aande eSlava enlerrada

sua esposa, e nesse jardim estava plantado um milharal.

o filme term ina com Mort camendo lima espiga de milho.

7. INTERPRETA<';.AO DO FILME

Podcmos vcr claramcntc na personagem principal do tilme, Morlon Rainey,

C0l110 operam as manifcstayoes da Psique Objetiva, ou do inconscientc COIClivo. Os

complexos da personagem entram em cena, COI11 as projc((OCS dos contclldos

dcstrutivos desles complexos na personagem John Shooter, que e Ullla cria<;ao mental

alucinat6ria de Morlon. Whitmont (2002) nos diz que quanta mais 0 conscicnlc sc

fecusa au c incapaz de se envoi vcr COIll os conteudos do nao ego da psique objet iva,

tanlO nos aspectos pcssoais como nos aspectos arquctipicos, !TIaisprovavelmenle esses

elementos scrao capazcs de pcrturbar, de invadir e amea<;:ar0 cOl1scientc, com 0 poder

obsessivo c compulsivo de sua estranha imagetica. Quando 0 consciente nao concede

status de realidade aos complexos, e quando !laO os trata como «poderes'· que devem

scr Icvados a serio, mas lida com eles atraves da reprcssao, esses complexos tcndem a

se cstabelccer de uma maneira inadaptada, primitiva, regressiva, compulsiva c

destrutiva. Whitmant (2002) continua:

ISIO resulta no qLle chamamos de disttlrbios neur61icos OLipsic6licos. NaneLifose a fum;:ao do ego c alterada apenas de leve. Quando 0 dominiocxcrcido pelo complexo c tao grave que pode deslrocyar tambcm aquilo que efundamcntal na adaptac;:iio do cgo a realidadc. falamos de psicosc. Nessasinvasocs mais serias. os elementos nao pessoais, isto e, arquelipicos dosntlc]cos centra is tendem a inundar 0 conscicnlc com sua imagetica bizarra.(Whitmont, 2002. pg 47).

E podemos observar claramente a invasao desses conteudos da psique objet iva

na pcrsonagcm principal. Morton ja c dominado pelo seu pcnsamento delirante de que

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John shooter quer dcstrui-Io com a acusa~ao de phigio de sua cS16ria, durante 0 filllle

acredita que John Shooter comctc os crimes, como 0 incendio da sua antiga rcsidencia

e os assassinatos do animal de estima~ao de sua csposa, de Ken Karsch e Ton

Greenleaf.

Segundo Whitmonl (2002), nos casos de psicose iminente Oll aguda ou nos casos de

"possessao" dCl110niaca au rcligiosa, a psique objeliva assume 0 controlc. Tais

SilUfivOCS cxtrcmus scrvem C0l110 cxcelcntes manuais sabre a estranha natureza

transcedcntai do tempo c do espayo e a poderosa caracLcristica do milOiogema. Os

sistemas de rcferencia pcssoais, concretas c racionais estao prestcs a seT abolidos Oll jil

o roram.

A pcrsonagen Morton Rainey passa por uma expcriencia de intcnsidade

emocional muilo destrutiva, que C 0 flagrante da traivao de sua ex esposa Amy com

Ted, e lenta reprimir as al'etos e emo90es dccorrenlcs dcssa cxpcrieneia.

Porem isso leve como prc~o a invasao dos complexos sobre 0 eonscicnte de

Morlon e as projec;oes desses complexos em seu aspccta mais destrutivo sabre OlItras

persanagens do tilme. As pcrsonagens que reccbem cssas projc90cs no aspecto mais

deslrutivo sao John Shooter, a supOSlo perseguidor de Monon, e Ted, 0 amanlc de

Amy, pois Mort acredita que Shooler e contratado por Ted para inlimida-Io.

Whilmo11l (2002) relata que a projcyao C 0 primeiro estagio da consciencia.

cmbora illadcquado. c c a realizac;flo de lim contelldo psiquico ou de lim complcxo

C0l110 se aderisse ou dissesse respcito a U111objeto cxterno, seja elc lima coisa ou

pcssoa. Filosoficamente I~liando,ja que toda a nossa pereepc;ao oeorre em tcnnos de

nossas predisposi,6cs psico16gicas, podclnos considerar todas as

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projcvocs sabre 0 objcto, .•<l coisa em 5i I11csma", mas em nosso lISQ clinica, [imitamos

o cmprego da palavra aquelas situa<;oes nas quais a perccP9ao da realidade e

distorcida pelo poder irresistivcl de um compiexQ ou arquCtipo constelado.

E Whitmont (2002) continua:

" Eo a colonu,:ao clllocional que vai nos dizcr se cstamos au nao Cilvolvidosulima projcyao. J,i que a projcyao c semprc a vislializayao de LIm complexo,cln se fa? scntir por lima forte carga de areto. Em portllgucs claro. tada vezque lima projcyao CSla envolvida. cia nos "irrita", nos "aborrccc" Nossarca(,:ii.o c dClerminada relo afetD C somos. P011<1I110.incapazes de rcagirmiequadalllcnic a lima pcssoa ou sitLiuryao. Esta C Lima das pOllcas leis dapsiqllc que C. sem cxcl'!,!110. lolall1lenlc II provfl de crro:' (\vhiunont, 2002,pag 55).

E isso podcmos obscrvar nas reayoes emocionais de Morton 0 quanto ele se

irrita e sc aborrece quando en contra sell alter ego .Iohn Shooter, que Ihe represcnta lima

grande amca~a, c tambcm suas rea~Ocs emocionais de irritaryao quando encontra Ted,

que elc acusa de maneira infundada de SCI" 0 man dante de John Shooter na tarcra de

intimida-Io.

Vejamos entao qual arquc:tipo esta pOl' tn'ts dessas mf.lnifcstac;6es no

comportamcnto de Morton. e que pratic3mcnte possui sua conseieneia.

8.0 ARQUETIPO DA SOMBRA

Esse arquetipo apareee projetado em varias personagens do filme, tanto em seu

aspeCIO construtivo como principalmcnte em seu aspecto destrutivo.

Podemos aflrmar que as varias personagcns do filme que comp6cm 0 cnredo

com Morton Rainey sao flguras da sombra. como por exemplo sua esposa Amy, Ted. 0

am(]lllc deja, John Shooter, 0 detctive Ken Karsch c Ton Greenleaf.

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Podcmosjustificar isso com a afinnayao de Berry (1998) de que nao ex:istc uma

sombra. Illas sim l11uitas (assim como nao existe um unico ponto de vista eonsciente

mas muitos, todos igualmcnte serios, dcpendendo do eSlado de animo e do momenta):

"As cst ruturns dOl pcrcep~il.o conscientc sc rtlodific<llll. Aquila que erclativamcntc conscicnte nUIll momento nao 0 e mais no momento scguintc.Da meSIll<lforma como a fonte de Iliz muda como 11posi~iio all 01 sitll<l9aOscIllodificam. Aquilo que c relativamentc conscicnte num momenta nao a cmnis no momento seguinte. DOl mesilla fonna que a fonte de luz mudn ,COlllOa posiyi'io ou a situayao se lllodifical11 ( conlorll1e ulna Iuz diiercntc el<lm;adasabre as coisas), lambcm a sombra vagueia. (Derry, 1998, pag. 84)

As £iguras da sombra de Ken Karsch e Ton Grecnlear. poclemos dizer que

receberam projeyoes dos aspectos positivos do arquetipo da sombra, pois durante a

fihnc tentam ajudar Morton a descobrir 0 paradeiro de Shooler, as aspccloS destrutivos

da Sombra rencgados, reprimidos c projetados por Morton.

Mas Morlon os assassina rriamente, Lima prova que Mort rcnegava nao 56 os

aspectos destrutivos da sombra, mas tambem as construtivos c positivos. Com essa

atilUdc Morton projeta ainda mais sells conteudos destrulivos em Shooter, retirando de

si a responsabilidade dos crimes. De acordo com Sanrord (1988), a maneira mais

comllm com que as pessoas tcntam lidar com 0 problema da sombra e simpiesmcnte

negar sua ex:istcncia. lsso acontccc par que 0 dcspertar da sombra traz culpa e tcnsfio, e

nos tor~a a lima dificil tarefa cspiritual c psicol6gica. Par oulro lado, a nega~iio da

sombra nao resolve 0 problema, mas simplesmcnte dcixa-o pial'. Por conseguinte, naa

s6 pcrdemos 0 contato com as aspectos positivos desse lado obscllro de n6s mcsmos,

como tambem 0 projctamos em outras pessoas.

Venda como Mort rcprimiu e negou sell lado destrutivo da sombra, c

conseqiienlcmenlC tambcm 0 conslrutivo. c:sse ultimo simbolizado pclas PCl'sollagcns

Ken Karsch e Ton Grcenleaj~ 0 que rcslou enHio foi a possessao pOl' um complexo

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que possui 0 arquetipo da sombra em seu I1Iklco. Whitmont (2002) relata a esse

respeito:

Uill complcxo lornn·se patoillgico quando pcnsamos nao possui-lo. Porquc eenta~ que ele nos possui. Assim tuda indica que a falla de conscicncia ciapessoa em rel,uraa aas sells complcxos favorece a lendencia deles de selornar fonlc de pcrtllrba~50 psicologica. ( Whitmon\. 2002, rag 63 ),

Mort, no (jill da trama percebc que foi cle mesmo que comcleu os crimes de

"John Shooter". Uma parle de seu aspectos construtivos do complcxo da somhra

simbolizado por seu duplo ainda tenta ajuda-Io, tentando convencc-lo a se cntregar a

palicia. Mas ja era tarde, Morl cstava laO possuido pela arquetipo cia sombra que

acreditava ser a figura de John Shooter. A sombra sobrepujou 0 Ego, c Mort ainda

assassina Amy e Ted, c diz para !\my que cle nao e Marlon Rainey, e sim John

Shooler. Mas lodos na cidade, inclusive a xerife de palicia. a quem Mort 11111dia ja

pcdiu protcr;ao contra John Shooter, j{\ sabcm que Morton Rainey e 0 vcrdadciro

responsavei pclos crimes que ocorreral11na cidade.

9. CONCLUsAo

Praticamentc desde seu inicio, a Psicologia em geral, j,-i rcconhece a

imporl<lncia do estudo das manircsta~oes artisticas para a comprcensao do psiquisl110

humano. Para a Psicologia analilica entao c eHorme a conlribui~ao dos cstuclos

psicol6gicos dcssas manifestayocs, como par cxell1plo, dos contos de fada, das aries

phlslicas, da lileralura, do cinema, entre Olilras 111anifesta~iks, pais Ladas elas encerram

a riqueza de material arqlletipico do inconsciente coletivo.

Muitos trabalhos de analise psicoiogica ja foram realizados tendo como IQCO as

manifcstayoes artisticas, principaimcnte no campo cia psicanaiise c cia psicologia

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analilica, c dentro da Psicologia Analitica, podemos citar Marie LOllisie Von Franz.

que rcalizou um trabalho pioneiro de inlcrprctayao de contos de fada, abrindo assim

caminho para amilisc psicol6gica de Olltras manifcsta~oes artistica5. como 0 cincma, a

literalura e mHms. E atraves do trabalho inovador de Von Franz podemos tambem

pcreebel' 0 quanto de material simb6lieo e arquctipico do inconscienlc coletivo os

conios de (~Ida C outras 1'onna5 de manirestayoes artislicas encerram, c tambem

podcmos perecbel' a importaneia do estudo das aries em geral para a psicologia

analitiea, para a explora~ao do material inconsciente.

E tambcm e importantc notannos que nao 56 nesse lrabalho, como em !TIlIitos

mltros denim do contexto da psicoiogia analitica, aparccclll 0 cstudo do arquctipo da

sombra, como podemos notar no fillnc, esse arquetipo possuiu e dominol! 0 ego da

personagcm principal. atraves dos complexos que possuell1 esse arquctipo em sell

nucleo ccntral.

Essc e um dos arquelipos de importancia vital para a comprccnsao do psiquismo

humano, como j{1 sabcmos alravcs do cstudo da psicologia analilica, por scr esse 0

pril11eiro arquctipo que eneonlral110S no caminho do proccsso de individuac;ao, c no

filme analisado podemos pcrecber 0 quanto c perigoso a nao conscicnliza~ao c

nega~ao desse arquelipo por parle do SCI' humano, pois obscl'vando as atiludes da

persona gem principal. vimos 0 quanta dcstrutivas estas foram. c em conseqUeneia

dcssa ncgayao. ocorre 1:1 posses sao do Ego da personagcl11 principal pcla tao ncgada e

reprimida sombra.

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10. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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A Jane1a Secreta - Dircc;:ao de David Koepp. EUA, Columbia pictures corporation,

2004 (97 l11inutos). I DVD.