Legiões Romanas

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LEGIÕES ROMANAS SPQR O Império romano foi a maior potência de sua época. Era um Império que abrangia a maior parte da Europa Ocidental, zonas extensas da Ásia Menor e Oriente Médio, o Egito e o norte da África. Portanto, Roma era uma potência mundial, a primeira potência européia em escala mundial. Os dados estatísticos que sobraram dos Arquivos Imperiais, mais os resultados dos trabalhos arqueológicos, nos mostram que Roma dominava mais de 120 milhões de pessoas, quando a população total mundial é estimada, para a época, em cerca de 250 milhões de pessoas! Roma, portanto, governava, praticamente, metade da população que existia no mundo! E era uma potência eminentemente urbana. Os cálculos indicam que só a Itália tinha 1.197 cidades e uma província como a Espanha, abrigava 360 cidades.

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O Império romano foi a maior potência de sua época. Era um Império que abrangia a maior parte da Europa Ocidental, zonas extensas da Ásia Menor e Oriente Médio, o Egito e o norte da África. Portanto, Roma era uma potência mundial, a primeira potência européia em escala mundial.

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LEGIÕES ROMANAS

SPQRO Império romano foi a maior potência de sua época. Era um Império que abrangia a maior parte da Europa Ocidental, zonas extensas da Ásia Menor e Oriente Médio, o Egito e o norte da África. Portanto, Roma era uma potência mundial, a primeira potência européia em escala mundial.  Os dados estatísticos que sobraram dos Arquivos Imperiais, mais os resultados dos trabalhos arqueológicos, nos mostram que Roma dominava mais de 120 milhões de pessoas, quando a população total mundial é estimada, para a época, em cerca de 250 milhões de pessoas! Roma, portanto, governava, praticamente, metade da população que existia no mundo! E era uma potência eminentemente urbana.  Os cálculos indicam que só a Itália tinha 1.197 cidades e uma província como a Espanha, abrigava 360 cidades. Estas milhares de cidades estavam ligadas por uma imensa rede de estradas pavimentadas e eram servidas, também, por centenas e centenas de portos de mar e fluviais.  A imensidão da tarefa administrativa é evidente para todos. As mensagens tinham que trafegar à cavalo ou de barco a vela. Os exércitos se moviam à pé. O trânsito de mercadorias era muito caro.

O poder de Roma era materializado na legião romana, corpo militar que superou tudo o que até então se conhecia em termos militares na Antigüidade.

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Não é sem razão que da palavra legio (legião), força bélica, extraiu-se a palavra legge (lei).

A lei, para os juristas romanos, respaldava-se em última instância na força.

Os romanos aproveitaram o máximo das capacidades das suas legiões, como a disciplina, a resistência, a tecnologia superior, e principalmente a faculdade de atuar como um corpo único, que transformava cada legião num mini-exército altamente eficiente, para realizar as suas grandes conquistas.

Cada legião romana completa tinha um efetivo de 5.000 a 6.000 soldados engajados por contrato. Disciplinados e bem treinados, os legionários eram subdivididos em dez coortes (500 a 600 homens). Estas por sua vez eram divididas em centúrias, e estas em decúrias. Sendo em principio, cada legião possuía 10 coortes; 4 legiões formavam um exército consular. Cada legião contava com as alas de Cavalaria (teoricamente uns 300 cavaleiros, muitos destes estrangeiros), um corpo de besteiros, além das tropas auxiliares, os vexillatos.

Os legionários davam duro tanto na batalha, quanto fora dela. Mesmo no descanso, eles não tinham descanso. Mesmo acampado o soldo romano era sempre posto na ativa. Entendiam os romanos que o ócio das tropas era a ruína da disciplina, eterna fonte de amotinamentos. Assim, o legionário não descansava nunca. Escolhido o local do acampamento, eles tinham sempre alguma coisa que fazer. No acampamento era o momento em que o pilus (a lança) era substituída pela pá. Com ela cavavam uma trincheira retangular ao redor das barracas e erguiam paliçadas no perímetro delas para nunca serem

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pegos de surpresa pelos inimigos. Em Roma, a muralha tinha 19 quilômetros ( ainda existe boa parte ).

Os romanos eram exímios engenheiros militares. Certa vez um auxiliar de Júlio César disse que, “quem ganha a guerra é a pá, não o pilo (a lança)”. Certamente ele referia-se aos contravallation, aos 40 quilômetros de trincheiras cavadas e fortificações erguidas pelos legionários para cercar os gauleses na batalha de Alésia, travada em 52 a.C., forçando a rendição final de Vercingetórix. Ou ainda ao episódio das pontes portáteis estendidas sobre o rio Reno que asseguraram ao general bater os germanos, pegos de surpresa no seu próprio território. Estradas, pontes, fortificações, acampamentos bem protegidos, estaqueados com a pá e com a picareta, contribuíram tanto nas vitórias imperais como o uso das armas. O compasso e o esquadro do engenheiro era tão fundamental como a disposição geral das legiões no campo de guerra. Além disso, o seu material de sítio, as catapultas que lançavam pedras ou bolas de fogo, era impressionante. Graças a disciplina exemplar, as centúrias romanas podiam, mesmo em meio à batalha, rapidamente alterar sua formação, passando do assalto à defesa e vice-versa.

A organização e a disciplina das legiões era impar em sua época. Os legionários eram capazes de, arrumados em linhas (veliti, manipoli di astati, principi, e di triarii), onde recrutas e veteranos se intercalavam, enfrentar contingentes de forças muito superiores as suas, graças à coesão e às táticas de luta em conjunto em que se exercitavam. Em geral, os bárbaros, desconsiderando o comando único, atacavam em hordas, onde cada clã, quase cada guerreiro, tratava de vencer por si só a batalha, tornando-se presa fácil das organizadas tropas romanas. Cada legião era comandada por um legatus (que era uma invenção de Júlio César), um legado, que era um chefe militar (sempre um integrante da classe senatorial), apoiado por 6 tribunos e 60 centuriões, que formavam o quadro de oficiais intermediários entre o general e as tropas. César usou dos três elementos da legião para realizar as suas conquistas extraordinárias: a infantaria, a Cavalaria e as formações auxiliares, além de uma habilidade extraordinária para usar as técnicas de assédio e as fortificações.

Esta estupenda organização bélica devia-se à coesão interna do estado romano, impressionante estrutura jurídico-administrativa capaz de dominar um território vastíssimo, estendendo-se das fronteiras do Irã, no leste, até às Ilhas Britânicas, bem a oeste, e das beiradas das florestas da Germânia , no norte, até o deserto do Saara, ao sul. As leis do Império Romano imperavam tanto

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nos países de neve e gelo quanto sobre os que eram sol e pura areia, guardada por uma máquina militar que só entrou em dissolução após 600 anos de domínio.

Recrutamento e treinamento

Nas três fases pelas quais passou o governo de Roma, o recrutamento foi diverso. De início, na monarquia, quando os cidadãos eram repartidos em tribos, cabia a cada tribo dar uma centúria (100 infantes, comandados por um centurião) e uma decúria (10 cavaleiros, sob o comando de um decurião). Deve-se notar que nesta época só servia nas legiões a nata dos povos. Por isso ele não era um pobre diabo qualquer que os recrutadores arrastavam para as casernas.

Sendo assim o legionário, no principio, era um cidadão romano, proprietário de terras, de 17 a 45 anos, que se apresentava para servir por cinco anos, sempre no mês de março, mês de Marte, o deus da guerra, no monte do capitolio. Após os 45 anos, o cidadão romano, lutava somente em defesa de sua cidade. O legionário era visto como a expressão mais autêntica dos valores romanos.  Com Sérvio Túlio (6° rei), o recrutamento passou a ser estabelecido pelo Censo; neste caso só eram chamados às armas os guerreiros necessários. Na época singela da república, o uso das armas ficava reservado àquelas classes de cidadãos que tinham um país para amar, uma propriedade a defender e alguma participação na feitura das leis que eram do seu interesse e da sua obrigação manter.

Com o cônsul Caio Mário, foi estendida a obrigação do serviço militar aos proletários e plebeus e com Camilo foi instituído o soldo, normalmente pago em sal a princípio, o que deu origem ao termo soldado. Na maior parte dos casos, os oficiais eram das camadas nobres ou filhos de oficiais, e os soldados rasos, eram recrutados  entre as camadas mais baixas e com muita freqüência mais vulgares da sociedade.

Finalmente no império (a partir de 63 a.C.) os aristocratas abandonam o exército que passa a ter apenas voluntários e na falta destes, teve-se de

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socorrer dos mercenário se até de escravos; por isso, dessa época em diante, o exército deixou de ser nacional. O próprio Júlio César alistou cavaleiros gauleses, e depois germânicos, estes de reputação excelente. Também se usou gauleses e germânicos para as tropas de infantaria.

Quando do seu ingresso no serviço militar, o legionário via-se obrigado a um juramento que se revestia de toda a solenidade. Jurava jamais desertar do seu estandarte curvar a própria vontade às ordens dos seus chefes e sacrificar a vida pela segurança do imperador e do império.

Os recrutas e soldados novos recebiam adestramento constante de manhã e à tarde; nem a idade nem o conhecimento serviam de desculpa para eximir os veteranos da repetição diária daquilo que já haviam aprendido completamente.

Grandes telheiros eram erguidos nos quartéis de inverno das tropas para que os seus úteis treinamentos não sofressem nenhuma interrupção mesmo na mais tempestuosa das quadras; tinha-se, outrossim, o cuidado de prover, para tal imitação de guerra, armas com o dobro do peso das usadas na ação real.

Os soldados eram diligentemente instruídos a marchar, correr, saltar, nadar, carregar grandes pesos; manejar qualquer espécie de arma que fosse usada para ataque ou defesa, quer no combate à distância, quer na luta corpo a corpo; fazer variadas evoluções; e mover-se ao som de flautas na dança pírrica ou marcial. Em tempos de paz, as tropas romanas se familiarizavam com as práticas de guerra, e com propriedade observa um antigo historiador que contra elas lutara, ser o derramamento de sangue a única circunstância que diferenciava um campo de batalha de um campo de exercícios.

Os generais mais capazes, e os próprios imperadores tinham por norma encorajar tal preparação militar pela sua presença e exemplo; sabemos que Adriano, tanto quanto Trajano, freqüentemente condescendia em instruir os soldados inexperientes, em premiar os diligentes, e às vezes em disputar com eles torneios de destreza ou força. No reinado desses monarcas, a ciência da tática foi cultivada com sucesso, e enquanto o império logrou manter o seu vigor, sua instrução militar era respeitada como o modelo mais perfeito da disciplina romana.

Disciplina

O maior elemento de triunfo no exército romano da República estava na disciplina. O treinamento militar e a educação moral tinham início nos primeiros anos da adolescência. Idéias patrióticas e virtudes militares eram inoculados cuidadosamente nos futuros guerreiros; as gloriosas tradições militares eram respeitadas com veneração. Os moços recebiam educação guerreira, estudavam a arte militar, de interferência a qualquer outra e passavam dez anos de formação nos campos de Marte.

O alinhamento disciplinado em combate do legionário, armado com as suas espadas curtas e apoiados nos veteranos, tornava-o quase que invencível. Juntos, em formação semelhante a uma tartaruga, com os escudos

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parecendo-se a um casco, viravam uma pequena fortaleza inexpugnável aos bárbaros. Tanto assim que a única vitória significativa que os germanos tiveram sobre a legião, deu-se num momento em que, atravessando a floresta de Tautenburgo, no ano 9, ela foi atacada de surpresa quando caminhava em extensa linha sinuosa pelo meio da floresta germânica.

A lealdade das tropas romanas aos seus estandartes, em que estava a águia e as letras SPQR (Senatus Populesque Romanus - Senado e Povo de Roma), era inspirada pela influência conjunta da religião e da honra. A águia que rebrilhava à frente da legião tornava-se objeto da sua mais profunda devoção; era considerado tão ímpio quão ignominioso o abandono dessa insígnia sagrada numa hora de perigo.

Tais motivos, cuja força advinha da imaginação, eram reforçados por temores e esperanças de natureza mais substancial. Soldo regular, donativos ocasionais e uma recompensa fixa após o devido tempo de serviço aliviavam as durezas da vida militar, ao passo que, de outro lado, era impossível escapar à mais severa das punições por covardia ou desobediência.

Os centuriões estavam autorizados a castigar com espancamento, os generais tinham o direito de punir com a morte; era uma máxima inflexível da disciplina

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romana que um bom soldado tinha muito mais a temer dos seus oficiais que do inimigo. Por via de tais louváveis recursos, o valor das tropas imperiais alcançou um grau de firmeza e docilidade que as paixões impetuosas e irregulares dos bárbaros jamais poderiam alcançar.

Armamentos e Equipamentos

Normalmente, a principio, cada soldado providenciava seu próprio armamento e equipamento individual. As bagagens pessoais podiam ou não ser conduzidas pelos guerreiros que quando as levavam. Era "impeditus" (de onde provém a designação de impedimenta para tudo que o exército conduz consigo) e no caso contrário "expeditus".

A principal arma era a famosa espada chamada de gladius (gládio), de meio metro, com duplo fio e ponta aguçada. As armas de choque consistiam no hasta (pique), lança de até 3m de comprimento e o pilun (dardo) com cerca de 1,5m de comprimento.

Os romanos também usavam maciças catapultas de madeira, acionadas por tensão ou torção e que lançavam pedras de 5Kg a 300m de distância durante a realização de assédios.

A proteção individual era feita com capacetes, armaduras, malha, perneiras, escudos de couro reforçados com metal. Os cavaleiros, a princípio, não usavam sela nem estribos. Ainda como armamento, arcos e fundas eram usados para arremesso de flechas e de pedras.

 As máquinas de guerra foram as mesmas usadas pelos gregos, se bem que melhoradas; apenas levando-se em conta que essas máquinas não foram, como entre os gregos empregadas somente no sitio, e sim em rasa campanha.

Organização

Como dissemos as legiões, que era a grande unidades tática dos romanos, eram divididas em coortes, centúrias e decúrias. Apesar de sua organização ter passado por várias modificações, de acordo com a época e o caráter guerreiro dos chefes romanos, normalmente as legiões funcionavam baseadas

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principalmente na organização das centúrias. A infantaria, na República, possuía quatro classes de legionários:

Vélitas (Velite)

Eram a Infantaria leve da legião. Estavam normalmente armados com algumas lanças leves e um gladius. Usavam um escudo circular e um capacete, que cobriam com peles de lobos. Sua missão era a de explorar e realizar escaramuças. Nas batalhas campais, se colocavam a frente da primeira linha para lanças as suas lanças, e logo depois se retirarem. Normalmente eram homens de 17 a 25 anos que compunha esta tropa.

 Hastátios (Hastatus)

Eles usavam armas meio pesadas, e tinha de 25 a 30 anos. Esses legionários carregavam um scutum, gladius, pilum (lança pesada), lanças leves, capacete e um em vez do peitoral de bronze. Eles formavam a primeira linha da legião.

 Príncipes 

Eles tinham o basicamente o mesmo armamento dos Hastatus, porém eram mais pesadamente armados e equipados e usavam ainda uma malha como proteção, que era acolchoada no ombro, em vez de um peitoral de bronze. Lutavam na segunda linha. Esses legionários tinham entre 30 e 40 anos.

 

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Triários (Triarius) 

Eram os mais veteranos das legiões. Tinham entre 40 e 45 anos. Eram bem armados. Em vez do pilum, eles levavam lanças longas. Eles formavam a última linha e eles só eram usados em combate quando realmente necessário. Quando lutavam era em formação de falange.

As quatro linhas de combate da legião ficavam distanciadas cerca de 100m uma da outra. As fileiras de infantes da legião eram subdivididas em 10 manípulos (retângulos) sendo que os manípulos de hastários e príncipes compunham-se de 120 homens e o de triários de 60 homens. Esta era a organização da legião manipular usada por Camilo. Posteriormente os manípulos foram reunidos em coortes, unidade intermediária que permitiu maior flexibilidade à legião. A coorte era a reunião de um manípulo de cada espécie, hastários, príncipes e triários, com um grupo de 120 homens vélitas e uma turma de cavalarianos. A Cavalaria usava lança e escudo, sendo inferior à Infantaria em qualidade, pois os romanos não eram grandes cavaleiros. A Cavalaria da legião era dividida em 10 turmas de 30 cavalarianos.

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O combate era iniciado pelos vélitas, que atacavam em ordem dispersa, visando a desorganização do adversário. Em seguida, as outras linhas da legião avançava e ultrapassava os vélitas; os hastários, na testa, chocavam-se com o inimigo; se repelidos, os príncipes, os reforçavam, ou os substituíam, ficando os triários prontos para o terceiro esforço. Assim, os romanos combatiam em ordem profunda, numa sucessão de esforços. Durante o combate da infantaria, a cavalaria, colocada nas alas, lançava-se contra os flancos, ou contra a Cavalaria inimiga. Derrotado o adversário, os vélitas e a Cavalaria realizavam a perseguição ou, em caso contrário, cobriam a retirada do grosso.

Em campanha, o exército romano estacionava diariamente após a marcha ou o combate. Prescrições regulamentares fixavam o dispositivo de acampamento, as atribuições dos homens e o serviço de guarda e de vigilância. Com a atual finalidade, deslocava-se e atuava um destacamento precursor.

Na antecedência dos combates, era designada uma "Zona de Reunião", na retaguarda, onde eram recolhidos os feridos e os prisioneiros, guardados os suprimentos, as bagagens e as armas sobressalentes. Além do armamento, os soldados conduziam material próprio para fortificar as regiões de estacionamento.

As legiões, como perfeita organização militar, não se descuidara dos serviços. Assim os romanos criaram o serviço de engenharia, de transporte, de

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intendência (destinado a suprir o exército em marcha ou a abastecer os armazéns - os romanos criaram o sistema de armazéns temporários para o abastecimento dos exércitos; com JÚLIO CÉSAR eles tornaram-se permanentes. Também existiam os serviços de fundos (cuja a frente ficava o questor, representante do tesouro público) e o de saúde.

Tropas Auxiliares

No princípio estas tropas eram formadas por meros mercenários recrutados antes de uma campanha, mas pouco a pouco essas tropas foram sendo regularizadas. deixaram regularizando, especialmente aquelas tropas mais especializadas, como fundeiros, arqueiros e cavaleiros, que muitas vezes eram característicos de certas regiões geográficas (arqueiros sírios e cretenses e cavaleiros gauleses, alemães e hispânicos). Desta forma surgiu as tropas auxiliares, que eram organizadas em uma coorte que acompanhava às legiões (aproximadamente existiam 4.500 auxiliares para cada legião de 5.500 homens).

Os auxiliares não eram cidadãos romanos e estavam sobre controle e comando dos romanos. Um auxiliar se alistava por 25 anos. Eles recebiam menos que os legionários. A elite destes corpos era os cavaleiros, pois os romanos tinham pouca tradição nesta arma. A Cavalaria era organizada em Alas (alae) de cerca de 500 homens, distribuídos em 16 pelotões (turmae). 

Depois das Guerras do Triunvirato, no final do século I a.C, Augusto fez uma profunda reforma no Exército romano, e licenciou uma boa parte da enorme quantidade de tropas existentes, fruto de um século de guerras civis (ele reduziu o número de legiões de 66 para 25 e depois elevou esse número para 29). Os auxiliares foram profissionalizados, sendo dotados de um armando padrão, de qualidade pior que os dos legionários, colete de malhas, capacete de metal e a "spatha", uma espada longa e mais pesada para corte que o gladius.

Guerras

A política de conquista iniciou-se no século V a.C. com as "Guerras Defensivas" , repelindo ataques de etruscos, sabinos, equos e volscos e determinaram a conquista do sul da Etruria e da região do Lácio.

No século IV a.C. os romanos iniciaram uma política de conquista aproveitando-se do enfraquecimento de vários povos que viviam na Península Itálica, sendo que esta já no final do século estaria completamente dominada.

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Essas vitórias foram possíveis devido ao equilíbrio econômico da cidade, permitindo-lhe a manutenção de um exército bem treinado, formado inclusive por homens de regiões anexadas.

Nas regiões conquistadas uma parte da terra era considerada terra pública (ager publicus), que poderia ser arrendada a pequenos proprietários ou explorada pelos patrícios que, na prática, apropriavam-se dessas terras, ampliando a concentração fundiária.

Guerras Púnicas

 

Três guerras travadas entre Roma e Cartago pela hegemonia do comércio no Mediterrâneo, conflito que se estende por mais de cem anos, de 264 a.C. a 146 a.C. O termo púnico, do latim punicus, vem da palavra poeni, nome que os romanos davam aos cartagineses, os descendentes dos fenícios (em latim, phoenician).  No início das guerras, Roma domina a península Itálica, enquanto a cidade fenícia de Cartago domina a rota marítima para a costa ocidental africana, assim como para a Bretanha e a Noruega. Roma interessava-se pelo controle sobre a Sicília, grande produtora de trigo; terras da península Ibérica, produtora de prata e pelo controle do comércio que

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estava nas mãos dos cartagineses. Cartago pretendia aumentar seu raio de dominação econômica, desalojando os comerciantes gregos do Mediterrâneo.

Na I Guerra Púnica, que dura de 264 a.C. a 241 a.C., Roma e Cartago são chamadas para ajudar a cidade de Messina, na ilha da Sicília, ameaçada por Hiero II, rei de Siracusa. Os romanos, para expulsar os cartagineses da ilha, provocam a guerra e saem vitoriosos. Sicília, Sardenha e Córsega são anexadas ao domínio de Roma, e os cartagineses têm restringida a influência ao norte da África. 

A II Guerra Púnica (218 a.C.-201 a.C.) começa na Espanha, onde Cartago amplia seu poder para compensar a perda da Sicília. Comandadas por Aníbal, as tropas cartaginesas tomam Saguntum, cidade espanhola aliada de Roma: é a declaração de guerra. Com 50 mil homens, 9 mil cavalos e 37 elefantes, Aníbal atravessa os Pireneus e conquista cidades no norte da Itália. Durante essa campanha fica cego de um olho e perde metade dos homens. Mesmo assim chega às portas de Roma. A falta de reforços e o cerco de Cartago pelas forças romanas sob o comando de Cipião, o Africano (235 a.C.-183 a.C.) obrigam Aníbal a voltar para defendê-la. Vencido, refugia-se na Ásia Menor, onde se envenena para não ser preso pelos romanos. A paz custa caro aos cartagineses: entregam a Espanha e sua esquadra naval, comprometendo-se ainda a pagar por 50 anos pesada indenização de guerra a Roma. Com a vitória nesta guerra, estava dominado pelos romanos, o Mediterrâneo ocidental. Entre a II e a III Guerra Púnica, os romanos conquistaram algumas regiões na Europa oriental: Macedônia, Grécia, Ásia Menor e Síria.

A III Guerra Púnica tem início em 149 a.Ce vai até 146 a.C. É fomentada pelo persistente sucesso comercial dos cartagineses, apesar de sua diminuída importância política. A guerra teve como pretexto o conflito entre os Cartago e a Numídia, aliada de Roma. Roma destrói Cartago em 146 a.C. e vende 40 mil sobreviventes como escravos. A antiga potência fenícia é reduzida a província romana na África e os romanos passaram a dominar o Norte da África. O mar Mediterrâneo passaria então a ser o "Mare Nostrum". Quase todos os territórios em torno do Mediterrâneo estavam sob domínio romano, assim como a atividade comercial.

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César, Roma e as guerras Gálicas  

Introdução

Em 52 a.c., Júlio César lutou aquela que foi sua batalha decisiva na conquista da Gália, ao redor da cidade fortificada de Alésia. Após esta batalha, a maior parte da resistência gaulesa ao invasor romano cessou, persistindo somente alguma oposição esporádica e não organizada. A conquista da Gália por César alterou profundamente o mapa geopolítico de Roma, mudando o eixo da civilização romana do mediterrâneo para a Europa ocidental, e alterou de forma indelével o desenvolvimento cultural dos povos que ali viviam. Os gauleses eram os mais populosos e poderosos dentre as populações a que se convencionou chamar de Celtas.

Excelentes artesãos, ferreiros e armeiros, alguns deles estavam construindo prósperos núcleos urbanos, alfabetizando-se e organizando Estados bem estruturados quando César invadiu a Gália. Esta conquista por parte de Roma, longe de destruir esta vitalidade cultural, ao contrário, adicionou os elementos civilizatórios da poderosa cultura do mundo romano à "bárbara" visão celta do mundo, e moldou os primitivos contornos daquela que seria uma das maiores e mais brilhantes civilizações européias.

Mas por que tal batalha se revestiu de tanto significado? A importância da batalha de Alésia fica clara quando analisamos os números envolvidos. Do lado romano, sessenta ou setenta mil homens, entre romanos e seus aliados germanos. Do lado gaulês, entre setenta e oitenta mil homens cercados dentro da fortaleza de Alésia, mais duzentos e sessenta mil, provenientes de mais de sessenta tribos, atacando os romanos em duas frentes, numa incrível vantagem numérica de cinco para um. Em vista deste quadro, surge a questão inevitável: como conseguiu César obter uma vitória tão decisiva e esmagadora diante de tão grandes desvantagens? Durante muito tempo pensou-se que tais números não passavam de uma fantasia criada pelo próprio César, destinada a engrandecer os feitos militares de suas legiões com o intuito de reforçar sua já sólida reputação como comandante militar e pavimentar seu caminho rumo ao controle da política romana. Entretanto, pesquisas e análises recentes, incluindo escavações arqueológicas realizadas no sítio da batalha, revelam que os números fornecidos por César em sua obra De Bello Gallico foram surpreendentemente exatos.  

A guerra na Gália

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A partir de meados do ano 100, Roma começa a sofrer um período de grande turbulência política e social que só terminará com a nomeação de César para ditador. Nesta época Roma era governada por Mário, eleito cônsul pela sexta vez consecutiva. Em 88, Mário foi derrubado por Sila, que se torna cônsul. Sila deixa Roma no comando de uma expedição contra Mitridates IV, quando Mário aproveita sua ausência para voltar a Roma e reassumir o governo, sendo eleito cônsul pela sétima vez. Contudo, Mário morre logo em seguida, em 86. A partir daí, o governo passa para as mãos dos populares, provocando uma violenta reação da aristocracia e um caos político que durou 4 anos. Em 83, Sila retorna de sua campanha na Ásia Menor e reassume o governo, fazendo-se nomear ditador pelo senado, por tempo indeterminado, iniciando um período de terror em que eliminou um grande número de adversários, particularmente entre os populares. Segundo Plutarco, César só escapou de ser proscrito e executado devido à sua juventude e ao fato de sua família não gozar de expressividade nos meios políticos. César, nesta época com 19 anos, entra para o exército como soldado de cavalaria, e é designado para um posto na Anatólia ocidental. Como era filho de senador, foi designado para uma missão importante na Bitínia, onde recebeu a incumbência de conseguir uma esquadra junto ao rei Nicomedes IV para auxiliar a campanha contra Mitridates.

Durante a conquista da cidade de Mitilene, entrou em combate pela primeira vez e ganhou a coroa cívica, aparentemente ao salvar a vida de um companheiro de armas. Sila permaneceu no poder por apenas quatro anos, e seu maior projeto foi o restabelecimento da república, com o fortalecimento da oligarquia senatorial. Após a morte de Sila, em 78, César retorna à Roma, onde permanece até 75, quando parte para Rhodes para estudar retórica com Apolônio Mólon, que havia sido professor de Cícero. Durante o trajeto, é

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capturado por piratas, que posteriormente derrota e crucifica. Quando eclode nova guerra no oriente, durante a terceira campanha de Mitridates contra as tropas romanas, César deixa Rhodes e, agindo sem ordens oficiais de Roma, monta um exército por conta própria, e acaba e por unir-se às forças oficialmente designadas para conter a agressão.

A partir daí aparecem em cena as figuras de Pompeu e Crasso, que passam a dominar a cena política romana. Retornando a Roma, César começa a pavimentar seu caminho para o poder. Em 73, torna-se membro do corpo de sacerdotes. Em 69, serve como questor na Espanha. Nesta época, começa a fazer elogios à Mário, o que gera descontentamento na aristocracia que passa a vê-lo como um perigo ao seu poder. Em 67, casa-se com Pompéia para obter fundos para manter-se no cargo de questor. Retorna a Roma em 65, quando torna-se edil das obras públicas e passa a gastar grandes quantias (com fundos provenientes da fortuna de Crasso) nos divertimentos públicos, o que lhe angariou a simpatia do povo. Através da popularidade conquistada, elege-se Pontifex Maximus em 63.

A seguir, em 62, é eleito pretor. Retorna à Espanha, onde obtém grandes triunfos militares sobre rebeldes, o que lhe vale um triunfo votado pelo senado. Porém, César percebe que o triunfo era apenas uma manobra política para impedi-lo de alcançar o consulado, já que por lei o triumphator deveria permanecer fora dos muros de Roma até o dia do triunfo, que ocorreria somente após as eleições. Contornando esta restrição, César antecipa a data do triunfo. Entretanto, todo este cuidado revela-se inútil, e César não obtém o desejado cargo de cônsul devido a manobras do senado. Consegue, no entanto, o cargo de governador da Espanha.

Em 60, César retorna à Roma, e aproveitando o descontentamento de Pompeu com o comportamento do senado, que lhe negou a recompensa devida aos soldados de seu exército vitorioso e não ratificou seus tratados, assim como a de Crasso, que apesar de sua riqueza não obteve a permissão de montar um exército para sua glória pessoal, monta com estes dois uma coalizão que virá a ser conhecida como primeiro triunvirato, com o objetivo de

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satisfazer as ambições de seus dois aliados e finalmente alcançar para si mesmo o tão almejado consulado, o que consegue em 59. Após o seu consulado, César foi nomeado procônsul das Gálias e da Ilíria, em 58.

Logo após assumir o governo da Gália, César teve de enfrentar uma massiva migração de helvécios, que fugindo dos bárbaros germânicos, saíram da região de Geneva em direção ao sul da Gália. César enfrentou-os em Bribacte, derrotando-os por pequena margem. Na mesma época, teve de combater também as forças do chefe germânico Ariovisto, que venceu numa batalha perto de Osthein, a leste do Reno. Sua vitória contra os helvécios e os germânicos valeu-lhe a gratidão dos gauleses, o que fez com que César considerasse a libertação da Gália como a conquista da região, passando a organizá-la imediatamente sob a autoridade romana, sob o pretexto de que só assim poderia defendê-la de novos ataques germânicos. Tal atitude não foi bem recebida pelos gauleses, que temendo perder sua autonomia rebelaram-se, pedindo inclusive a ajuda de várias tribos belgas. César derrotou todas as tentativas de rebelião, e em 56, o senado romano declarou a Gália como província romana.

Em 55, César traça um plano com Pompeu e Crasso na cidade de Luca para que os mesmos disputassem o senado naquele ano. Ficou estabelecido que Pompeu seria governador da Espanha; Crasso, o da Síria, e que César teria seu mandato como governador da Gália renovado por mais cinco anos. Com a situação mais ou menos estabilizada, César pôde voltar-se novamente para os problemas na Gália, que sofria novas invasões germânicas. César derrotou os invasores e perseguiu-os até o Reno. Seus engenheiros construíram uma ponte sobre o rio e César cruzou-o e promoveu um massacre indiscriminado, matando inclusive mulheres e crianças, num número estimado de 370.000 mortes, para servir como exemplo às outras tribos germânicas. O massacre foi tão expressivo que gerou protestos até mesmo em Roma, fazendo com que os senadores qualificassem César com os epítetos de "bárbaro" e "desumano". Catão chegou a pedir que o conquistador fosse entregue aos germanos para expiar seus excessos, sob pena de toda a Roma incorrer na ira dos deuses. Nesta mesma época, César invade a Bretanha com uma pequena força, mas não estabelece uma base firme na ilha.

Em 52, quando César estava aquartelado com uma pequena força no norte da Itália, foi surpreendido por uma sublevação em larga escala na Gália, comandada por Vercingetórix. Com as forças gaulesas entre ele e o grosso de seu exército, estacionado no norte da Gália, César transfere o comando para Bruto e arrisca tudo numa corrida temerária através da região sublevada até alcançar seu exército, e inicia imediatamente a reação, sitiando, capturando e saqueando várias cidades, matando a população e abastecendo-se com a pilhagem. Sua sorte mudou em Gergóvia, quando, derrotado, foi obrigado a recuar, perdendo o apoio de várias tribos, entre elas a dos Éduos, que atraiçoando-o, tomaram-lhe várias bases e preparam-se para expulsá-lo da Gália Narbonense. Acuado, César decide arriscar tudo num ataque à Alésia, quartel-general de Vercingetórix, onde havia aproximadamente oitenta mil guerreiros gauleses.

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Logo após cercar a cidade com um número aproximado de setenta mil soldados, soube que uma força gaulesa de reforço, com um número atualmente estimado em duzentos e sessenta mil homens, dirigia-se para Alésia para socorrer Vercingetórix. César ordenou a construção de duas barreiras concêntricas em torno da cidade, compostas de vários tipos de fortificações e armadilhas, numa obra de engenharia colossal, e dispôs suas forças entre elas. As forças gaulesas atiraram-se várias vezes contra as muralhas, dos dois lados, inutilmente.

Após quatro batalhas, o exército de socorro desorganizou-se e dispersou-se, e justamente quando os suprimentos do exército de César chegavam ao fim, Alésia rendeu-se, castigada pela fome. Vercingetórix entregou-se a César, foi aprisionado e levado para Roma, onde foi exibido por César em triunfo, morrendo após seis anos como prisioneiro dos romanos. A conquista da Gália acrescentou ao império romano uma região duas vezes maior que a própria Itália. Salvou Roma das invasões bárbaras por quatro séculos, e elevou César a um degrau inimaginável de prestígio e poder.

Em 53, com a morte de Crasso, o equilíbrio que mantinha o triunvirato extinguiu-se, provocando a luta pelo poder entre Pompeu e César. Os laços que os uniam foram ainda mais enfraquecidos pela morte da esposa de Pompeu, Júlia, filha de César. A partir daí, a luta pelo poder entre os dois não mais parou até a morte de Pompeu. O mandato de César como comandante expirava em 49, e como César não podia voltar a Roma com suas tropas e nem se candidatar a cônsul antes da expiração do mandato, teria de desmobilizar as suas tropas para poder concorrer ao cargo. Sabendo que sem suas tropas sua carreira e mesmo sua vida não teriam bom termo, César desobedece a ordem de desmobilização e desafia o senado, atravessando o Rubicão em 10 de janeiro com uma de suas legiões. Prossegue em sua marcha para Roma, enfrentando pouca ou nenhuma resistência, e conseguindo, ao longo do caminho, mobilizar mais algumas legiões.

Assustado com a adesão de quase todas as cidades à causa de César, Pompeu desiste da luta e foge de Roma, na esperança de reorganizar suas forças e, através de um bloqueio naval, forçar César à rendição. César entra na cidade desarmada em 16 de março. É nomeado ditador, título que rejeita após ser nomeado cônsul para o período de 48. Persegue Pompeu até a Grécia, onde derrota suas forças em 9 de agosto de 48, em Farsália. César então persegue-o até o Egito, para impedir que se juntasse às forças de Catão. Entretanto, ao chegar a Alexandria, é presenteado com a cabeça de seu adversário, o que lhe provoca profunda repulsa e desgosto.  

César permanece algum tempo no Egito, onde se envolve com Cleópatra. Em 45, derrota os últimos partidários de Pompeu em Munda, e é declarado ditador perpétuo. O grande prestígio de César, o enorme acúmulo de títulos e cargos, e o seu envolvimento com a rainha do Egito, fez com que a aristocracia romana temesse que César se autoproclamasse Imperador, apesar de todas as recusas do mesmo em aceitar semelhante título (não confundir com o título de imperator, ou comandante de tropas). Sua tradicional aversão à monarquia acabou por levar a uma conspiração e ao assassinato de César em 44.

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Fonte deste texto sobre a campanha de César na Gália: Amiraldo Martiniano de Gusmão Júnior e Fernando Gelati  

Os Bárbaros

Para os romanos “bárbaro” (do grego bárbaroi = estrangeiro) era todo aquele que vivia além das fronteiras do Império Romano e, portanto, não possuía a cultura romana. Os povos bárbaros, gemanos, ocupavam as regiões da Germânia, que eram fronteiriças ao Império Romano e se subdividiam em vários povos: borgundios, suevos, juos, alanos, vândalos, francos, saxões, anglos, lombardos, visigodos, godos entre outros. Nos séculos IV e V os principais povos bárbaros se deslocaram em direção ao Império Romano, empurrados pelos Hunos, povo de índole guerreira, que vinham do oriente, levando pânico e destruição aonde chegavam. Esse processo acabou por precipitar a fragmentação do império, já decadente devido a crise do escravismo e a anarquia militar.

Os primeiros contatos dos germanos com os romanos ocorreram na época de Júlio César (séc. I a.C.). Nessa ocasião, as tribos germânicas viviam em aldeias rudimentares, praticando uma economia comunal baseada na

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agricultura, na pecuária e nas pilhagens. Quando as terras se esgotavam, partiam à procura de outras. As áreas cultiváveis e os bosques eram de uso comum aos habitantes das aldeias. Apenas os rebanhos permaneciam como propriedade particular, constituindo-se na principal riqueza dos guerreiros. 

A partir de fins do século IV, pressionados pelos hunos, povo nômade vindo da Ásia Central, as tribos germânicas migraram em massa e de uma forma não pacífica para o interior do Império Romano do Ocidente. Suevos, alanos, borgúndios, francos, vândalos, visigodos penetraram, saquearam e ocuparam a Gália, a Península Ibérica, a África e a Itália. Anglos, saxões e jutos tomaram a Bretanha. Para defenderem Roma dos sucessivos ataques de determinadas tribos, os Imperadores recorriam ao auxílio de outros chefes bárbaros, ficando à sua mercê. As invasões germânicas trouxeram desordem, destruição, fome e pilhagem ao já decadente Império Romano, precipitando sua desintegração, no final do século V.

A base da organização social das tribos era a “sipe”, espécie de clã formada por famílias ligadas por laços de parentesco. Seus membros protegiam-se mutuamente e a ofensa a um deles atingia toda a sipe, que praticava a vingança coletiva. Na guerra, o exército era recrutado entre os homens da tribo, maiores de 16 anos.  

Os germanos não conheciam cidades nem Estado. Sua mais importante instituição política era a Assembléia dos Guerreiros da tribo, que decidia sobre a guerra, a paz, a libertação dos escravos e escolhia o rei, com função religiosa e militar. Os principais chefes desenvolveram os costume de manter uma “escolta” ou “séqüito” de guerreiros, ligados ao líder por um juramento de fidelidade. Em caso de ataques e lutas, eram recompensados como produto das pilhagens, dando origem a uma nobreza possuidora de terras e escravos.

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No governo de Diocleciano(284/305), soldados germanos passaram a ser regularmente recrutados para servir nas legiões do Império. As autoridades imperiais procuravam rodear as fronteiras de chefes bárbaros aliados, que mantinham a independência, os usos e os costumes, mas defendiam os interesses romanos diante do mundo germânico e eram recompensados com dinheiro e terras.  

Por volta do século IV, a Assembléia dos Guerreiros praticamente desaparecera entre os bárbaros, substituída por um Conselho de Nobres. O contato cada vez maior com o Império levara-os a assimilar bastante a vida econômica, a hierarquia social, a disciplina militar e a religião dos romanos (muitos bárbaros haviam se convertido ao Arianismo, ramo do Cristianismo considerado herético pelo Concílio de Nicéia, realizado em 325). Mesmo assim, suas comunidades ainda eram bem rudimentares e quase todas desconheciam a escrita.  

Reinos bárbaros

FRANCOS – Formam o mais poderoso reino romano-germânico da Europa Ocidental. Ocupam a planície norte do rio Reno até o século IV. Conquistam a Gália e instituem, em 482, a dinastia merovíngia. Clóvis I, o principal rei dessa dinastia, governa entre 482 e 511 e consolida as fronteiras do reino. Converte-se ao cristianismo, em 497, e inaugura uma aliança com a Igreja. Em 751, Pepino, o Breve funda a dinastia carolíngia. Seu filho, Carlos Magno, se torna rei dos francos em 768 e começa a expansão do Império. É coroado imperador pelo papa, em 800, em uma tentativa de restaurar o Império Romano do Ocidente. Após sua morte, o Império se enfraquece e, em 843, é repartido. A divisão prolonga-se até 987, quando Hugo Capeto é coroado rei da França. 

VÂNDALOS – Em 406, os vândalos chegam à Eslováquia e à Transilvânia (Romênia). Atravessam a Gália e alcançam a Hispânia em 409. Conquistam Cartago em 439. Constituem, em 442, o primeiro reino germânico em território romano ocidental. Conhecidos pelas pilhagens, dominam o Mediterrâneo e invadem Roma em 455. Estabelecem um reino no norte da África, em Cartago. Em 534 a cidade é destruída pelo Império Bizantino. 

VISIGODOS – De origem germânica, instalam-se às margens do mar Báltico. Migram para a região do rio Danúbio, em 376, e realizam incursões de pilhagem nos Bálcãs e no Peloponeso. Em 410 saqueiam Roma e posteriormente fundam Toulouse (França), em 419. Tentam conquistar a Gália, lutando contra os francos, a partir de 507. 

OSTROGODOS – Avançam para o oriente da Europa e criam, em 200, um reino próximo ao mar Negro, que é destruído pelos hunos em 375. Conseguem reagrupar-se e constroem um reino

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na Itália em 493. Enfrentam o Império Bizantino até 552, quando são vencidos. 

LOMBARDOS – Migram da Escandinávia para a região do Danúbio, onde formam o primeiro reino. O segundo situa-se na península Itálica, em 568. Em 751 vencem o poder bizantino na Itália central. Em 773 rendem-se aos francos. 

ANGLO-SAXÕES – Baseiam-se nas ilhas Britânicas, em 450, sete reinos romano-germânicos, unificados em 959 diante da ameaça dos vikings. Mas não resistem à invasão, e a Inglaterra torna-se sede do Império Viking. 

VIKINGS – Também chamados de normandos, estabelecem em 900 os reinos da Dinamarca, Noruega e Suécia No século X expandem-se pelo litoral norte dos reinos francos, pela península Ibérica, pelas ilhas Britânicas, pelo Mediterrâneo e pelos territórios eslavos e bálticos. Utilizam um tipo de embarcação que permite navegar em alto-mar. Em 982 alcançam a Groenlândia. 

ESLAVOS – Os reinos eslavos são formados por povos da Rússia Ocidental que, a partir do século VII, se deslocam para o oeste, ocupando as terras a leste do rio Elba, estendendo-se até os Bálcãs. Dividem-se em três grupos: o reino russo, o polonês – hegemônico entre os eslavos e aliado dos germanos – e o búlgaro. 

HUNOS – Originários da Ásia, estão entre os mais importantes reinos tártaro-mongóis. Estabelecem-se na região do Turcomenistão antes da era cristã. Chegam à costa do mar Negro em 375. Destroem o reino ostrogodo e submetem os povos germânicos. Em 441, Átila torna-se chefe supremo, incorpora os romanos a seus exércitos, avança contra Bizâncio e invade a Gália. Após sua morte, em 453, os hunos são aniquilados pelos germanos.

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Reorganização

Como já foi falado a composição, organização e estrutura das legiões romanas tiveram muitas mudanças e adaptações durante o longo período que vai desde a Monarquia (cerca do século VIII a.C.), passando pela República até o fim do Império, tanto o Ocidental (476) como o Oriental (1452).

Mudaram as armas, as táticas e até os componentes e comando, mas a disciplina tática e de treinamento eram a regra geral. Este fato dava uma força coletiva aos seus efetivos que era multiplicada pelo seu número, dando superioridade no campo de batalha, resultando em grande eficiência.

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O século III, é a fase do exército romano em que o equipamento e o treinamento alcançaram o maior desenvolvimento e eficiência. Neste século Roma consegue restabelecer as suas fronteiras a custa de muitas campanhas e várias improvisações.

Roma tem que se adaptar para enfrentar os povos da fronteira oriental, que tinham assimilado em grau diferente o uso da Cavalaria, quando se chocaram contra os Sármatas e Hunos. Roma abandonou o antigo conceito de defesa estática na fronteira e cria um Exército mais movível, onde a Cavalaria tinha maior peso, dotando-a esta mesmo de um comando único.

Diocleciano e o seu sucessor, Constantino, reorganizam o Exército romano. Uma parte do Exército romano (limitanei) se encarregaram da defesa da fronteira. Outra parte foi organizada por regiões (comitatenses - ou exércitos móveis) para poder intervir onde surgisse algum conflito. Também se criou um reserva central (palatini). As legiões reformadas passaram de 4.500 a 1.000 homens. A Cavalaria se reagrupou  em unidades maiores, com unidades de Cavalaria pesada (usando armaduras) e muitas unidades de Cavalaria ligeira.

A partir do século IV a infantaria foi sendo relegada cada vez mais à segundo plano. As tropas de infantaria estavam destinadas quase que exclusivamente à unidades estacionadas nas fronteiras do império. Existiam forças da Infantaria que ficavam juntas as forças móveis e ágeis da Cavalaria, essas unidades de Infantaria eram chamadas de legiones palatinae.

O exército de campanha ou móvel (ou comitatenses), em oposição ao de fronteira, também tinha algumas coortes de auxiliares, as auxilia palatina. Os cavaleiros romanos nos exércitos móveis usavam como armamento ofensivo

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uma lança longa e uma espada, que era levada à cintura. Seu armamento defensivo é constituído por um escudo redondo de tamanho médio, armadura de escamas metálicas e um capacete também de metal. Os romanos já usavam cavaleiros em suas legiões a muito tempo, César as usou e Vespasiano alistou Sármatas em suas tropas em 69 d.C, mas a Cavalaria se tornou uma força generalizada com Aureliano em 275 d.C.

O infante romano tinha como defesa um escudo que podia ser o retangular ou os ovais planos que passaram a ser mais comuns em épocas mais tardias. A armadura era de metal e cobria o tórax e um capacete metálico completavam o armamento defensivo do legionário. Esta configuração perdurou por muito tempo com algumas pequenas modificações, sempre para reduzir o peso e o custo. Durante o Baixo Império, a Cavalaria romana era melhor armada e adestrada do que a infantaria. No século V d. Cavalaria se tornou a arma predominante no Império Romano.

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Lista das Legiões Romanas

Estas são as principais legiões do Império romano; no início as legiões não eram organizações nomeadas permanentes. Os comentários somados incluem duração, causa do desaparecimento (se pertinente) e o seu criador.

Legio I - referida como a "I Germanica" – 48 a.C. até 70 d.C.(rebelião Bataviana)- Julius Caesar Legio I Adiutrix - 68 d.C até 444 d.C Legio I Italica - 22 de setembro de 66 d.C até o século V - Nero Legio I Macriana liberatrix – 68 até 69 d.C.,  - Lucius Clodius Macer, Governador da Africa Legio I Minervia - 82 d.C. até o século IV - Domiciano. Legio I Parthica - 197 d.C. até o século VI - Septimius Severus Legio II Adiutrix pia fidelis - 70 d.C. até o século III - Vespasiano Legio II Augusta - Década de 30 a.C. Legio II Italica - 165 d.C. até o se´culo V - Marcus Aurelius Legio II Parthica – 197 d.C. até o século IV - Lucius Septimius Severus Legio II Traiana fortis - 105 d.C. até o século V - Trajano Legio III Augusta - 43 a.C. até o século V - Augustus Legio III Cyrenaica - 36 a.C. até o século V - Marcus Antonius Legio III Gallica - 49 a.C. até o século IV - Julius Caesar Legio III Italica - 49 a.C. até o século IV - Marcus Aurelius Legio III Parthica - 197 d.C. até o século V - Lucius Septimius Severus Legio IV Flavia firma - Veja Legio IV Macedonica Legio IV Macedonica - 48 a.C até 70 a.C (desbaratada por Vespasiano) - Julius Caesar Legio IV Scythica - 42 a.C. até o século V - Marcus Antonius Legio V Alaudae, 52 a.C até 70 d.C (destruída na rebelião Bataviana) - Julius Caesar Legio V Macedonica Legio VI Ferrata Legio VI Victrix

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Legio VII Legio VII Gemina Legio VIII Augusta, 59 a.C até o século IV - Caesar Legio IX Hispana - 58 a.C até 160 d.C - provavelmente Julius Caesar Legio X Equestris – 58 a.C até o século V - Julius Caesar Legio X Fretensis Legio X Gemina - 58 a.C. até o século V - Julius Caesar Legio XI - Octavian Legio XII Fulminata - Caesar Legio XIII Gemina - 57 a.C. até o século V - Julius Caesar Legio XIV Gemina - Octavian Legio XV Apollinaris - Octavian Legio XV Primigenia - 39 d.C. até to 70 d.C. (destruída na rebelião Bataviana) - Caligula Legio XVI - Octavian Legio XVI Flavia Firma Legio XVII - 41 a.C até 9 d.C. – destruída na batalha da floresta de Teutonburg - Augustus Legio XVIII - 41 a.C até 9 d.C. – destruída na batalha da floresta de Teutonburg - Augustus Legio XIX - 41 ou 40 a.C. até 9 d.C. – destruída na batalha da floresta de Teutonburg - Augustus Legio XX Valeria Victrix – 25 d.C. até o século III - Augustus Legio XXI Rapax - 31a.C. até 92 d.C (destruída em Pannonia) - Augustus Legio XXII Deotariana - 48 a.C. até 133 d.C. (destruída pela rebelião judaica) - Deiotarius Legio XXII Primigenia - 39 d.C até o século III - Caligula Legio XXX Ulpia Victrix - 105 d.C. até o século V - Trajano

 

 

A HERANÇA MILITAR ROMANA AINDA VIVE

“O acampamento das forças de ocupação fervilha de atividade. Os informes de Inteligência indicando uma iminente incursão por parte das forças inimigas foram confirmados pela descoberta dos restos mutilados de uma patrulha de reconhecimento dada como desaparecida. A unidade que fez o achado procedeu a uma busca de casa em casa numa localidade próxima, usando de força excessiva no trato com a população local, suspeita de dar abrigo aos atacantes. As queixas das autoridades nativas levaram o Comando a indiciar em corte marcial os responsáveis pelo ato, que aguardam detidos o desenrolar do processo. Ninguém quer que a situação se complique ainda mais com uma revolta popular. Engenheiros de combate reforçam as defesas externas do campo com trincheiras e armadilhas. Armas de apoio foram distribuídas ao longo do perímetro e os turnos de sentinela, reforçados. No interior do acampamento, ao cair da tarde, os homens se preparam para recolher-se a

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suas barracas, aproveitando as últimas horas do dia para efetuar a manutenção das armas, enquanto trocam piadas e estórias. Veteranos de campanhas pelos quatro cantos do mundo conhecido recordam e aumentam suas façanhas, conseguindo a admiração boquiaberta dos recrutas. Dois grisalhos combatentes conversam animadamente sobre seus planos para aposentadoria, um deles já tendo dado entrada na burocracia necessária. Ambos debatem acaloradamente o valor das pensões e outros benefícios, sendo discretamente observados por um recruta de aparência estrangeira. Este recebeu sua cidadania condicionada ao serviço militar e vê, no recrutamento, uma porta de acesso ás bênçãos da maior nação de todos os tempos. No crepúsculo, enquanto as sombras tomam conta do mundo, uma patrulha de reconhecimento retorna. Seu comandante dirige-se ao QG, no centro da guarnição, para reportar suas observações, enquanto os soldados se apressam em busca de uma refeição quente para encerrar o dia. Dois jovens oficiais conversam animadamente sobre as últimas novidades da produção cultural e da moda lá no centro do mundo. Receberam notícias frescas pelo último correio, juntamente com cartas melosas de suas noivas. Privadamente ambos já se confessaram a intenção de usar a carreira militar como trampolim para uma futura carreira política, ajudados por contatos familiares. Nas trevas, nativos furtivos procuram os oficiais de inteligência, para efetuar seus informes e receber a paga de sua lealdade“.

As cenas acima, que poderiam ser uma descrição do que se passou no Iraque ocupado sob as forças americanas este ano, são uma reconstituição mais do que provável de eventos ocorridos em Inchtuhill, guarnição romana anexa á linha de defesa norte da Inglaterra romana contra incursões dos bárbaros pictos e escotos das Terras Altas no fim do primeiro século depois de Cristo. Inchtuhill, a Pinatta Castra dos romanos,é o exemplar mais completo já achado de um acampamento militar romano. E através dele, vemos que muito do que hoje faz parte do dia-a-dia militar pode ter suas raízes traçadas até os dias das Legiões.

Até os cabelos - Todos os anos milhões de jovens ao redor do mundo ingressam na vida militar, como voluntários ou conscritos, servindo a todo tipo de regime e continuando as mais diversas tradições militares. Porém, uma coisa todos têm em comum: o ritual de cortar os cabelos, significando o abandono de sua individualidade e a adesão a algo maior que eles mesmos. O que nenhum deles imagina é que esse ritual remonta aos romanos e tinha razão prática: o corte raspado, curto impedia que o inimigo agarrasse pelos cabelos no combate corpo-a-corpo.

Disciplina de campo - Se a sua tropa fosse dizimada, como é que você ficaria? Na verdade, ficaria com 90% dela ainda... A decimatio era uma punição extrema aplicada contra unidades inteiras, geralmente por motim ou covardia diante do inimigo. Consistia na execução de 1 em cada 10 soldados da tropa, escolhidos por sorteio. A execução era levada a cabo pelos outros 9 legionários, usando as estacas das barracas. Morte a pauladas...

Reconhecimento e inteligência - Oficiais de inteligência eram conhecidos como speculatores. Dominavam a língua e os costumes dos países ocupados,

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e ocasionalmente trabalhavam sob disfarce. Batedores especialmente treinados, geralmente agindo em patrulhas de reconhecimento a cavalo, eram chamados exploratores.

Armas - Scorpio, a “ponto-cinquenta” romana - Similar a uma besta medieval ampliada, o Scorpio (escorpião) disparava flechas de ponta de ferro de 70 cm ou balas de chumbo. Era usada do mesmo modo que as metralhadoras atuais, para fogo de apoio e supressão. Seu alcance chegava a 370 metros e podia ser operada por um ou dois homens. Algumas eram equipadas com um carregador de flechas, sendo capazes de tiro rápido. Era uma arma de trajetória tensa, rápida, precisa e mortal. César conta que no cerco de Avaricum uma delas caçou homem após homem dentre os defensores das muralhas gaulesas.

Serviço militar e cidadania - A Espanha iniciou, em 2003, um programa de atração de imigrantes, onde oferecia a seus descendentes na América Latina a cidadania plena, condicionada à prestação do serviço militar. Na verdade, nada de novo. Nas legiões romanas, as tropas auxiliares estrangeiras também recebiam a cidadania depois de prestado o período de serviço militar (25 anos).A cidadania romana, com todos os seus benefícios (isenção de impostos, status legal diferenciado, participação nas distribuições de mantimentos estatais, etc.) era extensiva a toda a família do agraciado e era concedida por meio de um diploma emitido pelo Imperador. Exemplares desses diplomae são freqüentemente encontrados em escavações de ruínas romanas. O corpo principal da Legião era formado exclusivamente por cidadãos romanos, devendo ser a cidadania comprovada no ato do alistamento.

Pagamento e aposentadoria - O pagamento de um legionário era de 225 denarii (cerca de 50 dólares) anuais, pagos em 3 vencimentos. Era mais que um trabalhador romano ganhava na época e o poder aquisitivo do dinheiro era maior naquele tempo. Centuriões recebiam 3 vezes essa quantia e as tropas auxiliares estrangeiras, cerca da metade. Do pagamento do legionário eram descontados alimentação, roupas e equipamento. Apesar disso, os preços eram baixos e o legionário poderia, se quisesse, guardar boa parte de seus ganhos depositando-os num banco militar. Na época do Império, essa poupança era compulsória. Saque e despojos (praeda), basicamente escravos, aumentavam a remuneração. No ato da aposentadoria por tempo de serviço (honesta missio) o legionário recebia como provisão para a velhice um lote de terra e uma pensão, que na época do Império chegava a 3.000 denarii. Os soldados também eram aposentados por invalidez física (missio causaria), por razões governamentais (missio gratiosa) e por despensa desonrosa (missio ignomiosa). Colônias de veteranos aposentados eram formadas nos territórios conquistados, como postos avançados do Império. Algumas delas foram a origem de grandes cidades existentes até hoje como Colônia, na Alemanha (Colônia Augusta, fundada pelo Imperador Augusto).

A mula de Mário - Quando em marcha, o legionário carregava seu equipamento individual, o que incluía rações para um período de 3 (o mais comum) até 15 ou 20 dias. Também carregava ferramentas (serra, picareta, pá e foice), uma cesta, roupas extras, utensílios de cozinha, panela e copo. De

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acordo com a quantidade de rações, o peso carregado oscilava entre 15 e 35 quilos, o mesmo peso das mochilas militares modernas. Para facilitar o carregamento da sarcinae, como a tralha do soldado era chamada, tudo era arrumado num embrulho compacto, e levado na ponta de uma vara com forquilha levada ao ombro, chamada pelo nome de seu inventor, a Mula de Mário (muli Mariani). Antes da batalha, os embrulhos eram arrumados juntos, sob guarda. Levando sua carga, o soldado estava em regime de marcha pesada, impeditus. Sem ela, o regime era de marcha ligeira, expeditus. Sob chuva pesada, os escudos eram levados no alto da cabeça do legionário.

Rações e provisões - Trigo sobre a forma de farinha (cibaria) ou grão (frumenta) era a comida básica do legionário, aproximadamente 1kg por dia. Era entregue individualmente para o período de duas a três semanas. A moagem do grão e preparação da comida era feita pelos próprios legionários ou por alguém contratado pelos mesmos. Outros alimentos eram conseguidos por troca ou coleta de campo. Junto com as rações de reserva era carregado por mulas um pequeno moinho manual, onde cada legionário podia moer sua ração de grão. A cozinha era simples: a farinha era misturada com água e cozida na forma de mingau (o puls, de onde provavelmente vem a palavra polenta) ou assada na forma de pão ázimo (sem fermento). Vinho azedo (posca) era a bebida mais comum. Lembra quando o soldado romano dá uma esponja com vinagre pra Jesus crucificado? Pois é, não era maldade. Os legionários bebiam vinagre mesmo...

Treinamento constante - Em tempos de paz ou durante o inverno, instrução constante era levada a cabo, tanto a disciplina de marcha quanto o treinamento com armas. Manobras eram uma parte regular do treinamento e três vezes por mês uma marcha de no mínimo 16 quilômetros era executada. O nível de adestramento requerido dos cavalarianos também era alto. Como entre nós, exercícios e ginástica mantinham os homens em boa condição física e eles eram constantemente endurecidos pelo uso da pá, picareta e enxada, em tarefas constantes de construção e engenharia. Sob o Império, as tropas eram usadas na execução de obras públicas: canais, estradas, pontes, anfiteatros e etc.

Esta versatilidade de treinamento controlada por rígida disciplina se mantém perfeitamente adequada até hoje, na Era Atômica. E, por incrível que pareça, a guerra naqueles tempos era relativamente mais mortífera que nos dias de hoje. Na batalha de Dyrrachium nenhum dos soldados de César deixou a batalha sem ferimentos! Nenhuma lista de baixas produzidas em batalhas modernas entre as assim chamadas nações civilizadas se compara a isso.

“As grandes contribuições de Roma para a ciência militar foram a organização, disciplina, atenção aos detalhes, preparação antecipada e a percepção que as batalhas podem ser ganhas antes mesmo de serem lutadas”McCartney