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ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
LEI GERAL DO TURISMO: FUNDAMENTOS LEGAIS PARA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS TURÍSTICOS
Celso Caciano Brito1 Aguinaldo Cesar Fratucci2
1 INTRODUÇÃO
Desde setembro de 2008, o exercício das atividades turísticas em âmbito
nacional passou ser regulado, essencialmente pela Lei nº 11.771, conhecida como Lei
Geral do Turismo (LGT). Até então, a legislação federal equivalente, que dispunha
sobre as atividades e serviços turísticos, era a Lei nº 6.505 de 1977, revogada pela LGT.
Esse hiato de mais de três décadas, sem a revisão da principal legislação do setor,
configurou um descompasso entre as demandas da atividade e a sua regulamentação,
gerando um cenário de insegurança jurídica. São os fundamentos legais estabelecidos
pela LGT sobre a prestação de serviços turístico que este trabalho se propõe a abordar,
buscando discutir os avanços e retrocessos desse novo dispositivo legal, e
principalmente, contribuir para a sua difusão e entendimento, como instrumento
importante no desenvolvimento da atividade turística brasileira.
2 A LEI GERAL DO TURISMO
A LGT, além de específica e atual, é também a primeira legislação do turismo
que procura disciplinar a matéria de forma abrangente (Araújo, 2012). A princípio, ela
trouxe maior segurança jurídica para o exercício da atividade e contribuiu para
consolidar o turismo como setor estratégico no desenvolvimento econômico e social
do país; dado que qualquer atividade econômica precisa de uma base regulamentar
sólida para se desenvolver. Portanto, não resta dúvida, que “a consolidação de um
ambiente ideal para o desenvolvimento da atividade turística de forma plena demanda
o aperfeiçoamento da regulamentação da atividade” (BRASIL, 2007, EMI nº 06/07).
Para o Ministério do Turismo (MTur) a definição de marcos regulatórios é o que
1 Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Especialista em
Gestão de Empreendimentos Turísticos pela Universidade Federal Fluminense. Contato: [email protected] 2 Doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense. Coordenador do Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Turismo da UFF. Contato: [email protected]
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garante a continuidade e o fortalecimento da Política Nacional do Turismo (BRASIL,
2007, EMI nº 06/07).
Como mencionado, a LGT é uma lei abrangente, que não trata apenas da
regulamentação da prestação de serviços turísticos. Ela também define a Política
Nacional de Turismo e as atribuições do Governo Federal, no planejamento,
desenvolvimento e estímulo ao setor. Trata ainda do fomento à atividade turística,
tendo como principal fonte de recursos o Fundo Geral do Turismo (FUNGETUR), e
propõe a compatibilização da execução da Política Nacional de Turismo com as demais
políticas públicas, por meio do Comitê Interministerial de Facilitação Turística (CIFat),
criado pela lei. No entanto, para o recorte aqui proposto, interessa abordar a
regulamentação da prestação dos serviços turísticos.
3 OS PRESTADORES DE SERVIÇOS TURÍSTICOS: DEFINIÇÕES, DIREITOS E DEVERES
Os prestadores de serviços turísticos são definidos na LGT como “as
sociedades empresariais, as sociedades simples, os empresários individuais e os
serviços sociais autônomos que prestem serviços remunerados” (BRASIL, 2008, Art.
21º), e que exercem uma das seguintes atividades econômicas: meios de hospedagem,
agência de turismo, transportadoras turísticas, organizadores de eventos, parques
temáticos e acampamentos turísticos. Essas são as atividades com cadastro obrigatório
junto ao MTur. A lei estabelece ainda o cadastro facultativo para outros prestadores
de serviços, tais como restaurantes, bares, centros de convenções, parques temáticos
aquáticos, etc. Autores, como Ferraz (2008), criticam esse fato, entendendo que não
cabe a uma lei facultar ou recomendar e sim determinar.
A definição de meios de hospedagem passou a independer da forma de
constituição do empreendimento, se caracterizando essencialmente pela atividade de
prestação de serviços de alojamento temporário. Como bem observa Lenhart e
Cavalhero (2008), essa definição contribui para um melhor enquadramento legal dos
apart-hotéis, flats e similares como meios de hospedagem. A unidade habitacional
ficou definida como sendo local de frequência individual e de uso exclusivo do
hóspede. Esse entendimento pode contribuir, por exemplo, para encerrar a discussão
sobre a cobrança por exibição de som e imagem no interior dos apartamentos, com
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base na lei dos direitos autorais, já que essa previsão legal trata de execuções públicas
(Lenhart & Cavalhero, 2008).
As agências de turismo ficaram definidas como pessoas jurídicas que exercem
atividades de intermediação ou que as fornecem diretamente, e o preço dos seus
serviços definidos como a comissão recebida dos fornecedores ou o valor agregado ao
preço de custo. Entendimento similar foi dispensado aos organizadores de eventos,
tanto sobre a atividade exercida quando sobre o preço dos serviços. Em relação às
agências de turismo, Ferraz (2009) entende que essa definição encerra uma dúvida
jurídica de ordem tributária, que tendia a considerar o preço de venda dos serviços
como base para o cálculo dos tributos.
Sobre os organizadores de eventos, o autor lembra que a inexistência de uma
regra legal clara os submetia ao risco de serem tributados não apenas pelos valores
recebidos por seus serviços, mas, também, por valores de terceiros, que recebiam e
apenas transferiam (Ferraz, 2008).
Já a questão da responsabilidade objetiva das agências de turismo, não foi
regulada. O dispositivo que previa que as agências de turismo seriam responsáveis
objetivamente apenas pelos serviços de intermediação e execução direta, e
solidariamente pelos serviços cujos fornecedores não pudessem ser identificados ou
fornecedores estrangeiros sem representação no Brasil, foi vetado (BRASIL, 2008,
Mensagem nº 686). Ferraz (2009) é um dos autores que critica o veto, citando como
fundamento o princípio da equidade, expresso no Código de Defesa do Consumidor
(CDC). Segundo o autor, o CDC já prever tratamento similar para os comerciantes de
produtos. Oliveira (2009) e Zastawny (2012) são autores que têm o mesmo
posicionamento.
O transporte aéreo, ainda que para fins de lazer, não foi alcançado pela lei. Já
os parques temáticos passaram ser entendidos como prestadores de serviços
turísticos, desde que implantados em local fixo, e dependendo de parecer do MTur. A
regulamentação não alcançou os parques temáticos aquáticos. Tal exclusão é
incompreensível, bem como a dependência dos parques temáticos serem
considerados de interesse turístico pelo MTur (Ferraz, 2008; Lenhart & Cavalhero,
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2008). Já os acampamentos turísticos ganharam definição na lei, mas ficaram
pendentes de regulamentação por parte do Poder Executivo. Essa regulamentação
consta no Decreto nº 7.381 (2010).
A LGT regulou também os direitos e os deveres dos prestadores de serviços
turísticos, bem como a fiscalização e penalidades as quais estão sujeitos. Sobre os
direitos, a lei trata em um único artigo. Já em relação aos deveres, fiscalização,
penalidades e infrações ela é bem mais abrangente e específica. Isso mostra de certa
forma, que pelo menos em termos quantitativos, prevaleceu o caráter ainda
disciplinador e regulador da lei. Ferraz (2008) corrobora com esse entendimento,
afirmando que, em termos quantitativos a lei dá preferência à função fiscalizadora. Os
direitos dos prestadores de serviços turísticos são basicamente três: a) acessar
programas de apoio financeiro e outros benefícios de fomento ao turismo; b)
possibilidade de menção dos empreendimentos ou atividades em campanhas do MTur
e da EMBRATUR; c) utilização de siglas, palavras, marcas, logos, número de cadastro e
selos de qualidades editados pelo MTur. Quanto aos deveres, a lei estabelece uma
série de questões de ordem técnicas, que vão desde mencionar o número de cadastro
em qualquer forma de divulgação, a manter obediência aos direitos do consumidor e
as leis ambientais. A fiscalização ficou a cargo do MTur, e inclui as pessoas físicas ou
jurídicas que exerçam a prestação de serviços turísticos, estando ou não cadastradas,
incluindo aquelas que usem expressões, abreviaturas ou nomes que induzam ao erro
quanto ao real objeto da sua atividade.
Foi vetado também o dispositivo que previa classificar como atividade
econômica exportadora o setor de turismo receptivo. A classificação não seria
automática, dependeria de regulamentação pelo Poder Executivo, e permitiria, por
exemplo, que esses prestadores de serviços tivessem direito a benefícios fiscais e
acesso a linhas de crédito e financiamentos oficiais específicos do setor de exportação.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise, é possível afirmar que a LGT não conseguiu atender todas
as demandas do setor turístico nacional. No entanto, isso não significa que ela não
trouxe avanços, mas que possivelmente, as demandas e transformações de mais de
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três décadas, não puderam ser respondidas por um único diploma legal. Portanto, é
legítimo afirmar, que a LGT representa uma conquista para o setor, e precisa ser não
apenas comemorada, mas também discutida, entendida e colocada em prática. Pois o
texto legal não pode revolucionar sozinho, a sociedade precisa aceitá-lo como legítimo
(Oliveira, 2009), e a consolidação de um ambiente ideal para o desenvolvimento da
atividade turística passa pela sua regulamentação (BRASIL, 2007, EMI nº 06/07). Logo
também se conclui, que o exercício dessa atividade de forma plena demanda um
melhor entendimento da sua dimensão legal e regulamentar.
Observou-se que existem questões ainda não reguladas e atividades que não
foram alcançados pela lei. Ao mesmo tempo em que outras atividades ganharam mais
destaque e melhor definição legal, além daquelas que estão figurando pela primeira
vez em uma legislação específica do turismo. Em relação à regulamentação da
prestação de serviços turísticos, objeto dessa abordagem, conclui-se que houve muitos
avanços, mas também retrocessos. Os principais pontos onde se considera ter havido
avanços com a regulamentação foram: a) na melhor definição das condições e meios
de fomento da atividade; b) na definição legal dos prestadores de serviços turísticos e
inclusão dos empresários individuais e serviços sociais autônomos como prestadores
desses serviços; c) na definição legal dos meios de hospedagem e preço dos serviços
de agências de turismo e organizadores de eventos; d) na inclusão de parques
temáticos como prestadores de serviços turísticos; e) e na continuação das discussões
sobre a atualização da lei.
Por outro lado, entende-se que a lei não avançou de forma considerável nos
seguintes pontos: a) ao estabelecer o cadastro facultativo para alguns prestadores de
serviços turísticos; b) não incluir o transporte aéreo e os parques temáticos aquáticos
como prestadores de serviços turísticos; c) impor condições para o cadastro dos
parques temáticos; d) não classificar o turismo receptivo como atividade de
exportação; e) permitir o cadastro de empresas organizadoras de evento a partir da
atividade secundária; f) não regular os novos modelos de comercialização de serviços
de hospedagem; g) e não regular a responsabilidade objetiva das agências de turismo.
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A LGT também não avançou ao dedicar grande parte das suas disposições a
regulamentação do papel de agente fiscalizador do Estado.
REFERÊNCIAS Araújo, C. P. (2012). Da EMBRATUR à Política Nacional de Turismo. Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, v. 19, n. 31, 146-163. Recuperado em: http://www.revistas.usp.br/posfau/article/viewFile/48087/51858. BRASIL. (2008). Lei nº 11.771/2008. Diário Oficial da União, Seção 1. Nº 181 (18-09-08). _____. (2008). Mensagem nº 686/2008. Trata dos vetos dos dispositivos da Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008. Diário Oficial da União, Seção 1. Nº 181 (18-09-08). _____. (2010). Decreto nº 7.381/2010. Regulamenta a Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008 e dá outras providências. Diário Oficial da União, Seção 1. Nº 231 (03-12-10). _____. (2007). E.M.I. no 6/2007 - MTur/MJ/MF/MRE/MP/MT/MMA/MDIC. Ministério do Turismo. Recuperado em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/projetos/EXPMOTIV/EMI/2007/6%20-%20%20MTur%20MJ%20MF%20MP%20MRE%20MT%20MMA%20MDIC.htm Ferraz, J. (2009). A lei geral do turismo e as agências de turismo. Instituto Politécnico de Beja, Portugal. Recuperado em: www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/Joandre09.doc ______. (2008). A Lei Geral do Turismo e os Prestadores de Serviços. Instituto Politécnico de Beja, Portugal. Recuperado em: www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/Joandre08_2.doc Lenhart, N. L., Cavalhero, L. (2008). Comentários à Lei Geral do Turismo (Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008) e proposições legais para o incremento do turismo no país. Brasília, DF: CNC/CCBC. Oliveira, T. (2009). A Lei do Turismo – Lei 11.771 de 17 de setembro de 2008: uma breve análise. Revista Turismo em Análise, v.20. n.2, 251-262. Recuperado em: http://www.revistas.usp.br/rta/article/viewFile/14184/16002 Zastawny, F. S. (2012). A participação de grupos de interesse e a Lei Turismo. Monografia do Curso de Especialização em Instituições e Processos Políticos do Legislativo, Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados, Brasília. Recuperado em: http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/9950
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Sistema de Governança Aplicado ao Segmento de Turismo Rural
COSTA DA SILVA, Fernanda1 CUNHA, Aline Moraes2
Desenvolvido relativamente a pouco tempo no País, fenômeno advindo dos
anos 1980 (BRASIL, 2004), o Turismo Rural é verificado em uma realidade mundial na
qual, cada vez mais, as sociedades são menos rurais e mais urbanas – levando-se em
conta já se ter mais de 50% do território mundial como urbanizado (UNITED NATIONS,
2014). Como aspectos positivos, pode-se aproveitar justamente o fenômeno da
urbanização em contraponto ao ambiente rural, de forma que a segmentação
ambientada nesse contexto sirva como atrativo de evasão e vivência aprofundada de
valores, práticas e hábitos não comumente realizados nas cidades. Em contrapartida,
tal realidade colabora para que as questões rurais, até mesmo básicas, não sejam
sanadas, tais como legislação, tributação e direitos sociais, o que impacta diretamente
na segmentação de Turismo Rural e suas adjacentes, a saber Turismo de Base
Comunitária, Turismo Rural na Agricultura Familiar e Agroturismo. Do ponto de vista
da gestão pública do turismo tem-se, então, um desafio para o estabelecimento do
Turismo Rural, como efetiva fonte de desenvolvimento pleno. Nesse contexto, uma
das ferramentas possíveis de planejamento e gestão verifica-se no sistema de
Governança, fomentado pelo Ministério do Turismo desde o primeiro Plano Nacional
de Turismo (BRASIL, 2003). Nessa perspectiva, visando reestruturar a segmentação em
questão aludida, no Rio Grande do Sul, no ano de 2007, foi estabelecido um grupo de
trabalho, retomado em 2015, coordenado pelo Governo do Estado do RS, através da
Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer (SETEL). O Grupo de Trabalho de Turismo Rural
do Rio Grande do Sul (GT TR) tem como objetivos a atuação básica para
estabelecimento de diretrizes e critérios de funcionamento do segmento no estado; o
1 Bacharel em Turismo (UFPel, 2005). Mestre em Planejamento Urbano e Regional (UFRGS, 2013).
Extensionista Rural na EMATER/RS-ASCAR. Professora do Curso de Bacharelado em Turismo do Centro Universitário Metodista - IPA. Integrante do Grupo de Trabalho de Turismo Rural do Rio Grande do Sul. 2 Bacharel em Turismo (PUCRS, 2002). Mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR-UFRGS, 2012).
Especialista em Agricultura Orgânica (UCS, 2007). Professora do Curso e Bacharelado em Turismo do Centro Universitário Metodista – IPA. Integrante do Grupo de Trabalho de Turismo Rural do RS.
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estudo da legislação estadual e nacional vigente; a realização de diagnósticos; a
inventariação turística rural; e a promoção de atrativos rurais, como forma de
fortalecer a comercialização turística do estado. Passado um ano de atuação, este
estudo objetiva avaliar o funcionamento do GT, partindo da teoria que estabelece a
Governança enquanto ferramenta relevante para a gestão turística. Especificamente,
visa-se: a) examinar em que medida os pressupostos teóricos de governança estão
sendo eficientes, na prática da gestão do Turismo Rural; b) identificar as principais
dificuldades do sistema de trabalho do tipo governança, em âmbito estadual, partindo-
se do que rege a teoria pertinente ao tema; e c) elucidar os principais avanços
estabelecidos por esse sistema para o Turismo Rural. A abordagem do tema justifica-
se, na medida em que: a) alinha-se ao que rege o Plano Nacional de Turismo em vigor
(BRASIL, 2013), quanto à importância de se trabalhar em sistema de governança; b)
atende aos pressupostos teóricos que indicam a importância da análise do
planejamento e da gestão do turismo no âmbito público, visto que toda a política
turística necessita do estudo com vigor científico dos problemas que afetam o turismo
(MARTÍNEZ, 1955); e c) atende ao pressuposto básico de uma das etapas de
planejamento, qual seja, o da avaliação, visto que um processo de planejamento e
gestão de turismo que não é avaliado pode ser prejudicial para a atividade turística em
que está inserido, afetando, pois, a qualidade dos serviços, a cultura, provocando, por
conseguinte, injustiças sociais, crises econômicas, entre outras consequências
(ARRILLAGA, 1955). Sobremaneira, o presente trabalho busca colaborar com a reflexão
quanto ao papel das instâncias de governança locais na promoção do desenvolvimento
do turismo e neste caso especificamente de destinos de Turismo Rural. Cabe ressaltar
que as as entidades participantes do GT, a saber, a SETEL, a Secretaria de
Desenvolvimento Rural (SDR), a Associação Riograndense de Empreendimentos de
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/RS-ASCAR), o Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural (SENAR), o Serviço Nacional de Apoio à Micro e Pequena Empresa
(SEBRAE), a Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS), a Associação
Brasileira de Turismo Rural do Rio Grande do Sul (ABRATURRRS), a Quinta da Estância
Grande e entidades de Ensino Superior – Pontifícia Universidade Católica do Rio
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Grande do Sul (PUCRS), Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Centro Universitário
Metodista - IPA –, colaboram voluntariamente. Elas atuam em consonância com o que
expõe Cavaco (2006), o qual destaca o fato do turismo figurar entre as atividades não
agrícolas inseridas na pluriatividade rural, reconhecido como vetor de diversificação,
complementando rendimentos, reforçando a identidade e imagem dos lugares e a
autoestima das populações. Dessa forma e partindo desses pressupostos é que se
busca a reflexão quanto a esta experiência, bem como a multiplicação de seus
resultados de forma a colaborar com processos semelhantes em outros destinos, que
também almejam o desenvolvimento de políticas públicas fomentadoras e promotoras
do segmento de Turismo Rural.
Palavras-chave: Turismo Rural; governança; planejamento turístico; Rio Grande do Sul.
Referências
ARRILLAGA, José Inacio. (1955). El turismo em la economia nacional. Madrid: Aguilar. BRASIL. Ministério do Turismo. (2003). Plano Nacional de Turismo 2003-2007. Brasília, DF. BRASIL. Ministério do Turismo. (2004). Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural. Brasília, DF. BRASIL. Ministério do Turismo. (2013). Plano Nacional de Turismo 2013-2016: o turismo fazendo muito mais pelo Brasil. Brasília, DF. CAVACO, C. Regionalização do turismo em áreas rurais a partir da oferta. In: ALMEIDA J.A.; SOUZA M. (org.) Turismo Rural: patrimônio, cultura e legislação. (2006). 1.ed. Santa Maria: FACOS/UFSM. MARTÍNEZ, Manuel de Torres. Sistema de Política Turística. (1955). Madrid: Aguilar. UNITED NATIONS. Department of Economic and Social Affairs. (2014). 2014 Revision of World Urbanization Prospects. Highlights. USA, New York.
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A IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR NA
CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
ALVES, Vitor João Ramos1
Em uma época que a população brasileira sofre um golpe contra a democracia,
por meio da tomada do poder em 31 de agosto de 2016, o qual prevê a destituição de
vários direitos sociais já conquistados pelas políticas públicas vigentes, surge a
necessidade de se promover abordagens teóricas e reflexivas que envolvam a
importância da participação direta da sociedade na efetivação da democracia. Nesse
contexto inicial, o presente resumo estendido, por meio de uma pesquisa qualitativa,
de nível exploratório e interpretativo, embasada em obras e produções acadêmicas
que tratam do tema citado, tem como objetivo: promover uma reflexão teórica sobre
a importância dos eventos de participação popular na construção de políticas públicas
voltadas ao turismo.
Ao tentar identificar o conceito mais adequado de políticas públicas para a
reflexão aqui apresentada, encontrou-se nos estudos de Heidemann (2009, p. 28) a
proposta de que, em termos político-administrativos, o desenvolvimento de uma
sociedade resulta de decisões formuladas e implementadas pelos governos em todos
os seus níveis hierárquicos, em conjunto com as demais forças que impulsionam a
sociedade, sobretudo as forças de mercado. Conforme o autor, essas decisões e ações
do governo em exercício e de outros atores sociais que participam do processo
constituem o que se denomina hoje como políticas públicas.
As políticas públicas voltadas diretamente para o turismo definem os princípios,
metas e macroprogramas de desenvolvimento da atividade turística expressos no
Plano Nacional de Turismo 2013/2016, editado pelo Ministério do Turismo em 2013
(Brasil). Considerado pelo próprio órgão – MTur – como um instrumento de
planejamento e gestão que faz do turismo um indutor do desenvolvimento e da
geração de emprego e renda no país, tem-se como modelo de desenvolvimento
proposto, o crescimento do mercado com a distribuição de renda e a redução das
desigualdades, integrando soluções nos campos: econômico, social, político, cultural e
ambiental, conforme o próprio plano (Brasil, 2013).
Face aos problemas sociais existentes atualmente no país, os mesmos precisam
ser enfrentados mediante a promoção de políticas públicas, por meio da participação
democrática da sociedade. Nesse propósito, a democracia participativa tem como
premissa o interesse básico dos indivíduos na autodeterminação política e na abolição
do domínio dos homens sobre os homens e concebe a formação da vontade política de
todos os envolvidos, com a participação dos cidadãos. 1 Mestrado Profissional em Turismo pelo Centro de Excelência em Turismo – CET/UNB – DF [2016].
Graduado em Turismo pelo Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB – DF [2014]. Experiência profissional na área de Gestão e Turismo. E-mail: [email protected]
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Tal posicionamento tornou-se uma obrigação para o Estado, de se desenvolver
políticas sociais democráticas, conforme a Constituição de 1988 e mediante a criação
de conselhos, comissões e comitês sobre as diversas áreas de atuação do Poder
Público, especialmente, no âmbito do turismo.
O princípio da democracia está inserido na Constituição em seu artigo 1º,
parágrafo único, o qual apresenta que “todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”
(Brasil, 1988). A mesma (Brasil, 1988) também instituiu mecanismos que garantem a
participação direta do cidadão no Poder Público, como a iniciativa popular, o
referendo, o plebiscito, as consultas e audiências públicas, os conselhos de gestão de
políticas e serviços públicos. Tais mecanismos têm importância para a garantia do
respeito aos valores da democracia e da justiça, a proteção e concretização dos
direitos da pessoa humana e a construção de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos.
A partir do ano de 2003, baseado nas diretrizes da Constituição Federal (1988),
o poder público deu início a uma forma de gestão democrática, na qual os cidadãos e
as entidades da sociedade civil abandonariam a postura de meros objetos da ação
estatal para participarem de forma ativa nas decisões do país. O compromisso com a
construção de uma nação mais democrática e socialmente solidária promoveu a
superação do antigo modelo de construção de políticas públicas, para um processo
feito em conjunto com a sociedade e o Estado (Brasil, 2011). Antes, as decisões eram
tomadas exclusivamente por técnicos e dirigentes dos ministérios. A partir de então,
foram construídas, em parceria com a sociedade civil, mecanismos de participação
popular com intuito de ampliar a interação do poder público com a população
brasileira e firmar a democracia no país.
Por meio de um projeto coletivo de emancipação social, firmou-se a partir do
ano de 2003 a construção de uma relação de diálogo permanente e de respeito pela
autonomia dos movimentos e democratização das políticas públicas, entre o Estado e a
sociedade. Esse novo processo de consolidação da democracia e da expansão da
cidadania priorizou o papel da participação social, promovendo a elaboração de
políticas públicas mais adequadas aos anseios da população brasileira. Assim,
conforme o documento “Democracia Participativa: nova relação do Estado com a
Sociedade 2003-2010”, produzido pela Secretaria Geral da Presidência da República
em 2011, o governo passou a valorizar a participação social, considerando-a “além de
legítima e legitimadora”, como uma forma de fortalecer a democracia brasileira (Brasil,
2011, p. 9).
Nessa importância, foi homologada a Medida Provisória nº 103, de 1° de
janeiro de 2003, convertida na Lei 10.683, de 28 de maio de 2003 que estabeleceu:
Art. 3° À Secretaria-Geral da Presidência da República compete assistir direta e imediatamente ao Presidente da República no desempenho de suas atribuições, especialmente no relacionamento
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e articulação com as entidades da sociedade civil e na criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular de interesse do Poder Executivo na elaboração da agenda futura do Presidente da República, na preparação e formulação de subsídios para os pronunciamentos do Presidente da República, na promoção de análises de políticas públicas e temas de interesse do Presidente da República, na realização de estudos de natureza político-institucional e outras atribuições que lhe forem designadas pelo Presidente da República, tendo como estrutura básica o Gabinete, a Subsecretaria-Geral e até duas Subsecretarias (Brasil, 2003).
Assim, a adoção de políticas participativas foi incorporada como um elemento-
chave nesse novo processo de construção de políticas públicas, a qual coube à
Secretaria Geral coordenar a construção de espaços e instrumentos participativos,
bem como a formulação de conceitos, noções e procedimentos que passariam a
orientar os órgãos de governo em sua interação com os movimentos sociais e
entidades da sociedade civil. A partir de então, foram instaurados processos de diálogo
democrático com os mais diversos setores da sociedade civil visando mediar os
conflitos, aperfeiçoar as políticas públicas e aprofundar a democracia.
A atuação da Secretaria Geral também contribuiu para estimular a cultura de
participação social no interior do governo e para ampliar as relações de diversos
segmentos sociais com a administração federal.
Muitas políticas públicas foram promovidas nesse ambiente institucional
interativo e participativo, como por exemplo: os Planos Diretores Municipais de vários
municípios brasileiros, os Planos de Desenvolvimento Integrado do Turismo
Sustentável [PDITS] de Polos turísticos de vários estados e as Avaliações Ambientais
Estratégicas [AAE], denominados esses dois últimos como “Políticas Nacionais de
Desenvolvimento Turístico e Meio Ambiente” (2009, p.17). Tais processos de diálogos
democráticos utilizam instrumentos do tipo: conselhos de política urbana, debates,
audiências e consultas públicas, conferências sobre assuntos de interesses urbanos,
iniciativas populares de projetos de lei e planos, programas e projetos, como os citados
acima, que surgiram com intuito de impulsionar o desenvolvimento do país. Outra
forma de se promover a participação da coletividade é a publicidade e acesso livre dos
documentos e informações produzidas por todos os órgãos públicos.
O objetivo de todos esses instrumentos é o de ampliar a base de conhecimento,
planejamento e sustentação de políticas públicas das cidades brasileiras. Assim,
deixaram de ser um assunto restrito para os especialistas e técnicos dos órgãos
envolvidos na construção das políticas públicas e passaram a promover a participação
de toda a sociedade brasileira.
Todos esses instrumentos são colocados em prática e estruturados por meio de
eventos de participação popular que exigem toda uma composição de funcionamento
necessária para atender aos objetivos propostos. Os debates e audiências públicas, por
exemplo, precisam ser planejados e estruturados com antecedência, além de
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divulgados amplamente para que a participação popular não seja restrita a poucos
envolvidos. A organização deve sempre procurar identificar e coletar informações e
contribuições das diferentes partes envolvidas no evento, além de promover espaços
equivalentes para a participação oral e/ou escrita e na coleta das opiniões referentes
às decisões a serem tomadas.
Conforme as abordagens de Britto e Fontes (2002, p. 14-15) um evento, como
os citados acima, é a soma de esforços e ações planejadas com o objetivo de alcançar
resultados definidos junto ao seu público-alvo. Já por meio dos estudos de Carmen
Gonçalves (2003, p. 5) o conceito de evento envolve qualquer tipo de acontecimento
onde as pessoas se reúnem objetivando a troca de ideias, intercâmbio, definição de
diretrizes e metas, até o planejamento ou avaliação de projetos.
Esses eventos de participação popular se transformam em momentos de
reflexão e planejamento da infraestrutura da cidade, além de tratar da qualidade de
vida da população residente. O turismo também se beneficia de forma direta quando
as reflexões se voltam para a melhoria e desenvolvimento da infraestrutura turística
local e para a qualidade do processo receptivo de turistas na cidade.
Nesse sentido, investir em eventos de participação popular, que objetivem nas
definições de políticas públicas e que incluam os processos de comunicação, formação,
capacitação e disseminação de informações voltadas aos benefícios sociais da
população, promove condições aos participantes de analisar os problemas sociais,
discutir sobre as possíveis soluções e permite, aos mesmos, assumir posições ativas
democraticamente na sociedade. Além de promover o exercício da transparência
pública e do direito à informação, os eventos participativos proporcionam a coleta de
informações e subsídios fundamentais para a elaboração e aprimoramento das
políticas públicas locais.
Sabe-se, entretanto, que a participação comunitária pode acontecer de forma
superficial e obedecer apenas o rito exigido pelas normas técnicas, sem promover
realmente o seu objetivo central de sensibilizar a população e coletar contribuições
para a construção das políticas públicas. O processo participativo deve acontecer, não
apenas por representar certo tipo de representatividade ao processo, mas porque as
equipes técnicas não conhecem a totalidade das necessidades reais da população.
Acredita-se, dessa forma, que para uma efetivação da democracia no país, há a
necessidade do poder público continuar promovendo, cada vez mais, eventos de
participação popular para a elaboração de políticas públicas eficientes e que reduzam
os problemas sociais da população. Quanto mais a sociedade participar, ativamente,
na construção de políticas públicas, garantirá o efetivo caráter participativo do
processo. Exige-se, assim, uma atuação mais ativa do cidadão na construção das
políticas públicas, incluindo aquelas voltadas para o fomento do turismo como
fenômeno humano e social. Uma mudança de consciência em cada cidadão é
necessária a fim de continuar a luta por um Estado democrático, destinado à
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
segurança do exercício dos direitos sociais e individuais, à liberdade, ao bem-estar, à
igualdade e à justiça para cada cidadão brasileiro.
REFERÊNCIAS Brasil. (1988). Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. ______. (2002) Estatuto da Cidade: guia para implementação pelos municípios e cidadãos: Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, que estabelece diretrizes gerais da política urbana. 2ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações. ______. (2003). Presidência da República. Medida Provisória nº 103, de 1° de janeiro de 2003. Brasília. ______. (2003). Presidência da República. Lei 10.683, de 28 de maio de 2003. Brasília. ______. (2009). Ministério do Turismo. Manual de Planejamento e Gestão Socioambiental. Brasília: Prodetur Nacional. ______. (2011). Secretaria Geral da Presidência da República. Democracia Participativa: nova relação do Estado com a Sociedade 2003-2010. 2ª ed. Brasília. ______. (2013). Ministério do Turismo. Plano Nacional de Turismo 2013/2016: o turismo fazendo muito mais pelo Brasil. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas de Turismo. Britto, Janaína; Fontes, Nena. (2002). Estratégias para Eventos. São Paulo: Editora Aleph. Gonçalves, Carmem. (2003). Gestão de Eventos em Turismo. Universidade de Brasília. Brasília: UnB. Heidemann, Francisco G.; Salm, José Francisco [org.]. (2009). Políticas públicas e desenvolvimento: bases epistemológicas e modelos de análise. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
OS EVENTOS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR NA ELABORAÇÃO DA
REVISÃO DO PDITS DO POLO COSTA DOS COQUEIRAIS/SE
ALVES, Vitor João Ramos1
O Ministério do Turismo – MTur, por meio do Departamento de Programas
Regionais de Desenvolvimento do Turismo – PRODETUR, o qual pertence à Secretaria
Nacional de Programas de Desenvolvimento de Turismo, vem empenhando esforços
para a elaboração, de forma democrática e participativa, de Planos de
Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável – PDITS – para todos os Polos
turísticos brasileiros. A revisão do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais, do Estado do
Sergipe, é um exemplo desse empenho, realizado durante o ano de 2013.
Nesse sentido, este resumo estendido pretende, por meio de uma pesquisa
qualitativa de nível exploratório documental e bibliográfico, identificar as
características dos eventos de participação popular, realizados nas etapas de
elaboração da revisão do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais, durante o ano de 2013
pelo Governo do Estado do Sergipe. Além disso, pretende promover uma reflexão
sobre a efetividade do processo participativo na construção da revisão do Plano.
A participação social na construção das políticas públicas brasileiras foi uma das
principais marcas do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir do ano de
2003, conforme abordagens apresentadas na obra “Democracia Participativa: nova
relação do Estado com a sociedade, 2003 – 2010”, lançada no ano de 2011. A obra
ainda apresenta que a democracia efetiva, no posicionamento atual em que se
encontra o mundo, exige uma profunda socialização da política, não podendo ficar
restrita aos especialistas e profissionais da área. Precisa-se, também, envolver os
demais atores da sociedade que são a própria razão de ser dos poderes constituídos,
além de garantir à sociedade o direito de opinar sobre decisões que afetam
diretamente a vida cotidiana dos cidadãos (Brasil, 2011, p. 6).
Como políticas públicas voltadas diretamente ao turismo, têm-se elaborado no
país os Planos de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável – PDITS.
Identificados como um instrumento técnico de gestão da política turística pelo MTur,
os PDITS destinam-se ao planejamento da atividade turística em áreas prioritárias
selecionadas pelos governos estaduais ou municipais a serem incluídas no PRODETUR
Nacional, conforme Manual de Planejamento e Gestão Socioambiental (Brasil, 2009, p.
31). Tem-se como objetivo principal dos Planos, orientar o crescimento do setor do
turismo em bases sustentáveis, em curto, médio e longo prazo, estabelecendo as
bases para a definição de ações, tomada de decisão e propriedades para o
desenvolvimento do turismo na área. O manual (Brasil, 2009, p. 31-32) ainda pontua 1 Mestrado Profissional em Turismo pelo Centro de Excelência em Turismo – CET/UNB – DF [2016].
Graduado em Turismo pelo Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB – DF [2014]. Experiência profissional na área de Gestão e Turismo. E-mail: [email protected]
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
que o planejamento do turismo deve ocorrer como um processo, de forma contínua e
participativa, integrando as diversas instituições públicas envolvidas com o setor, assim
como as municipalidades, o setor empresarial e a sociedade civil.
O Polo Costa dos Coqueirais, localizado no Estado do Sergipe, desenvolve-se ao
longo da costa marítima com aproximadamente 163 km de extensão e estende desde
o litoral Sul do Estado até o extremo Norte. É composto por treze municípios de
pequena extensão, mas que englobam quase 50% do total dos habitantes de Sergipe,
conforme informações do documento técnico que contém o diagnóstico da revisão do
PDITS (Brasil, 2013b). A tabela a seguir apresenta, de forma clara, tal afirmação. Tabela 1: Número de habitantes por município e densidade demográfica, Polo Costa dos Coqueirais, 2010.
MUNICÍPIOS POPULAÇÃO 2010
(HAB.) ÁREA (KM²)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA
(HAB./KM2)
Aracaju 571.149 181,857 3.140,67
Barra dos Coqueiros 24.976 90,322 276,52
Brejo Grande 7.742 148,858 52,01
Estância 64.409 644,083 100,00
Indiaroba, 15.831 313,525 50,49
Itaporanga D’Ajuda 30.419 739,925 41,11
Laranjeiras 26.902 162,280 165,78
Nossa Senhora do Socorro 160.827 156,771 1.025,88
Pacatuba 13.137 373,818 35,14
Pirambu 8.369 205,879 40,65
Santo Amaro das Brotas 11.410 234,156 48,73
São Cristóvão 78.864 436,863 180,52
Santa Luzia do Itanhy 12.969 325,732 39,36
Total do Polo 1.027.004 4.014 255,85
Total do Estado 2.068.017 21.915,116 94,35
Fonte: IBGE (2010) / PDITS Polo dos Coqueirais (2013b).
Com vocação para os segmentos turísticos de negócios e eventos, turismo
cultural, turismo de lazer, ecoturismo, turismo náutico, pesca esportiva e turismo
subaquático, o Polo ainda apresenta uma grande biodiversidade de flora e fauna, além
de manguezais, lagoas, dunas, restingas e Mata Atlântica.
A primeira versão elaborada do PDITS do Polo dos Coqueirais foi entre os anos
de 2000/2001 e após os dez anos de sua validade elaborou-se, durante o ano de 2013,
a revisão do mesmo, pela empresa Technum Consultoria, sediada em Brasília/DF.
As etapas de elaboração da revisão do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais,
conforme apontado anteriormente, seguiu o princípio de planejamento participativo,
com envolvimento de empresários, organizações ligadas ao turismo, líderes
comunitários e técnicos municipais, visando alcançar uma consistência e consenso
para o desenvolvimento do Plano.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Tal princípio de planejamento participativo foi pautado no exercício da
democracia, por meio dos eventos de mobilização popular, os quais movimentaram
uma parte da população dos 13 municípios pertencentes ao Polo.
Na caracterização dos eventos realizados durante o processo de elaboração da
revisão do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais foram identificados, além das reuniões
técnicas com os profissionais responsáveis pelo PDITS, os eventos de participação
popular, os quais buscavam a contribuição da população local na construção do
diagnóstico e na validação das ações apresentadas para o Plano, conforme tabela 2 a
seguir. Tabela 2: Relação dos eventos de participação popular realizados na revisão do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais, durante o ano de 2013.
EVENTO PARTICIPATIVO OBJETIVO NÚMERO DE
PARTICIPANTES
1ª reunião com entidades públicas e particulares que participam ou contribuem para o desenvolvimento do turismo
Coleta de dados, informações e contribuições para o Diagnóstico Estratégico.
26
2ª reunião com entidades públicas e particulares que participam ou contribuem para o desenvolvimento do turismo
Coleta de dados, informações e contribuições para o Diagnóstico Estratégico.
21
1ª reunião dirigida aos representantes de agências de viagem, operadoras de turismo, empresários do setor hoteleiro, empresários de bares, restaurantes e casas de animação e entretenimento e locadoras de veículos e transportadoras
Avaliação qualitativa do turismo e sua interface com os diversos setores
15
2ª reunião dirigida aos gestores e técnicos do poder público municipal e empresários do setor de turismo
Avaliação qualitativa do turismo e sua interface com os diversos setores
23
3ª reunião dirigida aos representantes da comunidade em geral
Avaliação qualitativa do turismo e sua interface com os diversos setores
8
Oficina Pública
Consolidação do diagnóstico e dos indicativos de estratégias e de ações de desenvolvimento do turismo no Polo
36
Oficina Pública
Apresentação do diagnóstico da situação atual e estratégias e quadro preliminar de ações para o desenvolvimento do turismo no Polo
25
Oficina Pública
Apresentação do diagnóstico da situação atual e estratégias e quadro preliminar de ações para o desenvolvimento do turismo no Polo
17
Oficina Pública Apresentação do Plano de Ação e apresentação da versão preliminar do PDITS
28
Audiência Pública Apresentação e votação da validação do PDITS
63
Total de eventos: 10 Total de participantes: 262
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Fonte: PDITS Polo dos Coqueirais (2013b) – elaborado pelo autor.
Para a realização dos eventos foram necessários equipamentos de imagem e
som, a fim de facilitar a participação da sociedade, por meio das contribuições dadas
sobre a execução do Plano, e facilitar a apresentação do Diagnóstico Estratégico e dos
Planos de Ação, feita pelos técnicos e oradores do evento. Da mesma forma, para o
controle e registro de realização dos eventos, foram utilizadas listas de presença e
registros fotográficos, que podem ser consultados no Volume Final do Processo
Participativo do PDITS do Polo Costa dos Coqueirais (Brasil, 2013b).
Britto e Fontes (2002, p. 14-15), em suas abordagens sobre eventos, os
conceituam como a soma de esforços e ações planejadas com o objetivo de alcançar
resultados definidos junto ao seu público-alvo. Por meio dos estudos de Carmen
Gonçalves (2003, p. 5), o conceito de evento envolve qualquer tipo de acontecimento
onde as pessoas se reúnem objetivando a troca de ideias, intercâmbio, definição de
diretrizes e metas, até o planejamento ou avaliação de projetos, conceito compatível
com as descrições observadas na tabela 2, ao tratar dos objetivos dos eventos.
Conforme observado nas análises documentais do PDITS (2013b), os eventos
participativos, inseridos na elaboração da revisão do Plano, tornaram-se elementos de
incentivo à transformação social, de aculturação, de educação, conscientização e
mobilização da população local presente nos eventos, além de serem divulgadores e
geradores de informação a respeito das ações realizadas pelos órgãos públicos
envolvidos.
Também foram identificados, alguns dos benefícios promovidos pelos eventos,
conforme a relação a seguir:
estreitamento das relações com a população e o órgão público (federal e/ou
municipais), possibilitando a interação com os envolvidos;
apresentação dos planos, projetos e programas que estão sendo elaborados
para atender a população, além da transmissão e divulgação das informações
promovendo uma gestão transparente;
obtenção de informações sobre as necessidades da população e dos
investimentos sociais a serem realizados;
atualização e capacitação profissional técnica;
promoção e incentivo para a participação da sociedade na construção das
políticas públicas;
além do estabelecimento de novos contatos, como as lideranças comunitárias
e entidades da sociedade civil em geral.
Entretanto, pôde-se observar também, de acordo com o cruzamento das
informações contidas nas tabelas 1 e 2, além das informações apresentadas no
documento do PDITS (Brasil, 2013b), que o número de participantes nos eventos
encontra-se muito baixo em relação ao total da população do Polo, representando
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
apenas 2,55% desta população. Tal valor indica a necessidade de melhoria e ampliação
tanto do processo de divulgação dos eventos quanto de mobilização da população
para uma participação popular mais efetiva.
A prática participativa, em uma sociedade que ainda cresce na consolidação
democrática, revela a falta de comprometimento e desinteresse da população na
busca pela melhoria local. A própria sociedade ainda não se encontra habituada à
participação nos processos de construção das políticas públicas, o que exige dos
órgãos públicos um esforço maior no desenvolvimento metodológico para a
elaboração dos projetos e planos de desenvolvimento municipal.
Para que o turismo seja promovido como fenômeno humano, a sociedade deve
se unir, de forma concisa, para participar e contribuir, por meio dos eventos
participativos, na implementação das formas de planejamento e práticas turísticas.
Uma mobilização da sociedade, de forma a refletir e discutir a respeito dos
problemas do turismo, ampla e permanentemente, por meio dos eventos de
participação popular, é necessária nos dias atuais. O incentivo e atuação da sociedade
no processo de elaboração do PDITS promoverá, dessa forma, uma contribuição para a
construção de uma sociedade mais democrática e participativa.
É importante ressaltar que a democratização do processo de planejamento do
turismo deve ser encarada, pelos gestores e responsáveis, como essencial para que o
planejamento deixe de ser apenas uma construção técnica e passe a ser uma
construção coletiva de articulação política entre os atores que modelam e
transformam o turismo local. É na participação popular que, acerca dos problemas
sociais do turismo, reside a esperança de mudança e transformação epistemológica do
setor, priorizando as carências e as necessidades da população envolvida.
REFERÊNCIAS Brasil. (2009). Ministério do Turismo. Manual de Planejamento e Gestão Socioambiental. Brasília: Prodetur Nacional. ______. (2010). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Censo 2010. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php>. Acessado em: 4 de out. 2016. ______. (2011). Secretaria Geral da Presidência da República. Democracia Participativa: nova relação do Estado com a Sociedade 2003-2010. 2ª ed. Brasília. ______. (2013a). Ministério do Turismo. Plano Nacional de Turismo 2013/2016: o turismo fazendo muito mais pelo Brasil. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas de Turismo. ______. (2013b). Ministério do Turismo. Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável do Polo Costa dos Coqueirais. Governo do Estado do Sergipe. ______. (2014). Presidência da República. Decreto Nº 8.243, de 23 de maio de 2014. Britto, Janaína; Fontes, Nena. (2002). Estratégias para Eventos. São Paulo: Editora Aleph. Gonçalves, Carmem. (2003). Gestão de Eventos em Turismo. Universidade de Brasília. Brasília: UnB.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
CIDADANIA, LAZER E PARTICIPAÇÃO NAS INSTÂNCIAS DE GOVERNANÇA – REFLEXÕES SOBRE A POPULAÇÃO RESIDENTE.
Natasha BANTIM1
Palavras-chave: Turismo; Instâncias de Governança; Participação; Lazer. Introdução
Este trabalho tem como foco o papel da população residente no fenômeno
turístico no que diz respeito a seu acesso a atrativos e equipamentos de turismo e
lazer e a sua participação nas decisões políticas do setor de forma a ampliar sua
condição cidadã.
As reflexões aqui pontuadas fazem parte de uma pesquisa mais ampla, que
objetivava entender o processo de formação e o modelo de gestão do Circuito das
Águas Paulista, localizado no interior do estado de São Paulo. A gestão desse circuito é
realizada através de um consórcio intermunicipal e estruturada de acordo com
algumas diretrizes da política pública nacional de turismo que indica a
institucionalização de instâncias de governança para gestão do turismo regional (Brasil,
2007).
Entretanto, a partir da utilização de fontes bibliográficas variadas, alinhadas a
observações empíricas e entrevistas realizadas em maio de 2016 com os gestores do
circuito, percebe-se que a população residente não atua neste consórcio conforme
preconiza as diretrizes da política supracitada, o que gerou reflexões sobre o papel da
população residente nas políticas públicas de turismo, e sua relação com lazer,
participação e ampliação da cidadania.
A população residente, independente do tipo de relação que estabelece com a
atividade turística local, frequentemente é trivializada nas políticas públicas que
tratam do turismo, apesar dela ser a ‘dona’ daquele território, sendo necessário esse
reconhecimento para não se pensar em um modelo de desenvolvimento turístico
1 Mestranda em Turismo pela Universidade Federal Fluminense. Coordenadora do Eixo Técnico em
Turismo, Hospitalidade e Lazer da ETEJK- FAETEC. ([email protected])
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
arbitrário (Fratucci, 2008), e por esses motivos, a preocupação com esse agente social
deve ser primordial na elaboração de políticas públicas de qualquer setor.
Fundamentação Teórica
Para Moesch (2015) é preciso pensar em formas mais justas de políticas públicas
que tenham como conteúdo a qualidade de vida dos cidadãos, incluindo aí as políticas
de turismo e lazer. Considera-se aqui o turismo como um tipo de lazer, pois são
atividades correlatas: “o turismo possui elementos que poderiam intensificar a relação
das pessoas com o tempo social relativo ao não-trabalho, por apresentar ao indivíduo
a chance de vivenciar uma boa parte dos conteúdos culturais do lazer”(Cheibub, 2010,
p.6).1
Na Constituição de 1988, o lazer aparece como um direito social, assim como
educação, saúde, alimentação, etc. Para Carvalho (apud Cheibub, 2014) a
concretização dos direitos sociais permite reduzir a desigualdade, garantindo
condições mínimas de sobrevivência e um mínimo de bem-estar para a sociedade.
Assim, o direito social ao lazer está relacionado também à qualidade de vida dos
cidadãos (Cheibub, 2014), porém, Moesch (2015) afirma que o fato de estar presente
como um direito social na Constituição não garante a efetividade, qualidade ou
democratização de seu acesso.
Uma alternativa para essa realidade está na emergência de uma nova
institucionalidade pautada na descentralização político-administrativa e na
participação da sociedade civil no campo das políticas sociais de lazer (Zingoni apud
Marcellino et al, 2007).Tal princípio já está presente nas políticas públicas de turismo
por meio da denominada instância de governança regional, definida como “uma
organização com participação do poder público e dos atores privados dos municípios
componentes das regiões turísticas” (Brasil, 2007, p. 16).
A governança preconiza a ação conjunta de Estado e sociedade na busca de
soluções para problemas comuns, com as contribuições e opiniões desses agentes
1 Acredita-se que a população local pode vivenciar a experiência turística em seu local habitual ao
desenvolver um relacionamento diferenciado nele em seu momento de lazer, produzido a partir de um estranhamento do local habitual que lhe permitiria ver aquele espaço rotineiro com novos olhares e também no acesso à partes da cidade não experimentadas anteriormente (Gastal; Moesh, 2007).
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
influindo no campo das políticas públicas (Gonçalves, 2005). Entretanto, algumas
ponderações precisam ser feitas em relação a como essa participação acontece
empiricamente.
Primeiramente, conforme nos alerta Irving (2009), o processo de participação é
lento e possui altos custos para formação e capacitação de recursos humanos e
construção de metodologias capazes de lidar com as especificidades locais. Além disso,
a participação carrega a mítica de que é possível se chegar a um consenso entre os
diversos agentes sociais a respeito de uma decisão política, porém mesmo com muito
debate, algumas questões indicam pontos de vista opostos e disputas que não podem
ser resolvidas (Ferreira, 2010).
Outro aspecto diz respeito à representatividade do grupo. Muitos
representantes não são eleitos por votação e sim por questões como troca de favores,
compadrio, relações pessoais, etc. (Ferreira, 2010).
Há ainda uma parcela da sociedade que não participa por fatores como: falta de
tempo para participar de reuniões, crença em ser uma perda de tempo, sentimento de
que o que é dito não é ouvido, dificuldade de compreensão das questões colocadas,
dificuldade em relação aos custos e tempo do processo, falta de representatividade ou
mesmo apatia (Ferreira, 2010, 2010; Jenkins, 1993 apud Hall, 2004).
Questões como essas colocam dúvidas em relação à legitimidade das decisões
tomadas nas Instâncias de Governança, considerando legitimidade de acordo com a
teoria Weberiana, como um conceito que vem “de ‘baixo para cima’, surgindo a partir
da aceitação de que o poder conferido e exercido é apropriado” (Gonçalves, 2005).
Resultados
Objetivando entender o processo de formação e o modelo de gestão de uma
instância de governança, a autora deste trabalho escolheu como objeto de estudo o
Circuito das Águas Paulista, integrado atualmente pelas prefeituras dos municípios de
Águas de Lindóia, Amparo, Holambra, Jaguariúna, Lindóia, Monte Alegre do Sul,
Pedreira, Serra Negra e Socorro (Circuito das Águas Paulista, 2015).
O circuito foi institucionalizado em 2005, sob influência das políticas públicas
nacionais de turismo, embora iniciativas de cooperação entre os municípios
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
consorciados remontem à década de 1990. Sua estrutura administrativa, de acordo
com o estatuto e com a entrevista realizada em 20 de maio de 2016 com o gestor do
circuito, é realizada juridicamente a partir da formação de um consórcio composto por
representantes públicos (em sua maioria, prefeitos ou secretários de turismo) dos
municípios consorciados divididos entre conselho de prefeitos, diretoria e conselho
fiscal (Circuito das Águas Paulista, 2015), existindo, portanto, predominância de
agentes públicos na tomada de decisões desse consórcio.
Assim, percebe-se que o processo de formação e gestão dessa instância, embora
tenham tido influência das políticas públicas do setor, inclusive no que diz respeito a
suas competências e objetivos, desconsidera um aspecto fundamental das mesmas: a
participação da população residente nas decisões. O que se verifica neste caso é a
tomada de decisões verticalizadas, com predomínio de agentes vinculados ao poder
público, constituindo-se, dessa forma, mais como uma instância de governo do que
como uma instância de governança.
Além disso, acredita-se que essas políticas públicas deveriam ampliar a ideia de
democratização para além de possibilitar a participação da sociedade nas decisões,
como também democratizar o bem público Turismo, oferecendo o acesso ao lazer e a
hospitalidade à visitantes e população residente, não apenas como um discurso ou
potencialidade (Gastal; Moesh, 2007). Porém tal pesquisa empírica ainda carece de
maiores estudos relacionados ao acesso da população local aos equipamentos e
atrativos de turismo, enquanto formas de lazer, ainda que tal preocupação, até o
momento, não tenha aparecido nas falas dos entrevistados ou nos documentos do
circuito.
Algumas considerações
Na teoria, as Instâncias poderiam se constituir em espaços democráticos,
distintos da regulação produzida pela lógica estrita do Estado ou do mercado, a partir
da convivência e debate entre os agentes sociais com interesses diferenciados e que
ainda proporcionariam o aprendizado e o exercício efetivo da cidadania (Dagnino,
2002).
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
A cidadania seria o resultado da ação na esfera pública, que, inicialmente vista
como o espaço de reunião dos cidadãos para discussão do futuro da cidade, hoje é
relacionada a um espaço de livre exercício profissional e político e do poder de opinar
sobre o destino das pessoas e da sociedade (Gastal; Moesh, 2007). O direito e poder
de opinar é justamente o conceito positivo inserido no contexto da institucionalização
das Instâncias de Governança.
Acredita-se que a participação da população residente nessas Instâncias de
Governança está relacionada ao exercício da cidadania e que é necessário que essa
participação vá além da expressão de opiniões para também contemplar o acesso ao
turismo e lazer e todos os agentes sociais envolvidos no fenômeno turístico, incluindo
a população residente.
O poder público, enquanto agente social orientador dos rumos de uma
sociedade em determinado território, deveria instituir políticas que beneficiassem
toda a população, entretanto, ao privilegiar as demandas e interesses do capital
financeiro em detrimento das demandas dos demais agentes sociais, incorre em uma
contradição (Fratucci, 2014), pois, o conceito de políticas públicas está relacionado à
realização de ações que visem o controle social dos bens, serviços e obras públicas
para que sejam desfrutados por toda sociedade (Gastal; Moesh, 2007, grifo nosso).
Assim, acredita-se que políticas públicas de turismo, além de propor ações voltadas
para o setor, devem se preocupar com o direito ao lazer para a população, até porque,
esses espaços podem ser aproveitados também para o turismo.
A participação dessa população nos espaços públicos de discussão do turismo –
as Instâncias de Governança – e o acesso aos bens públicos, como o turismo e o lazer,
é um instrumento para a construção da cidadania.
REFERÊNCIAS
BRASIL. (2007). Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil : Módulo Operacional 3: Institucionalização da Instância de Governança Regional. Brasília, Ministério do Turismo. CHEIBUB, B. L.(2010). Lazer e turismo: um ensaio epistemológico conjugado. XI Encontro Nacional de turismo com base local. Niterói.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
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ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Políticas públicas de lazer e turismo e os megaeventos
esportivos: Uma reflexão acerca das suas relações Amanda Cabral da Silva1
Fábio Alves Ortiz2 Amanda Baldissera Damião3
Introdução
Na contemporaneidade, os eventos tornam-se cada vez mais fundamentais
para o desenvolvimento cultural dos diferentes povos. O tempo de lazer expandido e o
culto ao entretenimento ocasionaram um significativo aumento na proliferação de
eventos públicos, celebrações e entretenimento. Os eventos podem ser ferramentas
estratégicas de desenvolvimento de países, regiões e cidades e as corporações inserem
os eventos como estratégias de marketing de grupos comunitários e indivíduos em
prol do turismo. Essa demanda impactou todo o mercado produtivo do setor,
ocasionou a busca pela profissionalização de pessoal e o tornou a atividade uma forte
área econômica.
O Brasil tem recebido destaque atualmente no mundo por sua forte
representatividade no cenário econômico em tempos de crise mundial, em especial a
europeia. Recentemente o país esteve em evidência internacional devido à realização
dos megaeventos esportivos e o potencial impacto desses eventos nos diversos
setores no tocante aos legados (UVINHA, 2013).
Os megaeventos permitem a implementação de importantes processos, além
de diversos investimentos e recursos, proporcionando diversas oportunidades as
cidades e ao país sede. A grande questão e discussão é o legado que os megaeventos
esportivos possibilitam e principalmente tentar maximizar os legados positivos e os
benefícios do evento através de um planejamento estratégico. Assim o país dispõe da
oportunidade de incrementar o desenvolvimento de áreas como o turismo, o lazer a
infraestrutura urbana e a força política.
A realização de um megaevento esportivo não deve ser visto como um fim em
si mesmo, mas sim parte de um plano de desenvolvimento em longo prazo. Essa
realidade é ainda mais pertinente para os países em desenvolvimento, onde os
resultados poderão trazer maiores impactos (positivos ou negativos). Após a realização
do megaevento, muitas vezes há mérito no desenvolvimento de um conjunto contínuo
de eventos menores que utilizam a infraestrutura construída para o megaevento e
podem reforçar o perfil e a reputação da cidade sede ao longo do tempo (LARA, 2013).
1 Mestranda em Turismo pela Universidade de São Paulo – USP. Bacharel em Lazer e Turismo pela
Universidade de São Paulo – USP. E-mail: [email protected] 2 Mestrando em Turismo pela Universidade de São Paulo - USP. Bacharel em Turismo e Hotelaria pela
Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. E-mail: [email protected] 3 Mestranda em Turismo pela Universidade de São Paulo – USP. Bacharel em Turismo e Hotelaria pela
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. E-mail: [email protected]
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Diante desse contexto, o objetivo deste trabalho é analisar as relações entre as
políticas públicas de lazer e turismo e megaeventos esportivos através de revisão
bibliográfica , considerando os eventos Copa do Munda Fifa 2014 e Jogos Olímpicos de
Verão Rio 2016, sediados no Brasil, como importantes acontecimentos para o
desenvolvimento econômico, sociocultural, político e urbano.
Políticas públicas de lazer e turismo - uma breve discussão
Compreender as políticas públicas (PP’s) não é uma tarefa fácil, sua teorização
é complexa e a definição diverge entre os seus estudiosos. Para o presente trabalho,
PP’s serão entendidas como: Uma diretriz elaborada para enfrentar um problema
público. Desta forma, consideram-se as seguintes preposições: uma PP é uma
orientação à atividade ou à passividade de alguém; as atividades ou passividades
decorrentes dessa orientação também fazem parte da PP; uma PP possui dois
elementos fundamentais: intencionalidade pública e resposta a um problema público.
Em outras palavras, a razão para o estabelecimento de uma política pública é o
tratamento ou a resolução de um problema entendido como coletivamente relevante: Políticas públicas envolvem, entre outros aspectos, o planejamento, a implantação e a avaliação de processos referentes aos bens públicos, devendo comprometer-se com o bem-estar coletivo (GOMES; PINHEIRO; LACERDA, 2010, p.58).
Por política pública de turismo (PPT), pode-se compreender o direcionamento
dado pelo governo federal, estadual, municipal ou regional para o desenvolvimento da
atividade turística, após ter consultado os representantes do setor turístico e da
sociedade. Tal direcionamento pode ser expresso, por exemplo, no documento
denominado Plano Nacional de Turismo (PNT) e nos demais documentos das
diferentes instâncias governamentais. Devem-se levar em consideração,
principalmente, quatro grandes vertentes: social, cultural, econômica e ambiental – e
buscar desenvolver o setor de maneira holística, analisando e valorizando com a
atenção necessária cada um dos componentes do sistema turístico nacional ao qual
será aplicado (LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2008).
O desenvolvimento da atividade turística em um município traz diversos
impactos para o mesmo, sendo estes positivos e/ou negativos e afetam as esferas
política, social, cultural, ambiental e econômica. Em um estudo conduzido em Brotas,
interior de São Paulo, Ribeiro e Amaral (2015) pesquisaram as percepções dos
moradores da cidade com relação aos impactos causados pelo turismo no seu lazer.
Entre as descobertas desse estudo, Ribeiro e Amaral (2015, p. 110) destacam
como impacto positivo: o aumento das opções de lazer em termos de atividades, de eventos e de infraestrutura, por exemplo, de bares e restaurantes. Houve, também, melhoria dos atrativos, por conta de construções e instalações de equipamentos. Os principais impactos negativos foram as barreiras para frequentar os atrativos naturais, os quais, mesmo
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em sua maioria privados, eram passíveis de usufruto gratuito antes do desenvolvimento do turismo no município.
Com isso observa-se, de outro ângulo, a relação que pode haver entre o
turismo e o lazer (turismo nessa perspectiva voltada para pessoas de fora, e lazer
voltado para os moradores da cidade em questão). Ora, se o desenvolvimento do
turismo proporciona melhoria de espaços de lazer – museus, parques, centros de
eventos, entre outros – para turistas usufruírem, por que não ocorre o incentivo ao
uso desses atrativos pelos próprios moradores da cidade?
Uma possível resposta para essa pergunta é pelo viés economicista em que
observa o turismo, que só enxerga o lucro e não vê a oportunidade de utilizar esses
espaços em prol do desenvolvimento cultural dos moradores da cidade. Diante dessa
questão, destaca-se a necessidade de implantação de políticas de lazer que efetivem
essa oportunidade e revertam os impactos positivos do turismo para usufruto dos
munícipes.
As PPT’s devem ser formuladas e implantadas com o intuito do
desenvolvimento responsável da atividade, que impulsione programas do setor, assim
como devem ser claras, conter metas, com estratégias delimitadas através de um
planejamento que priorize a participação de todos os atores envolvidos no fenômeno.
O lazer e o turismo no contexto dos megaeventos esportivos
O direito ao lazer e turismo, apesar de assegurado na Constituição, não se faz
presente. Todavia, entende-se que os eventos, se bem planejados, organizados e
executados, podem alavancar os direitos ao turismo e ao lazer através da cidadania,
em especial a cidadania participativa, que permita que o cidadão tenha direito de
argumentar e opinar no planejamento dos eventos, pensando nos possíveis legados a
cidade, ao lazer e ao turismo.
Neste aspecto Menicucci (2006) aponta que cidadão é aquele que tem vínculo
com o Estado, com direitos e deveres fixados, com a ideia intrínseca de igualdade e
compreendida no mundo ocidental quase como algo inatingível pela combinação de
liberdade, participação e igualdade.
As formulações de PP’s, como afirma Bramante (1997), devem ter como ponto
de partida a elaboração de Diagnóstico de Necessidades, uma vez que estas políticas
determinam uma ação. Este Diagnóstico leva em conta valores e metas de uma
sociedade juntamente ao governo, compreendendo aspirações e permitindo através
da participação propostas que condizem com a realidade.
O megaevento esportivo, diante desse contexto, aparece como a ação
formuladora de políticas que priorizem o morador local, o turista, o governo, bem
como o setor privado e todos outros atores diretamente envolvidos ou não com o
evento. Independente da ação, o que sempre deve ser pensado é o longo prazo,
instrumentos que estabeleçam diálogos com a realidade local e com anseios, legados,
assim como a continuidade de ações que possibilitem o sentimento de pertencimento
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
e que presem no bem estar de todos da cidade, inclusive turistas. A qualidade de vida
só será de fato efetiva quando o governo perceber a realidade e permitir a
participação da sociedade em suas políticas, isso vai além da cidadania e permite a
construção de todos para todos.
Assim os eventos podem colaborar na reinvindicação da qualidade de vida, o
repensar dos direitos, bem como suas diversas relações com outros setores e seus
possíveis benefícios, se pensados estrategicamente, com um efetivo planejamento.
Considerações Finais
A cidadania não trata apenas das questões de participação, mas da
reinvindicação dos direitos, sejam eles políticos, civis ou sociais. Lutar pelas
necessidades, entender o contexto da sociedade e apontar elementos de melhoria é
um direto do cidadão, assim como diversos outros fatores que permitam melhor
qualidade de vida e desenvolvimento constante.
A democratização se faz necessária, democratizar o turismo, o lazer, os
megaeventos, ou seja, torna-los acessíveis a todos, visitantes e cidadãos, como uma
realidade a ser vivida nos dias atuais, com políticas públicas que permitam o acesso a
uma vivência diferenciada e que só será possível através da participação de todo
cidadão.
Referências
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GOMES, C.; PINHEIRO, M.; LACERDA, L. (2010). Fundamentos políticos de inclusão social. In: ________________________________. Lazer, turismo e inclusão social: Intervenção com idosos. Belo Horizonte: Editora UFMG, p.43-69/p29-49.
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ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Políticas Públicas, Planejamento e Gestão do Turismo no Litoral Piauiense
Francisco Coelho MENDES1 Ana Valéria ENDRES2
Raimundo Ferreira de CARVALHO3 Magnólia Lima Verde Coelho MENDES4
Resumo
Para que o programa de regionalização do turismo seja eficiente, faz-se necessário o empenho das políticas públicas, planejamento e gestão institucional com foco em questões interdependentes e interdisciplinares do turismo. Este estudo tem como objetivo, analisar a gestão do programa de regionalização do turismo e as políticas públicas institucionais aplicadas ao turismo no litoral do Piauí, formado pelos municípios de Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba e Ilha Grande. A metodologia adotada foi do tipo pesquisa qualitativa e descritiva, mediante a realização de consulta bibliográfica, consulta documental e entrevista (depoimento). O estudo mostra algumas oportunidades de melhoria referentes a falta de habilidade e planejamento institucional coerente com o desenvolvimento regional do turismo, falta de qualificação para enfrentar desafios como mudanças constantes nos padrões de consumo dos turistas, carência de gestão compartilhada e participativa, e pouco compromisso com o desenvolvimento sustentável do turismo. Por fim, espera-se que a busca pela eficiência e efetividade dos instrumentos de planejamento e gestão propiciem a mudança de paradigmas organizacionais e o comprometimento de profissionais envolvidos com o desenvolvimento sustentável do turismo no litoral do Piauí. Palavras-chave: Políticas Pública; Gestão do Turismo; Regionalização do Turismo.
1 Introdução Em função das rápidas transformações socioeconômicas e socioambientais
promovidas pelo turismo no litoral do Piauí, verifica-se alterações na ocupação do
espaço geográfico, no tocante ao crescimento populacional, a especulação imobiliária,
e a depredação do litoral piauiense.
Nessa perspectiva, as políticas públicas aplicadas ao turismo no Piauí e o
planejamento dos órgãos gestores do turismo no Estado contam com a parceria
público-privada entre a Secretaria de Estado do Turismo no Piauí (SETUR-PI), a
Unidade do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Piauí (PRODETUR-PI) e a
1 Doutor em Ciência, Tecnologia e Inovação pela UFRRJ; Mestre em Administração pela UFRRJ; Graduado
em Administração pela UFAM. Professor Adjunto da UFPB. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8184612809361335. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Sociologia Política pela UFSC; Mestre em Planejamento do Desenvolvimento pela UFPA;
Graduada em Turismo pela UFPA. Professora Adjunta da UFPB. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2835251169957175. E-mail: [email protected]. 3 Pós-graduação (Lato Sensu) em Gestão Pública pela UFPI; Graduação em Administração pela UESPI.
Servidor Púbico da Fundação Nacional da Saúde (FUNASA) no Piauí. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8016404211854150. E-mail: [email protected]. 4 Pós-graduação (Lato Sensu) em Enfermagem do Trabalho pelo CEPE-MA; Graduação em Ciências
Biológicas pela UESPI. Servidora Púbica da EBESERH (HULW) na Paraíba. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4249652864221487. E-mail: [email protected].
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Secretaria de Planejamento do Estado do Piauí (SEPLAN-PI), bem como as agências de
viagens e a rede de hotéis, restaurantes e comércios da iniciativa privada.
Diante da necessidade de interação entre os órgãos públicos e a iniciativa privada
para o desenvolvimento sustentável do turismo, questiona-se: Como o Programa de
Regionalização do Turismo (PRT) é contemplado pelas políticas públicas institucionais e
como é aplicado às localidades turísticas do litoral do Piauí?
O estudo tem como objetivo geral: analisar a gestão do programa de
regionalização do turismo e as políticas públicas institucional aplicadas ao turismo no
litoral do Piauí, formado pelos municípios de Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba e
Ilha Grande. Para isso, foram desenvolvidos os seguintes objetivos específicos:
identificar como funcionam o planejamento e a gestão institucional aplicada ao polo
turístico do litoral piauiense; compreender o programa de regionalização do turismo
implementado no litoral piauiense.
A relevância do estudo se caracteriza pelo desenvolvimento de novos métodos
de trabalho e práticas de gestão dos processos da SETUR-PI, SEPLAN-PI e PRODETUR-
PI, que requer a existência de pessoal qualificado e comprometido, bem como a
participação mais efetiva da sociedade na elaboração dos projetos, implementação e
acompanhamento do desenvolvimento turístico sustentável. O que se pretende é
disseminar técnicas de planejamento institucional já utilizadas por organismos
nacionais e internacionais em áreas com potenciais para o turismo.
As Políticas públicas de turismo no litoral do Piauí apresentam programas, projetos e
ações mediante uma parceria público-privada, que retrata a situação do turismo no
litoral, contemplado por uma panorâmica das políticas públicas do Ministério do
Turismo (MTur) e do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste
(PRODETUR) para a oferta e produção do turismo, bem como apresenta políticas
envolvendo os programas de regionalização do turismo no litoral piauiense.
2. Fundamentação Teórica 2.1. Políticas públicas e programas de regionalização do turismo
A política nacional de turismo (PNT) foi lançada em 1966, com o surgimento da Empresa Brasileira de Turismo – EMBRATUR, considerada como um grande instrumento das políticas de desenvolvimento nacional.
Foi com o advento da redemocratização brasileira, a partir da década de 1990 que as políticas públicas de turismo passam a incorporar diretrizes que permitem a possibilidade do diálogo, incentivando a criação de vários espaços de participação para a sociedade demandar seus objetivos (ENDRES, 2012).
A partir de 2003, o governo brasileiro continuou com as políticas descentralizadoras e inovou criando o Ministério do Turismo (MTur), bem como o Plano Nacional de Turismo (PNT) com o objetivo de articulador do processo de planejamento turístico, ficando a cargo do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) focar na promoção e marketing internacional e institucional do Brasil (MTur, 2013).
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Foi com base em macroprogramas que se propôs a regionalização do turismo, que se deu em função do entendimento de território como uma forma mais ampla de pensar o planejamento turístico, diferente da ideia de municipalização que supervaloriza a municipalidade e a localidade de maneira independente. Experiências de regionalizar o turismo já vinham sendo aplicadas com êxito em alguns estados do Brasil como em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul (ENDRES, 2012).
Quanto a implementação do PRT, apresentam estágios de maturidade variados, porém com problemas que quase sempre se repetem, como a falta de capacidade técnica e institucional, bem como o baixo envolvimento político no processo de gestão participativa. Dessa forma, é fundamental que o Estado e suas instituições planejem, capacitem e valorizem a participação mais democrática da gestão do turismo.
No âmbito do estado do Piauí, existiam dois órgão que atuavam diretamente no turismo, a Piauí Empresa de Turismo (PIEMTUR), criada em 2005, que sucedeu a Empresa de Turismo do Piauí, fundada em 1971. A PIEMTUR tem como finalidade elaborar, coordenar e executar as políticas de turismo no Estado. O outro órgão é a Secretaria de Turismo do Piauí (SETUR-PI), criada em 2007, que tem entre suas competências a de coordenar e acompanhar a execução do Plano Estadual de Turismo (MTur, 2012).
A PIEMTUR desenvolvia ações direcionadas à área do planejamento turístico, com a execução de programas de qualificação de mão de obra em turismo, como cursos de formação de guias de turismo e informações turísticas, aplicados ao segmento hoteleiro e agenciamento. Inclusive, a Rede Integrada de Hotéis e Pousadas do Piauí, composta por cinco hotéis no Estado, ficou sob a gestão da PIEMTUR até 1997. Atualmente, esses hotéis são arrendados e administrados pela iniciativa privada (MTur, 2012).
Atualmente, a SETUR-PI é responsável por ações antes realizadas pela PIEMTUR. Inclusive, a gestão do PRODETUR como Unidade Estadual Executora era atribuída à Secretaria Estadual de Planejamento (SEPLAN), que passou então para a responsabilidade da SETUR, juntamente com as demais ações dos projetos, programas e macroprogramas (SILVA, 2013). 2.2. Planejamento e gestão do turismo
O processo de planejamento norteia as políticas públicas diante das ações do poder público. Essas políticas são influenciadas por características sociais, econômicas e culturais de determinada sociedade, pelo sistema político e pelas estruturas formais do governo. Portanto, a política pública representa a ação planejada do Estado perante a sociedade.
É importante entender as interações existentes entre as atividades turísticas e outros setores da iniciativa privada e poder público para definir o direcionamento do planejamento e da gestão do turismo nas tomadas de decisões sobre recursos, habilidades político-administrativas e influências político-partidárias do processo de gestão (ENDRES, 2008).
Conforme Bissoli (2001), o desenvolvimento das atividades turísticas é reflexo do planejamento local aplicado ao turismo.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
O planejamento turístico é um processo que analisa a atividade turística de um determinado espaço geográfico, diagnosticando seu desenvolvimento e fixando um modelo de atuação mediante o estabelecimento de metas, objetivo, estratégias e diretrizes com os quais se pretende impulsionar, coordenar e integrar o turismo (...) no sentido de que vai ser dirigido à comunidade (...) [e] na medida em que é um processo que tende e consolidar uma série de decisões com um alto grau de racionalização (BISSOLI, 2001 p.34).
O Piauí, procura melhorar o seu planejamento e desenvolvimento turístico implementando programas, como o PRODETUR, que visa ampliar a infraestrutura das localidades turísticas, com foco no desenvolvimento do turismo regional e na possibilidade de melhorias das alternativas socioeconômicas e socioambientais (SILVA, 2013).
Dessa forma, as políticas públicas e o planejamento local aplicado ao turismo inspiram novas pesquisas no intuito de detectar problemas de planejamento estratégicos, implementação de políticas públicas e desenvolvimento sustentável local ou regional. 3. Resultados e Discussão
Percebe-se que não existe uma política de fortalecimento da cultura do turismo
no Estado. Pois pouco se valoriza os conhecimentos culturais da comunidade que tem
como objetivo contribuir para o desenvolvimento sustentável; bem como o processo
de regionalização local, que visa caracterizar o turismo por afinidade ou semelhança
das diversas microrregiões com potencial turístico no Estado.
Dentre os desafios para a regionalização do turismo no Piauí, podemos
destacar: a necessidade de fortalecimento do turismo com a gestão integrada entre a
SETUR-PI, SEPLAN-PI e PRODETUR-PI; o pouco conhecimento da população quanto ao
tema regionalização do turismo; e a necessidade de descentralização e interiorização
das atividades turísticas no Estado.
A SEPLAN-PI pode atuar decisivamente para estimular a implementação e a
fiscalização do desenvolvimento turístico sustentável, por meio do incentivo à prática
do orçamento participativo, da implantação de sistemas de informações turísticas
regionais, da participação ativa dos conselhos municipais para acompanhamento dos
projetos estruturantes do turismo.
A SETUR-PI é responsável pelo planejamento estratégico, construção do
conhecimento, desenvolvimento de técnicas e processos e gestão pública do turismo
no Estado. Algumas ações foram realizadas visando garantir o desempenho do
processo turístico, destacando-se a reestruturação do Plano de Desenvolvimento
Integrado do Lazer (PDIL), a partir de 2013, especificamente para o turismo, cultura,
esporte e lazer (BRASIL, 2015).
Observa-se que existem algumas questões que precisam melhorar, como a
comunicação interna, planejamento de ações, quadro de funcionários reduzido e
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
reestruturação de normas e procedimentos internos. Observa-se também, que os
recursos financeiros destinados ao desenvolvimento do turismo são bastante
limitados, o que desestimula o empreendedorismo e a criação de redes de
relacionamento em prol do desenvolvimento turístico local. Outro aspecto observado
foi a descontinuidades das políticas públicas de desenvolvimento turístico, causando
incertezas quanto a gestão pública, que às vezes prejudica o desempenho das ações
efetivas.
Observa-se também, falta de habilidades e gestão institucional coerentes com
o desenvolvimento regional do turismo, falta de qualificação para enfrentar desafios
como mudanças constantes nos padrões de consumo dos turistas, carência de gestão
compartilhada e participativa, e pouco compromisso com o desenvolvimento
sustentável do turismo. Apesar da existência da legislação pertinente, os recursos
financeiros, a infraestrutura dos municípios, infraestrutura turística e a capacitação
profissional são limitados.
4. Conclusão O litoral piauiense possui potencialidade turística, no entanto, possui elevados
índices de carências socioeconômicas, socioambientais e deficiência de infraestrutura.
O Piauí necessita investir em marketing turístico e qualificação permanente do trade
turístico, composto pelos municípios de Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba e Ilha
Grande, visando manter a equidade entre os estados do Ceará e do Maranhão, nos
aspectos relacionados a qualidade dos serviços e a melhoria da infraestrutura turística.
Entende-se que os municípios desse polo turístico possuem instrumentos de
planejamento e gestão municipal, porém apresentam algumas deficiências quanto a
sua capacidade institucional e o desenvolvimento de suas atividades turística.
Consideramos alguns aspectos positivos como a exuberância do litoral
piauiense (Delta do Parnaíba, flora e fauna, atrativos históricos, culturais e religiosos),
a conservação das praias, a natureza paisagística e a qualidade no atendimento aos
turistas.
Como aspectos negativos destacamos a ocupação desordenada das áreas de
praias com construção de mansões e meios de hospedagem, especulação imobiliária,
infraestrutura deficitária, mão de obra local de baixa qualificação e pouco
especializada.
Referências Bibliográficas
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ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
As contribuições de um conselho consultivo unificado de Unidades de Conservação para o Turismo: PEIT, EET, APASM
Rodrigo Burkowski1 Mariana Gomes 2
Introdução
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação, criado pela lei federal
9897/2000 impôs a obrigatoriedade de conselhos consultivos ou deliberativos em
Unidades de Conservação. Fruto de um processo nacional que busca uma maior
inserção da sociedade civil nos processos deliberativos (em entes públicos) sua
efetividade é constantemente criticada (PUTMAN, 1996; GOHN, 2001; LIMA et AL,
2005; BURKOWSKI,2013). As críticas recaem sobre diversos aspectos, desde os formais
(cumprimento das normas, leis, portarias) aos subjetivos (motivos de participação,
controle do processo, manipulação, entre outros).
A presente pesquisa, de caráter exploratório-descritiva, tem como objetivo
compreender o funcionamento dos últimos dois anos do conselho consultivo do
parque estadual do Itacolomi, Estação Ecológica Tripuí e APA Seminário Menor. A
primeira análise é a parte formal burocrática de gestão do conselho. A segunda busca
analisar quais os temas abordam o turismo e uso público. O governo de Minas Gerais,
almejando aumentar a efetividade dos conselhos gestores de Áreas Protegidas, iniciou
um trabalho de unificação destes. Na região de Ouro Preto-MG houve a união de
alguns conselhos e dessa forma tentou-se criar 3 grandes conselhos. Neste estudo,
apresentam-se os dados relativos ao primeiro grupo EET, PEIT e APASM, nomeado pela
portaria IEF nº 171 de 11 de novembro de 2013. Foram nomeados 15 membros do
poder público e 15 da sociedade civil, totalizando 30 membros. Este conselho
funcionou efetivamente de 09-12-2013 à 08-10-2015 e as oito atas estão corretamente
arquivadas e disponibilizada na sede do PEIT. A técnica utilizada foi a análise de
conteúdo, tendo como temas-chaves o eixo “uso público” e “turismo em áreas
protegidas”. Além disso, os pesquisadores realizaram observação não participativa em
seis reuniões, além de entrevistas com gestores.
1. Análise Geral do Conselho
Conforme deliberado na primeira reunião a periodicidade das reuniões foi
trimestral. Houve, na terceira reunião, um pedido para que as reuniões fossem
bimestrais, sendo esse negado pelos conselheiros. A justificativa para aumentar a
frequência das reuniões era a grande demanda de trabalho e o número de UC´s que
compunham o conselho. Como justificativa para negar o pedido, os conselheiros
argumentaram que já estava difícil participar de reuniões trimestrais e que se fossem
1 Professor Adjunto II – Universidade Federal de Ouro Preto – [email protected]
2 Discente do curso de Turismo da UFOP e membro do projeto
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
bimestrais haveria menor participação. Além disso, existe a possibilidade de convocar
reuniões extraordinárias quando houver uma demanda imediata e especifica.
Burkowski (2013) ao analisar o conselho do Mosaico Veredas-Peruaçu aponta para a
dificuldade dos conselheiros em participar das reuniões pois essa é uma atividade
voluntária. Ele aponta que existem participantes que recebem ajuda indireta ou que
sua participação faz parte de suas obrigações laborais (via de regra servidores
públicos) e que os conselheiros do terceiro setor e da iniciativa privada não contam
com os mesmo benefícios. Isso pode gerar uma menor participação de determinados
setores nas reuniões. Essa informação é reforçada ao se analisar a frequência nas
reuniões desse conselho (gráfico 1).
Gráfico 1. Frequência nas reuniões
Fonte: extraído das Atas.
Os dados obtidos na pesquisa reforçam a hipótese levantada. A maior
participação de membros do poder público pode ser explicada pelos incentivos
indiretos e obrigatoriedade em participar das reuniões. Mesmo sendo essa
participação voluntária, um professor universitário que componha o conselho, por
exemplo, coloca essa sua atividade no rol de obrigações institucionais. Portanto, sua
participação é voluntária mas também obrigatória pois a chefia considerará essa
participação como carga horária trabalhada na instituição. Na reunião realizada em
14/07/2014 uma das conselheiras justifica sua ausência por “falta de recursos
financeiros” (3º ATA, linha 30) e dois conselheiros discordam do aceite desse motivo
como justificativa, alegando que os demais conselheiros participam com recursos
próprios. Entende-se que a justifica da conselheira é válida e que é interessante buscar
recursos e meios que viabilizem a participação de todos os interessados. Na (4° ATA,
Linha 28) a secretaria do conselho fez algumas considerações sobre as faltas e
justificativa, possivelmente mencionando as penalidades contidas no regimento
interno. Na sétima reunião, encontra-se outro pedido para tentar aumentar a
participação (7° Ata, linha 36), sendo esse pedido acolhido. Todavia, o autor do pedido
não compareceu na reunião cuja data foi alterada à seu pedido.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Considerando da perspectiva da Dádiva, teoria que pode ajudar a compreender
a criação-reforço-resgate do vínculo social, percebe-se limites para a doação-
participação, o qual seja, as limitações financeiras. Com isso, por mais que exista um
manifesto desejo em participar, a falta de recursos matérias acabam por inviabilizar tal
ato. Não se concorda com a opinião de que essa prática não seria um exercício pleno
da Dádiva. Entende-se que sim, essa pode ser um agir dadivoso (BURKOWSKI, 2013)
limitado por circunstâncias específicas.
Nessas reuniões foram registradas, em média, trinta e nove manifestações
sobre diversos assuntos, desconsiderando a sexta reunião na qual ocorreram oitenta
manifestações sobre assuntos diversos. Essas manifestações não contabilizaram as
falas iniciais obrigatórias (aprovação de atas anteriores, informes e pauta). Dessas
manifestações, têm-se, em média quatro, que tratam do turismo, com exceção da
sexta reunião na qual aconteceram trinta manifestações sobre turismo. Nessa reunião
foi apresentado o projeto “Mariana Viva” (6° Ata, Linha 37) que incentivaria o Turismo
no PEIT via Mariana, abrindo uma portaria na região da Serrinha. Foi discutido que
muitas iniciativas se perdem logo após a implantação e que seria importante a criação
de um “curso de condutores locais e empreendedorismo”(6º Ata, Linha 70). Outros
pontos serão analisadas a seguir.
2. Análise Temas-chave: uso público e turismo
Cumpre destacar inicialmente que o Turismo pode ser considerado uma
importante atividade social e econômica, contribuindo para a preservação ambiental e
inclusão social. Lembra-se também que a atividade esta prevista nos objetivos de
criação de unidades de conservação, em especial da categoria Parque (artigo 4º Inciso
XII e artigo 11º da lei 9985/2000). Assim, nota-se na composição do conselho pessoas
envolvidas diretamente com a atividade turística (UFOP, IFMG, FEMEMG, Associação
da Serra do Espinhaço, PUC-MG, Novas Lavras Turismo) e diversos ouvintes que
possuem interesse no tema.
A primeira manifestação direta sobre o tema foi feita pelo ouvinte Bruno que
assim se manifestou: “...a vertente do ecoturismo, turismo de aventura deveria ser
trabalhado nos parques e ele não vê ação em relação ao setor público dentro do
PEIT..”(2º ATA). Existe, nas pessoas que trabalham com o parque (ou o têm como
objeto de estudo), a percepção de que o parque possui capacidade para atrair muito
mais visitantes. Bedim (2010), Burkowski e Varajão (2010), Santos (2014) relatam em
suas pesquisas que essas UC´s possuem excelente localização geográfica, diversidade
de atrativos naturais e culturais, boa infraestrutura e acesso, enfim, possuem potencial
para receber o dobro ou o triplo dos quase 10.000 turistas anuais. Entretanto, algumas
atividades desejadas não estão contempladas no plano de manejo e que por isso não
são autorizadas a acontecerem dentro do PEIT. Um bom exemplo é a escalada. Ouro
Preto recebe um importante evento anual (Ouro Preto Boulder) que reúne escaladores
do Brasil e do Mundo para praticarem essa modalidade mas não podem fazê-la dentro
do parque. Caso fosse permitido poderíamos ter dois ou três eventos desse tipo na
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
região por ano. Conforme o conselheiro José Augusto acontecem “...atividades de
downhill e atividades de contemplação da natureza e turismo como parapente e asa
delta” (3º ATA, linha 133) na APASM de maneira desordenada. Diversos esportes não
foram incluídos no plano de manejo apesar do grande potencial do parque (vide
relatos na FEMEMG e fóruns específicos). Dessa forma, os empreendedores da área de
turismo esperam que na revisão do plano de manejo, prevista para ter ocorrido em
2014, a atividade seja analisada.
Outra fala na 2º reunião foi feita pelo conselheiro Hebert que, retomando o
questionamento feito pelo ouvinte Bruno, solicitou informações sobre o projeto
Parques da Copa no qual o PEIT estaria incluído. Todavia o secretário de Municipal de
Turismo informou que o PEIT não compôs esse projeto, apresentando a justificativa de
haver dúvidas sobre o funcionamento do restaurante e que a não existência deste
equipamento inviabilizaria a divulgação do atrativo. Porém, Anna Carolina Lobo (WWF-
Brasil), informa que o projeto Parques da Copa foi interrompido junto com outros
projetos e o turismo ecológico não é uma prioridade dos governos (ALENCAR, 2014).
Portanto, para além de um problema específico, houve uma interrupção de
todo o programa Parque da Copa, prejudicando a qualificação de um produto turístico
que tem potencial de crescimento. O restaurante de uma UC´s é algo importante e no
caso do Itacolomi houve uma concessão, mediante licitação. A empresa do Sr. Clóvis
(2º Ata, linha 94) foi a vencedora e houve apresentação formal do mesmo. Todavia,
apesar dos esforços empreendidos, não houve continuidade dos serviços de
alimentação, tendo o restaurante encerrado seus serviços antes de completar seis
meses de atividade.
Na terceira reunião realizada em 14/07/2014 foi questionado sobre a portaria
IEF nº 88 de 14 de maio de 2010 (3º Ata, linha 68), mas que na data da reunião já havia
sido revogada pela Portaria IEF nº 173, de 19 de novembro de 2013. Essa portaria
estabelece as normas e diretrizes para o uso público das Unidades de Conservação
administradas pelo IEF. Na (3º Ata, linha 68) questionava-se o pagamento de taxas por
parte dos guias e condutores e taxa dos veículos que levavam grupos de turistas. A
nova portaria estabelece uma série de isenções, dentre elas a dos “Guias de turismo
(conforme disposto na Lei Federal nº 8.623, de 28 de janeiro de 1993), condutores
locais credenciados na Unidade de Conservação, motoristas de transporte coletivo
(ônibus e vans em transporte de grupos de visitantes e táxi) em exercício de sua
função e que estejam portando sua identificação funcional.” (Portaria 173, de 19 de
novembro de 2013, Art. 4º, inciso X). Contempla ainda em seu Art. 26 que “cabe à
administração de cada Unidade de Conservação, com apoio dos Escritórios Regionais e
da Diretoria de Áreas Protegidas, a elaboração do “Regulamento Interno” da Unidade
de Conservação, contendo as suas normas específicas. O regimento interno da
Unidade de Conservação deverá ser apresentado ao Conselho Consultivo e aprovado
pela Diretoria de Áreas Protegidas para validação e publicação do documento.” Esse
artigo da portaria, a nosso ver, não reforça o papel do conselho pois ele deve ser
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
apresentado ao Conselho Consultivo e aprovado por outra instância. Para auxiliar
nesse processo, a senhora Camila Oliveira comentou (4º Ata, linha 116) que “trabalha
no setor da SETES e tem aceso ao cadastur” e que poderia disponibilizar ao parque
caso seja necessário.
Considerações Finais
As quase duas décadas de obrigatoriedade de conselhos em Unidade de
Conservação e sua efetiva contribuição ainda é um desafio para a gestão pública. No
aspecto formal o conselho atende à quase todos os requisitos legais, disponibilizando
as atas, realizando reuniões periódicas, convocando com antecedência, entre outros. O
único problema foi a falta de paridade entre setor público e privado-sociedade civil,
que será corrigido na próxima gestão. Dessa forma, esse apêndice (pois alguns
gestores gostariam de cortá-lo) pode, como no caso apresentado, contribuir para um
melhor uso público. No caso específico o foco recaiu sobre o Turismo e as falas e
cobranças feitas pelos participantes demonstram certa maturidade no entendimento
das potencialidades e possibilidades do turismo na área. Destaca-se a participação
ativa da população de Mariana na apresentação e defesa do projeto “Mariana Viva” e
o esforço da gestão para cumprir as deliberações do conselho. Contudo, por razões
políticas e técnicas não houve a renovação do conselho e consequentemente a
suspensão de suas atividades. Espera-se que no desdobramento deste trabalho
compreender porque os outros conselhos da região que foram unificados não deram
certo.
Bibliografia Alencar, Emanuel. (2014) Governo investe 0,15% do prometido no programa Parques da Copa. Disponível em http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/governo-investe-015-do-prometido-no-programa-parques-da-copa-12624725#ixzz4H8bK65Zb .Acessado em 12-08-2016. Bedim, B. P., Campos, C. F. D., & Vidal, T. C. (2010). Equipamentos turísticos do Parque Estadual do Itacolomi (MG): análise das instalações e dos atrativos construídos. Burkowski, R; Varajão, G.F.D.C. (2010) – Sustentabilidade da Visitação Pública em Unidades De Conservação: um estudo de caso do Plano de Negócios do Parque Estadual Do Itacolomi-MG. Caderno de Geografia (ISSN 2318-2962), 20(34):22-43. PUC–Minas, Brasil. Available at http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/view/1663/1770. Burkowski, R. (2014). Dádiva e gestão social em unidades de conservação em Minas Gerais. Disponível em http://repositorio.ufla.br/handle/1/1749. Acessado em 26-08-2016. Estima, D. C., Ventura, M. A. M., Rabinovici, A., & Martins, F. M. C. P. F.. (2014). Concession in tourism services and partnerships in the Marine National Park of Fernando de Noronha, Brazil. Revista de Gestão Costeira Integrada, 14(2), 215-232. https://dx.doi.org/10.5894/rgci469. Gohn, M. G. (2001). Conselhos gestores e participação sociopolítica. São Paulo: Cortez, 2001. Disponível <http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n4/a08v18n4.pdf>. Acesso em 14.07.2012.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Lima, G. S; Ribeiro, G. A; Gonçalves, W. (2005).Avaliação da efetividade de manejo das Unidades de Conservação de proteção integral em Minas Gerais. Sociedade de investigações Florestais. Santos, Rafael Lopes dos. (2014) Estudo e proposta de implantação de uma trilha interpretativa no Parque Estadual do Itacolomi, Ouro Preto/Mariana (MG). Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) - Universidade Federal de Ouro Preto. MOTA, L.(2011) . Dádiva e sociabilidade no Brasil. Revista ANTHROPOLÓGICAS. Disponível em: <http://www.revista.ufpe.br/revistaanthropologicas/index.php/revista/article/view/105/10>. Acesso em: 25 Ago. 2016..
Os autores agradecem o apoio do CNPq para realização desta pesquisa.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
A inclusão e desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária em Mamirauá na percepção da gestão 2001-2002/ 2014-2016
Laís Faria Cordeiro1 Kerley dos Santos Alves2
Rodrigo Burkowski3 INTRODUÇÃO
O Turismo manifesta-se de diferentes formas no que se refere à relação com os
sujeitos que o produzem a vertente de base comunitária se consolidou na década de
1990 no Brasil como um modelo de desenvolvimento centrado nos recursos (humanos,
naturais, de infraestrutura) endógenos. Assim, a Comunidade local participa
diretamente da concepção, desenvolvimento e gestão do turismo (FABRINO, p.14,
2013), em contraposição, no caso da área ambiental, ao modelo tradicional de
Ecoturismo.
O presente artigo buscou conhecer as conquistas e desafios na implantação do
Turismo de Base Comunitária (TBC) no Instituto Mamirauá, através da percepção de
um dos primeiros coordenadores da pousada e do atual coordenador do Projeto.
Utilizou-se como estratégia metodológica pesquisa bibliográfica, documental e
aplicação de entrevistas semi estruturadas como instrumento de coleta de dados. A
Entrevista 1 foi realizada através do aplicativo Skype e com duração de 58’12’’,com
Marcos Amend, Fotógrafo, Engenheiro Florestal, gerente de campo da Pousada Uacari.
Se envolveu com o turismo no mestrado, fazendo pesquisa na Ilha do Superagui – PR.
Foi gerente de campo da Pousada Uacari em 2001-2002, participou da efetivação do
TBC em Mamirauá. A Entrevista 2 foi realizada com o atual Coordenador do Programa
de Turismo de Base Comunitária, Pedro Meloni Nassar, Biólogo mestre em Gestão de
Áreas Protegidas na Amazônia. Ingressou no turismo através do agenciamento de
viagens para escolas, começou a trabalhar como guia naturalista em Mato Grosso do
Sul e depois em Mamirauá. Foram analisados aspectos negativos e positivos dessa
implantação, a visão individual sobre a relação de inclusão social com o TBC e também
as vivências de inclusão na Pousada Uacari. Tendo em vista que, de acordo com dados
do site oficial da Pousada Uacari, uma das iniciativas do programa de inclusão do TBC
por parte do Instituto, é o assessoramento às comunidades locais para a prestação de
serviços turísticos, assim como realizar pesquisas para apoiar o manejo das atividades.
O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA
O TBC busca trazer para as comunidades, famílias, tribos e onde mais ele
estiver inserido a melhoria para todos como um todo, no relacionamento familiar,
social e econômico. Irving (p.110, 2009) diz, é fundamental que se esclareça que esta
1 Discente do curso de Bacharelado em Turismo da UFOP. E-mail: [email protected]
2 Professora Adjunto I do curso de Bacharelado em Turismo da UFOP. E-mail:
[email protected] 3 Professor Adjunto II do curso de Bacharelado em Turismo da UFOP. E-mail:
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
discussão parte da interpretação do turismo não apenas em sua vertente de mercado,
mas, principalmente, como fenômeno social complexo da contemporaneidade. De
acordo com o Ministério do Turismo (MTUR), apenas no ano de 2008, o MTUR, através
do Edital 01/2008, passou a reconhecer as atividades de turismo de base comunitária e
a aportar recursos para o fomento de tais iniciativas (p.89, 2009). A partir do edital
entende-se que TBC é como iniciativa de estruturação e/ou organização de produtos e
serviços turísticos protagonizados pelas comunidades receptoras, como alternativa de
geração de trabalho e renda para os residentes (p. 363, 2009). Ao considerar a
organização da produção turística com base territorial e protagonizado pelas
comunidades locais, o apoio às iniciativas de TBC visa dentre outras coisas Contribuir
para a geração de emprego e renda locais, fortalecer a governança local, em
articulação com os demais atores envolvidos na atividade turística, diminuir os
vazamentos de renda e fomentar o adensamento do mercado local, Estruturar este
segmento turístico, face a crescente demanda turística em níveis nacional e
internacional, agregar valor a destinos turísticos, por meio da diversificação dos
segmentos a serem ofertados, promover padrões de qualidade e de segurança da
experiência turística, tanto para a comunidade anfitriã quanto para os visitantes.
BREVE HISTÓRICO DO INSTITUTO MAMIRAUÁ E DA POUSADA UACARI NA
PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL
De acordo com a linha do tempo do Instituto Mamirauá e a entrevista realizada
com Marcos Amend, um dos gestores na época de implantação do TBC Mamirauá, nos
anos 80 o primatólogo José Marcio Ayres, foi quem idealizou a criação do Instituto.
José Márcio estudava os Uacari-Branco, o macaco branco de cara vermelha, que foi o
motivo da criação da reserva. Em 1990, foi criada a Estação Ecológica Mamirauá.
Estação Ecológica é um modelo de Unidade de Conservação (UC) muito restritiva, que
praticamente inviabiliza o uso público. Nos anos seguintes foi criada a Sociedade Civil
de Mamirauá. Motivado pelas condições locais, e após muita luta (QUEIROZ, 2005), foi
criada 1998 o primeiro modelo de Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Brasil.
Esse novo tipo, ainda não previsto no Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, busca conciliar a preservação (sentido strictu) com a conservação
(sentido lato). Dessa experiência, resultou em 2000, com a aprovação do SNUC, o
reconhecimento da RDS como um alternativa viável e importante para a região
amazônica. Com a transformação em RDS, foi criada em 1998 a Pousada Uacari. Nesse
época o conceito de turismo de base comunitária ainda não estava difundido, optando
os empreendedores pela implantação do ecoturismo, com forte apelo comunitário.
Essa foi uma iniciativa pioneira no Brasil, onde a organização e responsabilidade pela
pousada são dos moradores das comunidades locais junto ao Instituto.
A INSERÇÃO DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA EM MAMIRAUÁ – DE 2001 AOS
TEMPOS ATUAIS
O processo de implantação do TBC, como já citado, deu continuidade na gestão
2001/2002, aqui serão expostas as análises sobre as ações e práticas realizadas na
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Pousada Uacari, contrapondo a gestão de implantação e a atual, consecutivamente
citadas como Entrevista 1 e Entrevista 2. De acordo com Marcos Amend, antes da
Pousada, eram realizadas atividades de pesquisa, e alguns turistas acompanhavam as
atividades, sendo a hospedagem junto aos pesquisadores que cobravam pelo
dormitório, na época um dos flutuantes. Nesta mesma época foram desenvolvidos
iniciativas de interpretação ambiental, trilhas onde abordavam questões sobre
biodiversidades, o uso de produtos da floresta e também das comunidades. E com
essas ações foi criada a Associação de Auxiliares e Guias de Ecoturismo do Mamirauá -
AAGEMAM. Nesse período de 2001 a 2002 foram recebidos cerca de 350 visitantes, o
que proporcionou a possibilidade de realização de treinamentos com guias,
cozinheiras e arrumadeiras. O trabalho na pousada era conciliado com as atividades
tradicionais, o presidente da AAGEMAM era responsável em designar os membros da
comunidade, em sistema de rodízio, que giravam em torno de 30 pessoas. Uma das
dificuldades relatadas por Amend foi adaptação à cultura dos ribeirinhos, a aceitação
dos mesmos com projeto e a disciplina com as atividades. E uma constatação foi a de
que a transmissão de informações sobre o Turismo de Base Comunitária é essencial e
fundamental para o sentimento de pertencimento e aceitação como um programa
para todos e não um projeto do Instituto, as pessoas que estão envolvidas no
programa e que não são da comunidade faz-se necessário se sensibilizarem com a
cultura dos ribeirinhos.
Atualmente, na visão de Pedro a inclusão trouxe muitos benefícios, sendo o
poder e a capacidade de tomada de decisões dos próprios comunitários um dos mais
importantes. São os moradores discutindo e decidindo o que deve ser feito na
comunidade. Além disso, o Instituto Mamirauá está em um processo de transferência
de gestão da Pousada Uacari. Em poucos anos a gestão da Pousada será totalmente
das comunidades.
ANÁLISES E DISCUSSÕES
O quadro 1com os pontos positivos e negativos na percepção de cada um dos
coordenadores em relação à inserção do Turismo de Base Comunitária no Instituto
Mamirauá:
Relação Entrevista 1 Entrevista 2
Positiva
Fonte de renda Geração de renda
Modificação da tipologia do trabalho (menos
sofrido) Melhoria na organização comunitária
Por motivos de sazonalidade das outras
atividades
Opção de trabalho para várias idades e
gêneros
Troca de conhecimento cultural Conservação da área
Autoestima Empoderamento das comunidades
Maior capacidade de tomar decisões
Negativa Desigualdade de renda Desigualdade de renda
Estrutura social horizontal (status diferente) Problemas familiares (gênero)
Quadro 1: Para comparação de pontos positivos e negativos em duas realidades.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Uma pergunta aos entrevistados foi em relação ao conhecimento sobre o
termo inclusão social, se eles veem alguma relação entre a inclusão social e o TBC.
Ambos retornos foram positivo. Para Pedro Nassar, o TBC possibilita que as
comunidades se empoderem do seu território, lutem pelos seus direitos, possibilita a
inclusão de jovens e mulheres no trabalho, gera benefícios econômicos, aumenta o
poder aquisitivo dos moradores, colabora com a conservação do meio ambiente e
ajuda na organização comunitária. E Marcos complementa que trás capacidades
diferentes para as pessoas, as pessoas se sentem mais integradas a sociedade.
Diferente do que foi dito anteriormente, as questões familiares que deveriam ter
melhoria no relacionamento familiar, social e econômico, não ocorreram na inserção
do TBC em Mamirauá, de acordo com os entrevistados há desigualdade de renda e
problemas familiares presentes nas comunidades.
Em relação às ações de inclusão social que foram realizadas na Pousada Uacari,
Marcos Amend comenta que é difícil separar as questões de inclusão do turismo, é
muito mais do que o trabalho de organização de base comunitária, e se for para
desenvolver o TBC em um local que não o tem, é preciso transformar a comunidade
em uma organização, uma associação, estatuto, estabelecer os objetivos. Uma base
mínima necessária para ter matéria prima e depois trabalhar com o TBC na
comunidade.
Segue quadro com as indicações de ações inclusivas realizadas no Instituto:
Ações
inclusivas
Entrevista 1 Entrevista 2
Relata os atividades realizadas para a criação
do Instituto, e do turismo, que ao mesmo
tempo envolve a inclusão do TBC. Atividades
como criação das associações, organização
social, documentação, educação, saúde. Em
sua opinião são as primeiras atividades para se
começar a desenvolver o TBC.
As comunidades têm grande peso nas decisões a
serem tomadas sobre assuntos da Pousada
Uacari. Trabalho em conjunto entre, IDSM,
Comunidades e Associação. Gestão de campo
(na Pousada) é feita totalmente pelos
comunitários, inclusive a gerência. Grande
número de mulheres trabalhando na Pousada,
em todas as áreas.
Quadro 2: Ações Inclusivas realizadas no Instituto Mamirauá
Em relação à distribuição de renda para os comunitários, os maiores interessados
na Pousada Uacari, houve mudanças na forma de distribuição, mas são ações que tem
fundamentos desde a época de implantação.
Distribuição
de Renda
entre os
comunitários
Entrevista 1 Entrevista 2
Provisionamento para manutenção Pagamentos por serviços prestados
Se necessário reforma Compra de produtos (feira e peixe)
Recebimento por diária Taxa socioambiental: de cada turista que vai
para a Pousada, é retirado um valor 'x' que vai
para o fundo comunitário.
Rateio entre as comunidades
Quadro 3: Distribuição de Renda ou Lucro da Pousada Uacari
Durante a permanência do Marcos, o Instituto e a Pousada trabalhavam da
seguinte forma, com a receita da Pousada eram pagas as diárias dos funcionários, que
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
trabalhavam no formato de rodízio, parte do recurso era investido no provisionamento
para a manutenção da pousada, como os motores, combustíveis, voadeiras, e o
restante que sobrava era o lucro onde se fazia o rateio entre as comunidades, não
repassando o dinheiro, mas fazendo investimentos de acordo com o que a
comunidade decidisse o que beneficiaria a todos e não apenas as pessoas que
trabalharam, mas isso dependida do lucro do projeto, se não tivesse lucro, não tinha
esse repasse. Nessa mesma época Marcos sugeriu ao Instituto e as comunidades a
compra dos produtos utilizados na Pousadas dos próprios comunitários, o que de início
não teve êxito. Mas que na atual gestão, de acordo com Pedro, a compra do peixe e da
feira é realizada dessa forma. Na atual gestão acontece o investimento no trabalho e
na comunidade, o pagamento pelos serviços prestados, além da Pousada "distribuir" o
que se chama de taxa socioambiental, onde uma parte do que se recebe de cada
turista é destinado ao fundo comunitário da taxa socioambiental. Ou seja, quanto mais
turistas, mais dinheiro para o fundo. No final do ano ou no começo do ano seguinte,
representantes das comunidades se reúnem e discutem a pontuação que cada
comunidade tem, baseada em normas de convivência, meio ambiente, respeito, entre
outras, e decide quanto será destinado para cada comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre tentativas, ações e práticas, temos como resultado acertos e
aprendizados. O TBC em Mamirauá foi pioneiro e mesmo com as inovações percebe-se
que foi e ainda é um trabalho muito importante de integração da comunidade com o
turismo. Os benefícios ficam explícitos entre a melhoria na qualidade de vida,
economicamente e socialmente. Porém o turismo pode trazer também alguns
percalços, algumas pessoas sentem desprivilegiadas dentro do grupo. O TBC trouxe
para as dez comunidades integradas ao programa e ao instituto como pontos positivos
a venda dos seus produtos, trabalhos temporários para complementação de renda da
atividade primária, investimentos na comunidade, integração com pessoas de diversos
lugares e organização interna. Como negativos, mas que se transformou, aponta-se a
falta de comprometimento. Nessa evolução do TBC na Pousada Uacari, Pedro ressalta
que ela ainda é propriedade do Instituto Mamirauá, mas a previsão é que seja
totalmente repassada às comunidades e à Associação até 2022, a proposta é que os
comunitários que tenham mais poder de decisão sobre os assuntos da Pousada e o
Instituto será um parceiro. Em relação às duas entrevistas percebe-se que na
implantação do Turismo na Pousada houve resistência por parte da comunidade, e que
esta resistência terminou a partir do momento que nasceu o sentimento de
pertencimento do lugar. Atualmente vê-se que a gestão é mais aberta, mais dinâmica e
que algumas ações e ideias que se iniciaram em 2001 estão sendo realizadas nos dias
atuais.
REFERÊNCIAS BARTHOLO, R., SANSOLO, D. G., & BURSZTYN, I. (2009). Turismo de base comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 76-91.
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
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ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
Produção de políticas públicas de turismo sob um olhar
sociopolítico
Amanda Baldissera Damião1 Fábio Alves Ortiz2
Amanda Cabral3 Introdução
O estudo das políticas públicas (PP) originou-se na Europa através do desdobramento
das teorias que buscavam entender o papel do Estado, considerando-o como centro das ações
e a inexistência da monopolís ca. Já nos Estados Unidos, a questão central que pautava os
estudos não estabelecia relações com as bases teóricas sobre o papel do Estado, passando
direto para a ênfase nos estudos sobre a ação dos governos.
No Brasil, o campo de estudo das PP’s apoia-se na abordagem americana, logo, pensar
políticas públicas e turismo é pensar as ações, os instrumentos, os planos, programas... (etc), e
compreender além do discurso explícito. Assim, o presente resumo se propôs a demonstrar a
processo de produção das PP’s e a visão da sociologia política sob os instrumentos.
O que são políticas públicas e como elas são produzidas?
As PP’s são um conjunto articulado de decisões orientadas para a resolução de um
problema ou para a realização de um objetivo considerado de interesse público. Para tal, as
decisões constituem um padrão de atitude governamental a respeito do problema, no caso,
aquilo que é de fato realizado e não um conjunto de intenções. De modo geral, para iniciar a
discussão sobre PP’s, a definição apresentada por Guareschi (2004, p. 26) se mostra
abrangente e objetiva o suficiente:
O conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos
direitos sociais, configurando um compromisso público que visa
dar conta de determinada demanda, em diversas áreas.
Expressa a transformação daquilo que é do âmbito privado em
ações coletivas no espaço público.
Dentro desta perspectiva, a visão de Mead (1995, p. 12) abrange a lente de percepção e
considera PP’s como “o campo de conhecimentos que analisa o governo à luz de grandes
questões públicas”. Peters (1986, p. 34) completa ambos os autores apresentados ao definir
PP’s como “a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de
delegação e que influenciam a vida dos cidadãos”.
1 Graduada em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí. Especialista em Gerência de
Projetos pela Universidade do Vale do Itajaí. Mestranda em Turismo pela Universidade de São de Paulo. E-mail: [email protected] 2 Mestrando em Turismo pela Universidade de São Paulo - USP. Bacharel em Turismo e Hotelaria pela
Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. E-mail: [email protected] 3 Mestranda em Turismo pela Universidade de São Paulo – USP. Bacharel em Lazer e Turismo pela
Universidade de São Paulo – USP. E-mail: [email protected]
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Por outro lado, PP’s e direitos sociais, podem ser rompidos por dinâmicas clássicas de
representação político-partidária, logo, a influência política pode estabelecer ou bloquear
determinados temas, ou influir sobre os mesmos.
Thomas Dye (1984, p. 11) vai ao encontro desta perspectiva e entende PP’s como “o que
o governo escolhe fazer ou não fazer”. Para Massadier (2003, p. 42) PP’s são “um conjunto de
ações múltiplas, mais ou menos coordenadas, um processo de produção de dispositivos
tangíveis de gestão de um campo da vida social coletivamente assumido”.
Ou seja, para o autor as ações desenvolvidas não são necessariamente planejadas em
conjunto e desempenhadas dentro de uma política estruturada, elas podem ser atos
executados pelo poder público, que apontam a direção para a resolução do problema.
Outro ponto que o autor salienta é a produção de dispositivos tangíveis, no caso
instrumentos normativos como leis, decretos, planos ou configuradas em forma de programas
e projetos. Através dos instrumentos o direcionamento da posição do governo é
perceptivelmente mais claro para a sociedade. O autor ainda considera um terceiro ponto
apresentado em seu texto, chamando-o de campo da vida social coletivamente assumido,
referindo-se a qualquer grupo reconhecido pela sociedade.
Nos campos teóricos é possível identificar pontos em comum ou que se complementam,
e que podem ser sintetizados da seguinte maneira (SOUZA, 2006, p.36), a PP: a) permite
distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz. Ou, como discute Muller
(2002), política explícita e política implícita, que é a diferença entre o que o governo diz fazer e
os interesses por trás de suas ações; b) envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja
materializada através dos governos, e não necessariamente se restringe a participantes
formais, já que os informais são também importantes; c) é abrangente e não se limita a leis e
regras; e, d) é uma ação intencional, com objetivos e metas a serem alcançados.
Contudo, as PP’s são desenvolvidas por instituições governamentais e seus responsáveis
por meio de processos políticos. Assim, tão importante quanto entender e discutir o que é PP,
é debater o processo de produção. Para tal, alguns autores defendem a existência de um ciclo
de PP’s. Nos anos 1990, Howlett e Ramesh condensaram as fases do processo da PP em cinco
etapas, apresentando o que denominaram ‘Improved model’: (1) montagem da agenda; (2)
formulação da política; (3) tomada de decisão; (4) implementação e (5) avaliação. Neste
modelo, prevalece a ideia de que uma PP se inicia a partir da percepção de problemas, passa
por um processo de formulação de propostas e decisão, segue sendo implementada, para
enfim ser avaliada e dar início a um novo processo de reconhecimento de problemas e
formulação de política. Esta é a ideia de ciclo da política que até os dias atuais é bastante
divulgada e trabalhada nos seus estudos.
Porém, a realidade nem sempre se mostra tão sistemática e simplista conforme essa
lógica. Algumas etapas podem ocorrer simultaneamente, em ordem inversa e até mesmo
serem omissas (MULLER, 2002). Nesse sentido, a proposta apresentada por Monnier (apud
MULLER, 2002) se mostra mais compreensiva e adequada, ao apontar um processo de
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produção das PP’s na forma de um fluxo turbulento. Essa proposta mostra as etapas
acontecendo de forma paralela e se modificando continuamente, ressaltando o desvio entre o
planejamento das ações, a sua implantação e os resultados e impactos que efetivamente
foram gerados. O autor identifica três etapas:
1. A elaboração da ação. O que pode ser entendido como a fase de planejamento ou
formulação da PP;
2. A implantação das ações planejadas. Acompanhada da sua constante revisão, frente à
disponibilidade dos recursos e das relações entre os envolvidos; e
3. A avaliação dos impactos. Fase onde poderá ser verificado o desvio dos resultados e
impactos gerados após a implantação das PP’s.
Outro ponto fundamental levantado por Muller (2002) é que a elaboração das PP’s é
realizada com base na percepção que os diversos atores têm da realidade. Em função da
complexidade e contradições dessa realidade, se faz necessário decodificá-la, ou sistematizar o
processo, para que seja possível identificar os problemas e estabelecer as PP’s. Desta forma,
esse processo de planejamento é realizado, não em cima da realidade, mas do que o autor
chama de referencial das PP’s. Tal fato, em conjunto com o fluxo turbulento mencionado
anteriormente, contribui ainda mais para o desvio entre os resultados das ações do poder
público e os objetivos e as metas estabelecidos em seu planejamento.
O último ponto a ser discutido diz respeito à avaliação dos resultados das PP’s. De modo
geral, a avaliação de PP’s tem como foco a sua eficiência, ou seja, se as metas estabelecidas
foram atingidas, quais os custos envolvidos e quais os impactos diretos e indiretos gerados
durante o processo. Para fazer uma análise dos resultados das PP’s, é necessário estabelecer
critérios de avaliação que permitam dizer se uma política é preferível à outra e o motivo. Na
medida em que envolve princípios políticos, cuja relevância é dada por sua conexão com
alguma concepção de bem-estar humano, e as prioridades a serem observadas entre eles, a
análise de avaliação terá sempre um caráter complexo e controverso (FIGUEIREDO, 1986). Em
suma, pode-se dizer que a análise das PP’s é a avaliação das ações do poder público.
A importância da ação pública abordada pelos seus instrumentos
A abordagem sobre instrumentos está localizada no campo teórico da sociologia política
abordada nos trabalhos dos pesquisadores Lascoumes e Le Galès (2007; 2012). Onde,
reconhecendo-se o papel dos instrumentos na estruturação das PP’s, ultrapassa as
perspectivas funcionalistas e torna evidente as relações de poder e as dinâmicas de
despolitização associadas a tais instrumentos.
A escolha por está corrente de pensamento sociopolítico a partir dos instrumentos
permite entender quais são os padrões de governança entre os diversos atores de uma arena
política. Para os autores, os instrumentos revelam singularidades históricas na estruturação de
relações entre governantes e governados, logo, não dizem respeito apenas à busca de acordos
entre os envolvidos sobre meios e objetivos. Dentro desta perspectiva, os instrumentos não
são neutros e sim, carregam representações, significados e uma forma condensada de
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conhecimento sobre regulação social. Todavia, os instrumentos também podem apresentar
riscos à ação pública, por produzirem resultados além dos esperados, a partir de suas próprias
dinâmicas, causando-se efeitos como inércia, representação específica da questão ou ser
induzido à uma problematização específica.
Para Lascoumes e Le Galès, os instrumentos de ação são portadores de valores,
alimentam-se de uma interpretação do social e de concepções precisas do modo de regulação
esperado. O instrumento é também produtor de uma representação específica do desafio que
ele enfrenta. Enfim, o instrumento induz uma problematização particular dos objetos de
aplicação na medida em que hierarquiza as variáveis e pode prosseguir até induzir um sistema
explicativo.
Desta forma, os instrumentos de PP’s são um tipo particular de instituição, no sentido
sociológico do termo, um conjunto mais ou menos coordenado de regras ou procedimentos
que governam as interações e comportamentos sociais, tornando-os mais estáveis e previsíveis
(MACIEL, 2015). Para Lascoumes e Le Galès (2012, p. 4), instrumento é um tipo de instituição
social (o recenseamento, a cartografia, a regulamentação, a taxação, etc.); a técnica é um
dispositivo concreto que operacionaliza o instrumento (a nomenclatura estatística, a escala de
definição, o tipo de figuração, o tipo de lei ou o decreto); finalmente, a ferramenta é um micro
dispositivo dentro de uma técnica (a categoria estatística, a escala de definição da carta, o tipo
de obrigação previsto por um texto, uma equação calculando um índice).
A escolha de um instrumento revela as lógicas dos atores e os diferentes interesses
presentes numa arena de politica. Como afirmam os autores, os instrumentos determinam,
em parte, quais recursos podem ser utilizados e por quem. Assim, ao contrário do que
tradicionalmente se anuncia, a escolha de um instrumento não é uma decisão técnica, mas
política, cujos impactos podem ser medidos por meio das relações de poder e das redes sociais
criadas a partir dele. Para além dos seus efeitos declarados, os instrumentos promovem a
reconfiguração das arenas políticas às quais estão vinculados, reorganizando relações entre os
atores, impondo padrões interpretativos e estruturando as PP’s de acordo com suas próprias
lógicas (MACIEL, 2015).
Todo instrumento é portador de uma teoria explícita e de uma teoria implícita, que nem
sempre mantém uma relação de coerência entre si. A teoria explícita segundo Lascoumes e La
Galès (2012) refere-se às premissas e verdades que são enunciadas como explicação do
instrumento, em documentos oficiais, por exemplo. Por outro lado, as verdades e premissas,
que orientam a prática do instrumento constituem sua teoria implícita, é através desta que ele
governa as relações sociais.
Logo, os instrumentos de PP’s tornaram-se uma espécie de lego, como lembra Le Galès
(2012), montados a partir da junção de várias camadas, que produzem seus próprios efeitos e
exigem mecanismos de coordenação. Sendo que, em algumas situações são resultantes de
ampliações mais ou menos construídas sobre um único programa visto como bem-sucedido.
Contudo, o interesse de uma abordagem em termos de instrumentos possibilita
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compreender a hierarquização de atores e de representações que dominam hoje largamente a
análise da ação pública. Além do mais, a partir dos instrumentos, a ação pública demostra que
os atores que são os responsáveis pela definição dos objetivos das políticas.
Enfim, em um contexto político no qual prevalecem a diferenciação dos discursos, torna-
se possível considerar que atualmente é pelos instrumentos de ação pública que se estabilizam
as representações comuns sobre as questões sociais.
Considerações preliminares
Quando se trata de PP’s de turismo, observa-se que a produção das políticas, de
maneira explicita, segue o modelo do ciclo, proposto por Howlett e Ramesh (1996), todavia, é
perceptivo, diante do atual cenário político, que existem diversas questões implícitas por trás
dos discursos, projetos e programas políticos no campo do turismo.
A compreensão sociopolítica do processo de elaboração das politicas públicas de
turismo é de suma importância para esse campo, considerando o poder de transformação
econômica, sociocultural e ambiental da atividade e o interesse político que ela desperta (em
escala municipal, estadual, nacional e internacional).
Aliado a isso, a visão sociopolítica destaca o aspecto pessoal que a política possui. Não
são raras as vezes em que leis e decretos na área do turismo são criados ou modificados com o
intuito “implícito” de favorecer um pessoa ou empresa em detrimento do parcela coletiva da
sociedade, que é impactava, na maioria das vezes, de forma negativa.
Referências
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Instâncias de governança regional: um estudo sobre o Condetur
da Região Turística da Costa do Sol/RJ Maria Lúcia Malatesta de Freitas Evangelista1
Aguinaldo César Fratucci2
O planejamento e a gestão do turismo no Brasil, embora estejam a cargo do
poder público, devem ser discutidos levando-se em conta a perspectiva de outros
setores da sociedade, como a iniciativa privada e a sociedade civil. Essa integração no
Brasil deu seus primeiros passos com a criação dos conselhos municipais de turismo,
criados pelo Programa Nacional de Municipalização de Turismo (PNMT) na década de
1990.
Durante quase dez anos, o PNMT foi a política pública brasileira incumbida de
descentralizar a gestão e o planejamento da atividade turística para a escala municipal.
Posteriormente, com a criação do Ministério do Turismo em 2003, e a instituição do
Plano Nacional de Turismo 2003-2007, foram propostos os programas, projetos e a
filosofia que regeria a política pública de turismo. No ano seguinte, lançou-se o
Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil (PRT), cujo o objetivo era
propor aos municípios que se organizassem conjuntamente, formando regiões
turísticas. (Brasil, 2013; Trentin & Fratucci, 2011)
Para tanto, fez-se necessária a proposição de uma instância de governança
que ultrapassasse os limites municipais e envolvesse parcerias público-privadas
regionais. Entendia-se que a instância de governança regional (IGR) seria fundamental
para se estabelecer um diálogo permanente entre os municípios, para os processos de
tomada de decisão e desenvolvimento de ações que tornassem a região competitiva.
Em algumas regiões, as IGR já eram uma realidade antes mesmo de serem
consideradas uma política pública e terem diretrizes para o seu desenvolvimento.
Queiroz & Rastrollo-Horrillo (2015, p.53) publicaram um estudo sobre o
estado de arte do campo de pesquisa sobre governança nos destinos turísticos,
estruturando as principais correntes e autores que investigam a área. Elas afirmam que
“La Gobernanza se materializa en la existencia de instrumentos normativos,
estructurales y organizativos, esos relacionados con la capacidad de gestión, como
redes y coordinación multinivel (nacional, regional, local)[...]” . Gonzáles (2014, p.17)
1 Mestranda do Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Turismo da Faculdade Turismo e
Hotelaria da Universidade Federal Fluminense, com MBA em Gestão de Empreendimentos Turísticos pela mesma Universidade e Bacharel em Turismo pela Universidade Veiga de Almeida. [email protected] 2 Professor e Coordenador do Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Turismo da Faculdade
Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense. Doutor (2008) e Mestre (2000) em Geografia pela Universidade Federal Fluminense. [email protected]
ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 1 - POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E TURISMO
afirma que “la gobernanza del turismo es la recepción en el mundo del turismo de la
exigencia ciudadana de buscar nuevas formas de tomar las decisiones colectivas que
mejoren las limitaciones de los procesos de toma de decisiones actuales y que también
permitan un papel más activo de diferentes actores sociales.”
A partir do conceito de governança brevemente elucidado anteriormente,
este trabalho tem como tema as IGR e o objeto de estudo é o Conselho Regional da
Costa do Sol (Condetur). O Condetur foi constituído no ano de 2008 na Região Turística
da Costa do Sol, RJ, com a participação de 13 municípios: Araruama, Armação dos
Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Carapebus, Casimiro de Abreu, Iguaba, Macaé,
Maricá, Quissamã, Rio das Ostras, Saquarema e São Pedro da Aldeia.
A escolha da região para essa pesquisa deveu-se ao anseio de fazer um
registro histórico do turismo regional, de modo a aumentar a massa crítica sobre o
assunto, uma vez que há pouco material científico publicado sobre o turismo na Costa
do Sol.
Trata-se de uma questão que pode interessar à comunidade acadêmica na
medida em que procurou-se realizar aqui, não obstante as limitações intrínsecas a um
trabalho deste porte, um detalhamento do processo de estabelecimento de uma IGR.
Além disso, a pesquisa representou também uma tentativa de avaliação da IGR em
relação aos resultados obtidos por outras IGRs em nível nacional. Essa comparação
pode ser feita levando-se em conta o relatório publicado pelo Ministério do Turismo
(Ministério do Turismo, 2010), que fez um balanço do PRT.
O dado mais intrigante sobre nosso objeto de pesquisa é que o Condetur está
desativado desde 2013. No início, antes de começarmos a pesquisa, surgiu uma
pergunta: por que estudar uma instituição que foi desativada? Qual a importância de
estudar um objeto que não desempenha mais o seu papel?
Portanto, dada a problemática sobre o Condetur, essa pesquisa quis
responder à pergunta: quais os motivos que levaram à inatividade do Condetur? Disso
decorreram os seguintes objetivos específicos: levantar e discutir a bibliografia sobre o
tema; levantar o histórico da política pública federal e estadual de turismo; descrever a
região da Costa do Sol; investigar como se deu a formação do Condetur, identificar
resultados das ações do Condetur para o turismo na região e analisar os motivos pelos
quais o Condetur está inativo.
Para a pesquisa de campo, lançamos mão de fontes primárias e secundárias,
levantando documentos sobre o Condetur como: atas, relatórios, o Estatuto etc.
Traçamos uma cronologia e apresentamos os documentos divididos em três seções: a
primeira contextualizou o cenário em que o Condetur foi gestado e apresentou os
documentos referentes ao momento anterior à primeira assembleia que constituiu o
Condetur; na segunda parte selecionamos alguns itens do Estatuto do Condetur e os
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discutimos; na terceira apresentamos todos os documentos que foram encontrados
referentes ao período em que o Condetur esteve em vigor (2008 a 2013).
Seguimos com a apresentação das ferramentas metodológicas utilizadas para
a coleta do material das entrevistas. Optamos por aplicar um questionário estruturado
com perguntas abertas. Foram entrevistados representantes de 5 cidades: Armação
dos Búzios, Arraial do Cabo, Rio das Ostras, Cabo Frio e Macaé. O roteiro foi elaborado
de forma simples: a descrição inicial do participante; perguntas sobre os aspectos de
cooperação, diálogo, liderança e participação dos municípios; uma pergunta sobre a
ligação do Condetur com o órgão colegiado de Turismo de sua cidade;
questionamentos sobre as rações pelas quais o Condetur está desativado e sobre o
que se poderia esperar caso o Condetur fosse reativado.
Durante a pesquisa surgiram outros questionamentos que não estavam
previstos no escopo inicial, entre eles: a convergência entre o PNMT e o PRT (Trentin &
Fratucci, 2011), observada na literatura; a polêmica divisão territorial da região da
Costa do Sol e o uso da nomenclatura “Costa do Sol” sobreposto e concomitante com
"Região dos Lagos". Essas questões foram sinalizadas por meio das entrevistas, pela
bibliografia levantada e também pela pesquisa documental.
Procuramos identificar como a regionalização do turismo se manifestou no
estado e quais foram os contornos geográficos propostos antes de se chegar à
configuração atual das 11 regiões turísticas. Vimos que a regionalização do turismo já
havia sido proposta antes mesmo do lançamento oficial do PRT.
A descrição da região levou em conta aspectos históricos e culturais,
geográficos, econômicos, políticos e turísticos. Escolhemos abordar a questão da
divisão
territorial entre os municípios e encontramos material que elucidou os processos de
emancipação que se deram na região. Não podíamos descrever a região sem apontar
os ônus e bônus trazidos pela atividade petrolífera, que tem marcado as relações entre
as municipalidades, além de ser uma fonte de renda expressiva para muitos municípios
da Costa do Sol. Atualmente há que se mencionar que existe, para além da crise pela
qual todo o país passa, uma profunda crise nos municípios que recebiam royalties do
petróleo na região. Em função disso, o turismo e outras atividades voltaram a ganhar
espaço no rol das possibilidades econômicas da região.
A partir de uma perspectiva crítica, propusemos a análise do período de
vigência do Condetur, buscando responder nossos problemas de pesquisa. Nosso
exercício de pesquisa propôs o abandono de raciocínios simplistas e o estabelecimento
de considerações que evidenciassem a complexidade dos fatos que envolveram a IGR
desde o seu início.
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Um erro apontado pela literatura e observado no estudo dos municípios da
Costa do Sol foi que, na maioria das cidades dos entrevistados (Armação dos Búzios,
Cabo Frio, Macaé e Rio das Ostras), não havia os Conselhos Municipais de Turismo
propostos pelo PNMT. A ideia de que os dois órgãos, o municipal e o regional,
deveriam coexistir talvez não tenha ficado clara na PNT, tanto para a administração
pública quanto para os demais atores que compõem as estruturas.
Assim como o nome é uma questão primária para a unidade dos municípios
da região, o recorte regional também é outro pilar. De acordo com a pesquisa de
campo realizada, a configuração atualmente utilizada não é satisfatória. Houve
diversas sugestões, mas é necessário que essa proposta seja estudada, aprofundada e
que leve em conta a complexa oferta dos municípios para se oferecer um produto
coeso e comercializável.
A pesquisa de campo, embora tenha sido elaborada com o compromisso de
compor um retrato do Condetur e responder aos objetivos estabelecidos no escopo do
projeto, apresentou limites. Não foi possível envolver nas entrevistas atores que
representassem os outros municípios da região da Costa do Sol (Casimiro de Abreu,
Carapebus, Quissamã, São Pedro da Aldeia, Iguaba Grande, Araruama, Maricá e
Saquarema). No entanto, como não houve uma participação constante de
representantes desses municípios nesses quase cinco anos (com exceção do município
de Casimiro de Abreu), teria sido difícil identificar pessoas que pudessem, a partir da
realidade vivenciada no Condetur, dar respostas enriquecedoras.
A justificativa da desativação do Condetur foi dividida em dois aspectos,
externos e internos. 1) Externos: a falta de cooperação das instituições como
Ministério do Turismo, Secretaria Estadual de Turismo do Rio de Janeiro, Companhia
de Turismo do Estado do Rio de Janeiro e das Prefeituras para atingir as metas do PRT
e sobretudo dar suporte financeiro à IGR; recorte regional proposto pelo PRT
incompatível com as realidade da região. 2) Internos: ausência de regimento interno
que previsse a resolução de problemas ligados à gestão financeira da IGR; excesso de
atribuições exercidas pelo presidente do Condetur durante os dois primeiros períodos
eletivos da IGR e centralização em sua figura, ocasionando comodismo por parte dos
membros e pouco desenvolvimento do senso de colegialidade no conselho;
impossibilidade de sucessão do cargo de presidente, dado que havia atribuições
implícitas ao cargo que aconteciam na prática, mas que não estavam previstas no
Estatuto; baixo entendimento dos membros do Condetur sobre o seu papel na IGR
(que é diferente daquele exercido na instituição que representa); dicotomia entre as
tendências empresariais e institucionais do Condetur; e o aparecimento de
microrregiões dentro da grande região da Costa do Sol, que desintegrou o grupo.
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Outra reclamação que apareceu nas entrevistas foi a questão do
posicionamento central excessivo do destino indutor – Armação dos Búzios – nas
pautas das reuniões e também nos discursos dos entrevistados. Essa ponderação foi
também encontrada no documento de Avaliação do Programa de Regionalização do
Turismo, presente em outras regiões como um ponto a ser revisto e melhorado.
Esperamos que a região que abarca os municípios da Costa do Sol ou Região
dos Lagos possa encontrar novamente o seu caminho para o diálogo, através de
alguma governança do turismo. Concluímos a pesquisa com consciência de que, apesar
de ter limites, respondemos nosso problema de pesquisa e os objetivos, além de trazer
outras contribuições para a compreensão de questões importantes sobre o
funcionamento de uma IGR. O Condetur encontra-se inativo, no entanto há a
possibilidade de que volte a funcionar, desde que se aperfeiçoe a partir de um exame
crítico dos prós e contras da experiência realizada até aqui, exame este ao qual este
trabalho espera ter dado uma pequena contribuição.
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ANÁLISE DO POTENCIAL TURÍSTICO PARA APLICAÇÃO DA
POLÍTICA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO NA AMAZÔNIA
MATO-GROSSENSE
REIS, Moisés Junior1
GARCIA, Rita Maria de Paula2
Em virtude da utilização do espaço geográfico uma das ciências que mais tem
mostrado interesse no turismo é a geográfica. Segundo Rodrigues (2001) já em 1905 se
discutia a interligação e ligação do turismo e geografia, de maneira particular se criou a
expressão “Geografia do Turismo” que se dedica à análise dos impactos produzidos no espaço
por este fenômeno. Uma das grandes abordagens da geografia que tem ganhado força no
meio acadêmico e fora dele, principalmente na política e economia, é a regionalização, termo
que na década de 1990 foi muito discutido e utilizado e que depois de muito tempo sem uso
está retornando, isso se deve “[...] em função da proliferação de regionalismos, identidades
regionais e de novas-velhas desigualdades tanto a nível global como intranacional.”
(HAESBAERT, 1999, p. 15-16). Stefani (2006, p. 47) mostra que existe uma tendência e
esforços para que municípios criem produtos com capacidade de atrair demanda de diversos
lugares “A organização regional do turismo está diretamente relacionada com o planejamento
em conjunto de atividades e parcerias”. Os órgãos oficiais do turismo tem adotado a
organização regional com a finalidade de “[...] criar produtos com a capacidade de atrair
demanda nacional e internacional” (STEFANI, 2006, p.47). Diante dos números crescentes da
economia do Mato Grosso frente aos demais estados da federação, com atenção a agricultura
e pecuária se fazem necessários estudos que possam contribuir para elevação de outras
atividades econômicas que nele encontra potencial, como o turismo. Segundo dados do
governo do estadual usando informações do IBGE, em uma década o PIB de Mato Grosso
cresceu 554%, passando assim dos 12,3 bilhões para 80,8 bilhões enquanto o PIB nacional teve
um avanço de 312%, grande parte do desempenho do estado veio das atividades do campo
como a pecuária e agricultura fazendo o estado ser conhecido como o “Celeiro do pais”. Tais
informações apontam Mato Grosso como um estado importante no cenário nacional, o avanço
de novas atividades econômicas como o turismo iriam contribuir consideravelmente para a
elevação desta importância. Para Goeldner (apud COOPER; FLETCHER, 2001) o turismo pode
ser compreendido como a soma de fenômenos e relações originados da interpretação de
turistas, empresas prestadoras de serviços, governo local e comunidade nativa, no processo de
atrair e receber turistas e outros visitantes configurando uma troca de experiências com
conseqüências sociais, culturais e econômicas para visitante e receptor. Segundo Andrade
(apud IGNARRA, 2002, P. 24) o turismo é classificado como “O conjunto de serviços que tem
por objetivo o planejamento, a promoção e a execução de viagens, e os serviços de recepção,
hospedagem e atendimento aos indivíduos e aos grupos, fora de suas residências habituais.”
O turismo é ainda pouco valorizado pelos órgãos oficiais e pela população local, é possível
fazer tal observação analisando as políticas públicas desta atividade no estado. O Anuário
Estatístico do Turismo do ano de 2016 base 2015 (BRASIL, 2015) registrou entrada de
6.305.838 de turistas de outros países no Brasil, considerando as entradas por unidade
federativa, Mato Grosso não aparece como uma das principais portas de entrada. Diante dos
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fatos apresentados com o destaque de crescimento econômico e humano da região norte
mato-grossense ou Amazônia mato-grossense, se faz necessária uma análise do potencial
turístico local, com a finalidade de identificar os atrativos e empreendimentos que envolvem
diretamente a atividade turística, para assim delinear uma proposta de organização regional,
por meio da criação de políticas publicas municipais e regionais, tendo como foco nos
municípios de Cláudia, Colíder, Nova Canaã do Norte e Itaúba. A pesquisa tem abordagem de
caráter qualitativo, pois esta possibilita um aprofundamento melhor e mais detalhado dos
dados levantados. Para alcançar os objetivos, além da pesquisa bibliográfica, está sendo
utilizada a pesquisa documental a partir do Programa de Regionalização do Turismo lançado
em 2004 pelo Ministério do Turismo que tem por finalidade “[...] organizar o território
brasileiro em regiões turísticas, para fins de gestão, assim como identificar as necessidades das
mesmas, orientando a atuação estratégica dos demais departamentos do Ministério do
Turismo.” (Brasil, 2015); os inventários turísticos dos quatro municípios; os portais de turismo
em sítios eletrônicos; e o planejamento turístico elaborado pela Companhia Paranaense de
Energia (COPEL) por meio da Ambientalis Engenharia em 2014 e finalizado em 2015, com
participação da comunidade local; tais documentos foram produzidos com a intenção de
fomentar a atividade turística, deste modo a realização de uma pesquisa poderia colaborar
para a implantação do turismo. Desta forma, a presente pesquisa tem observado que os
municípios possuem potencial turístico considerável e semelhante entre si, apontando para
descoberta de novos atrativos, e a possibilidade da criação de novos produtos e que ações
como a criação de políticas públicas locais e regionais com a participação dos atores
envolvidos, a criação e fomento dos conselhos de turismo e aplicação do Programa de
Regionalização do Turismo elevariam o grau deste potencial. Por fim, a pesquisa irá auxiliar os
municípios para que de fato possam pensar numa organização regional visando a atração de
demanda e valorização dos bens históricos, culturais e ambientais desta região.
Referências BRASIL. Ministério do Turismo. Programa de regionalização do turismo. 2015. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/acesso-a-informacao/63-acoes-e-programas/4882-programa-de-regionalizacao-do-turismo> Acesso em: 12 de outubro de 2016. COOPER, CHRIS; FLETCHER, JHON. Turismo Princípios e Praticas. Porto Alegre: Bookman, 2001. HAESBAERT. R. Região, diversidade territorial e globalização. Revista GEOgraphia – Ano. 1 – No 1 – 1999 IGNARRA. LUIZ RENATO. Fundamentos do turismo. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. MATO GROSSO. Governo do Estado. <http://www.mt.gov.br/economia> Acesso em: 12 de outubro de 2016. RODRIGUES, Adyr B. Turismo e Espaço: Rumo a um conhecimento transdiciplinar. 3º. Ed. São Paulo: Hucitec, 2001. STEFANI. C. C. Regionalização e gestão territorial: o turismo na Região Metropolitana de Curitiba (PR). 243 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana) – Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2006.
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TURISMO RURAL COMUNITÁRIO, SUSTENTABILIDADE E GÊNERO
Dorcas Cabral1
RESUMO
Este artigo apresenta uma reflexão sobre o fenômeno turístico para além do foco
econômico e as relações deste fenômeno no campo social, cultural, comunicacional,
econômico, ambiental e subjetivo. Neste contexto, surge o Turismo Rural Comunitário
com uma proposta de mudanças econômicas, políticas e sociais. Os conceitos de
sustentabilidade apresentados pela ONU Mulheres co-relacionados com os objetivos e
apontados pelo Ministério do Turismo, corroboram a tese de interação de gênero na
gestão ambiental, na produção de alimentos e na reprodução social e, portanto
destaque para o papel das mulheres nas práticas turísticas rurais
PALAVRASCHAVE: Turismo; Sustentabilidade; Gênero.
...a mulher não está vendo o planeta da janela da casa. la está fora, com os pés na Terra.
(Moacir Gadotti, 2005).
INTRODUÇÃO
O Turismo, enquanto setor econômico, é reconhecido como importante
gerador de divisas capaz de promover oportunidades de trabalho e renda e de
contribuir para a redução das desigualdades regionais e sociais. Porém, o
entendimento do fenômeno turístico para além deste foco economicista, tem
mobilizado os teóricos contemporâneos na busca por respostas a questionamentos
sobre a multinterdisciplinaridade do turismo, os sujeitos produtores e consumidores,
os impactos desta atividade sobre a economia, as comunidades locais e o meio
ambiente natural.
A clareza epistemológica no tratamento do turismo permite considerar as
relações deste fenômeno no campo social, cultural, comunicacional, econômico,
ambiental e subjetivo. Assim pontua Moesch (2002):
“Turismo é um fenômeno complexo e, antes de ser econômico, é uma experiência social. Envolve sujeitos consumidores que se deslocam no tempo e no espaço para satisfazer as suas necessidades físicas imediatas e também os seus imaginários e, os sujeitos produtores de bens e serviços turísticos”.
1 Mestranda em Turismo -Membro do Grupo de Pesquisa Gênero e Interdisciplinaridades no Centro de
Excelência em Turismo/Universidade de Brasília. Email: [email protected]
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A visão de Moesch para além das questões econômicas associadas ao turismo,
vem confirmar que as experiências tradicionais nem sempre estão associadas ao
desenvolvimento das localidades onde se estabelece, apesar de seu significativo
crescimento e do notável aumento das receitas provocado por ele, além da crescente
a preocupação quanto aos impactos sociais e ambientais, geralmente associados ao
turismo de massa.
A lacuna inerente aos aspectos econômico, social e ambiental do turismo de
massa, geram mudanças de comportamentos em comunidades que se organizam
proativamente em empreendimentos cooperativos e associativos ligados ao turismo.
Surge, a partir daí, o TBC-Turismo de Base Comunitária como um modelo de
desenvolvimento orientado pelos princípios da economia solidária, do associativismo,
da valorização da cultura local e, principalmente, do protagonismo das comunidades
locais (MTur, 2008). Este, relaciona-se, dentre outros aspectos, à “ história de luta pela
posse da terra, pela preservação do meio ambiente ou mesmo pelo direito ao modo de
vida tradicional que uniu comunidades e formou a base para o desenvolvimento de um
outro turismo” (CORIOLANO, 2009).
O TBC tem uma abrangência urbana ou rural. No ambiente
predominantemente rural, aponta iniciativas que se identificam como de Turismo
Rural Comunitário/TRC.
Conforme atesta MALDONATO (2009), o TRC surgiu nas duas últimas décadas
dentro de um contexto de grandes mudanças econômicas, políticas e sociais; dirige-se
a um nicho de mercado constituído por viajantes em busca de experiências pessoais e
enriquecedoras. Diversas comunidades estão se abrindo para o mercado graças a este
‘turismo com selo próprio’, que combina atributos originais e autênticos, mas sem
perder a sua alma.
O Turismo Rural Comunitário é considerado como uma atividade não agrícola
inserida na pluriatividade rural.
Sustentabilidade e Gênero
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável defendida pela ONU,
apresenta dezessete objetivos, com destaque aqui para os de número cinco: alcançar
a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas e o objetivo nº 11:
tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis. Tais objetivos encontram correlação com turismo rural-sustentabilidade-
mulher rural, aqui sugerido.
Em julho de 2010, a Assembleia Geral da ONU criou a ONU Mulheres, que se
constitui como a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o
Empoderamento das Mulheres. As principais áreas temáticas femininas da ONU de
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trabalho incluem: Liderança e Participação Política; Desenvolvimento Econômico; Fim
da Violência contra as Mulheres; Ação Humanitária; Paz e Segurança; Governança e
Planejamento Nacional; Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030 e HIV e
AIDS.
Em mensagem para o Dia Internacional das Mulheres Rurais, o secretário-geral
da ONU, Ban Ki-moon, pediu mais políticas de proteção das mulheres do campo frente
às mudanças climáticas, e destacou que elas representam quase metade da força de
trabalho agrícola do mundo.
Nesse contexto, é importante destacar o fator feminino como essencial na
gestão ambiental, na produção de alimentos e na reprodução social, ao mesmo tempo
em que contribui na transição para uma economia verde. Isto se vê especialmente no
campo onde são protagonistas no processo de adaptação e mitigação da atividade
agropecuária à mudança climática. Um quarto da população feminina mundial vive no
campo. São líderes, tomadoras de decisão, trabalhadoras, empresárias e fornecedoras
de serviços. Sua contribuição é vital para o bem-estar das famílias e das comunidades,
bem como para a economia local e a dos países, apesar da invisibilidade das
contribuições econômicas dessas mulheres, segundo ARAÚJO, N. F. (2010). A
interação de gênero com a gestão ambiental pode ser vista no trabalho das mulheres
dos assentamentos rurais, na prática do turismo comunitário rural, em um indicativo à
igualdade de gênero e ao empoderamento das mulheres. A questão de gênero
também se destaca no ‘Saber fazer alimentar’ na atividade turística rural.
No âmbito das políticas públicas do Ministério do Meio Ambiente (MMA)
encontram-se programas voltados para a recuperação, conservação e sustentabilidade
em variadas áreas ambientais. Entre os destaques, está o Cadastro Ambiental Rural
(CAR) de imóveis em todo o território nacional, com o objetivo de promover a
recuperação de ecossistemas nos moldes da nova Lei Florestal. Além disso, o MMA
desenvolve programas ligados ao combate à desertificação, à educação ambiental e ao
zoneamento ecológico econômico.
O Ministério do Turismo por sua vez, trabalha as relações entre turismo e
sustentabilidade com base em quatro princípios do desenvolvimento sustentável
essenciais para o Programa de Regionalização do Turismo, quais sejam:1)
Sustentabilidade ambiental - envolve processos relacionados aos recursos naturais; 2)
Sustentabilidade sociocultural - considera a cultura local e os valores morais da
comunidade;3) Sustentabilidade econômica - visa assegurar a distribuição da renda
gerada pelo turismo para a população local;4) Sustentabilidade político-institucional -
que visa garantir os compromissos entre os setores público privado e demais atores da
sociedade civil.
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Em Krippendorf (2002), há registro de alerta sobre a fragilidade dos elementos
envolvidos no turismo: do ecossistema natural ao ecossistema cultural. E aponta as
maneiras pelas quais o turismo pode ser conduzido com harmonia entre o homem e a
natureza, contextualizado na região das montanhas suíças, cujas regras, explica, é
também aplicável a todos os lugares. O autor coloca que a essencialidade das funções
sociais da vida o comércio, a indústria e a recreação sejam harmonizados entre si e
com a natureza, de tal forma que o potencial produtivo – terra, florestas, água, etc. – e
a qualidade do ambiente natural, social e cultural seja assegurado a longo prazo.
Referências Bibliográficas CORIOLANO, L. N. [Org.]. Políticas alternativas: arranjos produtivos locais do turismo comunitário. In: Arranjos produtivos locais do turismo comunitário: atores e cenários em mudança. Educa, Ceará 2009 .5859. KRIPPENDORF, J. Turismo: investigação e crítica. Desenvolvendo o turismo em Harmonia com os seres humanos e o ambiente natural. São Paulo: Contexto, 2002, pag.11. _____________. Sociologia do Turismo: para uma nova compreensão do lazer e das viagens. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989, 236p. MOESH, M.M. Turismo: investigação e crítica. Para além das disciplinas: o desafio do próximo século. São Paulo: Contexto, 2002, pag.25. MALDONADO, C. O turismo rural comunitario na América Latina. In: BARTHOLO, R., SANSOLO, D. G. e BURSZTYN, I. (Orgs.). Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2009.
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SB CLASS CAMA & CAFÉ: O MEI COMO INCENTIVO À FORMALIZAÇÃO DA OFERTA DE HOSPITALIDADE DOMÉSTICA
Laila Borges da Silva1 Camila Garcia Fintelman2
Elaine Gomes Borges da Silva3
O turismo é uma força econômica das mais importantes, ao qual ocorrem
fenômenos de consumo, originam-se rendas, criam-se mercados nos quais oferta e
demanda se encontram. Os resultados desse movimento financeiro são expressivos e
justificam sua inclusão na programação da política econômica em favor da população
autóctone.
O turista, ao chegar ao seu destino, necessita de elementos mais básicos
como uma cama para repouso, um banho e um bom café da manhã reunidos em único
ambiente. Sobre o meio de hospedagem cama & café (Bed and Breakfast ou home
stay), comum na Europa e nos Estados Unidos, conforme Pimentel (2007) caracteriza-
se por meios de hospedagens domiciliares onde os moradores não se ausentam
durante a estada do hóspede, prestando a eles serviços de alojamento e oferecendo
café da manhã.
Consiste em serviço personalizado, promove o intercâmbio cultural e o real
contato com o cotidiano dos residentes do destino turístico por meio do convívio do
hospede e anfitrião. Destaca-se dos hotéis convencionais. A hospitalidade doméstica
pode ser compreendida como a embrionária de toda hospitalidade, fundada por
aspectos antropológicos, sociais e culturais da humanidade. Segundo Franco e Prado
(2007, p.3):
[...] é dentro do contexto doméstico da hospitalidade que o ato de receber reflete a cultura de cada povo. Trata-se da hospitalidade como bem receber, do aconchego, da essência do acolhimento. Popularmente fala-se de “fazer com que o visitante se sinta em sua própria casa”, embora essa seja uma questão bastante polêmica visto que não se sabe até que ponto o hóspede pretenda se “sentir em casa” num ambiente que lhe é alheio cultural e socialmente. Talvez a questão primordial não seja se “sentir em casa” mas se sentir “aceito” ou “não-excluído” dentro de suas particularidades e identidade.
1 Graduanda em Sociologia da Universidade Federal Fluminense - UFF, e-mail: [email protected]
2 Graduanda em Sociologia da Universidade Federal Fluminense - UFF, [email protected]
3 Orientadora - Mestre em Turismo e especialista em Gestão de Negócios Turísticos pela Universidade
de Brasília – UnB, professora, pesquisadora da EB Consultoria, e-mail: [email protected]
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Historicamente, é comum comerciar abrigo - repouso e alimentação, o em
espaços geminados, no térreo ou em cômodos reservados a este fim na própria
moradia do estalajadeiro (Walker. 2002). O que distancia a hospitalidade em um
sistema cama e café da hospitalidade doméstica é o aspecto de cobrança dos serviços.
No ambiente do sistema cama e café, a proposta é a boa acolhida, o aconchego, o
carinho dispensado ao hóspede, porém as trocas estabelecidas envolvem moeda. E o
resultado dessa vivência diária traz ao hóspede e ao proprietário do empreendimento
enriquecimento cultural no convívio intensificado devido a proposta de hospedar
alguém na sua própria casa, que aproxima esses dois atores favorecendo o
acolhimento sincero que poderá transcorrer em novos arranjos de comunicação e
aumento da procura daquele meio de hospedagem a partir de experiência particular
que poderá resultar em propaganda boca-a-boca.
Conforme o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem –
SBClass, cama e café é um tipo de hospedagem em residência com no máximo três
unidades habitacionais para uso turístico, com serviços de café da manhã e limpeza, na
qual o proprietário resida. Essa tipologia proporciona aos visitantes uma experiência
exclusiva e única ao usufruírem do contato direto com os moradores ao mesmo tempo
em que valoriza a cultura local. (MTur, 2011). O SBClass estabelece as categorias de
uma a quatro estrelas e para cada, deverão ser atendidos requisitos adicionais que
diferenciam as categorias entre si. O consumidor poderá escolher o meio de
hospedagem pela comparação entre a infraestrutura, os serviços oferecidos, assim
como das ações de sustentabilidade implantadas.
Para a instalação de um cama e café deverão ser seguidos os requisitos
presentes na Portaria Ministerial MTur Nº 100/2011. Atribuições mínimas que cabem
ao proprietário deste negócio é ter mais de 18 anos, estar informado e comprometido
com a qualidade dos serviços assumindo princípios de simpatia e boa vontade,
qualidade no atendimento, respeito às diferenças, sinceridade e honestidade, respeito
às leis, ser acessível por telefone durante 24 horas, oferecer no máximo três quartos
para hospedagem simultânea, sendo que em um quarto ficarão hospedadas apenas
pessoas de uma mesma família ou grupo, troca de roupas de cama e roupas de banho
a cada três dias, ou a cada novo hóspede, limpeza diária do quarto e do banheiro,
lavagem do banheiro a cada quatro dias, ou a cada novo hóspede; serviço de
alimentação disponível para café da manhã, servido diariamente pelo anfitrião, e este
será o momento de contato regular com o hóspede, providenciar um conjunto de
ações para garantir a segurança dos hóspedes e um serviço de atendimento médico de
urgência, providenciar uma cópia da chave da casa, cadeado eletrônico com senha
programável ou o compromisso do anfitrião de estar sempre disponível para abrir a
porta para o hóspede, entre outras demandas.
No caso brasileiro, etapas para legalizar um cama e café são: a geração do
CNPJ, que poderá ser feito por emissão do CCMEI - Certificado de. Condição de Micro
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Empreendedor Individual; obter o alvará do local, fazer o cadastro obrigatório do Cama
e Café no Cadastur e; uma apólice de seguro residencial.
Conforme disposto na Portaria nº 100, de 16 de junho de 2011, no Brasil foi
instituído o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass),
estabeleceu os critérios de classificação, criou o Conselho Técnico Nacional de
Classificação de Meios de Hospedagem - CTClass e outras providências. Assim como a
maioria dos sistemas de classificação de outros países, o Sistema Brasileiro de
Classificação é de adesão e adoção voluntárias pelos meios de hospedagem – que
deverá atender requisitos de infraestrutura, serviços e sustentabilidade. Os requisitos
para classificação são divididos em mandatórios (de cumprimento obrigatório pelo
meio de hospedagem) e eletivos (de livre escolha do meio de hospedagem, tendo
como base uma lista pré-definida). O meio de hospedagem para ser classificado na
categoria pretendida deve ser avaliado.
O responsável legal deverá preencher o formulário eletrônico de solicitação
no site do Cadastur, o termo de compromisso, a declaração do fornecedor e
autoavaliação. Encaminhar os documentos ao Órgão Oficial de Turismo da Unidade da
Federação onde estiver localizado que analisará a solicitação e verificará a
conformidade da documentação em até 10 dias corridos. Conforme a solicitação e a
documentação estejam corretas, o Órgão Oficial de Turismo encaminha o comunicado
da abertura do processo, via sistema Cadastur, ao meio de hospedagem e ao
representante legal do Inmetro da Unidade da Federação. E caso não esteja em
conformidade, o meio de hospedagem receberá as considerações sobre as incorreções
e terá um prazo de até 60 dias para ajustar.
De acordo com o estabelecido na Portaria n.º 273, de 21 de junho de 2011,
(MDICE, 2011), caberá ao representante legal do Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial - Inmetro a emissão, em sistema próprio, da Guia
de Recolhimento da União (GRU), com os valores a serem pagos e enviar ao meio de
hospedagem via sistema Cadastur; definir o avaliador e agendar a avaliação inicial em
comum acordo com o meio de hospedagem, no prazo de 10 dias, que está
condicionada à confirmação do pagamento da GRU e deverá ocorrer em até 40 dias.
Após a avaliação, informará o resultado e entrega o registro preliminar, incluindo as
conformidades e não conformidades constatadas em até 15 dia, a contar da data da
avaliação. Este emitirá o relatório final ao cama e café avaliado, incluindo
detalhadamente as não conformidades, se encontradas, para que possam ser definidas
as ações corretivas. Mediante não conformidades, o representante do Inmetro deve
acordar com o possuidor do cama e café o prazo e o meio para apresentar as
evidências de ações tomadas para atendimento aos requisitos da matriz e retorno ao
local, se for o caso, em até 90 dias da data da avaliação. No caso de impossibilidade
das ações corretivas, por falta de conformidade, o processo deverá ser encerrado pelo
representante legal do Inmetro e comunicado via sistema aos interessados.
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O Ministério do Turismo, com base no relatório final de verificação, emite o
certificado de classificação e concede autorização para o uso da marca da classificação
de meios de hospedagem.
Os requisitos para classificação são divididos em mandatórios (de
cumprimento obrigatório) e eletivos (de livre escolha, tendo como base uma lista pré-
definida). O meio de hospedagem para ser classificado na categoria pretendida deve
ser avaliado por um representante legal do Inmetro e demonstrar o atendimento a
100% dos requisitos mandatórios e a 30% dos requisitos eletivos (para cada conjunto
de requisitos). A validade da classificação é de 36 meses, a contar da data de sua
concessão. Durante esse período, deve ser realizada uma nova avaliação para verificar
a manutenção do atendimento aos requisitos da matriz de classificação. Esta nova
avaliação deve ocorrer em torno de 18 meses após a concessão inicial. (Ministério do
Turismo, 2010)
De acordo com o Anexo XIII (arts. 91, inciso I e 92, § 2º, inciso I), para a
legalização jurídica de um cama e café, o dono de residência que desejar empreender
neste segmento poderá inicialmente formalizar por meio do Microempreendedor
Individual – MEI, introduzido pela Lei Complementar 128/08 e inserido na Lei Geral da
Micro e Pequena Empresa (Lei Complementar 123/06). Ele será enquadrado como
proprietário (a) de hospedaria e outros alojamentos não especificados (CNAE, 5590-
6/99). Não há taxas para a abertura deste tipo de empresa, mas a mesma deve seguir
todos os outros trâmites normais de acordo com a legislação. A facilidade é o
pagamento de impostos que é feito de forma única com um valor fixo, baseado numa
porcentagem do salário mínimo, acrescido de ISS.
O Microempreendedor Individual - MEI é uma estrutura válida para efetivar
um sistema cama & café. Ele respalda a pessoa que trabalha por conta própria
legalizada como pequeno empresário, é necessário o faturamento de no máximo até
R$ 60.000,00/ano e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular. Este
também pode ter um empregado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da
categoria. A Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, criou condições especiais para
que o trabalhador conhecido como informal possa se tornar um MEI legalizado. Entre
as vantagens desta está o registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ),
facilitadora na abertura de conta bancária, o pedido de empréstimos e a emissão de
notas fiscais. Além disso, o MEI será enquadrado no Simples Nacional e ficará isento
dos tributos federais (Imposto de Renda, PIS, COFINS, IPI e CSLL). Assim, pagará apenas
o valor fixo mensal de R$ 50,00 (comércio e serviços), destinado à Previdência Social e
ao ICMS ou ao ISS. Esse custo será atualizado anualmente, de acordo com o salário
mínimo. Com essas contribuições, o Microempreendedor Individual tem acesso a
benefícios como o auxílio maternidade, auxílio doença e aposentadoria.
No caso de formalização via MEI, o faturamento anual máximo do cama e café
não pode ultrapassar o montante de R$ 60.000,00. Quando o responsável legal
perceber o aumento nas vendas, com o auxílio de um contador deverá optar pelo
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enquadramento em outra categoria de empresa na junta comercial, prefeitura
municipal em que está registrado o cama e café e na receita federal.
Antes de implantar o cama e café é aconselhável a realização de um estudo de
viabilidade, avaliar as condições da localidade além da edificação (ambiente interno e
ambiente externo) verificar se no entorno há garantias de acesso, infraestrutura, as
necessidades e interesse do público por este tipo de acomodação. Uma análise SWOT
(strengts, weaknesses, opportunities and threats) é um bom meio de estudo que
permitirá análise crítica das forças que compõem o empreendimento cama & café.
Uma análise apurada anteverá as imperfeições, as correções cabíveis para que o plano
do negócio represente a realidade do empreendimento e o ambiente. Tornando-o
viável e sustentável antes do requerimento da documentação, investimentos
necessários e outras providências.
Referências ANEXO XIII (s.d.). (arts. 91, inciso I e 92, § 2º, inciso I). Atividades Permitidas ao MEI Disponível em <http://www.portaldoempreendedor.gov.br/legislacao/resolucoes/arquivos/ANEXO_XIII.pdf >. Acessado em 02.10.2016 Franco, Patrícia dos Santos; Prado, Juliana do. (2007). A hospitalidade e a cordialidade: reflexões sobre o Brasil. Disponível em < http://www.ibhe.com.br/assets/conteudo/uploads/a-hospitalidade-e-a-cordialidade,--reflexoes-sobre-o-brasil---200755d1f86db0909.pdf >. Acessado em 02.10.2016 Lei Complementar 128/2008. Microempreendedor Individual. Disponível em <http://www.portaltributario.com.br/guia/mei.html> . Acessado em 02.10.2016 Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2011). Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial- Inmetro Disponível em < http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/downloads/portaria273_2011inmetro.pdf>. Acessado em 02.10.2016 Ministério do Turismo (2010). Cartilha de Orientação Básica. Sistema Brasileiro de Meios de Hospedagem. Disponível em: <http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/downloadCartilha.action?tipo=4>. Acessado em 02.10.2016 Ministério do Turismo (2011). Portaria Ministerial 100N°1 100/2011. Matrizes de Classificação de Meios de Hospedagem. Disponível em <http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/downloadRegulamento.action?tipo=4 > Acessado em 01.10.2016 Ministério do Turismo. (2016). Como obter classificação Disponível em <http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/ObterClassificacao>. Acessado em 01.10.2016 Pimentel, Ana Bauberger. (2007). Hospedagem Domiciliar na Cidade do Rio de Janeiro: o espaço de encontro entre turistas e anfitriões (RJ), 2007. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Portaria Nº 100, DE 16 DE JUNHO DE 2011 Disponível em: <http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/downloads/portaria100_2011mtur.pdf> Acessado em 02.10.2016 Walker, John R. (2002). Introdução à Hospitalidade. Barueri, SP: Manole.