LEICA - Nascida para captar a vida

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38 // JORNAL DE NOTÍCIAS QUINTA-FEIRA 10/4/14 & //Vidas do a primeira realmente portátil, de 35 milímetros. E, dali em diante, a Leica tor- nar-se-ia uma marca de cul- to e revolucionaria a foto- grafia. Com a nova máquina, tor- nou-se possível disparar 36 fotografias de seguida. A câ- mara dotou os fotógrafos do poder da “invisibilidade”, graças ao tamanho e ao peso diminutos. “Passados 100 anos, conti- nua a ser imbatível. O único defeito é ser tão cara”, diz o multipremiado fotógrafo e autor do programa “Foto- grafia total”, na TVI24, Luiz Carvalho, ele próprio utili- zador da marca. “A Leica é robusta, discre- ta, muito fiável e tem uma qualidade ótica que, de fac- to, continua a superar qual- quer outra máquina. E estas são, na essência, a razão do seu êxito”. Luiz Carvalho que com- prou a sua primeira Leica em segunda mão, em 1976, su- blinha que esta não é uma câmara muito versátil. “Não v Máquina fotográfica Leica surgiu há 100 anos, na Alemanha. Tudo começou por causa da asma v Nomes míticos da fotografia, como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa, eram apreciadores T udo terá aconteci- do por causa da asma. Conta-se que o engenheiro Oskar Barnack padecia da doença e que, apaixonado pela fotografia e pela vida ao ar livre, pensou em dimi- nuir o formato das pesadas máquinas fotográficas exis- tentes na altura. Os primei- ros protótipos surgiram du- rante os anos da I Guerra Mundial, na fábrica de ma- teriais óticos Ernest Leitz, em Wetzlar, Alemanha. A primeira Leica (abreviatura de Leitz Camera) só apare- ceu no mercado em 1925, mas foi êxito imediato, sen- Em abril de 1914, nascia a Leica, a primeira máquina fotográfica portátil da his- tória. Foi o objeto de culto de nomes como Henri Car- tier-Bresson e Robert Capa e revolucionou o conceito de fotografia. Ana Vitória [email protected] ÚNICA UNIDADE INDUSTRIAL DA LEICA FORA DA ALEMANHA ESTÁ EM FAMALICÃO dá para fazer tudo. Fotogra- fa o essencial. Costumo compará-la a uma espécie de carro desportivo. Também este não dá para ser utilizado em diferentes ocasiões”. Não obstante, o fotógrafo confessa que os melhores trabalhos do seu currículo – por exemplo, os que fazem parte do álbum “Portugue- ses” – foram todos feitos com recurso à icónica má- quina. “A Leica foi uma câmara sempre voltada para captar a história, as pessoas e a vida. Não é uma câmara de estú- dio. É para sair à rua e captar a vida”, como disse, recente- mente, Hans-Michael Koet- zle. Este jornalista e investi- gador alemão, especializado em História e Teoria da Fo- tografia e responsável pela exposição do jubileu, que será inaugurada em Ham- burgo, em outubro próximo, escolheu mesmo algumas imagens captadas com a Lei- ca nos anos 50 e 60 por fotó- grafos portugueses, como Gérard Castello-Lopes e Se- na da Silva. Hoje, a marca é uma au- têntica lenda viva, ainda usada pelos fotógrafos mais importantes do Mundo. O brasileiro Sebastião Salgado, por exemplo, utilizou-a aquando do desenvolvi- mento do trabalho sobre as minas de ouro no Brasil. O mesmo acontecendo com a norte-americana Annie Lei- bovitz, que tem usado a Lei- ca nas fotos de celebridades. “A marca soube adaptar-se às novas tecnologias sem nunca perder a essência. Por exemplo, lançou a M9, uma versão digital, e tem tam- bém uma M monocromo, que só faz fotografias apre- to e branco, mas até nisso é muito especial”, conclui Luiz Carvalho. v Artes MOMENTOS Fotografias icónicas Houve disparos notáveis feitos com a Leica, como o icónico retrato de Che Gue- vara, captado por Alberto Korda, o célebre beijo fixa- do por Alfred Eisenstaedt, em Times Square, que sim- bolizou a vitória dos Estados Unidos sobre o Japão, e a trágica imagem da menina vietnamita correndo nua depois de ser ferida por uma bomba, captada em 1972, por Nick Ut. A Leica e o cinema O primeiro filme em que uma personagem usou a câ- mara foi em “Stalag 17”, di- rigido por Billy Wilder, de 1953. A Leica também par- ticipou em clássicos como “La dolce vita”, de 1960, e “Chinatown”, de 1974. Brad Pitt fotografou com uma Leica M6 em “Jogo de es- piões”, de 2001, Julia Ro- berts utilizou-a em “Clo- ser”, de 2004, e Scartett Jo- hansson passeou-se com uma em “Vicky Cristina Barcelona”, de 2008. A fábrica portuguesa A fábrica de Lousado, em Vila Nova de Famalicão, é a única unidade da Leica fora da Alemanha. Cerca de 90% da máquina é feita em Por- tugal. Leica veio revolucionar o conceito de fotografia Nascida para captar a vida

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A fábrica de Lousado, em Vila Nova de Famalicão, é a única unidade da Leica fora da Alemanha. Cerca de 90% da máquina é Made IN Famalicão.

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38 // JORNAL DE NOTÍCIASQUINTA-FEIRA 10/4/14

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do a primeira realmenteportátil, de 35 milímetros.E, dali em diante, aLeicator-nar-se-ia uma marca de cul-to e revolucionaria a foto-grafia.

Com a nova máquina, tor-nou-se possível disparar 36fotografias de seguida. A câ-mara dotou os fotógrafos dopoder da “invisibilidade”,graças ao tamanho e ao pesodiminutos.

“Passados 100 anos, conti-nua a ser imbatível. O únicodefeito é ser tão cara”, diz omultipremiado fotógrafo eautor do programa “Foto-grafia total”, na TVI24, LuizCarvalho, ele próprio utili-zador da marca.

“A Leica é robusta, discre-ta, muito fiável e tem umaqualidade ótica que, de fac-to, continua a superar qual-quer outra máquina. E estassão, na essência, a razão doseu êxito”.

Luiz Carvalho que com-prou asuaprimeiraLeicaemsegunda mão, em 1976, su-blinha que esta não é umacâmara muito versátil. “Não

vMáquina fotográfica Leicasurgiu há 100 anos, na Alemanha.Tudo começou por causa da asma

vNomes míticos da fotografia,como Henri Cartier-Bresson eRobert Capa, eram apreciadores

Tudo terá aconteci-do por causa daasma. Conta-seque o engenheiro

Oskar Barnack padecia dadoença e que, apaixonadopela fotografia e pela vida aoar livre, pensou em dimi-nuir o formato das pesadasmáquinas fotográficas exis-tentes na altura. Os primei-ros protótipos surgiram du-rante os anos da I GuerraMundial, na fábrica de ma-teriais óticos Ernest Leitz,em Wetzlar, Alemanha. Aprimeira Leica (abreviaturade Leitz Camera) só apare-ceu no mercado em 1925,mas foi êxito imediato, sen-

Em abril de 1914, nascia aLeica, a primeira máquinafotográfica portátil da his-tória. Foi o objeto de cultode nomes como Henri Car-tier-Bresson e Robert Capae revolucionou o conceitode fotografia.

Ana Vitó[email protected]

ÚNICAUNIDADEINDUSTRIALDA LEICA FORADAALEMANHAESTÁEMFAMALICÃO

dá para fazer tudo. Fotogra-fa o essencial. Costumocompará-la a uma espécie decarro desportivo. Tambémeste não dáparaserutilizadoem diferentes ocasiões”.Não obstante, o fotógrafoconfessa que os melhorestrabalhos do seu currículo –por exemplo, os que fazemparte do álbum “Portugue-ses” – foram todos feitoscom recurso à icónica má-quina.

“A Leica foi uma câmarasempre voltada para captarahistória, as pessoas e a vida.Não é uma câmara de estú-dio. É para sair à rua e captaravida”, como disse, recente-mente, Hans-Michael Koet-zle. Este jornalista e investi-gador alemão, especializadoem História e Teoria da Fo-

tografia e responsável pelaexposição do jubileu, queserá inaugurada em Ham-burgo, em outubro próximo,escolheu mesmo algumasimagens captadas com a Lei-ca nos anos 50 e 60 por fotó-grafos portugueses, comoGérard Castello-Lopes e Se-na da Silva.

Hoje, a marca é uma au-têntica lenda viva, aindausada pelos fotógrafos maisimportantes do Mundo. Obrasileiro Sebastião Salgado,por exemplo, utilizou-aaquando do desenvolvi-mento do trabalho sobre asminas de ouro no Brasil. Omesmo acontecendo com anorte-americanaAnnie Lei-bovitz, que tem usado a Lei-ca nas fotos de celebridades.

“A marca soube adaptar-seàs novas tecnologias semnunca perder a essência. Porexemplo, lançou a M9, umaversão digital, e tem tam-bém uma M monocromo,que só faz fotografias a pre-to e branco, mas até nisso émuito especial”, concluiLuiz Carvalho. v

Artes

MOMENTOS

FotografiasicónicasHouve disparos notáveisfeitos com a Leica, como oicónico retrato de Che Gue-vara, captado por AlbertoKorda, o célebre beijo fixa-do por Alfred Eisenstaedt,em Times Square, que sim-bolizouavitóriadosEstadosUnidos sobre o Japão, e atrágica imagem da menina

vietnamita correndo nuadepoisdeser feridaporumabomba, captada em 1972,por Nick Ut.

ALeicaeocinemaO primeiro filme em queumapersonagemusoua câ-mara foi em “Stalag 17”, di-

rigido por Billy Wilder, de1953. A Leica também par-ticipou em clássicos como“La dolce vita”, de 1960, e“Chinatown”, de 1974. BradPitt fotografou com umaLeica M6 em “Jogo de es-piões”, de 2001, Julia Ro-berts utilizou-a em “Clo-ser”, de 2004, e Scartett Jo-hansson passeou-se comuma em “Vicky CristinaBarcelona”, de 2008.

AfábricaportuguesaA fábrica de Lousado, emVila Nova de Famalicão, é aúnica unidade da Leica forada Alemanha. Cerca de 90%da máquina é feita em Por-tugal.

Leicaveio revolucionaro conceitode fotografia

Nascida paracaptar a vida