Leitura de bebês_Julieta Jerusalinsky

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Page 1: Leitura de bebês_Julieta Jerusalinsky

Título: LEITURA DE BEBÊS

Autor: Julieta Jerusalinsky

Créditos: Psicanalista, especialista em estimulação precoce pela FEPI-BsAs, Mestre e doutoranda em psicologia clínica pela PUC-SP, membro do Centro Lydia Coriat; da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA), pesquisadora vinculada ao laboratório de psicopatologia fundamental da PUC-SP, professora do curso de especialização “Clínica Interdisciplinar com o Bebê” da Cogeae/PUC-SP; do curso de especialização em Psicomotricidade das universidades UNIFACS-BA e POTIGUAR-RN; Autora do livro Enquanto o futuro não vem – a psicanálise na clínica

interdisciplinar com bebês (Ágalma, 2002).

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Quando um bebê apresenta um sintoma que coloca em risco a sua constituição psíquica, o sofrimento comparece, é dado a ver, no seu corpo e na realização de suas produções. O fato de que o sofrimento seja da ordem do dado a ver produz algumas especificidades ao intervirmos com a constituição do sujeito na primeira infância, uma vez que, se há algo próprio no método psicanalítico, é a escuta que se produz da associação livre do paciente, posta em causa a partir do sintoma que lhe produz sofrimento. A inauguração da psicanálise implica justamente esta mudança de eixo de intervenção: passando da ordem do ver, do assistir ao espetáculo das apresentações de histéricas, ao escutar a fala dessas pacientes -considerando que tal fala está atrelada de modo determinante ao padecimento que as acometia no corpo. Sabemos, no entanto, que o modo como uma criança circula pela linguagem não é o mesmo que o de um adulto. E, quando intervimos na primeira infância, tal questão apresenta-se de modo ainda mais radical: assim sendo, o fato de intervirmos com o infans – aquele que ainda não fala- lançaria-nos novamente ao campo do visto, do observável na intervenção? Certamente o olhar e o dado a ver estão profundamente implicados na clínica com bebês, levando-nos a produzir, mais do que uma observação, uma operação de leitura. Na clínica com bebês, tal leitura procede por um cruzamento entre a escuta do discurso parental, o dado a ver no corpo e a produção do bebê, dado que o sujeito em questão não coincide plenamente nem com um nem com outro. Para operar tal leitura, torna-se central a sustentação da intervenção do clínico na equipe interdisciplinar, a fim de poder diferenciar os aspectos fantasmáticos da patologia dos impostos pelo real orgânico.