Leitura de textos literários - fruição, interação e ... · Texto de fruição: aquele que põe...

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Leitura de textos literários - fruição, interação e deleite - mecanismo para mudança comportamental. Dalva Silva de Paula* Universidade Federal do Paraná Secretaria de Estado de Educação do Paraná Resumo A leitura dirigida de textos literários pode causar mudança comportamental em alunos do Ensino Fundamental e Médio? Essa foi a problematização de estudo realizado com professores GTR – Grupo de Trabalho em Rede – EaD – e alunos da rede pública do Estado do Paraná, em 2008. Este projeto teve como objetivo criar ou recriar metodologias para a leitura de textos literários, trava- línguas, poemas, crônicas, contos, que possibilitavam contingências de releitura, visando autoconhecimento, interação social, valorização da vida, e/ou simplesmente entretenimento ao educando. A fundamentação teórica versou sobre os conceitos e os aspectos relacionados à leitura, como o seu próprio conceito, características processuais, diferentes funções, o que pode bloqueá-la, aspectos da cognição que estão envolvidos em seu processo, a sensação, a percepção, a memória, o pensamento e a inteligência. A metodologia compreendeu atividades e procedimentos que foram realizados na fase de Intervenção na Escola e avaliação, com leituras de textos literários, dinâmicas de grupo, rodas de conversa, jogos interativos, dramatizações, vivências, entre outras. Palavras chaves: leitura, literatura brasileira, comportamento, mudança comportamental. Abstrat The addressed reading of literary texts can cause behavioral changes in students from Primary or Secondary Education? That was the problem of study with teachers GTR - Working Group Network – EAD – students and the public network in the state of Parana, in 2008. This project aimed to create or recreate methodologies for the reading of literary texts as a tongue-twister, poems, chronicles, tales, which permit rereading of contingencies, seeking self, social interaction, appreciation of life simply educating the entertainment. The theoretical basis is about the concepts and issues related to reading, as its own concept, process characteristics, different functions, which can block it, aspects of cognition that are involved in their process, such as sensation, perception, the memory, thought and intelligence. The methodology comprised activities and procedures that were performed at the stage of assessment and Intervention in School, with readings of literary texts, group dynamics, groups of conversation, interactive games, dramatizations, experiences, among others. Key words: reading, Brazilian Literature, behavior, behavioral change. ___________________________________________________________________ * Professora de Língua Portuguesa-Literatura da Rede Estadual de Ensino do Paraná há 16 anos, pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior. Publicitária e Psicóloga. Atualmente faz especialização em Psicologia Clínica na abordagem Comportamental - análise do comportamento - no Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR, Campinas, SP.

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Leitura de textos literários - fruição, interação e deleite - mecanismo

para mudança comportamental.

Dalva Silva de Paula*Universidade Federal do Paraná

Secretaria de Estado de Educação do Paraná

ResumoA leitura dirigida de textos literários pode causar mudança comportamental em alunos do Ensino Fundamental e Médio? Essa foi a problematização de estudo realizado com professores GTR – Grupo de Trabalho em Rede – EaD – e alunos da rede pública do Estado do Paraná, em 2008. Este projeto teve como objetivo criar ou recriar metodologias para a leitura de textos literários, trava-línguas, poemas, crônicas, contos, que possibilitavam contingências de releitura, visando autoconhecimento, interação social, valorização da vida, e/ou simplesmente entretenimento ao educando. A fundamentação teórica versou sobre os conceitos e os aspectos relacionados à leitura, como o seu próprio conceito, características processuais, diferentes funções, o que pode bloqueá-la, aspectos da cognição que estão envolvidos em seu processo, a sensação, a percepção, a memória, o pensamento e a inteligência. A metodologia compreendeu atividades e procedimentos que foram realizados na fase de Intervenção na Escola e avaliação, com leituras de textos literários, dinâmicas de grupo, rodas de conversa, jogos interativos, dramatizações, vivências, entre outras.

Palavras chaves: leitura, literatura brasileira, comportamento, mudança comportamental.

AbstratThe addressed reading of literary texts can cause behavioral changes in students from Primary or Secondary Education? That was the problem of study with teachers GTR - Working Group Network – EAD – students and the public network in the state of Parana, in 2008. This project aimed to create or recreate methodologies for the reading of literary texts as a tongue-twister, poems, chronicles, tales, which permit rereading of contingencies, seeking self, social interaction, appreciation of life simply educating the entertainment. The theoretical basis is about the concepts and issues related to reading, as its own concept, process characteristics, different functions, which can block it, aspects of cognition that are involved in their process, such as sensation, perception, the memory, thought and intelligence. The methodology comprised activities and procedures that were performed at the stage of assessment and Intervention in School, with readings of literary texts, group dynamics, groups of conversation, interactive games, dramatizations, experiences, among others.

Key words: reading, Brazilian Literature, behavior, behavioral change.

___________________________________________________________________

* Professora de Língua Portuguesa-Literatura da Rede Estadual de Ensino do Paraná há 16 anos, pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior. Publicitária e Psicóloga. Atualmente faz especialização em Psicologia Clínica na abordagem Comportamental - análise do comportamento - no Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento - ITCR, Campinas, SP.

A adolescência é um período em que a pessoa vivencia momentos

importantes e decisivos para o seu desenvolvimento bio-psico-social que marcam

não apenas a aquisição da imagem corporal definitiva, mas também a reavaliação e

incorporação de valores, normas e regras que farão parte do repertório

comportamental adulto. É importante que os professores de Língua Portuguesa

desenvolvam atividades de leitura que estimulem reflexões em seus alunos que

possam contribuir para este crescimento, levando para a sala de aula, textos

literários agregados à atividades prazerosas que os tornem participativos do

processo de ensino-aprendizagem e como produto final, leitores.

Esse estudo realizado, em virtude da participação no Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, ofertado pelo governo do Estado do Paraná,

propôs uma prática diferenciada para trabalhar a leitura de textos literários, em sala

de aula. Entrelaça atividades dinâmicas que envolvem e estimulam os alunos a

repensarem seus próprios comportamentos inadequados, propiciando relações inter-

pessoais mais proveitosas, com a probabilidade de que venham a se comportar de

modo mais assertivo. Instiga o desenvolvimento de valores relacionados com o bem

comum, aspectos importantes para a constituição de uma identidade adolescente

mais comprometida com a sua própria qualidade de vida e com a dos demais com

quem se relaciona, desenvolvendo habilidades sociais e também o pensamento

crítico.

Quando o adolescente vivencia momentos de alegria, de descontração, de

higiene mental – proporcionados por atividades recreativas, como a leitura de textos

literários atreladas à debates, dinâmicas de grupo, rodas de conversas,

dramatizações, entre outras; o grupo de pares desencadeia o sentimento de

pertencimento. Neste processo de superidentificação em massa, todos se

identificam com cada um e, conforme Aberastury (1981, p. 36), o adolescente pode

encontrar seu “lugar” no mundo. Este processo de referência grupal é de transição e

essencial para o jovem sair da endogamia para a exogamia, tornando-se adulto.

A leitura começa com o processo perceptivo, quando ocorre o

reconhecimento dos símbolos – em seguida, vem a transferência para os

conceitos intelectuais, e a tarefa mental se amplia, passando de idéias a

unidades de pensamento cada vez maiores. Essas ações mentais não

consistem apenas na compreensão das idéias percebidas, mas também na sua

interpretação e avaliação. Estes processos não se separaram um do outro,

fundem-se no ato da leitura.

Durante o processo de identificação e amadurecimento intelectual e

emocional, a leitura de textos literários compreende várias fases do

desenvolvimento.

O conhecimento das características do desenvolvimento humano em relação

ao gosto literário, se processa individualmente e em tempos diferentes. Bamberger

(2002, pp. 33-35), destaca as seguintes fases de leitura:

Idade dos livros de gravuras e dos versos infantis: 2 a 5 ou 6 anos – fase

integral-pessoal, egocêntrica – idade do pensamento mágico - livros de gravura,

poemas com ritmo.

Idade do conto de fadas: 5 a 8 ou 9 anos – idade de leitura de realismo mágico –

fase em que a criança é suscetível à fantasia – contos de fada, poemas de amor.

Idade das histórias ambientais ou de leitura factual: 9 a 12 anos – idade da

construção de uma fachada prática, realista, ordenada racionalmente, diante de um

pano de fundo mágico-aventuresco, pseudo-realístico mascarado - contos de fadas,

sagas, anseio pelo aventuroso.

Idade das histórias de aventuras: realismo aventuroso ou a fase de leitura não-

psicológica orientada para o sensacionalismo: 12 a 14 ou 15 anos – reestruturação

psíquica e formação da personalidade – idade da independência e desafio –

demonstrações de agressividade e formação de gangues – leituras com

sentimentalismo barato e auto-adulação; “criança rebelde”, aventuras, romances

sensacionais, viagens, histórias ordinárias.

Os anos de maturidade ou desenvolvimento da esfera estético-literária da

leitura: 14 a 17 anos – descobrimento do próprio mundo interior de egocentrismo

crítico, de um plano de vida, de várias escalas de valor – mundo interior, valores –

aventura de conteúdo mais intelectual, livros de viagens, romances históricos,

histórias de amor, atualidades, literatura engajada, preferências vocacionais.

Durante o processo de ensino-aprendizagem da leitura, muitas variáveis

podem entrar em jogo. Para motivá-la, é preciso conhecer e reconhecer as

preferências literárias dos alunos quanto a gênero, temas, assuntos, tipologia

textual; estar ciente das variáveis ambientais às quais o aluno está sujeito; levar em

consideração a história de vida de cada um; os temas emergentes; o tempo

diferente de aprendizagem que cada um possui.

A tipologia se baseia nas técnicas e na intenção da leitura ou na preferência

por determinada espécie de material. Faz-se diferença entre os tipos de leitor

literário e utilitário, conhecedor e consumidor. Há quatro tipos principais que

Bamberger destaca:

Romântico: preferência pelo mágico, tipicamente conspícuo – 9 a 11 anos –

quando outras crianças são mais suscetíveis às histórias ambientais ou à não-

ficção.

Realista: reconhecido pela rejeição ao chamado livro fantástico.

Intelectual: busca razões, quer ter tudo explicado, gosta de material instrutivo,

procura a moral ou a vantagem prática de uma história. Prefere a não-ficção e

deseja aprender cedo. Destaca-se do leitor médio, sobretudo na quarta e na

quinta série.

Eestético: gosta do som das palavras, do ritmo e da rima. Predileção pela

poesia. Gosta de decorar poemas, copia “trechos bonitos de livros”. Relê com

freqüência. É raro, mas encontra-se em todos os grupos de idade.

Estes tipos raramente aparecem de forma pura. Podem se apresentar

mistos, em que predomina uma ou outra tendência.

O que leva um jovem a ler não é o reconhecimento da importância da

leitura, mas sim várias motivações e interesses pessoais, bem como seu

desenvolvimento intelectual. Logo, fazer longos discursos a respeito dos

benefícios da leitura não contribuem para a formação do leitor. Uma leitura bem

pontuada, com entonação adequada de bons textos, com temas interessantes e

de interesse dos educandos, pode levar à melhores resultados, ainda mais se

estiverem atreladas a outras atividades também prazerosas.

Barthes (2002, p. 11) escreve “O texto que o senhor escreve tem de me dar

prova de que ele me deseja. Essa prova existe: é a escritura. A escritura é isto: a

ciência das fruições da linguagem, seu kama-sutra”. Para que a leitura se

estabeleça, é necessária essa identificação do jeito de ser do leitor com o jeito de

escrever do autor, pois será a maneira como este expõe o enredo que seduzirá ou

não aquele. Barthes define “o prazer do texto é semelhante a esse instante

insustentável, impossível puramente romanesco, que o libertino degusta ao termo de

uma maquinação ousada, mandando cortar a corda que o suspende, no momento

em que goza”.

Durante a leitura há manifestação de sentimentos que se alternam e juntos

proporcionam o prazer pela mesma, como a raiva, a indignação, o alvitre, a

admiração, o medo, o arrebatamento, entre tantos outros que podem suscitar

durante a leitura, fazendo o leitor suspirar por diversos motivos, até mesmo pela

provocação deste. Neste sentido, Barthes (2002, pp. 20-21) expõe:

Texto de prazer: aquele que contenta, enche, dá euforia; aquele que vem da cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura. Texto de fruição: aquele que põe em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até um certo enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas do leitor, a consistência de seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz entrar em crise sua relação com a linguagem.

Depois da identificação inicial entre a maneira de escrever do autor com o tipo

de texto que o leitor gosta de ler; à medida que a leitura avança, este processo de

identificação vai se intensificando pelas faltas, pelas dores, pelas necessidades

vitais apresentadas pelos personagens que se entrelaçam com as do leitor – este

ser que vive à deriva e em constante busca de pistas que lhe possibilitem saber

quem é. Desse modo, o leitor vai se identificando ora com um, ora com outro

personagem, e assim vai revendo seus diversos papéis sociais. Barthes (2002, p.

74), coloca:

...uma tipologia dos prazeres de leitura – ou dos leitores de prazer; não seria sociológica, pois o prazer não é um atributo nem do produto nem da produção; só poderia ser psicanalítica, empenhando a relação da neurose leitora na forma alucinada do texto. Fetichista concordaria com o texto cortado, com a fragmentação das citações, das fórmulas, das cunhagens, com o prazer da palavra. O obsessional teria a voluptuosidade da letra, das linguagens segundas, desligadas, das metalinguagens (essa classe reuniria todos os logófilos, lingüistas, semióticos, filólogos: todos aqueles para quem a linguagem reaparece). O paranóico consumiria ou produziria textos retorcidos, histórias desenvolvidas como raciocínios, construções colocadas como jogos, coerções secretas. Quanto ao histérico (tão contrário ao obsessional), seria aquele que toma o texto por dinheiro sonante, que entra na comédia sem fundo, sem verdade, da linguagem, que já não é o sujeito de nenhum olhar crítico e se joga através do texto (o que é muito diferente do se projetar nele).

Ainda sobre a identificação entre leitor e personagens, Bamberger (2002, p.

12), explica que, para os jovens leitores, os bons livros correspondem às suas

necessidades internas de modelos e ideais de amor, de segurança e de convicção,

que ajudam-nos a dominar os problemas éticos, morais e sociopolíticos da vida,

modelos vivenciados pelos personagens, cujas motivações e interesses íntimos

geralmente não são percebidos pelos jovens, mas correspondem a concepções

definidas de sua experiência: prazer ao encontrar coisas e pessoas familiares

(histórias ambientais) ou coisas novas e não-familiares (livros de aventura),

desejo de fugir da realidade e viver num mundo de fantasia (contos de fadas,

histórias fantásticas, livros utópicos), necessidade de auto-afirmação, busca de

ideais (biografias), conselhos (não-ficção), entretenimento (livros de esporte,

etc.).

Zilberman (1982, p. 17) afirma a leitura ser uma habilidade que, depois de

adquirida, não se perde mais, contudo, sua ação não torna nítido seu objeto: ler,

mas ler o quê? Portanto somente saber ler não transforma ninguém em leitor.

Assim, a escola pode ou não ficar no meio do caminho; ou seja, esta pode

propiciar oportunidades para que o sujeito habilitado em ler, transforme-se em

leitor, ou não.

O professor de Língua Portuguesa deve servir de modelo, ler muito e

demonstrar isso aos seus alunos, pois é impossível desenvolver uma habilidade no

outro, se não a possui. A leitura freqüente também facilita a escolha de textos

porque, em contato com a diversidade textual, fica mais fácil identificar aqueles que

poderão lhe propiciar - em sala de aula – a manifestação de diversos tipos de

sentimentos em seus alunos. Também é preciso entender que será impossível

agradar a todos os educandos com um só tipo de texto, muito menos quando se

impõe o gosto pessoal do professor, o qual, muitas vezes, não tem nada a ver com

o gosto literário dos educandos, haja vista as diferenças culturais, as idades, os

interesses, entre outras. Sendo assim, uma premissa que não sai de moda ao

selecionar um texto, é ter claro que “as atitudes e experiências emocionais são o

fator determinante dos ‘interesses’, pois estes se refletem em seu modo de vida

total”. (BAMBERGER, 2002, p. 32)

Quando não há preocupação pedagógica com a formação do leitor, a

criança afasta-se de qualquer leitura; mas, sobretudo, dos livros literários, seja

por ter sido alfabetizada de maneira insatisfatória, seja por rever na literatura

experiências didáticas que deseja esquecer; pois, infelizmente, existem muitos

professores de Língua Portuguesa que utilizam a riqueza dos textos literários

como pretexto para ensinar regras gramaticais, boas maneiras, valores e afins,

desvirtuando a função literária, a ludicidade, o encantamento das linhas e

versos.

Importantes pesquisas demonstram claramente que muitas crianças não

lêem livros porque o letramento não foi suficientemente eficaz para isso.

Ninguém gosta de fazer coisas em que encontra muita dificuldade. Obedecendo

à lei do menor esforço, o comportamento mais comum, será de fuga ou esquiva

da atividade de leitura, recorrendo a outro tipo de passatempo ou se

contentando com a ociosidade intelectual.

A habilidade de ler fluentemente não advém da capacidade bem treinada

de combinar sons em palavras e palavras em unidades de pensamento, mas no

reconhecimento imediato das frases. Se, ao disponibilizar vários livros ao aluno, o

professor perceber que uma criança pega um livro para ler e, logo em seguida,

deixa-o de lado - isso significa um retrocesso no desenvolvimento da leitura. A

causa, normalmente, não é que o livro que é “chato”, mas sim que ele é muito

difícil e exige habilidades de leitura que criança ainda não possui.

Para evitar alguns tipos de bloqueios de leitura, o professor deve selecionar

material de fácil leitura e que seja emocionante, adequando idade e série; mas, se

ainda perceber, a existência de alunos que não estão acompanhando esta leitura,

isso pode estar ocorrendo porque o nível de dificuldade do material selecionado está

além de seu letramento; logo, deverá propiciar textos que se enquadrem ao nível

específico destes alunos, em um primeiro momento. Depois, gradativamente, ir

aumentando o grau de dificuldade. Este cuidado é importante para não frustrar a

realização da leitura, pois a criança deve sentir prazer ao compreender e interagir

com o texto, sendo capaz de recontar a história com suas próprias palavras, em

jogos lúdicos, por exemplo.

Zorzi (2003, p. 151) coloca que a atenção é seletiva, ligada às

possibilidades de aprendizagem, atenção e interesse andam juntos. Se o texto

não é interessante ou de difícil compreensão, o educando facilmente desviará

sua atenção para outras atividades. O sucesso da leitura dirigida também

depende da curiosidade pelas coisas, interesses pessoais, capacidade de

detectar estímulos e selecioná-los dentre os muitos presentes no ambiente de

sala de aula. Portanto, o professor deve ser criativo na apresentação de sua

proposta, para que esta seja a mais interessante dentre as concorrentes, sem é

claro, o autoritarismo didático que não desperta vontade de ler em ninguém, ao

contrário, acaba afastando ainda mais o aluno do objetivo principal que é

despertar-lhe o gosto pela leitura. Assim, o principal aliado do professor, é o

próprio texto literário que deverá preencher o pré-requisito de ser interessante,

instigar a curiosidade do público alvo, do leitor em formação.

São várias funções sociais que a leitura apresenta. Entre elas, destacam-se a

estimulação cognitiva - aqui se incluem todos os aspectos da cognição,

denominados por Vygotsky de processos mentais superiores como a percepção, a

atenção, a memória, a linguagem e o pensamento com suas evoluções na

construção dos saberes, que estão atrelados à mudança comportamental. Skinner

(1974), afirmou que conhecer é uma probabilidade do indivíduo agir de modo

produtivo no mundo. Conhecer, portanto, não é uma posse, é comportar-se. Definir

os objetivos da leitura contribui para esse comportar-se de modo eficaz,

podendo levá-lo a se entusiasmar com o texto, proporcionando-lhe bem-estar,

auto-realização, instrumento de aprendizado e crítica, relaxamento e diversão.

Bamberger (2002, p. 32), acrescenta:

A leitura também impulsiona o uso e o treino de aptidões intelectuais e espirituais, como a fantasia, o pensamento, a vontade, a simpatia, a capacidade de identificar – ou seja, auxilia no desenvolvimento de aptidões, na expansão do “eu”, numa formação de uma filosofia da vida, compreensão do mundo que nos rodeia.

Zilberman (1982, p. 16), ao encontro dessas reflexões, expõe que o

indivíduo de posse de um código escrito determina sua ruptura com uma

situação de inferioridade, pois antes da alfabetização, este não tem instrumentos

intelectuais para questionar os valores impostos pela sociedade, e destaca que

foi com o domínio generalizado da habilidade de ler que houve a

democratização do saber, conseqüentemente, a expansão da cultura

massificada, hoje transformada em mercado altamente lucrativo com todos os

personagens que a envolve: escritores, editores, livreiros, distribuidores,

consumidores, entre outros.

Em relação à percepção, Davidoff (2001, p.196), explica que o processo

perceptivo depende tanto dos sistemas sensoriais quanto do cérebro, este sistema

registra as mudanças de energia ao redor. A percepção muda com a quantidade e o

tipo de input sensorial, adaptando-se a condições novas. Dessa forma, expectativas,

motivos, valores, emoções e elementos do gênero influenciam aquilo que se

percebe. A forma como se coleta e armazena a percepção do mundo, é limitada

através do sistema nervoso e sensorial. Capta-se apenas uma parcela do que está

ocorrendo. "As pessoas têm alguma variação em termos de como vêem cores e

discriminam sons e sentem cheiros e gostos". Para potencializar a leitura, utilizam-se

as informações que a percepção consegue captar, articulando a ótica pessoal e o

contexto.

Predebon (2002, pp.76-79, 136) esclarece que a percepção ativada, ou seja,

a estimulada positivamente, recebe naturalmente mais informações que se

transformam em reservas intelectuais, as quais poderão ser acionadas no momento

adequado, em que o indivíduo entrar em ação e delas necessitar. Esse processo é

facilitado, se ocorrer uma abertura para as emoções que influenciam no potencial de

decodificação articulado entre as óticas pessoais e o contexto, facilitando uma

conciliação entre o novo e o já existente, pois uma percepção mental adequada ativa

a capacidade dedutiva que leva à criatividade.

Desta forma, as contingências ambientais influenciam os processos

perceptivos, contribuindo para que o indivíduo tenha capacidade de realizar tais

associações e assim possa desenvolver suas habilidades sociais, intelectuais,

afetivas, entre outras; pois é através da visão pessoal de mundo e de homem que o

ser humano analisa, a todo o momento, as mudanças que ocorrem à sua volta e tem

iniciativas de ação sobre o ambiente, modificando-o e sendo modificado por ele,

com habilidades construtivas, capazes de prever e controlar seus

comportamentos.

Bamberger (2002, p. 10), neste sentido, acrescenta que existe pesquisa

que define o ato de ler, em si mesmo, como um processo mental de vários níveis

que muito contribui para o desenvolvimento do intelecto. Durante o processo de

armazenagem da leitura, coloca-se em funcionamento um número infinito de

células cerebrais, cuja leitura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento

sistemático da linguagem e da personalidade, pois trabalhar com a linguagem é

trabalhar com o homem. Acrescentando que a percepção dos símbolos

impressos ocorre durante as “pausas de fixação”, à medida que os olhos

prosseguem seu trabalho. Se o leitor é inexperiente, só conseguirá perceber

uma ou duas letras em cada uma dessas pausas. A prática da leitura leva a um

“período de fixação” maior, em que se percebem duas ou três palavras ao

mesmo tempo e, adicionando-se a antecipação na base de grupos de sinais,

mais de trinta letras podem ser percebidas “num relance” quando a habilidade

de leitura é desenvolvida.

A memória é um processo de retenção de informações e experiências,

intimamente associada à aprendizagem - processo de aquisição de novos

conhecimentos a fim de gerar novas idéias. Processo este que passa pela

atenção, sofre influência da motivação, do interesse e da afetividade.

Logo, aprendizagem e memória são o suporte para todo o conhecimento,

habilidades e planejamento que considera o passado, situa o presente e prevê o

futuro, permitindo o desenvolvimento da criatividade no momento de encontrar

novas soluções para situações já ocorridas e de criar adaptações para situações

futuras.

Assim, a contínua repetição do processo cognitivo da leitura, consiste em

trazer à mente alguma coisa anteriormente percebida, tendo por base a

compreensão do texto, processo este que requer tanto a memória declarativa

quanto a processual. Zilberman (1982, p. 15), já dizia que a leitura tem em sua

conseqüência, a aquisição do saber. Logo, memória e leitura estão

intrinsecamente ligadas ao processo do conhecimento.

Em relação ao pensamento, Davidoff (2001, pp. 245-274), explica que

este é a somatória das atividades incluídas na elaboração de estudos, de

processos superiores da formação de conceitos cognitivos, da solução de

problemas, do planejamento, do raciocínio e da imaginação, caracterizado por

exigir períodos de latência, nos quais as atividades internas são suspensas ou

interrompidas. O pensamento tem um período de convergência - momento em

que o indivíduo se vê frente a novas situações para as quais não possui

respostas pré-elaboradas pela aprendizagem e que também não são de caráter

instintivo, mas requerem elaboração. Este é o momento de criação de uma nova

resposta, cuja necessidade requer o uso da criatividade que pode ser alimentada

pela leitura.

A combinação de unidades de pensamento em sentenças e estruturas

mais amplas de linguagem constitui, ao mesmo tempo, segundo Bamberger

(2002, p. 10) um processo cognitivo e um processo de linguagem, cuja contínua

repetição desse processo, resulta em um treinamento cognitivo de qualidade

especial.

A respeito da Inteligência, Sternberg (2000, pp. 75; 107; 164), coloca que a

mesma é a capacidade de aprender com a experiência e de se adaptar às

mudanças do ambiente. Uma inteligência de sucesso abrange três aspectos:

raciocínio analítico, inteligência criativa e a inteligência prática. Quando ocorre o

equilíbrio entre esses três aspectos, a inteligência de sucesso é mais eficaz, pois

quem possui apenas a inteligência criativa pode possuir idéias inovadoras, mas não

consegue diferenciar quais são realmente boas e assim, não saberá usufruí-Ias.

Quem se utiliza apenas da inteligência analítica, pode ser crítico das idéias dos

outros, porém, não terá as suas idéias criativas. Quem possui apenas inteligência

prática pode saber vender suas idéias, mas poderá vendê-Ias com pouco ou

nenhum valor como autenticamente criativos.

A criatividade também é um processo cognitivo que traz para a realidade

idéias diferentes das existentes. Para Majaro (1988, p. 22), criatividade “é o

processo de pensamento que ajuda a gerar idéias”. Com o passar do tempo, a

este conceito foram sendo incorporadas outras variáveis. Segundo Predebon

(2002, p. 27), o homem soma ao raciocínio associativo sua capacidade de ir

além, construindo hipóteses, conjecturando, sonhando.

A criatividade depende da demanda, do contexto e do potencial criativo de

cada um. Para Majaro (1988, p. 122-125), existem três tipos de criatividade: por

necessidade presente, para resolver problemas do momento; por necessidade

futura, sendo esta, resultado de atividade exploratória e por sorte ou acaso.

Partindo do pressuposto de universalidade defendido por Predebon (2002, p.

27), a criatividade é uma capacidade inata do ser humano. Todos são criativos, o

que só pode ser contestado em termos de grau. Também se chega a essa

convicção pelo fato de que todas as crianças são criativas e que seu potencial inato

vai posteriormente sendo bloqueado no processo de socialização.

As barreiras à criatividade se referem às repreensões dos pais e professores,

ambiente inadequado, hostilidade e falta de reforço positivo. Em consenso, Wechsler

(1993, p. 98) enfatiza que o primeiro bloqueio vem da própria sociedade, mais

diretamente da própria escola. Isto ocorre, quando a escola não cria contingências

favoráveis à aprendizagem.

Sendo assim, os professores de Língua Portuguesa devem ter o maior

cuidado na hora de propor atividades de leitura. Os textos escolhidos para serem

lidos em sala de aula, devem expressem uma variabilidade de sentimentos,

conjugados com atividades interessantes que propiciem aos seus educandos,

momentos de interatividade, alegria, prazer, conhecimento, descontração.

Momentos estes que poderão levá-los ao desenvolver repertórios com respostas

criativas às diversas demandas comportamentais do dia-a-dia.

O professor de Língua Portuguesa é o personagem principal na história da

formação do leitor. Trabalho árduo que deve se iniciar desde o ingresso do aluno na

escola, lá nas primeiras séries, ainda no Jardim de Infância. Através da leitura, todo

o sistema cognitivo entra em ação, a criatividade é despertada e o conhecimento

vem por acréscimo. Cabe ao professor enredar o ambiente para que contingências

reforçadoras sejam criadas ao incentivo da leitura. Infelizmente, a cultura dos pais

lerem histórias infantis para seus filhos desde a mais tenra idade - por que não dizer,

ainda no útero, não é praticada pela maioria, neste país. Logo, o trabalho de

iniciação a prática da leitura, muitas vezes, só começa realmente na escola, mas

para que esta seja desenvolvida com eficácia, deve ser pensada, articulada,

engajada na ludicidade. É pelo prazer da boa leitura que se conquista o aluno e o

transforma em leitor, não o forçando à leituras maçantes com trabalhos acadêmicos

a serem desenvolvidos, tais como provas, questionários, fichas de leitura, para citar

alguns que, em vez de incentivá-la, acabam por matá-la na raiz, gerando somente

fobia à leitura, a qual atualmente compete com as mais diversas atividades de lazer,

principalmente, as eletrônicas.

O objetivo desta pesquisa foi verificar se existe a possibilidade de mudança

comportamental em alunos da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, por

intermédio da leitura dirigida de textos literários. Mudança esta que pode abranger

vários aspectos do repertório comportamental, levando-os a refletirem sobre seus

próprios comportamentos inadequados e, a partir desta conscientização, poder

comportar-se de modo mais assertivo diante das contingências do dia-a-dia, na

escola e fora dela..

A METODOLOGIA

A proposta da pesquisa consistiu no entrelaçamento de várias atividades:

iniciou com a leitura da crônica O coração roubado de Marcos Rey, seguida da

aplicação da DG-Rótulos, leitura do texto Otelo de Shakespeare, dinâmica de

grupo, discussão, debate, dramatizações. O encaminhamento metodológico

contemplou as cinco etapas do Ciclo de Aprendizagem, texto adaptado por

Christiane Gioppo, a saber: envolvimento, exploração, explicação, elaboração e

avaliação. O projeto foi aplicado por 15 professoras da Rede Estadual de Ensino, de

diversas cidades do Estado do Paraná, em alunos dos Ensinos Fundamental e

Médio. Os trabalhos estiveram distribuídos em cinco fases, a saber:

1ª fase - Envolvimento

Leitura e compreensão da crônica: O coração roubado – Marcos Rey, em

anexo, cujo texto pode levar a profundas reflexões sobre a importância da

formação do caráter, com firmes padrões éticos, sem sucumbir a julgamentos morais

ao abordar um episódio passado na infância do narrador, a partir do qual, este

passa a julgar e acusar publicamente um ex-colega de classe ao longo vida; porém,

muitos anos depois, percebe que não aconteceu o que ele havia imaginado.

Essa leitura foi realizada pelas professoras e valorizou o texto, proporcionou

questionamentos a respeito dos temas: inveja, raiva, calúnia, traição, remorso,

vingança, realizados oralmente.

2ª fase - Exploração fase - Exploração

Aplicação da Dinâmica de Grupo (DG) – Rótulos, em anexo, possibilitou aos

alunos a vivência de sentimentos de rejeição e medo. A DG consistiu em: escrever

palavras ou expressões preconceituosas: burro, puxa-saco, problemático, chato,

fofoqueiro, gordo, seco, feio, por exemplos, em tiras de cartolina com 5 cm largura,

as quais foram fixadas na cabeça dos participantes com fita crepe. O dono do rótulo

não poderia saber o que estava escrito em seu rótulo. Cada aluno, ao tentar se

aproximar dos colegas para conversar, abraçar, etc., não entendia por que todos

estavam agindo de modo estranho em relação a sua aproximação (fugindo,

esquivando-se). Neste momento surgiram as mais variadas expressões corporais e

faciais de rejeição, gozação, etc. Os rótulos escolhidos foram os vivenciados em

cada turma, portanto adaptados à necessidade de cada uma. O momento mais

importante desta dinâmica, foi o fechamento da atividade, quando os alunos

puderam expressar suas sensações e seus sentimentos vivenciados durante a

realização da dinâmica.

3ª fase - Explicação

Foi propiciado um debate sobre os temas abordados pela crônica O coração

roubado – inveja, traição, calúnia, vingança, remorso; explorados na DG-rótulos,

com os rótulos vivenciados em cada turma. Nesta integração de atividades, iniciou-

se a contextualização da realidade vivenciada pelos alunos, na vida deles como um

todo, não apenas no ambiente escolar. Levando-os a reflexões e ao

autoconhecimento, com perspectivas iniciais de mudança comportamental. A

expressão das opiniões, sensações e sentimentos fluíram espontaneamente.

4ª fase - Elaboração

Foi realizada a leitura e discussão do texto dramático: Otelo – William

Shakespeare (resumo), em anexo, para verificar como os temas: inveja, traição,

vingança são explorados em outras culturas. Algumas professoras optaram pela

leitura do livro; outras, passaram o filme. Em seguida, correlações foram feitas entre

Otelo, O coração roubado e a realidade de cada turma (e aqui na sala, como isso

acontece...). Momento de reflexão e autoconhecimento.

5ª fase - Avaliação

A avaliação não deveria ser um momento único de modo tradicional, deveria

estar presente em todas as fases e integrá-las de maneira sutil, caso contrário, os

textos literários passariam a pretexto para a avaliação de normas, valores e

condutas, e o aluno perderia a ludicidade apresentada pelos mesmos e as

atividades integradas. O objetivo foi que a avaliação se tornasse mais uma

oportunidade de reflexão de comportamentos inadequados; portanto, foi sugerida da

seguinte forma:

No Envolvimento, a simples identificação oral, pelos alunos, dos

comportamentos inadequados do personagem-narrador de O Coração Roubado.

Manifestação espontânea que contribuiu para a reflexão contextualizada à realidade

do educando. Na Exploração, a avaliação ficou ao encargo do professor que

observou a participação individual na realização da DG-rótulos e, posteriormente,

a apresentação final, com comentários (em duplas), das considerações a respeito do

que foi evocado com a dinâmica.

Na Explicação, a avaliação foi a exposição individual espontânea durante o

debate, conduzido pelo professor e observação deste do engajamento de cada

aluno durante o mesmo.

Na Elaboração, foi realizada uma tarefa, a critério do professor, com a

finalidade de identificar semelhanças e diferenças comportamentais dos

personagens apresentados na crônica O coração roubado e Otelo, identificando as

diferenças culturas. As tarefas realizadas foram, por exemplo, produções de textos,

colagens, entre outras atividades.

O Produto final foi a realização de dramatizações em grupos de 5 a 7 alunos,

com texto, figurino e cenário produzidos por eles, abordando os temas: inveja,

calúnia, raiva, vingança, remorso - contemplados em todas as atividades anteriores.

Avaliação holística que contemplou o engajamento, a oralidade, a evolução do

pensamento crítico. Momento em que se pode observar a compreensão dos temas

abordados, o crescimento cultural e a possível indicação de mudança

comportamental a partir das constatações que cada sujeito conseguiu realizar,

apresentando-a no palco, com a sua leitura de mundo.

O Fechamento final – foi o feedback oral de cada educando em relação a

sua participação nas atividades desenvolvidas, com a exposição do que aprendeu,

como se sentiu participando do projeto.

As 15 professoras que participaram do projeto, foram de diversas cidades do

Estado do Paraná, eram integrantes do Grupo de Trabalho em Rede – GTR/

2007. Curso on-line dividido em módulos, com temáticas e atividades

específicas. O módulo que concentrou a discussão sobre a possibilidade da

leitura de texto literários levar alunos dos ensinos Fundamental e Médio a

modificarem seus comportamentos, foi o de Implementação da Proposta na

Escola, o qual compreendeu duas fases: a 1ª fase (aplicação da proposta como

discriminada acima), realizada de 11/02 a 31/03/08. Poderiam adaptar atividades

para atender às necessidades de cada turma.

A 2ª fase (análise dos resultados), foi realizada de 1º a 30/04/08, com a seguinte

orientação: sugerir alterações e/ou correções para a proposta de intervenção,

considerando a sua formatação, analisando o que deu certo e o que não deu muito

certo.

RESULTADOS

Os resultados obtidos com a aplicação da proposta de pesquisa com o tema:

A leitura de textos literários como estratégia para a mudança comportamental,

foram apresentados pelas professoras no ambiente virtual do curso on-line,

conforme já descrito anteriormente. Abaixo, encontram-se alguns trechos dos

relatos:

A professora Delazir Aparecida Radiguieri Schwengber, de Palotina,

comprovou a versatilidade da proposta, que tanto pode ser aplicada no Ensino

Fundamental quanto no Ensino Médio, sem nenhuma adaptação.

Sua proposta de atividade é excelente e pode ser aplicada em todas as séries do Fundamental e no Ensino Médio. Por se tratar de um assunto polêmico que atrai o interesse dos alunos. Eu trabalhei com a 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental, foi muito interessante, li os textos, fiz a dinâmica (rótulos). Tenho o costume de iniciar as minhas aulas contando histórias (reflexões) e durante as semanas que estávamos envolvidos nesse trabalho, procurei contar histórias relacionadas aos temas. Ouvi as histórias contadas pelos alunos. Tivemos vários debates. Os alunos foram divididos em equipes para poder ler o livro Otelo (William Shakespeare). Houve um envolvimento muito grande dos grupos em ajudar os colegas quanto a leitura, pois alguns alunos apresentam mais dificuldades. Quanto ao figurino, os próprios grupos se organizaram. Tiveram que emprestar boa parte do cenário de outro colégio. Maravilha de trabalho, amei! Temas que fazem parte do dia-a-dia de nossos adolescentes.

No comportamento destes alunos pode-se observar a colaboração mútua

para o desenvolvimento das atividades. O desenvolvimento do comportamento

comprometido de se colocar um no lugar do outro, há sensibilidade em relação

às necessidades do outro. Comportamentos altruístas que instigam o sentimento

de solidariedade, união, comprometimento, pertencimento tão importantes para

a qualidade de vida em sociedade. Também tiveram iniciativa de ir em busca do

que se deseja, do que é necessário para realizar objetivos. Portanto, na própria

sala de aula foi vivenciado o que se desejava como resultado final de

transformação comportamental em atuações futuras.

Telma Regina Nobile Dias, de Ibaiti, comentou:

Eu realizei as atividades propostas com as 5ª séries e foi mesmo muito produtiva.Além dos textos sugeridos, trabalhei a história: "A Ilha dos Sentimentos", que trata dos diferentes sentimentos e a valorização dos mesmos. Os alunos ficaram muito empolgados e apresentaram questões que muitas vezes pensei que eles nem mesmo percebiam. Eu, pessoalmente, fiquei fã do texto "Coração Roubado". Contei a história em todas as turmas em que trabalho.

Neste relato, pode-se perceber a mudança comportamental não só nos

alunos, mas também na própria professora que, ao entrar em contato com os textos

sugeridos, foi além, trabalhou outros textos e envolveu de certa maneira todas as

suas turmas com o tema da pesquisa ao ler o texto O coração roubado,

demonstrando motivação. Pode-se observar também que os alunos apresentaram

respostas comportamentais não esperadas - resultados estes que ultrapassaram as

expectativas do projeto de pesquisa.

Cleomara Fernandes dos Anjos - Paranapoema, concluiu:

...foi muito bom trabalhar a sua proposta. As atividades foram desenvolvidas com uma turma da 1a série do Ensino Médio do noturno. Fiz a leitura da crônica O coração roubado, discutimos sobre o julgar as pessoas antecipadamente e outros sentimentos e ações negativas do ser humano. Depois assistimos o filme Otelo, comparamos com a crônica, relacionamos ações de personagens com sentimentos abordados na dinâmica. Para finalizar, cada aluno produziu um texto sobre o comportamento humano quando movidos pelos sentimentos negativos. Que bom que pude proporcionar aos meus alunos atividades tão gostosas.

Esta professora, ao aplicar a proposta para a 1ª série do Ensino Médio, além

de mais uma vez comprovar a versatilidade do projeto, também demonstra a

possibilidade de se levar os alunos a refletirem sobre comportamentos inadequados

a partir da leitura de textos literários dirigidos de forma tranqüila, descontraída,

prazerosa.

Na fala da professora Eliane Stavinski, de Guarapuava, é possível perceber a

mudança comportamental em si mesma, pois a opção em aplicar o projeto em turma

devido às suas peculiaridades, demonstra que foi instigada a um desafio

comportamental. Resultado além do esperado: “Realizei a sua técnica numa 2ª série

do Ensino Médio, sendo esta uma turma agitada, um tanto quanto imatura, mas foi

proposital diante do desafio. A repercussão foi muito boa, os alunos participaram

com desenvoltura.”.

Valdirene Ortiz de Oliveira, da cidade de Leópolis, relatou a importância de

seus alunos fazerem a relação com a realidade vivenciada por eles e a motivação

para expressarem suas opiniões, mais uma vez relatando a possibilidade de

mudança comportamental em si mesma e em seus alunos, principalmente quando

observou:

...o que me causou estranheza foi o interesse pela história que no término todos queriam dar a sua opinião sobre o assunto, e como é de costume cada qual procurou estabelecer um fato paralelo próximo do contexto real ao responder aos questionamentos dirigidos por mim percebi que a aula agradou e com isso o resultado foi excelente. Em relação a atividade DG - já conhecia e achei muito divertido observar os comportamentos e a participação todos os alunos, surgiram várias expressões principalmente gozação e risadas a sala ficou um alvoroço só , e no final solicitei um comentário sobre o trabalho realizado em sala. A comparação dos textos literários foi realizada em dupla e depois apresentado o resultado a sala toda com espaço para questionamentos sobre as diferenças e semelhança dos textos aproximando-os ao contexto. Ao término do trabalho foi apresentado a peça teatral com caracterização do figurino e cenário simples, mas com muito empenho dos alunos envolvidos, pois todos colaboraram de alguma forma para o sucesso.

Esta mesma professora acrescenta a seguinte mudança comportamental em

seus alunos: “...à princípio, ficaram meio acanhados, mas depois consegui o objetivo

e eles se soltaram participando com muito entusiasmo das atividades propostas...”.

A professora Conceição Ornelas, da cidade de Altônia, destacou a

importância do debate para a interação do texto/realidade/comportamento do aluno

“...os alunos participaram bem do debate. O debate serviu para que os alunos

percebessem o quanto é difícil lidar com sentimentos e com atitudes de julgar o

próximo.”

A professora Claudinéia Sae, de Tomazina, destacou a importância da

orientação na condução das atividades propostas no ambiente virtual, de como

estas a fizeram mudar seu comportamento:

Parabéns pela Proposta de Intervenção na Escola, parabenizo-a também pela preparação das atividades para o trabalho com o GTR. Através de seu trabalho maravilhoso foi possível enriquecer mais meus conhecimentos para colocá-los em prática posteriormente. Por meio de leituras, sugestões de atividades, pude melhorar a prática docente.

Na fala da professora Cássia Jaqueline Cechele dos Santos, da cidade de

Pitanga, pode-se observar o comprometimento dos alunos na realização das tarefas

e a indicação de uma possível mudança comportamental dos mesmos, suscitada

pelos textos trabalhados, em sala de aula:

Segui os passos da proposta deste módulo. Comecei com a crônica. Li em conjunto com os alunos, depois comentamos. Eles acharam muito interessante. Depois, passamos para os rótulos, divertiram-se muito. Comentaram, expuseram que muitos desses rótulos eram vivenciados em sala e nem se davam conta. Disseram que iriam tomar mais cuidado de agora em diante. Propus, então, que trabalhássemos com a dramatização desses temas a assim fizemos. Eles se basearam na crônica “O coração roubado” e fizeram textos em pequenos grupos. Depois apresentaram, dramatizaram na sala de aula para os demais colegas. Eles gostaram muito.

A professora Sirlene Aparecida de Oliveira, de Nova Londrina, expôs a

necessidade da interação de atividades diversificadas para se alcançar objetivos.

Trabalhou com uma turma que tem dificuldades de expressão oral, relatando uma

mudança comportamental que não fora prevista.

Esta prática foi aplicada em uma 7ª série, onde os mesmos são um tanto tímidos e demonstram dificuldade de expor suas idéias. Com a aplicação desta dinâmica de Grupo (rótulos) houve um entrosamento maior entre ambos que se tornaram mais solícitos e criaram entre si um elo de maior integração, assim muitos sentiram mais segurança e falaram a respeito das palavras e expressões preconceituosas, expondo o que pensavam. A leitura da crônica "O Coração Roubado" auxiliou muito a respeito do que pode ser bom ou ruim na formação do caráter de nós seres humanos. O assunto foi debatido através de questões

pertinentes ao mesmo. Para concluir esta proposta, discutimos o texto : Otelo - William Shaskespeare chegando à conclusão de que: O diálogo é a base para a compreensão e a troca de experiência.

Na fala da professora Marlene Costa de Oliveira, da cidade de Roncador,

verificou-se a possibilidade da discussão de comportamentos inadequados de uma

forma lúdica, com o auxílio da literatura, fazendo paralelos entre diversas culturas e

a realidade de seus alunos vivenciada em sala de aula, foco da pesquisa realizada.

...achamos adequado trabalhar a crônica "O Coração Roubado", onde exploramos escrita e oralmente o conteúdo desta crônica. Os alunos participaram ativamente das atividades, discutindo os "comportamentos inadequados" do personagem narrador. Fizemos também a leitura de "Otelo", onde os alunos perceberam que sentimentos negativos como a inveja e o ciúme, podem trazer conseqüências terríveis para o ser humano. Aguçamos a participação deles ao elaborarmos questões como; a) E aqui na sala de aula, vocês percebem algum sentimento negativo em relação a você vindo dos seus colegas? b) Você também percebe que há rejeição, inveja, discriminação, zombaria por parte de algum colega com outro(s) da sala? E mais outras perguntas neste sentido. Percebemos que dos comportamentos negativos aquele que mais é vivenciado entre eles é a zombaria, que talvez pela faixa etária dos mesmos, acabam buscando motivos banais para rir dos colegas. Então argumentamos bastante com eles, fazendo-os entender que nem todas as pessoas aceitam de bom humor brincadeiras inadequadas. Após toda esta exploração, fizemos a Dinâmica dos rótulos, usando cartolinas com várias frases. No primeiro momento apenas 2 alunos não queriam participar, não obriguei-os, mas assim que a dinâmica começou eles espontaneamente começaram a participar. Foi muito interessante, pois alguns alunos acabaram se identificando com os rótulos. Por exemplo: O aluno que pegou o rótulo "sou preguiçoso", disse: " ah professora, até parece que este foi escolhido para mim.

A professora Angelina Pereira Possinelli, de Curitiba, mais uma vez

comprovou a versatilidade da proposta, a contemporaneidade dos textos literários

escolhidos, com os temas pertinentes à realidade dos alunos e comportamentos

inadequados, mostrando a persuasão que os mesmos podem apresentar:

...realizei as atividades propostas em duas turmas de segundo ano do Ensino Médio. Eles gostaram muito da crônica O coração roubado – Marcos Rey. Falaram de suas experiências em relação à calúnia, inveja, raiva, remorso... Concluíram que a “precipitação, a acusação injusta e a despreocupação em apurar os fatos, podem estragar uma verdadeira amizade”. Rimos muito durante a Dinâmica de Grupo – Rótulos e eles se identificaram com algumas situações da dinâmica. Em relação ao texto Otelo, os alunos também se empolgaram com a leitura e discussão do mesmo, inclusive, comentaram que todos os comportamentos das personagens continuam “atualíssimos”, seja na ficção ou na realidade. Fizemos a comparação e reflexão dos dois textos, mas por causa do figurino, fizemos somente a dramatização do texto Coração Roubado.

Na fala da professora Neide Aparecida Vidaletti, Tupãssi, mostra a adesão de

seus alunos à proposta e a reflexão realizada sobre os comportamentos

inadequados, mudando uma postura que geralmente é de insensibilidade e recusa

por meio da indisciplina:

...realizei com a 1ª série do Ensino Médio. Fiz a leitura do texto "Coração Roubado" para os alunos, o que me chamou a atenção foi o silêncio que fizeram durante a leitura e ao terminá-la todos começaram a fazer comentários, colocar seu ponto de vista e suas opiniões, mencionaram comportamento parecido ou semelhante de pessoas que vivem ao seu redor, gostaram da aula e do assunto, foi muito bom o resultado.A atividade DG-Rótulos teve a participação de todos os alunos, surgiram várias expressões principalmente gozação e risadas... A comparação dos textos literários foi realizada em dupla e depois foi feito um círculo onde os alunos mencionavam as diferenças e semelhanças existentes nos textos, independente de sua cultura, relacionando com situações do seu cotidiano. Para finalizar um grupo de alunos apresentaram uma peça teatral. Gostei muito do resultado do trabalho, foi muito bommmm.

A professora Flavia de Paula Graciano, de Cornélio Procópio, ficou tão

motivada que foi além da proposta de pesquisa, comprovando que a possibilidade

de mudança comportamental não tem limites e foge do previsto, pois tanto ela

professora, quanto seus alunos intensificaram a interação e o engajamento à

proposta:

...apliquei a atividade em um primeiro ano do ensino Médio, fiz a leitura do texto, a dinâmica e os alunos adoraram! Uma coisa muito interessante que aconteceu foi a curiosidade em saber mais sobre o Livro O Coração, do Italiano Edmundo de Amicis, e quando o fui pesquisar, descobri que é um diário de um menino que relata várias histórias, num universo de bondade e inocência. O garoto se chama Henrique e escreve a sua vivência escolar e os acontecimentos que a cercam. Fiquei surpresa ao saber que o livro de uma forma ou de outra, relata as angústias de um garoto, exatamente como o texto "O Coração Roubado", e aproveitando desta relação, pedi aos alunos que relatassem, em forma de diário, o que ocorreu durante toda a semana, na escola e em casa.

Na fala da professora Márcia Aparecida Martins, de Cianorte, ficou clara a

mudança comportamental na professora que, inicialmente, não acreditava que a

proposta poderia ser aplicada, mas na prática, comprovou o contrário.

A primeira impressão que tive ao ler cada uma das etapas a ser realizada é de que não seria aplicável em nenhuma das turmas em que trabalho, pois estas tem certa resistência a algo muito diferente e gostam de tumultuar atividades deste tipo. Me surpreendi ao começar a realizar cada uma das fases, eles participaram com ânimo.

Tânia Regina Faria, de Miraselva, ressaltou a mudança comportamental a

partir da ludicidade da proposta e o envolvimento dos alunos durante a aplicação da

mesma.

Consegui seguir quase tudo. Lemos os textos, fizemos a dinâmica, debates, consegui passar o filme (animação) Otelo, foi muito interessante como eles participaram bem do debate,

alguns chegaram até a dar testemunho de fatos parecidos ocorridos entre eles, mostrando o quanto é difícil lidar com tais sentimentos e o mais importante: como é maligno inventar, caluniar, não respeitar os sentimentos alheios. A dinâmica, então... foi uma delícia... rimos a valer com as mímicas e tentativas nem sempre produtivas, de fazer com que o outro descobrisse o que estava "na cara dele". Fechamos nosso debate e atividades com a produção de uma dissertação.

A segunda parte da aplicação da proposta de pesquisa - Intervenção na

Escola - abordou a possibilidade de mudança comportamental nas professoras, as

quais deveriam implementar com outras atividades e textos. Abaixo, algumas

propostas:

A professora Cleomara Fernandes dos Anjos, de Paranapoema, sugeriu:

Iniciaria com a leitura do conto de Dalton Trevisan "Uma vela para Dário". Em seguida pediria aos alunos que registrassem as ações negativas das personagens, comparando-as com a nossa realidade, na qual alguns valores foram esquecidos e as atitudes das personagens do conto , tornaram-se banais. Depois passaria o filme "The Ride, O rodeio da vida".Como exploração do filme os alunos responderiam perguntas , das quais , as respostas seriam uma reflexão sobre como era o comportamento da personagem principal no início, a mudança comportamental que ocorreu e as ações que o fizeram mudar.

A contribuição da professora Angelina Pereira Possinelli, de Curitiba, foi na

fase do envolvimento: “ENVOLVIMENTO – Iniciar o assunto com uma dinâmica

chamada Impulsividade, na qual eles amassam um papel que representa o coração

das pessoas, pois a impressão que nele deixamos é tão difícil de retirar quanto os

amassados.”.

Abaixo, as contribuições da professora Marlene Costa de Oliveira, Cidade

Gaúcha, que agregou a História em Quadrinho:

1ª FASE= Envolvimento. Estas atividades continuam sendo desenvolvidas em uma turma de 8ª série.- Relembrar com os alunos a Crônica " O Coração Roubado" e também a Crônica " Amigos". Reler as crônicas escritas pelos alunos no módulo anterior.2ª FASE= Exploração.- Perguntar aos alunos qual é o verdadeiro sentido da amizade para eles. E também se eles conhecem uma história real de uma bela amizade.- Ouvir a letra da música " Amigos para Sempre". Debater e interpretar a letra da Música.- Trabalhar o fragmento do livro " O Carteiro e o Poeta", na seqüência assistir o filme " O Carteiro e o Poeta".3ª FASE= Explicação.- Apresentação de algumas Histórias em Quadrinhos para a turma, para que eles tenham mais conhecimento na hora de elaborar sua H.Q.- Falar para os alunos que a História em Quadrinhos, deve ser elaborada a partir de um fato que ficou provado a amizade sincera entre dois personagens ou mais.4ª FASE= Elaboração.- Em dupla os alunos irão criar suas Histórias em Quadrinhos, sabendo-se que o tema é "

Uma Verdadeira Amizade ".

- Após o término os trabalhos serão trocados em sala para que todos apreciem a criatividade dos colegas.5ª FASE. Avaliação. A avaliação dará prioridade ao processo de aprendizagem, à qualidade e ao desempenho

dos alunos no decorrer das aulas.Ao Concluir pediremos aos alunos que façam uma avaliação dos trabalhos dos colegas, considerando o sucesso da aprendizagem de toda a turma.PODUTO FINAL= Sem alteração.

A professora Cássia Jaqueline Cechele dos Santos, de Pitanga, propôs outros

textos dentro da mesma estrutura metodológica:

Fase 1 – Envolvimento Convidaria os alunos para leitura do texto “A cruz mais leve”. Após leitura deixaria espaço para comentários e exposição de idéias. Fase 2 – Exploração Faria uma dinâmica onde teria oportunidade de demonstrar através de brincadeira o que, ou quem seriam suas “cruzes”. Fase 3 – Explicação Através da oralidade poderiam expor, explicar, comentar o que fizeram na dinâmica através de brincadeira. Fase 4 – Elaboração Trabalharia com desenhos, charges, poesias para serem expostos na sala de aula. Fase 5 – Avaliação A avaliação seria contínua, desde a elaboração até a exposição das atividades, observando a participação e o interesse do aluno. Produto Final – Sem alteração.

A professora Delazir Aparecida Radiguieri Schwengber, de Palotina,

contribuiu da seguinte forma:

É no contar as suas histórias e no ouvir outras que os alunos constroem suas identidades, seu pensamento, seu jeito de ser e agir. É precisamente do encontro das histórias narradas com as histórias lidas / ouvidas que a atribuição de sentido é possibilitada.1ª FASE - EnvolvimentoComo tenho costume de iniciar as aulas contando histórias (reflexões). Começaria com a fábula: O cachorro e o coelho. Após contar a história, deixaria os alunos expressarem seu ponto de vista e então pediria que relatassem situações ou fatos do cotidiano que estivesse relacionado com a fábula. Logo em seguida, trabalharia com a leitura e compreensão da crônica: O coração roubado. Pediria aos alunos que fizessem a relação da fábula: o cachorro e o coelho com a crônica: Coração roubado e ouviria todos os alunos e então faria as devidas colocações. Formaria grupos, para que escrevessem palavras chaves ou seja como poderiam traduzir a idéia central dos textos. Todos os grupos apresentariam as palavras chaves, demonstrando conhecimento, após as discussões. Atividade que pode compreender três horas aula.2ª FASE - ExploraçãoTrabalharia a dinâmica de grupo (DG) - Rótulos e logo após, levaria os alunos no laboratório de informática / Paraná Digital - Para produzirem slides com mensagens (reflexões) a respeito dos temas trabalhados. Cada aluno apresentaria o seu trabalho aos colegas e professores.(2 horas aula)3ª FASE - ExplicaçãoSem alteração4ª FASE - ElaboraçãoA professora poderá agendar uma visita ao LAR DA FRATERNIDADE (azilo) e pedir aos alunos que conheçam a história de vida de cada pessoa que mora nesta casa .Poderão contar histórias,levar agasalhos , comidas etc. O mais importante é que transmitam carinho e

respeito aos idosos. No retorno a sala de aula , a professora deixará cada aluno livre para expor a história (as) de vida das pessoas que conversaram. Ao ouvir os relatos , o professor poderá anotar palavras chaves no quadro, relacionadas as histórias . Assim levará os alunos a perceber que cada pessoa tem uma história de vida diferente , porém todos têm sentimento: amor ,raiva,traição,calúnia,remorso. Na aula seguinte , trabalharia com o texto dramático : OTELO - WILLIAM SHAKESPEARE e desenvolveria uma reflexão e autoconhecimento de fatos já trabalhados , para uma possível comparação . Deixaria os alunos a vontade para expressarem as suas idéias.5ª FASE - AVALIAÇÃOA avaliação acontece durante o processo de aprendizagem ,ou seja , naturalmente e muito mais prazerosa. É importante que durante as atividades o professor observe a participação e o envolvimento dos alunos , para verificar se houve a mudança de comportamento e a aprendizagem.Esta adquirida , através de relatos , debates , visitas , apresentações,trabalhos em grupo ,histórias ouvidas ou contadas e textos escritos no decorrer de todo processo.PRODUTO FINAL - Sem alteração.

CONCLUSÃO

Conforme os relatos das professoras que participaram do GTR-2007 e

aplicaram a proposta de pesquisa de Intervenção na Escola intitulada: Leitura de

textos literários - fruição, interação e deleite - mecanismo para mudança

comportamental, pode-se verificar que é possível, a partir da aplicação de uma

proposta de leitura dirigida de textos literários, atrelada à atividades dinâmicas,

acontecerem mudanças comportamentais em alunos tanto do Ensino Fundamental

quanto do Ensino Médio e também nas professoras. Mudanças estas no sentido de

despertar o gosto pela leitura, de suscitar reflexões sobre comportamentos

inadequados com a possibilidade de que estes venham a ser praticados de maneira

mais assertiva, de preparação de aulas criativas geradoras de contingências

propícias à aprendizagem, as quais se tornam reforçadoras tanto para os alunos

quanto para as professoras em virtude de resultados positivos.

Dessa forma, os resultados obtidos com esta pesquisa superaram todas as

expectativas e demonstraram que o professor de Língua Portuguesa, ao se utilizar

da riqueza textual literária, pode contribuir para a evolução do processo de

individuação e de interação social dos educandos. Levando-se em conta que

“ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar”. (ANDRADE,

1992, p. 144).

REFERÊNCIAS

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ZORZI, Jaime Luiz. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita – questões clínicas e educacionais. Porto Alegre: Artmed, 2003. 356 p.

ANEXOS

O coração roubadoMarcos Rey

Eu cursava o último ano do primário e como já estava com o diplominha garantido, meu pai me deu um presente muito cobiçado: O coração, famoso livro do escritor italiano Edmondo de Amicis, best-seller mundial do gênero infanto-juvenil. Na página de abertura lá estava a dedicatória do velho, com sua inconfundível letra esparramada. Como todos os garotos da época, apaixonei-me por aquela obra-prima e tanto que a levava ao grupo escolar da Barra Funda para reler trechos no recreio.

Justamente no último dia de aula, o das despedidas, depois da festinha de formatura, voltei para a classe a fim de reunir meus cadernos e objetos escolares, antes do adeus. Mas onde estava O coração? Onde? Desaparecera. Tremendo choque. Algum colega na certa o furtara. Não teria coragem de aparecer em casa sem ele. Ia informar a diretora quando, passando pelas carteiras, vi a lombada do livro, bem escondido sob uma pasta escolar. Mas... era lá que se sentava o Plínio, não era? Plínio, o primeiro da classe em aplicação e comportamento, o exemplo para todos nós. Inclusive o mais limpinho, o mais bem penteadinho, o mais tudo. Confesso, hesitei. Desmascarar um ídolo? Podia ser até que não acreditassem em mim Muitos invejavam o Plínio. Peguei o exemplar e o guardei em minha pasta. Caladão. Sem revelar a ninguém o acontecido. Lembro do abraço que Plínio me deu à saída. Parecia estar segurando as lágrimas. Balbuciou algumas palavras emocionadas. Mal pude retribuir, meus braços se recusavam a apertar o cínico.

Chegando em casa minha mãe estranhou que eu não estivesse muito feliz. Já preocupado com o ginásio? Não, eu amargava a minha primeira decepção. Afinal, Plínio era um colega que devíamos imitar pela vida a fora, como costumava dizer a professora. Seria mais difícil sobreviver sem o seu exemplo. Por outro lado, considerava se não errara em não delatá-lo. “Vocês estão todos enganados, e a senhora também, sobre o caráter do Plínio. Ele roubou meu livro. E depois ainda foi me abraçar...”

Curioso, a decepção prolongou-se ao livro de Amicis, verdadeira vitrina de qualidades morais dos alunos de uma classe de escola primária. A história de um ano letivo coroado de belos gestos. Quem sabe o autor não conhecesse a fundo seus próprios personagens. Um ingênuo como a nossa professora. Esqueci-o.

Passados muitos anos reconheci o retrato de Plínio num jornal. Advogado, fazia rápida carreira na justiça. Recebia cumprimentos. Brrr. Magistrado de futuro o tal que furtara meu presente de fim de ano! Que toldara muito cedo minha crença na humanidade! Decidi falar a verdade. Caso alguém se referisse a ele, o que passou a acontecer , eu garantia que se tratava de um ladrão. Se roubava já no curso primário, imaginem agora... Sempre que o rumo de uma conversa levava às grandes decepções, aos enganos de falsas amizades, eu contava, a quem quisesse ouvir, o episódio do embusteiro do Grupo Escolar Conselheiro Antônio Prado, em breve desembargador ou secretário da Justiça.

Não piche assim o homem advertiu-me minha mulher. Por que não? É um ladrão! Mas quando pegou seu livro era criança. O menino é o pai do homem rebatia, vigorosamente.Plínio fixara-se como um marco para mim. Toda vez que o procedimento de alguém

me surpreendia, a face oculta de uma pessoa era revelada, lembrava-me irremediavelmente dele. Limpinho. Penteadinho. E com a mão de gato se apoderando de meu livro.

Certa vez tomaram a sua defesa: Plínio, um ladrão. Calúnia. Retire-se da minha presença!Quando o desembargador Plínio já estava aposentado, mudei-me para meu

endereço atual. Durante a mudança alguns livros despencaram de uma estante improvisada. Um deles O coração, de Amicis. Saudades. Havia quantos anos não o abria? Quarenta ou mais? Lembrei da dedicatória de meu falecido pai. Ele tinha boa letra. Procurei-a na página de rosto. Não a encontrei. Teria a tinta se apagado? Na página seguinte havia uma dedicatória. Mas não reconheci a caligrafia paterna.

“Ao meu querido filho Plínio, com todo amor e carinho de seu pai.”

OteloWilliam Shakespeare

Esta história gira em torno da traição e da inveja. Otelo é um general mouro que serve o reino de Veneza, Iago é alferes de Otelo, e trama com Rodrigo uma forma de contar ao rico senador Brabâncio, que sua filha Desdêmona havia se casado com Otelo. Esta vingança é movida pela promoção de Cássio, jovem soldado florentino, intermediário da relação entre Otelo e Desdêmona.

Iago considerava a promoção injusta, Brabâncio, havia deixado Desdêmona livre, para escolher quem quisesse como marido por crer que esta escolheria como cônjuge alguém de sua classe, com a descoberta de que a filha havia casado com um mouro sai à caça de Otelo para matá-lo.

No momento do encontro dos dois, chega um comunicado do Doge de Veneza que convoca-os para uma reunião urgente no senado; nesta reunião Amâncio acusa Otelo de ter induzido Desdêmona a casar-se com ele através de bruxarias. Sem provas, Otelo defende-se com um relato de sua história de amor que é confirmado por Desdêmona. Diante disto e por Otelo ser considerado o único capaz de comandar o exercito no contra-ataque a uma esquadra Turca que se dirige a ilha de Chipre, Otelo é inocentado - seguindo o casal para Chipre em barcos separados, na manhã seguinte.

Durante a viagem uma forte tempestade faz com que as embarcações se separem. Desdêmona chega primeiro a ilha. Otelo chega mais tarde com a novidade, pois a esquadra turca havia sido destruída pela fúria das águas, deste modo não haveria mais guerra. Iago que já estava em Chipre planeja um terrível plano de vingança, contra Cássio e Otelo, hábil conhecedor da natureza humana, sabia que o tormento que mais aflige a alma é o ciúme, sabendo que Cássio, dos amigos de Otelo, era o que mais possuía confiança, ainda que o mesmo por sua beleza e juventude seria capaz de despertar em Otelo, um homem já maduro, o ciúme por Desdêmona, uma jovem e bela mulher.

Durante uma festa que os habitantes da ilha prepararam a Otelo, Iago induziu Cássio a embriagar-se e envolver-se em uma briga com Rodrigo, quando o mouro soube do acontecido, destituiu Cássio de seu posto. Nesta mesma noite, Iago começou a jogar Cássio contra Otelo, e fez o mesmo crer que a punição teria sido muito severa e que este deveria falar com Desdêmona para que ela convencesse Otelo a devolver-lhe o cargo. Cássio não se deu conta dos planos de Iago e aceitou a sugestão.

Continuando com seu plano, Iago sugeriu a Otelo que Cássio e sua esposa poderiam estar tendo um caso, seu plano foi tão bem traçado que Otelo começou a desconfiar de Desdêmona. Iago sabia que esta havia sido presenteada por Otelo com um lenço de linho que fora de sua mãe. o Mouro acreditava que este lenço era encantado e enquanto sua amada o tivesse, a felicidade do casal estaria garantida, após ter encontrado o lenço que Desdêmona havia perdido e sabendo da crença de Otelo, Iago diz a Otelo que sua mulher havia presenteado seu amante com o lenço.

Otelo, já enciumado, pede o lenço à esposa, que não sabe explicar o que aconteceu com ele. Neste meio tempo, Iago coloca o lenço no quarto de Cássio para que ele o encontre. Depois, Iago faz com que Otelo se esconda para ouvir uma conversa entre ele e Cássio, os dois falam sobre Bianca amante de Cássio, porém Otelo só escuta parte da conversa e acredita tratar-se de Desdêmona.

Pouco tempo depois, chega Bianca a quem Cássio entrega o lenço e pede que providencie uma cópia. Otelo ficou fora de si quando viu que Desdêmona havia presenteado outro homem com seu lenço, as conseqüências disto foram que Iago, em nome de sua lealdade, jurou matar Cássio para vingá-lo, porém sua intenção era matar Rodrigo e Cássio porque estes representavam empecilho a seus planos; mas, na verdade, o que aconteceu foi que Rodrigo morreu e Cássio ficou apenas ferido. Otelo completamente descontrolado mata sua Desdêmona em seu quarto, quando Emília esposa de Iago, sabendo do que havia acontecido a sua senhora, revela a Otelo que sua esposa nunca havia sido infiel, que tudo não passara de uma trama de seu marido.

Iago mata Emília, foge, mas logo é capturado, Otelo desesperado por saber que matara seu grande amor, apunhala-se no peito, caindo sobre o corpo de sua amada e morre beijando-a. No lugar de Otelo fica Cássio, Iago é entregue às autoridades, e Graciano fica com os bens do Mouro.

DG-RÓTULOS

ObjetivosPossibilitar ao grupo experenciar sentimentos de rejeição e auto-crítica, bem como exercitar argumentação e negociação.

DuraçãoAproximadamente 40 minutos.

A quem se destinaQualquer grupo, preferencialmente formado por pessoas que trabalhem ou já convivam. Aproximadamente 20 pessoas.

MaterialFrases, palavras ou expressões confeccionadas em tiras de cartolina, com 5 cm de largura, grampeadas de modo que se fixem na cabeça dos participantes.

Procedimentos:a) Dividir os participantes em duplas;b) Colocar, na cabeça dos membros de cada dupla, um rótulo (vide sugestões da

turma, do professor), de modo que o “dono” do rótulo não saiba o que está escrito no seu rótulo.

c) Orientar que cada dupla – uma após a outra – faça a representação exatamente do que está escrito.

d) “Conversem entre si...” (é interessante que a pessoa que está com o rótulo escrito tenta se aproximar para conversar, mas não em tende por que a outra pessoa está agindo tão estranho).

Ao final, proceder aos comentários, explicações e revelações em duplas.

Sugestões de expressões para “rótulos”Concorde comigo Não estudoAgrida-me Não sei nadaIgnore-me Colo nas provasAfaste-se de mim Sou medrosoRia de mim Sou traidorCuidado! Eu mordo Sou chatoAbrace-me Não gosto de ninguémEstou carente Falo mal dos outrosSou perigosos Sou preguiçosoSou mentiroso Sou violentoEtc.