Leitura literária pelo hipertexto - Nehte - UFPE · Leitura literária pelo hipertexto Prof. Dr....
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Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 1 -
Leitura literária pelo hipertexto
Prof. Dr. Sébastien Joachim, UEPBi
Resumo Esta pesquisa oferece uma visão panorâmica do hipertexto literário no quadro universitário francês. Hoje, o hipertexto ocupa um espaço bastante discreto na popular Cibercultura. Esta se dá por uma comunicação e uma experiência de criatividade democrática e sem fronteira. Entretanto pensadores da informática como Bernard Stiegler, Historiadores da cultura como Roger Chartier, produtores de hipertexto de pesquisa das universidades questionam o rumo caótico que toma a cultura nas mãos de uma maioria dominada pelo Poder econômico e a ideologia do consumo. Palavras-chave: cibercultura, hipertexto, leitura. Abstract This research is a panoramic survey on the hypertext within the French Universities. Today, o hypertext ocupies a very modest space in the popular Cyberculture. The keywords of thar popular culture are comunication, unlimited experience of democratic criativity Neverthe less philosophers of New Technology as Bernard Stiegler, scholars in Históry of Culture as Roger Chartier, Universitarian authors of hypertexts research-oriented, questionned seriously the chaotic tendency of a so-called culture in the hands of a majority ruled by the Economic Power and its consumist ideology. Keyword: cyberculture, hypertext, reading.
Introdução
Começamos por uma definição provisória: “Um hipertexto é um conjunto de
dados texuais numerizados sobre um suporte eletrônico e que pode se ler de várias
maneiras. Os dados são distribuídos em elementos ou nós de informação -
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equivalentes a parágrafos. Mas esses elementos, em vez de ser ligados um ao outro
como os “wagons” de um trem, são marcados por elos semânticos que permitam de
passar de um ao outro quando o usuário os ativa. Os elos são fisicamente
“ancorados”, por exemplo a uma palavra ou a uma frase”. (Roger Laufer e
Domenico Scavetta). Por seu lado, Ted Nelson o pai do hipertexto declarou: “A
literature is a system of interconnected writings”.
Nossa investigação demonstra que o termo pode revestir várias inflexões de
sentido e aplicações: hiperdocumento, hypermedia, hiperlivro, etc. É isso que
vamos ver em um panorama no domínio francês.
a) Os dois principais rumos do hipertexto
Ao observar as duas tendências na confecção de Hipertexto na pesquisa
literária, optamos por privilegiar não a perspectiva de hipertextualização baseada
em confecção de programa, mas de preferência a perspectiva das relações Homem-
Homem, mediante uma máquina performante pré-realizada por programadores
cuja arte ampara as nossas ações de leitor e pesquisador. Alain Giffard, que
trabalhou a estruturação da Biblioteca da França, acha essa opção mais relevante
para pesquisas assistidas. Nossa concepção do hipertexto é, portanto, de tipo
“extensivo”, e não “intensivo” seguindo a terminologia do Giffard, e interrelaciona
pesquisadores, estudiosos, em vez de empenhar-se em redação de programas.
Usamos bibliotecas eletrônicas já prontas, e acidentalmente, como neste projeto,
nós a completamos; ou extraímos, de um banco geral pré-existente, um mini-
corpus específico ou ”finalizado”.
b) Os rumos do Hipertexto na França
Existem inumeráveis produtos hipertextuais com finalidades literárias muito
diferentes. O relato a seguir retoma uma reapresenta uma experiência vivida em
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dois estágios de Pós-doutoramento na França no meio de professores, artistas,
técnicos e engenheiros muito empolgados por um ou outro tipo de hipertexto
supramencionado. Eu mesmo tive concebido um projeto de leitura em modo
hipertexto com aprovação do CNPq. Quando submeti a primeira das seis versões
daquele esboço de projeto aos meus mentores a reação unânime se condensava na
pergunta: “a que tipo de clientela ou de uso se destina exatamente o seu
hipertexto?” Tal reação sugeria que o método é correlato à própria definição
descritiva do dispositivo técnico. Ficávamos ciente, aliás, desde o preparo em 92 a
nosso estágio de 93 sobre “Escrita Artística e Informática”, que o hipertexto podia
ser autor-centrado ou leitor-centrado. Naquele estágio, trabalhávamos na órbita do
Jean-Pierre Balpe (Paris VIII) e de Jacques Donguy (Paris I) que foram, e estão
ainda, habilidosos fabricantes de hipertextos-autores, – de romances ou de poemas
combinados a partir de outros poemas ou romances – e, no caso de Balpe, inventor
de textos aleatórios e caóticos. O leitor / espectador era certamente envolvido,
mas passava ao segundo plano. Naquela perspectiva de hipertexto autor-centrado,
o usuário se curvava impiedosamente sob as injunções do tecno-criador
habitualmente bicéfalo porque exigia um “conceitualizador” e um programador.
Jean-Pierre Balpe cumulava as duas funções. Não me achava livre nos anos 90
perante as suas pseudo-ficções interativas onde o leitor tinha apenas a liberdade
de seguir caminhos pré-balizados. Entretanto, sobreveio na época um concurso de
circunstâncias, que será narrado logo a seguir. E também, um incidente cientifico
muito particular que o levou a modificar profundamente a estratégia da sua
primeira engenharia literária. Deste incidente falaremos no item d.
O concurso de circunstâncias contém várias facetas. Para começar, havia os
fogos cruzados das críticas no estilo de Jean Baudrillard e outros cientistas sociais
qualificados injusta e precipitadamente por Umberto Eco de “apocalípticos”e que
eram apenas denunciadores da unidimensionalidade duma tecno-cultura
balbuciante que se dava por uma nova tradição sem ancestrais. Ora, toda cultura
aparece depois de um longo período subterrâneo ou de “tateamento” vivido nos
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limbos. Houve igualmente a expansão da teoria da recepção, da poética polarizada
no leitor (e.g. Alain Viala et Georges Molinié. Approches de la réception.
PUF,1993), o surgimento da Escola francesa de Análise do Discurso (AD) assim como
a disseminação das idéias de Pierre Bourdieu que acabava de publicar As Regras da
Arte 1992). Novos discípulos agruparam-se no laboratório de Jean-Pierre Balpe na
Universidade de Paris e no Centre National des Arts et Métiers (Alain Lelu, Imad
Saleh e Papy). Foi nomeado na nova Université d´Artois (Arras) um Reitor que
ampliou as atribuições do professor Alain Vuillemin, professor de Literatura
Comparada recém chegado da Université de Paris IV onde ensinava a Introdução à
Informática. Para estender o campo de trabalho de Paris IV e também para
prestigiar a nova instituição da cidade de Arras, Vuillemin criou o CERTEL, um
Centro de Estudos e de Pesquisas sobre os Textos Literários Eletrônicos.
Beneficiaram dos avanços das Pesquisas cognitivas e dos avanços mais recentes em
Ciências Humanas os dois centros mencionados assim como o Centro Hubert de
Phalèze da Sorbonne Nouvelle (Université de Paris III) onde trabalhava, entre
outros, Michel Bernard, sob a direção do professor Henri Béhar.
Dentro do concurso de circunstâncias, colocaremos certos eventos da mesma
época que se estenderam do começo de 1994 ao 1°semestre de 1997. Com efeito,
constatamos havia um crescimento nos contatos entre pesquisadores que
contribuíram à evolução da leitura literária pelo Hipertexto: colóquios e congressos
na Sorbonne (abril 1994) aos quais colaboraram as Universidades de Paris VIII, Paris
III, sob a coordenação de Alain Vuillemin (Université d´Artois) e de Michel Lenoble
(da Université de Montréal); congresso na Université de Lille (maio/94), na
université de Paris VIII (dez. 94); congresso na University of Toronto em 1995, etc.
Outros fatos contemporâneos de tudo isso eram publicações individuais e
coletivas sobre os métodos de abordagem via computador do texto literário e dos
documentos: difusão em revistas como Genesis, Texte, EPI, Littérature; difusão
pelas casas editorais como Nizet, Hermès, Eyrolles, Champion, Slatkine, Didier-
Erudition, PUV, 1994, 1995, 1996, 1997. Em razão dos intercâmbios inter-
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universitários e interdisciplinares dos quais participaram certos artistas, mesmo
com certa restrição de financiamento nas vésperas do novo milênio, não foi apenas
a jovem Université d´Artois que, com o CERTEL, ganhou notoriedade, mas também
a madura Universidade de Montpellier III com o grupo SATOR. SATOR irradiava-se
em toda a França, no Québec e numa boa porção de países francófonos. Constituiu-
se uma gigantesca rede hipertextual internacional de estudos sobre os topoï
literários. Procedia por uma lista de palavras-chaves implantadas na WEB e cujo
suporte fundamental, leitor-centrado, é o programa TOPOSATOR. SATOR deve sua
notoriedade em boa parte ao aperfeiçoamento trazido a TOPOSATOR pelo logiciel/
tornado o programa ARCANE em 1995 (veja a descrição em Nathalie Ferrand (1997).
Mas infelizmente, como temos dito anteriormente, toda essa mobilização resfriou
em torno da primeira década do novo milênio. Conseqüências: pararam certas
iniciativas por falta de crédito e de incentivo. Houve uma guinada para pesquisas
de tipo comercial, para a venda de produtos mais fáceis de satisfazer a curiosidade
imediata de um publico maior do que o do hipertexto literário. Uma crise similar
foi registrada no que diz respeito ao livro literário canônico, ou canonizável por sua
qualidade, riqueza e problematização do real, do social e do religioso. O mercado
dos gadgets, dos produtos de encanto imediato triunfou. A pesquisa científica e a
pedagogia da leitura de suporte hipertextual enfraqueceu-se até o ponto de quase
soçobrar-se, não fosse a abnegação de um punhado de professores e de
pesquisadores incondicionalmente devotados a sua profissão. Houve defecções
lamentáveis por parte daqueles que tinham investido seus haveres pessoais e que,
endividados e tomados de surpresa pelas medidas restritivas, para pagar suas
dívidas,criaram micro-empresas fornecedoras de produtos que atendem ao gosto de
um publico à margem da Tradição universitária e de toda leitura formadora.
Ao rigor científico, à exploração do texto canônico (lembramos que os
primeiros hipertextos literários estudaram Rabelais, Baudelaire, Shakespeare,
Saint-Exupéry e outros escritores confirmados), sucedeu um vale tudo. O leme
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agora é: liberdade, democracia, randomness. Desapareceram a ênfase sobre a
construção analítica, a síntese interpretativa, a elaboração disciplinada.
c) As melhores ferramentas na França e na Itália
Dando mais um salto para a época áurea de fim de milênio, apresentaremos a
seguir uma família de Hipertextos literários cujo desempenho rivaliza em qualidade
na França.
Voltamos a falar novamente de Michel Bernard enquanto autor de um guia de
leitura de textos literários que repousa sobre ricos bancos de dados realizados por
pioneiros que souberam criar dicionários, sintaxe e estilística informatizadas.
Bernard acrescentou análise contextual, e assim se igualou a um ilustre
predecessor que é André Camlong da Université Toulouse-le-Mirail. Com tal
instrumento e os motores de busca que o acompanha, era e é possível estudar as
principais obras de literatura francesa do renascimento (ou mesmo de fim da idade
média) até o meio do século XX. Apesar deste corpus francês muito incompleto,
convém assinalar a defasagem de que padece a não-informatização de inumeráveis
obras em língua portuguesa e da quase totalidade das obras de literatura dos países
do terceiro mundo. È como se a questão da hipertextualização do fundo literário
nacional concernia apenas os países dos G-8. Pode=se dizer quase a mesa coisa no
que tange ao livros eletrônicos sobre suporte do tipo Kindle É negócio de graúdos.
No Brasil ficamos ainda bastante nas margens quando se trata da criação literária
tecnológica. No entanto, sabíamos perfeitamente estávamos, desde os anos 94-97
da existência de todos os instrumentos que proporcionam ao usuário
economicamente capacitado um espaço de auto-realização que lhe negavam os
‘logiciels” (programas) do começo dos anos 90. Os investimentos são infelizmente
insuficientes neste domínio ao nível do Ensino Superior.
Ainda no domínio francês e no mesmo período, cabe mencionar também
as conquistas do Programa Hyperbase do professor Etienne Brunet, lingüista da
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Universidade de Nice onde dirigiu uma equipe bem treinada em lexicologia e
estatística do vocabulário de textos literários. Ele publicou trabalhos sofisticados
sobre o vocabulário de Emile Zola, sobre o vocabulário de Proust, com belas análises
factoriais e todo um aparato crítico e matemático. Antes de se aposentar, Professor
Etienne Brunet autorizou o uso da tecnologia de Hyperbase a uma outra equipe
francesa baseada na Université de Clermont-Ferrand. Esta equipe dirigida Marie-Luce
Demonet se chamava “Equipe Informática e Letras para o século XVI”, e trabalhava
sobre a adaptação para a internet da obra de François Rabelais. Hoje não sei mais se
Hyperbase continua de ser institucionalmente comercializado e acessível aos
intelectuais nas ondas hertzianas mediante um custo módico.
À guisa de parêntese, pedimos ao leitor de nos acompanhar na Itália; No país
de Dante, existe uma referência que deve absolutamente figurar nos ANAIS da
tecnologia do Hipertexto: o Istituto Metacultura. Foi criado nos aos 90 no eixo
Roma-Veneza. Neste instituto, se destaca Alessandro Pamini, autor de uma
hipermídia e de um Hipertexto: uma Hipermídia para o seu estudo Ernst Lubitsch
l’arte della variazione nel cinema (1995), um hipertexto sobre a obra de Lewis
Carrol. Esse último trabalho, acessível no endereço: [email protected]., é uma
propedêutica à Hipertextualização e um verdadeiro protótipo (um MetaHyperlinks)
da leitura literária hipertextual de última geração (cf. Nathalie Ferrand, 1997).
Pode, porém, o duplo instrumento legado pelo italiano parecer restritivo a certos
estudiosos, na medida em que se limita à exploração de textos de ruptura como os
dos Grupos Álamo e Oulipo, ou de autores ligados a esses grupos como Ítalo
Calvino, Georges Perec. E também à obra do matemático Lewis Carrol. Neste
sentido Alessandro Pamini fecha a porta que ele abre, ele subtrai do processo
hipertextual o impulso que temos recebido dos estudiosos franceses que atuaram
em Montpellier (no Sator), em Paris-Sorbonne (com Henri Behar e Michel Bernard),
em Artois (com o CERTEL (que encerrou o seu serviço com a aposentadoria de Alain
Vuillemin). no laboratório de Etienne Brunet (na Université de Nice, laboratório
que perdeu igualmente seu piloto), e finalmente a Biblioteca de França (um imenso
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fundo provido de um vasto leque de instrumentos). Seria injusto de passar sob
silêncio os trabalhos menos conhecidos, mas nem por isso inexistentes do Centre
d´Ètudes des Textes, da Université de Paris VII.
d) Ainda sobre a metodologia do Hipertexto
Encaramos aqui mais frontalmente à questão metodológica no ambiente
francês. Os nossos contatos pessoais indicariam três fontes principais no que refere
aos estudos literários propriamente ditos:
1) ARCANE de Lochard-Taurisson (1997, Université Paul-Valéry)
2) a tecno-tematologia (Hubert de Phalèse, Sorbonne Nouvelle);
3) A abordagem comunicacional do grupo CNAM (Université de Paris VIII)
Nas fronteiras destas metodologias, ouve-se a voz avalizada do Bernard
Stiegler um dos grandes pensadores das novas Technologias na passagem do
milênio. Voltaremos a dar realce também à abordagem hipertextual de Philippe
Massonie, da Université de Besançon, como opção que faz contrapeso a Arcane de
Lochard-Taurisson.
Começamos pelo mais abstrato o modelo do CNAM (n°3). Está apresentado no
livro Techniques Avancées pour l’Hypertexte (1992) de Jean-Pierre Balpe, A. Lelu,
I. Saleh, que chamariamos O Grupo de Paris-8, ou da Université de Paris-em-Saint-
Denis J-P. Balpe, o líder, é escritor, professor de Comunicação, e atua também no
Departamento de Literatura. O incidente científico aludido anteriormente se
coloca aqui. Um ano depois da saída do livro citado, ele admitirá a defasagem de
boa parte de sua teoria do hipertexto que sintetizava e criticava os mais
significativos aportes americanos, canadenses e europeus no domínio em 300
páginas. O que tem acontecido foi o seguinte: um semestre depois da sua
publicação, descobertas inesperadas foram feitas em seu grupo pelos professores
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assistentes Lelu e Saleh. A lição a inferir é que o hipertexto, os produtos das novas
tecnologias em geral são sempre provisórios, de valor relativo; frente a eles, temos
de nos resguardar, de ficar com um pé fora, ser cautelosos e nunca brigar para eles
como se fossem dotados de um valor definitivo e absoluto. Esta relativização dos
programas hipertextos revelam a condição metodológica precária em que
funcionamos no campo da pesquisa informática. Sem fazer entrar em nossa
consideração o eventual colapso da energia elétrica de que somos ameaçados mais
dias menos dias pelo comportamento irracional dos donos do mundo que são
também os maiores poluidores.
Contudo, antes de maior aprofundamento, apresentamos logo a seguir o perfil
daquilo que seria um estudo literário em modo hipertexto. Tudo começa pelo
tratamento do texto escolhido, se este texto não figura na lista das obras canônicas
que uma equipe especializada neste trabalho preparatório tem efetuado. Citarei
em exemplo mais adiante a realização de um de meus orientandos. É um tipo de
operação tecnicamente preparada a partir de programas ou “logiciels” como
Arcane/Toposator, Hyperbase, Hyperpatate, STABLEX, etc. Em geral, os científicos
e técnicos trocam fraternamente o seu saber. Por exemplo, SATOR tem recebido a
orientação da equipe da Université de Paris VIII, do CNAM.
Nós queríamos focalizar TOPOSATOR, para logo depois equacionar os
problemas e / ou soluções oriundos de outros horizontes do hipertexto-de-leitura
ou hipertexto-leitor. Lamentavelmente, longe do laboratório de Montpellier, não é
possível dar satisfação ao leitor. Temos de nos contentar em transcrever a
narrativa autorizada de uma pesquisadora da Université de Orléans, Nathalie
Ferrand (tradução nossa):
Uma questão teórica e metodológica se coloca na origem das pesquisas da SATOR. Como nos relata Michèle Weil, depois de ter constatado na tradição romanesca a recorrência e a variação de certos dispositivos narrativos – cenários inventados, imitados e parodiados, - uma equipe de especialistas do romance propôs a noção de topoi narrativos, e engajou-se na construção de um thesaurus de tópico versado no romance francês até a Revolução. Para levantar o conteúdo de um corpus de vários milhares de
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romances, o registro dos resultados em fichas de papel não era concebível, os problemas de classificação exigiram o recurso de procedimentos informatizados (FERRAND, 1997. p.12).
O problema teórico aqui apontado reside na definição do narrativo em sua
recorrência multifacetada. A dificuldade metodológica consiste no seguinte: com
meios tão precários, como domar um imenso corpus muito diversificado, e de difícil
e inconfortável manipulação como fichas de papel? Na solução deste problema
reside, porém, as condições de êxito do trabalho literário tal como descrito.
A questão do gênero (poesia, romance) não está levado em conta (dixit
Lochard). O programa criado pode se adaptar tanto ao romance como à poesia.
Basta estabelecer um dicionário para cada gênero textual.. Aparentemente, o
verdadeiro problema é de ordem quantitativa; consiste no tamanho de material a
tratar. A SATOR opera com centenas de milhares de páginas. Seja dito de
passagem, no projeto nosso, temos apenas mil páginas a tratar. A questão de
adequar um corpus ao programa utilizado exige solução. E veremos logo após que a
Sator, inicialmente adaptada para uma primeira finalidade assaz “personalizada”,
chegou a criar um programa adaptado a um novo fim, desta vez colossal, que
autorizou a dupla de inventores (o conceituralizador e o programador).
Similarmente, podemos deduzir que essa adaptação ao fim perseguido aconteceu
no caso da hipertextualização de Alice no país das maravilhas, do romance À
rebours de J-K. Huysmans pelo grupo “Hubert de Phalèze” (Paris III), também no
trabalho que cumpriram sobre o pequeno livro de Luis-Ferdinand Celine Rigodon
por Roger Laufer e Jean Clément em 1993 na Université de Paris VIII. Em todos
esses casos, o tamanho gênero de discurso como o cumprimento do material tem
encontrado uma solução equivalente: a dupla operação técnica da escaneamento e
da “compressão”pela numerização. Mas quanto mais extenso o material, mais
demora o trabalho da primeira unidade até a última “bit-ada”.
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e) Parêntese sobre a ergonomia
Bernard Siegler, o filósofo da Informática em seu livro Prendre soin de la
jeunesse et des générations (Paris: Flammarion,2008, cap. 2 e 4), Michel Melot, ex-
bibliotecário do famoso Centre de Cultura Industrial Georges Pompidou de Paris e
seu co-organizador de um Colóquio sobre o futuro do livro (Demain, le livre. Paris:
L´Harmattan, 2007.Introduction) deploram os prováveis efeitos nocivos sobre os
olhos e a concentração mental, principalmente dos jovens expostos às telinhas dos
computadores. Este efeito ergonômico negativo induzido pela luminosidade
artificial, pelo distanciamento, pela velocidade, se agrava quando se considera na
prática do hipertexto o “efeito” quantitativo” que acabamos de assinalar. O perigo
assinalado,e que atinge os programas que prendem seus usuários um longo período
de tempo no desktop, iminui sensivelmente quando abordamos um programa como
Hiperpatate da autoria de Jean-Philippe Massonie, ex-diretor da Faculdade de
Letras e Ciencias Humanas da Universidade de Besançon (France). Hiperpatate é
um instrumento que se ilustrou pela exigüidade dos “corpus” com que trabalha,:
Por exemplo, L’habitude, livrinho do filósofo Ravaisson tem apenas cinqüenta (50)
páginas; Nouvelles Orientales de Marguerite Yourcenar tem apenas oitenta (80)
páginas. Mas os comentários informatizados que ele autoriza, pela escolha de umas
20 ou 30 palavras-chaves, os espaços de anotações, de citações, de comparações,
de ilustrações que ele oferece superam de muito o tamanho dos respectivos textos
de criação que ele escaneriza e “virtualiza”. A maneira de ler estende-se quase
sem limite para além do tamanho dos textos impressos iniciais, devido às
referências cruzadas, à exploração dos intertextos míticos, religiosos,
metalingüísticos, devido enfim às intervenções diretas na obra tornando um
sistema de recortes, de palavras libertas de seus enclaves meso-contextuais e de
outros procedimentos que exibe Bernard Stiegler num referência de nossa
Bibliografia datada de 1992. O tamanho real dos textos curtos é infinito por
superposição e enxerte de muitas leituras possíveis.
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Tal é a prova dos nove da eficiência da leitura em modalidade hipertextual,
Sem valer-se das riquezas em som, imagens da Hipermídia, a Escola de Besançon o
GRELIS, formado por J. P. Massonie, seus discípulos Claude Condé, Jean-Philippe
Dupuis e outros (cf. Annales Littéraires de l’Université de Besançon, SEMEN, n° 7,
1992), apesar de seu meio desconhecimento na França mesma, nos convenceu que
uma outra leitura literária eficiente,situada na continuidade–ruptura da evolução
da Gutenberg e marcada pelos nomes de William Blake, de Mallarmé, e de muitos
outros autores artesãos do seu próprio hiperlivro, e que essa nova leitura híbrida
pela web e pela Net vai continuar de existir como esperam Roger Chartier(2010),
Adrian Mihalache (2007), Brigitte Chapelain (2007), Christian Vandendrope (2010),
paralelamente a uma prática da Cyberrcultura mais o experimental, mais
pragmática, mais lúdica ( Dolores Ro9mero Lopez, Amélia Sanz Cabrerizo et c
outros, 2008;André lemos,2002). Mas Bernard Siegler tem proposto em várias
publicações, principalmente em Prendre soin de la jeunesse et des générations
(´Harmattan,2008) uma política de reeducação dos espíritos que se apropria e
subverte as inteligentes porém perversas estratégias dos donos econômicos da
cultura tornado mercado num contexto mundializante. A bola está no campo do
estado, mas está também na conscientização dos pais e dos educadores. Em vez de
ter medo da industrialização da cultura, é melhor usar com habilidade essa
industrialização. Deste ponto de vista, a noção de inteligência coletiva de Pierre
Lévy é uma utopia saudável partilhada por quatro outros pensadores de nosso
tempo: Bernard Stiegler, Michel Maffesoli, Gilles Deleuze, Jacques Rancière.
Aconselhamos meditar principalmente os ensaios de Stiegler, Rancière e Deleuze,
paralelamente aos avanços das tecnologias eletrônicas da leitura.
f) de volta à metodologia da SATOR
Voltamos ao eixo SATOR, depois dessas necessárias ponderações digressivas,
mas que justificam o tamanho “medio” de nosso corpus.
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A metodologia da SATOR é exemplar em sua concepção porque repousa
implicitamente sobre a noção do texto como problema. Sendo problema, um texto
exige urgentemente que se formule perguntas sobre seu hipotético conteúdo (os
Topoi) e sua forma. No que tange à formas, e ao sentido, às ocorrências formais e
tópicas, o leitor tem de tomar o partido de que nada é obvio. Razão a mais de se
aplicar a gravar, selecionar, passar ao crivo, comparar, combinar, a fim de
constituir sentido(s) (Nathalie Ferrand, 1997: 13). Para que o grupo da SATOR
possa respeitar o seu compromisso científico, com um notável incremento de
internautes internacionais a partir de 1995,foi necessário estabelecer a
interdisciplinaridade, instalar um novo in-put de pesquisa. O que voltou em mudar
o programa SATOR que passou a ser ARCANE. O trabalho até então assaz
individualizado passou a ser trans-individual, com a introdução de um incremento
para a edição coletica, para o trabalho cooperativo. Dois anos depois, essa
modalidade de trabalho, em fase com as idéias de Stiegler, desembocará nas trocas
internacionais, na mise en commun dos problemas e soluções via Internet. No
hipertexto - “espaço semântico a construir” ( dit J.P. Balpe) - doravante o leitor
acede à maioridade intelectual e afetiva, numa ordem de criação e de auto-criação
em comum. Capital é esse ponto de chegada via técnica que neutraliza doravante a
oposição Natureza X Cultura.
g) outra vertente, outra definição do hipertexto
Vamos examinar agora uma outra vertente da pesquisa francesa.
Focalizaremos um aspecto particular do corpus literário a ser estudado pelos
programas eletrônicos. O benefício visado é mais um aprofundamento do sentido do
Hipertexto. Nossa escolha é Michel Bernard (1994, 1997) na constituição e
utilização de suas fichas léxico-semânticas, intitulado: “Indexação temática” e
“Thesaurus”. Esse fichário eletrônico pode ser consultado on-line ou no Centro
Hubert de Phalèze (Université de Paris III)
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Pulamos sobre a contribuição da estatística nos estudos literários que ele
apresenta e que ilustra o texto Le diable boiteux au jardin des supplices: le roman
dans la BDHL (Banque de Données d’Histoire Littéraire)”. Nosso interesse vai de
preferência a duas outras amostras de pesquisa que ele construiu. A primeira é De
quoi parle ce livre? Elaboration d’un Thesaurus pour l’Indexation thématique (Paris:
PUF, 1994,1998) Este livro é o segundo volume da coleção Editions Electroniques,
das Presses Universitaires de France. A segunda é o texto de uma comunicação de
1995, publicado em Alain Vuillemin (1995), intitulada Lire l’Hypertexte. Ao cotejá-
la com um texto seminal de Bernard Stiegler, ex-presidente (reitor) da Université
Technologique de Compiègne e atual Diretor da INA, teria sido interessante anexar
aqui as tabelas e ilustrações de melhor “definição” gráfica publicada por Stiegler
em 1991 “Lire l’Hypertexte” a fim de exorciza o espectro da “des-leitura” passiva
e frívola, que Umberto Eco chama de leitura-consumo.Infelizmente, não dispomos
mais desse texto do filósofo.
No melhor dos casos, na leitura em modo hipertexto, o leitor-crítico da
página-écran não é um sujeito auto–satisfeito, mas um sujeito pós-moderno
inquieto, desassossegado, despreendido, prestes a se por em questão. A
multiplicação das fichas temáticas, a confecção de thesaurus e indexação rompe
com a sequencialidade do texto tradicional e tende a implantar uma leitura de
linhas tortas cheias de arrependimentos como a mulher de Lot na Bíblia. A vontade
de apropriação, a tentação de ancoragem, resta uma velha tentação da Galáxia
Gutenberg. Mas uma vez “salvas” suas notas pessoais, este leitor reparte para
novas aventuras. Incrustar-se , como na leitura de um romance autobiográfico
linear movido por um narrador auto-reflexivo, ensimesmado, não tem vez aqui. De
fragmento em fragmento, o leitor pega e larga, repega novos liames, novos grafos;
por eles esbarra-se em novos fragmentos. Sistemicamente, com cada nova
emergência, o leitor mexe-se, refigura-se com as reconfigurações de todos
acontecimentos anteriores. Há “repetição e diferença”. E talvez seja nesta
diferença incessante que reside a progressão de uma leitura, cujo termo fica
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teoricamente sempre adiado. Parece que estamos de volta até ao já visto. Falta
apenas uma nova inteligência das coisas.
Em “Lire l’Hypertexte”, confessa-se a paternidade do Livro no berço mesmo
do hipertexto. Contudo, da palavra impressa à palavra desmaterializada e tornada
imagem, a página muda de essência, e o leitor muda de objeto cultural. Deste
ponto de vista, o aparato teórico do livro e de sua interpretação deve ser diferente
do aparato teórico do hipertexto. EÉ por isso que estimo ainda muito ingênuos
muitos lances em torno da Cibercultura ainda por nascer e a cultura do livro tida
apressadamente por acabada. O hipertexto literário é outra coisa do que o livro de
leitura. É por ser diferente que podem e devem dialogar ou andar paralelamente e
rm complementariedade. Por isso é que seria bom guardar certa distância e evitar
as assimilações irrelevantes, apesar de inegáveis analogias de concepções do
hipertexto e de livros tais como se observa em “precursores” como William Blake,
Mallarmé, Borges e outros (Brigitte Chapelain, La littérature sans le livre, In Pascal
Lardellier et Michel Melot, Demain, le livre. Paris:L´Harmattan, 2007:59-75; Roger
Chartier, La mort du livre? Na revista Communication & Langages, n. 159, mars
2005, p.57-65).Trata-se numa passagem de tal livro a tal conversão dele em
hipertexto de duas visões de mundo, de duas formas de enunciação Pois como diz
Bernard Stiegler (992), que eu resumo aqui, não se pode dizer a mesma coisa sobre
dois suportes diferentes, as ferramentas da leitura crítica forjadas para o livro não
tem mais vez no campo da literatura hipertextual. À nova media, nova leitura. Será
que o mais moderno é automaticamente o melhor? Parece que não, segundo o
mesmo autor. A respeito dos programas de escrita e de leitura assistidas por
computador até 1991, ele denuncia o teledirigismo desses antigos instrumentos e a
previsibilidade das questões que poderiam ser levantadas no decorrer de sua
operacionalização. Ora, as boas questões científicas escapam ao critério de
previsibilidade (Bernard Stiegler, cap.2 e 4, 1992).
A luz dessa crítica que não atinge Lochard (Montpellier) nem Bernard (Paris
III), parece-nos que o golpe de gênio de Lochard-Taurisson (SATOR-Arcane), e as
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astúcias de Michel Bernard (Thesaurus) residem na arte de furar a tela de
previsibilidade que suporia o cinto de segurança dos thesaurus do passado, da
indexação, dos dicionários, fichas e outros “prêt-à-porter” utilizados pelo leitor do
livro tradicional. Seus “programas” colocam o usuário em contramão e em situação
polêmica com as noções basilares (topos, tema) sobre as quais funcionam os seus
grupos de pesquisa (cf. M. Bernard, in Alain Vuillemin, 1995; Michele Weil, in
Nathalie Ferrand 1997). De tal maneira que, “entrar” em tais hipertextos é se
meter no meio de brigas epistemológicas que Michel Meyer desenvolveu sob o nome
de problematologia (De la Problématologie, Bruxelles: P. Mardaga; 1995 Questions
de Rhétorique, Biblio-Essais,1993). Brigas essas anunciadas nos primórdios da
imprensa, do livro moderno e da literatura, e de que os ensaios de Montaigne
constituíram o protótipo. Pois o autor dos Ensaios organizava uma logofagia, onde
um comentarista armado de boas questões engaja incansáveis duelos com o autor-
tutor (o Si mesmo sendo um outro, segundo Paul Ricoeur,1990). Decorre disto o
transbordamento da letra nas margens, num espaço de escrita outra.
É bem isso que previa o ex-reitor da Université Tecnologique de Compiègne
(Bernard Stiegler, 1992: 214-215), quando declarou que “l’hypertraitement de
texte, c’est l’impossibilité de distinguer lecture assistée par ordinateur et écriture
assistée par ordinateur”/ o hipertratamento de texto é a impossibilidade de
discernir entre escrita assistida e leitura assistida no mundo do hipertexto.
E para completar a sua intuição, ele articulou esta hipótese que Michel
Bernard três ou quatro anos mais tarde (1995) transformará em asserção:
les technologies dont nous parlons aujourd d’hui font émerger lentement mais sûrement de nouvelles formes de réflexivité encore inconnues, et qui auront été impossibles sans elles (BERNARD, 1995)1.
Portanto, contrariamente aos gadgets programados para o blábláblá, a
fantasia desbragada, o ludismo que se dá por arte, - o hipertexto literário tomou a 1 As tecnologias de que falamos hoje fazem emergir lentamente mas seguramente novas formas de reflexividade desconhecidas, e que teriam sido impossíveis sem elas (B. Stiegler)
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sucessão da cultura do livro apesar da terrível crise industrial que atingiu o
mercado de livro pela valorização do grande consumo. Os autores acima citados
tem constatado que é um fato que se repete periodicamente através da História da
Humanidade. Houve e haverá certos conflitos endêmicos em matéria de política
cultural (na Hegemonia de Staline, de Mao) ou de economia (os detentores do
capital em tudo que se fabrica e deve circular).
Um dos mestres atuais da Literatura Comparada, Pierre Brunel, reconhece
que as três orientações e definições habitualmente em circulação a respeito do
tema / da Temática, são inconsistentes e mergulham o estudioso na maior
perplexidade teórica.2 Foi dito antes que a sugestão de refinar o semantismo e a
terminologia em questão, mediante um método comparatista apoiado em um vasto
corpus, como no grupo SATOR e no livro de 1994 de Michel Bernard. Por seu lado,
André Camlong tem superado esse problema no programa performante que ele
desenvolveu e difundiu na Universidade de Toulouse II .Faço questão de assinalar
mais uma vez que o STABLEX de André Camlong permitiu a uma doutoranda da
UFPE estudar pelos detalhes ,o quadro da Literatura comparada, um imenso corpus
de vocabulário, um grande conjunto de fatos sintáticos recorrentes, as variantes da
temática musical em contexto, com grandes recursos estatísticos e tabelas
ilustrativas, a obra respectiva de três poetas pertencentes a três línguas, ou seja,o
poeta americano Walt Whitman, o poeto franco-senegalês Leopold Sedar Senghor,o
poeta de Piauí Antònio da Costa e Silva .O programa de André Camlong foi
traduzido e adaptado para o português pela professora da USP, Zilda Maria
Zapparoli (cf. A. Camlong e Zilda Maria Zapparoli. Do léxico ao discurso pela
informática. São Paulo Edusp/FAPESP, 2002),
2 Pierre Brunel, “Thèmes et Mythes”. In Transdisciplinaires, 1996 - 1 / 2, L’Harmathan, 1997, 102p.
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Conclusão
Assim como bem o reconheceram Michèle Weil e Michel Bernard,, somente um
hipertexto dotado de indexação, de thesaurus, de funcionalidades apropriadas
habilitam o pesquisador a interrogar como pertinência e eficácia blocos de co-
textos incansavelmente “percoláveis”, manipuláveis, aproximáveis, aptos a serem
justapostos, confrontando e reconfrontando-os em uma rigorosa abordagem
temática. Deste ponto de vista, os programas de Paris-III, de Montpellier-III, de
Toulouse-II, (de Besançon, em tamanho mais modesto) oferecem iguais
possibilidades. Mas Paris III tem a vantagem de ter lidado com textos poéticos, ao
passo que Montpellier III já desenvolveu a plataforma de intercâmbios trans-
nacionais. Assim como Toulouse-II. Depois desse trânsito por posições toposatoriana
e bernardiana, depois de saudar o talento de André Camlong e de Jean-Philippe
Massonie (e seu associado Claude Conde), depois de recolher o depoimento de
Bernard Stiegler, podemos encerrar provisoriamente essa nossa intervenção num
domínio ainda em permanente evolução.
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