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Aqui você vai encontrar importantes obras da riquíssima Literatura Brasileira. Agora ela está nos ônibus de Belo Horizonte e contamos com a sua ajuda para conservar este texto. 121 O vaga-lume Fagundes Varela Quem és tu, pobre vivente que passas triste, sozinho, trazendo os raios da estrela e as asas do passarinho? A noite é negra, raivosos os ventos sopram do sul; não temes, doido, que apaguem a tua lanterna azul? Quando apareces, o lago de estranhas luzes fulgura, os mochos voam medrosos buscando a floresta escura. As folhas brilham, refletem, como espelhos de esmeralda fulge o íris nas torrentes da serraria na fralda. O grilo salta das sarças, pulam gênios nos palmares, começa o baile dos silfos no seio dos nenúfares. A tribo das borboletas, das borboletas azuis, segue teus giros no espaço, mimosa gota de luz. São elas flores sem hástea, tu és estrela sem céu, procuram elas as chamas, tu amas da noite o véu!... Onde vais, pobre vivente, Onde vais, triste, mesquinho, levando os raios da estrela nas asas do passarinho? 31 | 3586.2511 www.letras.ufmg.br/atelaeotexto [email protected] Realização: Incentivo: Patrocínio:

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O vaga-lumeFagundes Varela

Quem és tu, pobre viventeque passas triste, sozinho,trazendo os raios da estrelae as asas do passarinho?

A noite é negra, raivososos ventos sopram do sul;não temes, doido, que apaguema tua lanterna azul?

Quando apareces, o lagode estranhas luzes fulgura,os mochos voam medrososbuscando a floresta escura.

As folhas brilham, refletem,como espelhos de esmeraldafulge o íris nas torrentesda serraria na fralda.

O grilo salta das sarças,pulam gênios nos palmares,começa o baile dos silfosno seio dos nenúfares.

A tribo das borboletas,das borboletas azuis,segue teus giros no espaço,mimosa gota de luz.

São elas flores sem hástea,tu és estrela sem céu,procuram elas as chamas,tu amas da noite o véu!...

Onde vais, pobre vivente,Onde vais, triste, mesquinho,levando os raios da estrelanas asas do passarinho?

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Ver-de outra naneiraRejane H. Neves

Outra maneira de viverOlhar verde para a humanidade.O verde está na verdadeE se transforma em dever. Outra maneira de verE descobrir a realidade.Reconstruir a essência do serE nos encher de claridade. Deixar o verde acontecerTraz de volta a felicidadeFaz o homem reconhecerSeu papel na humanidade. Amo verde coração a natureza.Amo verde boa vontade toda grandeza.Amo verde corpo e alma nossa ação.Amo verde verdade nossa missão.Amo verde maneira grandiosa.Amo verde forma vitoriosa.Amo verde mente aberta e liberta.Amo verde alma pura a humanidade alerta.

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Crônica para o sábadoLucas Maroca de Castro

Acordo. São onze horas. O primeiro sentimento é a sensação de volta à realidade, de volta-a-vida-concreta. Coisa indefinida. Ficamos uns milésimos de segundo para lembrar que somos nós mesmos que estamos ali. E se é sábado, nos permitimos ficar mais umas duas horas, deitados, sem fazer nada, sem arrancar pra vida. (Mas estamos no mundo moderno! Levanta!) Eu, disperso e desperto, já me ponho logo a “trabalho”. É preciso terminar de ler o capítulo do livro do Carpeaux; é preciso estudar geografia; esqueci-me de rever o que Descartes dissera sobre... Ligo o computador e vou olhar os e-mails. Tenho duas caixas a olhar. Há mensagens novas? Preciso respondê-las agora? Será que preciso realmente manter este movimento veloz nas coisas? Sobe, então, pela coluna dorsal um leve calafrio, pois, percebemos que fazemos parte da engrenagem moderna e nem damos por isso. Paro. Respiro. E vou em direção à sacada que há aqui. Nos últimos tempos, tenho descoberto dali algumas belezas simples que têm tranquilizado alguns instantes de sobressaltos: uma frondosa árvore, umas azaléias multicoloridas, que enchem de cores a entrada de um dos prédios, e um filhote de pinheiro que se lança no meio da rua. No caminho para a sacada, advirto-me dezenas de vezes para não me deixar transformar numa engrenagem ultra-mega-sônica moderna que consegue fazer milhares de coisas ao mesmo tempo, mas não se dá conta de si mesma... Que executa trinta e cinco comandos em dois segundos, mas se esquece das azaléias, das árvores frondosas e do pinheiro. E estou a caminho da varanda, com raiva de mim por ter acordado e me dado um “on” tão cedo. Droga! Vou agora para a varanda e esquecer que preciso ler isso, fazer aquilo, e estudar não-sei-quê-lá. Droga. Vou dar um “turn off” e vou para a varanda. continua...

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E quando aí chego, sabe-se lá por que, há no céu muitas, mas muitas andorinhas que se entrecortam fazendo no ar oito mil, oitocentos e oitenta e oito oitos sem fim. E tudo isso numa velocidade espantosa. Impressiona-me, porém, como contemplá-las e a sua velocidade dá à gente uma estranha vontade de ficar parado, e ficar olhando, e ficar ali, esquecendo das coisas. E num desses sobressaltos humanos, corro ao quarto, ainda que pressinta o fim daquela brincadeira avícola (superstição!) para buscar a máquina digital. Quero tirar uma foto e mostrar aos outros. Onde está a máquina? Achei. Ligo a máquina. Chego à varanda, e pronto. Onde estão as malditas andorinhas? Sumiram todas. Raiva. Tiro então, como que de consolo, uma foto comum dos prédios da frente e tento assim me sentir reconfortado com a frustração da foto perdida. A foto fica boa, mas as andorinhas, que também devem estar andando em ritmo moderno, não estavam lá. Então me ocorre um pensamento sem importância, besta: as andorinhas não aceitam sair em fotos, não gostam de máquinas digitais, não acreditam na tecnologia. Pobre rapaz supersticioso. Esqueça as andorinhas. Esqueço sim. Esqueço as andorinhas. Coloco a máquina em cima dum cômodo da sala e volto para a varanda. E lá estão as andorinhas novamente. Que coisa! Aprecio uns quinze segundos e não consigo não pensar em não registrar aqueles bichinhos velozes. Passa de novo pela cabeça a aversão das andorinhas pela máquina digital. Superstição besta, penso outra vez. Que tolice é esta. Vou à sala agora, à cômoda e agarro a máquina. E quando retorno, inexplicavelmente, as andorinhas já não se encontram lá. E desta vez, não penso em tirar foto para sobrepor-se à frustrada. Permaneço, ali, lamentando a velocidade das andorinhas. Por que não me esperaram um pouco, por que não me esperaram para tirar-lhes uma foto? E depois vem um leve remorso mesclado com sentimento de perda. E esqueço da máquina e fico pensando nas andorinhas. E depois aceito a idéia de não tirar mais fotos das andorinhas. E de voltar numa outra tarde para vê-las novamente, mais uns instantes. Teria de ser num sábado? E teria de ser a essa hora? Não o creio. Saio da varanda. Coloco a máquina na cômoda e volto pelas azaléias, pelo pinheiro e pela frondosa que estão todos firmes ali no cimento e não podem abandonar a rua e os meus olhos. Estranho é que quando ganho a varanda, lá estão novamente, mais uma vez, e me parece, em maior quantidade, as velozes andorinhas que, creiam-me, odeiam máquinas, sobretudo as digitais.

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O pardalWallace Leal V. Rodrigues

Quando eu tinha onze anos, um amigo de meu pai deu-me de presente uma carabina de brinquedo. Papai agradeceu-lhe polidamente, porém sem nenhum entusiasmo. Deixei-o e corri ao pomar. Minha primeira vítima foi um pardal. Lembro-me bem de que a despeito do orgulho que senti por ser tão bom atirador, tive vaga sensação de culpa, ao ver cair o passarinho. Minha insegurança levou-me a procurar meu pai. Encontrei-o ocupado em tirar de uma teia de aranha, os insetos e moscas que ali se havia aprisionado, colocando-os depois em uma caixinha de fósforos. – Para que é isso, papai? – perguntei – Venha comigo, e eu lhe mostro. Levando-me ao jardim, mostrou-me, então, entre a espessa folhagem de um arbusto, um ninho onde se achavam quatro pássaros implumes. Abrindo a caixa com cautela, foi metendo as moscas e os insetos nos biquinhos abertos. Compreendi o motivo e ofereci-me para ajudá-lo. – Não é coisa fácil! – disse ele. Passei a tarde procurando insetos e remexendo a terra a ver se encontrava vermes. De noite, papai agasalhou os passarinhos com um pouco de algodão.

continua...

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Na manhã seguinte veio ter ao meu quarto, quando eu me estava vestindo. Trazia nas mãos um dos pequeninos pássaros, já morto. – Morreu durante a noite! explicou ao mostrá-lo. Vamos fazer tudo para salvar os outros. Terminando o jantar, àquela noite, encontramos no ninho uma segunda vítima do frio. Alguns dias depois, estando eu a tomar o café da manhã, entrou meu pai, trazendo o terceiro filhote, igualmente inanimado. – O último, porém, parece forte e resistente como poucos – observou sorrindo – Creio mesmo que, em breve, ensaiará as asas. Mas o pobre orfãozinho – acrescentou - há de passar por maus momentos, pois não tem quem lhe ensine os segredos do vôo e, embora não pareça, talvez esteja um pouco fraco. Os pássaros assim, novinhos, precisam receber alimento a todos os instantes e nós não chegamos a alimentá-los em tempo, como necessitavam. Fomos encontrá-lo um dia, o pequeno sobrevivente, a baloiçar-se amedrontado sobre um galho. O fato de que aquele passarinho precisava voar tornara-se, aos meus olhos, de suprema importância. Foi quando o vimos, de repente, soerguer-se no espaço. Bateu as asas, quanto pôde, mas em vão. Um segundo depois caía sobre a relva, Agitou-se num tremor e...morreu. – Pobrezinho, não teve sorte! – observou o pai. Sentindo-me tomado de remorsos, exclamei por fim, sem mais poder conter o que ia na alma: – Papai, a culpa é minha! Fui eu que matei a mãe deles!... – Eu sei, meu filho, vi você fazer aquilo. Não se aflija, são raros os meninos que não fazem o mesmo. Quis apenas mostrar-lhe que, ferindo alguém, ferimos, ao mesmo tempo, outras pessoas e até mesmo as que mais amamos ou as que mais nos amam. E é, não raro, maior o mal que assim fazemos a nós mesmos.

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Velho índioJamil Toledo

Um velho índio me falouContou das coisas do lugarSobre o asfalto ele chorouFalou do rio que ali passou.

Sobre o asfalto ajoelhouPediu perdão ao Deus Tupã:

- Eles não sabem o que fazemAdoram o Santo PoderFazem do verbo ter Seu dever

- Quem não tem está foraQuem está fora quer terMatam, roubam, esfolamÉ a lei do obter

Destroem os rios e matamAs matasDestroem os rios e matam

Destroem os riosE matamE matasE matas.

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Rio Betim (tropa)Paulinho J. Carvalho

Por causa de um rio limpo, nasce uma cidade...

O rio, o tropeiro e sua tropaA mata e sua grota, a cantiga do lugarÀ margem, caçador de esmeraldasA capela, a palhoça, a primeira construção

Ô, gritou o boiadeiro, ôE chegou o cancioneiroVai nascer um lugarejoPousada dos tropeiros O portão dos sertões

O rio não tem ouro nãoAh é limpo esse ribeirãoMercador barqueiro

O rio hoje, morto de saudadesDas mulheres lavadeiras, cantadeiras a entoarA mata foi embora de mansinhoLevou os bichosE os passarinhosNunca mais podem voltar

Ô, calou o cancioneiro, ôE partiu o boiadeiroAcabou-se o lugarejo, pousada de tropeirosO portal dos sertões

Ah, o rio não é limpo nãoAh, roubaram sua inspiraçãoCantador ô, barqueiro ô

Por causa de uma cidade suja, morre um rio...

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Parágrafo décimo quinto da “Carta da Terra”

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de sofrimentos.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável.

c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.

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SonetoGregório de Matos

Na confusão do mais horrendo dia,Painel da noite em tempestade brava,O fogo com o ar se embaraçavaDa terra e água o ser se confundia.

Bramava o mar, o vento embraveciaEm noite o dia enfim se equivocava,E com estrondo horrível, que assombrava,A terra se abalava e estremecia.

Lá desde o alto aos côncavos rochedos,Cá desde o centro aos altos obeliscosHouve temor nas nuvens, e penedos.

Pois dava o Céu ameaçando riscosCom assombros, com pasmos, e com medosRelâmpagos, trovões, raios, coriscos.

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Da minha aldeiaFernando Pessoa

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquerPorque eu sou do tamanho do que vejoE não, do tamanho da minha altura...Nas cidades a vida é mais pequenaQue aqui na minha casa no cimo deste outeiro.Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longede todo o céu,Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhosnos podem dar,E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

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ElaMachado de Assis

(primeiro poema publicado, quando o autor tinha 16 anos)

Seus olhos que brilham tanto,Que prendem tão doce encanto,Que prendem um casto amorOnde com rara beleza,Se esmerou a naturezaCom meiguice e com primor

Suas faces purpurinasDe rubras cores divinasDe mago brilho e condão;Meigas faces que harmoniaInspira em doce poesiaAo meu terno coração!

Sua boca meiga e breve,Onde um sorriso de leveCom doçura se desliza,Ornando purpúrea cor,Celestes lábios de amorQue com neve se harmoniza.

Com sua boca mimosaSolta voz harmoniosaQue inspira ardente paixão,Dos lábios de QuerubimEu quisera ouvir um -sim-P’ra alívio do coração!Vem, ó anjo de candura,Fazer a dita, a venturaDe minh’alma, sem vigor;Donzela, vem dar-lhe alento,“Dá-lhe um suspiro de amor!”

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Menor perversoOlavo Bilac

É este o título, com que aparece em todos os jornais a notícia de um caso triste, - uma criança de três anos assassinada por outra de dez, em condições que ainda não foram bem tiradas a limpo. Diz-se que o “menor perverso” ensopou em espírito de vinho as roupas da vítima e ateou-lhes fogo. Propositalmente? Parece impossível... Mas nada é impossível na vida. O fato é que, consumado o seu ato de perversidade (ou de imprudência?) o pequeno fugiu, e andou vagando pelas ruas, até que, já tarde, exausto, banhado em lágrimas, foi encontrado na praça da República e conduzido para uma delegacia policial. E os jornais, terminando a narração do caso triste, pedem quase todos, em quase unânime acordo de idéia e de expressão, que “se castigue esse precoce facínora, cujos instintos precisam ser refreados”. Que se castigue, como? Metendo-o na Correção? Mandando-o para o Acre? Fuzilando-o?

continua...

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A ocasião é oportuna para mais uma vez se verificar quanto estamos mal aparelhados para atender às múltiplas necessidades da assistência social. Um criminoso de dez anos não é positivamente um criminoso... Se é verdade que esse menino conscientemente praticou a maldade de que é acusado, o nosso dever não é castigá-lo: é salvá-lo de si mesmo, dos seus maus instintos, das suas tendências para o exercício do mal. Como? Naturalmente, dando-lhe uma educação especial, uma certa disciplina de espírito. Mas onde? É aqui que surge a dificuldade, e é aqui que somos forçados a reconhecer que, se estamos muito adiantados em matéria de politicagem e parolagem, ainda estamos atrasadíssimos em matéria de verdadeira civilização...

Já sei que há por aí uma Escola Correcional. Mas, ainda há pouco tempo, o que se soube da vida íntima dessa escola serviu apenas para mostrar que, lá dentro, os pequenos maus, pelo vício da organização do estabelecimento, estão arriscados a ficar cada vez piores. Tudo quanto se refere à assistência pública ainda está por fazer no Brasil: asilos, escolas correcionais, penitenciárias, presídios não têm fiscalização efetiva. Só pensamos nessas casas de beneficência ou de correção, quando um escândalo, dos que há dentro delas, faz explosão cá fora, comovendo-nos ou indignando-nos. Então, há uma grita convulsa, um grande espalhafato, um grande dispêndio de artigos pelas folhas e de atividade pela polícia; mas, logo depois, tudo volta ao mesmo estado... à espera de novo escândalo.

Tive muita pena da pobre criança de três anos, morta no meio de horríveis torturas. Mas tenho também muita pena dessa outra criança, que uma brincadeira funesta (ou uma inconsciente moléstia moral, perfeitamente curável) levou à prática de um ato tão cruel. Nesse pequeno infeliz, que os jornais consideram um grande criminoso, há um homem que se vai perder, por nossa culpa, - porque não lhe podemos dar o tratamento que a sua enfermidade requer...

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A mulher do Anacleto Lima Barreto

Este caso se passou com um antigo colega meu de repartição. Ele, em começo, era um excelente amanuense, pontual, com magnífica letra e todos os seus atributos do ofício faziam-no muito estimado dos chefes. Casou-se bastante moço e tudo fazia crer que o seu casamento fosse dos mais felizes. Entretanto, assim não foi. No fim de dois ou três anos de matrimônio, Anacleto começou a desandar furiosamente. Além de se entregar à bebida, deu-se também ao jogo. A mulher muito naturalmente começou a censurá-lo. A princípio, ele ouvia as observações da cara-metade com resignação; mas, em breve, enfureceu-se com elas e deu em maltratar fisicamente a pobre rapariga. Ela estava no seu papel, ele, porém, é que não estava no dele. Motivos secretos e muito íntimos talvez explicassem a sua transformação; a mulher, porém, é que não queria entrar em indagações psicológicas e reclamava. As respostas a estas acabaram por pancadaria grossa. Suportou-a durante algum tempo. Um dia, porém, não esteve mais pelos autos e abandonou o lar precário. Foi para a casa de um parente e de uma amiga, mas, não suportando a posição inferior de agregada, deixou-se cair na mais relaxada vagabundagem de mulher que se pode imaginar.

continua...

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Era uma verdadeira “catraia” que perambulava suja e rota pelas praças mais reles deste Rio de Janeiro. Quando se falava a Anacleto sobre a sorte da mulher, ele se enfurecia doidamente: — Deixe essa vagabunda morrer por aí! Qual minha mulher, qual nada! E dizia cousas piores e injuriosas que não se podem pôr aqui. Veio a mulher a morrer, na praça pública; e eu que suspeitei, pelas notícias dos jornais, fosse ela, apressei-me em recomendar a Anacleto que fosse reconhecer o cadáver. Ele gritou comigo: — Seja ou não seja! Que morra ou viva, para mim vale pouco! Não insisti, mas tudo me dizia que era a mulher do Anacleto que estava como um cadáver desconhecido no necrotério. Passam-se anos, o meu amigo Anacleto perde o emprego, devido à desordem de sua vida. Ao fim de algum tempo, graças à interferência de velhas amizades, arranja um outro, num estado do Norte. Ao fim de um ano ou dois, recebo uma carta dele, pedindo-me arranjar na polícia certidão de que sua mulher havia morrido na via pública e fora enterrada pelas autoridades públicas, visto ter ele casamento contratado com uma viúva que tinha “alguma cousa”, e precisar também provar o seu estado de viuvez. Dei todos os passos para tal, mas era completamente impossível. Ele não quisera reconhecer o cadáver de sua desgraçada mulher e para todos os efeitos continuava a ser casado. E foi assim que a esposa do Anacleto vingou-se postuma-mente. Não se casou rico, como não se casará nunca mais.

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a vista fresca,a mente fluida,o céu azul.só falta ela,nesse quadro tão gostoso.quem é ela?talvez suzana, talvez paula, talvez bete...onde está, como se veste?nao sei, queria poder dizer,e pintá-la no meu quadro triste.

Daniel Bayao

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Para Tigrão Affonso Romano de Sant’Anna

Passo a mão no pelo deste cãodeitado no tapete.Essa cabeça grande, quente, magnífica.Passo a mão e ele aceitaMeu carinho humano, animal.

No entanto, morreremos, os dois.

Nos tocamos ternamente.Neste instante- não morreremos jamais.

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Nós e elesMaria Litz

XINGAMENTOCadela, vaca, lesma

PALAVRÃOGalinha, veado, aranha

VIOLÊNCIASaco de gatosApanhou feito boi ladrão

TRISTEZACão sem dono

PRECONCEITOGato preto

OFENSAMacaco, burro, anta

Assim caminha a humanidade.

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ela e suas falsas jurassuas promessas etílicasseus beijos de areia.Tudo pó, tudo puff,como num show de ilusionismo.De volta ao sabor do vento...Ela e seu uivo remoto,em meio a tanto silêncio.De volta a garimpar algum tesouro,distante no vazio.

Daniel Bayao

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Consertando a cercaDieter Roos

Estou sentado aqui e espero: uma borboleta está descansando sobre o meu martelo.

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CigarraGuilherme de Almeida

Diamante. Vidraça. Arisca, áspera asa risca o ar. E brilha. E passa.

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O irapuru Humberto de Campos

Dizem que o irapuru, quando desata A voz — Orfeu do seringal tranqüilo —O passaredo, rápido, a segui-lo, Em derredor agrupa-se na mata.

Quando o canto, veloz, muda em cascata, Tudo se queda, comovido, a ouvi-lo: O canoro sabiá susta a sonata, O canário sutil cessa o pipilo.

Eu próprio sei quanto esse canto é suave; O que, porém, me faz cismar bem fundo Não é, por si, o alto poder dessa ave:

O que mais no fenômeno me espanta, É ainda existir um pássaro no mundo Que se fique a escutar quando outro canta!

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As almas das cigarrasOlegário Mariano

As cigarras morreram... Todavia Sinto um leve rumor tranquilo e lento Que vai, de ramaria em ramaria, Lento e tranquilo como o pensamento.

As cigarras não são, porque, outro dia, Vi que soltavam o último lamento... E o vento? Deve ser a alma do vento Que entre os ramos das árvores cicia...

Entretanto o rumor parece eterno... Agora que as estrelas se acenderam, Vibra num coro, em serenata, ao luar...

Contam os lavradores que, no inverno, As almas das cigarras que morreram Ressuscitam nas folhas a cantar.

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linda lua incandescentelua brava em chamasfervorosa rocha reluzenteum imenso espelhoboiando no infinitobanhando em luzcada mosquitocada morcegocada passo que te espialua fria e indecente

Daniel Bayao

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O “adeus” de Teresa Castro Alves

A vez primeira que eu fitei Teresa,Como as plantas que arrasta a correnteza,A valsa nos levou nos giros seus . . .E amamos juntos . . . E depois na sala“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala . . .

E ela, corando, murmurou-me: “adeus”.

Uma noite. . . entreabriu-se um reposteiro . . .E da alcova saía um cavalheiroInda beijando uma mulher sem véus . . .Era eu . . . Era a pálida Teresa!“Adeus” lhe disse conservando-a presa . . .

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”

Passaram tempos . . . séc’los de delírioPrazeres divinais . . . gozos do Empíreo . . .. . . Mas um dia volvi aos lares meus.Partindo eu disse – “Voltarei! . . . descansa! . . . “Ela, chorando mais que uma criança.

Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei . . . era o palácio em festa! . . .E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestraPreenchiam de amor o azul dos céus.Entrei! . . . Ela me olhou branca . . . surpresa!Foi a última vez que eu vi Teresa! . . .

E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

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