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Lendas de Aupaba. Tomo um.

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I – Enbirari Kuimbahy.........................................................4

II – Xá Apecatu..................................................................11

III – Moronguetá................................................................18

IV – Turiaçu.......................................................................25

V – Paba.............................................................................32

Galeria de Personagens......................................................40

Sobre o Autor.....................................................................50

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Pai e filho caminham lentamente pela floresta, ambos usam poucas roupas, até por que o calor dessa época do ano não os permitiria usar nada mais pesado que os poucos panos, usados em sua maioria para cobrir suas genitálias. A floresta tem um ar úmido e abafado, as copas das árvores permitem que pouquíssimos raios de sol toquem o solo, mas são o suficiente para que os dois saibam que ainda é dia, mesmo que a longa caminhada pudesse ter-lhes tirado o senso de tempo. Eles avançam com certa dificuldade, aquele trecho da mata não é muito utilizado pela tribo, sendo que são apenas aqueles destinados ao rito de passagem a caminhar por ali. Abaetê segue o pai com reverência silenciosa, mesmo que em seu íntimo muitas perguntas simplesmente gritam para serem feitas. Já Jibaoçú caminha com a altivez que o guardião dos Auati necessita para cumprir sua missão sagrada, em seu interior um misto de alegria e tristeza. Alegria por ter sido o melhor de seus seis filhos a ser escolhido por Tupã para ser o novo guardião e tristeza pelo fato de que seu momento finalmente chegara. Ele sempre esperou que iria em meio a uma grande batalha contra Anhangüera ou algum outro perigoso inimigo da tribo, mas ele dá graças a seu deus pelo fato de poder envelhecer ao lado de Amandy, sua mulher que, mesmo nascendo em um dia de chuva, a todos enche de alegria com suas histórias. Ele tivera uma vida feliz e longa e hoje quando completa sessenta luas, é o momento de passar o manto de guardião para um de seus filhos e foi justamente Abaetê o escolhido por Tupã. O ancião ainda se lembra do sonho da noite anterior, quando viu a tribo sendo atacada por terríveis forças das trevas, todos com um estranho símbolo em suas vestes, vestes essas que, muitas vezes, lhes cobriam todo o corpo, impedindo que qualquer vestígio de pele pudesse ser visto. Em meio ao caos e destruição ele, que fazia tudo ao seu alcance para proteger a tribo e a terra que eles chamam de lar, se surpreendeu quando alguém mais entrara na luta. Portando um impressionante e imenso Punho de Tupã, a arma característica dos guardiões, um outro índio entrou no confronto onírico, vencendo hordas inteiras do inimigo e ferindo suas forças com tal fúria que era como se o próprio Tupã descesse dos céus, distribuindo sua cólera contra os invasores. No meio do sonho uma estranha criatura surgiu, como que uma aparição etérea e sua voz inumana ecoou pelo campo de batalha dos sonhos: - Abaetê será um protetor, não apenas de Aupaba mas de toda Neijyn-Zalla... E então o sonho terminou. Quando acordou, com seu corpo encharcado de suor, Jibaoçú se desculpou com sua

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companheira, pedindo para que a mesma continuasse a dormir enquanto ele iria caminhar, pois estava com o sono agitado. - Não vá longe demais... Logo mais vai chover... Não dando atenção às previsões da mulher ele desceu do andar superior de sua oca, passando pelos quartos dos filhos menores e também pelo de Guaraní, seu filho do meio, que ele acreditava anteriormente ser o escolhido, antes de seu sonho. Sem se deter por muito tempo dentro da oca ele logo estava andando pela ocara da aldeia dos Auati. Iaé brilhava forte no céu, apesar de algumas nuvens, iluminando as ocas, todas feitas com Osso de Tupã que, refletindo a luz que vem do céu noturno, acabam por iluminar toda a aldeia. Mais um dos vários benefícios de usar esse material nas construções, evitando assim o uso de fogo ou mesmo de tochas à noite. Ele chegou até o poço, feito para levar a água do riacho próximo até a aldeia e, depois de molhar generosamente não apenas o rosto, mas também boa parte do torso nu, ele pegou uma cuia, a encheu e, começando a sorver o líquido gelado, sentiu-se menos agitado, mas a sensação de alívio foi passageira. - Yo! Aproveitando o ar noturno velho amigo? O velho índio reagiu com uma velocidade surpreendente para seus mais de sessenta anos, dando um giro completo ao seu redor, pretendendo ver de onde a voz viera. - Apareça desgraçado... Se é uma última luta que você quer Anhangüera... - Sinto desapontá-lo... - Ele surgiu entre as sombras de uma das várias árvores existentes pelo meio das ocas, uma horrenda criatura de pele negra e vermelha, ostentando chifres no alto da cabeça e com suas asas de morcego ondulando com a leve brisa noturna. - O mestre está em viagem, mas me deixou incumbido de lhe estender seus cumprimentos por toda uma vida de batalhas memoráveis e... - O recado está dado Anhato... Nada mais tem a fazer aqui, portanto... - Calma, calma grande guerreiro... Eu já me vou... Torço para que sua passagem seja longa e dolorosa... Dito isso, sumindo em uma malcheirosa e silenciosa explosão, o demônio deixou o velho índio às voltas com suas diversas dúvidas “Seria Abaetê realmente a melhor escolha?” Justo ele que jamais demonstrou nenhum interesse em ser o guardião da tribo? Então começou a chover. - Pai... Ainda falta muito? Tirado de seu devaneio, Jibaoçú olha em volta, depois para seu filho e finalmente fala: - Não... Já chegamos... Puxa... Faz tanto tempo que quase passei do local... - Hã... Pai... Me desculpe, mas o que esse local tem de tão especial? Quer dizer... Para mim parece apenas mais um pedaço de mato e... Ai! - o velho índio acerta um pequeno

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soco no alto da cabeça de seu filho. - Doeu... - Se tem uma coisa que você não deve fazer é discutir com seu velho e sábio pai... - Ele então começa a se sentar, preparando uma desnecessária fogueira e jogando alguns galhos estranhos na mesma, o que preenche o ar com uma fumaça de odor adocicado. - Foi aqui que meu pai me trouxe anos atrás, assim como o pai dele fez e o pai do pai do meu pai e... - Tudo bem, tudo bem... - O índio mais jovem continua a acariciar o local atingido pelo outro. - Bem... E agora? - Nos sentamos e aguardamos pelo momento... - Hã... E esse momento seria... O velho índio se concentra por um momento e então o ar ao seu redor começa a apresentar uma oscilação, logo se intensificando, mostrando que Jibaoçú está liberando a energia habitual ao se transformar e em pouco instantes ele está totalmente diferente e sua voz ressoa vigorosa: - Quando você finalmente se tornará o novo guardião dos Auati... O novo Jaguar-Upiara...

Lendas de Aupaba. Tomo um. Enbirari Kuimbahy.

Quando o calor e a umidade da floresta começam a se abater sobre pai e filho, fazendo ambos suarem em profusão, fica difícil manter a concentração e então Abaetê abre um pouco seu olho direito, mantendo o esquerdo cerrado, tentando ver se o pai também está sofrendo com o calor. Percebendo que Jibaoçú não se move, o jovem índio acaba por abrir totalmente seus dois olhos e então ele nota, com crescente assombro, que nem as gotas de suor de seu pai estão se movendo. - Pai? Pai! Ele se ergue e, colocando as mãos nos ombros do outro, começa a chacoalhá-lo, mas também sem sucesso, pois o velho índio agora parede uma estátua, não cedendo nenhum centímetro. Ficando cada vez mais apavorado ao notar que tudo ao seu redor também não está se movendo, além do pesado e sobrenatural silêncio que paira no ar, ele começa a andar de um lado para o outro, sem saber o que fazer, pretendendo voltar para a aldeia atrás de ajuda. - Por Tupã... A cada vez eles ficam mais e mais desesperados... - Abaetê dá a volta e seus olhos se arregalam quando ele vê quem está falando com ele. - Isso mesmo curumim... Sou um jaguar... Estou falando, por mais impossível que isso possa parecer... Meu nome é Yakecan e sou o espírito que irá transformá-lo no novo Jaguar-Upiara.

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Silêncio. - Ceeeerto... - O animal revira os olhos, mostrando sua impaciência e em seguida se volta para a floresta, continuando a falar sem nem olhar para o índio. - Você vem ou não curumim? Assim que se vê sozinho na floresta, percebendo que não lhe resta outra alternativa, Abaetê se coloca a seguir o estranho animal. Alguns minutos de caminhada e logo eles chegam a um trecho onde a floresta começa a ficar menos fechada. As enormes árvores dão lugar a outras menores e as demais plantas vão sendo substituídas por grama e até mesmo essa vai rareando, até que eles se encontram em um lugar semi-árido, com pouquíssima vegetação e cujo calor de Aram ameaça assar quem se aventurar demais por ali. - Caatinga... - Yakecan diz o nome com óbvia tristeza. - Temos que sempre cuidar de nossas terras curumim, senão isso pode se alastrar para além desse lugar de morte... - É terrível... O calor... Aqui Aram não traz vida, mas morte com certeza... - E então curumim? Está pronto? Para, entre outras responsabilidades, evitar ao máximo que isso ocorra com o povo de toda Aupaba? - Se eu não me sentisse pronto, não estaria aqui... E por que você insiste em me chamar de curumim? Eu já sou um homem crescido e... - Não para mim curumim... Só será um homem quando voltar para seu pai vivo e pleno de sua decisão... - Que decisão? - Por que você quer se tornar o guardião? O que você defenderá? - Hã... Eu... - Resposta errada! O Jaguar se transforma, aumentando absurdamente de tamanho, ao mesmo tempo em que usa suas enormes garras para atacar Abaetê, causando alguns fundos cortes no peito deste, que só não é morto por ter escapado por pouco. - Mas o quê... AAAARRRGGGHHH!!!!!!!!! Mais um ataque, dessa vez o animal atinge Abaetê com as costas de sua pata, jogando-o longe. - Por que você quer se tornar o guardião? O que você defenderá? - E-eu... Me deixe pensar e... AAAUUUCH!!!! - Tsc tsc... É melhor me responder corretamente... Curumim...

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Yakecan começa a desferir novos golpes e a cada um que acerta o índio, faz com que o mesmo se machuque cada vez mais, sendo lançado contra a áspera areia do local, isso quando ele não acerta o solo rachado e duro, aumentando ainda mais sua dor. - Por que você quer se tornar o guardião? O que você defenderá? Mais golpes e mais sangue é lançado ao solo. - Por que você quer se tornar o guardião? O que você defenderá? Agora um golpe na cabeça faz um dos olhos de Abaetê se fechar, inchando em seguida, enquanto o gosto de sangue inunda sua boca. - POR QUE VOCÊ QUER SE TORNAR O GUARDIÃO?!!!! O QUE VOCÊ DEFENDER... - Chega!!!! - Abaetê segura a pata de Yakecan pouco antes de o animal golpeá-lo novamente e então o ar ao seu redor começa a ondular. - Não deixarei que você me atinja outra vez!!! Meu pai viu em mim o guardião e apesar de eu não concordar, ou sequer ter imaginado tal destino, por respeito a ele eu aceitei! E agora, principalmente depois de ver esse local de morte, eu juro que me tornarei o guardião para proteger não só meu povo, mas toda Aupaba para que nossa terra permaneça viva!!! Juro com todas as forças que me restam!!! Silêncio. Aos poucos Yakecan vai baixando sua enorme pata e fica sentado, olhando fixamente nos olhos de Abaetê, ao mesmo tempo em que vai diminuindo até ficar do tamanho normal de um jaguar. - Boa resposta... Jaguar-Upiara. Jibaoçú abre seus olhos, se espantando por não estar mais trajado com as roupas do guardião e, com um sorriso nos lábios, ergue o rosto na direção de seu filho. Abaetê está vestindo uma roupa que lembra os pêlos dos jaguares, além de uma faixa ao redor da cintura com parte caída ao lado de seu corpo, longas luvas negras vão até o meio de seu braço terminando em mais detalhes de pele de jaguar, as botas apresentam um aspecto “peludo”, lembrando a pele do animal e tendo o topo preto, parte do rosto do índio está coberto por uma máscara, que lembra a face de um felino, deixando aparecer apenas a boca dele e seus cabelos alaranjados. - Até que não ficou ruim filho... - Na verdade pai... - Abaetê sorri orgulhoso de si mesmo. - Essa roupa ficou bem melhor em mim e... Ai!!! Mais um soco no alto da cabeça e, mesmo com ela protegida, o jovem índio leva a mão até o local atingido, procurando amenizar a dor. - Isso é para que você nunca se esqueça de respeitar seu pai...

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- Aiii... Certo... E agora, voltamos para casa? Ou ainda teremos mais algum ritual? - Na verdade. - Yakecan surge ao lado do novo guardião. - O destino vem até nós... Olá Jibaoçú... - Poderoso Jaguar... - O velho índio faz um cumprimento respeitoso, mas não consegue terminar de falar, pois logo uma algazarra no meio da floresta chama a atenção de todos. O som lembra o de um animal de tamanho médio correndo como louco, o que deixa pai e filho se preparando para um ataque, enquanto Yakecan permanece calmo e o que surge por entre o mato é algo que pega os índios de surpresa. - Por Tupã!!!! Jibaoçú!!!!! Me ajuda!!!!!!!!!!!!!!! Jibaoçú!!!!!!!!!! - Um outro índio, aparentando mais idade que o pai de Abaetê, vestido com roupas exageradamente coloridas, acaba tropeçando e caindo de cara aos pés daquele cujo nome não pára de gritar. - AAAAIII!!!!!!!!! Jibaoçú!!!! Você precisa me ajudar!!!!! - Calma velho Nanbiquara!!! Retoma o fôlego e nos conte o que o está afligindo!!! - E-eu... Arf... Arf... Certo... - O recém-chegado se ergue, usando um tipo de cajado para se apoiar, agora sendo mais facilmente reconhecido por Abaetê como o pajé da tribo. - Eles a levaram Jibaoçú... Ó, que desgraça... Que desgraça... - Pela paciência de Tupã... Quem levou o quê Nambiquara?!!! - F-foi... Não sei bem, mas acho que foi o povo Amazona... Mas o importante é que a levaram!!!!!!! - O que eles levaram?!!! - Agora pai e filho perguntam em uníssono. - A Itapitanga!!!!

Explicando Aupaba.

Yo! Olá queridos leitores! Aqui quem fala é o velho Nanbiquara! Gostaram da minha chegada? O tropeção foi um infeliz acidente, mas mesmo assim acho que o brilho da minha participação se manteve grandioso não? Afinal eu trouxe o elemento de ligação para a desculpa de um novo capítulo não é? Bem, bem, bem... Agora vou explicar o que estou fazendo aqui, logo depois do fim do primeiro capítulo... Como todos vocês sabiamente já perceberam, o nosso querido escritor se baseou em termos indígenas brasileiros para compor os personagens desse seu novo título... Então, para evitar muitas frases auto-explicativas, ou que os leitores sejam obrigados a procurar os significados de várias palavras, cá estou eu! Ao final de cada história eu irei fazer uma lista completa das palavras e nomes usados no texto com seus significados... Primeiro os que o escritor achou no seguinte site: http://www.ufsc.br/~esilva/Dcindio.html e em outros sites (seja lá o que for um site) e em seguira irei explicar os termos criados pelo autor...

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Então... Vamos lá? Certo, certo! Sem mais demoras então: Vou começar, é claro pelo meu belo nome Nanbiquara que significa “fala inteligente, de gente esperta” ou seja tudo a ver comigo!!! Bom... Agora passemos às outras palavras: Enbirari Kuimbahy: A primeira palavra significa nascer/nascimento e a segunda Guerreiro, numa tradução livre ficaria como Nascimento do guerreiro. Abaetê: Nome do personagem principal, significa pessoa boa, pessoa de palavra, pessoa honrada. Jibaoçú: grande braço. Auati: gente loura, milho, que tem cabelos louros (como o milho). O autor escolheu essa palavra pois os habitantes dessa aldeia têm os cabelos com tons mais puxados pro dourado. Anhangüera: diabo velho. Amandy: dia de chuva. Aupaba: Terra de origem. Por isso o autor escolheu esse nome para o novo continente. oca: Essa é fácil... É a casa dos índios, que nesse mundo são feitas de Ossos de Tupã. Guaraní: guerreiro, lutador. Ocara: praça ou centro de taba, terreiro da aldeia. Iaé: Lua. Anhato: Vem de Anhato-mirim, e significa ilha do diabo. Jaguar-Upiara: Aqui o nome foi composto por um dos modos como a onça é conhecida e o nome Upiara que, numa pesquisa, revelou o seguinte significado: O que luta contra o mal. curumim: Esse todo mundo já sabe né? É menino. Yakecan: Esse também foi encontrado numa pesquisa (http://www.significado.origem.nom.br/nomes_indigenas/) e significa: O Som Do Céu. Aram: Sol. pajé: feiticeiro, sacerdote, líder espiritual. (Sou eu!!! Sou e!!) Itapitanga: De pedra vermelha. Claro que não posso dar mais detalhes, senão estraga as surpresas da próxima edição... Agora algumas palavras criadas pelo autor: Punho de Tupã: Criação do autor para denominar as armas dos guardiões. Pode variar de tamanho e forma, seguindo o espírito dos escolhidos a se tornarem Jaguar-Upiara. Neijyn-Zalla: Nome criado pelo autor para o planeta. Mais revelações no futuro. Osso de Tupã: Um material que lembra um metal, mas com propriedades especiais, que também serão melhor exploradas no futuro. Bom... Ufa... Terminei meu trabalho hoje... Agora vou cantar umas músicas típicas de meu povo e... Ei! Espera!!! Já?!!! Tá bom... Tá bom... Até a próxima semana pessoal!! Thiangôn!! (isso é tchau na língua dos Pataxós)

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Lendas de Aupaba. Tomo um. Xá Apecatu. - Eu não acredito... Todo esse desespero apenas pela Itapitanga? Ah! Por favor... - Ele é o Jaguar-Upiara não faz nem cinco minutos e já está desdenhando de nossas crenças Jibaoçú? - Calma Nanbiquara... Não o culpe por não se importar com a pedra do casamento... Os três Auatis permanecem na área de floresta onde Jibaoçú acabara de passar o mando de guardião da tribo para seu filho, Abaetê. O pajé Nanbiquara, que chegara desesperado e pedindo por ajuda, continua a tentar apressar os demais. - Você já é o novo guardião?!!! AH!!!! Desgraça, desgraça!!!! Fazer o quê? Tempos desesperados... Você precisa nos ajudar e logo!!! Faz parte de suas obrigações e... - Não precisa gritar!! Tudo bem... Tudo bem... Vamos voltar para a aldeia... Assim podemos descobrir melhor quem levou a pedra, já que você não disse até agora e... Ai!!! O pajé acaba de acertar a cabeça do novo guardião com seu cajado, levando Abaetê a desejar que a máscara que usa fosse mais resistente e, enquanto ele avança acariciando o local atingido, o pajé retoma a palavra: - Eu ia contar, mas você ficou fazendo pouco do ocorrido... - Quando o novo guardião começa a abrir a boca, o velho índio já se volta para ele com um olhar ameaçador nos olhos. - E nem pense em me retrucar seu curumim... - Humpf... - Sem outra opção Abaetê cruza os braços, ainda resmungando. - Mais um me chamando de curumim... - O que você está sussurrando?!!! - O velho índio ergue novamente o cajado. - Nada! Nada!! - Erguendo os braços para se proteger de um novo golpe o guardião faz com que Yakecan balance negativamente sua cabeça. - Mas afinal, quem você acha que levou a pedra? - Meus cumprimentos grande espírito... – Ignorando Abaetê, o pajé se curva exageradamente diante de Yakecan. – Espero que sua missão de transformar esse jovem em um guardião seja agraciada por Tupã... Só assim para conseguir... - Tenho fé nele ancião... Um pouco pelo menos... - O que você perguntou mesmo? - Eu... – Abaetê respira fundo antes de repetir a pergunta. - Quem você acha que levou a

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pedra? - Certo... Foi o que eu tinha entendido... Hoje de manhã fiquei sabendo que vocês dois tinham vindo fazer a passagem... Assim como o restante da aldeia, eu não achei que você realmente conseguiria Abaetê, por isso corri o máximo que pude para conseguir a ajuda de seu pai, mas infelizmente cheguei tarde... - O novo guardião revira os imperceptivelmente por debaixo da máscara. - Por falar nisso perdi uma aposta com o velho Cuera... Droga... Hum... AH! Sim! Logo que acordei fui conferir os detalhes para o casamento de logo mais e, assim que cheguei ao local onde a Itapitanga fica guardada, percebi uma grande confusão e a falta da pedra sagrada... - Alguma idéia de quem pode ter sido? - Hã... Bem... - Pego de surpresa pela pergunta mais séria do novo Jaguar-Upiara, o velho Nanbiquara se pega pensando um pouco antes de continuar. - Eu... Acredito que possa ter sido o povo Amazona... - Os habitantes do Grande Rio? Mas por que eles fariam isso e... Espera... Por que você acha que foram eles afinal? - O salão sagrado estava com o chão todo molhado, havia cheiro de peixe por todo o lado e o ladrão esqueceu uma de suas armas caída no chão... Ele deve ter feito tudo pouco antes de eu chegar lá... Abaetê fica em silêncio, pensando no que deve fazer, enquanto seu pai e o pajé trocam alguns olhares, “conversando” em silêncio sem que o outro perceba. Alguns minutos depois eles já estavam de volta à aldeia e indo na direção do local onde ficava a Itapitanga. Conforme avançam pelos Apé da aldeia, os três se tornam rapidamente o centro das atenções, fazendo todos pararem suas atividades para ver o novo e inesperado Jaguar-Upiara, que vê muitas pessoas trocando objetos umas com as outras, o que faz ele se lembrar do lamento de Nanbiquara sobre a aposta perdida. “A cada momento eu me pergunto se foi a decisão mais correta a se tomar...” Seus pensamentos são interrompidos quando ele avista uma índia que o observa intensamente, entrando correndo em seguida em sua oca. Ficando mais nervoso ainda, Abaetê começa a se apressar, fazendo os demais seguirem seu ritmo e logo eles estão diante de uma grande oca, com certeza uma das maiores construções da aldeia. Os artesões Auatis, aqueles que possuem a capacidade única de modelar os Ossos de Tupã conforme a sua vontade, haviam se superado ao erguer aquela oca magnífica. Por fora as paredes lisas de Osso de Tupã se misturam a imagens dos animais sagrados, com destaque para os jaguares, o que deixa Yakecan visivelmente orgulhoso. Ao entrarem eles não conseguem deixar de olhar ao redor do imenso salão, que normalmente é lotado quando um casamento acontece, percebendo como boa parte da tribo caberia ali. Assim que se aproximam no pequeno altar onde a pedra deveria estar, iluminando o local

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com sua luz avermelhada, percebem realmente o que Nanbiquara havia dito: Muita confusão, com vários dos objetos sagrados jogados pelo chão, água espalhada por todo canto e, ali perto, o que realmente parece com uma arma do povo Amazona permanece caída. Jaguar-Upiara se abaixa e toma a peça nas mãos, percebendo imediatamente o modo como ela foi feita, usando um tipo de coral que cresce no fundo do Grande Rio. O índio sempre teve esse dom, quando toca em algo e se concentra ele fica sabendo de tudo sobre o que está em suas mãos, mas sentindo a urgência da situação ele logo se volta para seu pai e o pajé. - Certo... Realmente parece coisa dos Amazonas... Se eu partir agora devo voltar até amanhã à tarde... Será que o casamento pode ser adiado até lá? - Sei pai poderia trazer em poucas horas... - Eu não sou meu pai!! Como você mesmo fez questão de falar, sou o guardião há poucos minutos e... - Deixe o rapaz em paz Nanbiquara... – Jibaoçú novamente se apressa em evitar novas discussões. - Ele fez por merecer... E vai ter que demorar um pouco mesmo, já que não poderá ir direto para o Grande Rio... - Hã? - Agora são os outros dois que falam em uníssono. - E por que não? - Aqui meu filho... - Jibaoçú pega de suas costas sua enorme arma, estendendo-a para Abaetê. - Um Jaguar-Upiara não está completo sem seu Punho de Tupã... - Mas o que...!! - Assim que o jovem índio pega a arma do pai, no entanto, toda parte feita de Osso de Tupã começa a derreter, deixando-o apenas com a empunhadura da mesma na mão. - O que é isso?!!! - Todo novo Jaguar-Upiara precisa fazer sua própria arma... Você deve ir até a Serranua e tocar em um veio de Osso de Tupã para que sua arma seja forjada. - Ah! Fala sério... - Diante dos semblantes de seu pai e do pajé, Abaetê se resigna e começa a se encaminhar para a saída. - Certo... Certo... Eu já vou então... O jovem se retira, junto com Yakecan e assim que têm certeza de terem ficado a sós, Jibaoçú se volta para Nanbiquara: - Você demorou mais quando foi minha vez... - Eu senti que você tinha nascido para ser o guardião... Já seu filho terá de ser mais... Hum... Moldado... Afinal de contas, nunca imaginamos que justo ele seria o escolhido não é? - Eu sei... Mas tinha que ser logo nesse casamento? Não vai ser muito fácil para ele... - Se fosse fácil se tornar um Jaguar-Upiara... Agora vamos, velho amigo... Precisamos ver os noivos... Vamos avisar que o casamento terá de ser adiado... No caminho você poderá me contar qual o grande problema...

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Assim que chegam à floresta Yakecan se volta para o novo Jaguar-Upiara: - Não parece nem um pouco contente com a sua primeira responsabilidade... - Não... Não mesmo... Preferiria um tempo antes, pelo menos para descobrir os poderes que ouvi meu pai comentar... Segundo ele, poderíamos chegar mais rápido à Serranua desse modo... - E por que você acha que eu estou aqui? Me acompanhe!!! - Dizendo isso, o jaguar se lança num salto espetacular, indo parar num dos galhos mais altos de uma das árvores próximas. - Deixe de lado todo e qualquer medo e venha!! - Hum... - “Isso é loucura, mas o que não foi até agora...” Mesmo sem ter certeza, Abaetê acaba por se lançar para o alto, imaginando que mal conseguiria se afastar do chão. - AAAAHHHHHHHH!!!!!!!! Ele teria saltado além da copa das árvores, se não tivesse acertado o tronco de uma delas, que pareceu surgir do nada diante dele. - Bela Espocada... - Yakecan abaixa uma de suas patas, deixando claro que fora ele quem fez o tronco da árvore crescer até barrar o caminho do guardião. - Agora se concentre no galho que quer alcançar e pule... - Abaetê assim o faz e consegue dessa vez, tendo apenas um pouco de trabalho para se equilibrar. - Muito melhor... Logo, logo você se acostuma e então não precisará apenas saltar... Vamos! Alguns minutos depois, o índio já consegue avançar sem novas dificuldades, chegando a surpreender um pouco Yakecan, que não esperava uma evolução tão rápida, desse modo, ele resolve matar sua curiosidade: - Então... Qual o motivo de seu desconforto com a sua primeira missão? - Eu preferiria mesmo manter isso para mim... - Hum... Posso tentar ver por mim mesmo em sua mente... - Vo-você pode mesmo fazer isso? - Assim como você acabou de se tornar, eu sou, há muito tempo, um avatar de Tupã... São poucas as coisas que não posso fazer... - Hum... - Mesmo contra a vontade, Abaetê percebe não ter outra escolha. - Se é assim... O noivo é meu irmão mais jovem, aquele que todos acreditavam que seria o novo Jaguar-Upiara... Agora foi a vez de Yakecan quase acertar o tronco de uma árvore, se desviando graciosamente e percebendo aliviado que seu companheiro não percebera seu engodo, tão entretido que estava com os próprios saltos e as lembranças. “Ela era linda... Uaná, que recebeu esse nome por conta de sua alegria... Ela parecia brilhar em meio a todas as demais moças da tribo nas festas que se realizam à noite.

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Fiz muitas músicas louvando a ela... Não faça essa cara... Eu sempre achei que meu destino fosse a música e não os combates... Esse foi um dos principais motivos de meu pai sempre preferir meu irmão para a função de guardião... Mas voltando ao assunto principal... Tamanha era a beleza de Uaná que logo eu me senti preso a um sentimento que realmente não havia conhecido antes... Me entreguei de corpo e alma a esse Perudá... Certa noite, pouco depois de eu ter finalmente conseguido minha própria oca, conquistando assim a independência de meus pais, ela veio até mim e passamos a noite toda juntos... De manhã, quando acordei, percebi que estava sozinho. Eu a procurei por toda a aldeia e quando meus pés estavam quase se desprendendo das pernas, por conta do cansaço, eis que vi meu irmão Guaraní, correndo ao meu encontro, extremamente feliz com a notícia da escolha de sua esposa e praticamente me obrigando a ir até a oca de nossos pais, para participar do banquete que estavam dando. Quase não consegui esconder a surpresa ao ver que, no local da noiva na mesa estava Uaná... Ela decidira se divertir comigo na noite anterior antes de se entregar ao seu principal objetivo: se tornar a esposa do guardião dos Auati. Tive que disfarçar o ódio que senti, mas logo minha mãe veio até mim, colocou a mão em meu ombro e tentou tranqüilizar meu coração: - Não fique assim Abaetê... Os planos de Tupã são misteriosos e nem sempre claro, mas com certeza são sempre acertados... Logo depois me despedi de todos e voltei para minha oca, onde permaneci quieto, querendo que aquela ferida fechasse logo e teria permanecido assim por mais alguns dias se meu pai não tivesse vindo me chamar, dizendo que ele havia me escolhido para ser no novo Jaguar-Upiara... O resto é fácil de você imaginar... Logo depois que eu recebi os poderes de meu pai, o Nanbiquara veio até nós falando do roubo da Itapitanga...”. - Hum... - Enquanto salta para mais um galho, Yakecan tenta permanecer sério. - De fato é um grande teste para seu controle emocional... Obrigado por partilhar seus sentimentos guardião... - Como se eu tivesse outra opção... - O quê? Por que diz isso? - Ora... - Agora a irritação de Abaetê fica evidente. - Você falou que ia ver meus motivos na minha mente! Que outra escolha eu tinha e... Espera... Não acredito... Ora seu... - Hahahahahahahahahaha... Você tem que aprender a não confiar tanto nos outros!!!! Rindo muito Yakecan aumenta sua velocidade, fazendo com que o novo guardião se apresse, procurando alcançar aquele que o enganou. Momentos depois o jaguar sagrado desce de repente do topo das árvores, ficando parado

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no nível do chão. - Agora eu te pego seu... - Percebendo que sua ameaça não causa nenhum efeito no outro, Abaetê se cala por um momento e acompanha o olhar dele, percebendo logo o motivo de tamanho silêncio. - Que Tupã nos proteja... Diante deles se desdobra uma cena dantesca, com vários corpos carbonizados e espalhados sobre um chão calcinado, restos de árvores ainda ardem em chamas, todas negras e retorcidas. Até o ar parece mais pesado arranhando a garganta e ferindo as narinas de quem respira ali. - I-isso... Isso é... - Sim Jaguar-Upiara... Aqui é Serranua... Passado o susto inicial eles se colocam a caminhar em meio à destruição, e Yakecan não consegue deixar de notar a seriedade que o silêncio de seu companheiro deixa transparecer “Finalmente parece que a responsabilidade de ser um guardião o está afetando... Mas isso tudo está além do que eu percebi que planejaram para ele...”. - Não sobrou ninguém para falar sobre o que aconteceu aqui? - Se o responsável for quem eu penso, acredito de fato que ninguém deve ter sobrado... - Você não está pensando em... - É só ver o modo como o fogo se alastrou, como se tivesse vida própria, para se tirar as conclusões... - Droga... Ainda assim... Se for mesmo ele... O casamento irá atrasar ainda mais... - Para crescente surpresa de Yakecan, Abaetê assume a postura que se espera de um guardião. - Não posso deixar o desgraçado escapar bem dessa e... O que foi isso?! Jaguar-Upiara se coloca em posição de combate, sentindo uma energia crescente ao seu redor, sem nem mesmo dar conta de que, antes de se tornar o guardião, ele havia se metido em poucas brigas e, tanto ele quanto Yakecan, se surpreendem ao ver uma pilha chamuscada de destroços começando a se mover. Provavelmente algum dos mineradores de Ossos de Tupã havia sobrevivido e lutava pela sua liberdade, mas para total surpresa de ambos os recém-chegados, antes que eles possam se mover, quem surge é uma linda índia, vestida com minúsculos trajes de guerra e trazendo em uma das mãos uma estranha arma com formas que lembram Iaé. - Se... Vo-vocês estiverem... Com o mo-monstro... - Os longos cabelos totalmente brancos e o sotaque indicam que ela pertence à tribo das mulheres guerreiras, conhecidas como Filhas de Iaé. - Terão que se ver com... Com... Iaciara!! Ela consegue erguer a arma e se lança ao ataque. - Ah! Fala sério!!!

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Explicando Aupaba. Yo! Olá queridos leitores! Gostaram da minha participação nesse empolgante segundo capítulo? Gostaram? Gostaram? Bom aguardem, pois eu ainda terei mais importância pelos próximos capítulos! Já até acertei com o autor para que eu tenha outras cenas, mesmo com o Abaetê fora da aldeia!!! Bem, deixa eu realizar logo minha tarefa principal, quem sabe dessa vez eu não tenho tempo para lhes mostrar meus dotes musicais? Comecemos então pelos termos que o autor usou do mesmo dicionário que eu falei no capítulo passado: Xá Apecatu: Xá que dizer meu e Apecatu significa o bom caminho, numa tradução livre seria Meu bom caminho. Apé: caminho, trilha. Cuera: de velho, antigo, o passado. Espocada: vem de Espôcar que significa saltar, arrebentar. Uaná: Vagalume. Perudá: Amor. Iaciara: O dia de luar. Pouquinhos né? E agora os termos criados pelo autor (acho que ele anda meio preguiçoso nesse ponto): Serranua: Referência à Serra Pelada que, como todos sabem, é a região devastada pela extração, sem nenhum cuidado, de ouro. Filhas de Iaé: Uma tribo matriarcal onde as guerreiras têm cabelos brancos e armas diversas, com formatos que lembram a Lua. Bem! Hoje foi curtinho não foi? Conforme o prometido, agora irei cantar uma bela música que... O quê? Quem está aí? O velho Cuera?!!! Desculpem queridos leitores, mas a música terá de ficar para outro dia!!! Fui!!! Thiangôn!!!!

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Lendas de Aupaba. Tomo um. Moronguetá. - Ah! Fala sério!!! – Jaguar-Upiara mal consegue ver a guerreira Iaciara se movendo quando essa parte para o ataque. – É muito rápida!!! Mesmo ferida a Filha de Iaé consegue desferir um ataque direto extremamente arriscado, que ela não tentaria em outras condições, mas sente que precisa encerrar logo essa luta para poder ir atrás do outro monstro, aquele que acabara de matar suas companheiras. O resultado, no entanto, não surpreende apenas a garota. “Ele desviou?!!!” “Eu desviei?!!!!!” “Ele desviou...” Yakecan, mesmo surpreendido, fica muito satisfeito “Ele parece estar finalmente alcançando o moronguetá com o poder que tem dentro de si... Isso é muito bom...”. Iaciara pára um pouco depois de passar por Jaguar-Upiara e tenta acertá-lo com um giro de sua arma, novamente errando e ficando parada diante dele, arfando devido ao esforço. - Isso... Isso... Não... Fi-fica assim... Assassinos... AAAAHHHHH!!!! - Pára com isso! – O guerreiro coloca o corpo para o lado mais uma vez, percebendo que a velocidade dos ataques continua a diminuir. – Você mal pode se manter em pé... E nós não somos... - Cale-se!!!! Nós fomos pegas de surpresa pelo outro e... E... Desgraçado!!!!!!!!!!!!! Uma nova investida e agora Jaguar-Upiara não apenas se defende, como também segura o punho da guerreira, imobilizando-a e, com um leve aperto no pulso da mesma, faz com que a arma caia no chão. Em seguida, já sem forças, Iaciara desmaia, não sem antes dar uma mordida no braço de seu oponente. - Ai... Mas que mulher mais louca!! - Calma, guardião... – Yakecan caminha lentamente até onde o índio acaba de colocar a garota desmaiada, debaixo da sombra de uma das poucas árvores que restaram no local. - Não sabemos pelo que ela pode ter passado... Agora, por favor... Vimos uma lagoa lá atrás... Traga um pouco de água... ela está com os lábios feridos de tão secos... - Certo... – Sem nem pensar direito, o guerreiro salta e some pela copa das árvores próximas, deixando Yakecan com cada vez mais certeza de que a escolha de Jibaoçú foi a mais acertada afinal.

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Minutos depois Jaguar-Upiara deixa cair um pouco de água nos lábios de Iaciara, do bornal que ele acabara de encher no lago. Para surpresa de Yakecan, o guerreiro voltara mais rápido do que o esperado. - Melhor... Agora se afaste um pouco... Tenho que começar o processo de cura... - E você pode fazer isso? - Claro... Como você acha que os guardiões, que vieram antes de você, puderam passar o manto de pai para filho? Agora se afaste e me deixe trabalhar... Não posso garantir recuperação total, mas, pelo menos ela não correrá perigo de morte... Preciso ficar imóvel e em silêncio... Portanto, enquanto isso, nos proteja... - Certo... Ah! Antes disso... Pode me responder uma pergunta? - Diga... – Yakecan deixa escapar um longo e impaciente suspiro. - Como os demais guardiões faziam para criar seus Punhos de Tupã? - Eles apenas encostavam o punho sagrado em um das paredes da mina, de preferência por onde passava um veio de Osso de Tupã e concentravam sua energia... Desse modo nascia um novo Punho... Agora quer saber mais alguma coisa ou posso restabelecer nossa guerreira? – O outro começa a se afastar em silêncio. – Obrigado. XXX - Então você armou mesmo esse “roubo” Nanbiquara? Não acredito! - Como eu ia saber do ocorrido entre o guardião e a noiva? Aliás, ele contou isso para você? Puxa! Eu não teria coragem de contar isso para meu falecido pai... Não mesmo... - Por Tupã homem!! Quando eu passei os dons para ele nossas mentes se ligaram... Por isso eu fiquei sabendo... Você devia ter me avisado antes desse teste fajuto que você insiste em fazer sempre que um novo guardião recebe seus poderes... - Não avisei seu pai, nem a você... Além do que, se suas mentes se ligam mesmo, não seria um teste surpresa seria? Eu particularmente fico feliz por Abaetê, ao menos, ter que desistir da música... - Hum... Isso é verdade... Nem me fale... Mas sobre esse teste... – Percebendo que suas palavras ou preocupação não adiantarão o velho índio dá de ombros - O que está feito... Quem levou a Itapitanga, afinal? - Ah! Foi nosso velho amigo... - E ele concordou? É sempre tão sério... - Você sabe como ele mesmo diz... Sobre a vida difícil de dentro do Rio... - Bem... Pelo menos sabemos que não está acontecendo nada demais né? - Claro!! Esse será um dos testes mais simples que eu já pensei... Só precisamos pensar

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no que fazer quando ele voltar não é? Sobre a situação com a noiva e seu outro filho... - Estou penando sobre isso desde que voltamos para a aldeia... O que você acha que eu devo fazer? - Conte tudo sobre as ações dessa vadia e livre seu filho desse que será um péssimo casamento. - Como é?!!! – Jibaoçú se espanta, imaginando como o outro poderia brincar numa situação daquelas, mas logo percebe, no rosto sem sorrisos de Nanbiquara, que ele falou seriamente. – Você acha mesmo que devo fazer isso? - Ou então o jeito é esperar e ver como isso se desenrola... De qualquer modo algum coração sairá machucado... Bem... Vamos beber!!! - Heim? - Uma as minhas filosofias preferidas!! Se não se pode resolver um problema, não pense demais nele, ou o mesmo vai te afogar!!! O jeito então é afogar o problema!!! Quando se percebe ele já estará resolvido!!! Vamos lá!!! Sem outra escolha aparente, Jibaoçú se deixa levar pelo velho amigo. XXX De volta a Serranua, Iaciara permanece sentada, tendo a cabeça do exausto Yakecan em seu colo. - Muito, muito grata mesmo, grande espírito... Se não fosse por você eu já estaria com Iaé, apesar de que, diante do que aconteceu, isso não parece ser um destino não ruim... - Viu como ela me chamou? Você poderia me chamar assim também... – Yakecan, ao sentir uma lágrima atingir sua cabeça, se ergue e assume um tom de voz mais sério. – Nos conte o que aconteceu filha guerreira... Iaciara dá um longo suspiro, depois ergue a cabeça para o céu, que vai pouco a pouco se tornando crepuscular, então ela começa a narrar suas desventuras, na voz todo o peso da dor de ter falhado: - Sou uma mestra da arte de lutar e havia trazido minhas mais graduadas alunas para que elas finalmente pudessem fazer nascer suas armas... Imagino que foi o mesmo que vocês vieram fazer... Nós chegamos e logo fomos levadas até um dos novos túneis, esse havia sido feito há poucos dias e os veios de Osso de Tupã estavam quase virgens... As meninas criaram belíssimas armas e estavam todas conversando como pequenas cunhãtais quando ouvimos um som igual a uma trovoada... Lembrando do dia limpo que estava fazendo quando entramos na mina, logo nos pusemos a correr em direção do lado de fora, todas prontas para uma luta e... Ela faz uma pausa e então a guerreira desvia o olhar dos dois companheiros, ela jamais poderia admitir que estranhos vissem as lágrimas que insiste em cair de seus olhos. Assim que recupera o auto-controle, ela volta a falar:

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- Mal saímos da mina e uma enorme onda de fogo veio para o nosso lado, junto com os restos da aldeia dos mineradores... Mal consegui erguer minha arma, tentando me proteger e logo estava soterrada... Usei de toda minha energia, mas só consegui impedir que aquele peso me esmagasse, enquanto eu ouvia os gritos das minhas pequenas irmãs e dos demais... Quando consegui me libertar eu vi vocês dois e ataquei sem pensar... Nem consegui sentir seus espíritos, senão eu jamais teria feito isso... - Eu percebi logo que realmente você não estava plena de suas habilidades, mas como ele é o novo guardião eu esperei para ver o que vocês fariam... Claro que, se algum dos dois corresse algum risco eu iria intervir... - Muita bondade sua... – Abaetê caminha devagar sobre os restos da aldeia mineradora, olhando atentamente para o solo, como se procurasse algo oculto por debaixo do chão calcinado. – Uma resposta direta, ou um ensinamento claro parece que está além de suas capacidades... - Ele sabe que está falando com um enviado de Tupã? - Ele passou por muitas coisas querida... Dê tempo ao tempo... - Eu sempre imaginei o guardião dos Auati diferente... Um verdadeiro herói e... - E que tem ótimos ouvidos! – Mesmo a certa distância, Abaetê consegue ouvir o que a índia e o jaguar sussurram um para o outro. – Desculpe se estou longe da perfeição esperada, mas vai ter que se contentar comigo mesmo! - E o que o grande guardião está fazendo andando por esse solo morto? Segundo o relato de Iaciara, nosso inimigo está com uma grande vantagem... Venha cá descansar um pouco para podermos partir! - Se ele é tão poderoso... – O índio pára de repente e começa a se abaixar lentamente até ficar com um dos joelhos encostados no solo. - O quê?! Fale mais alto guardião!! Você está muito longe! - Eu vou precisar de uma arma... – Aos poucos o ar ao redor de Jaguar-Upiara começa a distorcer, mostrando que o mesmo está despertando seus poderes, o que deixa Yakecan de olhos arregalados. Ele apenas toca de leve o solo com a empunhadura dada por seu pai e então uma imensa cortina de poeira se ergue do chão, cobrindo-o totalmente. - Jaguar-Upiara!!! – Yakecan começa a correr na direção de onde o índio desaparecera e é seguido de perto por Iaciara, que não acredita que seu companheiro tenha sido atacado sem que ela percebesse a aproximação de inimigos. – Guardião!!! Jaguar-Upiara!!! - Yo!!! Finalmente... – A poeira começa a ser espalhada pela energia que cerca o jovem índio e logo ele pode ser visto, tendo sobre seu ombro um enorme Punho de Tupã, cuja ponta possui um tipo de elevação que, dependendo do modo como se olha, pode lembrar o canino de um jaguar, no rosto de Abaetê, um sorriso cheio de orgulho. – Agora sim... Se tudo estiver pronto e vocês de acordo... Podemos ir atrás do monstro?

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Yakecan sorri feliz pelo fato do novo guardião ter aparentemente entrado em sintonia com seus poderes e Iaciara se pega pensando que há mais naquele homem do que ela admitiria. - Pois bem guardião... – Sem querer que o outro se sinta superior, a bela índia dá um incrível salto, chegando facilmente ao topo de uma árvore. – Você deve ter sentido a trilha deixada pelo monstro... Vamos? – Dito isso ela começa a avançar. - Bela vista daqui de baixo... – Jaguar-Upiara permanece parado durante alguns minutos, mas assim que Yakecan passa por ele e começa a seguir Iaciara, o guerreiro acorda. – Ei!! Esperem por mim!! E assim começa a caça ao responsável pela destruição de Serranua. XXX Longe dali uma bela cachoeira esconde Maturati a moradia de Anhangüera, o maior inimigo de Tupã. - AAAAHHHHH!!!!! Como é bom sem o diabo velho por aqui!!!! Ele devia viajar mais!!! – Em um imenso trono de pedras, adornado com crânios e ossadas humanas, está sentado Anhato, ele parece falar com alguém, mas este prefere se manter nas sombras. - Não deveria fazer isso outra vez... Quando o mestre voltar... - Ah! Cala essa bocarra Abaçaí!!!! – O demônio arranca um pedaço do trono e lança contra seu irmão que imediatamente de defende com garras negras que parecem ser feitas das mesmas sombras que o cercam. Desse modo Anhato se ergue, abre as asas e mostra sua garras. - Maldito!!! Venha para cá e lute!!! HHHHIIIISSSSSSSSSS!!!!!! - Não precisarei... – Abaçaí recolhe as garras e volta para as sombras, recebendo zombarias de seu irmão. - É isso mesmo!!! Eu sou o maior de todos!!! Aquele que derrubará o poderoso Anhangüera e começará uma nova era de trevas em Aupaba!!! Eu e apenas eu... Gasp!!! O Demônio engasga ao sentir uma mão envolver seu pescoço e virá-lo para encarar aquele que acaba de chegar. - Me-mestre... Argh... Che-chegou há muito te-tempo... Gasp... - O suficiente... – Anhangüera é um enorme demônio de pele avermelhada aparentemente em chamas, longos cabelos negros como uma noite sem lua ou estrelas e quando sua boca se abre, o cheiro de um campo de batalha, repleto de corpos decompostos pode ser sentido. – Então... Pequeno lixo... Me diga como você irá me derrubar e tomar essas terras... - E-eu... Glup... Nu-nunca faria isso!! Gasp... Fo-foi tudo uma idéia do Aba...Arrrghhhh... Abaçaí... Ouve-se o som das garras do outro demônio saltarem, mas com apenas um movimento de cabeça de Anhangüera, ele volta a se acalmar e então o demônio mestre lança seu

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servo contra o trono que acaba todo destruído. - Assim que retomar o fôlego... Reconstrua o trono ainda hoje... E já o aviso que eu o quero ainda mais majestoso do que antes entendeu? – Diante da afirmativa de seu servo, que permanece caído, Anhangüera começa a sair da caverna e é então que seus servos reparam na estranha roupa que ele está usando: Um tipo de armadura cinzenta aparentemente muito pesada, com uma longa capa negra em suas costas e na mão uma incomum arma, lembrando um pouco os Punhos de Tupã dos Guardiões dos Auati, mas com o diferencial de uma lâmina escura. – Quando eu voltar falarei de tudo o que foi visto em minhas viagens por esse mundo... Um vento fortíssimo se faz presente e então Anhangüera parte, deixando para trás dois servos extremamente curiosos. XXX - Temos que ir mais rápido!!!! Não sabemos o que o desgraçado ainda vai fazer!!! - Mandona ela não? - As Filhas de Iaé são criadas desde a mais tenra infância para serem líderes e grandes guerreiras... Iaciara deve estar cheia de culpa pelo que aconteceu a suas pequenas irmãs... - Hum... Isso é verdade... Ei! Agora que percebi... Esses saltos estão ficando mais fáceis mesmo! Sinto uma energia dentro de mim que cresce cada vez mais!! - E será assim... Seu moronguetá está cada vez mais evoluído... Como eu disse, logo você não precisará mais saltar e... - Ali!!! – O aviso de Iaciara é acompanhando pela descida brusca da mesma, sendo rapidamente seguida pelos seus companheiros. Assim que chegam ao solo, mesmo com o dia já sendo trocado pelo manto da noite, é possível perceber Amazon, o Grande Rio, onde não se pode ver a outra margem, apenas as copas de árvores que são verdadeiros colossos, pois só assim para serem vistas, dada a distância de uma margem a outra. Abaetê se lembra imediatamente das histórias que seu pai contava, de tolos que tentaram atravessar o Grande Rio e morreram por não ter pedido permissão aos Amazonas, o povo que vive abaixo das águas. As lembranças da infância ficam de lado quando ele reconhece o guerreiro que Iaciara segura em seus braços. - Uauiará!!!! Ao se aproximar do amigo de seu pai, Abaetê percebe várias marcas de queimadura pelo corpo do mesmo e ainda assim o guerreiro de pele rosada abre uma de suas mãos, com os característicos dois dedos, sendo que um deles serve como nadadeira, revelando a Itapitanga. - Cui... – A voz do guerreiro das águas sai com muita dificuldade devido aos seus ferimentos. – Cui-Cuidado...

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- Mas o que... – Antes de poder sequer fazer a pergunta que surge em sua mente, Jaguar-Upiara sente uma energia extremamente maligna surgir por detrás deles e ele mal tem tempo de segurar a todos ao seu redor e saltar, usando de sua recém-descoberta velocidade. – Mas quem?!!! - Ora... Vamos... Quem mais poderia ser? - Boitatá...

Explicando Aupaba. Yo! Olá queridos leitores! Muita emoção no capítulo de hoje não é? Gostaram da minha participação? Aposto que foi uma das melhores cenas!!! Bom, bom, bom... Vamos logo ao trabalho! Como de costume, primeiro as palavras já existentes que o autor usou: moronguetá: sentimentos verdadeiros, puros, instintivos. cunhãtais: Meninas. Depois de uma breve pesquisa, o autor usou uma variação do termo que encontrou “Kunhãtais” para algo mais próximo do Curumim, que quer dizer menino. Maturati: de o morro branco, alusão a uma cascata. Abaçaí: a pessoa que espreita, persegue, gênio perseguidor de índios espírito maligno que perseguia os índios , enlouquecendo-os. Uauiará: depois de alguma pesquisa, o autor escolheu esse nome para o guerreiro do rio, cujo significado é: o deus dos rios, protetor dos peixes, que se apresenta sob a forma de um boto. Boitatá: Coisa de fogo. È comumente retratado como uma enorme cobra de fogo, claro que em Aupaba ele tem outro visual. E agora uma breve explicação sobre a escolha do Grande Rio: Amazon: O autor escolheu mudar um pouco o nome do rio famoso para se adequar ao mundo de Neijyn-Zalla, mas sem deixar de lembrar aos leitores que se trata do grande rio Amazonas. Por hoje é só meus queridos leitores! Já me disseram que não adianta querer cantar, uma vez que este é apenas um texto escrito e, desse modo, a bela melodia de minha voz não chegaria até seus ouvidos... Uma pena... Mas sem temor meus queridos!!! A partir do próximo número começarei a dar os grandes conselhos de Nanbiquara!!! Quem sabe o autor se toca e lança eles em forma de livro! Um bom nome seria... O Segredo!! Como? Já tem? Droga... Agora desanimei... O jeito é ir beber... Fui!!! Thiangôn!!!!

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Lendas de Aupaba. Tomo um. Turiaçu. - Temos que continuar desviando!!! - Mas guardião!! Desse jeito nunca vamos vencer esse maldito!!! - Um ataque direto dificilmente daria certo filha de Iaé! E ainda temos que proteger o Uauiará!! Rajadas de fogo passam cada vez mais perto do grupo, mostrando a verdade nas palavras de Yakecan e forçando-os a permanecer em constante movimento, pois sabem que se ficarem parados um instante sequer, serão atingidos com certeza. - N-não... Se importem... Comigo... - Uauiará mal consegue se manter consciente por causa de seus ferimentos, mas ainda assim se preocupa com as “crianças” que vieram ajudá-lo. - Me largue Jaguar-Upiara... Salvem-se... Você já tem a Itapitanga... - Fica quieto e não se mexe demais... - O guardião dos Auati sente a pedra do casamento de sua tribo pesando no pequeno bornal que ele traz na cintura. - Meu pai não me perdoaria se eu deixasse um antigo amigo dele morrer dessa forma... Cuidado Iaciara! - Obrigada guardião... – A bela índia desvia por pouco de outra rajada de fogo. - Não podemos continuar assim por muito tempo! O maldito está destruindo muito da margem do Grande Rio! - Ela tem razão Jaguar-Upiara... Precisamos fazer algo!! - Hahahahahahahahahahaha!!! – Uma criatura horrível, com uma pele avermelhada e escamosa, mãos e pés que terminam com poucos dedos, dois chifres no alto da cabeça e uma longa causa, o Boitatá permanece sempre rodeado por pequenas chamas que parecem dançar ao seu redor. Sua aparência só é superada pelo sorriso demente que ele mantém no rosto e o brilho maligno dos seus olhos. - O que vocês podem fazer seus imprestáveis?!!! Mal estão conseguindo escapar das minhas Ataendy... - Certo... Agora chega! Jaguar-Upiara se detém de repente em pleno ar, ainda com o guerreiro das águas em seu ombro, mal percebendo que as palavras de Yakecan estavam certas, seu poder se amplia a cada momento, mas agora ele não pode se preocupar com a evolução de seu Moronguetá. Não se quiser sair de lá com vida. - Heim? Finalmente percebeu que não pode me vencer curumim? - O Boitatá baixa os braços, concentrando duas bolas de fogo em suas mãos. - Ou cansou e resolveu se matar para poupar mais Caci?

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- Na verdade... - O guerreiro ergue seu companheiro dos ombros e, surpreendo não apenas o inimigo, mas também Iaciara e Yakecan, joga Uauiará dentro do Grande Rio. - Agora sim... Vamos começar a verdadeira luta... - Ora seu... - O Boitatá ergue um dos braços e lança uma nova rajada de fogo. - Morra!!!!!! - Desculpe te desapontar... - Com um movimento de seu Punho de Tupã, o guerreiro desfaz as chamas assim que as mesmas se aproximam. - Mas vai precisar mais do que isso para me derrubar. - Então parece que terei um desafio... Isso é ótimo!!! - Dito isso o vilão ergue os dois braços e dispara chamas de ambos que, conforme ganham os céus, se unem em duas espirais, aumentando assim de tamanho e poder destrutivo, atingindo seu alvo em cheio. - É isso!!! - Muito lento... - Para surpresa do Boitatá, a voz de seu oponente parece vir detrás de si e quando o vilão se volta, precisa erguer os dois braços para se defender do ataque que recebe e que o lança a alguns metros de distância. O vilão se levanta passando uma das mãos onde fora atingido e não percebe nenhum corte, apenas um machucado como se tivesse sido atingido por algo não cortante. - Mas o quê... - Ao olhar na direção de seu inimigo, o Boitatá percebe que fora atingido pela empunhadura da arma do outro, apenas por isso ele não se cortara. - Eu te subestimei mesmo... Curumim... - Eu... Não... Sou... Um... Curumim!!!! Com um movimento semicircular de sua arma Jaguar-Upiara lança uma rajada de energia dourada contra o Boitatá, que não consegue se defender, sendo atingido e logo coberto por uma nuvem de fumaça, resultante do impacto. - Agora eu acho que podemos ir embora... - O guardião se volta para Yakecan e Iaciara, que acabam de chegar perto dele. - Pelo visto ele não levanta mais... - Não acredito no que você fez com o Uauiará... Eu... A frase da bela índia é interrompida pela risada do Boitatá, fazendo os três se voltarem para onde a fumaça começa a se dispersar. - Hahahahahaahhahahaha!!!! De fato, será um belo desafio... - Ao redor dele colunas de fogo surgem assumindo forma de serpentes de vários tamanhos. - Curumim... - Se afastem... - Novamente o ar ao redor do guardião começa a oscilar, mostrando que sua energia continua a crescer. - Se possível tirem tudo o que estiver vivo ao redor... Sob os protestos de Iaciara ela e Yakecan começam a fazer o que Jaguar-Upiara pede. XXX - Aaaahhh... Nanbiquara seu velho doido... - Jibaoçú caminha lentamente pela Ocara, aspirando o ar da noite com sofreguidão, tentando se recuperar da bebedeira causada

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pelo cauim feito pelo pajé da tribo. – Me fez beber praticamente o dia inteiro... Ai minha cabeça... Como dói... - Pai?! Finalmente eu te achei! - Hã... - Antes mesmo de se virar o antigo guardião já sabe que se trata de seu filho Guaraní, aquele que todos acreditavam que seria seu sucessor. - Olá filho... Eu... Sinto muito por não ter ido para nossa oca direto, mas... Hã... Nanbiquara precisou de mim e... - Eu só quero saber pai... Porquê? - Olha Guaraní... Eu... - Só preciso de uma explicação que aquiete essa chama de raiva que está ardendo no meu peito pai... Por que Abaetê e não eu? Por acaso não fui um bom filho? Não sou um grande guerreiro? O que eu fiz para que você o preferisse a mim? Justo ele que apenas se dedica à música? Certo que nisso ele era horrível, mas ainda assim... - Não é tão simples assim Guaraní... - Só não me venha com a desculpa do sonho... Isso é absurdo demais para que eu aceite. A mente de Jibaoçú retorna para algumas semanas atrás, quando ele voltava de uma difícil luta contra alguns monstros criados por Anhangüera e, permanecendo escondido por entre algumas árvores, viu Guaraní e outros índios, aparentemente treinando numa clareira próxima da tribo. O antigo guardião não consegue esquecer o modo como seu filho tratou os amigos, depois de derrotá-los. Ofensas e humilhações foram proferidas por Guaraní que, em seu orgulho pela vitória, parecia não notar ou mesmo se importar com o impacto de suas palavras e quando se viu sozinho, os amigos não agüentariam mesmo aquela situação por muito tempo, ele gritava para si mesmo que era o melhor e que não precisaria nunca da ajuda de nenhum deles. Que ele seria o, segundo suas palavras, “Grandioso Guardião”, que não precisava de nenhum deles. Desse dia em diante Jibaoçú começou a prestar atenção nas atitudes de seu filho, notando repetidamente a arrogância do mesmo, isso para ficar em apenas uma das péssimas qualidades dele. O velho índio percebeu que o filho não possuía amigos verdadeiros, apenas aqueles que ele mantinha sob ameaças. Se alguém assim acabasse por receber os poderes do Jaguar-Upiara os resultados poderiam ser desastrosos. Ainda assim ele não possuía outras opções, o filho mais velho tinha idade demais e o do meio parecia ter escolhido a música como meio de viver, mesmo não tendo reais aptidões para tal, mas depois do sonho, onde ele vira Abaetê lutando como um grande guerreiro e com as palavras que a estranha criatura lhe dissera “Abaetê será um protetor, não apenas de Aupaba, mas de toda Neijyn-Zalla”, Jibaoçú acabou por tomar sua decisão. Mesmo sem saber o que seria uma Neijyn-Zalla, ele sentiu a verdade nessas palavras, o que, obviamente, não foi bem aceito por Guaraní, que desde o dia em que o velho índio indicou Abaetê como o escolhido para ser o próximo guardião dos Auati, não deixou de tentar de tudo para mudar a decisão de seu pai.

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- E deu certo? Ele é o novo Jaguar-Upiara? E por que ele não veio até a aldeia se apresentar como eu teria feito?! Ele já está se achando tão importante? Eu sabia que isso subiria à cabeça dele e... - Pensar antes de falar nunca foi seu forte Guaraní... Portanto fique quieto e ouça um pouco para variar... Pouco depois de seu irmão receber o manto, Nanbiquara foi até nós para contar sobre o roubo da Itapitanga... Seu irmão, sem nem pensar duas vezes foi à procura dela... Aliás, o seu casamento terá de ser um pouco adiado e... - Que ótimo!!! Claro que ninguém pensou em me avisar antes não é?! Era só o que me faltava!! Por causa de Abaetê meu casamento também está ameaçado... Eu deveria... - Deveria ir para casa pensar em tudo o que está falando!!! - Mesmo sem ser o guardião, a voz de Jibaoçú continua forte o suficiente para fazer seu filho se calar. - Ele prometeu trazer a pedra amanhã e amanhã ele trará... Seu casamento será adiado apenas por um dia... Isso é, se você quiser mesmo... - E eu não deveria querer? Era só o que me faltava... Além de perder o posto de guardião, acabar perdendo também minha esposa... Quem sabe devo oferecê-la para Abaetê e... - Guaraní!! Sem mais uma palavra o jovem índio se afasta, deixando para trás um pai extremamente preocupado que, ao olhar para o lado, percebe a bela Uaná na janela de uma oca próxima. Ao perceber que está sendo observada, ela se afasta rapidamente, mas não antes de Jibaoçú perceber lágrimas em seus olhos. - Ah... Tupã... Por que tudo não pode ser mais simples? XXX Um pequeno filhote de anta se mantém encolhido, seu corpinho tomado pelos tremores decorrentes do medo de ter se perdido de sua família. Pouco tempo atrás um som alto como o de um trovão o acordou e então um grande grupo de animais, todos aterrorizados com algo, passou por onde o animalzinho estava com sua mãe e irmãos separando-os e agora ele permanece parado, aguardando por um socorro que ele não faz idéia se virá ou não. Um brilho chama a atenção do pequenino e ele ergue a cabeça apenas a tempo de ver que algo está vindo rapidamente em sua direção. Sem conseguir identificar a coisa como algum outro animal, ele apenas continua petrificado pelo medo, pelo menos até sentir algo agarrando sua cintura e tirando-o do chão, poucos instantes antes da coisa brilhante passar destruindo todo o local onde ele estava. - Pronto pequenino... - Ainda que as palavras sejam incompreensíveis, o tom das mesmas não é e ele percebe sendo tomado por uma sensação de proteção, que havia sentido apenas junto de sua mãe. - Aqui você está seguro... - <Ouça a filha de Iaé> - Ao ouvir sons que fazem sentido o filhote se depara com um enorme jaguar que, do contrário dos ensinamentos de sua mãe, não parece interessado em comê-lo. - <Vá por essa trilha e encontrará sua família... Agora vá.>

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Assim que observam o filhote sumir por entre algumas árvores, Iacirá e Yakecan se voltam para o local onde a batalha se desenrola. - Então pode se comunicar com outros animais? É realmente um poderoso espírito de Tupã... - Não é tão difícil... Encontrei homens e mulheres que poderiam fazer o mesmo... Basta um pouco de vontade... - E quanto ao Guardião? - O jaguar percebe um tom mais acentuado de preocupação na voz da guerreira e não consegue evitar seu pensamento seguinte; “humanos... Tsc, tsc... Sempre entregues às emoções...” - Será que não podemos ajudar... - Acredite... Por mais impossível que possa parecer, Jaguar-Upiara tem tudo sob controle... Demorei um pouco para perceber o que ele pretende, mas agora eu vejo que ele planejou tudo e não podia se dar ao luxo de ficar preocupado com nossa presença, ao menos por enquanto... Confie nele guerreira... Pouco acima do local, sem que mais ninguém possa vê-lo, está Anhangüera. O demônio está feliz por ter voltado de sua viagem a outros continentes a tempo de ver o novo Jaguar-Upiara em ação. E ainda enfrentando o perigoso Boitatá. “Não podia ser melhor... Um ótimo primeiro teste...” - Por que você não mooorrreeee???!!!!! – Apesar da opinião de Anhangüera, o Boitatá aparentemente enfrenta um desafio maior do que ele esperava. Várias cobras flamejantes são lançadas contra Jaguar-Upiara, mas ele permanece parado, o enorme Punho de Tupã apoiado no ombro, até que ele está a poucos segundos de ser atingido. É quando, com um movimento absurdamente rápido, ele ergue a arma e, descrevendo um arco com a mesma, destrói as cobras com a energia dourada que sai de sua arma. Os dois oponentes param os ataques e defesas e ficam alguns minutos olhando fixamente um para o outro, percebendo finalmente que nenhum deles escapou incólume. Os dois têm vários pequenos ferimentos espalhados por seus corpos. - Humpf... Realmente você é forte... Guardião... Acaba de ganhar meu respeito... - O respeito de uma criatura como você... Que mata crianças e inocentes sem nem ao menos lhes dar chance de defesa como fez em Serranua? Obrigado, mas dispenso seu respeito... Quero apenas o seu fim... - E pretende fazer isso ficando apenas na defensiva e... – De repente Jaguar-Upiara parece desaparecer do campo de visão do Boitatá, interrompendo a ameaça do vilão. - O quê? Onde ele... Mais uma vez a frase é interrompida, pois o Boitatá é forçado a se desviar do ataque que vem de seu lado direito, lançando por instinto uma nova serpente de fogo na direção de seu oponente. - AAAARRRGGGHHH!!!!

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- AAAARRRRRRGGGGHHHH!!!!!! Os dois voltam a ficar parados diante um do outro, mas agora eles se encontram arqueados, segurando os ferimentos decorrentes desse último ataque, o que não os impede de manter os olhos fixos, somente esperando uma brecha para que um novo ataque seja desferido. Inesperadamente, no entanto, o Boitatá ergue o corpo, ignorando as dores do último corte que recebeu e sorri um sorriso demoníaco. - Maldito seja guardião... Pelo visto vou ter que dar tudo de mim para acabar logo com essa luta... Isso já deixou de ser divertido... - Claro... Já que é você que está sendo ferido não é? Assim não tem a menor graça eu imagino... Sem resposta. Sem ofensas. Sem auto-proclamações de poder. O Boitatá apenas se concentra, sem tirar os olhos de seu inimigo. “Espero que ele tenha entendido meu plano...” é o pensamento de Jaguar-Upiara, enquanto ele aperta a empunhadura de sua arma, se preparando para o novo e, provavelmente, último golpe que vai receber. Apesar de sentir suas forças crescendo a cada momento, ele sabe que não vai resistir a outro ataque direto. Pouco a pouco o Boitatá é envolvido por chamas até que fica difícil de discernir sua imagem em meio ao verdadeiro inferno que surge ao seu redor. As chamas crescem até parecer estarem lambendo as estrelas do céu. Ao redor do fenômeno tudo é consumido, até mesmo o chão começa a ser calcinado, como o ocorrido em Serranua. “Então...” Anhangüera permanece assistindo impassível a tudo o que ocorre debaixo de seus pés “Já resolveu usar seu último recurso Boitatá? Eu esperava mais de você”. Jaguar-Upiara sente o suor que escorre pelo seu corpo, não por causa da ansiedade, mas sim por conta do calor causticante que chega até ele, dificultando até mesmo que permaneça com os olhos totalmente abertos. Uma explosão ocorre de repente, forçando o guardião a usar sua arma para se defender das centenas de cobras de fogo que são lançadas para todos os lados, fazendo com que Iaciara e Yakecan tenham que se deslocar do local de onde estavam assistindo à batalha. Diante dos olhos surpresos de todos os presentes, uma imensa serpente de fogo eleva a cabeça aos céus, como que tentando engolir Iaé do firmamento, com um urro de glória, que deixaria pessoas menos fortes totalmente loucas de terror, sua pele parece semitransparente, permitindo que as chamas de seu interior fiquem à mostra e quando ele abre sua boca é como se houvessem centenas de presas extremamente afiadas, o que dificulta suas próximas palavras: - E então pequenino? Já está petrificado de medo com a visão de toda a minha glória? Jaguar-Upiara desvia rapidamente o olhar na direção do Grande Rio e, ao notar uma leve agitação nas águas, volta o rosto para seu inimigo com um largo sorriso.

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- Na verdade... Não... Não estou nem um pouco com medo... Afinal, ficando desse tamanho você apenas aumentou o alvo para ser atingido! Dizendo isso Jaguar-Upiara se lança ao ataque, indo direto para a imensa bocarra do Boitatá, levando seu Punho de Tupã para trás e fazendo com que o mesmo comece a brilhar com uma energia dourada. A batalha final vai começar.

Explicando Aupaba. Yo! Olá queridos leitores! Puxa! Uma edição desse tamanho e eu não apareci nenhuma vez... Eu sei, eu sei... Faço uma grande falta... Tudo bem... Tudo bem... Limpem as lágrimas por que agora eu estou aqui... Sem choro, por favor... Vamos lá para os significados das palavras que aparecem (Mais do que eu... Chuif) na história de hoje: Turiaçú: A grande fogueira. Ataendy: Chama. Caci: Dor. Cauim: É uma bebida alcoólica tradicional de povos indígenas do Brasil, desde tempos pré-colombianos. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cauim) e cá entre nós é uma delícia!! No próximo capítulo teremos a grande conclusão do tomo 1 das lendas de Aupaba! E eu terei mais participação... Não percam queridos leitores!!! Thiangôn!!!!

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Lendas de Aupaba. Tomo um. Paba. - Finalmente te vejo chegar Jibaoçú... Esqueceu-se que tem uma mulher? - Desculpe minha Perudá... O dia foi comprido e cansativo... - E... Como foi? Quero dizer... Nosso filho... - Conforme tinha que ser... Abaetê é agora no novo Jaguar-Upiara... - Hum... Agora troco a preocupação pelo meu marido com a preocupação pelo meu filho... Por Tupã, que fardo... E como você está? - Confesso que estou melhor do que eu achava que ficaria... É como se uma grande paz se abatesse sobre mim, agora que o fardo da proteção de nosso povo repousa sobre novos ombros... - Sei... Como se você fosse perder o gosto pela aventura tão fácil... Te conheço Jibaoçú... - Com certeza conhece até melhor do que eu mesmo Amandy... Sinto que ainda possuo um resto do vigor de quando eu era o guardião, mas prometo ficar mais em nossa oca... É hora de me tornar o chefe de família que sempre tive de ser e quase nunca fui... Quantos filhos temos mesmo? - Seu velho tolo... - A índia dá soquinhos de brincadeira no marido e logo os dois trocam um longo e apaixonado beijo, que é interrompido de repente. - Jibaoçú... - O que foi Amandy? Você está pálida... - É a água... Sinto uma perturbação em uma grande fonte de água, não muito longe daqui... - Seria uma tempestade se aproximando? - Não... É algo mais... Algo muito maior do que apenas chuva... Não muito longe dali, no alto de uma oca que permanece milagrosamente em pé, devido à forma como foi esculpida, com sua base infinitamente menor que seu topo, está Nanbiquara. O pajé permanece com os olhos semicerrados, como se tendo dificuldades para ver algo que está extremamente longe, o que é verdade, uma vez que ele olha na direção do Grande Rio. - Hum... As coisas se complicaram um pouco mais do que eu previ... - Ele ergue a cabeça e seus olhos brilham com o que ele descobre. - Então o diabo está de volta... Com certeza foi ele quem envolveu o Boitatá... Sinto muito Abaetê... Espero realmente que você sobreviva... Bem... Não posso fazer mais nada a não ser observar... Logo... - O

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velho índio pega algo que lembra uma garrafa de corpo mais arredondado, quase uma bola com um bico, tira a pequena rolha que a fecha e começa a beber em longos goles. - É hora do Cauim!!! XXX Longe dali, na morada de Anhangüera, dois demônios conversam: - Está vendo alguma coisa Abaçaí?!!! - Cale-se Anhato... Com seus gritos histéricos mal posso me concentrar... - Histéricos? HISTÉRICOS??!!!! Se eu não estivesse tendo que consertar esse trono maldito... - Ora, cale-se... O Boitatá se transformou... O maldito guardião não aparenta o menor sinal de medo... Está encarando o nosso irmão de frente, ou o máximo que pode já que agora ele é infinitamente menor que o Boitatá... - Hum... Então isso quer dizer que em breve o novo guardião vai ter que ser substituído... Não me lembro de nenhum antes desse ter enfrentado um inimigo do porte do Boitatá e sobrevivido com tão pouco tempo e experiência... Droga... Nem pude me divertir com esse e... - Que o fogo dos nove círculos infernais queimem o seu rabo!!!! - O que foi?!!! Não posso reclamar também?!!! Te juro Abaçaí... Quando eu terminar aqui eu... - Cala a boca seu idiota!!!! O novo Jaguar-Upiara acabou de se lançar ao ataque!!! - O quê??!!!! Que esse maldito trono espere... Preciso ver isso!!! Os dois demônios começam a disputar espaço diante da entrada de Maturati, procurando ver com todos os detalhes a batalha que se realiza às margens do Grande Rio. XXX - AGORA VOCÊ MOOOOORRRREEEEE!!!!!!!!!!!! - Conforme seu inimigo se aproxima, o Boitatá abre sua imensa bocarra, projetando os dentes para frente, pretendendo engolir sua presa numa só bocada. - É O QUE VOCÊ PENSA!!!! - Com uma guinada impossível, Jaguar-Upiara desvia seu trajeto em pleno ar, passando incólume ao lado da boca do vilão, ficando exatamente do lado esquerdo da cabeça do mesmo. - AGORA!!!! O Punho de Tupã abre um enorme rasgo na carne do Boitatá, que urra de ódio e dor, mas que logo começa a gargalhar. Sem entender, o Jaguar-Upiara fica em pleno ar, mas logo ele percebe o motivo do riso de seu inimigo. Do ferimento saem várias cobras de fogo que vão diretamente na direção do guardião que, sem poder desviar, é atingido em cheio e envolvido numa bola de fogo, caindo em

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seguida dos céus como um cometa. O impacto com o solo acaba causando uma cratera e levantando uma cortina de poeira que encobre todo o local da queda. - Jaguar-Upiara!!!! - Yakecan, junto de Iaciara, corre até o local, tentando localizar o guardião antes que o Boitatá desfira outro ataque. - Onde está você?!!! - O ferimento do monstro está fechando! - A bela índia ainda arrisca um olhar para o Boitatá e logo se volta para o jaguar que corre um pouco à sua frente. - Como se vence uma fera dessas?!!! - É... Só... - Aos poucos Jaguar-Upiara aparece frente a seus aliados, afastando a poeira com sua arma e então seus aliados percebem o estado lastimável em que ele se encontra, com o sangue escorrendo de vários ferimentos e as marcas de queimadura espalhadas pelo seu corpo. - Continuar... Batendo... Até ele cair... - Venha Guardião... - Iaciara segura e o apóia sobre seus próprios ombros. - Precisamos levá-lo para longe... Não está em condições de continuar essa luta e... - N-não se preocupe moça... - Ele olha mais uma vez para o Grande Rio e nota que a agitação do mesmo cresce cada vez mais. - Preciso agüentar só mais um pouco... - Mas... - Eu posso e farei isso... - Ele gentilmente afasta Iaciara, segundo na direção do Boitatá e Yakecan a impede de segui-lo. Se ela estivesse totalmente recuperada o jaguar permitiria que ela ajudasse o guardião, mas, por mais dolorosa que a verdade soe, ambos sabem que apenas Jaguar-Upiara pode continuar a lutar. - Não aceitei essa mudança em meu destino para cair no primeiro dia de minha nova vida... Apenas busquem um local elevado e protegido... As coisas vão ficar molhadas logo, logo... Mesmo sem entender exatamente o que o outro diz Iaciara acompanha Yakecan e então o guardião se volta para o imenso monstro à sua frente, enquanto caminha com dificuldade, arrastando a porta de sua arma pelo solo calcinado, mas logo se colocando em posição de combate mais uma vez. - Já se despediu de seus amigos? - Agora o ferimento do monstro já está completamente curado. - Quer tentar me cortar mais uma vez? Se quiser posso ficar parado... Hahahahahahahahaha!! - Talvez fosse melhor! Se baixar sua cabeça para me pegar, você será finalmente derrotado! - Hum... Seria agora que eu faço o que você diz e então você me vence não é? Desculpe guardião... Não sou tão idiota... Você conquistou meu respeito, portanto sei que pode realmente fazer o que diz... Portanto... Com uma velocidade absurda o Boitatá ergue a ponta de sua cauda e, criando um tipo de bola de fogo ao redor da mesma, lança um ataque que força ao ferido Jaguar-Upiara a se desviar, ao mesmo tempo em que o chão atingido explode, jogando no ar rochas de tamanhos variados e criando uma cortina de fumaça que impede o vilão de ver seu inimigo.

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- Onde você está pequeno guerreiro? Espero que não tenha fugido e... O quê? Uma das rochas começa a sair da coluna de fumaça e o monstro vê que é ali que o guardião permanece em pé, com sua arma sobre um dos ombros e um sorriso no rosto. Antes da surpresa de seu inimigo passar ele salta, se preparando para atacar a cabeça do Boitatá. - Não vai conseguir!!! - O monstro ergue a cabeça, fazendo com que apenas uma parte de seu corpo seja rasgada, repetindo o que acontecera à pouco, com várias cobras saindo do ferimento e indo na direção do guardião, mas esse permanece parado. - Agora vou te atingir de novo e... Heim? Sem que nenhum dos envolvidos na luta tivesse reparado Iaciara se lança diante do guardião e, usando sua arma, destrói rapidamente as cobras que saem do ferimento. - Sou uma filha guerreira de Iaé! Não aceitarei que minha mãe, que brilha alto no céu, se envergonhe de mim, permanecendo à parte desse combate... Se o Boitatá cair, será pelas minhas mãos também!!! Desse modo o surpreso Jaguar-Upiara aceita a ajuda e começa a cortar impiedosamente o imenso corpo de seu inimigo, enquanto Iaciara destrói as serpentes que saem dos ferimentos, anulando assim a aparente vantagem do monstro. - E então?! – O Guardião volta para a terra, ao lado de sua companheira, pára diante do Boitatá e lança seu desafio. - Vai tentar novamente o ataque com o rabo? Eu esperava mais de um monstro tão famoso, mas pelo visto eram apenas lendas!!! - SEU DESGRAÇADO!!!!!!!!!!! - Caindo na provocação do inimigo, o Boitatá se lança ao ataque, abrindo ao máximo sua bocarra na direção do solo, quase não conseguindo soltar a ameaça seguinte. - MOOOOOORRRRRAAAAAA!!!!!!!!!! Um novo desvio e, enquanto o Boitatá apenas abocanha uma quantidade considerável de terra, Jaguar-Upiara e Iaciara enfiam suas armas na região do pescoço de seu inimigo, tentando imobilizá-lo e, mesmo sabendo que não conseguirão mantê-lo assim por muito tempo, o guardião, torcendo para que seu plano dê certo, grita a plenos pulmões: - Agora!!!!!!!! Em resposta à ordem do guardião, uma imensa quantidade de água se ergue do Grande Rio, formando algo que poderia lembrar a imagem de um boto, pouco antes de se lançar sobre o Boitatá. O contato da água com o fogo cria uma imensa e quente coluna de vapor que sobe rapidamente aos céus. Finalmente Iaciara entende o plano que o guardião havia elaborado e ela se afasta com um longo salto, pois o calor que toma o local é demais para ela, por causa dos ferimentos que, mesmo parcialmente curados por Yakecan, ainda a deixa muito vulnerável. Com um novo urro, dessa vez com certeza de dor, a enorme serpente coloca sua cabeça para fora do vapor, aparentando ter tido até o fogo em seu interior quase apagado e procurando por seu inimigo, que não dá sinais de vida.

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Mas isso muda rapidamente. Uma pequena deformidade surge por um dos lados da coluna de vapor e logo é possível ver Jaguar-Upiara empunhando sua arma um pouco acima de sua própria cabeça e desferindo em seguida um poderoso ataque, que acerta um dos cantos da bocarra do Boitatá, descendo pelo corpo do mesmo, resultando em um enorme corte lateral que segue a trajetória do guardião até que este parece perder os sentidos e cai na direção do solo, quicando algumas vezes e ficando parado ali perto, já desmaiado. O urro de morte que o monstro solta pode ser ouvido à muitos quilômetros e, na aldeia dos Auati, Nanbiquara finalmente acaba de secar sua garrafa de Cauim e se volta para sua residência, já se preparando para o longo dia que teria pela frente, com o casamento que se avizinha. Parte do corpo do Boitatá cai no Grande Rio, sendo imediatamente consumido por um imenso número de piranhas e quase ninguém percebe uma pequena cobra de fogo que, imperceptivelmente procura fugir, tentando alcançar algumas das poucas árvores ainda inteiras que havia naquela margem. Um pesado e metálico pé a atinge no meio do corpo e, quando a cobra consegue se voltar, mal reconhece quem a está prendendo. - Péssimo trabalho Boitatá... – Anhangüera pega a cobra e a levanta até que a cabeça desta chega à altura dos olhos dele. - Eu esperava mais, mas você serviu ao seu propósito... Vamos voltar para Maturati, onde você poderá se recompor e, quem sabe, ter sua vingança algum dia? Ah! Sim... Irei querer saber também quem planejou esse seu ataque tão desajeitado... O demônio, então, desaparece como se nunca tivesse estado ali. - Jaguar-Upiara!!!!! Yakecan corre ao lado de Iaciara, ambas vendo que Uauiará apóia o guerreiro gentilmente no chão à sua frente e quando os alcançam é o jaguar que faz a terrível pergunta. - Ele está...? - Cof... Cof... - Abaetê retira pela primeira vez sua máscara desde que se tornara o guardião, respirando fundo, tentando recuperar o fôlego e logo em seguida ele ergue a Itapitanga. - A-acho que temos um casamento para ir... Não é...? Todos concordam e Yakecan se coloca a curar os ferimentos dos três guerreiros, enquanto todos observam o belo nascer de um dia que promete ser muito feliz. Infelizmente nem tudo se desenrola como o esperado. XXX Muitas horas depois, quando os preparativos do casamento de Guaraní e Uaná agitam toda a tribo, o noivo continua a reclamar com seu pai. - Por isso eu acho que deveria ter sido eu... Aposto que eu já teria trazido a Itapitanga... Se o senhor tivesse me escolhido pai eu... - Guaraní... Seu irmão já deveria ter voltado e Nanbiquara está estranhamente quieto e

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contido, enquanto organiza outros detalhes do seu casamento... Portanto não é a melhor hora para tocar novamente nesse assunto... Lamento se você ficou decepcionado, mas o que foi decidido não mudará... Seria melhor você aceitar isso e continuar o seu caminho... Jibaoçú se afasta e começa a falar com Essomerie, o cacique da tribo, que finalmente saíra de sua oca, deixando bem claro que fez isso apenas por ser o casamento do filho do antigo guardião. - Seu outro filho deveria ter vindo me ver logo que se tornou o novo Jaguar-Upiara... - Sinto muito Essomerie... - Jibaoçú precisa baixar um pouco a cabeça ao ficar mais próximo do cacique, cuja cabeça fica na altura do peito do antigo guardião. - Mas surgiu essa emergência do roubo da Itapitanga... - Sei, sei... Mas diga... Ele já não deveria ter voltado? - Acho... - O antigo guardião precisa usar toda a concentração para não responder como deseja. - Que o Nanbiquara precisa falar comigo... Até daqui a pouco Essomerie... - E então? - Assim que se aproxima do pajé, Jibaoçú nota que o mesmo está com um pequeno sorriso no rosto. Sem saber se é por felicidade ou pelo Cauim, ele volta a questioná-lo. - Alguma boa notícia? - Veja por si mesmo, velho amigo... Acompanhando o olhar do pajé, o velho índio vê seu filho surgindo por um dos lados da ocara do centro da aldeia, andando apoiado por Uauiará e Iacirá, Yakecan vem um pouco atrás, com vários curumins já fazendo festa ao seu redor. Ao se aproximar de seu pai e de Nanbiquara, Abaetê se empertiga, agradece aos novos amigos e caminha com visível dificuldade, estendendo a Itapitanga: - Eis aqui a pedra do casamento... Que a cerimônia não demore nem mais um minuto... - A Itapitanga!!!! - Nanbiquara ergue a pedra acima de sua cabeça e então todos os Auati começam as festividades. - Tudo bem com você filho? Parece que apanhou um pouco... - Logo te conto tudo pai... Acho que, se não for uma ofensa ao meu irmão, eu gostaria de ir dormir... - Pode ir... - É Guaraní que surge por detrás do irmão, o ressentimento é claro em sua voz. - Afinal, se ficar é capaz de chamar mais atenção do que os noivos... – E então ele se afasta com passos firmes e a cabeça baixa. - Eu imaginei que isso poderia acontecer pai... – Abaetê se volta para Jibaoçú, a indecisão parece persistir. - Será mesmo que foi uma decisão sensata? - Não se preocupe com isso... Seu irmão melhorará depois do casamento... Acredite, não existe ferida que o tempo não cure... Agora vá descansar... Depois do Casamento eu pedirei para que a curandeira vá até sua oca para terminar de curar seus ferimentos... - Jibaoçú então se afasta, procurando apressar os últimos preparativos e então Abaetê,

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retirando sua máscara, se volta para os novos amigos. - Acredito que não haverá problemas se vocês ficarem para o casamento... - Infelizmente preciso voltar para minha tribo, eu preciso contar sobre o ocorrido em Serranua... – Iacirá se abraça, finalmente podendo parar para pensar sobre a desgraça que ocorreu a tão pouco tempo, o que a batalha a tinha impedido de fazer até então. - Se quiser que eu vá com você... - Pode deixar que eu vou com ela guardião... - Yakecan se adianta, já ao lado da guerreira e Abaetê sente que o jaguar se apegou a Iaciara. - A voz e testemunho de um espírito de Tupã, como eu, pode acabar sendo de alguma ajuda... - Eu também tenho de ir... – Uauiará se adiante, cumprimentando o novo Guardião. - Quando você me jogou nas águas do Grande Rio boa parte de meus ferimentos melhoraram, mas vai demorar até que eu me recupere, mesmo com a grande ajuda de Yakecan... - Certo... Bem... - Depois de uma experiência tão intensa como a batalha que se passou, é estranho ver os novos amigos indo embora. - A gente se vê... Antes de voltar para sua oca, Abaetê ainda arrisca uma olhada para seu irmão, na esperança de dar ao menos os desejos de felicidade a este, mas Guaraní simplesmente vira o rosto, indo ao encontro de sua noiva, deixando claro que, no momento, o melhor a fazer é se retirar. - Finalmente... - Assim que entra em sua oca e se aproxima de sua rede, o guerreiro mal tira suas roupas, caindo na mesma e quase adormecendo sem agradecer a Tupã pela noite de sono que terá. - Isso mesmo... – Uma voz de criança chega aos ouvidos do exausto guerreiro. – Durma “Grande Guerreiro”... Se ao menos todos soubessem da verdade... - Nem mesmo você vai estragar meu sono... Acará... – Sem dizer mais nada ele finalmente adormece. Infelizmente para Abaetê é como se mal tivesse fechado os olhos quando ouve alguém entrando estrondosamente em seu quarto, fazendo-o cair da rede ao tentar alcançar seu Punho de Tupã, mas ele logo pára ao perceber de quem se trata. - Mãe? Quase me mata de susto... - Ao perceber as lágrimas que caem pela face de Amandy ele fica sério, antevendo algum novo problema. - O que aconteceu mãe... - É seu irmão... Gu-Guaraní... Chuif... - O que aconteceu com meu irmão?!! - Ele... E-ele... Foi embora da aldeia... Agora a mulher começa a chorar copiosamente, procurando amparo no abraço de seu filho e ambos ficam assim, em silêncio, por um longo tempo.

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Abaetê sente um calafrio percorrer seu corpo e tem a certeza de que uma grande tempestade se aproxima.

Explicando Aupaba. Yo! Olá queridos leitores! E assim terminamos o primeiro tomo das Lendas de Aupaba!! Foram muitas emoções não é? Espero que tenham gostado, principalmente de mim é claro! Antes da despedida final umas palavrinhas com seus significados: Paba: terminar, concluir; morrer; o fim. Essomerie: de chefe pequeno. Acará: Garça, Ave branca Bem... Agora é o fim mesmo... Novas histórias apenas no ano que se iniciará logo... Portanto muitas felicidades a todos, um ano cheio de realizações e estejam aqui de volta, quando o tomo 2 se iniciar!!! Ah! E muito Cauim para todos!!!!!!! Thiangôn!!!

FIM do Tomo 1.

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Galeria de personagens

Jaguar-Upiara Rascunho

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Jaguar-Upiara Finalizado

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Iaciara Rascunho

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Iaciara Finalizada

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Uauiará Rascunho

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Uauiará Finalizado

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Yakecan Rascunho

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Yakecan Finalizado

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Boitatá Rascunho

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Boitatá Finalizado

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Sobre o autor

Olá! Meu nome é João Norberto da Silva, sou casado, tenho 32 anos e desde antes de aprender a ler eu já curtia quadrinhos. Por volta de 2004 ou 2005 eu tive meus primeiros contatos com o mundo dos fóruns da Internet e desde então não parei mais. Hoje sou cadastrado em vários deles, cuja lista não farei para não deixar nenhum de lado sem querer. Não seria justo. Quando percebi que a internet era um ótimo lugar para expor as minhas idéias comecei a escrever fanfics(ficção de fãs) tendo como objeto os personagens da Marvel, para logo depois criar novas versões dos heróis da Marvel. Com o passar do tempo eu acabei criando coragem e comecei a escrever personagens autorais junto com outros escritores e criamos o UNF(Universo Nova Fronteira) onde eu escrevi alguns títulos como Resgate, Ciudad de Los Muertos, entre outros. Aupaba, o continente onde se passam as aventuras desse livro, faz parte do planeta Neijyn-Zalla. No fórum do Culture Pop (http://culturapop.ohx.com.br/) foi iniciado um projeto para que mais escritores criem outros continentes nesse mesmo planeta. Esse é meu primeiro E-book e espero que vocês gostem de ler tanto quanto eu gostei de escrever. Abraço a todos e até o próximo!