Lendas de Portugal
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Alma Lusa
Lendas de Portugal Do fundo do Tempo…
Círculo do Graal
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Introdução
O imaginário Luso é pleno de história e
lendas de um passado longínquo,
partilhado com outros povos e outras
culturas.
Mouras encantadas, castelos e cavaleiros,
romantismo, ressuscitam na voz do povo
que ao redor da luz cintilante da fogueira
e no crepitar de saltitantes fagulhas,
adquirem vida no imaginário profícuo da
mente!
Os textos apresentados nesta colectânea de
lendas, embora com algum rigor histórico,
são obra literária e alguns dos seus
personagens e cenas são ficção;
Fonte de informação:
Voz popular, cancioneiro popular
Autor: Alma Lusa
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VOZ POPULAR, ANSEIO POPULAR!
Só nos resta morrer, soou a voz de D. João de Portugal, morrer sim, disse
El-Rei D. Sebastião com a voz abafada pelo fragor da batalha, mas
devagar, picou o cavalo e embrenhou-se entre as hostes mouras brandindo
a espada, bem o seguiram fiéis cavaleiros para o proteger de infortúnios
que infortúnios trariam a Portugal.
Em manhãs de nevoeiro, nas praias do Algarve, é esperado o Desejado, que
nas terras mouras de Alcácer Quibir se fundiu nas brumas do tempo e da
lenda.
A longa noite começou,
E o povo espera e anseia…
Lenda do Desejado
Batalha de Alcácer Quibir
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Índice
Introdução
I – Afonso I de Portugal
II – Lenda de Egas Moniz
III – Lenda das Amendoeiras em flor
IV – Lenda da Moura de Tavira
V – Lenda da Moura de Faro
VI – Lenda da Moura Saluquia
VII – Lenda das Rosas
VIII – Os Amores de Pedro e Inês
IX – Lenda da Padeira de Aljubarrota
X – Lenda do Desejado
XI - Sagres
Epílogo
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I
Afonso I de Portugal
Corria o ano de 1179, fria e nebulosa era a manhã. Nos seus agasalhos
aconchegado, o santo padre, que de santo só tem o nome, passeava
meditativo; tinha que resolver um problema na longínqua Ibéria, os
Portucalenses, descendentes dos Lusitanos, que outrora tinham combatido
os romanos e derrotado por diversas vezes as legiões de César estavam a
criar problemas e situações embaraçosas, queriam formar o seu reino e
lutar contra a mourama que ocupava terra cristã.
Mas o rei de Leão e Castela, poderoso e ávido daquelas terras, opunha-se,
tinha mais poder e era mais interessante para os jogos políticos que
Alexandre III executava em nome da santa igreja.
É verdade que em 1143 Portugal já fora reconhecido como reino
independente por Afonso VII, pelo tratado de Zamora, mas este
reconhecimento escondia o desejo de Afonso VII se tornar imperador da
Hispânia e tomar Afonso I de Portugal como seu vassalo.
Desejo inocente para quem pensou que Afonso I de Portugal se tornaria
vassalo.
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Enquanto percorria os corredores ladeados de pedra fria, envolto em
pensamentos de questões terrenas, tocou de leve no crucifixo pesado, ouro
e pedras preciosas ornavam o corpo macerado de Cristo e um arrepio
percorreu o seu corpo. Com um desvio brusco de sua cabeça desviou o
pensamento espiritual que no momento o ocupou e novamente se
embrenhou na questão política: que anseio leva o espírito humano a gritar
liberdade e a lutar pela sua identidade?
Bem, se esse povo, com tanto ardor defende a terra que é sua e quer libertar
a terra cristã ocupada pelos infiéis desde séculos, seja declarado e
reconhecido o reino de Portugal e Afonso Henriques seu Rei, vassalo da
Santa Igreja.
Assim nasceu Portugal…
Alma Lusa
Bula Manifestis Probatum.
A Bula rezava assim (em português actual):
Alexandre, Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao Caríssimo filho em
Cristo, Afonso, Ilustre Rei dos Portugueses, e a seus herdeiros, in
perpetuum. Está claramente demonstrado que, como bom filho e
príncipe católico, prestaste inumeráveis serviços a tua mãe, a Santa
Igreja, exterminando intrepidamente em porfiados trabalhos e
proezas militares os inimigos do nome cristão e propagando
diligentemente a fé cristã, assim deixaste aos vindouros nome digno
de memória e exemplo merecedor de imitação. Deve a Sé Apostólica
amar com sincero afecto e procurar atender eficazmente, em suas
justas súplicas, os que a Providência divina escolheu para governo e
salvação do povo. Por isso, Nós, atendemos às qualidades de
prudência, justiça e idoneidade de governo que ilustram a tua
pessoa, tomamo-la sob a protecção de São Pedro e nossa, e
concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso
domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a
dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com
o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos Sarracenos e
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nos quais não podem reivindicar direitos os vizinhos príncipes
cristãos. E para que mais te fervores em devoção e serviço ao
príncipe dos apóstolos S. Pedro e à Santa Igreja de Roma, decidimos
fazer a mesma concessão a teus herdeiros e, com a ajuda de Deus,
prometemos defender-lha, quanto caiba em nosso apostólico
magistério.
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II
Lenda de Egas Moniz
Amanhecia sob o céu cinzento de Guimarães. O exército leonês tomava
posições em redor do fortificado castelo, pressagiando um cerco longo. Na
sua tenda, D. Afonso VII, rei de Leão e Castela, soberano do condado
Portucalense, que agora cercava, olhava o colosso à sua frente e o
movimento dos soldados nos adarves das muralhas, que pela sua largura
mostrava a fortaleza das mesmas, a tomarem medidas defensivas, as fortes
torres de ameias pontiagudas não davam mostras de serem derrubadas com
facilidade, não se avizinhava uma empresa fácil.
Eram estes guerreiros comandados por um indomável infante, Afonso
Henriques de seu nome, filho de D. Henrique de Borgonha, conde de
Portucale e de D. Teresa, filha de D. Afonso VI, rei de Leão, devidamente
educado por Egas Moniz na arte da guerra e da honra, treinado por homens
duros, semeado no seu jovem espírito o chamado da terra que a tudo obriga
e tudo pede, liberdade!
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Este condado era uma fonte de preocupação para D. Afonso VII, que
aspirava ser imperador de toda a Ibéria e que tivera a recusa de D. Afonso
Henriques em prestar-lhe vassalagem, coisa que outros reis peninsulares
não o fizeram, motivo pelo qual, se encontrava a cercar o forte castelo de
Guimarães e seus guerreiros, homens destemidos e duros como o granito
das pedras do castelo, habituados às lides da guerra, que campeavam pelas
terras da antiga Lusitânia a dar peleja à mourama, que as tinha em seu
poder. Desde sempre, estes homens endurecidos tinham sentimentos
arraigados de individualidade e faziam-no sentir ao rei de Leão e Castela
em terras galegas.
D. Afonso Henriques, no alto da torre de menagem, mirava preocupado o
movimento bélico das tropas leonesas que se implantavam em redor do
castelo. Não que tivesse receio da refrega, mas porque as suas condições de
suportar o cerco por muito tempo eram cinzentas, como o céu que os
cobria. Era tão forte como guerreiro, como hábil nas lides da política e fez
jus a essa habilidade. Acercou-se dele, Egas Moniz, seu aio e educador
desde criança, longamente conversaram e o que disseram entre eles ficou
registado nas pedras graníticas que o tempo fez questão de silenciar.
O tempo passava e de surtidas em surtidas mantinha-se o cerco sem sinais
de brandura.
Certa manhã, as portas do castelo abriram-se e Egas Moniz saiu em
direcção à tenda real do soberano de Leão e Castela.
Levava-lhe a promessa, sob a sua palavra, que o infante D. Afonso
Henriques lhe prestaria vassalagem como seu soberano e imperador de toda
a Ibéria. Aceitou D. Afonso VII a palavra de Egas Moniz, homem mui
respeitado e cuja palavra não era duvidosa. Apressou-se a levantar o cerco,
que a leoneses e castelhanos também trazia angústias e desejos de saírem
daquelas terras que os atormentavam e, intimamente, receavam.
Mais forte que a palavra dada, era o anseio independentista de Afonso
Henriques e seus barões.
O tempo passava e a promessa ficou guardada no seu registo. Deu Afonso
Henriques luta a galegos e vitorioso saiu em Cerneja, consolidando as
armas do futuro reino de Portugal.
Não se conformou o velho Egas Moniz, cuja palavra empenhada lhe pesava
no respeito. Despiu-se de suas vestes senhoriais e envergou o hábito dos
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condenados, baraço ao pescoço e descalço, ele e sua família, dirigiram-se a
Toledo, capital do reino de Leão e Castela.
Recebeu-o Afonso VII no Paço real, semblante carregado e pouco satisfeito
com o desenrolar da situação, sentia-se constrangido com o quadro que se
lhe deparava e com a mais que provável independência do condado.
- Vossa majestade venho resgatar a palavra e a honra que empenhei
aquando do cerco a Guimarães, para isso conto com vossa
benevolência e deposito em vossas mãos a minha vida e a de meus
filhos e esposa, quão queridos eles me são. Mais do que a vida, me vale
a honra.
Afonso encolheu-se ainda mais no trono forrado com manto de veludo,
diante da nobreza daquele homem de barbas brancas, envelhecido e de
cabeça baixa em sinal de respeito.
Ponderou, quem deveria ser castigado era o seu primo Afonso Henriques,
que ainda teve a ousadia de lhe dar luta em Cerneja e derrotá-lo, mas a este
não era fácil de chegar, era duro o homem. Sensibilizado com a atitude
nobre do ancião, libertou-o de seu penhor e permitiu-lhe o regresso ao
condado, terra de seus antepassados e de quem se considerava dilecto filho.
- Ide bom homem. Tomara a muitos fidalgos que me rodeiam terem a
dignidade de vosso gesto, certamente me sentiria mais seguro e
apoiado. Contra a corrente do destino não posso lutar, para nada me
servem os exércitos. Quem sente o chamado da terra, merece tê-la, a
ela pertence.
Nuvens passaram sobre Guimarães e sobre Toledo, castelos caíram e
castelos se ergueram, os segredos da história ficaram guardados na rude
pedra granítica e só o vento a compartilha.
Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
Alma Lusa
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III
Lenda das Amendoeiras em flor
Dos reinos árabes do sul da Ibéria, o mais ocidental, o Al-Gharb, tinha a
sua capital em Xelbe, opulenta cidade, próspera e fortemente fortificada
nas margens do rio Arade, porto seguro para o comércio que a partir da foz
subia o rio, vindo do norte de África.
A imponência das muralhas de pedra vermelha, tiravam o ímpeto de
conquista a quem as contemplasse, tal o seu aspecto magnífico, altos muros
serrilhados de grossas ameias, cortados por torres de vigia e barbacãs
envolventes escondiam a beleza de jardins frondosos e fontes de água
corrente que emprestavam frescura ao calor do sol escaldante do meio-dia.
Centro de cultura e arte, mãe de poetas e escritores, as suas ruas e a beleza
das suas casas atraía muitos homens de negócios para o prazer e alegria;
viviam felizes os habitantes da esplendorosa e forte Xelbe, o Islão era rei e
senhor desta região.
Reinava Ibn-Almundin, jovem e guerreiro, amante das artes e da beleza.
Amiúde saía com os seus guerreiros para manter afastadas as ameaças de
vizinhos e invasores. Numa dessas surtidas fez prisioneiro um barco do
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norte da Europa com os seus ocupantes, homens fortes e de aspecto
titânico, loiros e de tez branca. Uma princesa acompanhava-os, de nome
Gilda. Longas tranças da cor do sol caiam sobre os seus ombros, o azul dos
seus olhos rivalizava com a cor do céu do Al-Gharb, limpo de nuvens e
luminoso. Impressionado com tamanha beleza ficou o jovem príncipe que
de amores se tomou.
No castelo, mandou apartar dos prisioneiros a bela cativa e pô-la no Paço
ao seu serviço. O tempo se encarregou de os unir em casamento. Feliz
andava o príncipe com a sua amada e, mais uma vez o tempo se encarregou
de toldar os olhos, outrora tão luzentes, em saudoso olhar na vastidão do
horizonte. Angústia dominava o espírito do jovem que de tal saudade nada
sabia. Pediu auxílio a um dos compatriotas da bela esposa, que lhe disse
estar esta saudosa dos campos brancos de neve do seu País.
Trazer a neve para tal paraíso era impossível, dominava o sol e as
temperaturas eram amenas; um pensamento repentino fez-lhe brilhar o
rosto, cujo sofrimento deixara marcas, plantar amendoeiras pelos campos
em volta do castelo até onde a vista abrangesse. Floriam estas na primavera
e os campos ficavam manchados de branco. Ao resplandecer de um dia
primaveril o jovem príncipe conduziu a sua amada para a varanda do
palácio e até onde a vista alcançava os campos estavam plenos de branco.
Luz e felicidade irradiou do belo rosto e a chegada da primavera era de
regozijo pelo despontar das amendoeiras em flor, branqueando os campos
de Xelbe, debaixo do céu azul, iluminado pelo sol.
Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
Alma Lusa
Xelbe, a pérola de Chencir, é o nome árabe da cidade que hoje é conhecida
como Silves. Foi, ao tempo do Algarve islâmico, a principal cidade do Al-
Gharb, bela e culta. Foi conquistada em definitivo pelos cristãos em 1189
por D. Sancho I, rei de Portugal.
Al-Gharb, significa em árabe, o ocidente, derivou para Algarve em
português. O Algarve foi conquistado em definitivo para o reino de
Portugal por D. Afonso III em 1249, com a tomada de Faro, actual capital
da província. Foi sempre reconhecido como reino independente, mas sem
autonomia; os reis de Portugal intitulavam-se de Rei de Portugal e dos
Algarves.
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IV
Lenda da Moura de Tavira
Serena era a manhã, desabrochava sobre as águas límpidas do rio que
mansamente deslizavam para os braços do largo oceano.
No cimo das muralhas, um vulto esbelto de mulher olhava fixamente o
horizonte, onde o rio abraçava a ria, que de tão formosa seria de nome,
Formosa.
Os seus olhos negros denunciavam a origem moura, norte de África, terra
quente. Era ela filha do Alcaide Aben Fabila, homem duro, habituado às
lides da guerra e que há bem pouco tempo em contenda com os cristãos,
sete cavaleiros tinham tombado às suas armas.
Abeirou-se de sua filha e fitou o seu semblante triste e preocupado. O seu
arrojado empreendimento traria às portas do seu castelo o temível guerreiro
cristão D. Paio Peres Correia, temido e valorizado por muitos. O sangue
dos seus cavaleiros clamava da terra que era sua e as armas estavam
adestradas para a contenda.
- Minha filha, os cristãos em breve estarão às portas do castelo e a sua
ferocidade em combate é por demais conhecida, não garanto que
consigamos levar a nossa causa à vitória.
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As suas armas são por demais fortes e a sua causa alimenta o seu
indómito espírito.
Por força do meu conhecimento de feitiçaria vou encantar-te para que
os cristãos a ti não possam chegar. Poderão ver-te no alto da torre de
menagem, só na noite das festas do seu apóstolo, João, mas não
poderão tocar-te, a não ser que, consigam escalar as pedras desta torre
antes de o sol nascer. Empresa que considero impossível e pela graça
de Alá, voltarei para o teu desencanto.
Ambos, em silêncio, numa comunhão espiritual de valores quedaram-se a
olhar a paisagem que em breve não seria sua. Amava ele sua filha e
saudoso estava de sua pátria.
Os olhos marejados fixaram-se em seu pai, cujo rosto, marcado pelo tempo,
denunciava a angústia e o sofrimento do momento, em sulcos vincado.
- Meu pai, não te esquecerás de mim, volta e liberta-me do tormento
em que vou ficar, quero rever as areias do meu País natal, o meu povo
e o que me é querido, leva-me de volta para onde eu pertenço, para
alegria do meu coração.
Os dias passaram e os defensores do castelo prepararam-se para a mais que
certa tormenta que se avizinhava. Não precisaram esperar muito tempo e o
castelo estava cercado pela tropa cristã.
Reclamavam a terra que era sua e pediam alvíssaras para o rei de Portugal.
A contenda ficou na memória do tempo, o castelo em mãos cristãs, e Aben
Fabila… só pela morte não cumpriria a sua promessa!
Nuvens passaram por cima da torre, as águas corriam para o mar, as pedras
enegreciam…
Ao entardecer de certo dia, cavalgava D. Ramiro, nobre cavaleiro e
valoroso em armas, para o castelo, beirando o rio e mirando os altos muros
cujas ameias sobressaiam no alto da colina.
Inquieto estava o seu cavalo, belo animal criado pelos campos da Lusitânia,
o seu olhar rodeou a paisagem à procura de tal inquietação, o sol já se tinha
recolhido e a lua peregrinava nos céus iluminando a paisagem num misto
de sombras e luz. O seu olhar acompanhou a lua e quedou-se no alto da
torre de menagem. Que via ele? Um vulto de mulher, moura pelo seu trajar,
límpidos olhos negros pediam auxílio, o seu coração bateu acelerado e o
ímpeto levou-o a escalar as altas muralhas, que a ansiedade não lhe
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permitiu chegar às portas do castelo, ou fora o destino do encanto que tal
ousadia criara?
Mas, como tinha vaticinado Aben Fabila, a empresa prometia dificuldades
e insucesso no seu empreendimento.
Corajosamente e com os olhos postos na bela moura, cuja tristeza assim o
encorajava, D. Ramiro trepava pedra a pedra subindo pela torre que parecia
não ter fim… e não tinha!
O tempo passou, a lua circulava pelos céus e iniciou o seu declínio, o
vislumbre do amanhecer espreitou entre as serras no horizonte e as nuvens
pararam em cima da torre cobrindo a bela moura, cujo olhar se encheu de
lágrimas contemplando o arrojado cavaleiro que triste e surpreso via a bela
mulher desaparecer para mais um ciclo do seu encanto, desespero e
angústia alimentou o espírito do jovem cavaleiro.
Tornou-se D. Ramiro bravo no campo de batalha, desbaratando as hordas
de mouros que contra si pelejavam, castelo após castelo caíam às suas
armas, mas a bela moura, essa, alimentou o seu encanto e o seu amor nas
entranhas do seu ser…
Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal.
Alma Lusa
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V
Lenda da Moura de Faro
A azáfama era grande intramuros do castelo que emoldurava o azul da ria,
separada do oceano por um cordão de areia dourada, lembrando a estes
povos de origem árabe as paisagens da sua terra natal. Era Ibn Harun uma
cidade portuária, próspera e muito bem guarnecida de muralhas, cidade
importante do reino Al-Gharb e governado por um emir da dinastia
almóada.
Era este homem pai de uma bela donzela e de um menino que fazia a
delícia de seus olhos, amaciando o comportamento guerreiro e rude, de
quem está sujeito às leis da guerra e da governação.
No cimo da torre de menagem os vigias acompanhavam com olhar
preocupado o serpentear das tropas cristãs, que dos lados da serra se
aproximavam da cidade. As notícias que chegavam falavam de cidades e
castelos que iam sendo tomadas com o avanço dos cristãos. Preparavam-se
as defesas e quem podia sair da cidade tomava rumo para o reino de
Marrocos, que outro caminho já não havia. Aos poucos os guerreiros lusos
chegaram às portas do castelo e montaram arraial no largo que se expandia
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terra adentro, mais tarde chamado de S. Francisco. Eram fortes as defesas e
forte também o desejo de defesa dos guerreiros almóadas. O teatro estava
preparado para a confrontação. De um e de outro lado se preparavam as
estratégias para a refrega que se avizinhava trágica.
Um jovem guerreiro cristão rondava as muralhas na procura de fraquezas
destas quando viu a filha do emir debruçada nas ameias e de olhar fixo em
si. Ficou tomado de amores o jovem pela beleza da moura e de tal modo foi
correspondido que combinaram um encontro intramuros na noite seguinte.
Com a ajuda de um guarda mouro da sua confiança, fez-se acompanhar a
bela donzela de seu jovem irmão e abrindo os portões do castelo ali se
encontraram. Votos de amor eterno e olhar enamorado entre ambos
prometeram tomar votos de união, logo que a batalha terminasse. Quis o
destino que naquele momento as tropas cristãs empreendessem uma surtida
às muralhas, tomando de pânico o guarda mouro. Convenceu o jovem
oficial a bela donzela e seu irmão a acompanhá-lo para a segurança do
arraial cristão. Nas suas costas o guarda mouro fechou os portões apressado
e de pronto deu o alarme.
Quando transpunham as portas do castelo, sob o abraço amigo do jovem,
viu este, estarrecido, como a sua amada e o seu jovem irmão se desfaziam
em fumo confundindo-se no ar fresco da noite. Desolado por semelhante
imagem caiu em profundo desgosto o jovem, enquanto os combates
decorriam junto às muralhas do castelo até à queda deste e entregue a el-rei
Afonso III de Portugal.
No dia seguinte, caminhou o jovem enamorado até às portas onde se tinha
dado o acontecimento fatídico, para ele incompreensível e inconsolável.
Quando transpôs o portão viu um jovem assomar-se de um postigo na
muralha e reconheceu o irmão de sua amada. Esperançoso perguntou:
- Que fazes aí? Onde está tua irmã?
Disse ansioso o jovem.
- Minha irmã e eu estamos encantados nestes muros.
Era triste o seu olhar, pálido o seu semblante.
- Quem vos fez semelhante ignomínia?
A voz alterosa mostrava a intenção de tomar justiça pela afronta.
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- Meu pai, o emir. Soube através de seus espias dos amores de minha
irmã convosco e de vosso encontro secreto e lançou-nos um encanto.
Quando transpusermos os portões do castelo os nossos corpos
transformam-se em fumo e intramuros deveremos viver.
- E até quando dura o encantamento?
Esperançosa era a intenção da pergunta que seu coração alimentava.
- Enquanto o Mundo for Mundo aqui viveremos nestes muros. Épocas
passarão e a lembrança de nosso infortúnio perdurará na lenda.
Desolado o jovem sentou-se entre os arcos dos portões, que mais tarde se
chamaria Arco do Repouso. Num revés a sua vida tinha perdido o tino.
Fixava com olhar vazio os soldados que corriam Vila-a-dentro a tomar
posse da cidade, Ibn Harun, mais tarde chamada cristãmente de Faro.
Santa Maria de Faro, ainda hoje assim denominada e tornada capital do
reino do Algarve.
Com a tomada da cidade de Faro, no ano de 1249 por Afonso III, ficou o
reino do Algarve definitivamente em mãos cristãs e a reconquista iniciada
em 1143 por Afonso Henriques terminara, delineando as fronteiras do reino
de Portugal, que com poucas alterações, ainda hoje se mantém.
Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
Alma Lusa
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VI
Lenda da Moura Saluquia.
Corria forte tropa de cavaleiros pelas planícies do Ardila, com seus mantos
brancos e pendão árabe de seu senhor, em direcção ao Castelo de Al-
Manijah, guarida segura contra as constantes arremetidas dos cavaleiros
cristãos, guerreiros destemidos e ávidos de recuperar as terras de seus
antepassados. Comandava-a o príncipe Bráfama, guerreiro intrépido e de
olhar atento ao mínimo detalhe da planície que se estendia ante si.
Esperava-o sua noiva, a bela moura Saluquia, alcaidessa do Castelo e filha
de Abu-Assam, senhor poderoso do Alentejo islâmico, para as bodas,
momento único na vida da bela princesa e de seu príncipe.
Ao longe, nuvem de pó anunciava a presença de cavaleiros. De pronto o
príncipe mouro preparou-se para o combate que se avizinhava, alentando os
seus guerreiros em nome de Allah.
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Espada em riste brilhando ao sol quente do Alentejo começou a dura luta.
De ambos os lados a bravura sobejava e aos poucos, um a um, os cavaleiros
mouros tombavam no pó da planície, colorindo de vermelho o dourado da
terra que ao longe se unia ao Guadiana.
Ardilosamente os cavaleiros cristãos trocaram os seus mantos pelos dos
mouros e cavalgaram em direcção ao forte Castelo desfraldando o pendão
do príncipe Bráfama.
Do alto da torre de menagem a bela Saluquia avistou a comitiva e o pendão
familiar, e seu rosto iluminou-se de alegria e felicidade pelo seu noivo.
Mandou levantar a porta sarracena que protegia os fortes portões e de
imediato abri-los para o seu amado.
Num ápice a cavalaria cristã entrou para o pátio de armas e de pronto a
peleja começou para espanto dos mouros que tal não esperavam.
Rapidamente se recompuseram e a guarnição do castelo contra atacou com
ferocidade. A bela Saluquia, que antes brilhava de felicidade, toldou seus
olhos e lágrimas tristes correram pelo seu rosto. O seu amado estava morto.
Do alto do eirado da torre contemplava a peleja, que em baixo sorria aos
cristãos. Guerreiros tombavam, gritos enchiam os ares, uns de dor, outros
de vitória…
Perante a iminência da derrota, a bela Saluquia preferiu a morte a cair nas
mãos dos cavaleiros cristãos. Do alto da torre o seu esbelto corpo pairou
nos ares, caindo em direcção aos seus fiéis servidores, que em baixo já
repousavam. Sensibilizados, os cristãos, deram o nome de Moura ao castelo
conquistado, nome que perdura até hoje, terras de Moura.
Assim, em noites de luar, a bela moura passeia no eirado da torre,
perscrutando a planície em busca do seu amado e esperando saudosamente
a sua volta para as bodas.
Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
Alma Lusa
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VII
Lenda das Rosas
Pensativo estava el-rei D. Diniz, que a História chamou de Lavrador, no
balcão do castelo de Sabugal, olhando os campos verdejantes que se
estendiam ao alcance de sua vista.
As medidas que tomara tinham reactivado a agricultura e o pinhal que
mandara plantar nos areais de Leiria travava o avanço das areias para os
campos agrícolas. Dele, cantaria mais tarde em verso, Fernando Pessoa,
“na noite escreve em seu cantar de amigo o plantador de naus a haver…”.
Rei culto, poeta, de sensibilidade única, amante do seu povo, doía-lhe a
miséria que grassava em redor, por isso a sua governação era organizativa e
de desenvolvimento e não guerreira.
Tinha desposado excelente senhora, Infanta Isabel, dama de Aragão e de
mui nobre família real da Ibéria e da Sicília.
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Só lhe sobrepujava a beleza e a formosura de seus gestos, a bondade e a
candura do trato para com os pobres que à volta do paço estendiam a mão à
caridade.
E sempre Isabel se dirigia para o seu meio distribuindo esmolas e pão. Era
querida pelo povo que a chamava de rainha santa.
Incomodado estava o soberano por ver a rainha sempre no seio do povo
praticando misericórdia e afastando-se do paço real, não por maldade, mas
por deveres reais, porque outros deveres clamavam por sua presença.
A neblina envolvia a manhã e o sol de envergonhado se escondia no seu
seio, a rainha dirigia-se vagarosamente para a saída do paço, com o regaço
cheio de pães para os seus pobres, toldou-lhe o passo o esposo real que a
inquiriu brandamente:
- Que levais no regaço, real senhora?
Olhar baixo, a mão procurou auxílio no crucifixo que portava ao peito,
onde Jesus repousa, e uma oração iluminou-lhe o semblante e o seu redor.
Com voz cristalina e segura, respondeu:
- Rosas, senhor, são rosas!
- Rosas, retorquiu D. Diniz surpreso, Rosas em Janeiro? Mostrai-mas!
D. Isabel abriu mansamente as pregas do vestido e de seu regaço caíram
rosas brancas que de frescas e perfumadas encheram o ar de santo cheiro.
Nesse dia os pobres de Santa Isabel foram alimentados com o maná dos
céus e o sol mostrou-se por entre a neblina iluminando de clara luz
semelhante milagre.
Foi esta senhora beatificada em 1516 e canonizada em 1625, pelo serviço
prestado à misericórdia e à fé, mas, se tal não fosse feito, ficaria na
memória do povo sempre como Rainha Santa Isabel, porque de humildes a
gratidão perdura.
Romântico milagre que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
Alma Lusa
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IX
Os Amores de Pedro e Inês
Corriam mansamente as águas do Mondego entre margens verdejantes e
campos edílicos, chilreavam aves canoras e corações apaixonados
deleitavam-se no frescor da manhã.
Poetas recebiam inspiração:
“Mondego que é dos meus amores que nas tuas margens deixei…”.
Bela era a jovem que placidamente passeava nos jardins do Paço, os seus
pensamentos voavam céleres para o seu amado, Pedro, o infante de
Portugal e filho de el-rei D. Afonso, quarto de nome e Bravo de cognome
pelas suas qualidades de homem de armas e sagaz comandante.
Mas nuvens negras pairavam sobre os sonhos de menina e moça; para além
da paixão e do coração, subsistiam a política e a perfídia.
Longos eram os braços da política, meandros insondáveis que à alma
negam a razão!
Castela e Leão não abdicavam de unir à sua coroa a coroa de Portugal, no
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entanto, opunha-se a vontade e o querer indómito de um povo que prezava
acima de tudo a sua independência herdada de seus egrégios avós.
Movimentava-se o polvo da política e os seus braços envolveram Inês que
tomada de amores dera a Pedro quatro rebentos dos quais um partira. Era
Pedro, viúvo de Constança, da qual Inês fora aia, e neste estado confrontou
o velho rei e pai rejeitando a sua vontade de o casar de novo e tomou Inês
para o seu lar.
Vitupério clamava a nobreza, galega gritava a arraia-miúda. El-rei Afonso
enredado nas malhas da trama que se gerava entre a família de Inês e os
nobres de Leão e Castela e de Portugal, seguiu o aviso de seus conselheiros
e mandou matar a bela Inês enquanto Pedro estava ausente, cruel acto de
mentes frias, indigno de amantes e de bem-querer.
Triste estava Afonso de tal acto movido por razões de estado, irado estava
Pedro que seu amor lhe fora tomado.
Quando Pedro ascendeu ao trono, perseguiu e matou cruelmente os algozes
de sua amada, acção que lhe valeu o cognome de Cruel ou Justiceiro.
Em cerimónia tétrica coroou Inês de Castro rainha de Portugal e obrigou a
sua corte a beijar a mão descarnada de seus amores no acto de beija-mão
que só à realeza é devida, passando e inclinando a fronte diante dos seus
restos mortais; assim reza a lenda que de avós para avós, de voz para voz,
perdura no tempo…
Foi depois sepultada em belo túmulo de pedra no mosteiro de Alcobaça,
onde repousa ao lado de seu amado, el-rei D. Pedro, as suas faces de pedra
contemplam-se para sempre.
Assim foi criado o episódio mais trágico e comovente, mas vero, da
História de Portugal, tão bem cantado e imortalizado por Luís de Camões
nos Lusíadas, canto III, 120-136; Inês de Castro a que depois de morta foi
rainha.
Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
Alma Lusa
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IX
Lenda da Padeira de Aljubarrota
Corria o ano de 1385, el-rei D. Fernando, o Formoso, tinha falecido dois
anos antes sem deixar filho varão, sua filha, a infanta Beatriz, casada com
D. Juan I de Castela reclamava para si o trono de Portugal, mas o povo não
acalentava esta pretensão e aclamou como seu rei, D. João, Mestre de Avis,
filho ilegítimo de D. Pedro I, o Justiceiro, rei de Portugal, dando inicio á
dinastia de Avis e inaugurando uma era de glória para a história Lusa. Esta
situação levou a que Portugal fosse invadido pelas hostes castelhanas em
defesa e honra de D. Beatriz, atitude que escondia o anseio de Castela de
tomar para si o reino de Portugal.
Estava calma a noite, iluminada por uma lua que de envergonhada mal
abraçava os campos de Aljubarrota. Pressagiava o que estava por vir. Os
barulhos nocturnos tinham emudecido e o silêncio era cortado pelo crepitar
das fogueiras que no arraial castelhano cortavam os ares e iluminavam
rostos ásperos ávidos de conquista. Já tinha sido repelido D. Juan de
Castela do cerco que pusera a Lisboa, não só pela tenacidade dos
defensores e pelas muralhas mouras, como também pela peste, qual castigo
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do céu, que o obrigou a retirar. Semblante crispado, D. Juan, voltou-se na
sela e disse: Eu volto!
O Condestável de Portugal tinha escolhido o campo em que defrontaria o
soberano de Castela e o seu exército, que de numeroso, (*) tirava a cor dos
rostos de quem o via, porque ao coração acode o sangue amigo! Que em
perigos grandes, o temor é maior muitas vezes que o perigo. D. Nuno
Álvares, açoute de soberbos castelhanos, mirava na noite a imensidão do
arraial inimigo e uma prece fervorosa nasceu do espírito indómito do
guerreiro procurando no Alto o apoio do Altíssimo para a defensa da
própria terra, contra a esperança de ganhá-la de outros! Era válida a sua
empresa e soberba a dos castelhanos, que da terra alheia se queriam
apoderar. Castela não desistia de unificar a Ibéria, por processos
diplomáticos e guerreiros, tinha-se assenhoreado de outros reinos,
fortalecendo o seu poder hegemónico e político.
Clareava a manhã e a lua mansamente retirava-se do céu estrelado para as
bandas do oriente. A azáfama e o berreiro dos castelhanos contrastavam
com o silêncio determinado dos portugueses, que calmamente aguardavam
o avanço dos invasores.
(*) Deu sinal a trombeta castelhana,
Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu o monte Artabro, e Guadiana
Atrás tornou as ondas, de medroso;
Ouviu-o o Douro e a terra transtagana;
Correu ao mar o Tejo duvidoso;
E as mães que o som terribil escutaram,
Aos peitos os filhinhos apertaram.
A primeira ala da cavalaria castelhana começou a mover-se, num estrondo
ensurdecedor e temeroso, indo chocar e estilhaçar-se nas lanças em riste da
ala dos namorados do pequeno contingente português; nova leva de
cavalaria vem atrás, cegos de confiança não se apercebem do desastre á sua
frente. Ante o desaire, D. Juan de Castela, ordena o avanço da infantaria
para apoio dos desalentados cavaleiros; das alas e pela retaguarda aparece o
grosso do exército Luso, qual matilha que em movimento estudado e
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sincronizado cercam e abatem a vitima. Desorientados os castelhanos lutam
pela vida que o ideal de conquista morreu na primeira ala.
A terra bebe o sangue que não é de seus filhos e seca.
D. Juan de Castela retira com o seu séquito e olha para trás para ver o seu
exército a fugir pelos campos de Aljubarrota em defesa da vida e diz: Não
voltarei!
Em fuga desenfreada, sete soldados castelhanos escondem-se num grande
forno, esperando pelo anoitecer para se juntarem ao seu exército; azar o
seu, era o forno pertença da padeira da vila de Aljubarrota, Brites de
Almeida de seu nome, mulher dura e de feições ásperas, que enfrentava
sem medo qualquer homem. Desditosa sorte a destes soldados que
transidos de medo se aconchegavam, pensando estar seguros. Engano o
seu. A padeira que os tinha visto pegou na sua longa e forte pá de madeira e
desancou-os, gritando:
- Esta terra pertence aos portugueses e por ela pelejam e este forno a mim
pertence!
Depois de umas pazadas nos ossos castelhanos, trancou a forte porta de
ferro, prendendo os desditosos, que gemendo choravam a sorte sua. Foram
ajudados por soldados portugueses que os retiraram das mãos da enfurecida
padeira.
Ficou célebre entre as suas gentes a padeira que com uma pá de madeira
tinha desancado sete soldados inimigos, que antes o terror já tinham
espalhado.
Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
Alma Lusa
(*) Os Lusíadas de Luís de Camões
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X
Lenda do Desejado
Grande era a azáfama no corredor dos passos perdidos, fidalgos em trajes
coloridos e elegantes circulavam com ar matreiro, bandeando a cabeça em
cumprimentos de ocasião.
As andanças da política propiciavam novas com o Rei menino, Sebastião
da casa de Avis, neto de D. João III o Piedoso, homem de muita fé e
fervoroso católico. O Rei menino, educado por Jesuítas, seguiu-lhe os
mesmos passos e revelou-se uma personalidade de fé, devoto ao
catolicismo, mas ao mesmo tempo, insensato, motivado pelo ambiente que
se desenvolvia ao seu redor, hipocrisia e adulação. Assim cresceu o futuro
Rei de Portugal, Sebastião. Dele cantou Camões, em presença:
E vós, ó bem-nascida segurança
Da lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena cristandade;
…
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Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual o mais excelente,
Se ser do mundo rei ou de tal gente.
O império estava feito, a fé inabalável, o sonho era cantado em verso e o
olhar fixou-se em África, onde o infiel sarraceno fazia sortidas piratas
sobre a navegação cristã. Conquistar o reino de Marrocos deu espaço de
empresa em seu espírito jovem. O sonho falou mais alto do que a
experiência, o sonho calou a voz de generais experimentados na arte da
guerra, que em desespero o avisavam sobre o mau juízo e insensatez de tal
atitude. Triste sina a de quem não houve a verdade e conselho
experimentado!
Foi triste a manhã nas planuras de Alcácer-Quibir, no etéreo soavam as
palavras “morrer sim, mas devagar”, el-rei D. Sebastião tinha
desaparecido e o seu exército jazia quieto sob o sol escaldante do deserto.
Portugal quedou-se silencioso ante tal tragédia e lágrimas pesadas
encharcaram o chão! A longa noite ia começar.
Lusitânia destemida que enfrentaste as legiões de Roma, pariste Portugal a
haver mundos por descobrir… cresceu, cumpriu… e desfaleceu em
Alcácer-Quibir!
Chorai tágides que el-rei D. Sebastião é morto!
Murmúrios clamam pelo encoberto que virá numa manhã de nevoeiro
ressuscitar a Lusa Pátria da tristeza e da ignomínia e perdura na memória
do tempo, do povo e do poeta:
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!
E o povo nega-se a acalentar; quem vem viver a verdade que morreu D.
Sebastião?
Romântica lenda que perdura nas tradições e lendas de Portugal!
Alma Lusa
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XI
Sagres
Ponto de partida do não retorno
Dos que fizeram repouso no imenso oceano.
Clamam das profundezas pela liberdade,
Pátria de crentes, terra da igualdade,
Desejos antigos de esperanças vãs,
Cálidos dias, alegres manhãs.
Ventos profundos, terras escaldantes,
Peregrinos cansados como dantes.
Ontem, hoje, o amanhã, futuro,
Olhar de criança mais puro.
Choras pelos teus filhos
E os teus filhos choram por ti,
Apontas o dedo ao imenso oceano
Sem fim, sem brandura,
Perecem em terras infindas
E no mar encontram sepultura.
Triste sina, triste fado…
Filhos meus e meu pecado!
Alma Lusa
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Epílogo
As lendas e tradições de um povo definem a sua identidade cultural.
Povo que canta e conta a sua História é um povo com Legado.
Alma Lusa