LÊNIN - SUA VIDA E SUA OBRA (3)

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m L ÊNIN passou 14 meses na prisão. Mesmo ali, sua atividade febricitante prosseguiu, porém. Seus dias eram rigorosamente planificados e plenos de trabalho. Encontrara os meios e modos de dirigir, por detrás das .grades da prisão, a organização que havia criado: expedia cartas, volantes, e até escreveu um folheto A Propósito das Greves e um Projeto de Programa e Explicações Sobre o Programa do Partido Social-Democrata. Nesse primeiro esboço do programa, Lênin formula as tarefas e os objetivos essenciais da luta de fiasse do proletariado: derrubada da autocracia, conquista da liberdade política, tomada do poder pelo prole- tariado, organização da produção socialista. Nesse programa, Lênin dedica grande atenção à questão agrária. Para não se denunciar, Lênin escrevia suas cartas e folhe- tos com leite nas entrelinhas de um livro. E para não deixar-se surpreender por seus carcereiros, modelava pequenos tinteiros de pão que, em caso de perigo, engolia rapidamente. "Comi hoje seis tinteiros", gracejava êle numa de suas cartas. O folheto A Propósito das Greves foi apreendido pelos gendarmes por ocasião do confisco da tipografia clandestina onde era editado. Não foi encontrado até agora. O Projeto de Programa e Explicações Sobre a Programa do Partido Social- -Democrata só foram impressos, pela primeira vez, em 1924. Lênin não só se comunicava com o miando exterior, como também se correspondia com os detentos. Nas svras cartas transluzia-se o otimismo, estão cheias de solicitude pelos cama- radas presos. »

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LÊNIN passou 14 meses na prisão. Mesmo al i , sua

atividade febricitante prosseguiu, porém. Seus diaseram rigorosamente planif icados e plenos de t rabalho.Encontrara os meios e modos de dirigir, por detrás das

.grades da prisão, a organização que havia criado: expediacartas, volantes, e até escreveu um folheto A Propósito das

Greves e um Projeto de Programa e Explicações Sobre o

Programa do Partido Social-Democrata. Nesse primeiro esboçodo programa, Lênin formula as tarefas e os objetivos essenciaisda luta de fiasse do proletariado: derrubada da autocracia,

conquista da liberdade política, tomada do poder pelo prole-tariado, organização da produção socialista. Nesse programa,Lênin dedica grande atenção à questão agrária.

Para não se denunciar, Lênin escrevia suas cartas e folhe-tos com leite nas entrelinhas de um livro. E para não deixar-sesurpreender por seus carcereiros, modelava pequenos tinteirosde pão que, em caso de perigo, engolia rapid am ente. "Com ihoje seis tinteiros", gracejava êle numa de suas cartas.

O fo lheto A Propósito das Greves foi apreendido pelosgendarmes por ocasião do confisco da tipografia clandestinaonde era edi tado. Não foi encontrado até agora. O Projeto

de Programa e Explicações Sobre a Programa do Partido Social-

-Democrata só foram impressos, pela primeira vez, em 1924.Lênin não só se comunicava com o miando exterior, como

também se correspondia com os detentos. Nas svras cartastransluzia-se o otimismo, estão cheias de solicitude pelos cama-radas presos.

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Três semanas após sua prisão, escrevia do cárcere: "Tenho

um plano que mui to me preocupa desde minha pr isão . Equanto mais passa o tempo, mais êle me preocupa. Há muitotempo que estudo um problema econômico (sobre o escoa-mento das mercadorias da indústr ia de transformação parao interior do país) ; coligi certos materiais , organizei um planopara estudar êsse problema; escrevi mesmo alguma coisa, pro-pondo-me fazer aparecer essa obra em volume, no caso de queexcedesse o tamanho de um art igo de revis ta. Não gostariade abandonar êsse trabalho; e 'agora, eis-me colocado, semdúvida, diante desta al ternativa: ou realizar êsse trabalho aqui,

ou entã o renun ciar a êle co m ple tam ent e". <*>Em suas cartas à família, Lênin dá a lista dos livros,

coleções e materiais de que i necess i ta /pa ra seu t raba lho . Oenvio de l ivros à prisão fôra organizado pela irmã de Lênin,Ana I l in i tchna. Lênin es tuda com af inco grande quant idadede materiais , toma um número enorme de notas . Foi assimque começou a trabalhar em sua obra genial , O Desenvolvi-

mento do Capitalismo na Rússia.

No verão de 1896, Lênin soube com alegria que a at ivi-

dade da União de Luta Pela Libertação da Classe Operária.criada por êle, produzia frutos: em Petersburgo, 30.000 têxteisestavam em greve. Era, como o escrevia Lênin em 1905, "ummovimento de massa com um começo de agitação de ruas,de que já part icipava tôda uma organização social-demo-crata". <**>

A 29 de janeiro de 1897, soube-se do resultado do proces-so da União de Luta. Lênin ia ser deportado para a SibériaOrienta l por t rês anos .

Do mesmo modo que os outros condenados no processo

da União de Luta, conseguiu, antes de sua partida para a Sibé-r ia, permanecer três dias em Petersburgo, para pôr em ordemseus assuntos pessoais . Nesse intervalo, teve tempo de promo-ver várias conferências de social-democratas petersburguenses.Em seu l ivro Que Fazer?, Lênin relata que êle, como os outros"veteranos", "t iveram ocasião de part icipar , antes de sua par-

(*) Carta» i le L ênin & Fa míl ia , pág. 14, ed. russ a.(**) Lênin, t. VII, pág. 105. ed. russa.

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t ida para o exíl ie, de uma reunião privada onde se encontraram

os "velhos" e os "novos" membros da União de Luta PelaLibertação da Classe Operária", que "entre os "velhos" (os"decembristas", (*> como os chamavam por gracejo os social--democratas petersburguenses) , e alguns dos "novos". . . mani-festou-se logo uma divergência muito nít ida, e uma polêmicaardente teve início". <">

Os "novos" , d i ferentemente dos "velhos" , achavam quesua tarefa essencial era organizar as "caixas operárias" parasocorrer os grevistas e prover as obras de educação. Ao invés

de lutar pela l iberdade polí t ica e pelo socialismo, ao invés detrabalhar pela cr iação de uma organização de revolucionáriospara dir igir a classe operária, os "novos" preconizavam aidéia de uma associação puramente s indical dos operários .Lênin imediatamente replicou com energia a essas tendências ,percebendo nelas o embr ião do fu turo "economismo".

A 17 de fevereiro de 1897, Lênin part ia para seu longín-quo exíl io, na Sibéria. A pedido de sua mãe, foi autorizadoa dir igir-se para lá individualmente, às suas próprias custas .

Em 4 de março, Lênin chegou a Krasnoiarsk, onde perma-

neceu cêrca de dois meses, à espera de que lhe designassemo luga r de seu exíl io . Util izou a fu n d o êsse intervalo detempo, trabalhando todos os dias na r ica biblioteca de G. Iúdin,comerciante b ;bl ióf i lo de Krasnoiarsk , e tomando notas parasua obra, O Desenvo lvimento do Capitalismo n a Rússia. EmKrasnoiarsk, trabalhou também no seu art igo "Para Caracteri-zar o Romant ismo Econômico" , onde demons trava que as con-cepções econômicas dos populistas liberais, que dissertavamtanto sôbre os "caminhos part iculares" do desenvolvimento daRússia, eram na realidade uma variedade russa das concepçõespequeno-burguesas, utópicas e reacionárias do economista suíçoSismondi, do comêço do século XIX. Lênin aproveitou igual-mente sua estada em Krasnoiarsk para encontrar-se com osmarxis tas para lá deportado*. Disfarçado de carroceiro que

(*) L ê n in e s e u s c o m p a n h e i& s d e a rm a s d a « U n iã o de L u ta »de Po te rsburgro fo ram de t idos em dezembro de 1895; da í o nomed e « d e c e m b r i s t a s » .

(**) L ên in: Ob ras l ísojlftid as, t. I, lo «arte . pág. 183, od. fran -cesa , 1941. 7

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trouxe a bagagem dos presos, conseguiu penetrar na prisão e *

palestrar com Fedosseiev, que ali se encontrava encerrado.Enquanto Lênin prosseguia em seus trabalhos científicosna biblioteca e mantinha correspondência ativa com a famíliae com os amigos, o pânico apoderou-se do Departamento dePolícia. O inspetor das prisões da província de Ienisseisk,não tendo descoberto entre as levas de deportados o "criminosopolí t ico V. Uliânov", deu o alarme. Isto deu lugar a af l i tospedidos de informação, pelo telégrafo. A Administração daPenitenciária Central , o Departamento de Polícia, o Governadorda província de Ienisseisk, o chefe de polícia de Krasnoiarsk

e o Governador-Geral de Irkutsk envolveram-se no assunto.Por fim, Lênin foi "descoberto" em seu domicílio, na casade Popova, onde se instalara assim que chegou a Krasnoiarsk.

Como lugar de exílio, designaram a Lênin a aldeia deChuchenskoie — distrito de Minussinsk, província de Ienis-seisk — distando mais de 500 verstas da estrada de ferro. Em8 de maio, chegou a essa aldeia, onde devia passar cerca detrês anos.

"£ uma aldeia grande, que consiste de várias ruas bastantesujas, poeirentas, — tudo como deve ser — escrevia Lêninà irmã. — Situada na estepe, não possui jardins nem vegetaçãoalguma em geral. Está cercada de... estéreo. Em vez de levá-lopara o campo, jogam-no simplesmente em volta da aldeia, demodo que para sair de lá é preciso quase sempre atravessarcerta quantidade de estéreo".

Era duro viver no exí l io, afastado do trabalho revolu-cionário direto . "Sim, invejo-te — escrevia Lênin, em f in s de1898, a sua irmã Maria Ilinitchna, que partira para a Bélgica.— Nos primeiros tempos de meu exíl io, t inha até resolvido

não pegar no mapa da Rússia nem no da Europa: um amargorpungente invadia-me às vezes quando, com os mapas desdo-brados, eu m e pu nh a a examinar inúmeros pontos pre tos. N omomento, vai-se indo, suporto a coisa com paciência e consultoo mapa com mais calma; muitas vêzes, chego a sonhar emqual desses "pontos" seria interessante estar um dia. Durante

I '•) Cartas de L ênin à Fa m ília, p úg. 66. ed. ru ssa .

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a primeira metade de meu exíl io, eu olhava de preferência para

trás, mas agora olho para-a frente. Enfim, quem viver, verá".<*>Nada, porém, podia quebrantar o ot imismo e a alegriade viver de Lên in. Ne sse buraco per did o e inculto, L êninrealiza um grande trabalho teórico; reparte rigorosamente seutempo para uma série de escritos literários e, antes de maisnada, para terminar seu l ivro O Desenvolvimento do Capita-

lismo na Rússia. Relê as obras de Marx e Engels, toma conhe-cimento das novidades da literatura marxista em línguas estran-geiras que ele conseguia obter; lê muitas obras pertencentesa vários ramos do saber, revistas e jornais russos e estrangeiros,

aperfeiçoa-se no conhecimento das línguas estrangeiras, faztraduções. Em princípios de maio de 1898, N. Krupskaia,igualmente presa por causa da União de Luta, chegou a Chuu

chenskoie. Fora autorizada a passar seus agos de exílio comLênin. Lênin, auxil iado por Krupskaia, t raduziu do inglês osdois volumes da obra de S. e B. Webb: A Teoria e a Prática

do Sindicalismo Inglês.

Trabalhando com intensidade, Lênin sabia também apro-veitar seus instantes de repouso. Comprazia-se em dar longos

passeios, gostava apaixonadamente da caça, jogava xadrez comafinco e pat inava. Relia Púchkin, Lermontov, Nekrássov eoutros clássicos da literatura russa, que êle conhecia perfei-tamente e amava muito.

Estudou assiduamente o campo siberiano, suas condiçõesde existência, a situação do campesinato. Soube igualmenteaproveitar seus conhecimentos de Direito. Lênin depressaadquiriu autoridade entre os camponeses, que ajudava a defen-derem seus direitos contra o arbítrio das autoridades locaise dos ricos.

Naqueles anos, havia nesse exílio da Sibéria um grandenúmero de social-democratas. Em Chuchenskoie propriamente,além de Lênin, não havia senão dois deportados; mas no dis-trito a que pertencia, o de Minussinsk, cumpriam pena seuscamaradas que, implicados no mesmo processo, haviam sidocondenados pelo t rabalho revolucioaáí io em Petersburgo. Sob

l*) C ar ta s <!<- Lê nji i à F am íl ia , p ;igs. 144-145, ed. ru s sa ,

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êste ou aquele pretexto plausível , organizavam-se às vêzesencontros e conferências comuns, que eram, aliás , muito anima-

dos. Lênin estabeleceu contato com os social-democratasdeportados, dispersos pelos r incões perdidos do Norte e daSibéria.

A despeito das dif iculdades, • Lênin conseguiu pôr-se emligação com o grupo Libertação do Trabalho no estrangeiroe com os centros da vida revolucionária na Rússia; conseguiureceber l i teratura cland estina. Ele pró pri o escreveu art igos efolhetos para a imprensa i legal .

Certo dia, irrompendo em casa de Lênin, os gendarmesprocederam a uma busca. Graças à circunspeção e à presençade espír i to de Lênin, a busca não deu resultado.

Lênin mantinha uma correspondência bastante vasta comsua família, com ^amaradas exilados, o grupo Libertação do

Trabalho, os social-democratas da Rússia. As cartas eram paraêle o meio mais importante de l igação, de informação e dedireção. Só uma parte dessas cartas foi conservada. As maisdiversas questões al i eram tratadas: a f i losofia marxis ta e apolí t ica, o trabalho do Partido, os fatos novos no movimentooperário, os novos l ivros, os planos de futuro, etc.

Reveste-se de particular interesse a correspondência deLênin com Lêngnik sobre questões de f i losofia. Lêngnik, quefôra implicado no processo da União de Luta, passava seuexílio na aldeia de Kazatchenskoie, na província de Ienisseisk,e entusiasmava-se com K ant e H u m e. Lênin soube do fato , eentabulou-se uma correspondência muito animada (até agoranão fora m encontradas as cartas de L ê n in ) . "Em suas cartasde respostas às m inhas, Vladim ir I li tch — diz-nos Lêngn ik — . . .af i rmou mui to del icadamente , mas também de maneira bas-tante explícita e resoluta, ser contra o ceticismo de Hume e o

idealismo de Kant, opondo-lhes a f i losofia otimista de Marxe Engels . Demons trava com ardor que não pode haver nenhum

limite à ciência huma na, a qual deve progredir e desfazer-se da

escória idealista b urguesa à medida que cresce o movim ento

operário revolucionário. Este deve não só determinar a condutae a concepção do mundo da própria classe operária — concep-ção inteiramente clara, transbordante da alegria de viver e que

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sedu2 por sua beleza simples — mas tamb ém "determinar da

maneira mais precisa a conduta e a concepção de seus inimigosde classe e obrigá-los, em vez das teorias e sonhos abstratos enebulosos, a servirem-se da linguagem dos fatos e do fogo dasba rric ad as ". <*>

A atividade teórica e li terária de Lênin, apesar de muitodificultada pelas duras condições do exílio, atingira um graude desenvolvimento sem precedentes. No decurso dos trêsanos de exílio escreveu mais de trinta trabalhos, entre os quais:O Desenvo lvimento do Capitalismo na Rússia; As Tarefas dos

Social-Dem ocratas Russos; Para Caracterizar o Rom antismo

Econômico; Que Herança Renegamos Nós?; O Capitalismo naEconomia Rural; O Protesto dos Social-Democratas da Rússm;

O Projeto de Programa de N<osso Partido. Nesses escritos,Lênin levanta e resolve os problemas essenciais do movimentooperário: elabora o programa e a tática do Partido, continuaresolutamente o combate ao populismo, conduz a ação contraos "marxistas legais", ergue a bandeira de luta contra o "eco-n o m i s m o " .

A primeira tarefa que Lênin real izou no exí l io foi dar

um balanço no trabalho efetuado para poder, nessa base, t raçaras novas tarefas. Isso era tanto mais necessário por quanto,dentro em breve, reunir-se-ia o I Congresso do Part ido.

Para esse fim, Lênin escreveu em fins de 1897 seufolheto histórico As Tarefas dos Social-Dem pcratas Russos,

no qual generalizava a experiência da União de Luta de Peters-burgo e fundamentava teoricamente o programa polí t ico e atática da social-democracia revolucionária da Rússia. Lêninmostrava o liame indestrutível que une a atividade socialistae a democrática do Partido marxista; explicava a atitude daclasse operária a respeito dos partidos ^de oposição e dos par-tidos revolucionários na revolução democrático-burguesa; mos-trava o papel de vanguarda do proletariado nessa revolução;apresentava a insurreição armada como meio de derrubar aautocracia; frisava a importância decisiva da teoria marxistapara o part id o oper ário. É precisamente nessa obra qu e fo i

(«) Caletftnea L ênin, t. I, pág s. 204-206 ed. ru ssa .

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dada pela primeira vez a conhecida fórmula de Lênin: "sem

teoria revolucionária, não há movimento revolucionário". Ofolheto serviu de plataforma tática para todo? os social-demo-cratas que militavam então na Rússia.

Constantemente preocupado com a tarefa imensa que cabiaà social-democracia tussa, Lênin, apoiando-se na análise davida econômica do país, já nessa época previra a crise inevitávelque iria seguir-se ao "progresso" da indústria.

Escrevia: "Os social-democratas russos devem cuidar deque essa bancarrota encontre o proletariado russo mais cons-ciente, mais unido, com a compreensão das tarefas da classe

operária russa, com capacidade de dar uma réplica à classecapitalista qu e/ em nossos dias, au fer e lucros exorbitantes eprocura constantemente, descarregar seus prejuíz os nas costasdos operários, com capacidade de pôr-se à frente da demo-cracia russa num a luta decisiva contra o absolu tismo ' policial,que ata de pés e mãos os operários russos e todo o povorusso." <*>

Nesse folheto, Lênin dirige um apêlo vibrante a todos oscírculos operários e grupos social-democratas dispersos pelaRússia, no sent ido de unirem-se num Part ido social-democrataún ico .

O fo lheto fo i ed i tado em Genebra , pe lo grupo Libertação

do Trabalho, em 1898, mas não a tempo de ser publicado nadata do I Congresso do Part ido . O proje to de programa doPart ido, redigido por Lénin na prisão, também não foi apre-sentado no Congresso .

Lênin consagrou os dois primeiros anos de seu exílio aterminar sua importante obra cient íf ica O Desenvolvimento

da Cap italismo na Rúítfa, que contumava a derrota ideológica

do populismo.• Com extremo escrúpulo e precisão científica, que parece-

riam impossíveis na prisão e no exílio, Lênin estudou tôda aliteratura relativa ao sistema econômico da Rússia; verificoucom o maior rigor, elaborou com espírito crítico e classificoude maneira nova a imensa quantidade dos materiais estatísticosoficiais e d os zemstvos. Em princípio d e agosto de 1898, o

( • ) L ê n i n : O b r a s K s o o l h i d n « , t . I , p á s . 2 08 . E d i t o r i a l V i t ó r i a ,Kio. 1955.

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* •

manuscrito estava praticamente pronto. Á part ir de então, Lênin

pôs-se a dar os últ imos retoques nos capítulos que ia enviandoà t ipografia. A 30 de janeiro de 1899 êsse l ivro his tóricoestava terminado, e em fins de março apareceu sob a assinaturade "Vladimir I l in" .

Em seu livro, Lênin persegue o adversário, passo a passo,inf l ige- lhe golpes fu lminantes , a té der ro tá- lo def in i t ivamente .Em prim eiro lugar, Lênin denuncia .a pobreza das concepçõesteóricas dos populistas na questão dos mercados, e dá logodept is um rápido e br i lhante resumo da teor ia marxis ta dareprodução. Aborda em seguida o ponto centra l , a economiacamponesa, demons trando de maneira i r refu tável que o capi-tal ismo desenvolve-se na comunidade camponesa. Sem se deteraí, Lênin analisa a penetração do capitalismo na economia doslatifundiários e observa de perto o desenvolvimento do capi-tal ismo na indústr ia (os pequenos ofícios camponeses, a manu-fa tura , a grande indús t r ia mecânica) . O l ivro termina comum apanhado sôbre a formação do mercado in terno na Rúss ia .

O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia foi a culmi-nação de um imenso trabalho de longos anos, dedicado ao

estudo do sistema econômico russo, que Lênin já iniciara emSamara. Em 1894, em seu l ivro O Que São os "Amigos do

Povo...", Lênin havia colocado diante dos marxistas russos estatarefa teórica: "traçar um quadro com pleto de nossa realidade

como sistema determinado das relações de produção, mostrar

a necessidade da exploração e da expropriação dos trabalha-

dores com êsse sistema, indicar a salda que o desenvolvimen to

econômico sugere" S*~> Dessa tarefa Lênin desincumbiu-se nolivro O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia.

Essa obra de Lênin teve como resultado destruir a baseessencial , os fundamentos das concepções pseudocientíf icas dopopulismo. Lênin demonstrou em seu l ivro que "o desenvol-vimento das relações agrárias na Rússia segue o caminhocapitalista, tanto na economia dos la t i fundiár ios como naeconomia camponesa, tanfyo fo ra como den t ro da "comunidade" .Eis um pr imeiro fa to . Que êsse desenvolvimento já determinou,

f' a

(*) Lênin, t. I, p&g. 278, 4» ed. JUSSft.»

<«•

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sem regressão, não qualquer outro caminho de desenvolvimento,m as o caminho capitalista, não qualquer outro agrupamento declasse, mas um agrupamento capital ista. Eis outro fato. Nissoresidia o objeto da discussão com os populistas. Isso tinhaque ser demonstrado. E foi demonstrado".

Mas o alcance do livro não se limita absolutamente a isso.Lênin expôs nele a situação e o papel das diferentes classes naRússia d e f in s do século X IX , e notadam ente do p roletariadoe do campesinato.

Em 1907, em seu prefácio à segunda edição de O Desen-

volvimento do Capitalismo na Rússia, Lênin escrevia: "A aná-

lise que, neste trabalho, fazemos do regime econômico e sociale, portanto, da estrutura de classe da Rússia, de acordo com aspesquisas econômicas e o estudo crítico dos dados estatísticos,encontrou agora sua confirmação na ação polí t ica aberta detôdàs as classes dur ante a revolução. O pap el d irigen te doproletariado manifestou-se em tôda a sua ampli tude, bemcomo o fato de que a força do proletariado no movimentohistórico é inf ini tamente maior que seu peso numérico noco nju nto da p opu laçã o. A base econômica dêsses dois fatosfo i de m ons trada na pre sen te o br a" . <**>

Lênin indica em seguida que a revolução revelou comtôda a precisão desejada a dualidade da situação e a dualidadedo papel do campesinato. Tornaram-se visíveis as hesitaçõesdo campesinato entre o proletariado e a burguesia, bem comoas raízes profundas do espíri to revolucionário do campesinatoConsiderado em sua m assa . "A base econômica dessas duascorrentes no campesinato foi demonstrada na presenteobra", (***> escrevia Lênin.

Foi nessa análise cientíjjca que se baseou a tática dos

bolcheviques na revolução de 1905-1907.Terminado o livro, Lênin continuou a tratar de diversos

temas econômicos: escreveu um grande artigo intitulado "OCapitalismo na Economia Rural" e diversas críticas publicadas

(• ) L ênin , t. XIV , pif i . 213, ed. rarsa.

(**) L criin, t: II I, pá s. 0. 4» <?d. ru ss a.

(*••) Ibid., pág. 10.

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em revistas editadas pelos "marxistas legais". Pelo verão de1899, deixa de colaborar nessas revistas. Lênin está inteira-mente absorvido pela luta contra o revisionismo, pela elaboraçãode um plano de trabalho ulterior,,

Estava em seu último ano de exílio. Por essa época, omovimento social-democrata internacional presenciou o surgi-mento de fenômenos novos: o revisionismo entrava em cenaabertamente, agressivamente. Em princípios de 1899, naAlemanha, surgia o famoso l ivro de Bernstein: As Premissas

do Socialismo, no qual a teoria marxista era revista; em junho,o "socialista" francês Millerand entrava para o govêrno burguês.

Achando-se embora a milhares de quilômetros dos centrosdo movimento operário, Lênin acompanha vigilante os proces-sos que nêle se operam. Constata que os bernsteinianOs surgi-dos na Alemanha não recebem ali uma resposta decidida, ®iea ofensiva dos oportunistas adquiriu caráter internacional 'Lênin constata que os "marxistas legais" russos, que haviamcomeçado por fazer, como se disse, l igeiros "retoques" emMarx, acabariam al terando completamente o marxismo numsentido burguês. Em suas cartas do exílio, êle escrevia que oque o inquietava era Plecânov não se declarar abertamentecontra a revisão da f i losofia do marxismo por Bernstein, Struvee outros; af irmava que era necessário romper a al iança entreos marxistas revolucionários e os "marxistas legais". Ser-nos-á v

preciso, escreveu Lênin, declarar uma guerra verdadeira, séria,aos crí t icos de Marx.

O s ataques dos revisionistas contra a filosofia" ma rxistainci taram Lênin a ocupar-se com fi losofia. "Vladimir lê muit ís-simo tôda espécie de f i losofia (é agora sua ocupação oficial):Holbach, Helvét ius, etc.

Divirto-me repet indo-lhe que logo terei mêdo de falar-lhe,de tanto que êle acabará penetrado dessa f i losofia", <*> escreviaKrupskaia à mãe de Lênin, no verão de 1899.

Exigente ao mais al to grau para consigo mesmo, Lêninnão se contentava com os,conhecimentos que possuía. Pôs-sea ler a l i teratura f i losófica. "Reconheço muito bem minha

(*) Cartas do Lênin ã Família, págr. 217 cd. russa.

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ignorância em filosofia, e não tenho intenção de tratar dessamatéria enquanto não tiver completado meus conhecimentos

— escrevia êle em 1899- — E é justamente o que estou fazendo,tendo começado por Holbach e Helvét ius, e propondo-meabordar Kant ."

Lênin aguardava com impaciência o livro de Bernstein.Foi-lhe entregue, af inal . Após ter l ido somente a metadedele, Lênin escreveu, cheio de cólera e de indignação: "Oconteúdo dêste livro choca-nos cada vez mais. Teoricamente,é de uma fraqueza incrível; repete as idéias de outros. Frasessôbre a crítica, e nem sequer a menor tentativa de criticar de

maneira séria e independente. Praticamente, é oportunismo(ou melhor, fabianismo: o original de uma série de af irmativase de idéias de Bernstein encontra-se nos últimos livros do casalWebb), um oportunismo e um possibi l ismo sem l imites, eademais um oportunismo pusilânime, pois Bernstein não quertocar diretamente no programa."

O que inquietava sobretudo Lênin, eram as notícias querecebia sôbre a atividade dos "economistas". Lênin pronun-ciara-se violenta e resolutamente contra as primeiras manifes-tações do "economismo" já na União de Luta Pela Libertação

da Classe Operária, em Petersburgo. No decorrer desses anos,o "economismo" havia-se espalhado, se t ransformado numatendência oportunista especial, submetendo à sua influência, umaapós outra, as organizações social-democratas locais.

Em março de 1898, realizou-se em Minsk o I Congressod o P . O . S . D . R . O C on gres so p ro c la m o u a f u n da ç ã o d oPart ido Operário Social-Democrata da Rússia. Mas não conse-guiu agrupar num só partido os círculos e organizações marxis-tas dispersos. Como no passado, reinavam os métodos artesa-nais. Após o Congresso, a confusão ideológica nas organiza-ções locais continuou a aumentar; era assim que se criavamcondições favoráveis ao fortalecimento do "economismo" nomovimento operár io .

Lênin compreendia melifcr que ninguém que os "econo-mistas" const i tuíam o principal grupo oportunista no movimento

(*1 Lên in . t . XXVII I . pág . 40 , ed . russa .(*•) Cftrt»« de L ênin h Fam ília, pá gr 230. ed. russ a.

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operário da Rú ssia. Avaliava per feita m ente o grave perig oque os "economistas", passariam a representar , se não se tra-

vasse contra êles uma luta enérgica, intransigente. E assimque em 1899 recebeu o manifes to dos "economis tas" , chamadoO Credo, Lênin reagiu resolutamente, tomando a iniciativa daluta contra eles . Para êsse f im, Lênin redigiu o "Protesto dosSocial-Democratas da Rússia", que, por sua iniciativa, foidiscutido e adotado, no verão de 1899, numa conferência dossocial-democratas deportados do dis tr i to de Minussinsk. Lêninfulm ina os "economistas" p orq ue renegam" o ma rxismo , con-tes tam a necess idade de um par t ido pol í t ico independente paraa classe operária, porque querem fazer da classe operária umapêndice polí t ico da burgu esia. "Estam os certos — escreviaLênin — de que todas as tentativas no sentido de introduzir asconcepções oportunistas na Rússia encontrarão uma -réplica tãoresoluta por parte da imensa maioria dos social-demdcratasrussos."

O "Protesto" convidava os social-democratas a concentra-rem todas as suas forças na organização do Partido. Foi difun-dido entre as organizações marxis tas de tôda a Rússia, bemcomo nas colônias dos depo rtados polí t icos m arxis ta s . O

"Protes to" desempenhou um papel cons iderável na lu ta contraos "economis tas" , do mesmo modo que para a reunião dossocial-democratas revolucionários no terreno da organização.Teve uma " impor tância enorme para o desenvolvimento dopensamento marxis ta e do par t ido marxis ta na Rúss ia" .

Os "economistas" russos pregavam as mesmas concepçõesque os inimigos do marxismo nos part idos social-democratasno es trangeiro , onde eram chamados de berns te in ianos . Porisso, a" luta d e Lênin contra os "econo mistas" fo i ao me smo

tempo uma lu ta contra o opor tunismo in ternacional .Quanto mais próximo es tava o f im do exí l io , tan to maisLênin concentrava sua atenção nas tarefas da ação revolucionáriaulter ior . Em seu exíl io, Lênin meditara e esboçara um plano

C) Lên in , t . I I , pág . 481 , ed . russa .

( « ) H i s t ó r i a d o P . C . ( b ) d a C . K . S . S . , 2« e d . , p á g . 1 2, E d i ç õ e sHorizo nte L td a., R io, 1947.

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para fundar uni part ido proletário revolucionário. Esse plano

foi exposto em seus notáveis art igos "Nosso Programa", "NossaTarefa Imediata", "Questão Premente", que êle dest inava àRabótchaia Gazieta, proclamado órgão central do Part ido noI C o n g r e s s o d o P . O . S . D . R .

Lênin formula essa tarefa importante da social-democraciarevolucionária: luta implacável contra os "críticos" do mar-xismo, defesa constante da pureza da teoria revolucionária.Ao mesmo tempo, afirma da maneira mais enérgica a necessi-dade de uma fecunda e constante elaboração do marxismo, anecessidade de enriquecer a teoria marxista com a experiência

prát ica do movimento operário."Não consideramos em absoluto a teoria de Marx — escre-

via êle em seu art igo "Nosso Programa" — como algo deacabado, de imutável; estamos convencidos, pelo contrário, deque essa teoria somente colocou as pedras angulares da ciênciaque os socialistas devem desenvolver em todas as direções, senão quiserem ficar atrasados em relação à vida. Pensamos que aelaboração independente da teoria de Marx é part icularmentenecessária para os socialistas russos."

Lênin mostra que para cumprir essas tarefas históricasa classe operária russa deve suprimir os métodos artesanais dotrabalho e criar uni part id o proletário revolucionário. Poroutro lado, frisa Lênin, os marxistas russos não devem copiarmecanicamente os part idos operários da Europa Ocidental ;precisam elaborar, com espírito crítico, a experiência do movi-mento operário internacional e russo; precisam seguir umcaminho próprio, independente, para construir seu part ido.

"A história do socialismo e da democracia na EuropaOcidental , — escrevia Lênin em seu art igo "Nossa Tarefa Ime-diata" — a história do movimento revolucionário russo, a expe-riência d e nosso mo vimen to op er ár io , tal é a matéria, quedevemos assimilar para elaborar princípios de organização euma tática racionais de nosso Partido. A "elaboração" dessamatéria deve, entretanto, ser fei ta de maneira independente,

(•) L ênin , t. II. pág. 492, ed. rus sa.

56W .

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pois não se poderia encontrar em parte alguma modelos jáp ro nt os ." <*>

Segundo Lênin, a arma essencial da reunião dos social--democratas no terreno ideológico e orgânico, a arma destinadaa criar um partido, é um jornal polí t ico para tôda a Rússia."Pensamos — escrevia Lênin nesse mesmo art igo — que atual-mente a tarefa mais urgente é proceder à solução dêsses pro-blemas e que para esse f im devemos traçar-nos êste objetivoimediato : fundar um órgão do Partido que apareça com regu-

laridade e seja estreitamente ligado a todos o s grupos locais.

Pensamos que tôda a atividade dos social-democratas deve visar,durante o futuro próximo, ao cumprimento dessa tarefa."(**>

Um dos últ imos escri tos de Lênin, datando do exíl io, foio "P ro je to de P rograma de Nosso Par t ido" (1899) . Lên injulgava necessário introduzir retificações e acréscimos essenciaisno proje to de programa do grupo Libertação do Trabalho

( 1 8 8 7 ) .Em seu "Proje to de Programa de Nosso Par t ido" , Lênin

fr isava a tendência fundamental do capi ta l ismo: a d iv isão dopovo em burguesia e proletariado. "O crescimento da miséria,da o pressão, da servidão , d a hu m ilhaç ão, cía' exp loraç ão" , <*">

essas célebres palavras de Marx — dizia Lênin — precisam serin t roduzidas no proje to de programa do Par t ido , pr incipal -mente agora que os bernsteinianos e outros "revis ionis tas"e "crí t icos" de Marx pronunciam-se contra a teoria marxis tada paupenzação" . Lênin propôs , igualmente , def in i r mais n i t i -damente a luta de classe do proletariado, indicar os objetivosdessa luta, o caráter internacional do movimento operário.Acred itava dever fr isar-se part icula rme nte no prog ram a d oPartido o sentido polí t ico da luta de classe do proletariado

e sua- tare fa ime diata: a conquista da l iberd ade polí t ic a.Lênin achava que se devia caracterizar mais precisamentea natureza de classe do absolutismo russo e demonstrar anecessidade de sua derrubada pela violência, no interesse de

(*) L ênin , t. IX, p ig , 497, ed. russ a.

( "> I b l d . , p t g . 4 6 S .(•••) Ibld . , p i ff . 5ÍS.

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todo o desenvolvimento social . Lênin exigia que se indicasseno programa as par t icu lar idades do desenvolvimento do capi-tal ismo na Rússia, as tarefas polí t icas part iculares e os meiosde lu ta da dasse operár ia que delas decorrem. Formulou osprincípios do programa agrário dos marxis tas russos, desen-volvendo es ta idéia : o par t ido do prole tar iado deve apoiaro campesinato, que tende a derrubar a autocracia e a l iquidartôdas as sobrevivências da servidão.

O exí l io de Lênin chegava ao f im. "Vladimir I l i tch ,— escreveu Krupskaia em suas recordações sobre os últ imosmeses dêsse exíl io — perdera o sono e emagrecera muito. No

decorrer dessas noites em claro, meditou seu plano em todosos detalhes. . . Quanto mais a coisa andava, tf into mais a impa-ciência se apoderava de Vladimir I l i tch, tanto mais êle f icavaávido de trabalho." C>

A 29 de janeiro de 1900, terminava o exíl io de Lênin.No mesmo dia, deixou a aldeia de Chuchenskoie, a f im deproceder, sem demora, à aplicação de seu plano de luta parafundar um par t ido marxis ta : cr iar um jornal marxis ta paratôda a Rússia. Esse jornal foi a Iskra ( " A C e n t e l h a " ) , c u j opr imeiro número c i rculou em dezembro de 1900.

Durante todo o ano de 1900, Lênin desenvolveu umtrabalho imenso para organizar êsse jornal . Este devia sereditado no estrangeiro, fora do alcance da polícia tzaris ta.Mas era preciso primeiro estabelecer l igações com um certonúmero de social-democratas na Rússia, assegurar seu apoio,designar os futuros agentes da Iskra, combinar seu trabalho,levantar os fundos necessários ao jornal .

Tinha s ido proib ida a Lênin a permanência nas duascapitais e em todos os centros industriais. Por isso, êle foi

f ixa r residência em Pskov, ma is pe rto de Pete rsbu rgo. D evolta do exíl io, êle se deteve, de passagem, em Ufá, Moscoue Petersburgo, onde se encontrou e se entrevis tou com ossocial-democratas locais . A 26 de fevereiro, Lênin chegavaa Pskov, que ia tornar-se o centro de atividade dos social--democratas revolucionários , seu quartel-general . Foi lá que,

(*) N . K rup ska ia: Iteoord acürs de I.én in, pág. 35. ort. ru ssa .

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cm abril , se realizou uma conferência onde foi discutido o

projeto redigido por Lênin de uma declaração-programa dafutura redação do jornal . Era lá que mil i tan tes do Par t ido ,chegados de diferentes lugares , vinham ter com Lênin parapedir um conselho, uma indicação, para entrevistar-se comêle . Era de lá que Lênin em preendia viagens pelas outrascidades da Rússia. Durante esse período, vis i tou Riga, Podolsk,Ní jn i -Novgórod, Ufá , Kazan e Samara , es tabelecendo por tôdaparte l igações e recrutando part idários de seu plano de criaçãode um jornal polí t ico para tôda a Rússia. Duas vêzes, Lêninvis i tou i legalmente Petersburgo. Por um tr iz, sua segunda

viagem não fêz malograr o p lano de cr iação de um jornal ,pois Lênin fo i prêso na rua .

Lênin evocará mais tarde essa pr isão: "Aga rraram -mepura e s implesmente pelos cotovelos , de modo que me fo iabsolutamente impossível t irar fôsse o que fôsse do bôlso parajogar fora . E no car ro que me levava embora , seguraram-medurante todo o trajeto pelos cotovelos". <*> Ele tinha consigoa lista das ligações com o estrangeiro, escrita com tinta simpá-tica sôbre uma fatura. Por fel icidade, os gendarmes não pres-taram atenção a essa fatura, e, depois de haverem detido Lêninpor dez dias , puseram-no de novo em liber&sde. Se os policiaishouvessem ficado de posse dessa l is ta, o govêrno do tzar nãoo ter ia l ibertado.

O tzarismo via em Lênin seu inimigo mais perigoso.Em 1900, o coronel da gendarmaria Zubátov, da Ocrana tza-rista, em sua correspondência secreta com as autoridades supe-

r iores , indicava que "hoje não exis te n inguém maior queUliânov (Lênin) na revolução" . Eis porque exig ia que seorganizasse ime diatam ente o assassínio de Lên in. É preciso

"cortar a cabeça dêsse corpo revolucionário", escrevia êssecarrasco.Tendo conhecimento pessoal da s i tuação, da confusão que

reinava nas idéias e do estado de dispersão no domínio orgâ-nico, Lênin convencera-se ainda mais da justeza do caminhoescolh ido para cons t ru i r o Par t ido . Informado da tenta t iva de

(*) A. Uliânova-EHzârova: Recordações de Lênin, p4g\ 99, ed.r u s s a .

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certos comitês no sentido de convocar imediatamente um con-gresso tendo em vis ta fundar o Part ido, achou que isso era

um êrro . A seu ver , impor tava pr imeiro real izar a unidadeideológica e orgânica do Partido; o congresso devia ser nãoo início, mas o coroamento do trabalho de construção doP a r t i d o .

Lênin afirmou-se de fato como o criador do Partido, seuchefe autêntico. Em tôrno dêle começavam a agrupar-se osmelhores elementos da classe operária.

Após haver estabelecido uma base para o jornal na Rússia,Lênin par t iu para o es t rangeiro em 16 de ju lho de 1900.

Foi a primeira emigração de Lênin, que durou mais decinco anos.

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