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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO FRANCIELI MARIA CAZELLA LEPTOSPIROSE REVISÃO DE LITERATURA PORTO ALEGRE RS 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

FRANCIELI MARIA CAZELLA

LEPTOSPIROSE – REVISÃO DE LITERATURA

PORTO ALEGRE – RS 2012

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FRANCIELI MARIA CAZELLA

LEPTOSPIROSE – REVISÃO DE LITERATURA

Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Departamento de Ciências Animais para obtenção do título de Esecialização em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientadora: Professora Valéria Natascha Teixeira.

PORTO ALEGRE - RS 2012

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FRANCIELI MARIA CAZELLA

LEPTOSPIROSE – REVISÃO DE LITERATURA

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Animais para obtenção do título de Especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientadora: Professora Valéria Natascha Teixeira.

APROVADA EM: ........../........../...........

BANCA EXAMINADORA:

....................................................................... Professor (a) (UFERSA)

Presidente

....................................................................... Professor (a) (UFERSA)

Primeiro Membro

.......................................................................

Professor (a) (UFERSA) Segundo Membro

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AGRADECIMENTOS

À minha Mãe, por sua capacidade de acreditar e investir em mim,por seu

cuidado e dedicação foi que deram, em alguns momentos, a esperança para

seguir.

Ao Bruno, pelo carinho, a paciência e por sua capacidade de me trazer paz

na correria desse trabalho.

A minha professora e orientadora Valéria Natascha Teixeira por seu apoio e inspiração no amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos que me levaram a execução e conclusão desta monografia.

A todos aqueles que de alguma forma estiveram e estão próximos de mim,

fazendo esta vida valer cada vez mais a pena.

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EPIGRAFE

O ser humano vivência a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo - numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior.

Albert Einstein

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RESUMO

Esse trabalho é uma revisão de literatura sobre leptospirose que se baseou em

informações de livros, artigos científicos e sites de pesquisa com o objetivo de

verificar as ações de controle e prevenção desta doença. É uma enfermidade de

grande relevância, principalmente durante os períodos chuvosos, que é agravada

durante as enchentes, pois está associada ao contado com água, alimentos e solos

contaminados pela urina de animais portadores da bactéria Leptospira interrogans.

Palavras-chave: leptospirose, caninos, zoonoses

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ABSTRACT

This work is a literature review of leptospirosis which was based on information from

books, scientific articles and research sites in order to check the actions of control

and prevention of this disease. It is a disease of great importance, especially during

the rainy season, which is exacerbated during flooding because it is associated with

contact with water, food and soil contaminated by the urine of animals with the

bacterium Leptospira interrogans.

Keywords: leptospirosis, canine, zoonoses

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................

2 REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................

2.1 HISTÓRICO...........................................................................................

2.2 ETIOLOGIA...........................................................................................

2.3 EPIDEMIOLOGIA E TRASMISSÃO........................................................

2.4 PATOGENIA..........................................................................................

2.4.1 Fase de leptospiremia.......................................................................

2.4.2 Fase de leptospirúria.............................................................................

2.5 MANIFESTAÇÕES CLINICAS...............................................................

2.6 DIAGNOSTICO......................................................................................

2.6.1 Diagnóstico laboratorial........................................................................

2.6.2 Diagnostico hematológico....................................................................

2.6.3 Diagnostico bioquímico.........................................................................

2.6.4 Urinálise..................................................................................................

2.6.5 Cultivo Microbiológico...........................................................................

2.6.6 Diagnóstico Sorológico.........................................................................

2.6.7 Diagnóstico anatomo-patológico.........................................................

2.7 TRATAMENTO......................................................................................

2.8 CONTROLE...........................................................................................

2.9 PREVENÇÃO........................................................................................

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................

REFERENCIAS.................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

A Leptospirose é uma doença infecciosa causada pelas bactérias do gênero

Leptospira. Trata-se de uma das mais frequentes zoonoses, sendo observada

principalmente nos meses mais chuvosos, em áreas alagadas e deficientes em

saneamento. Tanto os animais domésticos quanto os selvagens são reservatórios

para esta enfermidade (FARIAS, 1999).

Os principais reservatórios domésticos são os suínos, bovinos e cães. Os

ratos geralmente são reservatórios permanentes, e quando há enchentes eles são

obrigados a abandonar suas tocas, indo para as residências.

Os cães, como animais de companhia, podem ser responsáveis pela

transmissão da leptospirose aos seres humanos, principalmente crianças. A

leptospirose canina ocorre principalmente pelos sorovares icterohaemorrhagiae,

copenhageni e canicola, cujo curso pode variar de sub-clínico, agudo ou crônico.

Várias são as manifestações clínicas, que podem incluir ou não a icterícia,

dependendo do sorovar infectante. Na forma aguda pode causar a morte do animal

por insuficiencia renal e hepática, aqueles que sobrevivem à infecção tornam-se

portadores e excretores de leptospiras pela urina de forma assintomática,

disseminando a doença para outros cães, outras espécies animais e o homem

(GENOVEZ, 2011).

O objetivo desse trabalho é fazer uma revisão bibliográfica sobre a

leptospirose afim de obter maior conhecimento sobre o tema.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 HISTÓRICO

A primeira descrição da doença foi em 1880, no Cairo, por Larrey, e os

estudos foram seguidos por Lanouzy, em 1883. Em 1886, Weil descreveu a doença

minuciosamente, observando casos clínicos em seres humanos, aí então a

Leptospirose foi designada por Goldschmidt como a “Doença de Weil (LONG,

1997).

No Brasil, os primeiros trabalhos sobre leptospirose foram publicados no Rio

de Janeiro, em 1917, por Aragão sobre a presença do Spirochoeta

icterohaemorragiae nos ratos do Rio de Janeiro, primeira identificação do papel

patológico em cães por inoculação experimental. Em 1918 Noguchi criou o gênero

Leptospira, tendo em vista a bactéria possuir forma espiralada (LONG, 1997).

2.2 ETIOLOGIA

A leptospirose é uma doença causada por bactérias da ordem

Spirochaetales, família Leptospiraceae, gênero Leptospira, não capsuladas e não

esporuladas. É uma zoonose importante e ocorre em várias espécies de animais

domésticos. É uma bactéria de forma helicoidal, aeróbia obrigatória, forma de

gancho, possui grande motilidade, movimento rotatório em torno do seu eixo. A

Leptospira não se multiplica fora do hospedeiro, e sua sobrevivência fora dele

depende das condições do meio ambiente, sendo altamente sensível a ambientes

secos e a pHs e temperaturas extremas. O patógeno pode sobreviver no meio

ambiente até 180 dias em solo úmido ou em águas paradas (CARLTON;

McGANIN, 1998).

O grupo Leptospira interrogans, contém ao redor de 200 variáveis

sorológicas denominados sorovares. Os sorovares estão agrupados em 18 grupos.

A leptospirose canina é causada principalmente pelos sorovares canicola e

icterohaemorrhagiae, que apresentam como fontes de infecção, respectivamente,

os cães e os roedores (Rattus norvergicus - ratazana de esgoto, Rattus rattus e

Mus musculus - camundongo). Os demais sorovares possuem características mais

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regionais, distribuídos pela sua ecologia (RIBEIRO et al., 2003).

O gênero Leptospira é bastante sensível à luz solar direta, aos desinfetantes

comuns e aos anti-sépticos. O período de sobrevida das linhagens patogênicas na

água pode variar segundo a temperatura, o pH, a salinidade e o grau de poluição.

Sua multiplicação é ótima em pH compreendido entre 7,2 a 7,4.

Experimentalmente, já foi constatada persistência de leptospiras viáveis na água

por até 180 dias. O sorovar icterohaemorrhagiae é inativado em 10 minutos à

temperatura de 56°C e, em 10 segundos, à temperatura de 100°C. (BELONI et al.,

2006).

2.3 EPIDEMIOLOGIA E TRASMISSÃO

A transmissão da leptospirose pode ocorrer de forma direta ou indireta. A

forma direta ocorre, geralmente, pelo contato com sangue e/ou urina de animais

doentes, por transmissão venérea, placentária, feridas por mordedura (pele) ou

pela ingestão de carnes infectadas (RIBEIRO et al., 2003).

A disseminação da infecção se dá pela convivência entre os cães que

excretam a bactéria de forma intermitente por meses a anos após a infecção. Os

cães que se recuperam da doença eliminam o agente de forma intermitente por

meses após a infecção. A transmissão indireta pode ocorrer por contato com solo,

vegetação, alimentação e água contaminados, roupas e outros fômites.

Sobrevivem em insetos e outros hospedeiros invertebrados, papel ainda incerto na

transmissão (DINIZ, 2011).

O risco da transmissão indireta aumenta consideravelmente para o homem

quando as condições ambientais são favoráveis à manutenção e replicação das

leptospiras, em especial após enchentes, ou em coleções de água com pouca

movimentação, em temperaturas variando entre 0°C e 25°C, principalmente em

populações de baixo poder aquisitivo. O congelamento diminui a sobrevivência da

bactéria. Desta forma, os surtos de leptospirose no Brasil frequentemente são

registrados nos períodos mais quentes e chuvosos do ano (entre dezembro e

março) (DINIZ, 2011).

As leptospiras tem no solo e água com pH neutro ou levemente alcalino,

condições ótimas de sobrevivência. Entretanto, sobrevivem transitoriamente no pH

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ácido da urina (5,0 a 5,5). A doença no cão ocorre independentemente do sexo do

animal, raça e faixa etária (RIBEIRO et al., 2003).

A doença causada pela Leptospira apresenta menor frequência se

comparada à ocorrência de infecção pelo agente, levando em muitos casos à forma

assintomática, dificultando o diagnóstico (RIBEIRO et al., 2003).

2.4 PATOGENIA

Penetração do agente ocorre através de pele lesada e mucosas, podendo

também penetrar por pele íntegra, desde que tenha ficado imersa em água por

longo período (dilatação dos poros), sendo que o período de incubação é de uma a

duas semanas (GARCIA, MARTINS, 2011). Uma vez no hospedeiro, ocorrem duas

fases distintas: de leptospiremia e de leptospirúria.

2.4.1 Fase de leptospiremia

Esta é a fase de multiplicação do agente na corrente circulatória e em vários

órgãos (fígado, baço e rins, principalmente). Ocorrem lesões mecânicas em

pequenos vasos, causando hemorragias e trombos, que levam à infartes teciduais.

A icterícia ocorre principalmente devido à lesão hepática, e não à destruição de

hemácias. O rim começa a ter problemas de filtração. Há uremia e o animal

apresenta hálito de amônia. Este é o quadro agudo da doença no homem e no cão.

A duração desta fase é de aproximadamente quatro dias (raramente chega a sete

dias). Em outras espécies, percebem-se somente problemas reprodutivos, porém

tais problemas contribuem para a baixa produtividade da pecuária nacional e

mundial, causando diminuição da fertilidade e abortamentos (GARCIA, MARTINS,

2011).

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2.4.2 Fase de leptospirúria

Esta é a fase que a imunidade é caracterizada pela formação crescente de

anticorpos com estabelecimento das leptospiras em locais de difícil acesso aos

mesmos. Formam massas nos túbulos contornados renais, na câmara anterior do

globo ocular, no sistema reprodutivo (vesícula seminal, próstata, glândula bulbo-

uretral). A leptospirúria pode ser intermitente e durar de meses a anos (GARCIA;

MARTINS, 2011).

2.5 MANIFESTAÇÕES CLINICAS

Nos cães, as manifestações clínicas dependem idade, imunidade do

hospedeiro, fatores ambientais e patogenicidade do sorovar envolvido (SILVA,

2011).

As manifestações na forma aguda são: letargia, depressão, anorexia,

vômito, febre, poliúria, polidipsia, dor abdominal e/ou lombar, diarréia, mialgia,

halitose, úlceras bucais, icterícia, petéquias e sufusões em mucosas e conjuntivas

(IOKO, 2011).

Na forma subaguda ocorre febre, anorexia, vômitos, desidratação, aumento

da sede, relutância em movimentar-se. Pode estar associado à inflamação

muscular, meningeal ou renal, membranas mucosas hiperêmicas e hemorragias

petequial e por sufusão estão distribuídas, conjuntivite, rinite, tosse seca e dispnéia

(FUJII, 2009).

A infecção pelo sorovar icterohaemorrhagiae pode levar a morte hiper-aguda

entre 24 a 48 horas. Animais que sobrevivem a esse período podem desenvolver a

síndrome ictero-hemorrágica, com sinais de hipertermia, prostração, icterícia,

hemorragias difusas, especialmente em pulmões e sistema digestório, podendo

evoluir para insuficiência renal aguda e óbito (CAJAZEIRA, 2011).

A infecção pelo sorovar canicola resulta no comprometimento renal grave

com sintomas gastroentéricos e aqueles decorrentes da uremia (emese, diarréia,

estomatite e glossite necrótica), evoluindo geralmente para insuficiência renal

crônica (CAJAZEIRA, 2011).

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Os cães infectados pelos sorovares pomona e gryppotyphosa apresentam,

geralmente, anorexia, depressão, vômito, apatia, poliúria, polidpsia e dor lombar. O

sorovar bataviae pode causar ainda meningite, uveíte, abortamentos e infertilidade.

Os animais que desenvolvem insuficiência renal aguda mesmo após o tratamento,

podem evoluir tanto para o retorno da função renal normal, em duas a três

semanas, como desenvolver insuficiência renal crônica (BELLONI; MORENO,

2000).

A icterícia ocorre mais frequentemente na fase aguda da doença,

relacionada às infecções pelo sorovar icterohaemorrhagiae. Nessa fase podem ser

observadas também fezes de coloração acinzentada, em virtude da colestase

hepática. Os cães com hepatite ativa crônica manifestam inapetência, perda de

peso, ascite, e em casos crônicos, encefalite. As manifestações pulmonares - como

pneumonia intersticial - são mais comuns no homem do que nos cães, e a

inflamação intestinal, em alguns animais, pode resultar em intussuscepção (IOKO,

2011).

Em estudo realizado no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de

Londrina (conforme figura 01) com 120 cães soropositivos para leptospirose, as

principais manifestações clínicas observadas foram: vômito, apatia e diarréia,

sendo icterícia, estomatite, necrose da ponta da língua e mialgia de aparecimento

menos frequente.

Figura 01: Principais manifestações clínicas observadas em 120 cães

reagentes à soroaglutinação microscópica, atendidos no Hospital Veterinário da

Universidade Estadual de Londrina (2001), com suspeita clínica de leptospirose.

Fonte: Belloni; Moreno, 2000.

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A alta ocorrência de sintomas inespecíficos, assim como a reduzida frequência

daqueles considerados típicos da leptospirose em cães - necrose da ponta da

língua, estomatite e icterícia, ressalta a importância de incluir a leptospirose no

diagnóstico diferencial de animais com sintomatologia gastroentérica inespecífica

(vômito, diarréia e anorexia), com ou sem histórico vacinal (BELLONI; MORENO,

2000).

.

2.6 DIAGNÓSTICO

2.6.1 Diagnóstico laboratorial

O diagnóstico da leptospirose canina deve ser embasado nas informações

clínico-epidemiológicas, apoiado nos exames laboratoriais subsidiários. A presença

de cães com anorexia, diarréia, vômito, sensibilidade em região abdominal e/ou

lombar, com ou sem mucosas e conjuntivas amareladas, devem levar à suspeita

clínica da doença (FORT DODGE, 2007).

2.6.2 Diagnóstico hematológico

As alterações hematológicas observadas nos casos de leptospirose

usualmente são leucocitose (acima de 20.000 leucócitos/dl) por neutrofilia e graus

variáveis de anemia. A leucopenia pode ser um achado na fase inicial de infecção

(leptospiremia), evoluindo geralmente para leucocitose com desvio a esquerda,

com a progressão da doença. A trombocitopenia faz-se presente geralmente em

cães gravemente afetados. Exames de função renal revelam frequentemente

aumento dos níveis séricos de uréia e creatinina e variam segundo o grau de

comprometimento renal. As alterações das enzimas hepáticas alamino

aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA), assim como os níveis séricos de

bilirrubina, variam com a gravidade da lesão hepática (FORT DODGE, 2007).

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2.6.3 Diagnóstico bioquímico

As dosagens de uréia, creatinina, ALT, bilirrubina e FA constituem-se nos

principais exames de monitoramento da evolução do quadro clínico e,

consequentemente, do prognóstico de animais com leptospirose.

2.6.4 Urinálise

Na urinálise de cães com leptospirose observa-se geralmente densidade

baixa, glicosúria, proteinúria, bilirrubinúria (que normalmente precede a

hiperbilirrubinemia), acompanhadas de elevação de cilindros granulosos, leucócitos

e eritrócitos no sedimento urinário (BIAZOTTI, 2006)

Na fase clínica inicial é possível a pesquisa do agente por microscopia de

campo escuro, a partir do exame de gota de sangue, até o quarto dia de infecção,

ou de urina, entre a primeira e a segunda semana. Esse procedimento apresenta

limitações em virtude da intermitência de eliminação das leptospiras na urina e da

pequena sobrevivência do agente no ambiente externo (FORT DODGE, 2007).

2.6.5 Cultivo Microbiológico

Alternativamente, pode-se realizar o cultivo microbiológico da urina, do

sangue e do líquido céfalo-raquidiano, apesar da dificuldade de isolamento do

agente nesses humores orgânicos (FORT DODGE, 2007).

Para o isolamento do agente são recomendados os meios seletivos de

EMJH (Ellinghausen, McCullough, Johansen, Harris) ou de Fletcher, enriquecidos

com antimicrobianos e soro-albumina bovina (RIBEIRO et al., 2003).

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2.6.6 Diagnóstico Sorológico

O diagnóstico sorológico para a leptospirose é usualmente realizado. O teste

de aglutinação microscópica (MAT) é o método mais amplamente usado para

determinar os títulos de anticorpos anti-Leptospira. A maior vantagem desse

método é sua alta especificidade, porém os portadores de leptospirose podem

produzir anticorpos que reagem com vários sorovares. Esse fenômeno pode ser

observado na fase inicial da doença, denominado reação-cruzada (OLIVEIRA,

2010).

Em geral, um título alto isolado (maior ou igual a 1:800) é suficiente para um

diagnóstico de leptospirose se o histórico do paciente e constatações clínicas e

laboratoriais forem compatíveis. Um título convalescente que não muda a partir da

amostra aguda sugere infecção prévia ou inativa. Vários aspectos do teste

sorológico de aglutinação microscópica são importantes na execução de um

diagnóstico apurado. A reatividade cruzada contra sorovares múltiplos

frequentemente resulta no título aumentado contra vários sorovares durante a fase

aguda da doença. A imunidade contra leptospiras (natural ou estimulada) é

sorovar-específica (WHOL, 1996).

Na avaliação sorológica dos animais é importante questionar o histórico

vacinal contra leptospirose, pois os cães vacinados podem ter títulos contra os

sorovares contidos na vacina. Normalmente, os títulos são negativos ou abaixo de

1:320 e persistem por uns poucos meses após a vacinação. Entretanto, os títulos

de pós-vacinação podem ser altos, tais como 1:1250. Devido à possibilidade de

títulos altos pós-vacinação e reação cruzada, tem-se sugerido que somente títulos

maiores que 1:3250 devem ser considerados diagnósticos. Se fizer três meses que

o cão foi vacinado, entretanto, um título de 1:800 a 1:1600 é evidência presumida

de infecção leptospiral (FORT DODGE, 2007).

Os títulos de aglutinação microscópica podem ser negativos durante a

primeira semana de infecção. Após a infecção e recuperação, os títulos de

anticorpos normalmente declinam gradualmente, mas podem persistir por meses. A

terapia antibiótica precoce ou a administração de corticosteróide podem inibir

títulos convalescentes (FORT DODGE, 2007).

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Já com o teste de ELISA pode ser verificado títulos de IgM e IgG nas

amostras de soro, sendo que o IgM normalmente é o primeiro anticorpo a estar

aumentado, o IgG aumenta alguns dias depois (NELSON; COUTO, 1998).

Os cães desenvolvem título elevado de IgM maior que 1:320 na fase aguda

da leptospirose. A proporção de anticorpos IgM e IgG na fase convalescente após

a imunoestimulação varia dependendo do sorovar (FORT DODGE, 2007).

O ensaio de reação de cadeia polimerase (PCR) do DNA leptospiral é um

meio eficaz de diagnóstico antes do desenvolvimento do título do anticorpo ou

quando os títulos estão baixos e o curso clínico confuso, o qual vem está sendo

muito utilizado (ANZAI, 2006).

A maioria dos laboratórios veterinários somente oferece o teste de

aglutinação microscópica. Poucos tentam a cultura bacteriana das leptospiras.

Requisitos especiais para ELISA, técnicas para anticorpos fluorescentes, reação

em cadeia de polimerase, ou isolamento das leptospiras das amostras biológicas,

podem ser feitas contatando um laboratório de referência.

2.6.7 Diagnóstico anatomo-patológico

O exame post-mortem é extremamente valioso no diagnóstico da

leptospirose em cães, porém os achados anatomo-patologico variam conforme a

sintomatologia clinica desenvolvida (BIAZOTI, 2006).

A necropsia, observa-se, principalmente, hepatomegalia, degeneração e

fibrose hepática, congestão pulmonar, petéquias e sufusões pleurais, úlceras na

língua, edema, congestão e necrose renal, hemorragias e aderência de cápsula

renal, congestão, edema e hemorragias gastrointestinais (BIAZOTI, 2006).

Nas infecções pelo sorovar icterohaemorrhagiae pode observar-se

pronunciada icterícia de serosas e conjuntivas. Nesses animais, o diagnóstico

histopatológico é realizado principalmente a partir de fragmentos renais ou

hepáticos, corados por técnicas de impregnação pela prata (colorações de Gomori,

Warthin-Starry ou Levaditti). Após a necropsia dos animais, os rins e o fígado são

os órgãos de eleição para o isolamento do agente (FORT DODGE, 2007).

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2.7 TRATAMENTO

A eficácia da terapia da leptospirose em cães depende do diagnóstico

precoce da doença. A instituição do tratamento na fase inicial da doença apresenta

resultados satisfatórios. No caso severo de anemia ou coagulação intravascular

disseminada é necessário realizar a transfusão sanguínea (SESSIONS; GREENE,

2004).

A transfusão de plasma ou de sangue fresco total deve ser dada com

cautela e somente se associado com a administração concomitante de uma dose

baixa de heparina, no caso de CID ou de hipoalbuminemia grave (FORT DODGE,

2007).

Em estudos experimentais em animais, a ampicilina e as cefalosporinas de

terceira geração não têm sido eficazes na eliminação dos organismos dos tecidos e

fluidos corpóreos, enquanto tetraciclinas e macrolídeos, tais como, eritromicina e

seus derivados (claritromicina e azitromicina) foram eficazes. As drogas ineficazes

incluem cloranfenicol e sulfonamidas. Embora Leptospira spp. seja sensível à uma

grande variedade de antimicrobianos e a terapia surta efeito quando instituída

precocemente, a redução do risco da doença para o homem e para os animais

deve ser fundamentada na adoção de procedimentos de controle (FORT DODGE,

2007).

2.8 CONTROLE

Na fonte de infecção: controle de roedores. Isolamento, diagnóstico e

tratamento de animais doentes (GARCIA; MARTINS, 2011).

Na via de transmissão: destino adequado das excretas, limpeza e

desinfecção química das instalações (uso de derivados fenólicos). Drenagem da

água das pastagens, não utilizar sêmen suspeito (GARCIA; MARTINS, 2011).

Nos susceptíveis: as vacinas de contra a leptospirose são bacterinas

(cultura morta) e por isso a sua imunidade é baixa e previnem contra a

sintomatologia clínica. Há relatos de animais que apresentam leptospirúria após a

vacinação. O esquema da vacinação adotado vai depender da prevalência da

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doença na região. Em locais endêmicos, recomenda-se vacinação a cada 6 meses.

Se não for o caso, uma vez por ano (GARCIA; MARTINS, 2011).

2.9 PREVENÇÃO

A prevenção pode-se resumir na proteção e no impedimento da proliferação

de roedores (GENOVEZ, M. 2011):

Usar proteção de botas e/ou luvas ou sacos plásticos quando:

Fizer a limpeza de caixa de esgoto

Manusear materiais de locais onde possam existir ratos como lixo,material

de construção, entulho.

Tiver contato com regiões marginais de rios, lagos como em pescarias.

Evitar a proliferação de roedores:

Acondicionar devidamente o lixo.

Não acumular entulho no quintal.

Manter limpo e desmatado os terrenos baldios e margens de córregos e

lagos.

Manter o mato roçado.

Fechar fendas e buracos em telhas, paredes e rodapés.

Conservar caixas de água, ralos e vasos sanitários bem fechados.

Retirar e lavar todas as noites os vasilhames de alimentos dos cães.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A leptospirose é considerada uma das zoonoses mais preocupantes em todo

o mundo. O risco da transmissão dessa doença é grande porque ela acomete

diferentes espécies de animais silvestres, sinantrópicos (roedores), de produção e

de companhia, que é uma condição que possibilita a manutenção do

microrganismo no meio ambiente. Assume-se que os cães representam um

importante elo na cadeia epidemiológica de transmissão da doença para o homem,

por isso as medidas de prevenção devem ser rigorosamente adotadas

principalmente em locais e épocas de maior risco de contágio.

No Brasil, a leptospirose geralmente ocorre nos seres humanos nos

períodos do ano com altos índices pluviométricos, sob a forma de casos isolados

ou em surtos. Desta maneira, os esforços para o controle da doença devem

contemplar ações profiláticas sistemáticas, incluindo a melhoria das condições de

habitação, saneamento básico e educação continuada em saúde para populações

humanas e animais. E adicionalmente, o controle de roedores, a vacinação, o

isolamento e a terapia de animais doentes visam minimizar a ocorrência e o risco

da doença para o homem e para os animais.

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