Letícia Loureiro

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LETÍCIA LOUREIRO doceinverso.tumblr.com

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L E T Í C I A L O U R E I R Od o c e i n v e r s o . t u m b l r . c o m

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Tem gente que confunde amor com vontade

de amar.

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“L e t í c i a L o u r e i r o

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Letícia Loureiro:Sou elétrica, insegura, e

extravagante, mas também consigo ser

tímida. Uma verdadeira

multidão de defei-tos e qualidades. Ilusão em pes-

soa. Doce inverso de mim mesma.

““

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VVocê me tocava com os olhos bem fechados, como que sentindo uma fe-licidade indiscutível e forte apenas por estar por perto. Por poder sentir-me. Eu sorria com a tua presença, e assim, de certa forma, éramos um só. Decorei teus trejeitos, brinquei com o fogo dos teus olhos, cai na tua sina. Até os seus defeitos de repente me pareceram ignoráveis, uma vez que o teu sorriso se destacava muito mais do que qualquer um deles. E

gostei de te contar minhas histórias, inventar minhas pren-das, de te presentear com beijos quentes em uma tarde fria em que o normal era o arrepio.Mas o que senti durante esse tempo todo, foi um arrepio diferente, entende, meu menino? O arrepio causado pelo calor e pelo prazer de es-tar ao teu lado, sentindo teu corpo tão perto, tão colado ao meu. O calor da vontade de fazer as coisas se tornarem mais fortes, quase que completamente ligadas. Inerentes. Assim como já estavam nossos pensamentos, sempre tão

sincronizados.Você brinca comigo desse jeito tão teu. Me toma por completo. Rouba pensamentos. Brinca de esconde esconde com o meu medo, esconden-do-o nos meus vazios mais fundos. E me presenteia com alegrias infi-nitas e indiscutivelmente indescritíveis. Você faz com que seja perfeito, mesmo tão errado.Torna o confuso menos bagunçado. Quase faz-me enxergar o amor como uma coisa completamente boa, sem defeitos. Faz-me ver cor; onde não existe nada… Faz-me sorriso, onde existe lágrima.

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T“Tô sentindo falta.” - Ela começou, os dedos trêmulos e os pensamentos transbordando, confusos, querendo escapar pelas mãos. - “Você sempre foi tudo pra mim, e sabe disso. Sinto falta do seu cheiro de perfume de bebê, e de você me contando as vantagens de usar shampoo de crian-ça. Dizendo que seu olho nunca ardia, e rindo da minha cara quando eu dizia que isso era idiotice. E você me beijando na cama e me acordando

com gritos, ao invés de café da manhã com morangos. E indo preparar os tais morangos só depois do almoço, só pra depois deixar tudo cair e manchar sua blusa inteira. Aliás, eu adorava quando você deixava cair alguma coisa e ficava xingando o dia inteiro, depois. Como um velho. Sinto falta da tua boca macia em contato com a minha. De nós deitados numa cama que não era de casal, espremi-dos, contando estrelas imaginárias no teto do meu quarto. E sonhando com o dia em que a gente ia casar de verda-de, e colar aquelas estrelas verdes que brilham no escuro

lá em cima, onde não havia nada. E dizendo que seriam mais bonitas do que as estrelas originais. Porque aquelas seriam nossas. E sinto sauda-de da gente discutindo o nome do cachorro que pretendíamos comprar dali a uns cinco anos. E de você apertando o meu nariz e me chaman-do de mimada. E de nós dois escorregando pelo mercado, fazendo as compras pra minha mãe. E de você, bravo, por eu encher o carrinho de iogurte, mesmo sem necessidade. Eu sinto falta do teu sorriso. E do teu nariz enrugado, quando você queria teimar comigo e via que na verdade estava mesmo errado. Eu sinto falta de quando você me pegava no colo, quando eu mentia que tinha torcido o pé só pra olhar o mundo lá do alto. Sinto falta da tua altura, que me obrigava a ficar na ponta dos pés pra alcançar os seus lábios. E dos teus olhos mortos, mas que brilhavam quando me viam chegar. E de você com a boca toda suja de leite, e da sua risada quando eu te chamava de criança. E do seu nome. E do seu jeito turrão e impaciente de ser. E das suas manias. De andar contigo pela rua em pleno domingo. De encher o saco dos meus amigos e fazer cócegas na minha irmã menor, pra ver se ela acordava mais rápido. E das piadas de loira que você me contava. E dos seus amigos idiotas que nunca foram lá com a minha cara. E do dom que você tinha de ignorá-los, quando começavam a falar desse assunto. Sinto falta do teu bolo com fermento demais, que explodiu e acabou sujando o fogão inteiro. E de nós dois limpando a cozinha e de você escorregando sem querer. E do sorriso enorme que se abriu no seu rosto quando eu, preocupada, perguntei se você havia se machucado. E do seu abraço. Do calor do teu corpo em contato com o meu. Do “quase-lá” que fizemos uma vez. Da sua paciência quando eu recusei. E do seu pedido de desculpas, quando viu que estava mesmo tentando forçar as coisas. Da sua calça jeans preta que você sempre usava pelo menos quatro vezes por sema-na, e do seu revirar de olhos quando eu dava minhas crises de ciúme. E até das suas crises de ciúme sem necessidade. E até dos teus defeitos idiotas. E das nossas brigas, que terminavam com um beijo apaixonado que durava mais do que o normal. Tô sentindo falta de tudo.”

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V- Você nunca acreditou no amor. - Ela afirmou, convicta. Ele negou com os olhos, se afastando devagar. Ela balançou a cabeça, incrédula. Os dois num eterno jogo de dúvidas e em uma quase discussão que, naque-le momento, ambos gostariam de evitar.- Não até te conhecer. - Ele piscou, sedutor. Ela sorriu, de leve, como que dizendo com os olhos um “eu-sei-que-você-nunca-me-amou.” Pensava

que tudo fazia parte de mais um de seus joguinhos, mas ele já não sabia mais o que pensava, o que achava, ou se acreditava ou não no tal do amor. Mas gostava muito dela. Gostava do cabelo vermelho artificial dela. Do olho verde de lente dela. Do sorriso de verdade até demais dela. Do abraço meio robô que ela costumava dar. Do jeito mesqui-nho e arrogante dela. De tudo nela.Se aquilo tudo era amor não sabia. Mas ele gostava - mui-to, demais, com toda a alma - dela. E será que gostar-

muito-demais-com-toda-a-alma, não podia ser chamado de amor?- Eu nem acredito em você. - Ela fez bico, cruzou os braços, olhou pro chão. Ele riu de leve e desarmou-a em três segundos. Beijou-a nos lá-bios, meio de lado. Ela não resistiu mais. Nem tentou. Deixou. Deixou e retribuiu. Não aguen-tou. - Eu.. sei lá se eu te amo. - Ele riu, entre o beijo. Ela agarrou aqueles cabelos com toda a força. E riu. Com força, também. Era toda forte, sabe como é.Daquelas bem determinadas.- Eu sei lá se eu te amo também.- Eu te gosto. - Isso basta.- Ou não baste, talvez.- Agora? Agora tudo que basta é teu corpo colado no meu. Teus lábios juntos dos meus. Teu rosto asism, bem perto. Tuas mãos junto das mi-nhas. Você me basta. Com amor ou sem. Você basta.- Eu te gosto muito.- E eu te amo. - Ela apertou-o com mais força. E ele não mentiu dessa vez. Teu corpo colado no dela, naquele momento, já bastava.E bastou. Por muito tempo.

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NNos últimos tempos, eu não estava muito feliz. Sabe aqueles momentos em que você se pega pensando sobre sua vida, sobre seus problemas, e pouco a pouco percebe que nada estava assim tão bem quanto você pensava? Sabe quando a realidade bate na janela, e você é obrigado a abrir os olhos e encará-la de frente? Nada disso faz muito sentido pra mim. Sei que andei muita confusa nas últimas semanas. Sem saber mui-to o que fazer, sem saber muito bem pra onde seguir. Quando vi, tudo

tinha perdido o sentido. O que é que eu estava fazendo? Sem estudar, só escrevendo. Só tentando escrever, tradu-zir em palavras meus sentimentos confusos. Nunca soube como dizer aquilo que sinto, e confesso que isso sempre me irritou um pouco. Até exagerei em sentimentos, criei emoções. Mas dessa vez, quando sofri de verdade, no instante em que os olhos se encheram de lágrimas, e o co-ração foi tomado por uma dor sem dimensão, não escrevi sequer uma linha. Estava com medo, cansada, derrotada.

Não sabia o que fazer, pra onde ir, nem mesmo o que responder. E quan-do deixei que o sentimento escapasse, muitos tentaram me ajudar. Até senti-me melhor assim, mas não consegui explicar, não consegui enten-der. E esse sentimento foi doendo no coração, foi apertando dentro do peito. Essa sensação de inutilidade, de desgosto. De dor. E eu continuei seguindo assim mesmo, engoli a sensação desagradável e o gosto do que pouco a pouco aprendia a conhecer. Não sou simples. Sou mesmo estranha, talvez nervosa demais e sempre insatisfeita comigo mesma. E isso tudo causou em mim grande crise. Timidez excessiva nunca me fez bem… Muito menos essa insegurança, falta de confiança em mim mesma. E quando me olharam como se eu fosse louca, outros com um a boca escancarada de admiração exagerada, depois de lerem um texto qualquer, não soube muito bem o que responder. Naqueles momentos, eu havia deixado de acreditar. Não sentia mais vontade de seguir. Até mesmo a confiança havia se perdido. A dor era intensa, mas eu sempre escondia com sorrisos falsos, com palavras de mentira. Agora tudo pas-sou. Estou bem, agora sim posso dizer. Isso tudo ainda dói e machuca um pouco, mas aprendi a superar. E sigo em frente, com um sorriso de verdade nos lábios e uma dor pequenina quase extinta dentro do cora-ção. Agora sim posso dizer. Aprendi a confiar em mim mesma.

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PPara com isso, vocês dois. Menino, você não precisa dela pra viver. Ela não é o ar que você respira, não é a sua vida, e você não vai morrer se vocês dois se afastarem. Vai doer? Um pouco, como sempre dói no começo. Vai machucar, vai ferir, vai fazer o coração arder. Mas passa. A gente sempre dá um jeito, a gente se acostuma… Menina, ele não é o menino perfeito pra ti. Não é mesmo. Ninguém é perfeito pra ninguém, uma vez que ninguém é perfeito de jeito nenhum. Existe alguém que

combina conosco, que nos entende, que nos ajuda. Mas em nenhum momento esse alguém será o alguém perfeito que necessitamos, pois somos feitos dos mais diversos defeitos. Estranha mania, essa, de continuar insistindo na perfeição. Entenda de uma vez que ela não existe. E se ele é um idiota, te trata bem, faz tudo errado, mete os pés pelas mãos e não se arrepende por isso, ele não é perfeito pra ti. Se ele nem sabe que você existe… não, ele não é perfeito. Ele é o garoto mais imperfeito, do seu modo de ser. Entenda e aceite isso. E não, ele não vai olhar nos

seus olhos no silêncio de uma noite qualquer, e declarar todo o seu amor incontido. Ele não vai mudar durante um esbarrão, e o amor a primeira vista entre vocês simplesmente não acontecerá. É tão difícil assim de aceitar? Só peço que siga em frente, apesar de todas as dores que você precisará enfrentar. Menino, não pense que ela é perfeita, pois ela simplesmente não é. Menina, não idealize e muito menos sonhe com um amor que nunca acontecerá. Ele não te ama, ele nunca te notou. Eu sei que dói, mas uma hora a gente precisa abrir os olhos pra realidade, não é? E saiba que ele não é perfeito pra ti, também, até porque, ninguém é perfeito pra ninguém. Mas ah… também não precisa se fechar em uma concha e nunca mais sair. O mundo te abre uma infinidade de opções. Um dia você encontra o alguém que não, nunca será perfeito pra ti, mas que vai te entender, te ajudar. Vai te amar. Mas ainda assim, continuará tendo mil defeitos. Por favor, só lhe peço que entenda isso. Menino, não sofra tanto por ela se ela não te merece… Vai vivendo, vai seguindo. A vida se encarrega de te fazer esquecer. Menina, não perca tanto tempo fazendo planos com alguém tão distante que se torna quase imaginário. Comece a olhar mais para os lados, pra frente, e até mesmo pra trás. Não procure a perfeição, o inatingível. Procure o bom, o certo, aquele imperfeito que de repente se torna tão bem feito, que se transforma qua-se no ideal. Não, não idealize, não crie, não imagine, não sonhe com o amor. O amor não vai ser assim, como nos filmes. Você por acaso já viu alguém que se apaixonou após um toque sem querer, um olhar meio dis-traído, ou uma coincidência qualquer? Se aconteceu, foi em um ou outro caso por ai. Agora, por favor, não fique reclamando nem falando que não conseguiu encontrar alguém que lhe complete. Sua hora vai chegar. Só não espere que chegue de repente, não espere que caia do céu. Levante-se e comece a tentar, experimentar. Mais do que tudo, continue a acreditar. Tente, tente, tente. E por favor, não desista ao não encontrar o alguém perfeito… Porque ele simplesmente não existe.

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EEu sei que estou exagerando, e sei muito bem disso. Talvez eu seja in-fantil demais, nova demais pra fazer esse tipo de julgamento. Mas de vez em quando, eu vejo tantas coisas fúteis, tanta coisa sem importân-cia, que meu coração passa a sofrer. E eu sinto muito bem suas batidas aceleradas, os olhos que se enchem da lágrimas, o buraco que se forma dentro do peito. Eu só queria que me entendessem. Só queria que al-guém tivesse a capacidade de ser assim, como eu. Eu sei que existem

pessoas muito parecidas, que sentem e entendem o mes-mo. Mas está tão difícil de encontrar… Eu tenho amigas e alguns amigos, pessoas que até me entendem e dão risada comigo, que fazem com que eu me sinta melhor. Mas nos últimos dias, tem doído muito. E tem doído ainda mais pelo fato de eu não ter encontrado alguém pra de-sabafar, alguém com quem eu tenha realmente coragem de me abrir. Eu sei que tenho pessoas que estariam dis-postas a isso. Qualquer um, qualquer um até poderia me ouvir. Mas eu tenho vergonha do que possam pensar, do

que possam concluir sobre mim. De vez em quando, tudo que eu queria era me fechar em uma concha e nunca mais sair. Se é pra ser assim, pra ninguém me aceitar do jeito que sou, eu até prefiro fazer isso. Mas eu sou obrigada a continuar, continuar cambaleando, dando passos trêmu-los pra tentar seguir em frente. E, no fim, seguindo. A cada dia que se passa, falta menos pra que a minha maturidade finalmente floresça. Eu sei que um dia isso tudo vai acabar, que meu coração vai voltar a estar cheio de felicidade, meu olhar cheio de risadas escondidas, meu peito tomado pelo amor. Eu sei. Mas hoje está tão difícil… O problema é que eu já vi demais, conheci demais, já sei demais. E tudo isso que eu vejo por ai, só me cansa a cada dia mais, só me deixa mais revoltada a cada instante. E eu não sei como resolver, como afastar esse sentimento tolo de mim, afastar definitivamente. Eu acho que preciso de ajuda, mas não sei porque, não sei de quem, não sei o que. E está realmente difícil con-tinuar. Mas eu não deixei de acreditar no que sempre acreditei, eu nunca deixei de acreditar em Deus, nunca deixei de acreditar em mim. Eu estou me sentindo mal, algumas vezes bem. As coisas não parecem melhorar e esse sentimento permanece aqui, preso dentro de mim. Desculpem-me por estar digitando tudo isso, por estar aqui, incomodando sabe-se lá o que, incomodando os seus momentos de diversão. Chamem-me do que quiseram, mas é assim que me sinto. Isso dói. Eu não sou a pessoa com mais problemas do mundo, nem a mais insegura e muito menos a que tem menos confiança. E eu sei que muito em breve as coisas vão ficar bem. O que me incomoda, na verdade, é o fato de não saber quando. E o fato de não saber me virar até as coisas voltarem ao seu normal. Ao mesmo tempo, eu fico pensando… será que esse normal vai ser bom o suficiente? Será que vale a pena prosseguir nesse mundo assim, cheio de gente tão fútil, cheio de gente que não se importa? Provavelmente, muito em breve, me arrependerei por essas palavras. Mas, nesse mo-mento, isso é coisa que não consigo conter, sentimentos que já não ca-bem mais aqui. E quando dói, é preciso que pelo menos alguém saiba. Uma única pessoa será o suficiente, um único leitor vai ser tudo que eu preciso. Eu só queria que entendessem, só queria que talvez sentissem um pouco de mim. A verdade é que está muito difícil, e eu mal consigo me conter. Só espero que isso tudo passe. Um dia; quem sabe, talvez; isso tudo já não exista mais. Quem sabe, um dia, tudo volte a ficar bem.

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NNo caminho de volta pra casa, observo os carros. As horas se passam, o destino final não chega. Me perco entre anúncios e pensamentos, me lembro do tumblr e anseio pelo instante em que poderei usar o meu. Acabo sorrindo lembrando de amigos e pessoas especiais, me perco de novo por entre lembranças e sorrio pensando em cenas que sei que nun-ca acontecerão. Sinto saudade de outros tempos e vontade de reviver de novo os bons momentos, de sentir de novo antigos abraços e me perder

com antigos sorrisos. Sinto saudade, sinto vontade. Sinto medo do que vem a seguir, receio pelo que se perdeu e já não sei mais como recuperar. Eu sinto falta. Sinto vontade. Me perco entre anúncios, me lembro de outros momentos. Me perco entre pensamentos. E lembranças. É tanto senti-mento que não cabe dentro de mim… O cansaço se torna maior, fecho os olhos e abafo o som de música barulhenta e agradável que escapa pelo rádio. Tento dormir. Em vão. Me lembro do tumblr. Me lembro de textos. Me lembro da

vontade de escrever e de outros sorrisos e de outros abraços e de outros medos. E de outros sonhos. Me lembro de cada segundo em vão que se perdeu pelo relógio, e de cada palavra que tentei dizer, mas que acabou se perdendendo por dentro de mim. Já está quase chegando, agora falta pouco. Só mais alguns minutos. Mas ainda me lembro de outros momen-tos; de outros sorrisos; de outros textos. Me perco entre os anúncios, presto atenção no volume alto e agradável que escapa do rádio. Meu tempo acabou. A porta se abre e eu escapo pra fora, pensando no que farei a seguir. Entro pela porta e tomo um banho demorado; a água agora machuca meu corpo calejado por lembranças. Sorrio e vou escrever, me deixo envolver pelas palavras até que não reste mais nada. E um texto se forma e escapa por entre os dedos. É apenas mais um.

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E- Eu sempre tive muitos sonhos. Assumo que talvez isso não tenha sido tão bom pra mim. Talvez fosse melhor permanecer na ignorância, do que me atirar num mar de dúvidas e esperanças. Talvez fosse melhor se as coisas fossem como fossem. Talvez fosse melhor se o ser humano não fosse tão pretensioso, se não esperasse tanto de tão pouco. Se não con-fiasse tanto em si mesmo. - Ela suspirou. Seu rosto de porcelana quase se dobrou em uma careta de dor, e eu senti vontade de rir, pelo jeito engraçadinho do rosto dela, sempre que ficava triste ou decepcionada,

e, ao mesmo tempo, de abraçá-la até que ela se conven-cesse de que ela podia. Ela podia tudo isso, sim. Aquela menina era especial. E, na verdade, sempre achei que as pessoas não precisam de muito pra conquistar o que desejam. Na verdade, basta amar o que fazem e acreditar em si mesmas. Nada além disso. - Fica tranquila, menina. Seu sonho não é tão pretensioso assim. Você pode alcançá-lo. Tu és a menina mais corajo-sa que conheço, a do sorriso mais doce, do abraço mais

apertado. Do beijo mais perfeito. - Sorri. Ela me olhou por uns instantes, aqueles olhos penetrantes me incentivando a continuar. - E nunca foi uma covarde, não é? E não é agora que vai ser. Lute. Acredite. Insis-ta. Persista. No fim, sempre vale a pena. - Conclui. Ela me olhou meio nervosa, com aqueles seus olhinhos que piscavam sem parar, com um biquinho irresistível que só fazia com que eu sentisse mais vontade de beijá-la. Quando isso aconteceu, quando aconcheguei seu corpo frágil em meus braços, o mundo de repente ganhou cor, e eu percebi que já não podia mais viver sem ela. Por mais difícil que fosse admitir isso, era a verdade mais absoluta, dentre todas as outras. - Eu… eu te amo. - Foi então que ela disse, pela primeira vez. Ainda me lembro do seu sorriso leve, das sobrancelhas arqueadas, do momento tranquilo e sem cobranças. Ela não esperou resposta, só se aconchegou mais em meu colo, até que pudesse me observar de um jeito melhor. Meu rosto ganhou um sorriso e um arquear de sobrancelhas com suas palavras. Afinal, eu ia retribui-las, no instante a seguir. Mas não porque me sentia obrigado a isso. Mas, sim, porque, agora, era o que eu na verdade sentia.- Eu também. E espero que não se esqueça disso. - E, então, quando nossos lábios se encostaram e ela matou minha sede incontrolável de sua boca, tive certeza de que nenhum de nós nos esqueceria.

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G- Gosto de observar seus olhos brilhando na luz do luar. Da mesma forma que adoro quando você morde os lábios pela confusão. Isso se torna in-crivelmente sexy, mesmo que não seja essa sua intenção. Também gosto de fazer com que meus dedos se percam entre seus cabelos rebeldes, gosto de fazer sorrisos surgirem em seu rosto, gosto de tudo que vem de ti. Se tu me perguntares do que mais sinto falta, não conseguirei dizer. É de muito, de muitas coisas, muitos sorrisos, muitos sabores. De cada

lembrança. - Eu também sinto sua falta. Saudade do seu jeito de sem-pre me fazer rir, desses seus olhos quase pretos e cheios de amor sempre que se encontravam com os meus. Sinto saudade da sua boca. Do seu sorriso. Do seu abraço. Sin-to falta de você por inteiro.- Então por que simplesmente não ficamos juntos? Por que tivemos que acabar com tudo isso, na melhor parte dessa turbulência de sentimentos bons?- Porque a vida é assim mesmo. Não faz o menor sentido.

E, agora, se você e eu encontramos um outro alguém pra enganar a nós mesmos, fingindo que sentimos por ambos aquilo que só sentimos por uma vez, que assim seja. Não podemos continuar atrapalhando a vida um do outro, metendo os pés pelas mãos. O amor sozinho não é suficien-te. É preciso que um compreenda o outro, que um respeite o outro, que não se traia. O amor é o principal, mas existem também os sentimentos secundários. E a gente nunca ligou pra eles, pensando que só o que a gente sentia dentro do coração seria suficiente. Pura bobagem, no fim. - Que tal voltar no tempo agora, e começarmos tudo de novo? Eu prome-to que vou te respeitar, eu vou fazer diferente, eu…- Tarde demais.

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EEu mesma passei horas e mais horas tentando entender o que sinto por ti, mas nunca consegui muito bem. Só sei que sinto sua falta. Sua com-panhia sempre me foi muito agradável, seus beijos pareciam se ajustar ao que eu mais precisava sentir. Tudo isso pra mim, naquele tempo, foi um paraíso. Você foi pra mim tudo aquilo que ninguém ainda nunca ha-via sido, e graças a ti, conheci o amor. Agora, ele se infiltrou em minha pele como uma droga. Uma droga viciante, que eu não mais consigo viver sem. Me desculpe por todos os meus erros e pelas minhas atitu-

des impensadas, a verdade é que sou assim mesmo. Mas não foi esse o problema, não é? Será que você pode me explicar o que aconteceu, por que foi que nos distancia-mos assim sem perceber? Acho que é só mais uma das falhas do amor. Ele nunca foi perfeito, não é, menino? Mas ainda assim, não posso culpá-lo por tudo isso. Aquilo que sinto é apenas um problema meu, e se insiste em não me abandonar, a culpa na verdade é sua. A culpa é sua, por ter me encantado com esses seus olhos faiscantes, esse

seu sorriso brilhante e esse seu jeito divertido de ser. Só queria que tu soubesses o quanto sinto sua falta. Ah, não se preocupe. O amor? Eu pa-rei de tentar entender no instante em que descobri que esse sentimento ultrapassa qualquer palavra. Qualquer gesto. O amor vai além de tudo e de todos, e, sinceramente, é a maior coisa que até hoje tive o prazer e o desprazer de conhecer. E, infelizmente ou felizmente… eu te amo.

Com amor, sua menina.

Eu te amo tanto. Cada segundo sem ti agora me parece uma eternidade, e peço desculpas por não ter lhe dito isso antes. Agora, só queria que você estivesse aqui, bem do meu lado, e que seus beijos voltassem a ser aquilo que me estimula a levantar todos os dias com um sorriso no rosto. Que seus abraços fossem novamente os mais apertados, que o seu sabor fosse novamente o melhor de todos os sabores. Me desculpa? Você continua sendo minha flor do dia, meu sorriso ao amanhecer, minha melhor amiga, o meu motivo pra viver. E eu continuo te amando aqui, no silêncio dessa noite fria. Noite essa que deveria ser somente mais uma das noites de fevereiro, mas que, pouco a pouco, se transforma em uma das piores noites que um dia vivi. Basta você dizer sim, e eu volto. Por-que eu te amo.

Com amor, seu menino.

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M

Meu coração tem seu sorriso gravado por dentro, por mais que eu negue ou tente fugir disso. Eu lembro de você toda vez que vejo alguém muito idiota, ou então quando uma pessoa qualquer comete uma atitude digna de risadas. Você sempre me faz rir. Com a sua ignorância, com seus sen-timentos verdadeiros escondidos, com toda a bobeira e riso que existe escondido dentro de ti. Eu sempre gostei - e nunca soube disfarçar. O que eu sinto fica claro no meu sorriso bobo e incontrolável, nos meus

olhos de criança brilhantes, no meu jeito de fugir somente pra me defender - sempre gritando o seu nome e implo-rando que você se afaste. Já não me importo mais - qual-quer um tem acesso ao que escrevo, mas poucos pos-suem a chave do meu coração. Sinceramente, você não é um deles. Mas é um dos poucos que ficou a um passo de segurá-la, ou melhor, até a segurou. Mas no momento em que deveria abri-lo e analisá-lo, você simplesmente fugiu, procurou novos ares, outros rumos. E então eu troquei o meu cadeado.

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V Você é tão doce. Mais doce que jabuticaba, que xarope de morango, que a tiara vermelha vendida no camelô. Mais doce que o sorriso que você arranca dos meus lábios. Só não esquece, menino, que jabuticaba é doce mas também é azeda, que xarope deixa gosto ruim na boca, que a tiara não tem garantia, e que o meu sorriso vem sempre acom-panhado de lágrimas.

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Tentei ver o mundo de outra forma. Abri os olhos bem abertos, atentei à cada detalhe: descobri que é bem assim que se descobre a beleza na simplicidade, e a complexidade naquilo que parece não ter importância. Decorei a cor das folhas espalhadas pelo chão, boquiaberta com a be-leza de uma natureza singela em qualquer estação. Ri de besteiras sem

sentido e me deixei levar pela cor dos teus olhos verdes, e então segurei em tuas mãos. Fiz brincadeira de criança, mexi nos meus medos mais profundos, ri do que não tinha graça e me diverti com os erros que cometia, sem querer, pois sabia: por piores que parecessem, me ensinavam, faziam-me crescer. E foi assim, brincando de ser eu mes-ma, que descobri: a beleza da vida está aí, escondida, basta procurar bem, vasculhar, atentar, perceber. É pra quem quiser ver.

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EEra uma menina pura, de seu modo. Sentava-se na cabeceira que fica-va ao lado de sua cama e parava por um tempo, observando o próprio reflexo. Os olhos verdes sempre brilhavam no espelho. Os cabelos lon-gos e ruivos caiam pelas costas, em cascatas. E os sonhos e anseios eram os mais profundos desejos, vontades que lhe vinham do fundo da alma. O peito era enorme, cabiam nele muitas e muitas pessoas, talvez tão loucas quanto ela. Outras sãos. Outras mais insanas. Todos os dias

prometia ser melhor em Matemática, cortar a ponta dupla dos fios, passar fio dental depois do almoço e sempre ras-par o prato, mas como menina desordeira que era, nun-ca cumpria suas próprias promessas. Mas sonhava. Com força. Ansiava e queria ser uma bela escritora. Era digna. Humilde. Gostava de - todas as noites antes de dormir - brincar com as palavras. E também de ouvir música clás-sica. Gostava de falar com amigos imaginários, desenhar bocas carnudas e vermelhas pelos papéis e espalhá-los pela casa. Também adorava cultivar amores antigos, man-

ter dentro de si já vencidas ambições, comer jabuticaba e arrancar a folha que ficava em cima dos morangos. Era menina marota, radical, extremamente sensível e ignorada. E tinha poucos amigos e muitos so-nhos. Desejos incontáveis. Ambições indescritíveis. Anseios incompre-ensíveis. Amigos desconhecidos. Amores inerentes. Mais do que tudo, tinha sempre a si mesma. Por mais boba que fosse, permanecia calma, escrevendo, sentindo, e tocando em seu velho piano. Era menina bonita. Única. Sonhadora. Indomável.

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E

Eu gosto das coisas leves. De escutar música de poeta no meio das ma-nhãs interrompidas, de sorrir com belezas simples da vida, de escutar o canto baixinho dos pássaros de manhã bem cedinho e ainda assim tirar sarro disso. Eu gosto de dançar pulando alto pela casa enquanto toca música brasileira no rádio, mas não se engane: minhas preferidas são aquelas clássicas de pop bem americano. Adoro ler poesia que tem sig-nificado nas entrelinhas, gosto de tons claros e até minha coberta é cor

de pérola, um de meus tons preferidos. Gosto de cantar alto e desafinado, até mesmo quando não sei a música, e adoro escrever textos e tirar nota boa na prova de Por-tuguês e sentir o cheiro novo dos livros em contato com a pele. Deixar um sorriso se iluminar no rosto depois de perceber que aquela história combina muito com você, e que talvez você seja uma cópia de um dos personagens, tamanha a semelhança. Acho que todo mundo devia ser mais leve, aliás, sem se preocupar tanto com o que virá. E ouvindo bossa nova brasileira e lendo poesia dos nossos

autores, porque não tem coisa mais calma do que isso.

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Page 34: Letícia Loureiro

É E M V O C Ê S Q U E M E A C H O !

m e a c h e i . t u m b l r . c o m n a o d i g i t e . t u m b l r . c o m

P R O J E T O :