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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
JORDANA SODRÉ DOS SANTOS
LEVANTAMENTO DAS PRINCIPAIS FONTES DE ESTRESSE NO TRÂNSITO
PARA MOTOTAXISTAS PROFISSIONAIS DO MUNICÍPIO DE IRECÊ-BA
MACEIÓ-AL
2013
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JORDANA SODRÉ DOS SANTOS
LEVANTAMENTO DAS PRINCIPAIS FONTES DE ESTRESSE NO TRÂNSITO
PARA MOTOTAXISTAS PROFISSIONAIS DO MUNICÍPIO DE IRECÊ-BA
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.
Orientador: Profª.Vera Cristina Gomes Calado
MACEIÓ-AL
2013
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JORDANA SODRÉ DOS SANTOS
LEVANTAMENTO DAS PRINCIPAIS FONTES DE ESTRESSE NO TRÂNSITO
PARA MOTOTAXISTAS PROFISSIONAIS DO MUNICÍPIO DE IRECÊ-BA
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.
APROVADO EM ____/____/____
______________________________________ PROF. ESP. VERA CRISTINA GOMES CALADO
ORIENTADOR
_________________________________________ PROF. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________ PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO
BANCA EXAMINADORA
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse fruto de muito trabalho, pesquisa e empenho à Deus, o pai, que
me sonda e protege cotidianamente... Aos meus amados pais e irmãos, Wacirlan e
Dolôres; Jardel e Jamille. Ao querido esposo, amigo e parceiro, Ilmário Caetano.
Pessoas indispensáveis, essenciais em minha vida!
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, meu guia de todas as horas! Aos mestres da banca
examinadora e à minha orientadora Prof. Esp. Vera Cristina Gomes Calado pela
gentileza, dedicação e paciência direcionadas a esse trabalho.
Sou imensamente grata pela compreensão, auxílio e empenho em favorecer o
meu desenvolvimento profissional. A todos, meu carinho e gratidão incessante.
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“O trânsito, em condições seguras, é um
direito de todos e dever dos órgãos e
entidades componentes do Sistema Nacional
de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das
respectivas competências, adotar as
medidas destinadas a assegurar esse
direito.”
(Código de Transito Brasileiro, instituído pela
LEI 9503, de 23 de setembro de 1997, Art.
1º, § 3º).
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RESUMO
Ao compreender o trânsito como uma das soluções criadas pela humanidade para melhorar e atender a demanda de fazer circular as pessoas, necessário se faz reavaliar incessantemente suas dimensões. Este estudo pretende instigar uma reflexão acerca dos agentes estressores a que são submetidos os mototaxistas em sua atividade diária no trânsito. Almeja conscientizar e sensibilizar gestores, bem como os profissionais que atuam na área da saúde do trabalhador, sobre a construção de políticas e estratégias de promoção da saúde e prevenção dos desgastes provenientes desta atividade profissional. O objetivo central é identificar fontes de estresse percebidas e auto-referidas pelos sujeitos que desempenham a atividade de mototaxista no município de Irecê-BA. A pesquisa aborda o tema trânsito, destacando seus três principais elementos: o homem, a via e o veículo; engloba uma discussão acerca da atuação da Psicologia do Trânsito; discute a respeito do estresse; e faz uma reflexão sobre a atividade do mototaxista. Em sua metodologia, utilizaram-se entrevistas semi-estruturadas para coleta de dados e os resultados apontam respostas muito diversificadas, as quais foram categorizadas em três grupos principais de fontes de estresse: Características do relacionamento interpessoal; da segurança e da organização do trânsito na cidade de Irecê. Palavras-chave: Trânsito. Psicologia. Mototaxista. Estresse.
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ABSTRACT
To understand the traffic as one of the solutions created by mankind to improve and meet the demand of circulate people, needed to reassess its dimensions ceaselessly makes. This study intends to instigate a reflection about the agents stressors to which they are subjected the motorcycle taxi drivers in their daily activity in traffic. Aims to raise awareness and to sensitize managers, as well as the professionals who work in the area of worker's health, about building policies and strategies of health promotion and prevention of wear from this professional activity. The main objective is to identify perceived sources of stress and auto-referidas by subjects who play motorcycle taxi drivers activity in the city of Irecê, Bahia. The research covers the traffic theme, highlighting his three main elements: the man, the road and the vehicle; includes a discussion of the psychology of traffic; discusses about the stress; and reflects on the activity of motorcycle taxi drivers. In its methodology, semi-structured interviews were used to collect data and the results show many different answers, which were categorized into three main groups of sources of stress: Characteristics of interpersonal relationships; organization and security of transit in the city of Irecê. Keywords: Transit. Psychology. Motorcycle Taxi Drivers. Stress.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
GRÁFICO 01 – Levantamento da faixa etária dos mototaxistas da cidade de Irecê -
BA ............................................................................................................................. 35
GRÁFICO 02 – Levantamento do estado civil dos mototaxistas da cidade de Irecê -
BA ............................................................................................................................. 36
GRÁFICO 03 – Levantamento do número de filhos dos mototaxistas da cidade de
Irecê - BA .................................................................................................................. 36
GRÁFICO 04 – Levantamento da carga horária de trabalho dos mototaxistas da
cidade de Irecê – BA ................................................................................................ 37
GRÁFICO 05 – Levantamento do tempo de profissão dos mototaxistas da cidade de
Irecê – BA ................................................................................................................. 3 8
GRÁFICO 06 – Relacionamento interpessoal entre mototaxistas e demais
integrantes do trânsito em Irecê - BA ....................................................................... 39
GRÁFICO 07 – Características da segurança no trânsito da cidade de Irecê - BA
segundo os mototaxistas .......................................................................................... 40
GRÁFICO 08 – Características da organização do trânsito da cidade de Irecê – BA
................................................................................................................................... 41
GRÁFICO 09 – Principais ações para minimizar ou acabar com as fontes
estressoras segundo os mototaxistas da cidade de Irecê – BA ............................... 42
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CFP – Conselho Federal de Psicologia.
CNH – Carteira Nacional de Habilitação.
CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito.
CRP – Conselho Regional de Psicologia.
CTB - Código de Trânsito Brasileiro.
DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito.
DETRAN - Departamento Estadual de Trânsito.
IBGE- Instituto Brasileiro de geografia e Estatística.
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
SIND’MOTOTAXI - Sindicato dos Mototaxistas de Irecê.
SNT – Sistema Nacional de Trânsito.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 13
2.1 O Trânsito no Brasil ......................................................................................... 13
2.2 A Psicologia do Trânsito ................................................................................. 16
2.3 Definição de Estresse ...................................................................................... 21
2.4 Mototaxista: Profissão e Riscos ..................................................................... 25
3 MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................................... 30
3.1 Ética .................................................................................................................. 30
3.2 Tipo de Pesquisa ............................................................................................. 30
3.3 Universo ........................................................................................................... 31
3.4 Sujeitos da Amostra ......................................................................................... 32
3.5 Instrumento de Coleta de Dados .................................................................... 32
3.6 Procedimentos para Coleta de Dados ............................................................ 32
3.7 Procedimentos para Análise dos Dados ........................................................ 33
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................. 35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 44
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 46
ANEXO ..................................................................................................................... 50
APÊNDICE ............................................................................................................... 51
12
1 INTRODUÇÃO
O deslocamento de pessoas e veículos nas vias públicas, integrando um
sistema convencional de normas, que visa assegurar a integridade de seus
participantes caracteriza o sistema “trânsito” (ROZESTRATEN, 1988). Ao considerar
o trânsito como uma das soluções que a humanidade criou para melhorar e atender
a necessidade de fazer circular as pessoas, necessário se faz estudar e reavaliar
sempre suas dimensões. A partir dessa ótica, nasce a Psicologia do Trânsito.
Essa área da psicologia estuda comportamentos relacionados ao trânsito,
com toda a sua pluralidade de interações: pedestres, ciclistas, motociclistas,
motoristas, carroceiros, entre outros integrantes. E aponta a necessidade de reflexão
no campo acadêmico sobre a real contribuição da psicologia para a segurança no
trânsito, instigando a pensar numa ação profissional que estabeleça novas posturas
de educação, com incentivo às pesquisas científicas que estimulem atuações
profissionais inovadoras e eficazes na área.
Dentre os múltiplos participantes do contexto do trânsito, esta pesquisa
elegeu o profissional mototaxista como objeto de estudo. Mais especificamente os
mototaxistas profissionais do município de Irecê - BA. A cidade de Irecê, localizada
na região do semi-árido baiano, dispõe atualmente de 480 mototaxistas
regulamentados, segundo informações do SIND’MOTOTAXI - Sindicato dos
Mototaxistas de Irecê. E, no cenário nacional, as pesquisas indicam que tais
trabalhadores, são cotidianamente expostos aos mais diversos fatores de risco e
fontes de estresse, incluindo elevados índices de assaltos e violência em geral.
Este estudo pretende provocar uma conscientização referente aos agentes
estressores a que são submetidos os mototaxistas em sua atividade diária, com o
intuito de sensibilizar gestores públicos e/ou privados, além dos profissionais que
atuam na área da saúde do trabalhador, sobre a construção de políticas e
estratégias de promoção da saúde e prevenção de doenças decorrentes deste
trabalho. O objetivo central é identificar fontes de estresse percebidas e auto-
referidas pelos sujeitos que desempenham a atividade de mototaxista em Irecê-BA.
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O Trânsito no Brasil
O CTB - Código de Trânsito Brasileiro em seu Artigo 1º § 1º define o trânsito
como sendo a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em
grupos, conduzindo com os mais diversos fins de circulação ou parada,
estacionamento e/ou operação de carga e descarga (BRASIL, 2008a). O código de
trânsito foi instituído, no Brasil, em 23 de setembro de 1997 pela Lei nº 9.503.
Mundialmente, entretanto, Zimmermann (2008) esclarece que desde Julio César em
Roma, no século I a.C., já se tem registro de alguma ação sob o trânsito, quando o
imperador impedia o tráfego de veículos com rodas durante algumas horas do dia.
Frente ao aumento do tráfego nas cidades, no século XVI Da Vinci, buscava
solução pensando em como colocar os passeios e o estacionamento de carros em
lugares diferentes. Mais tarde, no século XVII, as cidades européias proibiam
estacionar em algumas ruas e já havia o tráfego em mão única. Contudo, apenas no
século XX, nasce um sistema que possibilita o cruzamento de milhares de pessoas e
veículos, com a implementação de normas, onde o objetivo maior era a redução de
acidentes (ZIMMERMANN, 2008).
Para Rozestraten (1988), os três principais elementos do trânsito são o
homem, a via e o veículo. O homem é aquele que desempenha várias funções
nesse sistema (pedestre, motorista, ciclista, motociclista), caracterizando-se como o
componente mais complexo, pois está sobre efeitos dos fatores internos e externos,
que podem alterar seu comportamento. A via contempla o que está em volta do
veículo ou pedestre, é o espaço em que o trânsito acontece. Já veículo se apresenta
de múltiplas formas: carro, caminhão, táxi, moto, ônibus, entre outros; e apresenta
um vasto campo de informação para o motorista (freio, velocímetro, câmbio,
iluminação, chuva, óleo, motor, etc.).
Após a Segunda Guerra Mundial, o automóvel particular converte-se em
fenômeno de massa em todo o mundo, tornando-se artigo de consumo e símbolo
de status social, impulsionado pela forte propaganda das economias capitalistas,
que destacam a mobilidade individual e a prosperidade material sem precedentes.
Entre 1950 e 1995, a produção mundial anual de automóveis cresceu de 11 para 53
milhões. No período compreendido entre os anos de 1970 e 1988, nos Estados
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Unidos da América, o volume do tráfego aumentou de 1,78 trilhões de km
percorridos por veículos para 3,24 trilhões. São dados que sugerem um aumento
mundial da frota de veículos, contudo, o sistema viário e o planejamento urbano não
acompanharam este crescimento: Além da poluição sonora e atmosférica, o
aumento do tempo de percurso e os engarrafamentos, respondem pela crescente
agressividade dos motoristas e pela decrescente qualidade de vida nas cidades, em
especial nas grandes metrópoles (TAPIA-GRANADOS, 1998, apud MARÍN;
QUEIROZ, 2000).
Muitos países compreendem os problemas causados pelo trânsito tanto na
perspectiva do meio ambiente quanto da saúde pública, tamanho é o seu impacto na
qualidade de vida das pessoas. A subjetividade humana, portanto, não se reduz à
unidade do comportamento, mas se manifesta no ir, vir, conviver socialmente e estar
no meio ambiente. Para compreender a dimensão do significado expresso na
palavra trânsito é lícito considerá-lo um processo histórico-social que envolve,
sobretudo, as relações estabelecidas entre homem/mulher e espaço para mobilidade
(ALMEIDA, 2006).
O conceito de “mobilidade urbana” pode ser compreendido como o
deslocamento de pessoas e/ou bens dentro do espaço das cidades por meio da
utilização de veículos, vias públicas e infraestrutura local (TRIBUNAL DE CONTAS
DA UNIÃO, 2012). Na última década, o Governo Federal tem debatido esse tema
para construir uma nova definição a respeito do assunto, que agora vai além da
circulação de veículos, focando nas pessoas, na organização territorial e na
sustentabilidade das cidades. Pensar em mobilidade, também é pensar em
cidadania e na dignidade humana diante de suas necessidades de deslocamento
como um dos recursos primordiais para se viver.
Os autores Marín e Queiroz (2000) destacam que essa incorporação do
automóvel no cotidiano das comunidades, contribui para a maior incidência de
importantes problemas sociais: o aumento significativo na poluição do ar, o índice de
ruídos e a transformação degradante da paisagem urbana. O excesso de gases
liberados pelos motores dos automóveis influencia decisivamente na proporção
considerável das doenças respiratórias. Na Região Metropolitana de São Paulo, por
exemplo, o número de dias com índices inadequados de concentração de poluentes
já ultrapassa 10% do total. Com a estabilidade econômica, no Brasil dos últimos
anos verifica-se que o volume de carros tem aumentado significativamente, situação
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esta compatível com um crescimento de cerca de 20% no consumo de combustíveis.
Com isso, outro aspecto a ser considerado é a perda de qualidade de vida, causada
pela impossibilidade de encontrar ambientes destinados à convivência social diante
da crescente construção de espaços exclusivamente para os veículos.
Há de se considerar, ainda de acordo Marín e Queiroz (2000), a crescente
incidência de acidentes de trânsito nesse cenário de crescimento do mercado
automobilístico. Tais acidentes representam um grande problema de saúde pública e
implicam em um custo anual de 1% a 2% do produto interno bruto para os países
menos desenvolvidos. Além das deficiências físicas resultantes desses episódios
que acarretam graves prejuízos ao indivíduo (financeiros, familiares, de locomoção,
profissionais etc.) e para a sociedade (gastos hospitalares, diminuição de produção,
custos previdenciários etc).
Neiva (2003) destaca o índice crescente do número de veículos que entram
em circulação nos grandes centros urbanos das cidades. Para a autora, o uso
indiscriminado do automóvel particular, sobrecarrega a malha viária e apresenta
baixa capacidade de transporte, contribuindo para os constantes
congestionamentos, o excessivo consumo de combustíveis, a elevação do número
de acidentes e da poluição ambiental, repercutindo negativamente na vida das
pessoas.
Assim, nas cidades dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, os
congestionamentos e a falta de espaço para estacionar, principalmente nas áreas
centrais, têm se tornado cada vez mais freqüente. Dentre as causas apontadas está
o baixo investimento em transporte público, o que resulta em maior número de
veículos em circulação. O contexto implica na urgência em se adotar medidas que
visem ao uso racional do automóvel particular, com a melhoria da operação e
gerenciamento do sistema de transporte público, além da implantação de novas
alternativas de locomoção que atendam às necessidades das pessoas, privilegiando
o transporte sustentável (a pé e de bicicleta), contribuindo, assim, para o
aprimoramento da mobilidade urbana (NEIVA, 2003).
A acelerada degradação da qualidade de vida nas grandes cidades brasileiras
está delineada não apenas pelos congestionamentos, como também pela diminuição
da acessibilidade das pessoas às áreas urbanas; pelo aumento da poluição
atmosférica; redução da qualidade do transporte público, do qual depende a maioria
da população; além da invasão das áreas residenciais e de vivência coletiva pelo
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tráfego inadequado de veículos (ALMEIDA, 2000, apud ALMEIDA, 2006). Trata-se
de uma realidade que evidencia as políticas defensoras do modelo automotor de
locomoção.
Para Ferreira et al (2002) o trânsito é apenas uma das soluções que a
humanidade construiu para atender a necessidade de fazer circular as pessoas. Os
autores defendem a idéia de que não se deve pensar a circulação humana partindo
do automóvel, da motocicleta, do metrô ou do avião e sim a partir dos seres
humanos, de maneira a obter uma visão humanizada para se compreender a
circulação, pois a harmonia no trânsito depende da integração entre homem, mulher,
idoso, criança, veículos, via pública e meio ambiente.
A psicologia tem muito a contribuir nesse contexto de intensa e complexa
interação humana. São indivíduos que saem de suas casas para enfrentar o mundo
lá fora, com os mais diversos meios de transporte, os mais distintos pensamentos e
objetivos, com múltiplos problemas e conflitos internos e/ou externos e as mais
heterogêneas formas de reação frente às dificuldades. Tanta multiplicidade requer
ordem, eqüidade de direitos, educação para o trânsito, equilíbrio psíquico, dentre
outras necessidades. Em meio às novas demandas, cabe ao psicólogo do trânsito
desenvolver práticas inovadoras e eficazes, ocupando outros campos potenciais de
atuação (SILVA; GUNTHER, 2009).
2.2 A Psicologia do Trânsito
Em 27 de agosto de 1962, o Presidente João Goulart promulgava a Lei nº
4.119, que dispõe sobre os cursos de formação em Psicologia e regulamenta a
profissão de psicólogo. A Psicologia entrou formalmente no rol das profissões
reconhecidas no Brasil, sendo definido com maior clareza o seu campo de ação
profissional. Do ponto de vista jurídico, o documento legitimou as práticas
psicológicas já existentes até aquele momento, impulsionadas por suas importantes
aplicações às necessidades nos distintos setores da vida social, como saúde,
educação, trabalho e transporte (ANTUNES, 2001). Cinquenta anos após, é preciso
refletir sobre a prática profissional em seus mais variados campos de atuação, a fim
de planejar as próximas décadas, considerando erros e acertos ao longo do
percurso.
17
O conceito de Psicologia, enquanto ciência que se propõe a estudar e
compreender o comportamento humano, atrelado ao de trânsito, definido como o
espaço que envolve mobilidade e relações humanas, traduz-se na área de atuação
denominada Psicologia do Trânsito, campo da Psicologia que busca compreender o
comportamento humano dentro do contexto do trânsito. Para além de um espaço
físico destinado à mobilidade, o trânsito é um espaço de convivência, de
relacionamentos, de contínuo exercício de cidadania. Nele estão inseridos diferentes
sujeitos, com diferentes objetivos, mas que compartilham o mesmo espaço e todas
as regras inerentes a ele.
A história revela que os conhecimentos psicológicos se inseriram no trânsito
rodoviário de formas variadas, incluindo leis que expressaram políticas de segurança
e prevenção. Algumas delas tinham a finalidade de identificar e restringir, no
decorrer do processo de aquisição da CNH - Carteira Nacional de Habilitação, o
acesso ao volante dos indivíduos considerados propensos, do ponto de vista
psicológico, a se envolver em acidentes de trânsito. A raiz dessa política surge antes
mesmo da regulamentação da Psicologia no País, ainda em 1910 (Decreto-lei n°
8.324), com a aprovação do regulamento para o serviço de transportes de
passageiros ou mercadorias por automóveis. Esse documento, dentre outros
assuntos, estabelecia as medidas de segurança que os motorneiros - como eram
chamados os motoristas - deveriam seguir, além das penalidades e da fiscalização.
Um dos artigos sinalizava a responsabilidade do condutor em monitorar
constantemente a velocidade de seu veículo, devendo diminuir a marcha ou mesmo
parar quando o automóvel pudesse causar acidentes (DEPARTAMENTO
NACIONAL DE TRÂNSITO, 2010).
Um marco legal que estabeleceu explicitamente as bases para a futura prática
do psicólogo no contexto do trânsito foi o primeiro Código Nacional de Trânsito, com
o Decreto-lei n° 2.994/1941, que estabeleceu os exames para obter a licença de
habilitação para condutor de veículo: fisiológico ou médico e psicológico. Nesse
último exame, caso o candidato não apresentasse o mínimo “perfil psico-fisiológico”
exigido poderia ser “recusado”. A partir disso, instituíram-se verificações periódicas
das condições mínimas de capacidade física e psíquica dos motoristas, buscando
prevenir riscos e acidentes (SILVA, 2012).
Meses após, um novo decreto-lei, n° 3.651, alterou partes do referido código
criando o CONTRAN - Conselho Nacional de Trânsito, órgão máximo normativo e
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consultivo que atualmente coordena o SNT - Sistema Nacional de Trânsito,
responsável pela elaboração das regulamentações em forma de resolução, muitas
delas com impacto no trabalho do psicólogo (BRASIL, 1941). Houve alterações
também na seção dos exames para a habilitação. A avaliação dos aspectos
psicológicos seria realizada apenas em uma circunstância específica. O art. 108
indicava que, no caso de acidente grave na via pública e apurada a culpa do
condutor, este seria submetido a novo exame de visão e ao exame psicofisiológico –
como era denominada a avaliação psicológica - se decorridos mais de dois anos a
contar do último a que havia sido submetido. A medida fez perder o caráter
preventivo do exame psicológico, conforme proposto inicialmente, para o candidato
adquirir a habilitação, o que pode ser considerado o primeiro veto à avaliação
psicológica no processo de habilitação, ou mesmo, um presságio do veto
presidencial ocorrido na década de 90 (SILVA, 2012).
Muitos fatos decorreram desde a criação do primeiro código até que em 1997
foi instituído o CTB - Código de Trânsito Brasileiro, atualmente em vigor. Essa lei
trouxe importantes avanços para a segurança viária com repercussões no
comportamento do brasileiro, dentre os quais está a incorporação do tema educação
como um dos elementos centrais para todos os participantes do trânsito (BRASIL,
2008a).
Vale destacar que o novo código repercutiu no trabalho do psicólogo antes
mesmo de vigorar, pois quando ainda se tratava de um projeto de lei, o Presidente
da República Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) vetou alguns artigos,
inclusive o que indicava a obrigatoriedade do exame psicológico ao candidato à
habilitação. As razões do veto seriam: Países rigorosos no combate à violência no
trânsito não adotam o exame psicológico para motoristas; considerava-se que os
exames fisico-mentais fossem suficientes para a análise da capacitação do
candidato à habilitação; os exames psicológicos poderiam ser obrigatórios para os
infratores pertinazes, caso em que houvesse a necessidade de uma investigação
mais detalhada do comportamento individual (SILVA, 2012).
Graças à mobilização e a articulação política dos psicólogos, do CRP -
Conselho Federal de Psicologia e dos CRP - Conselhos Regionais de Psicologia, o
veto veio a ser suplantado por nova lei que incluiu o exame. Alegou-se ser injusto
atribuir somente aos exames psicológicos a responsabilidade na diminuição dos
acidentes de trânsito, mesmo diante das escassas evidências de que é possível
19
predizer o comportamento infrator ou o acidente de trânsito a partir de alguns
instrumentos psicológicos usados no processo de habilitação. As causas
multifatoriais dos acidentes de trânsito precisam ser analisadas e isso está além do
indivíduo (ROZESTRATEN, 2001).
Sinteticamente, numa breve contextualização histórica pode-se afirmar que a
Psicologia do Trânsito começa a se desenvolver na década de cinqüenta e no
começo dos anos sessenta, quando surgem os primeiros centros de pesquisa nas
universidades e órgãos governamentais. Assim, vários países passaram a investir
em atividades de pesquisa nesta área, como Inglaterra, Alemanha, Suíça e Estados
Unidos (ZIMMERMANN, 2008).
No Brasil, a Psicologia do Trânsito emerge em função do significativo
aumento do número de acidentes na década de 40. As autoridades buscavam
medidas preventivas e assim os candidatos à CNH passaram a ser submetidos à
avaliação médica e psicotécnica. Inicialmente, eram os engenheiros que aplicavam
os exames psicotécnicos, seriam as raízes de um novo campo de atuação dos
psicólogos que mais tarde veio a se chamar Psicologia do Trânsito (SILVA;
GUNTHER, 2009).
Conceitualmente compreendida como o estudo do comportamento do usuário
nas vias e dos fenômenos psicossociais subjacentes ao comportamento, a
Psicologia do Trânsito consegue seu espaço, ao longo de muitos anos, mas ainda
há muito a se construir. O comportamento do condutor tem sido estudado
considerando o campo visual; estilo de percepção; atitudes; percepção de risco;
procura de emoções; estilo de vida; carga de trabalho; estresse e representação
social. Estas questões indicam a pluralidade de abordagens que constituem a
fundamentação teórica para a pesquisa nessa área (HOFFMANN, 2005).
A Psicologia do Trânsito, portanto, estuda comportamentos que incluem
desde o pedestre até os Poderes Legislativos que elaboram as leis do trânsito. Mais
especificamente estuda a pluralidade dos participantes desse sistema: pedestre,
ciclistas, motociclistas, motoristas, etc. Quando sustentada em princípios éticos
voltados a busca da igualdade e da justiça social, esse campo do saber almeja
contribuir para a construção de um sistema de trânsito seguro, uma vez que se
propõe a oferecer suporte ao psicólogo para atuar interdisciplinarmente frente à
diversidade da subjetividade humana. Tudo isso porque a mobilidade humana vai
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além do comportamento do motorista e se estende a todos os integrantes do
sistema trânsito (SILVA E GUNTHER, 2009).
Essas interações complexas e de grande multiplicidade, implicam no
crescente número de infrações e acidentes verificados nas estatísticas nacionais.
Tamanha dimensão exige do psicólogo do trânsito uma formação alicerçada no
estudo das cidades e em seu planejamento urbano, incluindo o comportamento
humano no trânsito, a saúde pública, o acesso aos bens e serviços sociais e sua
qualidade, bem como o convívio humano e toda a sua diversidade (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000).
Conforme referido anteriormente, o trabalho do psicólogo do trânsito tem sido
orientado por decretos, leis, resoluções e portarias provenientes de várias
instituições. No âmbito do DETRAN – Departamento Nacional de Trânsito, de cada
estado, e das clínicas, a Psicologia construiu o seu espaço e segue seu itinerário,
cujas bases foram lançadas na época do primeiro Código de Trânsito. Anos depois,
nas décadas de 80 e 90, a Psicologia do trânsito teve bastante influência nas
instâncias de decisão da política pública de trânsito. Até que no século XXI,
consegue consolidar a sua participação no processo de habilitação, superando
movimentos contrários à sua obrigatoriedade, e concomitantemente, busca ampliar o
foco das suas intervenções para além do motorista, envolvendo-se com políticas
públicas (SILVA, 2012).
No que tange à profissão, deve-se estimular uma maior participação e
envolvimento dos psicólogos nos fóruns, conferências e discussões que visam à
formulação, acompanhamento ou avaliação das políticas públicas de trânsito, além
de se articular a criação e o fortalecimento contínuo de associações científicas e
profissionais de Psicologia do Trânsito. Tudo isso se configura numa forma de
atualizar e conhecer as próximas etapas da política. Ao fortalecer tais instituições,
destacará sua importância em representar a categoria nas instâncias de decisão,
sendo maior a possibilidade de os psicólogos obterem êxito em suas propostas ao
buscar articulação junto a outras entidades nacionais e internacionais. Através das
associações, é possível também colaborar para promover melhores condições de
trabalho para os psicólogos que atuam, por exemplo, nas clínicas e nos DETRANs e
para que seu trabalho seja melhor definido e orientado de acordo com as suas
necessidades profissionais e sociais. Outro aspecto profissional a ser aprimorado é
o compartilhamento de experiências a fim de que o psicólogo colabore para a
21
produção de conhecimento. Além disso, deve-se reivindicar a constante atualização
e/ou elaboração de resoluções que repercutam no trabalho do psicólogo do trânsito,
sem prejudicar sua autonomia e seu trabalho (IBIDEM, 2012).
Toda essa análise serve de reflexão no campo acadêmico sobre a efetiva
contribuição da psicologia para a segurança no trânsito, instigando a pensar numa
ação profissional que transponha as barreiras das clínicas e da avaliação
psicológica. É imprescindível estabelecer novas ações de educação para o trânsito,
revisão dos testes utilizados, ampliação do número de pesquisas que avaliam sua
validade, além do incentivo às pesquisas científicas que estimulem competentes e
inovadoras atuações profissionais na área.
Tais melhorias já estão sendo gradualmente conquistadas à medida que
esses profissionais buscam especializar-se, estudando e pesquisando maneiras de
inovar, se fazer relevantes e essenciais no contexto do trânsito. O que se deve
também à exigência do CONTRAN, que na Resolução 267 de 15 de fevereiro de
2008 determina que o psicólogo deva ter Título de “Especialista em Psicologia do
Trânsito” reconhecido pelo seu Conselho Federal ou ter concluído com
aproveitamento o curso “Capacitação para Psicólogo Perito Examinador de
Trânsito”. Na ocasião, o CONTRAN deliberava um prazo de cinco anos, contados a
partir de 2008, para esses profissionais tornarem-se Especialistas em Psicologia do
Trânsito para obterem credenciamento junto ao DETRAN do seu estado (BRASIL,
2008b). Anos mais tarde, com a Resolução 425 de 27 de novembro de 2012, o
CONTRAN estende esse prazo deliberando que até quatorze de fevereiro de 2015,
fica assegurado ao psicólogo que tenha concluído e sido aprovado no curso de
“Capacitação para Psicólogo Perito Examinador de Trânsito”, de 180 (cento e
oitenta) horas ou curso de “Especialista em Psicologia do Trânsito”, o direito de
solicitar credenciamento ou de continuar a exercer a função de perito examinador.
Fica definido também que a partir de 15 de fevereiro de 2015, essa solicitação para
o credenciamento seja permitida apenas aos psicólogos portadores de Título de
Especialista em Psicologia do Trânsito reconhecido pelo CFP (BRASIL, 2012).
2.3 Definição de Estresse
A significação original no idioma inglês do substantivo stress já envolve
ambigüidades. O verbete encontrado no dicionário Webster's, apresenta os sentidos
22
de força exercida sobre um corpo que tende a deformar-se; ou a intensidade desta
força (WEBSTER'S, 1974 apud CASTIEL, 2005). Verifica-se aí uma situação dúbia
que se torna confusa: o mesmo termo se refere tanto à causa como ao efeito. Na
língua portuguesa, o anglicismo "estresse" aparece como indicativo da resposta
biológica a estímulos perturbadores de uma situação "estável", ou seja, como um
conjunto de reações do organismo a agressões de ordem psíquica, física, infecciosa
e outras, capazes de perturbar–lhe o equilíbrio (FERREIRA, 1975 apud CASTIEL,
2005).
Amplamente utilizado nos dias atuais, o conceito de estresse torna-se parte
do senso comum. Os meios de comunicação de massa veicula o conceito de forma
indiscriminada, favorecendo às distorções a respeito do verdadeiro significado do
termo. O estresse passou, então, a ser responsável por quase todos os males que
afligem o homem atual, principalmente em decorrência da vida moderna. Nesse
contexto surgem técnicas terapêuticas, medicações e programas voltados ao
controle do estresse, aumentando o interesse científico e econômico em torno dele
(FILGUEIRAS; HIPPERT, 1999).
O termo “estresse” é utilizado de diferentes maneiras por autores diversos.
Weiten (2002) o define como “quaisquer circunstâncias que ameaçam ou são
percebidas como ameaçadoras do bem estar do indivíduo”. A ameaça pode estar
associada à segurança física imediata, ou em longo prazo; à reputação; à auto-
estima; ou a qualquer coisa que o indivíduo considere relevante. O autor explica que
há quatro tipos de estresse: frustração, conflito, mudança e pressão. A frustração
seria uma emoção que se experimenta quando a busca de um objetivo fracassa. Já
o conflito acontece quando duas ou mais motivações ou impulsos comportamentais
incompatíveis competem entre si. As mudanças seriam qualquer alteração nas
circunstâncias de vida de um indivíduo, exigindo readaptação. E a pressão envolve
expectativas ou exigências para que alguém se comporte de determinada forma.
Weiten destaca ainda, que as reações humanas ao estresse são multidimensionais
e bastante complexas, variando a depender da interpretação subjetiva do indivíduo.
Para Mota et al (2008) o estresse pode significar tanto o equilíbrio quanto o
desequilíbrio do organismo. No que se refere às conseqüências positivas e
negativas do estresse, os mesmos autores fazem referência a Selye (1974) que
utiliza os termos distresse e eustresse. O eustresse seria o estresse da realização,
uma resposta positiva do organismo a um estímulo, uma parte natural de superação
23
eficaz de desafios, como os de um trabalho profissional específico. Contrariamente,
o distresse é um fenômeno negativo que pode gerar danos ao organismo. Aqui
predominam emoções de ansiedade destrutiva, tristeza, medo e raiva. Ladeira
(1996) afirma que a sensação de luta ou fuga e as reações de estresse permanecem
as mesmas, do ponto de vista fisiológico e bioquímico do organismo, independente
de ser eustresse ou distresse. Porém as conseqüências serão processadas de modo
distinto, principalmente por exercer influências divergentes sobre a dimensão
psíquica do indivíduo, dependendo, portanto, do seu tipo padrão de comportamento,
dos traços de sua personalidade.
Castiel (2005) aponta Selye como o autor do arcabouço da teoria do estresse
a partir da concepção da "síndrome geral de adaptação", após realizar experimentos
com animais. Sinteticamente, compõe-se de três fases: 1) alarme, com os estágios
de choque e contrachoque; 2) resistência, fase de compensação na qual pode haver
regressão dos fenômenos descritos; e 3) esgotamento, resultado da falha desses
mecanismos adaptativos a estímulos recorrentes e excessivos. Mais tarde,
seguidores de Selye ampliaram a idéia do estresse físico original para o domínio
psicológico, estudando os efeitos da expectativa de situações nas quais haveria
exigências de desempenho ou ameaça à integridade física (real ou imaginária).
Beck (1976, apud CASTIEL, 2005), autor vinculado à psicologia cognitivista,
classifica o estresse psicológico em três categorias básicas. A primeira relaciona-se
a eventos traumáticos avassaladores, que trazem ameaças constantes à vida do
sujeito; ou envolve situações imprevisíveis de ameaça, a exemplo das dificuldades
profissionais ou acadêmicas, com riscos ao status econômico ou social; ou eventos
que perturbem a saúde, o bem–estar ou importantes relações interpessoais. A
segunda categoria trata das pressões de caráter mais duradouro, gerando desgaste
gradual, resultante dos efeitos cumulativos dos estímulos. A terceira engloba um
estímulo particular, que talvez não atingisse a maior parte das pessoas, mas que
afeta em demasia um determinado indivíduo, em virtude da forma como ele reage
àquelas contingências. Tais sujeitos apresentariam traços ansiosos de
personalidade. Em se tratando de distúrbios psicossomáticos, o estressor seria
gerado "internamente", através de fenômenos psicológicos que instigam as pessoas
a impor demandas exageradas sobre si mesmas.
Posteriormente, Marilda Lipp (1984), ainda dentro de uma abordagem
cognitivo-comportamental, define o estresse como uma reação psicológica a
24
determinados estímulos que irritam, amedrontam, excitam e/ou confundem a
pessoa, reação esta que engloba componentes emocionais físicos, mentais e
químicos (op. cit, p. 6). A autora também distingue o nível de estresse excessivo ou
insuficiente (distresse), daquele que é necessário para o bom desempenho da
pessoa (eustresse) e considera as características reais dos estímulos e/ou a
interpretação que o sujeito dá aos mesmos na determinação do distresse ou do
eustresse.
Assim, as reações envolveriam um componente de aprendizagem, do
repertório de condicionamento de respostas que a pessoa acumulou durante a vida.
Para Lipp (1984) os casos de estresse excessivo devem ser tratados em três
etapas: ajudando o cliente a desenvolver e utilizar estratégias para modificar sua
interpretação dos estressores; ajudando o cliente na elaboração de táticas para a
redução da reação psicofisiológica excessiva; e auxiliando o cliente na
implementação de técnicas adequadas de expressão e utilização de respostas de
estresse.
A concepção de estresse mental ou emocional caracteriza um dos grandes
problemas das sociedades modernas. Em situações desencadeadoras de estresse,
o organismo humano redistribui suas fontes de energia, antecipando uma agressão
iminente, tal mecanismo de adaptação é vantajoso se realmente houver ameaça de
perigo. Entretanto, caso esse estado persista por muito tempo, o dano será
inevitável, uma vez que inúmeros estudos epidemiológicos e experimentais
demonstram haver ligação entre o estresse mental e muitas doenças, desde simples
infecções virais, até úlceras gástricas e neoplasias (LOURES et al, 1999).
Os autores Filho e Moreira (1992) discutem a importância do estado
emocional dos pacientes na evolução de doenças infecciosas e neoplasias. Eles
definem estresse (físico, psicológico ou social) como aquele que compreende um
conjunto de reações e estímulos que causam distúrbios no equilíbrio do organismo,
muitas vezes com efeitos danosos. Para eles, ainda que Selye em 1936 tenha
apresentado o conceito de estresse biológico na Síndrome Geral de Adaptação,
posteriormente sua equipe estudou o estresse psicológico e atualmente tem
estudado o estresse social. Essa noção de "estresse social” está relacionada a
situações próprias das grandes metrópoles modernas: medo da violência urbana,
exposição a ruído, aglomerações, isolamento social, trabalho entediante e/ou
insatisfatório, desgaste com o trânsito, dentre outras situações em que se
25
experimenta frustração, conflito, incerteza e insegurança (MOREIRA; FILHO, 1992).
O estresse e suas repercussões devem ser analisados em uma perspectiva
multicausal. Quando o estressor causa problemas significativos na vida do indivíduo,
as diferenças particulares referentes à vulnerabilidade orgânica influem na forma de
avaliar e enfrentar a situação adequadamente, contribuindo assim, para seu
desequilíbrio. Seus esforços cognitivos e comportamentais empenhados no
enfrentamento da situação de estresse, as diferentes maneiras de lidar com as
situações estressantes, podem constituir padrões de comportamento que se
repetem ao longo da vida do indivíduo, não necessariamente de forma consciente.
Essa reação de mobilização de recursos naturais tem o objetivo de manter o
equilíbrio do organismo, diminuindo a resposta de distress. Para avaliar a sincronia
da fisiologia entre mente e corpo necessário se faz uma completa avaliação física e
psicológica a fim de elucidar melhor os fatores implícitos, fatores físicos e mentais
estressantes, assim como à qualidade dos estilos de vida e às práticas dos
pacientes e a sua educação, geralmente em grupos terapêuticos e treino de
relaxamento do estresse (SILVA, 2006).
Para prevenir e/ou tratar o estresse, sugere-se a frequente interação com
pessoas que gostamos, identificar e controlar as emoções, evitar preocupação,
irritação, praticar exercícios físicos, adquirir informações confiáveis em saúde mental
a fim de aprender a se auto- avaliar, detectando precocemente sinais e sintomas
psicológicos, tais como: queda da produtividade, confusão mental, apatia,
dificuldade de memória e concentração, diminuição da auto- estima depressão e
irritabilidade injustificável. E os sinais físicos a exemplo de: músculos tensos,
cefaléia, desconforto epigástrico ou gastrite, taquicardia, herpes, aftas, problemas
dermatológicos, retração das gengivas, resfriados, infecções e tonturas (LIPP,
2009).
2.4 Mototaxista: Profissão e Riscos
As profundas modificações sofridas pelo mundo do trabalho a partir da
década de 80 são chamadas de acumulação flexível, padrão produtivo caracterizado
principalmente pela flexibilização e precarização nos processos de trabalho. Essa
acumulação se caracteriza também pelo surgimento de novos setores de produção,
formas de fornecimento de serviços financeiros e, ainda, pelo aumento expressivo
26
de empregos no chamado "setor de serviços" (SILVA et al, 2008). Nesse cenário, a
motocicleta desponta como um meio de transporte e trabalho com um custo
acessível do veículo e baixas tarifas de serviço. No Brasil atual, a motocicleta
representa um meio de transporte socialmente importante, que contribui para a
mobilidade social. Nas grandes metrópoles ou nas pequenas cidades, verifica-se um
aumento de serviços alternativos que usam a motocicleta como instrumento que
transporta mercadorias e pessoas, caracterizando profissões tais como o mototáxi,
motoboy e moto-frete.
Dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística informam que
só no período de 2005 a 2008, houve um crescimento no percentual de municípios
que possuem transporte por mototáxi de 47,1% para 52,7%. A prevalência desse
serviço nos municípios com mais de 50 mil até 100 mil habitantes é de 69,0%. Nas
cidades com mais de 20 mil até 50 mil habitantes, essa proporção é de 64,3%. Na
região Norte, 75,9% dos municípios dispõe desse tipo de serviço e na região
Nordeste, tem-se a maior proporção, chegando a 88,2% (IBGE, 2008).
Estas atividades profissionais caracterizam relevantes opções de
sobrevivência pela autonomia na realização do trabalho e pela possibilidade
razoável de produção de renda. No caso, destacam-se os mototaxistas, profissionais
responsáveis pela condução do veículo para o transporte de passageiros; e os
motoboys, que respondem pelo transporte de documentos, mercadorias e
encomendas. Assim, a motocicleta que era um veículo tipicamente utilizado para o
lazer, passa a ser um instrumento de trabalho com baixo custo de aquisição e
manutenção, uma alternativa de deslocamento rápido no conturbado trânsito das
cidades (AMORIM et al, 2002).
A Classificação Brasileira de Ocupações ainda não inclui a atividade de
mototáxi, apenas o motoboy, sob o número 5191-10 e a definição “motociclista no
transporte de documentos e pequenos volumes”, está registrado como ocupação
(MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2002). O mototaxista, por sua vez,
tem o transporte de pessoas como sua principal finalidade. Essa atividade é
regulamentada pela Lei 12.009, de 29 de julho de 2009, que legisla sobre idade (21
anos completos), necessidade da carteira de habilitação (pelo menos 2 anos na
categoria “A”) e, nos termos da regulamentação do CONTRAN, trata da
obrigatoriedade de ser aprovado em curso especializado para o exercício da
profissão, além do uso de equipamentos de proteção e instalação de instrumentos
27
de segurança nas motos.
Em 04 de agosto de 2011, O DENATRAN – Departamento Nacional de
Trânsito publicou, em nota, que a Resolução do CONTRAN n.º 356 (BRASIL, 2010),
estaria entrando em vigor. Tal resolução estabelece os requisitos mínimos de
segurança para mototáxi e motofrete (motoboy), determinando, inclusive, que o
profissional deverá realizar curso especializado de formação, aprovado pelo
DETRAN - Departamento Estadual de Trânsito. Assim, nos termos do artigo 8º da
Lei n.º 12.009/2009, iniciava-se a partir daquela data a contagem do prazo de 365
dias para que o condutor de mototáxi ou motofrete e o veículo usado para este fim,
pudessem se adequar às exigências previstas no artigo 139-A do CTB e do artigo 2º
da Lei 12.009/2009. Aos profissionais caberia se ajustar às exigências ali contidas,
até 04 de agosto de 2012, sob pena de multa e apreensão do veículo.
Posteriormente, a Resolução do CONTRAN nº 356 foi alterada pela Resolução n°
378, no que se refere ao prazo para instalação de equipamentos de segurança nos
veículos novos e naqueles lançados nos últimos cinco anos (BRASIL, 2011).
A legislação certamente contribui para reduzir a clandestinidade, pois a
precariedade das condições laborais, como o ritmo de trabalho intenso expõem os
mototaxistas ao desgaste físico e mental, o que diminui os reflexos e a atenção
exigidos no trânsito. Favorece, ainda, a um maior risco de se envolver em acidentes,
além de contribuir para distúrbios do sono, fadiga, irritabilidade, sedentarismo, entre
outros problemas (SILVA; OLIVEIRA; FONTANA, 2011).
Para Silva, Oliveira e Fontana (2012), a qualidade de vida e a saúde do
mototaxista podem ser afetadas também pelo trabalho em turnos, uma vez que as
inversões nos turnos de atividade alteram o ciclo sono-vigília e trazem prejuízos à
capacidade funcional. Além disso, esses profissionais por vezes trabalham sob
constante pressão do tempo, proveniente tanto da relação com os empregadores
quanto com os clientes, visando melhor produtividade, agilidade e rapidez para
cumprimento de metas, ou mesmo para atender o maior número de usuários e
aumentar a lucratividade, o que favorece aos acidentes. Assim, ainda de acordo os
autores, a condução da motocicleta freqüentemente ocorre em desacordo com as
regras de trânsito, tais como aumento da velocidade ou ultrapassagens perigosas,
comportamentos que potencializam os riscos.
Em relação aos acidentes, os autores Oliveira e Souza (2011) enfatizam que
com a incorporação dos veículos automotores na vida cotidiana das comunidades,
28
as ocorrências de trânsito emergem como importante problema social e econômico.
Isso se define substancialmente, a partir da segunda metade do século XX, quando
tais ocorrências estão diretamente ligadas às elevadas taxas de mortalidade e/ou a
incapacidades temporárias e permanentes, que acometem nações de todo o mundo
indistintamente.
As estatísticas de trânsito revelam ainda, nas últimas décadas, um crescente
número de vítimas envolvidas em acidentes de motocicleta, veículo este,
caracterizado anteriormente, pela conquista do seu espaço, grande aceitação e
aprovação das pessoas, pela agilidade, economia e custo reduzido. Assim,
juntamente com ciclistas e pedestres, os motociclistas ficam muito expostos e
ganham destaque naqueles acidentes que provocam lesões graves e mortes.
Compreender essa realidade pode contribuir tanto para a elaboração de medidas e
programas de prevenção de danos e mortes, como também, para implantar
programas de assistência a indivíduos envolvidos nesses episódios, além de
fornecer o diagnóstico real da situação, para realizar outros estudos que sirvam de
referência e estabelecer condutas que reduzam esses índices na população
(OLIVEIRA; SOUZA, 2011).
Os pesquisadores Oliveira e Souza (2011) caracterizaram as ocorrências de
trânsito com motocicleta segundo condições locais, dados relacionados ao tipo de
acidente, data e hora, identificando as variáveis associadas à morte das vítimas. A
pesquisa foi na cidade de Maringá no Paraná, utilizando o estudo retrospectivo, com
dados dos Boletins de Ocorrência de Trânsito, referentes ao ano de 2004 e os
registros de óbito do Instituto Médico Legal. Eles verificaram que 99,4% das
ocorrências aconteceram em área urbana, em locais onde as condições de
luminosidade, condições meteorológicas e sinalização eram consideradas
satisfatórias. Para os referidos autores, as condições locais desfavoráveis foram
motivo de cautela por parte dos condutores de veículos e as condições descritas
como adequadas, na grande maioria das ocorrências, podem ter minimizado a
influência das condições ambientais nas consequências dos acidentes. O estudo
aponta a predominância da colisão de motocicleta com carro ou caminhonete
(55,5%), seguida das quedas de motocicleta (18,0%). O grupo de mortos diferiu em
relação aos sobreviventes quanto à área e a luminosidade do local da ocorrência,
além do tipo de acidente e impacto, tudo isso se destacou dentre as múltiplas
dimensões que envolvem a gravidade das ocorrências com motociclistas.
29
Estudos realizados em Londrina, Paraná, apontam os motociclistas entre as
principais vítimas do trânsito. Os motoboys encontram-se mais susceptíveis a
sofrerem acidentes, tanto por sua maior exposição nas vias públicas, quanto pela
necessidade de realizar o maior número possível de entregas em um curto intervalo
de tempo, levando esta população à adoção de altas velocidades e de manobras
arriscadas no trânsito. Os riscos a que estão expostos esses trabalhadores,
portanto, compõem um novo campo de estudo, ainda pouco explorado (SILVA et al,
2008).
Queiroz e Oliveira (2003) em estudo realizado no município de Campinas,
São Paulo, fazem referência às representações sociais dos sujeitos envolvidos em
acidentes de trânsito. Os sujeitos pesquisados apontam uma falha comportamental,
seja da própria vítima pesquisada, seja do outro protagonista do acidente; ou
remetem à interferência de algum relacionamento próximo (quando, por exemplo, a
vítima considerou-se estressada devido a uma namorada ou afetada pela ação de
“mal olhado” ou inveja); ou ainda pelas condições negativas de trabalho (obrigação
de cumprir horas extras estressantes ou necessidade de rapidez na entrega de
encomendas); além de reflexões sobre o trânsito em geral, incluindo o novo código
de trânsito, o sistema de transporte coletivo e a violência urbana como tópicos
correlatos.
Tanto o número de veículos em circulação, a desorganização do trânsito, a
deficiência da fiscalização, as condições dos transportes, as imprudências dos
usuários e a impunidade dos infratores parecem contribuir para as ocorrências de
trânsito na população de motociclistas. No que se refere aos trabalhadores que
utilizam a motocicleta como instrumento de trabalho, verifica-se sua exposição aos
mais diversos fatores de risco sejam físicos, químicos, biológicos, ergonômicos,
mecânicos, psicossociais e de acidentes - decorrentes das condições precárias
inerentes ao meio ambiente ou do próprio exercício da profissão, tais como
prolongada exposição à chuva, sol e frio, além dos elevados índices de assaltos,
acidentes e violência em geral (SILVA et al, 2012).
30
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Ética
As exigências éticas e científicas fundamentais são atendidas por esta
pesquisa, que se efetivou em conformidade com os preceitos do Conselho Nacional
de Saúde – CNS nº 196/96 do Decreto nº 93933 de 14 de janeiro de 1987. As
diretrizes e normas que regulamentam pesquisas envolvendo seres humanos estão
definidas pela Resolução 196/96, revista e com nova versão em 2012. O documento
ressalta, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, alguns referenciais básicos da
bioética: autonomia, não-maleficência, beneficência, justiça e equidade.
Essa Resolução visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à
comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. Nesse contexto,
descreve os aspectos a serem contemplados pelo Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, documento escrito, através do qual os sujeitos, grupos ou seus
representantes legais, manifestarão a sua concordância em participar da pesquisa
(BRASIL, 1996).
Por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - dentre outras
informações prestadas de forma clara, detalhada e por escrito - o entrevistado
declara estar ciente da justificativa, dos objetivos e dos procedimentos da pesquisa;
bem como sobre sua liberdade para participar ou não do estudo, tendo assegurado
essa liberdade sem quaisquer represálias atuais ou futuras; e sobre a segurança de
que não será identificado e que se manterá o caráter confidencial das informações.
Nesses termos, o entrevistado deve considerar-se livre e esclarecido para participar
da pesquisa proposta, com a tranqüilidade e a segurança pertinentes ao contexto.
No presente estudo, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme prevê
a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, foi assinado em duas vias de
igual teor, ficando uma via em poder do participante e outra com a autora da
pesquisa.
3.2 Tipo de pesquisa
Os dados dessa pesquisa foram obtidos por meio de contato interativo e
direto da pesquisadora com a situação objeto de estudo. Conforme pré-requisitos
31
definidos por Arilda Godoy (1995), a pesquisa aqui descrita é tipicamente qualitativa:
por utilizar o ambiente natural como fonte direta de dados, ter caráter descritivo,
estar focada na percepção e no significado que os participantes dão ao que está
sendo pesquisado e ainda por ter enfoque indutivo.
3.3 Universo
A pesquisa foi realizada na cidade de Irecê, localizada na região do semi-
árido do estado da Bahia. Os dados foram coletados em diversas ruas do centro da
cidade, abrangendo as empresas cujos mototaxistas se mostraram acessíveis e
dispostos a colaborar com o trabalho.
Por se tratar de uma profissão relativamente nova no país, a Lei Federal que
a regulamenta foi sancionada há apenas quatro anos - LEI 12.009 de 29 de julho de
2009 - há pouca pesquisa referente à atividade do mototaxista, sobretudo nas
pequenas e médias cidades, como é o caso do município de Irecê. Com uma área
de 319 km² e pouco mais de 66 mil habitantes, de acordo o último senso do IBGE1-
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2010, Irecê dispõe de 38 empresas
de Mototáxi e esses empresários tem o seu próprio sindicato, o “SINDIMOTO”. Já o
SIND’MOTOTAXI2, fundado em 1997, é responsável por atender às reivindicações e
lutar por melhorias nas condições de trabalho para os 480 mototaxistas profissionais
registrados no município. O sindicato informou, através do seu presidente, que a
maioria dos mototaxistas regulamentados junto ao DETRAN, ao SEBRAE – Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e à prefeitura municipal estão
vinculados a alguma das empresas de mototáxi e poucos conseguem exercer a
profissão como autônomos. Assim, ficam sujeitos às regras estabelecidas por essas
corporações.
No último ano - de 05 de setembro de 2011 a 05 de setembro de 2012 - foram
registradas3, em Irecê, 610 ocorrências com veículos automotores, 319 envolvendo
1 BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=291460. Acesso em 05 set. 2012. 2 O atual presidente do SIND’MOTOTAXI - Sindicato dos Mototaxistas de Irecê-BA forneceu os dados referentes aos mototaxistas do município pessoalmente em entrevista com a pesquisadora, uma vez que as informações requisitadas não estão disponíveis em publicações ou pesquisas. O Sindicato fica localizado à Rua Febrônio Barreto, nº 166, Irecê-BA. CEP: 44.900.000. 3 Dados obtidos em pesquisa junto à 15ª CIRETRAN – Circunscrição Regional de Trânsito de Irecê, quando a pesquisadora teve acesso ao sistema interno do departamento, através de uma funcionária do setor de fiscalização. Essas informações não estão disponíveis para livre acesso na internet.
32
motos (o equivalente a 52,29% dos acidentes), o que acarretou em 235 vítimas com
escoriações leves, graves e até letais. São fatos relevantes passíveis de atenção,
considerando que em meio a essas motos existem profissionais que conduzem
diariamente outras pessoas e o envolvimento em acidentes, pode ser o reflexo mais
drástico das suas condições de trabalho e das variações em seu nível de estresse.
3.4 Sujeitos da Amostra
A amostragem escolhida foi a “Amostra por Acessibilidade”, um tipo menos
rigoroso de amostragem destituída de rigor estatístico, por meio da qual a
pesquisadora seleciona os elementos para compor a amostra a partir da
possibilidade de acesso que ela teve aos sujeitos. Utilizou-se esse tipo de amostra
por ser considerado adequado em pesquisas exploratórias ou qualitativas, em que
não é requerido elevado nível de precisão (MAROTTI et al, 2008). Assim, a amostra
foi composta por 35 mototaxistas, abordados aleatoriamente na rua ou nas sedes
das empresas, o que equivale a 7,29% do total de profissionais credenciados no
município.
3.5 Instrumento de Coleta de Dados
Para a coleta de dados foram utilizados questionários estruturados, cujo
roteiro é composto por doze questões, sendo dez objetivas (fechadas) e duas
questões subjetivas (abertas). Os itens contemplam indagações sobre gênero, sexo,
idade, estado civil, número de filhos, se o sujeito concilia a função de mototaxista
com outra profissão, qual a carga horária de trabalho diária, quais os elementos que
ele identifica espontaneamente como problemas ou fontes estressoras no cotidiano
profissional e o que pode ser feito, na opinião do entrevistando, para minimizar
esses elementos estressores.
3.6 Procedimentos para Coleta de Dados
A coleta de dados foi iniciada por meio do contato direto com os mototaxistas,
esclarecendo o tema da pesquisa, a quê se destina, que lhes seriam feitas algumas
perguntas, mas que todos os profissionais e as empresas às quais estão vinculados
33
teriam seus nomes mantidos em sigilo. Esclarecidas todas as possíveis dúvidas, a
pesquisadora fez a leitura do “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”,
aguardou a livre aceitação do participante e solicitou-lhe que assinasse o referido
termo.
Em seguida, o questionário foi aplicado. Na ocasião, a pesquisadora fazia a
pergunta e marcava no questionário a resposta correspondente. No quesito 11, que
trata das fontes de estresse percebidas pelos participantes, inicialmente a
mediadora pediu que o sujeito falasse objetivamente sobre as possíveis fontes de
estresse, quando houve resistência, ela apontou algumas dessas fontes prováveis,
para identificar com quais delas o sujeito concordava. Isso porque a pesquisa exige
a categorização das respostas. No total foram aplicados 35 questionários.
3.7 Procedimentos para Análise dos Dados
Após a coleta de dados, as informações foram organizadas em gráficos
gerados com auxílio do Microsoft Office Word 2007 para viabilizar uma melhor
compreensão e visualização dos resultados. As respostas que apareceram durante
a aplicação dos questionários foram categorizadas em três subgrupos: Perfil dos
mototaxistas; principais fontes de estresse apontadas; e principais ações para
minimizar ou acabar com as fontes estressoras.
Os gráficos, que caracterizam o perfil dos mototaxistas da cidade de Irecê
acessados nessa pesquisa ficaram estruturados da seguinte forma: Levantamento
da faixa etária; levantamento do estado civil; levantamento do número de filhos;
levantamento da Carga horária de trabalho; e levantamento do tempo de profissão.
O item do formulário que abordava as principais fontes de estresse
(dificuldades, preocupações, circunstâncias percebidas como ameaçadoras) que um
mototaxista enfrenta no dia-a-dia do trânsito em Irecê era subjetivo, aberto à
resposta espontânea, embora também constassem as hipóteses da pesquisadora
relacionadas às respostas que poderiam surgir. Entretanto, os participantes
apresentaram respostas por vezes diversas daquelas previamente esperadas no
questionário, aparecendo assim uma pluralidade de dados que foram categorizados
em três novos gráficos: Relacionamento interpessoal no trânsito; Segurança no
trânsito; e Organização do trânsito de Irecê.
34
Por fim, a pesquisa apresenta um gráfico ilustrativo das “Principais ações para
minimizar ou acabar com as fontes estressoras”, de acordo a percepção dos
mototaxistas acessados nesse estudo.
35
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para traçar um perfil dos mototaxistas pesquisados foram levantadas
informações sobre cinco características: faixa etária, estado civil, número de filhos,
carga horária de trabalho e tempo que exercem a profissão.
Os dados revelam que todos os sujeitos da amostra são do sexo masculino e,
de acordo os profissionais entrevistados, há apenas uma mototaxista profissional do
sexo feminino cadastrada na cidade de Irecê. A faixa etária predominante está entre
30 e 50 anos, seguidos pelos jovens com idades entre 18 e 29 anos, apresentando
uma minoria acima de 51 anos de idade. Esses dados estão ilustrados no gráfico 1.
Gráfico 01 – Distribuição, em porcentagem, da faixa etária dos mototaxistas.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
ENTRE 30 E 50 ANOS ENTRE 18 E 29 ANOS MAIS DE 51 ANOS
Levantamento da faixa etária dos mototaxistas da cidade de Irecê-BA.
Fonte: Dados da Pesquisa. Irecè/BA. (2012).
Há predominância de homens casados, seguidos pelos que vivem com
companheira, os solteiros, separados ou divorciados, aqueles que mantêm um
relacionamento estável e os viúvos. O gráfico 02 expressa o estado civil dos
mototaxistas acessados.
36
Gráfico 02 – Distribuição, em porcentagem, do estado civil dos mototaxistas.
0,00%5,00%
10,00%15,00%20,00%25,00%30,00%35,00%40,00%
Levantamento do estado civil dos mototaxistas da cidade de Irecê-BA
Fonte: Dados da Pesquisa. Irecè/BA. (2012).
O gráfico 03 revela que uma maioria expressiva dos sujeitos tem entre 1 e 2
filhos, pouco mais de 20% não tem filhos e menos de 18% da amostra tem mais de
3 filhos.
Gráfico 03 – Distribuição, em porcentagem, do número de filhos dos mototaxistas.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
DE 1 A 2 FILHOS NENHUM FILHO MAIS DE 3 FILHOS Levantamento do número de filhos dos mototaxistas da cidade de Irecê-BA
Fonte: Dados da Pesquisa. Irecè/BA. (2012).
Dentre os sujeitos entrevistados, 14,2% possuem outras profissões (vigilante,
segurança ou frentista de posto de gasolina) com carga horária que varia de 4 a 10
horas por dia, além do trabalho como mototáxi. Alguns deles, 11,4%, são autônomos
em atividades que não exigem carga horária rígida de trabalho (faz frete como
37
taxista, ou é comerciante, ou vocalista de banda). 28,5% deles exercem atividades
ligadas à agricultura em determinadas épocas do ano, mas não estão trabalhando
nessa área nos últimos meses, em virtude da seca que assola a região. Mas a maior
parte da amostra, 45,7%, trabalha exclusivamente como mototaxista profissional.
Essa questão da carga horária de trabalho é referenciada na literatura,
quando, por exemplo, Silva et al (2012) afirmam que a qualidade de vida e a saúde
do mototaxista podem ser afetadas tanto pelo ritmo de trabalho intenso - que os
expõem ao desgaste físico e mental, o que diminui os reflexos e a atenção exigidos
no trânsito -, quanto pelo trabalho em turnos, uma vez que as inversões nos turnos
de atividade alteram o ciclo sono-vigília e trazem prejuízos à capacidade funcional.
Tais inversões são comuns na cidade de Irecê nos casos dos profissionais que
conciliam mais de uma profissão e na rotatividade que muitos deles fazem para
trabalhar em noites de festa ou na rodoviária, transportando passageiros que
chegam na madrugada.
O gráfico 04 revela que a maioria deles tem uma carga horária diária de
trabalho superior a 10 horas: 40% de 10 a 12 horas e 37% de 13 a 15 horas de
atividade diária, considerando tanto a atividade de mototaxista quanto os outros
serviços que eles venham a desempenhar cotidianamente.
Gráfico 04 – Distribuição, em porcentagem, da carga horária de trabalho dos mototaxistas.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
DE 10 A 12 HORAS
DE 13 A 15 HORAS
DE 8 A 9 HORAS
4 HORAS ENTRE 16 E 17 HORAS
Levantamento da carga horária de trabalho dos mototaxistas da cidade de Irecê
Fonte: Dados da Pesquisa. Irecè/BA. (2012).
38
Quanto ao tempo de profissão, os dados apontam que acima de 40% dos
entrevistados trabalham como mototaxista há mais de 7 anos, chegando alguns a 14
anos de trabalho na área. O gráfico 05 ilustra esses resultados em detalhes.
Gráfico 05 – Distribuição, em porcentagem, do tempo de profissão dos mototaxistas.
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
DE 7 A 14 ANOS DE 2 MESES ATÉ 1 ANO
DE 2 A 3 ANOS DE 4 A 6 ANOS Levantamento do tempo de profissão dos mototaxistas da cidade de Irecê-BA
Fonte: Dados da Pesquisa. Irecè/BA. (2012).
Os sujeitos entrevistados fizeram referência há três tipos de situações que
podem representar fontes estresse no trânsito em Irecê: O relacionamento
interpessoal no trânsito; as questões relativas à segurança no trânsito; e aquelas
relacionadas à organização do trânsito.
O item “Relacionamento interpessoal entre mototaxistas e demais integrantes
do trânsito em Irecê - BA” trata do relacionar-se com outras pessoas, algo
imprescindível uma vez que esses profissionais lidam a todo tempo com seus
clientes, com os pedestres e com os sujeitos que dirigem, guiam e/ou pilotam os
demais veículos em circulação. Esse relacionamento implica na administração de
uma vasta demanda de conflitos e engloba suas verbalizações sobre: o desrespeito
aos mototaxistas - veículos maiores não dão passagem; o estresse de terceiros –
outros motoqueiros, motoristas de carro, caminhão, ônibus, ciclistas, pedestres,
pessoas em outros meios de transporte; problemas com clientes que chamam e os
fazem esperar por muitos minutos, além dos trotes no telefone da empresa; e ainda
o preconceito contra os mototaxistas no trânsito e no comércio da cidade.
39
Os profissionais entrevistados apontam o desrespeito aos mototaxistas como
a principal fonte de estresse no trânsito em Irecê. A queixa predominante é a de que
os veículos maiores não dão passagem para motoqueiros, seguida pelo desgaste
provocado pelo estresse dos outros integrantes do sistema.
Silva et al (2012) também abordam a relevância das relações interpessoais
salientando que na interação com os empregadores e/ou com os clientes, os
mototaxistas muitas vezes trabalham sob constante pressão do tempo, visando
aumentar a produtividade e agilidade no cumprimento de metas, ou até para atender
o maior número de usuários e aumentar a lucratividade, o que favorece aos
acidentes.
O desrespeito aos mototaxistas e o estresse de terceiros foram os principais
itens referenciados pelos sujeitos, como ilustrado no gráfico 06, que revela quais
questões referentes à relação interpessoal prevalecem na percepção dos
mototaxistas de Irecê.
Gráfico 06 – Relacionamento interpessoal entre mototaxistas e demais integrantes do trânsito.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Desrespeito aos mototaxistas
Estresse de terceiros Problemas com os clientes
Preconceito contra os mototaxistas
Relacionamento intepessoal entre mototaxistas e demais integrantes do trânsito em Irecê-BA
Fonte: Dados da Pesquisa. Irecè/BA. (2012).
Já o item “Segurança no trânsito da cidade de Irecê” refere-se ao quão
desprotegidos esses profissionais se sentem tanto no que diz respeito a atentados e
roubos, quanto ao risco de acidentes, além do fato de não estarem segurados em
caso de lesão ou incapacidade física. Logo, essa incerteza e instabilidade incluem:
Ausência de segurança policial – em casos de agressividade verbal no trânsito, ou
40
diante do receio de ser assaltado, ou temor em sofrer algum tipo de agressão física,
ou lesão ou atentado contra a vida; e ausência de seguro em caso de acidente.
Os profissionais entrevistados destacaram a ausência da proteção policial
para evitar conflitos, ameaças e violência durante o tráfego. Em Irecê já houve casos
de mototaxistas mortos em pleno exercício da atividade, por bandidos que se
passam por passageiros. Além dos roubos que são muito comuns4. Outro ponto
também debatido entre eles, que revelou uma aparente carga de sofrimento
psíquico, foi a ausência de seguro em caso de acidente. Alguns mototaxistas
chegaram a verbalizar: “Quando você sofre um acidente, a família cuida, se você
tiver família, senão, fica a mercê da sorte... A empresa não tem nada com isso. Se
não pode trabalhar, você é descartado!”. O gráfico 07 ilustra o quanto essas
questões foram abordadas pelos participantes.
Gráfico 07 – Características da segurança do trânsito na cidade de Irecê/BA.
Fonte: Dados da Pesquisa. Irecè/BA. (2012).
Por fim, o item “Organização do trânsito da cidade de Irecê”, relaciona-se ao
desarranjo do tráfego e à quantidade de usuários, além da sinalização insuficiente
ou ausente na maior parte dos trechos. Está subdividido em três tópicos:
Precariedade da sinalização e/ou da pavimentação asfáltica; Elevado número de
pessoas e transportes diversos em circulação nas vias públicas; Má condução dos
demais veículos em circulação.
4 A pesquisadora não conseguiu obter acesso aos registros de assalto a mototaxistas junto aos órgãos
responsáveis.
41
No que se refere à “Organização do Trânsito”, houve destaque para a
precariedade da sinalização no município de Irecê. Os participantes salientaram que
os poucos semáforos estão concentrados no centro da cidade e não funcionam
adequadamente. Levantaram também a questão, talvez inédita nessa cidade, em se
tratando de um município de médio porte, do excesso de pessoas e transportes em
circulação nas vias públicas nos horários de pico (ao meio dia e no final da tarde). O
gráfico 08 detalha a prevalência de cada item, conforme as respostas dos sujeitos.
Gráfico 08 – Características da organização do trânsito na cidade de Irecê/BA..
Fonte: Dados da Pesquisa. Irecè/BA. (2012).
Quando questionados sobre o que pode ser feito para minimizar ou acabar
com as fontes estressoras apontadas na pesquisa, os mototaxistas indicaram a
necessidade de ações do Governo Municipal, tais como a sinalização das ruas da
cidade, a criação de um policiamento para o trânsito municipal e a pavimentação de
ruas; ações dos Órgãos do Trânsito – CONTRAN, DETRAN, CIRETRAN -investindo
em educação para o trânsito; atuação de associações e sindicatos, com vistas à
união da categoria para reivindicar direitos tais como seguro contra acidentes e a
contribuição das empresas junto ao INSS; e ações do Governo Estadual, com o
aumento da segurança policial.
Os mototaxistas abordaram aqui, soluções simples na teoria e complexas na
prática, já que exigem a colaboração de diversos setores públicos. Assim,
destacaram a necessidade de apoio do Governo Municipal; seguido pelos Órgãos do
Trânsito nas três esferas, Municipal, Estadual e Federal; por fim citaram a atuação
42
de associações e sindicatos, empenhados em suas causas; além da contribuição do
Governo Estadual, com o aumento do efetivo policial, para lhes transmitir maior
sensação de segurança. O gráfico 09 apresenta os referidos resultados.
Gráfico 09 – Principais ações propostas para minimizar ou acabar com as fontes estressoras.
0
5
10
15
20
25
Ações do Governo
Municipal
Ações dos órgãos vinculados ao
trânsito
Associações e Sindicatos atuantes
Ações do Governo Estadual
Principais ações para minimizar ou acabar com as fontes estressoras, segundo os mototaxistas da cidade de Irecê-BA
Fonte: Dados da Pesquisa. Irecè/BA. (2012).
No geral, os dados revelam a multiplicidade da amostra, que embora seja
composta por mototaxistas profissionais do sexo masculino da cidade de Irecê no
interior do Estado da Bahia, apresenta uma ampla variedade de informações
pessoais relevantes e distintas. Uma das razões para não afunilar e homogeneizar
um pouco mais o grupo foi a dificuldade de acesso a esses profissionais. Eles ficam
alocados nas respectivas empresas aguardando “a vez” para atender algum cliente.
Enquanto aguardam, muitos batem papo, jogam dominó, descansam e nem sempre
uma pesquisadora querendo aplicar questionários é bem recebida. Alguns deles
simplesmente se recusam a colaborar, outros demonstram timidez, pedem aos
colegas para dar entrevista em seu lugar, ou se desculpam e dizem que não podem,
pois já estão de saída. Frente a esse dado de realidade, a amostra foi composta
aleatoriamente pelos profissionais de 6 empresas distintas que se dispuseram a
participar do trabalho.
Como referenciado anteriormente, os sujeitos tinham idades entre 18 e 60
anos e dentre eles haviam os solteiros, os casados, os divorciados, os que vivem
junto com alguém, ou que tem relacionamento estável e os viúvos. Alguns com
filhos, com quantidade variável de 1 a 6 filhos, outros sem nenhum. Muitos convivem
com esses filhos, outros não. Alguns desempenham outras atividades laborais,
como autônomos ou como funcionários de outras empresas, assim, acumulam carga
43
horária que vai de 4 até 17 horas de trabalho por dia. O tempo que exerce a
profissão de mototáxi também é bastante diversificado, variando de 2 meses até 14
anos de profissão, nesses casos, são mototaxistas desde o surgimento dessa
atividade profissional naquele município.
É natural que uma amostragem tão heterogênea revele pessoas com estilos
de vida muito discrepantes, com pensamentos, idéias e sentimentos diversos.
Portanto, as respostas referentes às principais fontes de estresse que enfrentam em
seu cotidiano certamente foram enviesadas por tais divergências. Apesar dessa
multiplicidade, essa pesquisa convida os representantes de todas as entidades a
repensar suas práticas e a colocar em pauta a causa do mototaxista profissional. Há
muito a se construir, projetos e propostas políticas a se elaborar e uma variedade de
agentes que podem contribuir com a melhoria da qualidade de vida e de trabalho
para essas pessoas.
44
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa sugere que há um elaborado projeto a se arquitetar em termos de
mobilidade humana. Os mototaxistas, assim como os demais usuários do sistema
trânsito estão sim sujeitos a fontes estressoras provocadas tanto pelas
precariedades das vias de circulação, quanto pelas relações interpessoais que se
estabelecem no tráfego, passando pela necessidade gritante de se obter mais
segurança e garantia da manutenção e/ou do restabelecimento de sua integridade
física e psíquica.
Os resultados foram alcançados, na medida em que a pesquisa se propunha
a levantar as principais fontes de estresse no trânsito segundo relato dos próprios
mototaxistas, com vistas a conscientizar as autoridades responsáveis e talvez
influenciá-las a promover mudanças. Em breve, essa monografia será patenteada e
apresentada aos representantes políticos municipais de modo a permitir que sejam
tomadas as providências cabíveis e que os profissionais mototaxistas de Irecê sejam
reconhecidos em sua relevância, tendo seus direitos reavaliados e garantidos em
um futuro próximo. Talvez esse seja o primeiro estudo a ser registrado, envolvendo
a questão do estresse para os mototaxistas desse município baiano. Pode ser o
ponto de partida para a investigação de muitas outras questões, uma vez que se
trata de um vasto campo a ser averiguado.
Assim, essa monografia se propõe a dar início, instigar a realização de novas
reuniões, discussões, levantamento de possibilidades, para que finalmente, seja
possível colocar em prática as primeiras mudanças. A benfeitoria para o profissional
mototaxista traduz-se numa reorganização do sistema trânsito, bem como numa
maior segurança para quem se utiliza dele. O desenvolvimento sustentável do
trânsito pode se efetivar por meio de uma política educativa envolvendo as
necessidades e o desenvolvimento local, além do amadurecimento psíquico dos
seus “usuários”. O que se busca é uma situação equilibrada em que as formas de
circulação possibilitem vantagens e desvantagens equivalentes para todos os
participantes do trânsito (JUNCAL, 2009).
No geral, os resultados deste estudo apontam para a existência de
antagonismos tanto da ordem do relacionamento interpessoal; quanto da falta de
segurança e da má organização do trânsito municipal. O que induz à conclusão de
45
que o gerenciamento de conflitos precisa ser constante, na tentativa de dividir o
espaço entre todos os que necessitam circular. O foco é a melhoria da qualidade de
vida e de trabalho, além do aumento da segurança no trânsito repercutindo
positivamente em todas as esferas sociais.
46
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50
ANEXO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, ______________________________________________________ declaro para os devidos fins que fui suficientemente informado (a) a respeito da entrevista para a pesquisa “Levantamento das Principais Fontes de Estresse no Trânsito para Mototaxistas Profissionais do Município de Irecê-BA”, pela acadêmica Jordana Sodré dos Santos, com a supervisão da Professora Vera Cristina Calado e que li, ou que foram lidas para mim, as premissas e condições deste termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Concordo em participar da pesquisa proposta por intermédio das condições aqui expostas e a mim apresentadas pela pesquisadora Jordana Sodré. Declaro ainda que os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, a ausência de desconfortos ou de riscos físicos e/ou psíquicos e morais, a garantia de privacidade, de confidencialidade científica e de liberdade quanto a minha participação, de isenção de despesas e/ou compensações, bem como a garantia de esclarecimentos permanentes, estão suficientemente claros para mim. Concordo voluntariamente em participar desta pesquisa.
Irecê – BA, ____/____/2012
___________________________________ Assinatura do Sujeito Participante
______________________________________________ Assinatura da Pesquisadora
51
APÊNDICE
QUESTIONÁRIO USADO NA COLETA DA PESQUISA Prezado(a), Agradecemos imensamente a sua colaboração, ressaltando que você não será identificado (a) e que não existem respostas certas ou erradas. 1) SUJEITO _________________________ 2) SEXO: F( ) M( ) 3) IDADE: ____ 4) ESTADO CIVIL: CASADO (A) ( ) VIVE COM COMPANHEIRO (A) ( ) RELACIONAMENTO ESTÁVEL ( ) SOLTEIRO (A) ( ) 5) NÚMERO DE FILHOS: 0 / 1 / 2 / 3 / 4 / 5 / 6 / 7 / 8 / 9 / 10 / ______ 6) PROFISSÃO: MOTOTAXISTA ( ) 7) POSSUI ALGUMA OUTRA PROFISSÃO? SIM ( ) NÃO ( ) QUAL? __________________________________________________________________________ 8) QUAL SUA CARGA HORÁRIA DE TRABALHO DIÁRIA COMO MOTOTAXISTA? 8 HORAS( ) 12 HORAS( ) ___ HORAS( ) 9) CASO EXERÇA OUTRA PROFISSÃO, CARGA HORÁRIA DIÁRIA TOTAL DE TRABALHO: _____ HORAS. 10) HA QUANTO TEMPO EXERCE A PROFISSÃO DE MOTOTAXISTA? ______________ 11) QUAIS AS PRINCIPAIS FONTES DE ESTRESSE (DIFICULDADES, PREOCUPAÇÕES, CIRCUNSTANCIAS PERCEBIDAS COMO AMEAÇADORAS) QUE UM MOTOTAXISTA ENFRENTA NO DIA-A-DIA DO TRÂNSITO EM IRECE-BA? RESPOSTA ESPONTÂNEA_____________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ITENS VERBALIZADOS: ESTRESSE DE TERCEIROS – OUTROS MOTOQUEIROS, MOTORISTAS, CICLISTAS, PEDESTRES, PESSOAS EM OUTROS MEIOS DE TRANSPORTE ( ); AGRESSIVIDADE VERBAL NO TRÂNSITO ( ); RECEIO DE SER ASSALTADO ( ); RECEIO DE SER SOFRER ALGUM TIPO DE AGRESSÃO FÍSICA, OU LESÃO OU ATENTADO CONTRA A VIDA ( ); ELEVADO NÚMERO DE PESSOAS E TRANSPORTES DIVERSOS EM CIRCULAÇÃO NAS VIAS PÚBLICAS ( ); MÁ CONDUÇÃO DOS DEMAIS VEÍCULOS EM CIRCULAÇÃO ( ); MÁS CONDIÇÕES DAS VIAS URBANAS ( ); PRECONCEITO CONTRA OS MOTOTAXISTAS ( ); DESRESPEITO AOS MOTOTAXISTAS( ); DESRESPEITO AOS MOTOQUEIROS EM GERAL ( ). 12) EM SUA OPINIÃO, O QUE PODE SER FEITO PARA MINIMIZAR OU ACABAR COM ESSAS FONTES ESTRESSORAS? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________