Lexico Do Portugues - Alina Villalva

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 Alina Villalva Morfologia do Português Universidade Aberta 2008

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Alina Villalva

Morfologia do PortugusUniversidade Aberta 2008

Captulo 2. O Lxico do Portugus

ObjectivosNeste segundo captulo pretende-se apresentar os aspectos do conhecimento do lxico do Portugus. Aqui se inclui: uma breve descrio da histria do lxico do Portugus uma explicitao dos conceitos de neologismo, arcasmo, dialectalismo a identificao de recursos no-morfolgicos para a formao de palavras

No final desta unidade, o aluno dever conhecer: as principais caractersticas histricas do lxico do Portugus o base latina o substratos o superstratos o conceito de neologismo alguns recursos no-morfolgicos para a formao de palavras, como: o inveno de palavras o onomatopeia o redobro o amlgama o eponmia o extenso semntica o truncamento o acronmia o formao de siglas o abreviao o emprstimo

A identificao do conjunto de palavras que constitui o lxico de uma lngua uma tarefa difcil de cumprir. Num livro intitulado Catalogue des Ides Reues sur la Langue, Marina Yaguello (1988: 87) afirma o seguinte1:Les mots de la langue constituent (...) un ensemble aux contours incertains. On ne peut pas dnombrer les mots d'une langue. Tout au plus peut-on donner un ordre d'ide. La diversit des registres, l'abondance des argots et jargons spcialiss, le fait que certains mots tombent en dsutude tandis que de nouveaux mots sont cres tous les jours rendent tout dcompte arbitraire.

certo que para a maioria das lnguas conhecidas existem dicionrios, vocabulrios e outros inventrios de palavras, que recobrem partes mais ou menos extensas do lxico2, mas tambm sabido que nenhum destes objectos exaustivo e que a informao que facultam seleccionada pelos seus autores e frequentemente assistemtica, variando de entrada a Existem muitas espcies de dicionrios, que entrada. , pois, variam em funo da cobertura que oferecem e do difcil alcanar tipo de informao que disponibilizam. Quando se uma fala em dicionrios, pensa-se quase sempre em caracterizao dicionrios monolingues, que registam o lxico global do lxico geral de uma lngua e veiculam uma informao de uma lngua a gramatical sumria e parfrases das diversas partir da consulta significaes. De fora ficam, em geral, arcasmos, deste tipo de dialectalismos e neologismos, ou seja, palavras objectos, devendo consideradas como desvios norma. Usos particulares podem, no entanto, recorrer a o conhecimento dicionrios de outros tipos, como os dicionrios do lxico em plurilingues, os dicionrios inversos ou dicionrios extenso dar lugar especializados, como os etimolgicos ou os a um dicionrios tcnicos dedicados a uma dada lngua conhecimento de especialidade. qualitativo. Mais A vulgarizao dos chamados dicionrios do que a electrnicos tem vindo a tornar possvel a enumerao das concentrao de informao num nico objecto, o palavras que o que constitua um obstculo inultrapassvel para compem, a os dicionrios apresentados em suporte-papel. caracterizao do lxico exige o reconhecimento das suas principais propriedades histricas e sincrnicas, o que constitui o objecto de estudo da lexicologia. Vejamos, ento, como se apresenta o lxico do Portugus. No presente captulo comearemos por fazer uma breve descrio da evoluo do lxico do Portugus, para, em seguida, identificar alguns dos fenmenos de perdas e ganhos no lxico desta lngua, apresentando

conceitos como neologismo e arcasmo. Dado que os captulos seguintes se dedicam exclusivamente s questes morfolgicas, veremos aqui que tambm existem recursos no-morfolgicos de formao de palavras, sendo o emprstimo um dos mais relevantes.

2.1 Herana Latina, Substratos e SuperstratosTal como a prpria lngua, o lxico do Portugus est ancorado no lxico latino e, em particular, no lxico do Latim falado no noroeste da Pennsula Ibrica durante a vigncia do Imprio Romano3, que, segundo Piel (1976), se comea a diferenciar do Latim falado noutras regies por volta do sculo V d.C. Nem as lnguas faladas nesta regio antes da ocupao romana conseguiram subsistir colonizao lingustica latina, nem as lnguas dos posteriores ocupantes foram capazes de suplant-la. Palavras como as de (1) exemplificam a monumental herana lexical latina e permitem observar algumas das alteraes fonticas que acompanharam a passagem do Latim ao Portugus:(1)CAPILLUM CLAMARE DOLORE FILIUM LACTE LUNA PLACERE REGINA

> > > > > > > >

cabelo chamar dor filho leite lua prazer rainha

H, no entanto, alguns vestgios das lnguas pr-romanas existentes na Pennsula Ibrica at ao sculo II a.C., habitualmente designadas por substratos: Castro (1991) refere as palavras camura, esquerdo e chaparro, como exemplos dos substratos mediterrnico, proto-basco e ibero, respectivamente. Os superstratos, ou seja, as lnguas faladas pelos ocupantes da Pennsula Ibrica findo o domnio romano, tambm deixaram vestgios no Portugus4. Segundo Castro (1991: 151), as palavras registadas em (2) constituem verdadeiras formas de superstrato germnico na Pennsula Ibrica, dado que no ocorrem fora deste territrio:(2)GASALJA SPITUS GANS LOFA RAUBA

companheiro espeto ganso palma da mo despojos tomados ao inimigo

> > > > >

agasalhar espeto ganso luva roupa

Os vestgios lexicais do superstrato rabe so mais abundantes. Os exemplos seguintes mostram que estes emprstimos incorporam frequentemente um determinante com a forma al- (cf. 3a) ou esta mesma forma modificada por assimilaes fonticas desencadeadas pela palavra que precede, ocorridas na lngua de origem (cf. 3b, 3c e 3d), ou outros tipos de alterao fontica (cf. 3f e 3g):(3) a. b. c. d. e. f.AL-QATIFA AL-QUFFA AR-RUZZ AR-RABAD AS-SUTEYHA AS-SUKKAR AT-TUNN AL-MAHAZN AL-GULLA AD-DAYHA AD-DAH'IM

> alcatifa > alcofa > arroz > arrabalde > aoteia > acar > atum > armazm > argola > aldeia > andaime

Os arabismos que no so precedidos pelo determinante so menos numerosos e podem ter sido integrados no Portugus de um modo diferente dos anteriores, nomeadamente em fase posterior ou por intermdio de uma terceira lngua5.(4) a. HANBAR WA X,LLHXARB

1256 e queira Deus, 1495 bebida, poo, sc. xiii pobre, infeliz, do Castelhano consumidor de haxixe, do Italiano esteira; coxim, do Francs

> mbar6 > oxal > xarope > mesquinho > assassino > sof

b. MISKINHAXXXN SUFFA

Cronologicamente, segue-se a constituio do Portugus como lngua, facto localizvel entre o sculo IX e o sculo XIII7. Mas a caracterizao histrica do seu lxico no termina aqui. Dos contactos com outras lnguas, ao sabor de alianas polticas, lutas pela preservao das fronteiras e da nacionalidade, ou desejos de conquista do mundo, surgem novas palavras a que se d o nome geral de emprstimos e nomes particulares determinados pela designao na lngua de origem8.

A etimologia uma disciplina que procura informao acerca da histria das palavras, at encontrar o seu timo, que a forma mais antiga da palavra, de que h conhecimento. O confronto da palavra com o seu timo mostra, por vezes, alteraes que no so meramente lingusticas. O nome de alguns meses do ano, por exemplo, preserva a memria de calendrios j abandonados: o caso de Setembro, o stimo ms do ano romano, Outubro, o oitavo, Novembro, o nono e Dezembro, o dcimo.Noutros casos, a distncia fontica entre o timo e a forma contempornea s se compreende luz de uma qualquer reinterpretao. Esse pode ser o caso de alfinete, proveniente do rabe AL-HILL, mas talvez contaminado pela forma de fino, que uma das suas propriedades (note-se que em Castelhano a forma cognata alfiler). Etimologia popular o nome dado a hipteses etimolgicas fantasiosas, geralmente associadas a uma histria curiosa e plausvel, mas que no encontra confirmao na observao dos dados conhecidos. o que se verifica, por exemplo, com a filiao do adjectivo sincero na expresso SINE CERA (sem cera), que aludiria a um episdio sobre a qualidade de vasos em cera. Esta hiptese no confirmada por etimologistas respeitados como Ernout e Meillet, autores de um dicionrio etimolgico do Latim.

2.2 A NeologiaAs palavras que no fazem parte do lxico de uma lngua desde a sua fundao como lngua so ou foram neologismos. Neologismos so, pois, palavras que, num dado momento da existncia de uma lngua so consideradas palavras novas, como telemvel, cujo aparecimento no final do sculo xx motivou a integrao da palavra no lxico do Portugus. fcil constatar que muitas das palavras que integram o lxico de uma lngua foram, no passado, neologismos basta olhar para a data da sua primeira atestao. Veja-se, por exemplo, a definio de Cunha (1996) para a palavra penicilina:(5)

penicilinaSubstncia formada no crescimento de certos fungos, com acentuada aco antibitica, descoberta pelo ingls A. Fleming, em 1928, e obtida em 1941, pelo australiano Howard Florey e pelo alemo Ernst Chain. XX. Do lat. cient. penicillina, do nome cientfico do fungo Penicillium notatum.

O aparecimento da palavra no pode ser anterior ao aparecimento da substncia que ela refere. Com efeito, o Dicionrio Houaiss data a palavra de 1929, filiando-a na palavra inglesa penicillin, por sua vez

formada a pertir do radical latino PENICILL(IUM) e in, um sufixo semelhante ao sufixo portugus ina, responsvel pela formao de nomes como propriedade de substncia (cf. acromatina, dextrina), ou como efeito da substncia (cf. morfina, ocitonina, narcotina, pepsina). Alguns dicionrios registam justamente a data da primeira atestao de palavras que, nesse momento, eram neologismos. o que se verifica no Oxford English Dictionary, que indica a primeira ocorrncia das palavras, como se exmplifica em (6). O Dicionrio Etimolgico Nova Fronteira da Lngua Portuguesa, de Cunha (1996), atribui s palavras portuguesas equivalentes dataes bastante diferentes. Isto no significa que estas palavras tenham entrado no lxico do Portugus muito mais tarde do que os seus equivalentes ingleses no lxico do Ingls, mas indicia a fragilidade da lexicografia portuguesa9. Com efeito, as datas que ocorrem no referem necessariamente o documento que encerra a primeira atestao da palavra, embora tal possa suceder, mas, mais frequentemente, a data do primeiro registo lexicogrfico da palavra10.(6) OED temperature logarithm neurosis oxygen metabolism genetics 1531 1615 1776 1790 1878 1901 Cunha (1996) temperatura logaritmo neurose oxignio metabolismo gentica 1813 1813 1899 XIX 1899 XX Houaiss (2001) temperatura logaritmo neurose oxignio gentica 1813 1676 1899 1836 1939

metabolismo 1877

Independentemente do momento em que surgem, os neologismos devem ser analisados quanto sua gnese. No existe uma s maneira de gerar neologismos, existem diversas: alguns neologismos so palavras inventadas ou criadas, de forma mais ou menos aleatria, a partir de palavras j existentes, outros so palavras introduzidas na lngua por emprstimo a outras lnguas e outros ainda so palavras formadas a partir dos recursos morfolgicos disponveis na lngua. A criao de neologismos encontra na morfologia uma potente ferramenta, que tem como fortes aliados a sistematicidade e previsibilidade, mas no se esgota a.

2.3 Recursos No-morfolgicos na Formao de PalavrasNesta seco, o propsito mostrar alguns fenmenos de criao de palavras que por vezes so apresentados tambm como domnio da morfologia, mas que, em rigor, no o so. Formas como bezidrglio, que teve uma vida efmera num concurso de televiso dos anos 70 do sculo XX, ou como escanifobtico, podem ser inventadas, sendo o produto da criatividade dos falantes, basta que a sequncia fontica resultante seja reconhecvel como uma palavra dessa lngua e que a sua categorizao sintctica seja plausvel. Este tipo de inveno de palavras, totalmente imotivado, um processo por vezes utilizado na criao literria. o que se verifica nos seguintes textos:Ditirambo, de Mrio Cesariny meu maresperantottmico minha mlanimatgrafurriel minha noivadiagem serpente meu litrpolipo polar meu fiambre de sol de roseira minha musa amiantuliplida meu lustrefrenado cu grande minha afiurora manh minha fgocia de esttuas minha labrioquimia cerrada minha ponta na terra meu arsgrima meu diamantermita acordado!

Urnia, de Jorge de Sena Purlia amancivalva emergidanto, imarculado e rsea, alviridente, na azrea juventil conquinomente transcurva de aste o fido corpo tanto... Tenras nadguas que oculvivam quanto palidiscuro, retradito e olente mnimo desfincta, repente, rasga e sedente ao duro latipranto. Adnica se esvolve na ambolia de terso antena avante palpinado. Fmbril, filvel, viridorna, gia em tlida mancia, vaivinado. Transcorre unflo e suspentreme o dia noturno ao lia e luardente ao cado.

Estrias Abensonhadas, de Mia Couto () Estava j eu predisposto a escrever mais uma crnica quando recebo a ordem: no se pode inventar palavra. (...) Siga-se o cdigo e calendrio das palavras, a gramatical e dicionrica lngua. Mas ainda, a ordem era perguntosa: 'j no h respeito pela lngua-materna?' No que eu tivesse a inteno de inventar palavras. (...) Mas a ordem me deixou desesfeliz. (...) sou um homem obeditoso aos mandos. Resumo-me: sou um obeditado. [...) Nunca ponho trs pontos que para no pecar de insinuncia. (...) Agora acusar-me de inventeiro, isso que no. Porque sei muito bem o perigo da imaginutica. s duas por triz basta uma simples letra para alterar tudo. (...) Entijole-se o homem com tendncia a imaginescncias. Voltando lngua fria: no ser que o portugus no est j feito, completo, made in e tudo? Porqu esta mania de usar os caminhos, levantando poeira sem a devida direco? Estrada civilizada a que tem polcia, sirenes serenando os trnsitos. Caso seno, intransitam-se as vias, cada um conduzindo mais por desejo que por obedincia. (...) Por causa dessas contribuies disprsicas que chegam lngua sem atestado nem guia de marcha. (...) E montavam-se postos de controlo, vigilanciosos.(...) Uma espcie de milcia da lngua, com braadeira, a mandar parar falantes e escreventes. (...) E mesmo antes da resposta, eu, arrogancioso: - No pode passar. Deixa ficar tudo aqui no posto. (...) a vida uma grande fbrica de imagineiros e h muita estrada para poucos vigilentos.

Ainda que todos estes casos possam ser considerados como invenes, a verdade que nem todas estas invenes correspondem a criao completamente original. O leque abre-se com a suposta motivao sonora da onomatopeia, e desvenda-se na utilizao mais ou menos aleatria e assistemtica de dados da prpria lngua, como se verifica nos casos de amlgama, eponmia ou de operaes semnticas sobre as palavras. Vejamos, com um pouco mais de ateno, o que se passa em cada um destes domnios. As palavras onomatopaicas11 so formadas por uma sequncia de sons da fala que pretende reproduzir um dado estmulo sonoro no-verbal. No Portugus Europeu, a criao de palavras onomatopaicas muito pouco frequente e as formas atestadas tambm no so muito numerosas:(7) atchim ou atxim chio trs zs nome masculino nome masculino interjeio interjeio

Em geral, estas palavras so usadas em registos particulares, como o da banda desenhada ou a interaco verbal com crianas, por exemplo, na designao de alguns animais ou das suas vozes:

(8)

cocorcoc cricri gluglu piopio miau

nome masculino nome masculino nome masculino nome masculino nome masculino

= voz do galo = voz do grilo = voz do per = ave = gato e voz do gato

Excepcionalmente, a sequncia fontica que reproduz o som formada por uma expresso lingustica: o que se verifica com a designao informal do colibri como bem-te-vi, ou da galinha de angola como (es)tou-fraca (ambas atestadas no Portugus do Brasil). Note-se que estas redobro (tambm chamado palavras integram uma O reduplicao) um processo de criao de onomatopeia mas tambm. frequentemente, palavras que consiste na repetio de uma palavra j existente e que frequentemente os constituintes uma forma verbal, como cai-cai ou dimorfolgicos exigidos di. pela sua integrao numa Aparece frequentemente associado a outros dada categoria (cf. miar, processos de criao de palavras, como a piar, zumbir, zurrar). As onomatopeia (cf. zunzum) e o truncamento formas onomatopaicas (cf. vv), e particularmente na formao podem tambm servir de de hipocorsticos, que so a verso base formao de carinhosa de palavras existentes (cf. Nn). palavras, mas o formato quase sempre aleatrio, com insero de sons que tornem a sequncia fontica plausvel, ou fazendo uso dos mecanismos de redobro:(9) clique clicar pop tautau tlim tilintar tique-taque toctoc

Em muitos casos, as formas onomatopaicas so emprstimos de outras lnguas, inclusivamente do Grego Antigo e do Latim: Gr. MU gemido Lat. SUSSURRARE Fr. froufrou Ing. ping-pong Lat. MURMURARE Pt. murmurar Pt. sussurrar Pt. frufru Pt. pingue-pongue

A existncia de emprstimos no impede que diferentes lnguas recorram onomatopeia para formar palavras com um idntico valor referencial, mas diferentes realizaes fonticas, o que mostra como a motivao fsica da onomatopeia frgil e menos motivada do que se esperaria. No exemplo seguinte pode ver-se que ou os ces latem de forma

diferentes em diferentes pases, ou a onomatopeia to convencional e arbitrria quanto qualquer outro signo lingustico:(11) Portugal Brasil Frana Alemanha Estados Unidos da Amrica o o au-au whou whou vow vow ruf ruf

A amlgama um processo de combinao aleatria de segmentos de palavras, que consiste, geralmente, na justaposio da primeira parte da primeira palavra ltima parte da segunda (cf. 12a), mas outras combinaes so possveis (cf. 12b):(12) a. b. fidalgo filho + de +algo voc (vossemec, vomec) vossa + merc modem posat telex modulator demodulator portuguese sattelite teleprinter exchange

Algumas destas formas esto plenamente integradas no lxico do Portugus (cf. 12a), outras so sentidas como neologismos mais ou menos familiares e mais ou menos efmeros (cf. 13a e 13b):(13) a. analfabruto camurso nim frangls portunhol barrigordo bebemorar borbotixa catastrica cavaquisto showmcio teatreca analfabeto + bruto camelo + urso no + sim francs + ingls portugus + espanhol barrigudo + gordo beber + comemorar borboleta + lagartixa catstrofe + perestrica Cavaco + (X)isto show + comcio teatro + biblioteca

b.

Este recurso frequentemente utilizado na construo de nomes de empresas:(14) Petrogal Portucel petrleo + Portugal Portugal + celulose

E tambm um recurso muito usado por alguns criadores literrios. Retomando os exemplos de Cesariny, Sena e Mia Couto, constata-se a existncia de casos de amlgama em todos eles:

(15)

diamantermita insinuncia nadguas noivadiagem palidiscuro suspentreme vigilentos

diamante + trmita insinuao + insolncia ndegas + guas noiva + vadiagem plido + escuro suspende + treme vigilantes + lentos

Algumas das formas geradas por amlgama so emprstimos de outras lnguas, incusivamente do Latim, o que atesta a sua antiguidade:(16) fregus cyborg metrossexual filius + ecclesiae ciberntica + organismo metropolitan + heterossexual

A eponmia (palavra que em Grego significava que d o seu nome a uma coisa) consiste na formao de um adjectivo, de um nome comum ou de um verbo a partir de um topnimo ou de um antropnimo:(17) acaciano - ridculo pela sua forma de ser ou de falar, de Conselheiro Accio, personagem de O Primo Baslio, romance de Ea de Queirs almeida - varredor de ruas, de Almeida, lugar de origem de uma brigada de limpeza das ruas de Lisboa, constituda pelo Baro de Almeida jaquinzinho - carapau pequeno, de um desconhecido Joaquim sebastianismo - crena de que a resoluo dos problemas polticos nacionais ser alcanada com a vinda de um salvador misterioso, de Sebastio, rei de Portugal morto na batalha de Alccer-Quibir z-pereira - tocador de bombo, de um desconhecido Z Pereira

Muitos dos epnimos disponveis no Portugus so emprstimos, ou so formados sobre um nome prprio estrangeiro, podendo a sua origem ser mais ou menos conhecida e remota:(18) afrodisaco - que excita o desejo sexual, de Afrodite, deusa da mitologia grega que representava o amor alfarrbio - livro antigo, do rabe FARABI, nome de um filsofo do Turquesto, que viveu nos sculos IX e X algoz - carrasco, executor da pena de morte ou de outras penas corporais, do rabe gozz, nome da tribo onde geralmente eram recrutados os carrascos benjamin - o filho mais novo, do hebraico biniamin 'filho da mo direita e, na Bblia, filho mais novo e preferido de Jacob

diesel - derivado do petrleo, de Rudolf Diesel, engenheiro alemo que inventou o motor alimentado por este combustvel hamburguer - bife de carne picada, do Alemo Hamburguer, proveniente de Hamburgo Janeiro - primeiro ms do ano civil nos calendrios juliano e gregoriano, de Janus, deus da mitologia romana que protege as entradas e as sadas, o interior e o exterior sanduiche - fatias de po com carne, do ttulo do Conde de Sandwich (1718-1792), cujo cozinheiro inventou uma refeio prpria para ser consumida mesa de jogo saxofone - instrumento de sopro, de A. J. Sax, seu inventor tangerina - citrino, de Tnger, cidade marroquina

Frequentemente, a eponmia d origem no a uma forma mas a um conjunto de formas, que podem, ou no, estar morfologicamente relacionadas entre si:(19) boicotar, boicote - de Boycott, nome de um capito irlands, que, em consequncia de exigncias excessivas, suscitou uma recusa geral de trabalhar sob as suas ordens chauvinismo, chauvinista - de Nicolas Chauvin, soldado de Napoleo que inspirou peas teatrais em que aparecia como patriota exagerado, de uma lealdade totalmente cega linchar, linchamento - de Lynch, nome de um norte-americano autor de um tipo de punio sumria determinada por um tribunal judicial autocriado maquiavlico, maquiavelismo - de Machiavelli, estadista florentino, clebre pelas suas teorias polticas pasteurizar, pauteurizado, pasteurizao - de Pasteur, nome do cientista francs que inventou este processo tcito, tacitamente de Tcita, deusa do silncio, na mitoloogia romana

Vejamos, por ltimo, a extenso semntica, que consiste na atribuio de um novo significado a uma palavra j existente: papel (do Latim PAPRUS, nome de uma planta), por exemplo, comea por referir uma substncia formada por matrias vegetais ou de trapos reduzidos a massa, e disposta em folhas, para se escrever, embrulhar, etc. Posteriormente, passou a ser usado como sinnimo de obrigao, dever, mas tambm passou a referir a parte de uma pea teatral que cabe a cada actor. Actualmente, acumula todos estes valores semnticos e pode ainda significar dinheiro em notas. Por outro lado, usos especficos da matria-

prima que o papel receberam nomes distintos, como carta, que comea por designar uma folha de papel preparada para receber a escrita, mas ganha novos significados, de sinnimo de missiva, mensagem, a documento de identificao de uma qualidade, como se verifica em carta de conduo. Nesta ltima acepo o aumentativo carto (cujo significado original o de folha de papel mais espessa) que ganha relevo, surgindo na denominao de documentos, como o carto de crdito, carto de eleitor, carto de utente ou carto de contribuinte. Mas se a carta recebe uma marca que prova a autenticidade de uma provenincia passa a ser um bilhete, como o bilhete de identidade que exibe um selo branco; se vinha dobrado em dois era um diploma, e se autorizava o exerccio de uma actividade passava a chamar-se alvar. A mudana semntica tambm pode ser exemplificada por uma palavra como virtude, cujo timo latino (i.e. VIRTUS, -UTIS) referia qualidades (fsicas e morais) que distinguem o homem, fora prpria dos homens, e que, no Portugus significa disposio habitual para a prtica do bem, tanto por homens como por mulheres. O mesmo se verifica com virtual ou com virilha, palavras que em Latim derivavam da forma VIR, que significavam homem, e cuja interpretao contempornea no conhece essa restrio semntica. Para alm destes processos de criao de palavras, h outros recursos, igualmente nomorfolgicos, que no se propem criar novas palavras, mas sim formas mais geis de utilizar palavras ou sequncias de palavras j existentes. Trata-se de processos como o truncamento, a acronmia e a formao de siglas e abreviaturas, cujos principais traos caractersticos sero seguidamente apresentados. Truncamento um processo de reduo de uma palavra, que elimina uma sequncia, geralmente no final da palavra12, e pode associar sequncia truncada um ndice temtico geralmente distinto do ndice temtico da base, sendo imprevisivelmente -a ou -o, como se pode constatar nos seguintes exemplos:(20) analfa china cusca emigra monga reaa facho agito analfabeto chins coscuvilheiro emigrante mongolide reaccionri{o; a} fascista agitao

Note-se que, de um modo geral, os nomes assim criados so masculinos e no admitem contraste de gnero (cf. um china / ?uma china), ou admitem a existncia desse contraste, mas s permitem que seja realizado sintacticamente (cf. um comuna / uma comuna). Nos restantes casos, o truncamento no seguido de qualquer alterao formal e preserva o valor de gnero da forma de base (cf. um heli(cptero) / uma manif(estao)):(21) def expo heli manif prof deficiente exposio helicptero manifestao professor(a)

Por vezes, o truncamento parece reconhecer uma estrutura de composio morfolgica, preservando o primeiro radical (que geralmente um radical neoclssico) e a vogal de ligao:(22) foto metro micro [-fem] micro [+fem] moto13 porno quilo zoo fotografia metropolitano microfone micro-radiografia motocicleta pornogrfico/a quilograma zoolgico

Regra geral, as formas truncadas e as suas bases so sinnimas (cf. otorrino vs. otorrinolaringologista), limitando-se as formas mais curtas a facilitar o uso dessas palavras. Algumas outras, porm, so utilizadas exclusivamente em registos lingusticos menos formais, e, em alguns casos, podem mesmo ter uma carga pejorativa. (cf. comuna vs. comunista ou prof vs. professor). O resultado de um processo de truncamento pode ainda no ocorrer como forma livre, mas sim como um formativo de um composto. o que se verifica com a forma tele- que ocorre em telejornal no com o mesmo valor com que ocorre em televiso, mas sim como sinnimo truncado de televiso um telejornal um jornal apresentado na televiso. O mesmo se verifica com auto- em autoestrada, onde retoma o valor de automvel, pelo que uma autoestrada no permite o trnsito de bicicletas ou veculos de traco animal. Muitos hipocorsticos de antropnimos so formados por truncamento, processo que pode afectar quer um segmento inicial (mais frequente no Portugus Europeu), quer final (preferido pelo Portugus Brasileiro), quer ambos, com eventuais alteraes fonticas:

(23)

Quim Nando Z Alex Edu Rafa T

= Joaquim = Fernando = Jos = Alexandre = Eduardo = Rafael = Antnio

Lena So Tina Bia Carol Isa Bia

= Helena = Conceio = Cristina = Beatriz = Carolina = Isabel = Maria

A acronmia tambm um processo de reduo, mas o seu domnio de interveno uma sequncia de palavras. Em termos prticos, a acronmia consiste na criao de uma palavra a partir do(s) grafema(s) que se situa(m) no incio das palavras que integram um ttulo ou uma frase. A forma resultante foneticamente realizada como um contnuo, e no como uma sequncia de sons independentemente articulados:(24)IVA PREC

imposto sobre o valor acrescentado processo revolucionrio em curso

De um modo geral, as propriedades gramaticais dos acrnimos so herdadas das propriedades da palavra que constitui o ncleo sintctico da expresso que est na sua base: palop um nome masculino porque pas um nome masculino; Pide um nome feminino porque polcia um nome feminino. TAC um dos casos em que o uso no respeita essa condio: TAC uma tomografia tomografia um nome feminino, mas TAC geralmente usado como um nome masculino. Este desencontro pode ser causado pela perda da identidade entre a expresso de base e o acrnimo, mas tambm pelo facto do masculino ser o valor de gnero no-marcado. Muitos dos acrnimos disponveis em Portugus so emprstimos14 e especialmente anglicismos:(25) faq laser pin sonar yuppie frequently asked questions light amplification by simulated emission of radiation personal identification number sound navigating and ranging young urban professional

Este processo de criao de palavras frequentemente utilizado para a denominao de empresas, instituies e organizaes, embora no ocorra exclusivamente neste domnio lexical:(26) EPAL FIL ICEP PIDE REFER Empresa Pblica das guas de Lisboa Feira Internacional de Lisboa Instituto de Comrcio Externo de Portugal Polcia de Interveno e Defesa do Estado Rede Ferroviria Nacional

SIC SOREFAME VARIG

Sociedade Independente de Comunicao Sociedades Reunidas de Fabricaes Metlicas Viao Area Rio Grandense

Tambm neste caso se encontram denominaes formadas noutras lnguas, mas utilizadas no Portugus, por se tratar de empresas ou organizaes internacionais ou estrangeiras relevantes em Portugal:(27) FIAT FNAC CIA UEFA UNICEF Fabbrica Italiana di Automobili di Torino Fdration Nationale dAchats des Cadres Central Inteligence Agency Union of European Football Associations United Nations International Childrens Emergency Fund

Muitas das organizaes internacionais ou fenmenos globalizados cujo nome formado por acronmia com base numa expresso gerada numa lngua que no o Portugus, podem ser designadas por esse acrnimo original ou por um outro acrnimo, formado com base na traduo portuguesa da expresso inicial. o que se verifica nos seguintes casos:(28) AIDS SIDA NATO OTAN acquired immunodeficiency syndrome sndrome de imunodeficincia adquirida Northern Atlantic Treaty Organization Organizao do Tratado do Atlntico Norte

Na passagem de lngua para lngua h, por vezes, siglas que se transformam em acrnimos, mas o mesmo se verifica no interior de um nico sistema, como o Portugus, onde uma mesma sequncia pode ser realizada como acrnimo (cf. ONG de Organizao No-Governamental) ou como sigla (cf. O.N.G.):(29) VIP UN ONU very important person United Nations Organizao das Naes Unidas

A formao de siglas tambm um processo de reduo de uma sequncia de palavras, de novo um ttulo ou uma frase, consistindo na sequencializao do primeiro grafema de cada uma dessas palavras ou radicais, separados ou no por um diacrtico (cf. a.C. vs BD). A sua realizao fontica soletrada. Tal como os acrnimos, as siglas identificam frequente, mas no exclusivamente, empresas, instituies e organizaes:(30) a.C. BD BI antes de Cristo banda desenhada bilhete de identidade

d.C. PJ RTP TVI

depois de Cristo Polcia Judiciria Radioteleviso Portuguesa Televiso Independente

Algumas das siglas usadas no Portugus so emprstimos. Neste domnio h que distinguir os emprstimos que resultam da adaptao da base ao Portugus (cf. 31a), dos casos em que a base original preservada (cf. 31b), ainda que a preservao da soletrao da lngua original seja mais rara (cf. DVD vs VIP).(31) a. ADN DNA IMF FMI OAU OUA b. BBC BMW CD CNN DVD IBM SOS TNT WC www cido desoxirribonucleico desoxirribonucleic acid International Monetary Fund Fundo Monetrio Internacional Organization of African Unity Organizao de Unidade Africana British Broadcasting Corporation Bayerische Motorenwerke compact disk Cable News Network digital video disk International Business Machines save our souls trinitrotolueno water closet world wide web

Note-se que as siglas podem ser ambguas. PS, por exemplo, pode significar post scriptum ou Partido Socialista, PC remete para Partido Comunista e tambm para computador pessoal (personal computer), APL pode significar Administrao do Porto de Lisboa, Associao dos Produtores de Leite ou Associao Portuguesa de Lingustica e PSP tanto identifica a Polcia de Segurana Pblica como a PlayStation Portable. A polissemia uma propriedade de muitas palavras, geralmente resolvida pelo contexto, mas a proliferao do uso das siglas no deixa, em muitas circunstncias, de ser geradora de situaes de dificuldade de comunicao. Vejamos, por ltimo, a abreviao, que gera uma forma com menor extenso, mas sinnima de uma palavra existente na lngua. Tratase de um processo exclusivamente utilizado na escrita, j que a produo oral desenvolve obrigatoriamente a abreviatura15:(32) A/c ao cuidado de

obs. p&b

observao preto e branco

Estes exemplos mostram que a constituio das abreviaturas aleatria, podendo basear-se na ortografia das palavras que toma como base (cf. l para litro), procurar grafemas foneticamente prximos do alvo (cf. Kg para quilograma) ou convencionalmente equivalentes (cf. m2 para metro quadrado), e pode usar sinais de pontuao (cf. ex. exemplo, c/ com) ou no (cf. q# que, tb tambm). Como a abreviao um processo muito ligado a uma dada norma ortogrfica e as normas ortogrficas variam de lngua para lngua, no fcil encontrar emprstimos, excepo feita s abreviaturas de expresses latinas:(33) etc. e.g. et caetera exempla gratia

A abreviao frequentemente utilizada em referncias toponmicas, registando-se, em alguns casos, divergncias de uso:(34) Av. Av. P. P. R. Avenida Avenida Praa Praa Rua

Nas abreviaturas que referem ttulos pessoais ou profissionais pode haver grafemas que distinguem o valor de gnero da forma plena:(35) Dr. Dr. Sr. Sr. Ex.mo Ex.ma Il.mo Il.ma V. Ex doutor doutora senhor senhora excelentssimo excelentssima ilustrssimo ilustrssimo vossa excelncia

Os numerais ordinais so frequentemente grafados com recurso ao cardinal correspondente e um ou , que marcam concordncia de gnero, em posio de expoente:(36) 1 1 100 100 primeiro primeira centsimo centsima

A expanso da comunicao electrnica responsvel pelo aparecimento de um grande nmero de abreviaturas, ainda que muitas vezes se trate da abreviao de expresses de outras lnguas:(37) bjs fds LOL beijos fim de semana riso (de laughing out loud)

2.4 Os EmprstimosA introduo de palavras de uma lngua de origem numa lnguaalvo um processo antigo e frequentemente atestado. A recepo destas palavras estrangeiras que nem sempre idntica. No raro encontrar gramticos e falantes que criticam ou rejeitam o uso de palavras novernculas, tendo at termos como estrangeirismo, decalque ou galicismo uma certa conotao pejorativa16. Assim se explica que o uso de uma palavra como detalhe (do Francs dtail) ou gafe (do Francs gaffe) seja desaconselhado por puristas, que recomendam, em sua substituio, pormenor e deslize, respectivamente. Por vezes, a introduo de emprstimos suscita mesmo polmica, dado que se trata de um processo relacionado com a histria social da comunidade lingustica que os veicula e daquela que os acolhe. Veja-se, por exemplo, como o seu uso irnico na letra de uma cano de Jos Afonso, intitulada Dcada de Salom. O conjunto de estrangeirismos identificveis na transcrio seguinte no um conjunto homogneo: algumas destas formas integram pacificamente o lxico do Portugus (cf. bid, do Francs bidet, e bricolage, que tambm uma palavra de origem francesa), ainda que a forma grfica mais consensual nem sempre seja aquela que a se apresenta (cf. trousses, que tambm um galicismo, e champon, anglicismo de origem Hindu). Outras so um pouco estranhas, mas ainda assim reconhecveis (cf. bi-camion, de novo um galicismo) e o terceiro conjunto formado por palavras que caricaturam o dialecto dos emigrantes portugueses em Frana (cf. mariage, termo francs sinnimo de casamento; maison, palavra francesa que pode ser traduzida por casa; e patron, que uma palavra francesa cognata de patro).

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Vai terminar esta prosa estamos na dcada de Salom ser o apocalipse ou a torneira a pingar no bid? meio-dia, dia de feira mensal em Vila Nogueira Estamos na dcada do bricolage Diz um jornal que um emigra morreu afogado em Mira antes da data do mariage Estamos na Europa Civilizada j c faltava uma maison Pour la Patrie plo Volkswagen acabou-se a forragem Viva o Patron! J tem destino esta terra vamos mudar para o march aux puces o tempo das ceroilas est no fio agora s de trousses Saem quarenta mil ovos moles Vilar Formoso logo ali Faz-se um enxerto com mijo de gato sola de sapato voil Paris! Aos grandes Super-Mercados chega a cultura num bi-camion Cames e Ea vendem-se enlatados lavados com "champon" A fina flor do entulho largou o plo ganhou verniz Ser o Christian Dior o manageiro a mandar no Pas? Estamos na Europa do "estou-me nas tintas" Nada de colectivismos Chacun por si, meu e chacun por soi

A ocorrncia de emprstimos , no entanto, um fenmeno incontornvel e muitas vezes difcil de evitar, dada a inexistncia de lxico autctone com idntico valor referencial17. A sua introduo pode ocorrer

por via directa ou pode ser mediada por uma outra lngua; e pode ser objecto de (maior ou menor) conformao fontica e morfolgica ao Portugus tomando como base a realizao fontica da palavra na lngua de origem ou a sua forma grfica. Os emprstimos que transitam directamente so emprstimos directos, como os seguintes:(39) Castelhano: mantilla Francs: fantoche Portugus: mantilha Portugus: fantoche

Os que so introduzidos na lngua de chegada por intermdio de uma outra lngua so emprstimos indirectos. o que se verifica nos seguintes casos:(40) Grego: pharmakia Germnico: garten Germnico: werra Neerlands: *aenmarren Neerlands: bakboord Latim: pharmacia Frncico: jardin Frncico: guerre Francs: amarrer Francs: bbord Portugus: farmcia Portugus: jardim Portugus: guerra Portugus: amarrar Portugus: bombordo

Note-se que a conformao dos emprstimos s propriedades morfolgicas e fonolgicas do Portugus e, consequentemente, a sua realizao fontica e o modo como so grafados, no so sistemticas. Verificam-se hesitaes to mais frequentes quanto mais recente for a introduo do emprstimo, relacionadas com o facto de a adaptao poder privilegiar a sonoridade da palavra de origem (alterando-se a grafia na forma de chegada) ou a sua forma grfica (alterando-se a pronncia e fazendo apenas alguns ajustes na grafia da forma de chegada):(41) a. Ingls - lunch Ingls - beef Francs - chauffeur Francs - haut-bois b. Ingls - club > > > > > lanche bife chofer obo clube

As propriedades gramaticais das palavras, nomeadamente o gnero dos nomes, tambm podem ser modificadas. frequente que o gnero atribudo a um emprstimo seja o masculino, mesmo que na lngua de origem essas palavras tivessem gnero feminino (cf. 46a), mas tambm se regista o caso inverso (cf. 46b):(42) a. b. Francs - une robe > Francs - une enveloppe > Francs - le courage > um robe um envelope a coragem

Vejamos agora que origens tm os emprstimos existentes no Portugus. O uso do Latim na liturgia, no ensino, na diplomacia e na cincia constituiu, durante sculos, um factor de contacto entre estas duas lnguas. Por esta razo, e ainda porque a matriz esttico-ideolgica o propiciava, o recurso ao Latim para a adopo de novas palavras, os chamados latinismos, particularmente durante o Renascimento18 muito visvel no lxico do Portugus. Esta estratgia responsvel pela ocorrncia de palavras cuja forma no muito distinta da do seu timo latino e pela modificao na forma de palavras j anteriormente presentes no lxico do Portugus:(43) a. aluno aplauso infinito reduzir vicioso < <