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li. 10. Sexta-feira, 16 dc Maio de 1862. Anno 1. «rM T "M~^ "WW XNi *m »»-_~ MILITAR. k Publica-se nos dias d°el6 de cada mez na typographia de Nicolao Lobo Vianna e filhos, Rua da Ajuda n\ 79. Preço da assignatura ; 6|000 por anno, ou 3$000 por semestre pagos adiantados.* l . ^ ¦¦ ?'* •'v. Jk BAÜVIIEIJRA. Como el roble en Ia montãna, Firme descansa en mi brazo, El honor es nuestro lazo.... Unidos... .hasta morir. Rota estás! asi te quiero! Balaiícéate en Ja esfera! Que un giron de mi bandera Es la gloria para mi: x ^ ( D. Luís Rivera). **.,--,* A, . A bandeira que um povo adopta quando se constilue Estado independente, é o symbolo da nacionalidade d'esse povo é o sobrescnpto de sua carta de emancipação social; é o signal cárac- tenstico de sua independência, de sua soberania, rio grêmio da grando sociedade das nações. E, pois, á bandeira de ura povo como emblema da nação constituída por esse povo, competem de direito todas as demonstrações de honra, e de consideração, nâo MIM v -f °"íros povos ^ue coraffiungam «os grandes prin- cipios de direito internacional, mas ainda, e especialmente, das Iflf8 m fazem parle da nação symbolisada pela bandeira, e de cada um dos subdilos dessa nação. oi.a °!n„C°rp?S da força armada de mar e terra é onde a ficção de *™'"»™ s«*' *> q»e « bandeira da aação é a'aaeao ESESÍ' JÊ™i assumido um ca™cter tal que a realidade não pro- E c m effS0S maiS Pr0íCU0S ^ 0S P'-°duzidos Pela ficção, Lnídafn2ÍP-a ° lm,llta[' as §,orias de sua Pal"a estão en- carnaaas nas glorias de sua bandeira. t^r-ÍZ D?ííe fença en,:aizada «o oração do soldado de todos os tempos, de todas as nações, como o amor da terra em que nasceu

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li. 10. Sexta-feira, 16 dc Maio de 1862. Anno 1.«rM T "M~^ "WW XNi *m »» -_~ MILITAR.

kPublica-se nos dias d°el6 de cada mez na typographia de NicolaoLobo Vianna e filhos, Rua da Ajuda n\ 79.Preço da assignatura ; 6|000 por anno, ou 3$000 por semestrepagos adiantados. * l . ^ ¦¦ ?'*

•'v.

Jk BAÜVIIEIJRA.

Como el roble en Ia montãna,Firme descansa en mi brazo,El honor es nuestro lazo....Unidos... .hasta morir.Rota estás! asi te quiero!Balaiícéate en Ja esfera!Que un giron de mi bandera

Es la gloria para mi:x ^

( D. Luís Rivera).**.,--, *

A,

. A bandeira que um povo adopta quando se constilue Estadoindependente, é o symbolo da nacionalidade d'esse povo • é osobrescnpto de sua carta de emancipação social; é o signal cárac-tenstico de sua independência, de sua soberania, rio grêmio dagrando sociedade das nações. E, pois, á bandeira de ura povocomo emblema da nação constituída por esse povo, competem dedireito todas as demonstrações de honra, e de consideração, nâoMIM v -f °"íros povos ^ue coraffiungam «os grandes prin-cipios de direito internacional, mas ainda, e especialmente, dasIflf8 m fazem parle da nação symbolisada pela bandeira,e de cada um dos subdilos dessa nação.

oi.a °!n„C°rp?S da força armada de mar e terra é onde a ficção de*™'"»™ s«*' *> q»e « bandeira da aação é a'aaeao

ESESÍ' JÊ™i assumido um ca™cter tal que a realidade não pro-

E c m effS0S maiS Pr0íCU0S d° ^ 0S P'-°duzidos Pela ficção,

Lnídafn2ÍP-a °

lm,llta[' as §,orias de sua Pal"a estão en-carnaaas nas glorias de sua bandeira.t^r-ÍZ

D?ííe fença en,:aizada «o oração do soldado de todos ostempos, de todas as nações, como o amor da terra em que nasceu

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é uma crença de suprema utilidade para o cabal desempenho deseuotÊtf&m m * «r d,7 Ü&ELiáreitos de seu paiz, tem muitas vezes de ultrapassar as barreiras

S^eÃSsdeseu terrilorio, e levar essas armas ao território

deA°MrellêavfoSsólo sagrado da pátria na pequena área de sua

bandeira o no brando murmúrio delia, ao trema lar a mercê dos

veílos sobre sua cabeça, ouve a voz da nação que lhe lembra seusrp™crip«veis mm e o concita á pratica *>£»£• feito»que germinam ao influxo da energia moral do patriotismo, e da

deOCSlirepaénsamento de que a bandeira representa a pátria;

pensamento que o soldado alimenta sob as lendas do a^mpa^oto,Lrenouso; sob o céo ivro, nas marchas; ao estrepito das

n?mas nas batalhas; é a forca que o impelia á execução desses

actas magestosos de galhardia*que brilham nos fastos militares de

íodos S Povos; poríue na execução desses actos magestosos de

Xrdia o soldado procede como o filho extremoso que se ufana

de mostrar á desvellada mai, cujas vistas estão titãs sobre elle,

o comíI sabe desempenhar os deveres que lhe impõe para com

ella a qualidade de filho dedicado. VTirae ao soldado a bandeira, e tel-o-beis desquitado do enlhu-

siasmo guerreiro e patriolico: tereis destruído o tronco de sua

a vore genealogica. Mo penseis, porém, que, por esse facto, ei e

deixará de bater-se. Não. Elle se baterá; mas somente impellido

pela forca coercitiva da disciplina militar. Se esta fallar, então nao

tereis soldado. ,O Sr. Marechal de Saxe disse em suas memórias.—Un y a rien

de«»U™<.»e les drap.a«_. Les seldats doivent se tar.i «ne re

Haion de ne iamais abandonner leur enseigne; il doit leur elre

saòró ondoit le respecter, et l'on ne sauraity attacher assez

de céremonies, pour le rendrerespectableetpreçieux.^Entre^s«ovos antigos, entre os povos modernos, a bandeira tem sido sem-

CSSfinra militar do soldado. Onde ella está, ahi esta

elle para defendel-a, para respeitada, e para fazer que a respei-tem; Para onde ella segue, elle a acompanha, porque tem a inti-

ma consciência de que sua bandeira reflecte %MWgAjgffi;go de seus deveres militares; e de que, seguindo-a sempre até

vencer ou morrer á sua sombra, conquista gloria para si, gloriapara seu paiz. E' esta convicção, profundamente radicadaneco-íacão do soldado; é este dogma da religião do pa riopm Hgjboiisado na veneração da bandeira, que arroja o soldado a praticaractos m heróica dedicação; a afrontar perigos, atravez dos quaes

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vislumbra a morte, só para preservar sua bandeira de ser arre-balada pelo inimigo; porque considera esse infausto succcssocomo o supremo baldao arremessado á face do seu paiz.

Foi essa convicção que fez desenvolver altamente a energia pa-trioüca do façanhoso alferes de D. Affonso 5." de Portugal, o im-mortal D. Duarte de Almeida, quaudo na batalha de Toro, pelejadaa 2 de Março de 4746, sendo perseguido pelos hespanhoes paralhe arrebatarem a bandeira, sustenlou-a, primeiro com a mãoesqnerda, combatendo, depois com a direita, o a final; depois deambas ellas decepadas, com os dentes, e os cotos dos braços.Os hespanhoes arraucarara-lhe a bandeira, é verdade; mas

"só o

conseguiram quando o esforçado luzilano jáeraquaâi um cadáver.Foi ainda esse dogma da religião do patriotismo que elevou os

brios do corajoso almirante da republica das sete provinciasuni Ias da Hollanda, Àdriaen Jansse Paler, quando, por oceasiãoda batalha que travou nos mares da Bahia a 12 de Setembro de1631 com a esquadra hespanhola ao commando de D. AntonioOquendo, vendo a batalha perdida, e sua capitanea ardendo emchammas, envolveu-se no pavilhão da republica, e arrojou-se aomar, ao proferir eslas memoráveis palavras.— O oceano é o únicotúmulo que pode receber o corpo d?um almirante vencido.—

Innumeros são os feitos notáveis que fulguram nas paginas dahistoria, filhos da influencia da bandeira sobro o moral do soldado.Preferimos, porém, relatar aqui somente estes dous, como os que,no nosso pensar, melhor caracterisam essa influencia, e maishourosos são para os heroes que as praticaram, e para as naçõesde que eram subditos. São dous bellos espelhos que tirámos dodeposito das glorias das gerações que passaram, eque collocamosem frente da robusta e esperançosa mocidade da geração actual,que brilha com o fulgor do patriotismo nas fileiras do nosso va-lente exercito, e no tombadilho dos navios de nossa corajosa ar-mada.

Entre nós, os militares brasileiros* felizmente a crença na religião do estandarte sagrado da pátria tem-se cada vez maisfor-titicado, a despeito da lepra do egoísmo que tem contaminado asociedade em geral, e — com dôr o dizemos — as nossas mesmasfileiras,

ás margens do arroio Moron foram testemunha de que nossosbizarros soldados sabem lavar com sangue as nodoas com quoconspurcam sua bandeira, e vingar, combatendo e morrendo, asaffrontas lançadas á dignidade de seu paiz. Elles mostraram quepara levarem triumpbante essa bandeira de victoria em victoriaaté as portas da capital do inimigo de sua pátria, sabem arrastarprivações e perigos, aos quaes a pusülanimidade teria preferido a

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morto. Esses mesmos que muitas vezes teriam dito nas salurnaesdo egoísmo—minha pátria sou eu—; arrastados pelo enthusiasmoda massa geral do exercito—porque a massa geral do exercito6sãa, desinteressada e patriota—no momento supremo da luta, nãopoderam deixar de unir suas vozes á dos valentes que bradavam,pelejando em terra inimiga — nossa pátria é nossa bandeira. —

A herança de respeito e veneração á soberania da bandeirasobre o espirito do soldado, herança que nos legou a cavalheirosanação portugueza, ainda se conserva intacta entre nós, porque ahydracla reforma, edo desprezo do que recebeu de nossos avós obaptismo da suprema adhesão, ainda nao polluiu com sua babaimpura, peçonhenta e sacrilega esse artigo do nosso credo mi-li tar.

Segundo o regulamento do nosso exercito, mandado executarpelo alvará de Lei de 18 de Setembro de 1763f logo que a qual-quer dos corpos arregimentados se destribue bandeira nova, antesque essa bandeira receba as altas demonstrações de respeito deseus defensores, tem de recebera benção da religião do crucificado«do Golgolha.

Essa benção nãoèuma vãaostentação ; não é uma mera forma-lidade : è uma ceremonia essencial aos nossos costumes, ás nossascrenças militares. O soldado que vê tremular á sua frente umabandeira que não recebeu a sacrosanta benção do ministro dareligião de seus pães, que nao recebeu seu juramento de fide-lidade, em consciência repugna consideral-a como o verdadeirosymbolo de sua pátria ; porque sendo para eíle a pátria sagradapela natureza ; e tendo ella recebido seu juramento de fidelidadepelo facto de sua entrada na vida social, elle quer que o symboloda pátria, para receber o summo grau de veneração e de respeitoque merece a pátria, receba a sagração religiosa", com as solem-nidades ostensivas convenientes para a imposição de fé.

Este querer do soldado é uma exigência da razão, ,e umareclamação do interesse da disciplina militar, explicitamente sane-cionada pelos preceitos do regulamento do exercito.

Nos nossos corpos arregimentados a solemnidade da sagraçãoda bandeira, edo juramento de fidelidade pratica-se formandoem linha de batalha o Corpo que tem de receber a bandeira, eprestar o juramento. Depois de benzida a bandeira pelo Capellão,na Igreja, ou em altar portátil, é entregue ao Corpo, o qualrecebe-a com a continência do estilo. Feita a continência, o auditordas tropas lê os artigos de guerra, e predispõe o Corpo a prestar ojuramento de fidelidade á nova bandeira, fazendo-lhe sentir emum discurso apropriado que esse juramento ás insígnias da nação,é um jurameuto de fidelidade á nação mesma, ao seu monarcha,

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aos regulamentos militares, o ás mais leis do paiz. A esse discursosegue-se a oração religiosa do Capollão, implorando á Omnipo-tencia do Altíssimo que favoreça com sua divina graça a todos osmilitares do Corpo em geral, e a cada ura em particular, inspi-rando-lhes sentimentos de fidelidade á bandeira, para que a do-tendam a todo transe, sacrificando até apropria vida afim deobstaremqueellacaiaem poder do inimigo. Finda esta Oração,todos os Officiaes, Officiaes Inferiores e mais praças de pret," le-vantara a mão direita, e prestam o juramento de fidelidade, caioformula é lida em vóz alta pelo Capèllão.

O juramento de fidelidade á bandeira também é prestado pelosrecrutas quando chegam ao corpo a que são destinados • pelosdesertores reconduzidos, depois de cumprirem a pena a que foremcondemnados, porque só então é que entrara no serviço depois deterem perjurado pela deserção; os perdoados deste crime, depoisque são postos em liberdade, ou se apresentam ao corpo, se estãoausentes na occasião do perdão. Os juramentos parciaes sãoprestados no quartel perante o auditor, o capèllão, e o comman-dante da companhia a que pertence o indivíduo que tem de jurar.Os officiaes promovidos aos diversos postos também prestam novojuramento, depois da promoção a cada posto, nas mãos dos respec-ti vos chefes; e os generaes nas do ministroda guerra.

Sendo estes actos praticados com a exactidão reclamada pelospreceito* diseiplinares da força armada, sua solemnidade mages-tosa e imponente, faz calar no animo do soldado ura terror saiu-lar do perjúrio, capaz de converter a pusillanimidadeem valentia.

Além de todo esse ceremonial que mencionámos, julgámos dealta conveniência, para complemento do que é devido á dignidade,a magestade da bandeira nacional, que, nos actos em que ella temde apparecer â frente da tropa, seja conduzida por um official depatente. Nas simples paradas presta-se com isso maior homenageme consideração ábandeira da nação; nas batalhas, além d'essamaior homenagem o consideração*, ha mais uma garantia dè defesado emblema da pátria ; porque o official'que o conduzir tem pre-sente nos lances supremos, três gloriosos incentivos de sublimesleitos—a honra de sua bandeira, a honra do corpo a que perten-ce, a honra de suas dragonas.

No nosso exercito não está peremptoriamenle determinadoquem ó que deve conduzir a bandeira. Nas primeiras organisacõesque elle teve, havia nos corpos a praça de porta-bandeira, e porta-estandarte; nas seguintes foi suppriraida essa praça; e determi-nou-se que o alferes mais moderno conduzisse

"a bandeira, e

0 estandarte; mas nas ultimas nada se lem dito a tal respeito: a

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solução desse ponto corre na actualidade ao alvedrio dos eomman-dantes dos corpos.

Parece-nos porém que não deve assim continuar. Muito convém,por honra da nação, e por gloria de nossas armas, qne se man-tenham illesos o respeito e a veneração consagrados á bandeirapela tradição dos séculos, desde os tempos heróicos; o que seconseguiria, fixando-se definitivamente que a bandeira,—symbolodo nosso credo militar, seja conduzida nos corpos do exercito poruni official subalterno da fileira, guardadas as conveniências dejerarchia; sendo esse official o alferes do corpo na rigorosa aceep-ção da palavra, o seu—Vexillarius.

Concordamos em que a economia dos dinheiros públicos nãoadmilte a creação de alferes porta-bandeira, c porta-eslandartepara os corpos do exercito, como a nossa briosa guarda nacionaltem a honra de ver á frente de seus batalhões; mas tambem jui-gamos que não convém a restauração das praças de porta-bandei-ra, e porta-estandarte; porque, além de serem igualmente onerosasaos cofres públicos, e perfeitas sinecuras nos corpos, não teem ocunho da dignidade militar conveniente á honra da bandeira e áaltura do sublime encargo destinado a essas praças.

As condições de conveniência, dignidade, e economia reunem-seem qualquer dos subalternos da fileira dos corpos. Seja pois a umdesses confiado o honroso serviço de conduzir a bandeira do corpoa que pertence. De que patente seja esse subalterno, o são critériodo governo designará, respeitando melindrosas, e bem entendidassusceptibilidades de jerarchia. Que elle seja o alferes mais mo-derno do corpo, como em outro tempo se praticou, não julgámosde necessidade indeclinável; porque o porta-bandeira, no exer-cicio de suas altas funeções, não tem de sujeitar-se a outro com-mando, se não ao geral do corpo, ou da guarda em que com-parece, que é sempre, segundo os estilos militares, confiado aum capitão.

Parece-nos que pedimos pouco, e esse pouco de fácil concessão.E, pois, que são tão restrietos nossos gosos pessoaes, ao menos

em compensação, sejam ostentosos os característicos de nossasglorias mUi tares.

O conselheiro V. F. daC. Piragibe.

. Coronel do estado maior de Ia classe.

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SYSTEMA MILITAR DO BRASIL.

(Continuação do n. 8.)

VIII.

Convictos de que não ha indagação mais interessante do que ados meios de dar ás diversas instituições da sociedade a maiorinfluencia sobre a prosperidade da espécie humana, propozemo-nos, encetando o presente trabalho, a examinar principalmente ofundamento da instituição militar, seu espirito, e modo porquedeve ser organisadá para preencher cabalmente o fim do seu esta»belecimenlo.

Reconhecemos a magnitude da empreza; anima-nos porém odesejo de bem servir ao paiz, e elle ou nos dará as forças de quocarecemos, ou, ao menos, fará que se nos julgue com nimia indul-gencia.

A instituição militar, que é a força da sociedade, a causa daordem no seu seio, que entra na organisação do corpo social comoelemento constitutivo e primordial, que provem do espirito docivilisação, em sua essência espirito de reflexão, harmonia e re-gularidade, tira a sua substância moral da religião, que exalta, ôfortifica a alma. da legislação que liga os cidadãos á pátria tor-nando-os felizes, que regula os costumes e os usos da nação, di-rige o carecter nacional para o bem, acalma ou previne os effeitosfunestos das paixões, acoroçôa a virtude pelo ensenlivo das re-compensas, faz tremer o vicio peto temor do castigo; tira a suasubstancia physica da administração, que faz florescer a agricultu-ra, o commercio, a industria, as* sciencias» as artes, em summatodas as fontes da prosperidade dos Estados; tira a sua substanciaao mesmo tempo moral e physica da boa educação que forma parao serviço da pátria cidadãos verdadeiramente dignos deste nome,e da política que deve ser activa e previdente.que deve conservar asallianças mais vantajosas, evitar os reveses e facilitar os successos.

Assim a instituição militar tem intimas relações com a religião,com a legislação, com a administração o com ia política. Estasgrandes columnas do edifício social,fundadas originariamente sobreo carecter natural do povo, concorrem depois para desenvolvereste caracter no interesse da humanidade e do bem ser individual,âpoiando-se na força publica, especialmente no exercito, hoje oprincípio conservador mais enérgico de todos os elementos da ci-tilisaçãó.

E' pois estudando essas relações que poder-se-ha conseguirJórmár um exercito, cuja energia provenha da sua intima união

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*62 IíNDICADOR MILITAR.com os outros ramos da arvore social, e da sabedoria da sua admi-nistraçao particular, a qual deve fazer reverter em proveito da so-ciedade o que esta despende com elle.Alguma cousa já temos dito no desempenho da primeira partefio nosso compromisso ; continuaremos tratando da orqanisacãophysica, moral,, intellectual, elementar e activa do exercito. '

As modestas prelenções desta gazeta exigem do nossa parlecerta restncção no modo de justificar as idéas que indicamos; e,pois, entrando em matéria de tanta ponderação, em primeirolugar examinaremos rapidamente a organisaçao intellectual, quese citra nos regulamentos das escholas militares. Tocaremos deleve mesmo naquelles pontos que, pela sua importancia,são dignosde uma analyse mais desenvolvida; porque não faltará quem seoccupé deste assumpto, melhor do que nós o podemos fazer.O aviso circu ar de 19 de Agosto de 1853, mandando que fos-sem creadas escholas elementares nos corpos do exercito, paraque nellas adquirissem a indispensável instrucção àquellas praçasque por sua intelligencia, e boa conducta, dessem esperanças depoder chegar aos postos de offlciaes inferiores, foi o primeiro an-núncio da vontade de tirar o mesmo exercito do estado excepcionala que chegara por se ter a polilica intromettido na qualificaçãoda guarda nacional. ?Estas escholas, segundo o art. 89 do regulamento que baixoucom o decreto n. 2,582 de 21 de Abril de 1860, passaram a de-nommar-se escholas regimentaes, cora um plano de estudos maisamplo, para formar inferiores para os corpos ; porém ainda nãofunccionam, porque o art. 90 do mesmo regulamento tambemainda nao teve execução. Cumpre pois providenciar como convém.

mÉlSlI S"Per-°r í° eSeTt0 reduzida< na anliSa es<*olamihtai da corte, aos simples conhecimentos theoricos, sem a pra-tica que esclarecesse as suas doutrinas, e habilitasse o official paradesempenhar com aptidão os variados serviços que presentementeStSSS8 "" da «™» ™ "^ ^«W

ll?™Jl'!hmU?i lndisPe?savel T»™ » bom dmmpenVo doe"?

1°; sem e,la» os primeiros passos do novel são incertos

cias vacifll l $5 Um,gU]a qUe as dirÜa as Srandes intellige«-èllSfÜf a CUSta T prT'm enos 1ue> Procurandoins indo' o liegan!,P01' fi? a ^ülúr esse *no> sagacidade,pefoTehZZll W?e qU^ir? chamar' 1ne distingue o praticopelo acerto e justeza das variadas applicaeões dos seus conheci-

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í*íp

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« F; sobre ludo na vida militar, onde a pratica assume umádobrada importância. Em outra qualquer profissão a sua faltapódc affectar os interesses, os direitos, a vida mesmo<!e um maiorou menor numero do indivíduos, sem que todavia o damnosees-lenda á sociedade inteira; mas o official r ue cm qualquer ramo íioserviço da guerra não estiver familiarisac o com todas as uilíiculdades que apresenta a transição immcdiala da theoria para apratica, e que por isso não esteja apto para dar cxaclo cumpri-mento ás ordens que lhes sào prescriplas sobre qualquer objecto •o general que, pela reunião dos conhecimentos práticos aos theo-ricos, não tiver desenvolvido gradualmente, e adquirido no postoeminente do commando de um exercito, esse complexo de quali-dades ou dom a que chamam golpe de vista militar, o qual comoque lhe inspira na confusão de uma batalha, em um lanço arrisca-do e não previsto, e no momento mais critico e urgente, o melhorpartido que se pôde tirar da situação, que lhe dá em summa ajusta apreciação de um nada de mais ou de menos donde podemás vezes depender grandes resultados; tanto o official, corno o ge-neral, sacrificam inutilmente milhares de existências, arriscam osuecesso de uma batalha decisiva, e compromellem a sorte de seupaiz. »

Estas considerações mostram a importância da eschola creadapelo decreto n. 1,536 de 23 de Janeiro de 1855, com o fim decompletar na parte pratica da alta educação militar aquillo quea outra, conforme se achava organisada, não podia satisfazer.

A conveniência desta creação fora reconhecida pelo decreto n.634 de 20 de Setembro de 1850, mas só no Ia de Maio de 1855leve lugar a installação da eschola de applicação do exercito nafortaleza de S. João. Realisou-se em fim a idéa predilecla do dis-lindo general o Sr. conselheiro Dr. Pedro de Alcântara Bellegarde.Nas diversas disposições tanto do regulamento approvado peloreferido decreto de 23 de Janeiro de 1855, como nas das instruo-

ções de 16 de Abril do mesmo anno, foi, quanto possivei, á vistado citado decreto de 20 de Setembro, attendida a circumstanciade que o official devia sahir da eschola com pleno conhecimentodos preceitos da disciplina militar, dos regulamentos geraes doexercito, e habilitado a corrigir os defeitos que por ventura a ro-tina tivesse introduzido na sua pratica em alguns corpos.

O internato dos alumnos militares, para que se lhes podessedar com a instrucção theorica uma educação toda militar; o pes-soai e material montados para que essa 'instrucção

e educaçãofossem completas; taes são as bases daquelle regulamento.

Todavia a existência da eschola, na opinião do actual Sr.ministro da guerra, partilhada pelo conselho de inslrucção da

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mesma eschola, era apenas a transição do antigo systema de in-slrucção militar para oulro mais racional ao nivcl das exigênciasda época.

O referido conselho, consultado por S. Ex. acerca da reformaque convinha fazer-se, apresentou o seu plano em Janeiro de1857, que justificou pouco mais ou menos nos seguintes lermos:

« O systema das medidas ultimamente tomadas, assignala ocomeço de uma era de grandeza e de prosperidade para o Brasil.A marcha encetada na carreira dos melhoramentos maleriaes,acce-lerando-se continuamente, vai conquistando todos os dias osaperfeiçoamentos adoptados nos paizes cultos, e já reclama in-stantemente a reforma do curso daquella eschola (a antiga militar)sobre um plano essencialmente baseado no ensino especial e pra-tico, não com a mesma variedade de ramos e doutrinas corres-pondentes ao systema de instrucção da França, o mais completoe bem combinado que conhecemos, porque as nossas circumstanciassão muilo differentes das da primeira nação do mundo ; mas coma simples dislincçao e separação doutrinaria e profissional entrea engenharia civil e militar: esta com o seu curso constituído emum só corpo de doutrina completo em tudo o que fôr relativo áinstrucção militar lheorica e pratica; aquella também com umcurso theorico a parte, comprehendendo desde já e definitivamentetodas as doutrinas theoricas que se julgarem precisas, afim de selhe aggregarem na oceasião opportuna, como complementares, asdifferentes escholas especiaes civis que o ulterior desenvolvimentodas nossas necessidades fôr exigindo.

« A urgência desta separação é reconhecida por todas as pes-soas que se interessam pela educação militar, a qual só se adquirepor uma serie continua de exercícios physicos, moraes e intel-lectuaes, que exige imperiosamente que os jovens que se propõemseguir desde os mais verdes annos a carreira das armas, sejamarredados o mais possivel da convivência civil; circumstanciaesta que torna indispensável o internato durante o respectivocurso

« O curso militar foi organisado tomando por base o estadoactual da sciencia e arte da guerra, para não ficarmos em peiorescondições do que as nações mais esclarecidas, quando porventuratenhamos de combater contra os seus exércitos.....

« Nos preparatórios exigidos para este curso, foi çsbocado compouca differença o plano d<as escholas regimentaes da Franca,acerescentando-lhe breves noções de sciencias physicas e naturaes,como fundamento de um collegio militar....

« O pensamento principal da creação destes collegios militaresem algumas provincias, é fazer do exercito uma eschola nacio-

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INDICADOR MILITAR. 46&

nal, de modo que as praças escusas do serviço, cm lugar de setornarem onerosas á sociedade, concorram para preparar o seumelhoramento; »Estas idéas foram em grande parte abraçadas pelo Sr. marquezde Caxias, que, entretanto, não poude realisal-as por ter deixadoa pasta cia guerra pouco depois.O corpo legislativo conferindo ao governo, pelo § 3 do art. 5°da lei de 30 de Junho também de 1857, a competente autorisação

para reformar as escholas militares altendeu á reclamação quelhe fora feita pelo nobre marquez; estava porém reservado aoSr. general e conselheiro Jeronymo Francisco Coelho usar destaautorisação, confeccionando o regulamento que baixou como de-creto n. 2,116 do Io de Março de 1858.

Dignando-se S. Ex. consultar-nos sobre o plano de reformaque pretendia publicar, observámos, com o respeito que estava-mos acostumados a tributar-lhe, reconhecendo a sua alta intelli-genc.a e as eminentes qualidades que o dislinguiam entre os me-lhores administradores do paiz:1.° Que seria de grande proveito que os alumnos que se desti-nassem ás armas de infantaria e cavallaria não fossem á escholacentral, creando-se na de applicaçâo um curso especial de doisannos.

2°. Que nos parecia mais conveniente que as diversas aulaspreparatórias fossem reunidas com o flm de formar as bases deum collegio militar na corte, ensinando-se também noções muitoelementares das seiencias physicas e naturaes.

3.° Que uma das primeiras necessidades do exercito era acreação de uma eschola para formar bons officiaes inferiores; po-dendo também ser freqüentada por officiaes subalternos que, porlhes faltarem certos preparatórios, ou por qualquer oulro motivo,não podessem matricular-se na eschola central ou na de appli-eacão.

o

A.° Finalmente, que se nos afigurava vantajosa a suppressãodos substitutos, creando-se a classe dos repetidores.

Estávamos, e ainda estamos convencidos de que, se, como seinstituiram nos corpos, para os soldados, escholas de instruecãoprimaria, estabelecessem também em algumas províncias, porexemplo, no Rio Grande do Sul ou Santa Catharina, em Pernam-buco ou Alagoas, e em Mato Grosso, escholas da natureza das queacabamos de indicar, muitíssimo ganharia o exercito e o paiz.Estas escholas preencherão de algum modo a falta de um sys-tema de instruecão publica geral, que, sobre tudo, proporcionecerta porção de conhecimentos a toda a população, que propaguenoções úteis de seiencias de applicaçâo pelas massas; sem o que

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166 INDICADOR MILITAR.

é impossivem que se desenvolvam, como se deseja, os elementosprincipaes da nossa riqueza e progresso material.

A educação e instrucção publica náo só náo estão inteiramentede accordo com as necessidades reaes do paiz, mas ainda com assuas instituições fundamentais: c, a este respeito, devemos teremvista que já Aristóteles dizia que para fortificar e conservar a ins-ütuiçâò dos governos estabelecidos não havia meio melhor, maisseguro e mais efficaz rio que instruir a mocidadè e educal-a emharmonia com esta instituição.

0 illuslre autor da inimitável obra sobre o espirito das leis,confirma esta assersâo.

0 Sr. Emílio de Geraram mostrando os perigos a que se expõeo governo que não considera como seu primeiro dever harmonisara educação do povo com a constituição do Eslado, conclue como bello pensamento seguinte :

<( A's instituições como aos edifícios, é preciso um solo firme cnivelado. A instrucção dá um nivel ás intelligencias, um solo ásidéas. »

A força da sociedade brasileira, ninguém o ignora, consiste nãosono seu valente exercito, mas lambem no espirito publico, queao primeiro reclamo facilitará a mobilisação da guarda nacional,a de todos os cidadãos em estado de pegar em armas. Mas, sema convenienle instrucção, sem a boa organisaçãô do regimen mu-nicipal, que é a base dos governos representativos, o que seráesta immensa forca?

Talvez um embaraço para o desempenho de uma das maioresobrigações do governo: a segurança externa e interna do Estado.

Encarregado da suprema direcçãò dos negócios da guerra, em1859, o Sr. general e conselheiro Dr. Manoel Felizardo de Souzao Mello, querendo sanar algumas imperfeições que vio no regula-mento pe o qual se regeram as escholas militares no anno anterior,pedio para isso autorisação ao corpo legislativo ; mas, deixando opoder logo depois, não poude porem piatica as idéas, que bemexplicitamente expozéra no seu relatório.

Referindo-se ás aulas preparatórias S. Ex. disse que, semmaior dispendio dos dinheiros públicos, com mais proveito para ainslrucção e para o serviço militar, além de grande beneficio aosofficiaes e mais praças do exercito, acreditava que se podia reunirem um só internato, destacado das escholas da corte, todas as re-feridas aulas, admiüindo-se como internos meninos de 8 a 12 ouíh annos.

Eis aqui bem clara a idéa da creação de um collegio militar,cuja primeira concepção data de I8/1O- O decreto n. 42 de 11 deMarço deste anno, referendado pelo general marquez de Lages,

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INDICADOR MILITAR. 1C7

então conde do mesmo titulo, e ministro da guerra, mandou crearno arsenal de guerra da corte um collegio para os filhos nccessi-lados dos capitães e officiaes subalternos do exercito com a deno-minação de— Collegio Militar do Imperador.

Segundo este decreto, deviam ser admittidos no collegio somentemeninos de 6 a 15 annos de idade nas condições referidas: ensi-nando-se-lhes, além das doutrinas e praticas religiosas, a ler, es-crever, e grammatica da lingua racional, principios de arilhme-lica, álgebra, geometria, geographia, desenho e lingua franceza.

Em 1853 foi submettido á consideração da câmara dos deputa-dos um projecto do senado autorisando ao governo para crear nomunicípio da corte um collegio para educação dos filhos dos mili-tares do exercito e armada. Tratando deste projecto no relatóriodo anno passado S. Ex. o Sr. marquez de Caxias diz que é umaprovidencia de alto alcance e equidade no presente e de lisongeirasesperanças para o futuro.

O Sr. major e conselheiro Dr. José Maria da Silva Paranhos,combatendo osactuaes estatutos dasescholas militares, na câmarados deputados, disse: « Em minha opinião, em vez das escholasáuxiliares da eschola militar da corte, conviria estabelecer collegiosmilitares, nos quaes os jovens que se dedicam á carreira das ar-mas, pela maior parte filhos de militares, recebessem desde osprimeiros annos a educação militar, e adquirissem a instrucçãonecessária para a matricula nas escholas superiores. Seria umainstituição de grande futuro para o nosso exercito. »

Manifestações taes fazem acreditar que o collegio militar ha deser installado brevemente : é uma instituição em que todos pensamha 22 annos sem que" a ninguém lembre uma razão em contrario,salvo a supposta ou real pobreza do thesouro; mas esta mesma,como acima moslrámos, foi desvanecida pelo Sr. conselheiroManoel Felizardo, que tem ligado o seu nome a importantes me-lhoramentos do exercito.

A fortaleza de S. João presta-se excellentemente para o esta-beleciraento deste collegio, até porque pela sua proximidade daeschola militar, pôde o commandante desta eschola ser encarregadoda inspecção geral do mesmo collegio.

(Continua)

Dr. J. C. de Carvalho

Major honorário de engenheiros.

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108 INDICADOR MILITAR,

CORPO DE ENGENHEIROS.

Sob este titulo ousámos publicar nos ns. 2 e 4 do—>IndicadorMilitar-—algumas considerações no sentido da alteração do quadrodaquelle corpo pela suppressão das classes dos oíliciães suballer-nos, o ampliação das superiores: tão toscas quanto o foram as idéasque então expendemos, mereceram entretanto a honra de algumasobservações por parte do nosso illustrado collega o Sr. capitão deengenheiros Dr. Domingos José Rodrigues; observações que tive-ram igualmente publicidade no n. 8 daquella gazeta, e que dãolugar ao presente artigo.

Antes de passar em revista os pontos de divergência que exis-tem entre a nossa opinião e a do Sr. Dr. Rodrigues, não sobre asideas capitães, em que ha felizmenta inteiro accordo, mas sim en-tre os seus meios de applicaçáo, cabe-me rigoroso dever de agra-decer a S.S. a maneira por demais graciosa com que se dignou tra-tar-nos no seu perfeitamente bem elaborado artigo, pelo qual diri-gimos a S. S. cordiaes felicitações.

A companhando as nossas considerações sobre o corpo de enge-nbeiros de um quadro substitutivo do aetual, é sobre a organisa-ção desse que precisamente versa o primeiro ponto de divergência.

Somos forçados a reproduzir o quadro que propozemos,e é oseguinte .

Coronéis. ........... '¦ &Tenentes coronéis 24Majores. ......... .' 3fiCapitães. ... . . ... ... 72

Total \ix!x

Ouçamos o nosso digno collega.«Parece-nos que tudo naturalmente deve ter uma razão de suaexistência, id est, o seu modo de ser; entretanto o quadro apre-sentado por S. S. não segue nenhuma lei, e étodo arbitrário; poissendo 24 tenentes coronéis o dobro de 42 coronéis, parece queseria natural haver a mesma razão geométrica (2) a respeito dosmajores, e assim por diante; e nunca 36 e 72, números que nãocrescem na mesma razão. E tanto isto parece mais curial quantoas necessidades do serviço, como em um corpo arregimentado

não obrigam a um numero invariável de tantos ofiiciaes com taes etaes patentes ; pelo que apresentaremos este quadro que está emperfeita harmonia com as considerações que acabamos de apre-sentar. V

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INDICADOR MILITAR. 169

Apoz o que vem de sor lido,o Sr. Dr. Rodrigues apresenta oseguinte quadro:Coronéis. 15Tenente coronéis 30Majores 45Capitães 60

Total 150»e sobre elle assim se exprime :

« Neste quadro sem duvida que ha uma progressão exacta; alémde que não augmentando o numero dos officiaes do quadro pro-posto por S. S., senão de (6), apresenta no seu todo a necessáriaregularidade. »

Perdoe-nos o nosso digno eollega o não aceitar para o quadroque tomámos a liberdade de offerecer, em substituição do actual,os reparos que vem de ser consignados.

Com effeito, altentando-se para elle vê-se facilmente que o nu-mero de majores não é o dobro do de tenentes coronéis, como odestes o é do de coronéis, não existindo assim a razão (2), como odesejaria o Sr. Dr. Rodrigues, entre os termos consecutivos, quecorrespondem aos postos de coronéis, tenentes coronéis, majorese capitães.

£' evidente que a satisfação desta exigência do Sr. Dr. Rodri-gues deveria necessariamente constituir uma progressão geome-trica, cuja razão fosse (2).

Propondo a alteração do quadro do corpo de engenheiros, pelaforma porque o fizemos, aüendemos a considerações de manifestaconveniência publica, que procurámos porem relevo, conforme opermitlira a mesquinhez de nossa intelligencia.

Nesse esforço, porém, não podia ser nosso intento afastar ocorpo de engenheiros militares das condições de correlação emque, segundo uma organisação regular, devem achar-se os diver-sos corpos do exercito.

Outrosim não devíamos perder de vista os dados de exequibili-dade que deviam acompanhar as idéas que indicávamos.

Pela transformação que propozemos, julgainol-o, dar-se-hiaaugmento real de engenheiros para oceorrer ás mais imperiosasexigências da aclualidade ; abrir-se-hiapela ampliação das classessuperiores um futuro, (que hoje se não anfolha), de alguma sortelisongeiro, aos officiaes desse corpo ; estabelecer-se-hia, pela con-concurrencia dos officiaes subalternos das outras armas, compe-tentemente habilitados, um campo mais vasto de apreciação eapproveitamento de reconhecida aptidão.

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170 INDICADOR MILITAR.

Não nos fazemos cargo de reproduzir os simples argumentos,com que nos foi dado sustentar a these, a que nos propúnhamos.Apraz-nos considerar que ella foi estabelecida sobre bases detoda conveniência e applicação; entre os nossos camaradas quelhe teem prestado immediato e para nós honrosissimo accordocontamos o Sr. capitão Dr. D. J. Rodrigues.

Esse accordo entretanto, tão justamente valioso quanto o con-consideramos, em relação aos pontos essenciaes da alteração docorpo de engenheiros, não julgou o nosso digno collega poder che-gar aos meios de execução daquelle pensamento.

Offereceu pois S. S. um quadro substitutivo.Os números, que constituem este quadro, formam em verdadeuma progressão exacta j progressão porém arilhmelica, e que não

julgamos dever empregar, por quanto iria destruir relações, doque nao pensamos se deva prescindir, como acima o iniciámosquado se trata da orgánisacão de corpos do exercito.

Expliquémo-nos.A razão arithmetica que pôde dar-se entre os tres primeiros nu-meros, que representara os postos de coronéis, tenentes coronéis

e majores, entendemos não poder absolutamente Jdar-se entroaquelles postos e o de capitão, por quanto, como na progressãoarithmetica estabelecida por S. S., desapparece a minima das re-laçoes em que devem achar-se nos corpos arregimentados os pos-tos de major e ds capitão, isto é, 1:2; relação esta enlretantosalva no quadro que apresentamos.

Tão dislinetas qnanto o são as funeções dos officiaes dos corposd engenheiros e estado maior, não devem ser consideradas por for-maa serem desconhecidos pontos de intima correlação. O contra-rio seria matar em uns corpos o futuro que se abriria fagueiro aontros.

Não seriamos nós que lançássemos um grão de arêa na sendade melhoramento que devem compartilhar devidamente os officiaesdos corpos arregimentados, cuja causa, ao demais, tem sido pode-rosa e eloqüentemente defendida ultimamente nas columnas destagazeta.

Vê pois o Sr. Dr. Rodrigues que não admittimos a progressãoarithmetica para representar o quadro do corpo de engenheiros,como a não aceitaríamos igualmente para o corpo do eslado maiorde -Ia classe, que, para poder bem desempenhar as importantesattribuisões que lhe competem, passando por uma modifica-ção idêntica á do corpo de engenheiros, poderia converter-se noseguinte:

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INDICADOR MILITAR. 171

ESTADO DE V CLASSE.

CoronéisTenentes coronéis .......MajoresCapitães.

Total . .

8162448

96

Assim pois, não admittida a progressão arilhmetica pelas razõesque vimos de expor, conviria estabelecer uma progressão geome-trica, como o exigia o Sr. Dr. Rodrigues ?

Uma progressão geométrica, cuja razão fosse (2), apresentandoeffectivamentepelo numero de majores o dobro do de tenentes co-roneis, elevaria o total dos officiaes a 180.

Não julgue o nosso collega que consideremos exagerado esleultimo algarismo para representar os engeuheiros militares nonosso paiz.

Considerando a serie de construcções e estabelecimentos que de-mandam a applicação de um pessoal numeroso, perfeitamente ha-bilitadocom os conhecimentos e pratica de engenharia; attenlandopara essa área immensa do paiz, que contém thesouros inexhauri-veis,mas inexplorados, e que só esperam a acção da industria.hojeentorpecida pela falta quasi absoluta de boas estradas, canaes, (*)etc, dessas vias de communicação em fim, que determinam o pro-gresso material,de que, na phrase brilhante de Miguel Chavalier.nãosão mais que corolários o progresso intellectual e moral de um paiz;ponderando finalmente, que essa mesma área, a quo acima nos re-ferimos, ainda na sua maior parte nos é desconhecida; que não te-mos ao menos uma completa carta corographica do paiz,que tal náoé, nem o podia ser, a despeito da reconhecida proficiência e dosincansáveis esforços do seu autor, a organisada pelo distinetoengenheiro coronel Conrado Jacob dò Memeycr, em 1845,á vista dos dados, em geral imperfeitos, de que dispunha então, e

(*) Aujourd'hui, le monde civilisé adopté presque partout les che-minsde fer préférablement aux canaux; nous croyons qu'on a tropdé-daigné ces derniers et que PadministràJ-io.n brésilien ne fera sagementde ne pas se montrer exclusive dans Pétablissement des voies de com-munication; aussi, en parlam des grands réseaux à etablir, nous ad-metlons le triple concours des fleuves, des canaux et des cheminsde fer.

Dutot.—France e Brésil.

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172 INDICADOR MILITAR.

a que fez referencia, dedicando aquelle trabalho ao Instituto His-torico Brasileiro (*); que para organisal-a conviria nomear commis-soes de engenheiros para todas as províncias, afim de, sobasmesmas bases, organisarem as cartas especiaes; que ainda outrascommissões deveriam ser nomeadas para verificarem os verdadeiroslimites das províncias entre si, medida essa de incontestável utili-dade, não podíamos achar exagerado aquelle numero para repre-sentar os officiaes do corpo de engenheiros militares, precisamenteaquelles que devem merecer do governo toda a confiança no des-empenho do trabalhos de tanto momento.

Era-nos preciso porém ter bem presente o principio severo daeconomia, e è por conseguinte só a esta quo fizemos o sacrifíciode abster-mo-nos do apresentar uma progressão geométrica entreos números do quadro que proposemos, contentando-nos com uma

proporção geométrica, cuja razão é tambem (2), e em que saoaltendidos princípios para nós indeclináveis.

Apraz-nos consignar que esse mesmo pensamento de economiadirigio ao nosso collega na confecção do seu quadro, limitando-sea uma progressão arithmetica, e muito penhorados estamos a S. S.por ter-nos féilo a justiça de acreditar que não comprehenderia-mos o principio dé economia ao ponto dé recuzarmos o nossoapoio ao seli quadro por offerecer elle sobre o actual uma differen-ça de despeza de Rs. l:0O5$00O, como o consigna no seü artigo.

Sentimos profundamente que outros princípios imprescindíveisnos obstem do dar inteiro assenso ao quadro proposto por S. S.

Pensamos ter respondido ao nosso collega quanto v á primeira desuas observações, isto é, sobre a fôrma de organisaçào do quadroque apresentámos, no qual, estamos persuadidos, não deixará ocollega do reconhecer terem sido consultadas todas as condiçõesde regularidadô compatível com a natureza do serviço, a queédestinado, cotn as relações imprescriptiveis que devem existirentre os diversos corpos do exercitot e com as aetuaes circums-taneias econômicas do paiz.

Següioa organisaçãò do nosso quadre pôr conseguinte umalei, teve uma razão de ser.

Passaremos ao *2° ponto em que não encontrámos apoio em onosso collega.

Propozémos no artigo, a que se dignou responder o Sr. Dr.

(*) Vide Revista frimensat do Instituto Histórico'%* serie tomo I*anno de 1846.

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INDICADOR MILITAR. 173

Rodrigues, a dispensa de interstício para o posto immedialo aos1" o 20S Tenentes que tivessem o curso completo.

O digno collega julga que em nenhum caso se deve fazer uraaexcepção em favor dos Officiaes que tenhão o curso completo,que se não estenda igualmente aos outros, quando as condiçõessãodeigaaes forças.

Permittir-nos-ha o Sr. Dr Rodrigues que, não aceeitando eslaultima proposição, deixemos em pé o nosso pensamento.

Em verdade pôde julgar o illustrado collega que se achão nasmesmas circumstancias os officiaes que teem o curso completo deEngenharia, e que assim podem ser promptamente empregadosem qualquer das respectivas commissões, e os Officiaes, que,embora pertenção actualmente ao estado effectivo do Corpo, estãoainda estudando, e como taes, ainda não habilitados para seremempregados ?

Não o cremos, e assim permittirá que continuemos pedindo umaexcepção em favor dos primeiros; excepção a nosso vêr tanto maisjusta ê equitativa, quanto tenderia a garantir direitos adquiridos,pelo completo de habilitações theoricas e praticas, á occupação devagas que teriáo da ser preenchidas pelos Ofliciaes das outrasarmas, convenientemente habilitados, antes de expirado aquelleinterstício.

Não procede a razão de ficarem os subalternos aggregados aoCorpo, porquanto haveria toda a vantagem em que fosse o numorodestes o menor possível, sem entretanto preterir-se a principalcondição de habilitação.*

Passemos ao ultimo ponto contestado*Propondo a suppressão das classes de Subalternos do Corpo de

Engenheiros, e passando a ser o V posto do Corpo ó de Capitão,entendemos qne o governo poderia aproveitar para este posto osOfliciaes das outras armas do Exercito, que, sobre o conhecimentotheorico e pratico das respectivas armas, tivessem o curso geralde Engenharia militar, acompanhado de tempo designado deserviço desta arma, exercido sob ás ordens dos Directores dasobras publicas, militares e elo Observatório astronômico, oü sobas de uma commissão especial, que dirigisse exercícios práticosdos differentes ramos de engenharia.

0 Sr. Dr. Rodrigues apresenta entre os inconvenientes que selhe anfólhão na medida que vem de ser consignada, além daquasi ínexequiDiiaciaae, os s<

Afastar os officiaes dos respectivos corpos, 'deixando flelles la-

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174 INDICADOR MILITAR.

cunas se não devem preencher, porque nada garante quo o ofíí—ciai que deixasse a vaga chegaria a satisfazer ás condições de po-der passar para o corpo de engenheiros, do que se darião faltas noserviço e disciplina do exercito por causa de vagas, que se não*podiâo preencher annualmente, como é de lei.

« Dar lugar a um corpo permanente de aggregadòs ao corpo-de engenheiros. »

« Crear uma commissão especial inteiramente desnecessária. »Diz finalmente o nosso collega que, aberta uma ou mais vagas

de capitães no corpo de engenheiros, no caso de adoptada a mo-dificação do quadro em questão, tudo se conseguia por meio deum concurso theorico e pratico entre os officiaes das diversas armasdo exercito, que estivessem no caso e que quizessem oecupar asditas vagas.

Nenhum viso de inexequibilidade encontramos na medida quepiropomos, porquanto um simples aviso mandaria servir determi-nados officiaes, á disposição dos Directores das Obras Publicas,Militares, e do Observatório astronômico, ou ainda á de umacommissão especial.

Quanto á necessidade de dar o maior desenvolvimento aos co-nheeimentos práticos de engenharia, não pôde ella escapar á escla-reda intelligencia do Sr. Dr. Rodrigues, e assim nos permittirá quenão julguemos desnecessária, antes de toda utilidade a creação deuma commissão especial, que tenha por fim dirigir, systematisan-do-os, esses conhecimentos aos officiaes candidatos ao posto decapitão de engenheiros.

As lacunas, que no intuito da obtenção deste posto, deixarião*nos respectivos corpos os officiaes das outras armas, quando nãofossem inteiramente preenchidas por àquelles que se destinâo aoeslado maior, e que, em virtude das leis em vigor, devem ter ainstrucção e a pratica do serviço regimental das armas de artilhe-ria, infantaria, e cavallaria, terião deserde novo oecupadas comtoda a vantagem do serviço por esses mesmos officiaes, que, em-bora não tivessem obtido todos o conhecimentos precisos para ocorpo de engenheiros, voltarião para os seus corpos, todavia, commaior somma de habilitações.

Quanto á ultima observação de S. S. diremos, que se S. S. eu-tende que, no caso de adoptada a modificação do quadro tudo seconseguia por meio de. um concurso theorico e pratico entre osofficiaes das diversas armas, que estivessem no caso e quizessemoecupar as ditas vagas, deve concordar que para que esses offi-ciaes estejão no caso de pretender oecupar uma vaga de capitão

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INDICADOR MILITAR. 175

de engenheiros, é indispensável ju.stamente que tenhao os precisosconhecimentos theoricos e práticos, que não podemos admittir nosdiversos ramos de engenharia, sem os haverem effectivamentc ad-qairido pelos meios que exposemos.

E' esse o fim da medida quo indicámos.Os limites desta gazeta nos inhibem de alongar-nos mais. O

nosso illustrado collega o Sr. Dr. D. J. Rodrigues nos relevará onão termos no antecedente numero respondido, como o poderiampermittir as nossos forças, ao artigo com que se dignou honrar-nos. Tínhamos de ceder o lugar aos distinetos collegas que tãobrilhantemente oecupáram as paginas desse numero.

Dr. F. C. Araújo e Silva.

Major de engenheiros.

MÁXIMAS E PENSAMENTOS.

(Continuação don. 9)

XXVIII

Em que classe se manifesta em mais subido gráo o amor dapátria que em a nossa? Quem affronta perigos imminentes, e a

própria morte para assegurar-lhe a integridade, e o estranho res-

peito, senão o soldado; e, com tudo, o soldado é homem, e do-tado das mesmas afeições e sentimentos naturaes que qualqueroutro.

No lar doméstico, acariciando a esposa, e apreciando as puerizgraças do filho, se soa a cometa, e, nesso som, talvez uma sen-tença de morte, elle tudo esquece, fecha os olhos ao desolado

pranto da esposa, serra os ouvidos aos pungentes ais do filho, e,receoso da sorte, pungido pela dôr acerba da saudade., corre aocampo da peleja a buscar, ou um fim glorioso, ou os louros im-marsesiveis da victoria. Se a pátria folga, elle exulta; se a pátriageme, elle pranlêa; é o verdadeiro typo do amor filial, que abafa,

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178 INDICADOR MILITAR.

e faz calar todos os outros sentimentos! E essa pátria será müidesnaturada, que menosprese tão acrisolada dedição, tão doloro-sos sacrifícios? Não, por certo; confiemos que ella acudirá sempreao soldado ; e quando elle sucumba, adoptará sua familia, poisassim devemos esperar da jusliça dos que a representam, c damunificencia daquelle qne por felicidade nossa dirige seus des-tinos.,

AAI A.

Em sciencia devemos sempre duvidar de nossos conhecimentos;d'ahi procede a modéstia, que os realça, e attrahe a benevolênciaem favor de nossos erros, ou faltas; o contrario se dá com o pre-sumpçoso, que, julgando-se juiz habilitado do seu merecimento,baixa ao charlatanismo, soffrendo implacável guerra daquellescom quem pretende sustentar sua impostura.

A A A..

O governo deve empregar todo o cuidado na escolha dos chefes.Além dos outros essenciaes predicados, deve possuir superio-

ridade de intelligencia em todos os ramos de serviço; porque,logo que se reconhece inferior a seus subordinados, vacila ; deli-bera a receio; perde a força moral e de confiança; e, eom ella, adisciplina, qwé uma das sólidas bases da organisação dos exer-€ÍtOSi.

aaaI.

Os ardups, e valiosos serviços que o militar presta desde apraça de soldado até ao posto de general, expondo a vida e eslra-gando a;saude; sempreámingoa de commodidades,ou baldo demeios pecuniários para obtelnas, quando possíveis, ninguém porcerto desconhece; que são mesquinhamente recompensados com osimples soldo quando, no ultimo quartel da vida, se reforma, ede mais recursos carece; para entreter uma limitada existência ;e,iada mais, se a?termina, com o meio soldo que deixa áviuva, quemal lhe aproveita maxime,. ficando-lhe orphãos a educar èestabe"

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lecer; e que, as vezes, n'um paiz como onosso,mal chega a pagaro abrigo de miserável tugurio. Depondo, seguramente, lodo oexercito, e por innumeros motivou a maior confiança no actualgoverno, espera de seu interesse, e dedicação a classe, concorrapara que, adoptando-se os recentes exemplos das nações maiscultas, e civilisadas, se lhe melhore o destino, arbilrando-se re-numerações de serviços a todas as praças,e posljos, proporcionadasa seu tempo, e qualidade; e quevenporporadas|pos soldos, passema seus herdeiros, por lei habilitados—Medida tão justa, e equila-tiva grangeará a gratidão e cobrirá de benções do velho soldado,da desolada viuva, e do innocente orphão o governo paternal, ebeneficente que melhorar sua mesquinha sorte, pondo-os a abrigade maiores privações que hoje soffrem n'um- eslado bem próximoao da miséria.

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Muitas vezes nos prejudica mais a defesa que nos fazem, do queo crime de que nos accusam; porque, sendo este leve, fácil nosabsolvem; e, sendo aquella pesada, fere os accusadores, fazendocalar a voz da benevolência, o despeito do aggravo escripto, ouproferido.

XXXIII.

Um dos maiores sacrifícios porque se passa na carreira militaré servir sob as ordens de um chefe menos instruido; porque,além de devermos proceder contra os principios de nossa rasoavelconvicção, somos obrigados asupptírtar o desdém e despreso comque a ignorância costuma guerrear a intelligencia; e se a isto sejunta a falta de educação, tal sacrifício se torna mais doloroso, equasi impossível o soffrimento. *

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XXXIV.*! '

Uma provado consideração do governo, queseconverteemter-rivel castigo» é a nomeação de commando de um corpo, em que

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falta a subordinação, e discipliua; porque, se pretende-mos cha-mal-o a seus deveres, contra nós se conspiram os que se acham nogoso da relaxação, e mal entendida liberdade; e se nào atalhamosaes abusos, compromettemo-nos com o governo, falseando a con-fiança em nós depositada.-Corpos em tal estado devem dissolverse, punir-se os quea isso concorreram, e empregar, n'outros, osque se acharennnnocentés.

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Lit •>• âA força real de um exercito, não é a physica, nem lão poucoconsiste no denodo, e bravura das classes pessoaes de que é com-

posto. A verdadeira força existe na intelligencia dos chefes, eoficialidade, procedente da educação, e estudo, que o governodeve franquear-lhes por própria conveniência. No ensejo de unicombate, uma ordem refleclida, uma medida acertada, tem maisinfluencia, e maior peso que cem granadeiros cobertos de seu ar-mamento. Instrucçao para as differentes armas, que mais apro-veitará que essas massas enormes, mal guiadas, mal dirigidas noscampos de peleja.

(Continua).i^ P. A. de Sepülveda Everard;

Brigadeiro graduado d'engenheiros.•X,:-

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