Lição 12 – Gálatas 6 - kol-shofar.org · de glória somente em si mesmo, e não em outrem; 5...

Lição 12 – Gálatas 6 Epístola aos Gálatas – Enxertados

Exegése – V. 1

Gálatas 6:1 Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.

  Muitos comentadores acham infeliz a divisão do capítulo neste ponto pois faz uma divisão no contexto das exortações que Paulo faz no capítulo 5.

  “Irmãos” – não se presuma que Paulo se refere apenas aos crentes em Yeshua. O seu uso do mesmo termo em 1:2 indica que ele o usa para se referir a todos os membros da comunidade.

  “se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito” – Linguagem um pouco ambígua. Há quem entenda que se alguém suspeitar de que alguém estás prestes a pecar, deve tomar tomar uma atitude para o impedir.

  É certo que sim, porém, o sentido aqui é que quando alguém de facto cometeu pecado (e no contexto está a falar de divisionismo) é da responsabilidade daqueles que vivem pelo Espírito, corrigir esse membro.

Exegése – V. 1


  “corrigi o tal com espírito de mansidão” – O propósito do confronto é a restauração.

  Paulo não parte de imediato para a disciplina e castigo. Em 2Cor.2:6-8 Paulo apenas exorta a comunidade a receber de volta o membro que prevaricou após este ter sido disciplinado.

  Aqui, porém, quem erra não transgride nenhuma norma moral ou ética mas trata-se provavelmente de alguém cuja postura era divisionista e consequentemente, perigosa.

  Paulo aqui encoraja os que vivem pelo Espírito a aplicar os ‘Frutos do Espírito’ (dos quais a mansidão é um) para a restauração do indivíduo, antes que fossem necessárias medidas mais severas.

Exegése – V. 1


  “olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado” – A posição defendida pelo transgressor pode parecer legítima.

 Os Influenciadores eram provavelmente muito persuasivos.

 O inimigo é muito enganador e sem uma dependência constante no Espírito da Verdade, o erro pode, por vezes, parecer muito aceitável.

Exegése – V. 2

Gálatas 6:2 Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.

  Que quer Paulo dizer com “cargas”?

  Provavelmente refere-se a questões do dia-a-dia.

  Mesmo as comunidades ‘do Caminho’ seriam consideradas ‘seitas Judaicas’ e como tal todos os seus membros estariam sujeitos ao “Fiscus Judaicus”. Para alguns, sobretudo viúvas e escravos, era uma carga muito pesada e que os levaria à prisão, não fora o auxílio da comunidade.

  Para além disto, doenças, perseguições, pobreza, etc.

  Se os Gentios estavam a ser pressionados para se submeterem ao proselitismo, quem se recusasse seria marginalizado, o que os deixaria vulneráveis.

  A característica primária do povo de Yeshua é que demonstrem amor uns pelos outros.

Exegése – V. 2

Gálatas 6:2 Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.

  “cumprireis a lei (Torá) de Cristo” – Deve ser entendida como: ‘A Torá, tal como o Messias a ensinou e viveu’.

  Certamente era contrária a muitas interpretações rabínicas da Torá mas de forma alguma a Moisés.

  Quem quer que ensinasse algo que não estivesse de acordo com a Torá era considerado um falso profeta.

  Pelas suas palavras e acções, Yeshua ensinou o verdadeiro sentido da Torá.

  A Sua ênfase foi sempre em viver a Torá, tendo sempre o amor a Deus e ao próximo como fundamento das suas decisões ‘halachicas’.

  Enquanto os Fariseus eram peritos em colocar cargas sobre os ombros dos homens sem sequer se preocuparem em ajudá-los a suportar a carga (Mat.23:4), Yeshua procurou ‘descomplicar’ a Torá das adições humanas, mostrando que viver a Torá pela fé não é uma carga mas um prazer.

Exegése – V. 3-5

Gálatas 6:3-5 Pois, se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo. 4 Mas prove cada um a sua própria obra, e então terá motivo de glória somente em si mesmo, e não em outrem; 5 porque cada qual levará o seu próprio fardo.

 A admoestação para “levar as cargas uns dos outros” poderia ser mal aplicada se Paulo não desse também esta correção.

 Haveria aqueles que viam na comunidade uma forma de subsistência fácil.

  Segundo Paulo, quem não trabalha não deve comer (2Tess.3:10).

  Paulo não sentiria necessidade de estabelecer esta halachah se não houvessem casos de abuso no seio da comunidade.

Exegése – V. 3-5


 De forma tipicamente rabínica, Paulo parece contradizer-se:

 V.2 à “Levai as cargas uns dos outros”

 V.5 à “cada qual levará o seu próprio fardo”

  Significa que sempre que a carga/fardo não seja o resultado da ingerência de cada um, então todos o deverão ajudar. Isto não significa porém, que a comunidade fosse responsável por pagar os impostos daqueles que tivessem esbanjado o seu dinheiro ou por auxiliar aqueles que não estavam dispostos a trabalhar.

Exegése – V. 3-5


  “se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada” – leia-se: “ser alguém importante”.

  Se alguém julga deter uma posição de maior importância que outrém no Reino de Deus, engana-se a si próprio.

  Para Deus todos são igualmente importantes. Não significa que todos tenham o mesmo papel mas todos têm o mesmo estatuto como membros do Concerto.

  5:26 à Usa o termo “vanglória”. Aqueles que se exaltam a si próprios e aos seus feitos demonstram uma glória vã. No Reino de Deus todo o crédito deve ser dado a Yeshua – Mateus 16:18.

Exegése – V. 3-5


“Paulo estava familiarizado com cristãos que, deleitando-se na sua experiência do Espírito, assumiam ares e responsabilidades que eram manifestamente incapazes de desempenhar. Ele não nomeia ninguém, mas a atitude de superioridade e de uma autoestima inflacionada eram uma ocorrência suficientemente comum para Paulo falar em termos muito directos” (Dunn, Galatians, p.324)

 As capacidades de cada um provêm de Deus e a Ele devemos dar glória – Rom.12:3.

Exegése – V. 3-5


  “prove cada um a sua própria obra” – Discernimento é também um ‘fruto do Espírito’. Como tal, a mente natural não discerne as coisas do Espírito (1Cor.2:9ss).

 A capacidade espiritual de ver as coisas como elas verdadeiramente são é o antídoto para a vanglória e um sinal de maturidade espiritual.

  Para Paulo, a Torá de Yeshua é o critério exterior contra o qual tal avaliação dever ser feita.

Exegése – V. 3-5


  “então terá motivo de glória somente em si mesmo, e não em outrem” – A frase parece estranha. Paulo geralmente considera o “gloriarmo-nos” como algo negativo.

 Na realidade, quando fazemos uma avaliação honesta da nossa obra, reconhecendo que ela é obra de Deus e não fruto das nossas forças, limitaremos essa avaliação a nós próprios e não nos estabeleceremos como juízes de outros. Essa avaliação começa e acaba em nós próprios.

  E assim...

Exegése – V. 3-5


  “cada qual levará o seu próprio fardo” – Cada um deve suportar as dificuldades da vida sem pensar que são responsabilidade de outros.

  Isto caracteriza uma comunidade espiritualmente madura em que cada um é capaz de distinguir entre as cargas que cada um é capaz de suportar e aquelas em que o auxílio da comunidade é necessário.

Exegése – V. 6

Gálatas 6:6 E o que está sendo instruído na palavra, faça participante em todas as boas coisas aquele que o instrui.

 Começa com a palavra grega ‘de’ habitualmente traduzida por “e” ou “mas”. Aqui deve ser entendida por “mas”.

  Paulo deve ter considerado que a sua exortação anterior pudesse ser mal entendida.

  Ele não estava a dizer que aqueles que dedicavam o seu tempo e energias ao ministério teriam de ganhar o seu próprio pão.

  Ser um bom professor seria incompatível com um trabalho a tempo inteiro.

  “todas as boas coisas” – tudo o que é geralmente necessário ao bem estar material. Isto é Paulo a definir halachah.

Exegése – V. 6

Gálatas 6:6 E o que está sendo instruído na palavra, faça participante em todas as boas coisas aquele que o instrui.

  No mundo Judaico um Doutor da Lei era pago pelo nasi (presidente da comunidade) e não podia exigir remuneração ao público. Os seus discípulos tinham a responsabilidade de suprir as suas necessidades da mesma forma que supririam as de seus pais.

  No mundo cristão havia quem abusasse da halacha de partilhar “todas as boas coisas”:

“Deixem que todo o apóstolo que vem a vós seja recebido como o Senhor. Mas ele não deverá ficar em vossa casa mais que um ou dois dias se necessário. Se ele, porém, permanecer três dias é um falso profeta. Quando ele partir, não permitirás que leve nada, a não ser o pão necessário até encontrar um lugar onde ficar; se, porém, pedir dinheiro é um falso profeta.” (Didaché 11:4-6 – texto cristão datado usualmente de finais do Séc.I)

  Pelo próprio exemplo de Paulo, havia alturas em que era melhor prescindir de remuneração – quando, por exemplo, alguns o acusaram de tirar partido da comunidade (1Cor.9:3-18; 2Cor.11:7-11; 1Tess.2:9; 2Tess.3:7-10).

Exegése – V. 7-8

Gálatas 6:7-8 Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará. 8 Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.

  A halachah de partilhar “todas as boas coisas” com “aquele que o instrui” tem a ver com semear e ceifar. Quando a comunidade define como sua prioridade o ensino da Palavra, providenciando para a manutenção de bons professores, essa comunidade ceifará benefícios espirituais.

  Mas esta passagem serve de transição. Mais uma vez Paulo reitera a sua mensagem. A mensagem dos Influenciadores embora parecendo uma solução, não o era.

  “Deus não se deixa escarnecer” – Deus veio até eles através de Paulo com as ‘boas notícias’ da inclusão dos Gentios no Concerto. Não podem alegar ignorância nem podem esperar que Deus ignore a sua desobediência se eles seguirem a via do proselitismo (semear na carne).

Exegése – V. 7-8


  “tudo o que o homem semear, isso também ceifará” – sobretudo numa sociedade agrária, a verdade desta metáfora era vivida continuamente.

 A metáfora ensina uma verdade universal – as nossas escolhas têm consequências.

  Já não sendo servo da carne, o crente é capacitado pelo Espírito e pela palavra de escolher a opção certa. Mas ainda assim terá sempre de se debater com a carne.

Exegése – V. 7-8


  Como é que semeamos no Espírito?   Estudo regular da Palavra de Deus e agir com conformidade com Ela;

  Guarda dos mandamentos por forma que os caminhos de Deus se tornem os nossos caminhos;   Celebrando as Solenidades do Eterno (incluindo o Shabbat);

  Oração regular e constante;   Dar ouvido às exortações do Espírito;   Priorizar os encontros com a comunidade dos crentes.   Guardarmo-nos das tentações a que sabemos ser vulneráveis;   Não permitir que o mundo e seus valores modelem a nossa maneira de pensar;

  A obra do Espírito é precisamente exortarmo-nos a seguir este caminho.

Exegése – V. 7-8


  “quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção” – Aqueles cujas vidas são marcadas pelas obras da carne só podem esperar colher corrupção. A metáfora é clara: o homem é pó e ao pó tornará. A carne não tem capacidade de ganhar a Vida Eterna.

  Não esquecer o contexto: por ‘carne’ Paulo quer muitas vezes dizer ‘estatuto étnico’. Aqueles Gálatas que estavam a ser persuadidos pelos argumentos dos Influenciadores, são aqui condenados por Paulo.

  O estatuto étnico de cada um não terá qualquer importância no juízo Divino pois Deus não faz acepção de pessoas (Rom.2:11).

Exegése – V. 7-8


 Os que, aceitando Yeshua, se regem pelo Espírito irão viver sempre e cada vez mais uma vida de Justiça em conformidade com os mandamentos de Deus.

  Serão declarados justos não só porque o sacrifício de Yeshua pagou o preço dos seus pecados mas também porque o Espírito os transformou em pessoas que anseiam por viver nos caminhos de Deus.

  Por isso Paulo pode afirmar que não serão justificados os que se limitam a ouvir a Torá mas os que cumprem a Torá serão justificados (Rom.2:13).

Exegése – V. 9

Gálatas 6:9 E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.

  “fazer o bem” – Paulo refere-se certamente a viver de acordo com os mandamentos de Deus, a seguir os passos de Yeshua.

Tito 2:13-14 – aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, 14 que se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras.

Exegése – V. 10

Gálatas 6:10 Então, enquanto temos oportunidade, façamos bem a todos, mas principamente aos domésticos da fé.

  “enquanto temos oportunidade” – A ceifa é futura (“a seu tempo”) porém isso não significa que nos deitemos à sombra da bananeira. O tempo presente dá-nos a oportunidade de cumprir a Torá, fazendo o bem.

 “façamos bem a todos” – As comunidades da Galácia eram compostas de crentes e não-crentes (em Yeshua), Judeus e Gentios. Paulo não limita a sua exortação a fazer o bem apenas àqueles que partilham a fé em Yeshua. A Torá, enfatizada pelos ensinamentos de Yeshua ensina que devemos fazer bem aos nossos inimigos.

Exegése – V. 10

Gálatas 6:10 Então, enquanto temos oportunidade, façamos bem a todos, mas principamente aos domésticos da fé.

  “principamente aos domésticos da fé” – Quando temos de escolher, obviamente que a comunidade da fé tem prioridade. As necessidades desses devem ter prioridade em relação à dos que estão fora do círculo da fé. À semelhança da família.

  “domésticos” – Gr. ‘oikeios’ (pertencente à casa ou família de). Várias seitas Judaicas definiam os seus membros (obras Lei) como pertencentes à Casa ou Família de Israel.

  Paulo usa a mesma linguagem mas refere-se antes à ‘casa ou família da fé’ pois não era a etnicidade nem as ‘obras da Lei’ que nos admitiam no Concerto, mas sim a fé em Yeshua.

Exegése – V. 11 Gálatas 6:11 Vede com que grandes letras vos escrevo com minha própria mão.

  Paulo inicia a parte final da epístola (v.11-18).

  Podemos assumir que a carta foi ditada mas que esta parte final teria sido escrita pessoalmente por ele.

  Esta passagem é interpretada por muitos como mais um indício de que o problema físico que levou Paulo a parar na Galácia seria nos seus olhos.

Gál.4:15 - ... dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os vossos olhos, e mos teríeis dado.

Exegése – V. 12 Gálatas 6:12 Todos os que querem ostentar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.

  “querem ostentar boa aparência na carne” – O propósito dos Influenciadores era serem aceites.

  Tal como em partes do movimento Messiânico de hoje, havia a compulsão para serem aceites pela comunidade Judaica tradicional.

  Uma forma de serem aceites seria estarem de acordo no que toca à importante questão dos Gentios

  Isto permite-nos ver que o antagonismo da comunidade Judaica contra os Nazarenos não se centrava na aceitação de Yeshua como Messias. Várias seitas haviam já proclamado outras figuras como sendo o Messias.

  Na comunidade Judaica, grupos divergentes no que toca a crenças fundamentais, conviviam entre si (e.g. Fariseus e Saduceus).


 A questão que originou a divisão entre comunidade Judaica e Nazarenos foi a questão dos Gentios.

  Tratar os Gentios como membros da comunidade (como os Nazarenos faziam) causava grandes problemas teológicos e sociológicos para o Judaísmo tradicional.

  O Judaísmo tradicional só aceitaria os Gentios se estes se convertessem em Judeus, i.e. se passassem pelo proselitismo.

  “esses vos obrigam a circuncidar-vos” – Os Influenciadores estavam a tentar convencer os Gentios a obter estatuto Judaico para que eles próprios também fossem aceites pela comunidade Judaica.


  “somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo” – Os Influenciadores eram, eles próprios, crentes em Yeshua. Como tal, não concordavam em absoluto com o Judaísmo tradicional.

 A sua motivação seria demonstrar cumprimento com as regras da Sinagoga por forma a serem não só aceites como não perseguidos.

 Como é que a Sinagoga perseguia? Lembremo-nos de Paulo antes da sua conversão...

  Enquanto que no Séc.II a perseguição aos crentes vinha primariamente do Império Romano, no Séc.I vinha primariamente da Sinagoga.


  “por causa da cruz de Cristo” – A perseguição tinha origem no facto de os Nazarenos pensarem que os Gentios entravam no Concerto através do sacrifício de Yeshua (cruz de Cristo) e não através do proselitismo.

 O próprio Paulo descreve os Judeus não crentes como inimigos do Evangelho (Rom.11:28). O Evangelho, ou melhor, a boa-nova ou as boas notícias, consistiam em Judeu e Gentio terem igual estatuto perante Deus e no facto do Gentio poder entrar no Concerto pela fé em Yeshua.


“Paulo não quer dizer que estes missionários judaico-cristãos fossem perseguidos (por outros Judeus) simplesmente porque pregavam um Jesus crucificado como Messias; essa mensagem era certamente também central para os Judeus Cristãos na Palestina...

Paulo... deve referir-se... àquilo que na pregação comum do Messias crucificado, constituía uma ofensa à maior parte dos demais Judeus (5:11). E isso tem de referir-se à afirmação de Paulo (e outros) de que a cruz era base suficiente para a aceitação na herança de Israel...” (Dunn, Galatians, p.337).

  Quando Paulo afirma pregar ao Messias e a Ele crucificado (1Cor.2:2) está a enfatizar este mesmo ponto – a entrada eterna no Concerto só se consegue pelo sacrifício de Yeshua.

Exegése – V. 13 Gálatas 6:13 Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.

  Há quem entenda que Paulo se refere àqueles Gentios que já sucumbiram à mensagem dos Influenciadores mas se fosse esse o caso, o facto de não guardarem a Torá seria atribuivel à sua iniciação ao Judaísmo.

  Parece mais provável que Paulo se esteja a referir aos próprios Influenciadores.

  Apesar de circuncidados (ritualmente) e de estarem a compelir os demais a se tornarem prosélitos, eles são inconsistentes na forma de obedecer à Torá.

  Em Rom.3:12-29, Paulo sustenta que a circuncisão da carne só por si é incapaz de mudar vidas.

  O facto de contenderem por uma posição de ascendencia sobre os Gentios com base no seu estatuto Judaico, revela orgulho e arrogância, coisas que a Torá condena – Rom.3:9-20.

Exegése – V. 13 Gálatas 6:13 Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.

 A submissão ao ritual do proselitismo, nunca pode garantir um acréscimo de santidade (i.e. De obediência à Torá de Deus).

  Esse resultado provém de uma mudança efectuada pelo Espírito nos nossos corações. Não é o resultado de um ritual humano.

 O exterior do copo pode estar limpo, mas o interior.... (Mat.23:25).

  “para se gloriarem na vossa carne” – À semelhança de Rom.2:17,23; 4:2 provavelmente significa depositar confiança no nosso estatuto étnico.

 Os Influenciadores estariam prontos a receber de braços abertos aqueles Gentios que se submetessem ao proselitismo – um forte incentivo para aqueles que se sentissem marginalizados por não serem judeus.

Exegése – V. 14 Gálatas 6:14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.

  Ao contrário de se gloriar na carne, Paulo gloria-se apenas (mesmo sendo Judeu por nascimento) na obra salvadora de Yeshua.

  Mesmo as promessas a Israel são asseguradas pela morte do Messias na cruz (2Cor.1:20). Essas promessas baseiam-se na prerrogativa Divina de um dia trazer Israel à fé no Messias (Jer.31:31-34).

  Assim, todos os que estão no Messias – Judeus ou Gentios – só se podem gloriar Nele.

  “nosso Senhor Jesus Cristo” – Heb. ‘Adoneinu Yeshua HaMashiach’

  Adoneinu – Nosso Mestre e Senhor;

  Yeshua – Salvador;

  HaMashiach – O Ungido; O Redentor prometido


 Quando os Gentios se submetiam à Conversão Ritual ou Proselitismo davam motivos à comunidade Judaica para se “gloriarem na sua carne”.

 Nesse ritual o que estava a ser dito é que só os Judeus são salvos, ou seja, as bençãos de Deus vêm pelo estatuto étnico.

  Paulo porém gloriava-se apenas em Yeshua e esta capacidade de se gloriar em Yeshua pertencia também ao Gentio.

 No Messias, tanto Judeu como Gentio se podiam gloriar em pé de igualdade.


  “pela qual o mundo está crucificado” – “pela” (Gr.hou) pode referir-se à cruz ou ao Messias. Vários comentadores entendem referir-se a este último pelo que a tradução ficaria “por quem o mundo está crucificado”. O significado acaba por ser o mesmo.

  “o mundo” – representa independência de Deus ao invés de dependência.

  O crente, ao ser crucificado com o Messias, rejeita, como Ele rejeitou, ser conformado ao mundo e seus caminhos. Para o crente, o mundo foi aniquilado na morte do Messias e uma nova vida nasce (2Cor.5:14-17).

  Não se trata apenas de Yeshua pagar a nossa dívida. Trata-se do próprio crente morrer para o mundo. Conformidade com o mundo não é mais uma opção (Rom.12:1-3). O novo homem tem prazer na Torá de Deus (Rom.7:22).


  “e eu para o mundo” – Vendo as coisas da perspectiva do mundo, Paulo também se torna uma pessoa inapetecível. Alguém a ser desdenhado e marginalizado.

João 15:18 – Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim.

João 17:14 – Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.

  Se somos amigos do mundo e para o mundo deviamos reequacionar se de facto as nossas vidas evidenciam termos sido crucificados com Yeshua e ressurrectos com Ele em novidade de vida.

Tiago 4:4 – Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.

Exegése – V. 15 Gálatas 6:15 Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura.

  Este versículo conclui o argumento dos versículos anteriores. Para Paulo, aqueles que dependem do seu estatuto étnico encontram-se num estado não crucificado.

  Em contraste com “o mundo” está “o ser uma nova criatura”.

 A frase está escrita numa perspectiva Judaica pois os Judeus considerar-se-iam a circuncisão e os Gentios os incircuncisos. Uma vez mais, a questão é: estatuto étnico.

 A inclusão em Israel pelo nascimento ou através do proselitismo é o tema central da carta.

  Paulo faz uma afirmação sucinta: o estatuto étnico não importa.


 De acordo com Paulo, quem coloca a sua esperança no estatuto étnico pertence ao “mundo” pois busca um meio de salvação independente daquele proporcionado pelo Eterno, i.e. o Messias.

  Paulo vira assim a lógica do avesso pois o Judaísmo considerava que o estatuto étnico (por nascimento ou proselitismo) era o que os separava do mundo. Paulo afirma que eles pertencem ao mundo pois ao rejeitarem o Messias de Deus uniram-se ao mundo na sua rebelião contra Ele.

Lucas 10:16 – Quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou.


 Uma vez mais: Paulo não proíbe o acto da circuncisão mas sim o dependermos dele para nossa salvação.

 Nem o estatuto étnico Judaico nem o estatuto étnico Gentílico contam para nada no que toca a sermos justificados perante Deus.

 Deus credita justiça àqueles que, pela fé, foram regenerados pelo poder do Espírito, através da obra do Messias.

Exegése – V. 16 Gálatas 6:16 E a todos quantos andarem conforme esta norma, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.

  Paulo terminou o seus discurso. Não pode dizer mais a título de argumento e termina com uma benção.

 O factor diferenciador aplica-se àqueles que seguem o seu ensino, a sua halachah (andar). Essa ‘norma’ é a distinção entre pertença ao Concerto de acordo com os Influenciadores – estatuto étnico – ou de acordo com Paulo – fé no Messias crucificado e ressurrecto.

  Ele não pode pedir a Deus ‘paz e misericórdia’ para aqueles que, conscientemente, rejeitaram o Seu Filho.


  “paz e misericórdia” – (Heb. ‘shalom v’chesed’) – benção muito comum na literatura e liturgia Judaica.

  Se Paulo evoca esta benção sobre “todos quantos andarem conforme esta norma”, o sentido é claro: tanto Judeu como Gentio que depositem a sua fé no Messias, devem ser encarados como pertencendo a Israel.


  “e sobre o Israel de Deus” – Porque é que Paulo acrescenta esta frase?

1.  Tendo afirmado que quem segue esta halacah é quem constitui Israel, ele pode ter recuado um pouco temendo ser interpretado como estando a dizer que o Israel que não cria no Messias tinha de alguma forma perdido a sua identidade como Povo Escolhido de Deus. Daí ele acrescentar “e sobre o Israel de Deus”, i.e. o Povo Escolhido de Deus independentemente do seu estado actual.

2.  Paulo enfatiza o facto de que apenas aqueles que entendem e aceitam as ‘Boas-Novas’, (que a entrada no Concerto é pela fé e não pelo estatuto étnico) é que constituem o “Israel de Deus”. Estaria assim reconhecendo a inclusão em Israel dos Gentios crentes.


  Para Paulo, a ‘ekklesia’ existia como um grupo dentro de Israel, nunca fora. A sua esperança era que a presença ‘do Caminho’ em Israel e particularmente a inclusão dos Gentios em Israel pela proclamação da ‘Boa-Nova’, todo o Israel fosse salvo.

  “Israel de Deus” aponta assim para a salvação final de todo o Israel.

  “Israel de Deus” não é, portanto, um grupo para além daqueles que andam por esta norma, mas sim o todo da comunidade em que este remanescente existe.

  Esta visão de Israel está de acordo com a promessa do Concerto Abraâmico que foi o foco central de Paulo nesta epístola. Os crentes Gentios não são uma nova entidade agora também abençoada, mas expandiram Israel, tal como o Concerto prometia (Gén.12:3).


  Paulo não perde vista o facto de que a intenção de Deus em todo o Seu plano de Salvação é que no fim “todo o Israel será salvo”.

  Ter terminado a epístola com uma benção apenas sobre aqueles que presentemente aceitavam Yeshua como Messias e o aceitavam como a única porta de entrada no Concerto, seria transmitir a mensagem errada. No final “paz e misericórdia” virão igualmente sobre Israel enquanto nação, pois no fim “todo o Israel será salvo”.

Exegése – V. 17 Gálatas 6:17 Daqui em diante ninguém me moleste; porque eu trago no meu corpo as marcas de Jesus.

  “moleste” – Gr.‘Kopos’ – agressão ou cansaço por estar continuamente a ser agredido. Paulo sente-se como se tivesse sido alvo de mais uma agressão, embora desta vez não num sentido físico.

  “trago no meu corpo as marcas de Jesus” – Associado ao uso de ‘kopos’. Ao lembrar-se de que este presente problema era tão doloroso como as muitas chibatadas que recebeu, naturalmente vieram-lhe à memória as muitas cicatrizes que certamente ostentava.

  Essas cicatrizes provavam o quanto ele estava disposto a seguir o Messias e em partilhar no Seu sofrimento (Col.1:24). A mensagem que ele pregava era portanto, a mensagem que tinha de pregar – pois não lhe trazia grandes comfortos. Quem a continuasse a pregar apesar das perseguições teria de estar plenamente convencido da sua veracidade e necessidade.

Exegése – V. 18 Gálatas 6:18 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito. Amém.

  A benção é curta e breve, típica das epístolas de Paulo. A brevidade não deve ser entendida como se houvesse algum aborrecimento da sua parte (mesmo nas epístolas mais amistosas – e.g.Filemon – ele usa saudações breves.

  Usa uma vez mais o Nome completo - ‘Adoneinu Yeshua HaMashiach’ – uma vez mais enfatizando a Realeza de quem ele servia bem como a Sua soberana capacidade de salvar pecadores.

  “seja... com o vosso espírito” – Paulo estava confiante que o Espírito de Deus, trabalhando directamente com o espírito dos Gálatas (cf.Rom.8:16) traria a sua mensagem a bom porto.

  “irmãos” –em todas as suas cartas, ele usa-a apenas aqui provavelmente para atenuar a rudeza, ironia e retórica que ele usou em toda a carta. Ele quer que eles saibam que, apesar de tudo, ele os considera como irmãos.

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