AGENTE CULTURAL MÍDIA RÁDIO Programa Nas Ondas do Rádio Secretaria Municipal de Educação SP 2012.
Lição de Vida nas Ondas do Rádio
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Lição de Vida nas Ondas do Rádio
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 9 • nº 1751
Março/2015
Crato
‘’Gente amiga, meu abraço, meu bom dia, estamos chegando através da Rádio Sertão FM 96,7, divulgando nossos contatos 99340235 ou 93367056, pode ligar e pedir a sua música, que nós tocaremos com todo carinho para os nossos ouvintes...’’ assim fala Francisco Borges de Lima, 55 anos , chamado pelos mais p r ó x i m o s c a r i n h o s a m e n t e d e F r a n s q u i m .
Fransquim e seu irmão mais velho, João, são naturais de Pio IX –
Piauí, no entanto, seus outros oito irmãos nasceram na
comunidade de Cajazeiras dos Borges, distante sete quilômetros
da sede do município de Campos Sales – CE, local em que moram
desde então. Estando esta região inserida no Semiárido
brasileiro, tem a Caatinga como vegetação predominante e a
escassez de água uma realidade.
Dos dez irmãos, dois têm deficiência visual de nascença,
Fransquim é um deles, mas isso não lhe tirou o interesse pelo
rádio, sonho que ele alimenta desde a infância. O outro é
Geraldo Borges de Lima, 37 anos, que nos intervalos de seus
estudos, baixa músicas da internet para ampliar o acervo
musical da rádio.
Sendo de uma família de agricultores, ele lembra dos tempos
em que “ia para a roça pastorar pros bicho não entrar, e rádio
era uma coisa difícil, não era todo mundo que tinha, então a
gente pegava aquelas latas de óleo quadrada, furava um
buraco e colocava um talo de mamona, um botão e brincava
falando como se fosse rádio”, conta. Outra brincadeira, era
com caixas de fósforo, e Fransquim ensina: “Você pega quatro
tampas de caixa de fósforo, coloca duas de um lado e duas do outro, ligadas por um cordão bem esticadinho, coloca
uma no ouvido e a outra para falar, e a voz sai certim”. “Passou o tempo, eu fui pegando gosto e tive contato com
aqueles microfones sem fio, aí eu pensei: rapaz dá pra gente fazer uma brincadeira com ele. Então comprei um.
Botei uma antena, e ficou pegando nas rádios das casas aqui pertinho. Botava em cima da tampa da radiola para
pegar o som. Mais um tempo pra frente um cara vendendo um transmissor, eu comprei e fui montando a rádio
devagarzinho, só com a radiola. Depois apanhei um gravador de dois deques e foi melhorando. Mesa de som, não
tinha. Eu injetava o microfone nesse gravador e servia de mesa de som”(mostra o gravador antigo). E continua,
“depois fui ampliando, adquiri uma mesa de som e ficou melhor. Então a gente faz um trabalho na comunidade,
divulga, avisa, diverte, sem cobrar um centavo”.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
Fransquim nunca fez curso de rádio, “esse negócio de operar som, eu fui aprendendo por conta. Quando eu apanhei
a mesa de som, levei num eletrônico e perguntei onde era a entrada de som, mas esqueci de perguntar pela saída.
Se tem entrada tem saída, eu pensei....”(risos). O bom humor é uma característica cativante dele. As despesas da
rádio são todas pagas com recursos de sua aposentadoria. Para ele é um prazer realizar um sonho no quintal de
casa, perto de sua família e com ajuda de seu irmão Geraldo. “Eu gosto da comunicação! Isso daqui é como se
abrisse as portas. Eu me sentia isolado, para mim foi muito importante”, conclui Fransquim.
Geraldo é o homem do computador. Não menos dotado de bom humor, lembra: “ A minha brincadeira preferida
era andar a cavalo de jumento”(risos). Desde criança se interessa
pelo conhecimento. “Eu não estudei em escola, mas fiz umas
letras de plástico. Comecei com uns biscoitos com formato de
letras – esse estudo é bom, a gente aprende e come (mais risos) –
então comecei a aprender o alfabeto, juntar letras e formar
palavras”.
“Quando eu comecei a ouvir rádio, ouvia falar em computador
nas rádios internacionais que eu sempre gostei, rádios de ondas
curtas. Mas eu achava que era
um ambiente de trabalho
somente visual. Em 2006 uns
parentes me fizeram um
convite para eu ir à Brasília, aí eu comecei a pegar algumas aulas no INTEGRE –
Instituto de Integração Social de computação básica. No começo fiquei um
pouco desanimado, mais não desisti, pois é muito complicado para quem nunca
imaginou, sentar diante de um teclado com mais de cem teclas. Me dediquei
também a estudar braile, no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais”,
conta Geraldo.
Próximo ao retorno para casa, um amigo que conheceu no curso de informática
se prontificou para montar um computador para ele, com o custo apenas das
peças. E acrescenta, “A informática tem me ajudado muito na questão do ensino
e na busca pelo conhecimento. Baixo vários livros narrados das mais diversas
áreas, desde livros de anatomia até livros de filosofia e literatura brasileira.
Sempre tive o sonho de ter acesso ao ensino e a informática me deu essa oportunidade”. Geraldo vai prestar ENEM
agora em Novembro, e diz: ’’Eu tenho consciência de o que estudei, talvez não seja o suficiente, mas pode ser que
que eu erre alguma coisa, e acerte”(risos).
Com seu irmão Fransquim,
Geraldo nos mostra o quanto
as barre i ras se tornam
pontes quando o sonho é
maior que as dificuldades.
Com inteligência e vontade,
um apoia o outro e os dois
j u nto s co n st ro e m u m a
história que precisa não só
ser vista e ouvida, mas ser
sentida por todos e todas.
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