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107 _____________________________________________________________ Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol 9 nº 2 Especial 2018 ISSN 2359-3938 LIMITES, VALORIZAÇÃO PESSOAL E GRUPAL E FORTALECIMENTO DO CONVÍVIO SOCIAL NA ADOLESCÊNCIA Francisca Daiane da Silva Santos 1 Rosangela de Souza Ramos 2 Mirian Gabriella Gomes da Silva 3 RESUMO: Este trabalho tem por objetivo o estudo e a aplicação de práticas que fomentem a discussão de temas diariamente vivenciados em ambientes escolares como o bullying, o trato para com os professores e ainda quanto a motivação para o estudar. Este trabalho visa apresentar tais contribuições a partir do levantamento de pesquisas bibliográficas. Os conceitos analisados expressam forte grau de relação com a área de psicologia visto as implicações psíquicas no manejo e enfrentamento de tais proposições, oportunizando um trabalho efetivo frente ao espaço educacional por profissionais psicólogos em conjunto com gestores e educadores ressaltando ainda a participação da família como meio facilitador do desenvolvimento dos adolescentes. Tais considerações acerca dos temas e contextos trabalhados favorecem para que os pensamentos acerca do processo de adolescência, incluindo os aspectos escolares, sejam vistos em sua realidade e suscite novos olhares para discussões e intervenções cabíveis. Palavras-chave: Adolescência. Escola. Bullying. 1. INTRODUÇÃO Dentre as várias etapas de vida do ser humano, uma que torna-se de grande evidência para o próprio indivíduo é a adolescência, visto sua forte carga de mudanças e transformações, algo característico desta fase, porém por vezes desafiador. Diante disso, e pelo reconhecimento de sua importância é que emerge a necessidade de atividades que reforcem práticas positivas para a boa conduta social e consequente crescimento sadio para o adolescente. Com a intenção de entender os aspectos do processo de adolescência neste âmbito escolar, sobretudo focalizado nos limites, na valorização do eu e no convívio social 1 Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-paraná. 2 Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná. 3 Especialista em Serviço Social pelo Santo André/SP (2013) e em Gestão da Clínica pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio Libanês. Bacharel em Psicologia por Faculdades Integradas de Cacoal- UNESC/RO (2012). Docente do curso de Psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná/RO. E- mail: [email protected].

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LIMITES, VALORIZAÇÃO PESSOAL E GRUPAL E FORTALECIMENTO DO

CONVÍVIO SOCIAL NA ADOLESCÊNCIA

Francisca Daiane da Silva Santos1

Rosangela de Souza Ramos2

Mirian Gabriella Gomes da Silva3

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo o estudo e a aplicação de práticas que fomentem a

discussão de temas diariamente vivenciados em ambientes escolares como o bullying, o trato

para com os professores e ainda quanto a motivação para o estudar. Este trabalho visa apresentar

tais contribuições a partir do levantamento de pesquisas bibliográficas. Os conceitos analisados

expressam forte grau de relação com a área de psicologia visto as implicações psíquicas no

manejo e enfrentamento de tais proposições, oportunizando um trabalho efetivo frente ao espaço

educacional por profissionais psicólogos em conjunto com gestores e educadores ressaltando

ainda a participação da família como meio facilitador do desenvolvimento dos adolescentes.

Tais considerações acerca dos temas e contextos trabalhados favorecem para que os

pensamentos acerca do processo de adolescência, incluindo os aspectos escolares, sejam vistos

em sua realidade e suscite novos olhares para discussões e intervenções cabíveis.

Palavras-chave: Adolescência. Escola. Bullying.

1. INTRODUÇÃO

Dentre as várias etapas de vida do ser humano, uma que torna-se de grande

evidência para o próprio indivíduo é a adolescência, visto sua forte carga de mudanças e

transformações, algo característico desta fase, porém por vezes desafiador. Diante disso,

e pelo reconhecimento de sua importância é que emerge a necessidade de atividades que

reforcem práticas positivas para a boa conduta social e consequente crescimento sadio

para o adolescente.

Com a intenção de entender os aspectos do processo de adolescência neste âmbito

escolar, sobretudo focalizado nos limites, na valorização do eu e no convívio social

1 Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-paraná. 2Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná. 3 Especialista em Serviço Social pelo Santo André/SP (2013) e em Gestão da Clínica pelo Instituto de

Ensino e Pesquisa Sírio Libanês. Bacharel em Psicologia por Faculdades Integradas de Cacoal-

UNESC/RO (2012). Docente do curso de Psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná/RO. E-

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surge este trabalho que busca propor o desenvolvimento de práticas que fomentem tais

temas focalizando a vivência social em sala de aula ao que compete ao trato com o

outro, buscando a criação de um possível ambiente harmônico o que visa ainda à

melhoria do aprendizado acadêmico as salas escolhidas, a saber, duas salas de 8º anos.

Diante destas necessidades é que surge a proposta de atividades que se efetivará

como de grande importância para as acadêmicas envolvidas, visto tratar-se de uma

demanda compatível ao que se aplica ao manejo profissional de um psicólogo. Visa-se o

aprendizado e a consequente partilha de vivências para com outros acadêmicos

interessados, almejando repercussão positiva das práticas interventivas assim como a

possibilidade de suscitar novos olhares para discussões e intervenções cabíveis.

2. METODOLOGIA

Visando atender o objetivo deste trabalho foi feito um estudo que está

fundamentado em uma revisão bibliográfica de artigos científicos, revistas eletrônicas.

Em conjunto ao estudo foram desenvolvidas práticas institucionais em conjunto com

profissionais que estão frente a atuações de demandas sociais.

3. DESENVOLVIMENTO

A adolescência se caracteriza como uma fase do desenvolvimento humano na

qual compreende crescimento, desenvolvimento e transformações do mesmo. O

adolescente em sua plena fase de descoberta não é ainda um adulto, ao passo que

também já não é mais uma criança, e isto constitui-se como uma fase de relevante

importância visto a necessidade de um desprendimento de um mundo infantil instituído

até o momento, passando agora por uma série de modificações, sendo elas físicas,

biológicas e psicológicas (ABERASTURY; KNOBOL,1981).

Papalia (2010, p. 397) em seus escritos menciona que “a adolescência é uma

construção social” isso visto que as sociedades abrangem o assunto de forma

diferenciada atribuindo aspectos de caracterização singulares e que definem os encaixes

para cada faixa etária, o que pode ser percebido como inclusão de idades, formas de se

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relacionar socialmente e ver o mundo, desenvolvimentos físico, psicológico e cognitivo,

dentre outros elementos definidores. É válido salientar que, por vezes, ao limitar tanto

estas características de acordo com cada sociedade, o adolescente pode se ver em um

processo de desencontros e conflitos.

Em referência ao comportamento dos adolescentes, o processo cultural de cada

sociedade tem muito a dizer sobre como surte e se percebe tais manifestações, isso visto

que estes estão em uma etapa de frequentes modificações. É característico modos de

expressão carregados de arrogância, presença marcante de introversões ou mesmo forte

destemor, demonstrações de desinteresse constantes, crises de identidade, enfim,

diversos aspectos que tornam este viver, por vezes, desafiador (ABERASTURY;

KNOBOL, 1981).

O ambiente escolar, propício para vivências marcantes, é um dos meios de

convivência do adolescente, indivíduo este que alterna suas atitudes constantemente e

embora isto aparente um descontrole tem toda uma carga de necessidade visto que se

este se apresenta sempre sobre uma forma rígida de comportamentos, ou seja, sempre

apresenta comportamentos idealizados e a risca, pode evidenciar a presença de

patologias, visto que a própria fase de vida se constitui como de grandes alterações

comportamentais, especialmente ligados aos processos de identidade, cabendo olhares

atentos e dinâmicos sobre este esta etapa tão peculiar (ABERASTURY; KNOBOL

1981).

3.1 Bullying e suas implicações no desenvolvimento do adolescente

É comum segundo Comin (2010) durante o período de adolescência o

surgimento de situações que evidenciem comportamentos negativos ou ainda

desajustados para com as realidades morais e legais por parte do adolescente. Tais

comportamentos podem ser vistos de forma agravada conforme sua repetição e

intensidade, denunciando desta forma a necessidade de um olhar mais atento,

considerando suas realidades pessoais e os contextos de vida deste indivíduo.

Algo que pode vir com forte manifestação no meio escolar, especialmente por

adolescentes é o que chama-se de bullying, prática que tem se tornado cada dia mais

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frequente. Esta é marcada por características de agressão, seja ela física ou psicológica,

apresentando-se sob um perfil repetitivo desta mesma ação. Geralmente são efetuadas

para com indivíduos que apresentem menor potencial para defesa e isto embasa o

prosseguimento de tais atitudes (OLWEUS, 1993 apud BANDEIRA; HUTZ, 2010).

Vemos em Silva (2010 apud Gonçalves e Souza, 2014) que diversas podem ser

as formas de ocorrência do bullying, a saber, a verbal que caracteriza-se sob a forma de

xingamentos e apelidos desagradáveis e depreciativos. Um segundo tipo diz respeito ao

físico e material, que torna-se o de maior identificação uma vez que pode deixar marcas

no corpo da vítima isso através de chutes, empurrões, tapas, enfim. Há ainda uma

terceira categoria que menciona acerca do bulling psicológico e moral, caracterizando-

se sobretudo por atos de humilhação, exclusão ou ainda isolamento.

Silva (2010 apud Gonçalves e Souza, 2014) ao falar sobre tais tipos de bullying

menciona ainda o bullying sexual, que está vinculado a práticas de assédio podendo

culminar em abusos. Um outro tipo diz respeito ao virtual, hoje conhecido como

cyberbullying, e que se fundamenta em exposições mal intencionadas de outras pessoas

nas mídias sociais, seja para difamação, para propagação de preconceito, invasão de

privacidade, enfim, formas que depreciem o caráter de suas vítimas. A principal

preocupação quanto a este tipo de bullying está vinculado ao rápido acesso pelos

internautas assim como a continuidade destas visualizações mesmo após retirada das

mídias sociais, causando alto grau de constrangimento as vítimas.

Em se tratando destes aspectos que caracterizam o bullying vemos em Fante

(2005 apud Souza e Almeida, 2011) que alguns papéis podem ser definidos quando de

uma análise frente a situações de bullying, a saber, vítima típica, que é o indivíduo que

sofrerá as ações, está geralmente caracteriza-se como inferior as demais, no qual torna-

se facilitada a persistência das práticas. Um segundo perfil envolvido é a vítima

agressora, responsável por emitir ações que denunciam suas condições de vida já

experenciadas, ou seja, esta refaz situações de maus tratos. Alinhado, por vezes, a este

pensamento surge o agressor, que define-se como aquele que dispensa quaisquer

sentimentos empáticos para com o outro, vendo sempre a possibilidade de domínio

sobre estes.

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Em referência aos papéis desempenhados Berger (2007 apud Bandeira e Hutz,

2012) cita as testemunhas, que são os indivíduos que presenciam as práticas de bullying,

participando como espectadores. As testemunhas se vêem paralisados frente a uma

situação difícil e que, no entanto não sabem como manejar, não desempenhando assim

nenhuma atitude ou defesa para com a vítima, temendo ainda se tornar também uma

próxima vítima destes agressores.

Quanto aos agressores, mais comumente chamados de bullies, estes trazem

características marcantes de um perfil agressor, indisciplinado, pouco aberto para o

diferente, não seguidor de regras e normas ou ainda apresentando uma série de outros

comportamentos negativos. Há casos em que os agressores atuais já foram vítimas de

bullying, o que não concretiza-se como justificação para tais ações, porém alerta para a

necessidade de um olhar aberto sobre todos os envolvidos em tais práticas. (MOURA,

2013).

Neto (2011 apud Gonçalves e Souza, 2014) ao caracterizar o bullying aponta que

alguns aspectos devem ser levados em consideração visto que não são todos os tipos de

agressões que constituem-se como bullying porém o que for de fato pertencente a tal

prática causa relevante sofrimento emocional a vítima, isso independente do nível da

ação. Outro aspecto diz respeito a um olhar atento sobre o que é brincadeira e o que

ultrapassa tais limites, uma vez que o impacto causado por tais inconveniências pode ser

altamente significativo para os envolvidos.

Fante (2005 apud Gonçalves e Souza, 2014) relata que as práticas de bullying

podem ocasionar uma diversidade de transtornos ao vitimado, isso a curto ou mesmo

em longo prazo. Algumas dessas repercussões podem vir sobre o ambiente escolar,

evidenciando-se em apresentações como baixa autoestima, retraimento social, não

exposição de dúvidas e pensamentos e rendimento escolar, o que tende a causar sérias

preocupações, em especial neste último aspecto, visto que o aprendizado pode estar

sendo gravemente comprometido.

Em consonância a estas ideias Silva (2010, apud Gonçalves e Souza, 2014)

destaca que o bullying pode trazer sérias consequências para a vítima, como o

desenvolvimento de transtorno de ansiedade generalizada, fobia social e escolar,

depressão, transtorno obsessivo compulsivo, evidenciando diversificados

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comprometimentos visto o prejuízo nas áreas de saúde física e mental, podendo afetar

ainda sua capacidade de socialização. Tal autora pontua ainda que em casos mais

extremos podem ser vistos quadros de esquizofrenia assim como tentativas de suicídio.

Em se tratando do ambiente escolar e das consequências que podem recair sobre

este espaço de aprendizagem, Fante (2005 apud Souza e Almeida, 2011) enfatiza que

fortes podem ser as consequências para as vítimas, como dificuldade de concentração,

falta de interesse pelas atividades, mudança no rendimento escolar e em alguns casos

pode se chegar em evasões escolares.

Os agressores também tendem a sofrer com as práticas de bullying, visto que

suas ações podem comprometer o desenvolvimento sadio destes. Há grandes

possibilidades de afastamentos escolares, isso ao menos no que se refere ao interesse

pelo aprendizado, visto que há maiores concentrações em si de energias dispensadas

para as atividades violentas que para objetivos de crescimento intelectual. Tais ações

podem ser tornar condutas contínuas, causando grande impacto na área social,

profissional e mesmo psicológica deste indivíduo. (FANTE, 2005 apud Souza e

Almeida, 2011).

As formas de enfrentamento utilizadas para trabalhar o bullying nem sempre faz

surtir os efeitos previamente pensados, conforme pontua Freire e Aires, 2012, pois estes

esclarecem que por vezes a problemática não é encarada de forma correta concentrando-

se muito mais em aspectos punitivos que numa totalidade acerca do mundo e contexto

vivencial dos envolvidos, sobretudo vinculado aos aspectos sociais, psicológicos ou

mesmo financeiros, contribuindo objetivamente para uma resolução ou forma de

prevenção para dados acontecimentos.

Para análise do bullying, deve ser observada uma série de aspectos, isso com

vistas a traçar pontuações fidedignas e que, sobretudo, compreendam um olhar amplo

sobre o conceito e suas implicações, permitindo a visualização de que as formas de

comportamento, em suas abrangências, partem de interações entre relações e ambientes,

ou seja, é algo que resulta de processos sociais, não evidenciando o pesar único sobre o

aluno agressor (FREIRE E AIRES, 2012).

Para resultados satisfatórios quanto as propostas de intervenções cabe a atuação

do psicólogo escolar, que sobretudo, deve estar vinculado a práticas que fomentem a

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prevenção e colaborem no manuseio das situações impostas. (Marinho-Araujo&

Almeida, 2008 apud Freire e Aires, 2012). Está à disposição deste profissional o uso de

meios que contemple avaliações dos indivíduos envolvidos assim como seus processos

sociais, não objetivando práticas particulares ou que oprimam visões de um todo (DEL

PRETTE & DEL PRETTE, 1996 apud FREIRE E AIRES, 2012).

3.2 Trato para com os professores e motivação para o estudar

A escola não representa apenas um papel de cunho profissional, mas reflete um

espaço de aprendizado social e afetivo, uma vez que as relações sociais estão a todo

tempo emergindo nos contatos estabelecidos cotidianamente em tal ambiente

(CANTINI, 2004 apud BANDEIRA E HUTZ, 2012).

Neste pensamento de espaço diversificado, a escola que ora reflete os conceitos

educacionais, ora serve de base ética, por este viés de integração do todo a psicóloga

Lidia Aratangy (2011 apud Souza e Almeida, 2011) afirma o poder evidente que há nos

responsáveis pela escola. Segundo a autora estes responsáveis precisam sempre se

encontrar a par de tudo que lhes compete enquanto educador e formador de cidadãos,

pois um espaço que abarca vivências e contextos sociais nos seus mais variados níveis

tende a apresentar situações cotidianamente que exijam soluções bem pensadas e que

vise o bem estar de todos assim como o desenvolvimento sadio.

Conforme Jesus (2004 apud Martins, 2016) a motivação pode ser compreendida

como um processo que possibilita ao indivíduo estímulos na tentativa de consolidar

objetivos ao passo que a desmotivação pode surgir devido a falhas educacionais em

diversos contextos do âmbito escolar, permitindo por sua vez o aumento de situações

que não contribuirão para reforçar a aprendizagem e criar um ambiente propício para o

desenvolvimento satisfatório destes alunos.

De acordo com Martins, 2016, alguns aspectos podem ter relação direta quando

se pensado em motivação e desmotivação em sala de aula, a saber, a relação entre

professor e aluno, a forma de ensino, e ainda como se dá o decorrer das aulas

ministradas. Uma sugestão que este autor aponta está em uma observância acerca das

necessidades desses alunos, isto levando em consideração tantos os aspectos

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pedagógicos quanto de comunicação, socialização, interesses individuais, enfim, formas

diversificadas de despertar o interesse destes alunos e torná-los motivados para um

aprendizado eficiente.

Para Rogers (1969 apud Zimring, 2010) alguns princípios tornam-se essenciais

para que a aprendizagem do aluno possa ser melhor desenvolvida, a saber, o aluno

necessita entender determinado conteúdo como algo de relevante importância para seu

desenvolvimento pessoal para que de fato haja o que chama-se de aprendizagem

autêntica. Outro ponto diz respeito a quando o assunto tocado faça alusão a algo que não

lhe soe positivo ou necessite de novas organizações pessoais, pois isso tende a ocasionar

uma resistência a aceitação de tais fatos e consequente aprendizado.

A família emite grande influência na vida escolar dos filhos. A aprendizagem,

por vezes não funciona por completo por não existir uma rede capaz de abarcar e trazer

a tona todos os possíveis caminhos de crescimento para os alunos, o que ocasiona uma

série de prejuízos neste desenvolvimento intelectual e consequentemente profissional

(MARTINS, 2016).

Em confirmação a este pensamento vemos em Comin (2010) que questões

ligadas a afeto e emoção surgem como influenciadores na aprendizagem real do aluno,

pois pensa-se que as omissões afetivas tendem a trazer forte peso quando da investidura

em outros mecanismos a serem alcançados pelo adolescente, isso de fontes externas

como a família, de forma que o adolescente não integra os saberes necessários devido a

uma resistência que por vezes nem ele mesmo se deu conta destas ocorrências. Isto

evidencia o valor entre educadores e alunos para que o processo de ensino seja

promissor e assim o adolescente tenha relevantes ganhos intelectuais.

Em se tratando deste professor, detentor de todo um conhecimento transpassado

durante sua vida acadêmica, este tem em suas mãos não apenas o poder de

desenvolvimento de habilidades, mas agora lhe é intitulado também o poder de

transformação, ou seja, de ser um indivíduo capaz de fornecer orientação e tornar-se

modelo perante seus alunos, no qual tais ações podem vir de maneira natural quando da

existência de uma relação saudável entre os indivíduos que dividem este mesmo espaço

escolar (COELHO, 2012 apud VASCONCELOS, 2015).

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Para que as relações entre professor e aluno sejam ditas como satisfatórias

vemos em Gomes (2010 apud Vasconcelos, 2015) que o profissional tem de se sentir e

ser de fato valorizado, isso tanto pela sociedade em si quanto pelos seus próprios alunos

que fazem uso de todo um conhecimento dispensado por este profissional em sala de

aula. Esta motivação ao ser sentida exteriormente repercute em como ele se doa em seu

trabalho possibilitando melhores caminhos e saberes construídos para estes adolescentes

e a ele profissionalmente.

Torna-se interessante enfatizar que segundo Matos e Viana (2012), há uma

prática que vem tomando espaço nos ambientes escolares, a saber, a violência contra

professores, sejam elas de forma verbal, física ou ainda psicológica. É válido pensar que

a ocorrência de tais ações pode recair sobre o nível de envolvimento e dedicação laboral

assim como prejudicar no fator interação com outros alunos da rede escolar.

Ainda conforme Matos e Viana (2012) as formas pelas quais as agressões mais

comuns se expressam no ambiente escolar se dão por circunstâncias cotidianas na

relação entre professores e alunos, como podem ser citadas situações relacionadas ao

cumprimento ou não de regras instituídas por este profissional. É possível ver que tais

comportamentos de desobediência são em sua maioria reflexos de outros ambientes

como a família.

Em referência a família, a esta não é exposta apenas o dever de

acompanhamento das práticas escolares dos filhos, mas também a emissão desde cedo

de valores morais assim como regras e limites isso a fim de que os professores, por

vezes alvos de agressões, tenham as condições mínimas de exercer suas funções

profissionais assim como tenha a possibilidade de relações saudáveis neste ambiente de

trabalho (MATOS E VIANA, 2012).

Para Haigh (2010 apud Vasconcelos, 2015) quando do acompanhamento escolar

e destes adolescentes por parte da família assim como de uma visão em conjunto entre

professor e aluno do quanto estes constituem papéis de relações em um mesmo contexto

e o quanto ambos se beneficiam destas relações é que se poderão alcançar estados

promissores para desenvolvimentos pessoais, cognitivos e sociais, tornando então de

fato o ambiente escolar como um espaço de vivência harmônica e positiva.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A referida prática possibilitou um maior contato e entendimento acerca das

possíveis atuações cabíveis ao profissional psicólogo ao passo que esta inserção no

ambiente escolar, pode ser vista também como um referencial das intrigantes realidades

sociais e o quanto de espaço de trabalho existe como responsabilidade de um

profissional comprometido com seu objeto de estudo, a saber, o indivíduo e seus

comportamentos nos mais diferentes ambientes.

Diante de tais realidades foi possível visualizar que os períodos de formação de vida

do indivíduo tende a dizer muito sobre suas formas de reação e comportamentos, assim

como o espaço no qual se está inserido tende a firmar-se como propiciador de uma

construção pautada no que lhes é colocado como alternativas. Pensar de tais formas abre

espaço para um olhar sobre o indivíduo em sua totalidade assim como amplia a visão

acerca destes e seus comportamentos, sejam eles individuais ou em sociedade.

Logo, torna-se válido quando das percepções das realidades sociais, intervenções

veiculadas ao interesse de promover crescimentos sustentáveis para determinadas

populações fazendo-se uso da psicologia enquanto ciência aplicando-se as demandas

emergentes das relações sociais.

5. REFERÊNCIAS

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