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43 vermelho Como as rosas, as pimentas e as paixões

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Lindenberg Magazine

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vermelhoComo as rosas, as pimentas e as paixões

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O vermelho do ponto de vista da arte, do cinema, do urbanismo, do romantismo

O vermelho foi a cor escolhida para ser o tema dessa edição de final de ano da revista Lindenberg. Por que o vermelho? Primária, de personalidade forte, é a cor da concha, símbolo da nossa construtora e incorporadora. Essa decisão foi pensada por seus muitos significados e interpretações, muitas vezes con-

traditórios. A graça do vermelho está, justamente, na possibilidade dos duplos significados.

O vermelho pode ser alegre como o nariz de um palhaço, romântico como um buquê de rosas, e como escreve Roberto Taddei, no texto Tela Rubra, quem não se lembra de Richard Gere subindo as escadas de incêndio do prédio de Julia Roberts, em Uma Linda Mulher? Nessa matéria, o jornalista trata dos múltiplos significados do vermelho imortalizado no cinema, falando desde sua presença no balão que persegue o menino pelas ruas da cida-de, no francês Ballon Rouge até as cores da guerra em Apocalypse Now ou Além da Linha Vermelha. O fotógrado J.R. Duran, um dos mais badalados fotógrafos de moda do País, empresta seu olhar apurado para o texto Domenica Rossa, onde percebe a força do verme-lho do chapéu da garota, na tela do holandês Vermeer e segue com lembranças juvenis de quando leu O Vermelho e o Negro, de Stendhal.

Se São Paulo é uma cidade cinza, afirmação combatida pelo nosso entrevistado, Valter Caldana, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie e por Rosilene Fontes, em Poéticas Urbanas, mostramos exemplos de cidades que usam generosamente as cores em suas casas e bairros, emprestando alegria para elas. Falamos da exótica Índia e da pungência da pimenta, ambas vermelhas por sua própria natureza.

Diana Vreeland, uma das maiores jornalistas de moda dos Estados Unidos, foi fotografada em um cenário vermelho, e cita a frase: “Não consigo me imaginar entediada com o verme-lho – é como cansar da pessoa amada”. Nós acreditamos nisso. Um ano-novo repleto de cor.

Adolpho Lindenberg Filho e Flávio Buazar

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06 Notas14 Bairro Santo Amaro Cresce e aparece

20 Entrevista Valter Caldana fala sobre São Paulo 24 Urbano A cor na arquitetura

30 Poéticas urbanas As cidades e suas cores

32 Ensaio Pura poesia

38 Filosofia A revolução dos sentidos

40 Um outro olhar A arte de Cildo Meirelles

46 Primeira pessoa O fotógrafo J.R. Duran em texto 48 Arte O vermelho imortalizado no cinema

56 Úteis Leve o vermelho para a mesa

62 Personna Com a cidade aos pés

68 Cozinha Pungente pimenta

70 Qualidade de vida Onde mora o amor?

72 Turismo Índia, misteriosa, exótica e colorida

78 Roteiro Andar é um luxo 82 Filantropia Três dicas para a doação de fim de ano

84 Sociedade Adote um quarto

86 Vendo um Lindenberg

88 Em obras

Nossa Capa

RosasAcervo stock.xchang

é uma publicação da Construtora Adolpho Lindenberg.

Ano 10, número 43, 2012

Conselho Editorial Adolpho Lindenberg Filho,

Flávio Buazar, Ricardo Jardim, Rosilene Fontes, Eliane Mendes

Marketing Eliane Mendes

Direção de arte Lili Tedde

Editora-chefe Maiá Mendonça

Colaboradores Adriana Brito, Camile Comandini,

Felipe Reis, Flavio Nogueira, Instituto Azzi, João Ávila, JR Duran, Judite Scholz, Juliana Saad, Maria Clara

Vergueiro, Maria Eugênia, Marianne Piemonte, Mauro Marcelo Alves, Patricia Favalle, Roberto Taddei,

Rosilene Fontes, Valentino Fialdini

Revisor Claudio Eduardo Nogueira Ramos

Arte Marcelo Pitel

Publicidade Cláudia Campos, tel. (11) 3041.2775cel. (11) 9910.4427

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Gráfica Pancrom

Lindenberg não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm

autorização para falar em nome de Lindenberg ou retirar

qualquer tipo de material para produção de editorial caso não

tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por pessoa

que conste do expediente.

LindenbergR. Joaquim Floriano, 466, Bloco C,

2º andar, São Paulo, SP, tel. 3041-5620 www.lindenberg.com.br

Jornalista ResponsávelMaiá Mendonça (Mtb 20.225)

A tiragem desta edição de 10.000 exemplares foi auditada por PwC.

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ErramosNa seção Notas da edição 42, o endereço de onde encontrar a cadeira Egg não foi publicado: ela está na Le Design, ledesign.com.brA matéria Barcelona Gulosa é de autoria de Mauro Marcelo Alves. Nossas desculpas ao jornalistaNa seção Úteis, Turma da Cozinha, as legendas estão trocadas. A do Bom Dia! é a do Chá das Cinco; a da Hora do Almoço é do Bom dia!; e a do Chá das Cinco é da Hora do Almoço. Que os leitores nos perdoem

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Champagne glacéO aroma lembra frutas brancas como o pêssego e a pera, o gosto é suave e ligeiramente doce. O copo parece ser de vinho tinto e no meio das borbulhas pedrinhas de gelo causam estranheza. Champagne com gelo? Sim, e é champagne mesmo, com g. Garantido pela tradicional Moët & Chandon. O Moët Ice Impérial foi lançado no ano passado na Côte d´Azur, fez um sucesso inesperado no último verão brasileiro, e a empresa avisa que aumentou o estoque para nossas praias e piscinas. Por Juliana Saad

Dupla em sintoniaEtel Carmona, conhecida pela qualidade do design e da manufatura de móveis de sua autoria, e por parcerias com nomes como Isay Weinfeld e Claudia Moreira Salles, acaba de lançar com o designer Carlos Motta a coleção Etel, de cadeiras e poltronas. “Desenvolvemos ao longo dos anos o mesmo tipo de trabalho, sempre preocupados com o design, com a qualidade e com o meio ambiente”, explica Etel. “Nós nunca fomos

concorrentes. Ao contrário. Mas confesso que fiquei enciumado de ver minha cadeira sendo produzida em outro lugar, mas estou feliz de ver as peças sendo feitas com o

mesmo respeito”, emenda Carlos Motta.  etelinteriores.com.br

Brinquedo de adultoUma boa ideia de presente? O jogo A Amante do Capitão, feito de madeira teca, com 42 esferas de pau-ferro e madeira castelo, espécies nativas de Cáceres, no

Mato Grosso e certificadas pelo FSC®. O objetivo do jogo é colocar quatro

esferas da mesma cor em linha. Reza a lenda que, quando embarcado, o capitão inglês James Cook passava horas jogando, daí o apelido cunhado pelos marinheiros.teakstore.com.br

Joia de bengala Erlanger é o nome das bengalas criadas pelos designers Fernando Mendes e Roberto Hirth, que receberam um toque especial do joalheiro Antonio Bernardo no apoio. Os modelos? Onda, uma capa de prata sulcada; e Farol, com uma pedra incrustada. Elegantíssimas.Tel. (11) 3083-5622

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Formas orgânicasMarcelo Ziliani criou uma

coleção de cadeiras e mesa em preto e branco para a italiana Casprini e que estão à venda,

com exclusividade, na A lot of. O design da mesa Atatlas foi

baseada na clássica Saarinen. alotof.com.br

Joias poéticasDesigner de joias das mais conceituadas, Miriam Mamber mostra cinco décadas de processo criativo no livro Miriam Mamber (editora BEÏ), lançado no começo de novembro. O livro traz textos da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, da historiadora Maria Cecília Loschiavo dos Santos, apresentação de Miriam Korolkovas e comentários do arquiteto Paulo Mendes da Rocha somados a belas imagens do trabalho da artista que se autodenomina uma arqueóloga do tempo.miriammamber.com.br

Design com pedigreeA Peça Única fez 25 anos, e para comemorar a designer Sandra Arruda reeditou o evento que

marcou a abertura da loja: a exposição 7 artistas + 7 cadeiras = a outra exposição. Artistas como Guto

Lacaz, Gilberto Salvador, Marco Mariutti, Carlos Matuck, André Balbi, Claudio Edinger foram

convidados para imprimir uma nova linguagem à cadeira Maestro. O resultado? Vale a pena conferir.

A Peça Única ficou famosa pela criatividade de seu design, apreciado especialmente por empresas.

A última boa nova é a cadeira Vitória, que foi escolhida para fazer parte da decoração de todos os

quartos do novo Copacabana Palace.pecaunica.com.br

Sob medidaA Blauss Maison abre suas portas com toda a tradição e bagagem da Loeb. E vai produzir peças únicas como toalhas de mesa, jogos americanos, guardanapos, desenhados e confeccionados no Brasil, seguindo técnicas da tecelagem francesa. As peças podem ser personalizados em estampas, bordados e monogramas em vários tamanhos. blaussmaison.com.br

Produzida com madeira laminada e revestida com veludo, a cadeira Hans Wegner tem desenho retrô

e é um curinga da decoração.ledesign.com.br

Vida na florestaA beleza e a importância da Mata Atlântica estão reveladas no livro A Arte do Olhar – Mata Atlântica (Metalivros). Uma combinação de fotos artísticas e documentais de Fabio Colombini, e o texto assinado pelo doutor em Ecologia e engenheiro agrônomo Evaristo Eduardo de Miranda, retratam a vida que pulsa na mata que se estende do Nordeste ao Sul do Brasil e precisa ser preservada. O final do livro traz uma surpresa: um texto do fotógrafo sobre seu modo de ver e fotografar a natureza.

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Cor de calorBuscando inspiração para criar seus tecidos, foi em uma das

viagens que a equipe de criação da Entreposto decidiu lançar a coleção Mediterrâneo. As cores da costa Amalfitana e o

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de tudo, e muitoPrestes a receber duas novas linhas do Metrô e um

empreendimento residencial assinado pela Lindenberg, Santo Amaro entra na lista dos bairros mais completos da cidade

Por Flavio Nogueira | Fotos FeliPe reis

Amaro

Santo Amaro é um bairro que mais se parece com uma cidade. Seus números, tamanhos e histórias são garbosos. Ao desbravar uma rua e outra é possível sentir sua biografia e progresso. Arborizado, o distrito

conta com arredores sofisticados, como o Alto da Boa Vista e a Chácara Santo Antônio – mix de bairro residencial e comercial que abriga sedes de grandes empresas e indústrias como Bayer, Basf, Philips, Pfizer e a Câmara Americana de Comércio. Além de parques como o Severo Gomes e o Clube Hípico. Isso sem falar no leque de entretenimento com as prin-cipais casas de shows de São Paulo, Credicard Hall, HSBC Brasil e o Tea-tro Alfa, com seu cardápio internacional de dança contemporânea.

Cerca de 20 quilômetros quadrados formam a comarca que tem as princi-pais artérias da cidade ao seu redor: Marginal Pinheiros, as avenidas Roque Petroni Junior, Vicente Ráo, Washington Luís, João Dias, Santo Amaro e a Vereador José Diniz. Não bastassem essas extensões e localização estratégica, o bairro ainda está apenas a 20 minutos do Aeroporto de Congonhas e prestes a receber duas importantes linhas de Metrô: a Lilás, que ligará Santo Amaro à Chácara Klabin, e a Ouro, que acoplará o local ao Estádio do Morumbi e ao Aeroporto.

O monumento erguido pelo artista plástico Julio Guerra,

em 1963, o bandeirante Borba Gato tem 10 metros

de altura, é feito com pedras brasileiras e vigia o bairro

Santo

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Habitada em meados de 1560, quando era conhecida por Aldeia de Jeribatiba, José de Anchieta em uma de suas visitas ao povoado percebeu que, devido à quantidade de índios catequizados e colonos instalados, era possível formar ali uma vila. No entanto, a cons-trução de uma capela era necessária. Sabia-se que lá morava um casal de portugueses – João Paes e sua esposa Suzana Rodrigues, possuidores da imagem de um santo de sua devoção, no caso Santo Amaro. Ao saber da proposta de Anchieta sobre a criação de um povoado, o casal doou a imagem que até hoje, 450 anos depois, está preservada na Igreja da Matriz, no popular Largo 13.

Com uma velocidade extraordinária, o lugar foi crescendo e começou a ser ocupado pelos comércios populares e por imigrantes euro-peus, principalmente alemães e portugueses. Já no final do século 19, o bairro teve seu primeiro jornal e deu início à construção da

O verde do Parque Severo Gomese painéis que são parte do

monumento Borba Gato

Na página ao lado, como uma cidade do interior, a Praça Floriano

Peixoto tem até coreto; o point das compras é no

Shopping Boa Vista; a história do bairro pode ser conhecida na

Casa de Cultura e a entrada da seleta hípica de Santo Amaro

linha férrea, que acarretou outras edificações, entre elas as primei-ras escolas e hospitais, seguidas de um plano de revitalização que acompanhasse todo esse desenvolvimento, que, diga-se de passa-gem, não pararam até os dias atuais. A pedagoga aposentada Cleide Alves, 70 anos, vive no bairro desde 1970, ela viu de perto as evolu-ções locais. “Quando cheguei aqui a Marginal só tinha uma pista. Ônibus só passava um, ainda havia resquício de mata”, conta.

Com boas recordações, dona Cleide diz que ama cada centímetro da Chácara Santo Antônio, afinal, foi lá que teve seus filhos e viu seus netos crescerem e até trabalharem. “Eu desfruto disso aqui como ninguém, gosto de caminhar pelo bairro, ir ao mercado, almoçar, tro-car meus livros no sebo e observar o vaivém de pessoas. Sabia que eu vi o primeiro supermercado chegar aqui?”, e completa, “e se Deus qui-ser vou ver a primeira linha do metrô passar na Avenida Santo Amaro”.

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Perspectivas do Brasiliano, Da esquerda para a direita, living da unidade de 63 metros quadrados; terraço da unidade de 51 metros quadrados; piscina com raia de 25 metros e solarium e salão de festas

A localização é pra lá de privilegiada, a edificação estará a poucos minutos de duas estações do Metrô, mercado 24 horas e dezenas de agências bancárias. À esquerda, a Avenida Chucri Zaidan – pro-longamento da Avenida Berrini e o mais novo centro financeiro e de negócios da cidade. Abaixo, a praticidade de contar com dois dos melhores shoppings do Brasil e tudo o que eles oferecem em ter-mos de riqueza, consumo, gastronomia e lazer. À direita, a Avenida Santo Amaro e a facilidade de uma gama extensa de transportes, juntamente com uma futura estação de metrô a poucos metros do apartamento. E, complementando de forma única, a Avenida Roberto Marinho, que acessa toda a cidade com rapidez e que hoje é referencial de localização através da Ponte Estaiada.

A poucos passos dali fica o melhor do entretenimento da cidade, a Chácara Santo Antônio, Brooklin e seus arredores têm um menu repleto de atrações. As melhores casas de shows da città estão ali: o Credicard Hall e o HSBC Brasil, com sua programação semanal de espetáculos nacionais e internacionais. Para os gourmands de plantão restaurantes que agradam aos paladares de gregos e troia-nos estão espalhados por suas ruas. Das melhores churrascarias do pedaço, a Fogo de Chão também tem uma de suas filiais por lá. Gosta de comida vegetariana? O Moinho de Pedra, da chef Tatiana Cardoso, é a melhor pedida. Charmoso, o restô oferece uma carta de pratos de dar água na boca.

Quem curte o bairro como ninguém é o diretor de estilo do Grupo Via Veneto, Bruno Minelli, que mora e trabalha nas adjacências. “O mais bacana daqui é ter tudo à mão, adoro ir ao Hortifruti comer os sushis que eles preparam, fazer compras no Morumbi Shopping e dar aquela corrida no Severo Gomes”, revela.

Mas não é só, para os que não gostam de perder tempo em aperfei-çoar os conhecimentos o bairro oferece faculdades, universidades e diversas escolas de idiomas – do espanhol ao sueco. Academias também não faltam, com pacotes e planos para quem só pode se exercitar na hora do almoço. Já os que não esculpem o shape em lugares fechados, o Parque Severo Gomes está lá com seus 34 mil metros quadrados de área verde, bosque de amoreiras, trilha, can-teiros de rosas e ainda uma pista de cooper. É ou não é um lugar agradável para viver e chamar de seu?

Perspectiva da elegante torre e a sala de massagem e descanso

BrasilianoAssim como em toda São Paulo, as transformações por lá não param. Preocupada em oferecer a melhor maneira de morar, sincronizando estilo, design e sofisticação no centro da melhor infraestrutura, a Lindenberg e Lindencorp com parceria com a Eztec prepararam o Brasiliano. Um edifício residencial – torre única – com layout contemporâneo, acabamento em altíssimo padrão e apartamentos de 36 a 65 metros quadrados. Na composição das plantas, cinco opções de espaços estão disponíveis.

A arquitetura, a decoração e o paisagismo, este último assinado por Benedito Abbud, farão toda a diferença. Na construção, por exemplo, a área de iluminação e de ventilação natural é 20% maior do que os projetos convencionais, o que gera economia de energia. A edificação contará com bacias sanitárias dual-flush, um sistema que proporciona significativa moderação de água. Sem contar a redução de carga térmica que propicia a contenção de energia na utilização de ar condicionado que será implantada.

Com o padrão Lindenberg, o Brasiliano colocará ainda à disposi-ção dos moradores o Pay Per Use – rede de serviços que oferece: limpeza diária dos apartamentos com uma equipe especializada, academia com personal, entrega e retirada de roupa para lavan-deria, manutenção para resolver as eventualidades do dia a dia, entre outros. E o melhor, todas essas facilidades podem ser agen-dadas através da internet.

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Qual é a importância da cor para uma cidade? Se a pergunta fosse feita para Wassily Kandinsky, o renomado artista e professor da breve e revo-

lucionária escola de arquitetura Bauhaus (1919-1933), ele provavelmente diria que há muita. É dele a teoria que relaciona formas a cores e sentidos.

Em seus estudos, o artista russo afirmava que lugares em que há predominância de amarelo e laranja são mais solares, com pessoas mais falantes e extrovertidas. Nos que há mais uso de cores frias, como azuis e cinzas, a tendência é de maior sobriedade. Há também muitos estudos na psicologia que falam da influência das cores no humor e estado de espírito das pessoas. Mas quando o assunto são as cidades, as cores e o urbanismo, esse tema fica ainda mais fascinante.

De maneira simplista é fácil observar maior incidência de amarelo nas cidades do mediterrâneo, mais vermelho nas asiáticas (cor que no Oriente é sinônimo de prospe-ridade), no entanto como explicar os melhores índices de qualidade de vida do mundo serem os dos países nórdi-cos? Lugares que passam boa parte do ano no escuro e cobertos por uma espessa e branca camada de neve.

Para o diretor da faculdade de arquitetura e urbanismo do Mackenzie, Valter Caldana, a resposta é simples. “Essas

cidades não têm a exuberância natural de Salvador ou Rio de Janeiro, que são extremamente coloridas, mas elas usam perfeitamente seus espaços públicos”, diz. Para ele, os pequenos comércios, por exemplo, ajudam a oxigenar as cidades e assim deixá-las mais coloridas. “Lugares onde as pessoas se deslocam caminhando, há floreiras nas bancas de jornal, mesinhas nas ruas onde se pode ler o jornal antes de entrar no trabalho, tudo isso contribui para deixá-las mais coloridas”, explica.

Autor do livro Projetos Urbanos em São Paulo: Oportunidades, Experiências e Instrumentos (editora Livre Expressão, 267 páginas), Caldana também con-tradiz a máxima sobre São Paulo. “O cinza da cidade é de sobriedade e não de melancolia, são coisas muito diferentes”, diz. Para ele, a única maneira de mudar essa percepção negativa da cidade é incentivar o uso dos espaços públicos. “Nós temos que usar os espaços públi-cos. Caminhar, fazer compras nos pequenos comércios, frequentar bancas de jornal, assim a cidade ficará mais povoada, menos perigosa e consequentemente mais colorida”, ensina.

Outra medida que para Caldana é fundamental é a plan-tação de milhares de árvores na cidade. “Cerca de uma a cada 30 metros seria o suficiente para salvar São Paulo dessa aridez e cinza-chumbo.”

Para o diretor de arquitetura da faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, Valter Caldana, apenas a valorização dos espaços públicos e a arborização podem trazer mais cor a São Paulo Por Marianne PieMonte

“São Paulo tem o cinza da sobriedade e não da melancolia”

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Vista do Centro antigo de São Paulo

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A seguir, trechos da conversa da Lindenberg com o diretor da FAU do Mackenzie.

Qual é a importância da cor para uma cidade?A cor é uma das características que determinam a “perso-nalidade” e a vocação de um lugar. O desenho e a forma da cidade são os reflexos culturais de seu povo. Desde a pri-meira cidade do mundo, o que é Bagdá hoje, foi desenhada de acordo com a maneira de viver de seus habitantes. Elas (as cidades) são o reflexo de como uma sociedade vive em determinado momento e a cor faz parte dessa história.

Nas cidades italianas, por exemplo, na costa Amalfitana, você terá lugarejos de determinada cor em função de uma cultura, do sol, da atividade da pesca, por exemplo. Elas também são mais ensolaradas, têm as janelas maiores, talvez por isso as pessoas falem mais alto (brincadeira). As pessoas são mais expansivas. Isso se repete em todo o mundo. No Rio de Janeiro há muita influência do verde da floresta urbana, da luminosidade do sol na maneira de viver. Em Salvador, onde há toda uma herança de Portugal e da África, há o colorido do Pelourinho, a sobriedade das igrejas, a exuberância da natureza. Tudo isso, tem sua con-tribuição no desenho e na cor da cidade.

e para São Paulo?São Paulo é tida como uma cidade cinza, mas não é ver-dade. Aqui, nós usamos mais cores sóbrias. Tome como exemplo a porcentagem de carros pretos, brancos ou cin-zas nas ruas. O gosto do paulistano pela cor é sóbrio. Quando escolhe um azul, é um marinho, menos lumi-noso. Bem diferente de Salvador, que tem influência direta de Portugal e da África. Mas o nosso cinza é sóbrio, não melancólico, o que é muito diferente.

Também diferente de outras partes do mundo, e muito semelhante a Nova York, São Paulo é o grande ponto de

encontro de culturas. Se antigamente isso era sinônimo de disparidade, hoje indiscutivelmente vivemos o resul-tado dessa mistura. Uma mistura que tem, sim, uma cor própria. No entanto, ainda temos por aqui bairros que são polos de algumas cores. Como o vermelho da Liberdade, com suas lanternas e colônias orientais. Os tons amare-lados da Mooca. Inclusive a Zona Leste tem uma carac-terística bem interessante. As pessoas dizem que por lá não há cor, mas não é verdade. É naqueles bairros (como Brás, Belém, Carrão) que encontramos sobrados cor-de--rosa, azul clarinho, verde bem bandeira. O que é declara-damente influência da italianada e solares espanhóis que por lá fizeram sua história.

e a falta de verde de São Paulo? isso não contribui para essa sensação de cinza melancólico? Sem dúvida. São Paulo precisa de três medidas para ficar mais colorida. A primeira foi a lei Cidade Limpa, a segunda é enterrar a fiação e a terceira é plantar muitas árvores. Essas deveriam ser prioridades urbanísticas.

Não tenho uma conta exata de quantas árvores seriam necessárias, mas são milhares. Essa São Paulo viária tem de acabar, aqui nós cortávamos árvore porque elas tocavam nos fios. Acabaram com a Praça da Paineira, no Butantã, porque atrapalhava a visibilidade do trânsito. Isso, sim, deixa a cidade cinza e melancólica. A solução seria uma árvore a cada 30 metros. O que é perfeita-mente possível.

existe um projeto que prevê a restauração e o tom-bamento de algumas casinhas na Vila Madalena. elas ficariam coloridas, como uma espécie de Pelourinho. o senhor acredita que esse tipo de projeto favoreça o desenho da cidade? Sem dúvida. Só a preservação pode garantir a identi-dade a uma cidade. São Paulo tem alguns bairros como

Pinheiros, Vila Madalena e Aclimação que foram em parte construídos por pequenos empreendedores, como médicos e engenheiros.

Eles levantavam conjuntos de sobradinhos para aluguel. Hoje, muitos desses blocos estão sendo recuperados, mas sempre há um estraga prazeres que faz uma reforma supermoderna. São Paulo deveria fazer um movimento de recuperação da fachada desses sobrados. Teríamos uma cidade muito mais colorida.

o que mais poderia ser feito para trazer cor para a cidade?Cuidar dos espaços públicos! Nos colocaram como uma cidade “rodoviarista” desde 70, perdemos o hábito de nos apropriar dos espaços públicos. As brigas que estão acontecendo na Praça Roosevelt hoje são muito positivas. Todos querem aquele espaço, os skatistas, as babás com bebês, os esportistas. Isso é um sinal de que precisamos de mais espaços como aquele.

Não estou falando apenas de praças, mas também de cal-çadas, de bancas de jornal, de uma rua tridimensional, um lugar para também se estar não apenas passar.

Com a recuperação dos espaços públicos aconteceria a volta do comércio local, o que é fundamental para oxige-nar a cidade. Ao acabar com o comércio de bairro a cidade fica mais violenta. Foi o que aconteceu com São Paulo nos últimos anos, mas tem solução.

Cidades mais coloridas são felizes?Não sei dizer. Os maiores índices de qualidade de vida

são os das cidades nórdicas, que passam boa parte do tempo no branco da neve e no escuro. Mas as ruas coloridas de Copenhague são sinônimos da valorização do espaço público.

O Rio, apesar das crises econômicas e da violência, nunca desguarneceu os espaços públicos, é uma cidade muito mais cidadã. O grande encanto de Paris, Londres, Roma são os espaços públicos. As pessoas ocupam as calçadas. Acho que nosso cinza tem tudo para ser feliz, desde que as pessoas vivam a cidade.

Eu, por exemplo, descobri que é muito mais legal fazer minhas compras de Natal na Rua Teodoro Sampaio do que no shopping, me divirto muito mais. Assim, vivencio a cidade, essa experiência significa tomar o espaço público e é isso que gera cor.

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O Brás visto da estação do Metrô

O arco-íris corta o céu da cidade sobre a Avenida 23 de Maio

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Na contramão do chavão “pintaram tudo de cinza”, as cidades se curvam cada vez mais ao magnetismo e à estética vibrante das colorações Por Patrícia FavaLLe

Por ali a história passou feito furacão. Fundada por Tomé de Sousa, em 1549, Salvador, a capital sote-ropolitana elegeu o terreno íngreme do Pelourinho

como espécie de fortaleza para proteger os entornos. Ao longo dos séculos, os nobres e os endinheirados produto-res de cacau transformaram a ladeira com a construção dos casarões coloniais de pigmentos intensos.

A constante decadência econômica – acentuada a partir dos anos de 1960 – fez o lugar mergulhar na escuridão. E foi só com o reconhecimento da Organização das Nações Unidas, duas décadas mais tarde, que esse ble-caute chegou ao fim. O conjunto arquitetônico foi final-mente restaurado e as gradações, que faziam a diversão do endereço, voltaram a tingir as fachadas.

Numa outra narrativa, os morros cariocas também ganharam a atenção das iniciativas pública e privada. Na Rocinha, por exemplo, o complexo esportivo assinado por Oscar Niemeyer, com jeitão de apoteose do samba, interliga a fervilhante autopista cercada por habitações de nuances únicas. Ação semelhante, coordenada pelo projeto Favela Painting, dos holandeses Jeroen Koolhaas e Dre Urhahn, reconfigurou 34 dos casebres de Santa Marta. “Bairros assim encantam pela energia. Admito que áreas onde a cor é tratada de jeito arrojado têm impulso positivo na psique. Porém, é preciso ter cautela, pois os extremos costumam ser cansativos”, diz o designer de interiores Fabrizio Rollo.

Há pouco mais de 400 quilômetros da orla fluminense está São Paulo – a antítese da tropicália, a menina feia, de traços corpulentos e quase nenhuma tinta. Mas engana-se quem pensa que a meca cultural da América do Sul guarda rancor por tais predicados. A megalópole tratou de se reinventar, e no molde de outra “Cosmópolis”, caso da ultracinza Londres, cedeu paredes, vilas e pontilhões para os grafites. E basta um pedacinho de bege burocrático à vista para o spray inverter o reflexo de Narciso.

Point dos moderninhos, a Vila Madalena é um dos arquétipos mais notáveis nesse quesito. A começar pelo Beco do Batman (Rua Gonçalo Afonso) – uma ruela curvilínea e recheada pela intensidade do vermelho, do amarelo, do roxo e das onomatopeias. No caminho que separa as Avenidas Rebouças e Paulista, Rui Amaral deu a sua contribuição contagiante aos transeuntes. Esticando até as fronteiras da Avenida 23 de Maio, dá para apreciar os desenhos superdimensionados da dupla osgemeos, de Nina Pandolfo e de Nunca.

Fazendo a linha Basquiat, o jovem JGor, que tem traba-lhos expostos na Rua da Consolação, brinca com a letra A e com a proporcionalidade dos riscados primários. Já a ótica fascinante de Titi Freak dá as boas-vindas a quem desembarca na Liberdade, enquanto os Budas irônicos de Xguix flutuam matreiramente por essas bandas.

Muros de gentileza

a alegria das cores se espalha pelos bairros: nas casas-contêineres do bairro caminito, em Buenos aires; em um pequeno detalhe na cidade de Guanajuato, no México; como foi um dia o Pelourinho, em Salvador; e no grafite de osgemeos em um dos túneis de São Paulo

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“A coloração na arquitetura da cidade tem o poder de marcar lugares, criar referências

e dar nova vida quando usada em pontos estratégicos e críticos. Quem não se

surpreende ao se deparar com um grafite de osgemeos em meio à selva de concreto de

São Paulo?”, questiona Fernando Consoni

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Embalos de Gardel“Acredito que o poder da cor seja igual ao de uma boa obra. É como criar uma comunicação com o usuário, o que torna possível identificar áreas que normalmente ignoramos. Um prédio com relevância arquitetônica con-segue o mesmo efeito. Entretanto, é interessante lembrar que a maioria dos domicílios apenas cumpre com a tarefa de oferecer um ‘teto’, sem que haja diálogo com o exterior”, ilustra o arquiteto Guilherme Torres.

Foi com premissa análoga que, em Buenos Aires, na Argentina, ao som dramático do bandonéon, os passos cadenciados dos bailarinos de tango encontraram o cená-rio perfeito: as casas-contêineres arranjadas umas sobre as outras, com suas janelinhas e portinholas abertas como se fossem latas de sardinhas. Eis o Caminito, imortalizado nas partituras de Juan de Dios Filiberto e elevado à condição de museu ao ar livre pelas mãos do pintor Benito Quinquela Martín, que sintetizou a ideia da seguinte maneira: “Um belo dia me ocorreu de converter esse pardieiro numa via alegre, então uni forças e consegui que todas as estruturas de madeira e de zinco fossem pintadas (...).”

La Boca jamais foi o mesmo. Ali nascia não apenas o estilo de vida típico do boêmio portenho com raízes genovesas, mas, também, a moradia popular batizada de conventillo boquense, que se valeu das chapas de metal onduladas, erguidas sobre pilares e destacadas por matizes acesos.

No extremo oposto do eixo sul-americano, aos pés dos Andes e banhado pelas águas do Pacífico, a charmosa

Valparaíso mostra que soube ajustar o conceito dos novos empreendimentos sem abrir mão dos enredos saturados que costuram seus horizontes.

As antigas edificações tramadas com as sobras abandona-das na zona portuária ainda resistem bravamente à enge-nharia contemporânea. E para por aí. A vocação avant-garde dessa parte do Chile é traduzida pelas incorporações nome-adas de Yungay, crias de Antonio Menéndez e Cristian Barrientos, sócios da Rearquitectura.

De olho nos lofts bolados por Le Corbusier, o duo afinou a planta para arrebatar a turma plugada e baladeira: elen-cando as referências de hoje às tradições e, claro, às nuan-ças que vão do verde-escuro ao amarelo-cítrico. “A cor tem relação com luz e clima. Paris não seria tão refinada sem o cinza, o areia ou o blanc cassé. Não teria o mesmo brilho sem o ouro puro das esculturas monumentais. Tudo isso sob um céu azul docemente acinzentado batizado no século 18 por pintores da realeza de ‘azul Paris’”, endossa Rollo.

Ode elementarA colorimetria pegou mesmo carona na latinidade – e prova disso pode ser vista nos arredores de San Juan, em Porto Rico, onde o cartão-postal cintila com os múltiplos do ciano e do magenta. Subindo rumo ao México, os entretons brincam com os sentidos. É em Guanajuato, nas proximidades de Jalisco, que a

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em direção ao México, em Guanajuato, nas proximidades de Jalisco,

começam a surgir as cores que serão encontradas na capital

Na página ao lado, as cores de uma das fachadas do bairro caminito em

Buenos aires, e a Yungay, construções da rearquitectura, do chile

“De acordo com a cromosofia, cada cor tem o poder de transmitir uma sensação. E isso pode ser empiricamente comprovado com o simples exercício do olhar. Admira-me aquelas cidades que não temem usar as cores na arquitetura. Os ambientes urbanos tornam-se mais interessantes”, explica o arquiteto Fernando Consoni

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extração da prata e do cobre impulsiona o modismo de enfeitar as frentes das residências. O frenesi pelos galões é tanto que a paleta se renova a cada temporada.

Cuba viveu sua época dourada no burburinho dos cassinos, quando a opulência fazia do roteiro um resort do capita-lismo ianque. Veio a revolução rubra e Castro despiu as car-caças dos arremates luxuosos para exibir o movimento do “neocimento bruto”. Na contramão da Ilha, Miami recebe seus visitantes em meio a um verdadeiro caleidoscópio de contornos exclusivos.

Exposta no principal aeroporto da região, a instala-ção Harmonic Convergence, do designer Christopher Janney, concebida com losangos de vidro entrelaçados e alto-falantes montados em intervalos, promete dar uma amostra do que vem a seguir. Adorado por brasileiros e outros tantos consumistas de plantão, o destino res-guarda uma coletânea de predinhos art déco. À luz do dia, o efeito apastelado suaviza o panorama, ao anoite-cer, é o kitsch do néon que reina absoluto.

A próxima parada desbrava a veia crioula de Nova Orleans. Reduto do blues e do jazz, das encruzilhadas, do mardi gras

e do avivado french quarter, que exala magia. Bossa pare-cida vem da Cidade do Cabo, na África do Sul, onde o chamativo Bo-Kaap rende os turistas com seus fascinantes imóveis de cambiantes consistentes.

Na direção do Oriente, a Índia deu aos colonizadores bem mais que o açafrão e a cúrcuma. A ciência sobre as especiarias e as tinturas foi o que cativou os navegan-tes, embora a joia dos marajás tenha permanecido incó-lume à cobiça – Jodhpur, no estado do Rajastão, tem 553 anos e um azulado tenro que continua a recobrir cada bocadinho de chão desde que os primeiros brâmanes se valeram do recurso para destacar seus lares. “É deslum-brante o índigo que percorre o local”, pontua Torres.

Teoria escalonadaSe o objetivo era deixar de ser mais um na multidão, a casta sacerdotal indiana não só conseguiu como angariou admiradores pelo mapa-múndi. Na italianíssima Cinque Terre, debruçada sobre a Riviera Ligure e que compre-ende as comunas de Monterosso, Vernazza, Riomaggiore, além dos distritos de Corniglia e Manarola, a geografia montanhosa e as pinceladas carregadas de guache deram ao patrimônio da Unesco ares inspiradores.

Na ponta de cima da “bota”, nas cercanias da Ligúria, a diminuta Portofino nem sequer soma 600 inquilinos, detalhe que não a impede de desfrutar do predicado de city color; atributo, esse, que se estica até Wroclaw, na Polônia, cujo delineado prusso-germano trocou a sisudez pela leveza das tonalidades.

Ao contrário dos graus a mais que regem as rotas das cores, a capital islandesa Reykjavik – no vértice mais setentrional do globo –, apelidada de “baía fumegante” por conta de seus incontáveis gêiseres, esbanja verões sem noites e invernos com dias que duram quatro horas. Fato que acarretou numa arti-manha muito copiada por outros povoados de clima gélido: a adoção dos telhados avermelhados e das portas de vernizes irradiantes.

Até aqui, a equação é simples; faça sol ou faça chuva, sob neblina, fog ou smog, não há ânimo que resista diante do alaranjado pulsante, do violeta pudico, do carmim cáustico e do anil plácido. A composição pode ser a que mais lhe convier, porém o impacto visual desse delicioso jogo quase sempre termina em acertos. É só tentar.

a força das cores do bairro de Bo-Kaap, na cidade do cabo, na África do Sul, encanta os turistas. Na foto abaixo, Nova orleans, a cidade mais colorida dos estados Unidos

“A cor é um item na arquitetura de âmbito pessoal e tem o poder de revelar a personalidade de cada um. O uso dela deve estar associado a um partido bem definido. Evidente que um esboço incolor corre o risco de ficar monótono, mas cabe ao profissional harmonizá-lo de acordo com os anseios de seu cliente”, avisa Fernando Consoni

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Essa frase foi dita pelo mercador Marco Polo para o imperador Kublai Khan no livro As Cidades Invisíveis, do escritor Ítalo Calvino. O livro é belíssimo e as cidades descritas são de uma riqueza tal que nos dá vontade de conhecê-las, de tão mágicas e surreais.

Lendo a frase pensei em São Paulo, a cidade que me aco-lheu e deu meu pão de cada dia. A São Paulo descrita como a cidade cinza. E repensei o discurso quando ela me pareceu mais colorida do que muitas outras cidades.

Pensei nas cidades conhecidas por suas cores únicas. Cidades que poderiam passar despercebidas, não fossem suas cores. São elas que abrem as portas para o mundo e lhes conferem uma aura de magia. Atraídos por elas, os viajantes descobrem suas ruas, arquiteturas e povos.

Izamal, no México é uma antiga cidade de ruas estreitas e tranquilas conhecida como a “cidade amarela”, já que quase todas as suas casas são pintadas de amarelo mos-tarda. Passeando por ela, virando uma esquina, desco-brem-se tesouros arquitetônicos e pirâmides maias.

Jaipur, na Índia, é a “cidade rosa”. Casas, templos e mercados são construídos de arenito rosa, daí o nome. Entrar nessa cidade parece um sonho delirante onde o rosa das construções se mescla com elefantes,

“Você sabe melhor do que ninguém, sábio Kublai, que jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve. Contudo, existe uma ligação entre eles.” Por rosiLene Fontes | iLustração Maria eugÊnia

camelos, e nos fazem sentir parte de um quadro de Salvador Dalí.

Em Chefchaoen, no Marrocos, o azul das casas relem-bra a história de judeus refugiados durante a reconquista espanhola. Foram eles que as pintaram para marcar nas paredes a sua história.

Na Espanha, principalmente na Andaluzia, há 1.500 cidades brancas, muitas delas situadas em lugares remo-tos. Elas são brancas para que os seus interiores estejam sempre frescos por causa do sol. Brancas como um papel em branco pronto para ter uma nova história escrita.

Bizarrices também acontecem, como em Jùzcar, em Málaga, também na Espanha. Na primavera de 2011, para celebrar a estreia do filme dos Smurfs, a cidade foi pintada de azul, a cor dos personagens, pela Sony Pictures. Os habitantes resolveram manter a cor que virou atrativo turístico.

Voltando a Marco Polo, ele fala da imaginária Zora, uma cidade com a capacidade de permanecer na memória, apesar de não ter particular beleza ou raridade. O segredo estaria no modo pelo qual o olhar percorre a cidade e em que pontos estabelece uma relação de afinidade. Daí serem os homens mais sábios os que conhecem Zora.

Zora para mim poderia ser São Paulo, que, apesar de não demonstrar particular beleza ou raridade, me evoca cores por sua multicultura, cores essas reveladas nos grafites, nos sotaques, e em pontinhos coloridos salpicados nessa imensidão espacial. Mas Zora teve um triste fim. Por ter de permanecer imutável para melhor memorização, defi-nhou e foi esquecida. Fim que não desejo para São Paulo. São Paulo poderia ser também a Olivia de Marco Polo, cidade rica em mercadorias e lucros. Prosperidade repre-sentada por seus palácios, sedas e pavões.

Afirmar que consigo ver São Paulo colorida, enxergar os ipês floridos, amarelos e rosas, ver os salpicados verdes dos parques e árvores, perceber um pontinho azul no céu depois de uma chuva de verão, não é mentira. Dizer que São Paulo é cinza, também não.

E Marco Polo, como um sábio, diria: “A mentira não está no discurso, mas nas coisas”.

É para as coisas das cidades que temos de olhar, para não perdê-las e sim torná-las melhores, e assim dar um sentido à vida e à própria cidade.

as cidades e suas cores

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Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos,

sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores,

e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz CeCíLia MeireLes

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Nem palavras duras, nem olhares severos devem afugentar quem ama; as rosas têm espinhos e, no entanto, colhem-seshakespeare

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Segue o teu destino... Rega as tuas plantas; Ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheiasFernando pessoa

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por Maria CLara Vergueiro | iLustração Maria eugênia

Vermelho, a revolução dos sentidos

Quando é para parar, vermelho. Quando se deve avançar, vermelho também. Se o mundo quer expressar paixão, lá está o carmim

vibrando novamente. Para definir territórios, anunciar batalhas, fazer oposição, vermelho outra vez. O poder psicológico da cor vermelha, seja nos lábios das divas de Hollywood, seja nas bandeiras de nações como China, Japão e Rússia, é o poder das coisas explícitas, ditas de forma direta, sem rodeios, sem eufemismos, para marcar. Cor primária, o vermelho nunca sim-plesmente insinua uma mensagem: ele convoca. É cor proibida quando se quer pureza e recato, quando se busca discrição ou silêncio. O vermelho é baru-lhento, violento, punk, nervoso, excitante, inspira fome e excesso. Não é à toa que seja o tom de marcas feitas para dominar multidões, como McDonald’s ou Coca-Cola. Antes dos publicitários norte-americanos dominarem a arte da semiótica, Hitler, um dos pais da cultura de massa, já sabia como manipular segui-dores com propagandas do seu pensamento pavoroso tingidas de vermelho e preto. E deu no que deu, embora não se possa culpar o vermelho, coitado, pelos estragos do nazismo. Até porque, ele – o vermelho – também é expressão de vida. Veja, por exemplo, o sig-nificado dele nas culturas mais tradicionais e antigas: fertilidade, gratidão, vitória, vitalidade. Para os filhos das culturas africanas, incluindo os herdeiros do can-domblé, não se pode jamais vestir um morto com tons de vermelho, para evitar que o espírito fique peram-bulando no mundo dos vivos. Já entre diversas etnias indígenas brasileiras, as pinturas corporais feitas a par-tir da semente de urucum servem para celebrar con-quistas de guerreiros, em agradecimento a colheitas e pescas fartas ou para exaltar a saúde.

Na casa de minha avó, entre diversos quadros na parede, estava uma xilogravura de Oswaldo Goeldi, chamada Chuva, que retrata uma cena cheia de som-

bras, com um homem de costas, caminhando pela rua, segurando um guarda-chuva aberto. Justamente o guarda-chuva, inanimado por natureza, é o interlocutor do quadro, simplesmente porque é vermelho. Eu, pequena, ficava absolutamente intrigada por aquele desenho específico, aquela cor me chamando, que-rendo me dizer alguma coisa. Hoje acho que Goeldi queria me dizer: vermelho não é detalhe, não é coadju-vante, não pode ser subestimado. O Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, tem-se firmado como um dos maiores centros de arte do Brasil. Entre as obras expostas ali está abrigada uma instalação do artista pernambucano multimídia e multidisciplinar Tunga, na qual ele abusa do vermelho para dizer tudo. A “instauração”, como Tunga prefere chamar é inteira-mente vermelha e foi batizada de True Rouge, em refe-rência ao poema do britânico Simon Lane, de mesmo nome. Nele, Simon bebe a intensidade dos versos de Luiz de Camões para falar de amor, dor, paixão e pra-zer. Na obra de Tunga, o vermelho cai de recipientes em forma de líquido, colore as redes transpassadas, liga as estruturas interdependentes suspensas no ar e define o espaço como momento de contemplação dos sentimentos extremos.

Em quietas salas reservadas para ampliação dos nega-tivos fotográficos, os artistas revelam, com segurança, suas imagens. A luz vermelha é que permite a con-dição de calor e luz necessária para que aquilo que foi armazenado na câmera analógica possa vir à tona para o mundo real. Nas veias, o sangue corre quente e distribui sua riqueza para o complexo funcionamento do corpo. O vinho, bebida milenar e divina, enche a boca dos cristãos e dos céticos, por motivos diferen-tes, mas igualmente vermelhos, cheios de significado. A cor da transformação é sublime. E está nas artes, na política e no corpo para ser vista e lembrada, para jamais passar incólume.

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Experimente-se como Cildo Meireles, que despiu a arte do fausto e da majestade

para saber do que ela é feita Por AdriAnA Brito

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As ondas do magenta levam 0,02 segundos para serem percebidas pela retina. Não é à toa que a instalação de Cildo Meireles, Desvio para o Vermelho (1967-84), arrebatou rapidamente o público que se pôs a observar os detalhes dos

móveis e das coleções que compunham o primeiro trecho da obra, intitulado Impreg-nação. Contudo, a relação do artista com o rubro vai muito além; está na leitura feita sobre a tonalidade: “Eleva a pressão arterial, acelera as batidas cardíacas e, em alguns casos, provoca a inquietação e a agressividade”, tal como escreveu a professora e psi-cóloga Irene T. Tiski-Franckowiak, no livro Homem, Comunicação e Cor.

Essa teoria confirma porque não causou lá muito espanto quando Meireles rebelou-se contra os militares que governavam o País. Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto Cédula entrou em circulação trazendo notas de Cr$ 1 carimbadas com os dizeres “Quem Matou Herzog?”, referindo-se ao jornalista Vladimir Herzog, assassinado no ano de 1975, em decorrência de maus-tratos sofridos nas dependências do DOI-CODI. E os fardados não foram os únicos alvos dessa metralhadora polimidiática. A série Inserções, lançada no início daquela década, colocou o imperialismo norte-americano no centro da fogueira ao estampar nas garrafas de Coca-Cola a receita para montar coquetéis Molotov e marcar dólares com a frase “YANKEES GO HOME!”.

na página anterior, Desvio para o vermelho,

1967-84, técnica mista, 1ª parte: impregnação, instalação

em inhotim, Belo Horizonte

Abaixo, Desvio para o vermelho, 1967-84,

2ª parte: Entorno

Ao lado, Desvio para o vermelho, 1967-84,

3ª parte: desvio

Fotos Pedro Motta e Eduardo Eckenfels

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Longe do estigma de ser somente panfletário, Cildo é um estudioso da escultura e do processo orgânico da forma. Se em Malhas da Liberdade (1976-1998) ele abordou o desenho feito em pequenos traços conectados obsessivamente até a construção de grandes redes, em Missão/Missões (1987) o sagrado foi representado por duas estru-turas opostas e ligadas por meio de uma linha com 600 mil moedas e 800 hóstias. Já em Fontes (1992-2008), o espaço e o tempo foram reestruturados numa alusão à Via Láctea por 6 mil réguas de carpinteiro, mil relógios e 500 mil números feitos de vinil.

Dos traços iniciais às gravuras e aos mecanismos alinhados às sensações, o experi-mentalista foi capaz de registrar a transformação da cultura nacional, cada vez mais dinâmica e conceitualmente elaborada. Influenciado pelos pintores Félix Alejandro Barrenechea e Mário Cravo, o carioca começou sua carreira em 1963, na Fundação Cultural do Distrito Federal. De volta ao Rio de Janeiro, ele estudou na Escola Nacional de Belas Artes e foi um dos criadores da Unidade Experimental do Museu de Arte Moderna.

Entre os anos de 1971 e 1972 viveu em Nova York, arquitetando a instalação Eureka e o long-play Sal sem Carne, entre outros materiais. Nas temporadas seguintes suas invenções foram ampliadas, convocando os visitantes para novos usos da estética, como se observou em Através (1983-1989), Babel (2001), Pling Pling (2009) e Projeto de Buraco para Jogar Políticos Desonestos (2011). Tema de retrospectivas no IVAM Centre del Carme, em Valência, e na Tate Modern, de Londres, Meireles recebeu ainda o Prêmio Velázquez de las Artes Plásticas, oferecido pelo Ministério da Cultura espanhol. Há três anos o documentário mais recente sobre sua carreira, Cildo, de Gustavo Moura, foi lançado pela Matizar. Em cores, claro.

Agradecimentos especiais a © Cildo Meireles Cortesia: Galeria Luisa Strina

Projeto de buraco para jogar políticos

desonestos, acrílico sobre tela, 2011

Foto: Edouard Fraipont

Pling Pling, videoinstalação, Bienal de Veneza, 2009

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berg Nas ruas de Roma, nas paredes dos museus, nas páginas dos livros,

o vermelho revela e revoluciona Por J.r. Duran

Acabo de ser sorteado por ter sido apresentado a uma das mulheres mais interessantes que já conheci. Não sei o nome dela, ninguém sabe.

O seu rosto está preso para sempre em um retângulo de 18x24 cm e veste um dos chapéus mais conhecidos do mundo. Ela é a Girl With the Red Hat, pintada por Johannes Vermeer faz mais de 300 anos. A tela está pendurada em uma parede da Scuderia del Quirinale, aqui em Roma, como parte – e principal atrativo – de uma exposição chamada “Vermeer il seccolo d’oro dell’arte olandesa”. Mesmo a pintura sendo pequena, pouco maior do que a tela de um iPad, o impacto das emoções que Vermeer conseguiu colocar é muito mais intenso e valioso do que todos os aplicativos que qual-quer um dos aparelhos da Apple possa conter.

De acordo com o catálogo da exposição, a moça “com seu rosto virado para trás, lábios separados e olhos ilumi-nados com expectativa, é um dos mais admirados traba-lhos de Vermeer. Vestida com um aveludado roupão azul e um chapéu vermelho crimson, ela repousa um braço no espaldar de uma cadeira e nos observa sobre seus ombros. Olhando diretamente para nós ela nos puxa para seu mundo íntimo e imediato...”. Não tem o que discordar. O “vermelho crimson” é um pigmento obtido a partir do Kermes, um inseto que se encontra em um tipo de carvalho que cresce principalmente na Turquia. Na tela é, para mim, o vermelho mais puro que jamais contemplei. Não sei que outros pigmentos Vermeer mis-turou, mas o resultado que produz na retina de quem contempla a obra é devastador. Já o mundo “íntimo e imediato” da moça do chapéu jorra pela retina da imagi-nação na primeira troca de olhares.

Esse domingo parece ser um dia especial. Um par de horas antes, e a poucas centenas de metros do Quirinale, no Palácio Doria Pamphilj, conheci pessoal-mente outra figura impressionante: o papa Pio X. Posso garantir que o “conheci pessoalmente” porque a tela que Diego Velazquez pintou (e que – inexplicavelmente – está espremida dentro de uma salinha com as dimen-sões de um camarote de submarino), é um retrato tão apurado e explícito desse papa que ele mesmo, quando o viu, se sentiu incomodado pelo excesso de informações que estavam espremidas entre as pinceladas que o pin-tor tinha espalhado pela tela. “Troppo vero!”, verdadeiro demais, teria dito o pontífice ao ver o resultado. Sentado em uma cadeira de espaldar alto com forro de veludo vermelho, em frente a uma cortina vermelha e envolto em cetim vermelho que contrasta com a renda branca do seu hábito, Pio X olha para quem o olha e mostra sua

personalidade. Os olhos penetrantes fazem um contra-ponto com as mãos suaves e delicadas (em uma delas o anel do pontificado, na outra uma carta em que o pintor assinou seu próprio nome). Velazquez produziu um dos mais bem acabados portraits do mundo da arte. E não deixou dúvidas de quem era aquele homem, da força que ele tinha, e do que seria capaz.

A vida não imita a arte, mas através da arte se pode entender o sentido da vida. Muitos anos atrás, na minha adolescência, quando não sabia de nada, quando não imaginava o que me esperava no mundo lá fora, caiu em minhas mãos um exemplar do O Vermelho e o Negro. O editor espanhol tinha tido a ideia de dividir a obra em dois livros, um preto e o outro... vermelho. E foi navegando entre as páginas de Sthendhal que percebi que o mundo não era como parecia ser. Foi o primeiro choque, a primeira advertência, do que me esperava quando terminassem as brincadeiras de escola.

Aguardo então, sentado numa mesa da cafeteria da Scuderia do Quirinale, que a cafeína de um duplo espresso italiano acelere a volta da percepção da realidade que ficou sequestrada entre os pincéis de Vermeer e o olhar da moça. Lá fora, através da janela, dá para ver a Praça do Quirinale e, espetado no meio dela, o obelisco da Fontana di Monte Cavallo. Um pelotão de carabinieri desfila impecavelmente com suas botas de cano alto meticulosamente lustradas. As espadas brilhantes se movem ao ritmo marcado pelos passos firmes. É a troca da guarda presiden-cial, e na massa de uniformes pretos apenas uma cor ressalta: uma listra vermelha que desce pelas pernas das calças de cada um deles. O mesmo vermelho que Giuseppe Garibaldi escolheu como cor das camisas de seu exército na Guerra dos Farrapos, no Brasil, e que adotou, anos depois, em todas as batalhas que lutou pela independência da sua Itália nativa.

Esse domingo em Roma é, definitivamente, vermelho.

DOMENICAJ.R. Duran, nascido na Catalunia, é um dos mais prestigiados fotógrafos brasileiros. Com passagens pela publicidade, sua expertise é a moda, a escrita seu passatempo. Com exclusividade para a revista Lindenberg, fala da beleza do vermelho.

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O vermelho no cinema mundial, explícito nos filmes coloridos ou sugerido nas fitas em preto e branco, sempre traz embutido um significado, seja ele a liberação, a transformação, a sensualidade ou a violência e o perigo Por roberto taddei

Cena do cult francês Ballon Rouge e Gilda e seu famoso longo vermelho em p&b

Tela rubra

P ara alguns povos, o mundo pode ser descrito em apenas três cores: branco, preto e vermelho. Já no paleolítico as três cores eram utilizadas em pinturas rupestres nas cavernas. Se o branco é a união de todas as cores e o preto é a ausência

delas, digamos que o vermelho é a cor em si, a cor primordial. Vermelho fogo, vermelho sangue. No Gênesis, vermelho é a cor do fruto da árvore do conhecimento. Depois que Adão e Eva mordem a maçã, percebem que estão nus. O pecado original. Dessa tríade nasceram todas as demais associações entre a cor, imagens e simbolismos construídos pela humanidade nos últimos cinco mil anos. Associações que foram intensificadas e banalizadas abundantemente pelo cinema.

E, assim como no Gênesis, os primeiros vermelhos do cinema eram cores que não podiam ser conhecidas, nem percebidas: o vermelho dos filmes em preto e branco. O batom e o vestido vermelho com o enorme laço na cintura usados por Rita Hayworth no filme Gilda, de 1946, por exemplo, jamais foram vistos. Somente por causa dos cartazes é que se intuía estarem vendo uma mulher de tomara que caia vermelho. Em outro filme, Uma Viúva em Trinidad, de 1952, a mesma Rita Hayworth, para aproveitar o sucesso de Gilda, aparecia com outro vestido vermelho para anunciar um filme que só podia ser visto em preto e branco.

Já em 1956, com Os Dez Mandamentos, o público pôde, enfim, ver a capa vermelha de Charlton Heston como Moisés cruzando o Mar Vermelho no filme de Cecil B. DeMille. No mesmo ano apareceu na França o Le Ballon Rouge, de Albert Lamorisse, que mostra a história do garoto perseguido por um balão vermelho pelas ruas de Paris. Dois contos de libertação: a de um povo ou de uma pessoa.

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No sentido horário, Charlton Heston como Moisés, A Lista de Schindler, Sapatinhos Vermelhos, Il Deserto Rosso, A Menina da Capa Vermelho

A partir disso, os filmes PB mantiveram-se no cinema como opção estética. Psicose, lançado por Alfred Hitchcock em 1960, por exemplo, poderia ter sido filmado em cores. Mas a famosa cena do sangue escorrendo pelo ralo da banheira foi feita em preto e branco. O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, lançado em1968, também deixou os espectadores na imaginação. Em 1993, Steven Spielberg pintou de vermelho uma única cena em um filme todo preto e branco: uma garotinha vestida com casaco vermelho atravessa a cidade enquanto militares alemães fuzilam judeus no premiado A Lista de Schindler.

Desde o início da utilização da cor no cinema, o vermelho entrou nas telas ocidentais para realçar três sinais: violência, perigo e sexo. Misturados, os três elementos dão margem a uma intricada palheta monocromática que ora tende para a repressão sexual religiosa, para uma explosiva liberação de violência ou para a realização de desejos frequentemente descontrolados. Na tensão do vermelho aparece sempre a questão do limite que nos torna mais ou menos humanos.

E elas aparecem disfarçadas em uma profusão de símbolos como vestidos decotados, bocas com batom reforçado, unhas compridas, capas de chuva, pedaços de carne, rosas, cravos, camélias, margaridas, antúrios, morangos selvagens, tomates, pimentas e pimentões, amoras, framboesas, goiabas, garças e guarás, vinho, luminárias cor de carne, tapetes, placas de trânsito, tapeçarias, e por aí vai. Quase que se poderia dizer que todo vermelho em qualquer cena do cinema mundial quer exercer um significado. Misturem-se os sinais para achar um sentido. Em 90% das vezes, perigo e violência estão canalizados em tensão sexual.

Em O Mágico de Oz, os sapatinhos vermelhos usados por Dorothy são mágicos e dão a ela, uma criança, o poder de decidir o próprio destino. Simbolismo semelhante ao da Chapeuzinho Vermelho, transformada em filme em A Garota da Capa Vermelha, de 2011, sendo a capa vermelha sinal evidente de que a garota já atingiu a mocidade. Sem ironizar, Rudolph, a rena do nariz vermelho oferece a mesma imagem, embora diluída para um público infantil: o arco da transformação em adulto e a perda da inocência.

Em The Red Shoes, de 1948, as sapatilhas vermelhas da dançarina têm poderes que fazem a protagonista dançar melhor do que todas as outras. Deserto Rosso, o primeiro filme colorido de Michelangelo Antonioni, usa o vermelho para realçar a sensação de abandono sexual vivida pela personagem de Monica Vitti. Em A Dama de Vermelho, de 1984, com Gene Wilder e Kelly LeBrock, o vestido vermelho que voa na tubulação de ar dentro de um cinzento estacionamento norte-americano desperta o desejo de mudança escondido na suposta frustração sexual de Wilder. fo

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Os Homens preferem as Louras, com a bombshell Marylin Monroe, Moulin Rouge, elizabeth taylor como Cleópatra, Beleza Americana e Julia roberts em Uma Linda Mulher

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Vermelho é o vestido de Gina Lollobrigida em sua interpretação de Esmeralda, no filme O Corcunda de Notre Dame, de 1956. Elizabeth Taylor veste vermelho no papel de Cleópatra, de 1963, a rainha que desestabilizou o Império Romano sem usar a força. Kevin Space interpreta um homem em crise com fantasias sexuais envolvendo a melhor amiga da filha adolescente deitada em uma banheira de rosas vermelhas em Beleza Americana, de 1999.

A famosa cena de Marilyn Monroe cantando Diamond’s Are a Girl’s Best Friend em Os Homens Preferem as Loiras, de 1953, pode enganar. O cenário é todo vermelho, mas Marilyn está com um vestido cor-de-rosa. O ambiente é lascivo, mas ela deixa claro que o flerte com o sexo oposto tem intenção distinta: os diamantes. O vestido vermelho é de outra cena, quando canta Two Little Girls From Little Rock ao lado de Jane Russel, as duas com um longo brilhante e incisivo decote frontal.

Julia Roberts como a prostituta de Uma Linda Mulher, de 1990, veste-se de vermelho para passear com Richard Gere. Em 2004, o mesmo Gere sobe as escadas rolantes de uma loja de departamentos levando uma única rosa vermelha para fazer as pazes com a mulher, interpretada por Susan Sarandon no filme Vem Dançar Comigo. Nicole Kidman, em Moulin Rouge, veste-se de vermelho no filme carregado de cores de Baz Luhrmann, de 2001.

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Vermelho é também o carro em que chega Sônia Braga no filme Tieta, de 1996, na antológica cena em que as crianças de Santana do Agreste, vestidas de anjo, correm agarradas ao carro da cor do pecado. A cor também aparece nas unhas e no batom de Vera Fischer em Navalha na Carne, e no vestido tomara que caia com que Sônia Braga embarca no ônibus branco de bancos azuis em A Dama do Lotação, ambos os filmes de Neville de Almeida. Vermelhos eram também os tomates e pimentas dos pratos preparados por Gabriela e Dona Flor. Todos filmes em que a conotação sexual dispensa elaborações.

Em quase todos os filmes de Pedro Almodóvar o vermelho é peça-chave na foto-grafia. Em Tudo Sobre a Minha Mãe, De Saltos Altos, Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos, ou Volver a cor está presente na maioria das cenas. O diretor espanhol já disse que gosta do vermelho porque realça as cores naturais das paisa-gens e dá brilho às cenas.

Mas nem todo o vermelho é sexo. Durante séculos, a Europa vinculou a cor ver-melha ao sangue de Cristo e à ideia de sacrifício e martírio. Daí veio a associação com os reis e a Igreja. O vermelho era tão importante para a Europa que os portu-gueses, quando chegaram ao Brasil, dizimaram a cobertura vegetal de pau-brasil para extrair o pigmento vermelho.

No último filme da Trilogia das Cores, do diretor polonês Krzysztof Kielowski, o vermelho é a cor da fraternidade. Vermelho era a cor utilizada na Revolução Francesa que depôs a monarquia. A partir daquele momento, a cor passou a ser utilizada por revolucionários do mundo todo. Do poder do sangue de Cristo e da revolução, o vermelho chegou ao cinema também para representar o medo, a vio-lência e a desumanidade.

Em Marnie, Confissão de Uma Ladra, de Hitchcock, a personagem interpretada por Tippi Hedren tem fobia da cor vermelha. Em O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski, é um demônio vermelho que engravida a personagem de Mia Farrow. Em O Iluminado, de Kubrick, vermelho é o sangue que banha o corredor do hotel e as paredes do banheiro. Em Taxi Driver, de Martin Scorsese, Robert De Niro banha-se em sangue. Sem falar nas centenas de filmes de terror onde o vermelho jorra grotescamente.

Há também os filmes de guerra. Se na cosmogonia das cores o vermelho é a pri-meira cor –  cor da maçã, da tomada de consciência, do reconhecimento do eu e do outro, do corpo e do sexo – o vermelho é também a última cor: do fogo que consome tudo, do sangue que escorre do corpo, do sol quando se põe, do horror.

Em Apocalipse Now, de Coppola, as explosões de napalm cobrem a tela de vermelho. Mas é em Além da Linha Vermelha, de Terrence Malick, de 1988, considerado por muitos como o melhor filme de guerra, que o vermelho atinge o seu limite, embora não haja uma linha vermelha no filme. A expressão é cla-ramente uma referência à Batalha da Balaclava, de 1854, quando um pequeno batalhão inglês com uniforme vermelho derrotou um pelotão da cavalaria russa. Mas, no filme de Malick, a fina linha vermelha imaginária representa a fronteira entre a loucura e a sanidade humanas. O vermelho, diria Malick, é o último limite do mundo.

Foi a primeira cor. E continuará impondo-se também como a última.

No sentido horário: Atrás da Linha Vermelha,

Jack Nicholson em O Iluminado, Apocalypse Now, Taxi Driver com robert de Niro,

A Fraternidade é Vermelha

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quanto maisQuente, ousado, sofisticado, o vermelho é uma das cores do Natal, vista sua mesa com ele Fotos João ÁviLa

Edição E produção:

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da esquerda para a direita: bandeja de alumínio, Divino Espaço, pilha de pratos de cerâmica, Regatta Casa, vasos e castiçais de metal, Le Lis Blanc Casa, porta-sachês alessi, de inox e acrílico (sobre o castiçal), Benedixt , porta-guardanapos, Roupa de Mesa, bandeja de madeira e vidro, LS Selection, taças de cristal nachtmann para água e champanhe, Roberto Simões, jarra de água de prata Belle Epoque, Christofle, faqueiro nomo, de inox, Roberto Simões, e copos nouvel stackable, cristal rubi, Benedixt

Fundo: toalha de mesa com ponto ajour 100% rami, Mundo do Enxoval

quente melhorúte

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da esquerda para a direita: castiçal de vidro LS Selection, taça de cristal vermelha Christofle, taça (deitada) de cristal para champanhe Bettina alessi com base de acrílico Benedixt, centro de mesa de porcelana, Benedixt, pilhas de pratos de cerâmica Coroa real, Roberto Simões, com guardanapo de linho, Divino Espaço, e xícaras de porcelanas, K-Case, vaso de porcelana Kaiser (deitado), L’oeil, com macarons da Opera Ganache, taças para champanhe Cristalin, L’oeil, garrafa de vidro leitoso, LS Selection, sousplat com flores brancas Florindian, StileDoc, vaso de porcelana com rosas, Benedixt, talheres Bugatti, Cecilia Dale, porta-velas com detalhes de flores brancas Le Lis Blanc Casa, compoteira de vidro Tânia Bulhões Home

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Serviçobenedixt.com.br | blaussmaison.com.br | ceciliadale.com.br | christofle.com | divinoespaco.com.br | kcase.com.br | kirks.com.br | lelis.com.br/casa | loeil.com.br | lsselection.com.br | mundodoenxoval.com.br | operaganache.com.br | regattacasa.com.br | robertosimoes.com.br | roupa de mesa, tel. (11) 3811-9715 | stiledoc.com.br | taniabulhoes.com.br

da esquerda para a direita: vaso, Le Lis Blanc Casa, taças de vinho orsini, LS Selection, sob a taça porta-copos de miçangas douradas, Cecilia Dale, dentro da taça, guardanapo de organza dourado, Roupa de Mesa, e dentro de outra taça, garfinhos para petiscos com cabo de miçangas, Divino Espaço, talheres vintage dourados nK, Blauss maison, pilha de pratos (sousplat, raso, sobremesa e fundo) linha Corais do Brasil ii, Tânia Bulhões Home, donzela de metal e cristal, K-Case, sousplat dourado, Kirk’s, bowls de metal dourado, Le Lis

Blanc Casa, copinhos de vidro Zody com desenhos dourados, L’oeil, caixa com tampa, Cecilia Dale, folha dourada e garrafas de vidro, ambas Le Lis Blanc Casa

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Privilegiado, esse Lindenberg tem uma das melhores vistas da cidade, e é a morada de um casal que adora levantar as cortinas e receber família e amigos Por Maiá Mendonça | FoToS ValenTino Fialdini

Com a cidade aos pés

Para abrigar a coleção de santos do dono da casa, o arquiteto projetou uma estante de madeira patinada que também garante certa privacidade para o ambiente único

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Detalhes que fazem a diferença: o telescópio no escritório, as bailarinas estilo déco que enfeitam as salas, o lustre de cristal da sala de jantarD

o décimo terceiro andar desse Lindenberg a vista é de tirar o fôlego. De um lado o olhar alcança o espigão da Avenida Paulista, do outro a Marginal revela o Jockey Club de São Paulo, o bairro do Morumbi, e proporciona um show de luzinhas amarelas e vermelhas que fazem do trânsito da cidade um

belo espetáculo. “Se alguém disser que São Paulo é feia, convido para vir na minha casa”, fala a dona desse generoso apartamento de mais de 300 metros quadrados, abrindo as cortinas automáticas, comandadas por um controle remoto “proibido para netos”.

A família, hoje um casal e uma filha (os outros dois filhos são casados), decidiu deixar quase todos os móveis para trás ao se mudar de um Lindenberg onde viviam, porque queriam estar mais perto do clube, e começar do zero. Entregaram as chaves do imóvel para o arquiteto Cesar Soares, da Novo Antigo, e juntos imaginaram como seria a vida no novo endereço.

O primeiro passo foi uma pequena reforma: incorporar o terraço à área social, criando um único espaço que reúne living, sala de jantar, cozinha gourmet e home theater e modificar um pouco a área íntima, obras feitas na planta, um serviço que a Lindenberg presta para seus clientes.

Com um móvel de madeira patinada, dividido em casulos, o arquiteto resolveu dois problemas: criou um falso hall, um anteparo para quem chega no apartamento não entrar direto na sala, e acomodou a coleção de santos barrocos do proprietário de um lado e de vasos de Murano do outro – para alívio da dona da casa que não era muito fã da coleção mas passou a gostar depois da solução encontrada.

O piso de mármore travertino reveste e unifica todo o ambiente que ganhou deco-ração em composés de tons de terra quebrados por um verde clarinho aqui e ali.

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Poucas estampas miúdas em uma ou outra poltrona ajudam a deixar o living e o home theater mais aconchegantes. Sofás, poltronas, chaises e mesinhas de centro e de canto se espalham confortavelmente pelo amplo espaço, criando ambientes distintos.

Ao lado da sala de jantar, para 12 pessoas, a parede foi ocupada por uma cristaleira embutida, onde estão as louças e os cristais da família, um belo trabalho de mar-cenaria que segue até a cozinha gourmet, hobby do dono da casa. O arremate, em mármore preto, vai até a cozinha do dia a dia, criando uma unidade. “Gostamos de receber a família e os amigos para almoços e jantares e, graças à mesinha redonda que o Cesar colocou perto da sala de jantar, acomodo até 16 pessoas sentadas, e é sempre muito agradável”, conta a dona dessa morada que costuma, na poltrona larga estrategicamente instalada no antigo terraço, ler e contar histórias para os netos.

Na área íntima, um dos quatro quartos foi dividido entre o escritório do proprietário, que cuida de seus negócios de casa, e a suíte da filha. O mesmo impecável trabalho de boiserie da sala está na porta-parede que separa e une o escritório ao dormitório do casal. A suíte da filha ficou um pouco mais espaçosa, e o outro quarto foi reservado para a bagunça dos netos que visitam os avós quase todos os dias.

Estampas delicadas quebram a seriedade dos tons de terra da decoracão. O que era o terraço, hoje é o cantinho da vovó, onde a proprietária lê e conta histórias para os netos

Na página ao lado, a pia do lavabo foi embutida em um móvel antigo, e a cozinha gourmet com a generosa vista da cidade ao fundo

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Pungência. Quem resolveu transferir o significado dessa palavra que está nos dicionários como senti-mento de dor, peso, aflição e angústia para a sen-

sação provocada em nossa boca pela pimenta? Pode até ser, mas é quase sempre injusto. Se eu fosse o Houaiss ou o Aurélio, falaria do sentimento de surpresa, intensidade, vibração e vigor. Com a vermelhinha, em molho ou pura, bem dosada. Ousada demais, aflição na certa.

A pimenta tem uso planetário e, dependendo da região, é mais do que um simples pingo no prato. E o mais curioso: seu consumo é impressionante justamente nas regiões mais quentes, como México, África do Norte, Índia, Tailândia e países vizinhos, América do Sul e Caribe. Contradição? Nada, dizem os especialistas. O paradoxo pode ser explicado pela agradável sensa-ção de frescor que ocorre logo após o impacto inicial e infernal no paladar. Além disso, muitos desses povos descobriram de forma intuitiva, e agora confirmado cientificamente, que a pimenta possui fortes proprie-dades antibacterianas.

Sou um consumidor frequente e moderado de pimenta vermelha em molho e já ouvi que ela ajuda a ter boa memória. Posso atestar que é verdade – pelo menos acho que tenho a minha afiada. Concluo que o pessoal dessas regiões citadas aí deve ter não um cérebro, mas um processador dentro do coco.

Certa vez, almocei com um cônsul da Indonésia em São Paulo, em um restaurante fino e caro da cidade.

Logo após a chegada do primeiro prato ele pediu mala-gueta. O maître eriçou-se todo, “como assim?”, imagi-nando que o delicado peixe seria demonizado impiedo-samente. Disse que não tinha, mas um garçom por perto lembrou que havia, sim, para consumo dos funcionários. Foi lá dentro e trouxe. E vi o honorável cônsul colocar cinco pimentas inteiras e vermelhinhas não sobre o peixe, mas em uma colher, levando-a à boca e em seguida mas-tigando as representantes do gênero Capsicum com claro prazer. O maître quase desmaiou.

A boa pungência experimentada pelo diplomata, se-gundo médicos como o dr. Alexandre Feldman, der-ruba alguns mitos relacionados à pimenta, sobretudo as de que ela provoca gastrite, úlcera, pressão alta e até hemorróidas. Bobagem, diz ele, autor de livros em que prega o uso da pimenta contra enxaquecas, sua especialidade. É o contrário. A explicação é um pouco complicada e tem a ver com a liberação de endorfinas pelo cérebro ao notar que a boca está sendo cruelmen-te atacada pelas substâncias picantes das pimentas (capsaicina e piperina), mas o resultado é cortês: há um estímulo da digestão, ocorrendo também o chama-do efeito carminativo (vejam no Google), a cicatrização de úlceras leves e, além de tudo, correm soltas pelo organismo suas propriedades antioxidantes (antienve-lhecimento) e anti-inflamatórias.

Em um mundo dependente de boas notícias, as pa-radoxais como essa parecem ser as melhores. E não é de agora, já que a história da pimenta tem um passa-

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do intenso, com os primeiros pés surgindo por aqui na América do Sul ou, mais precisamente, na Bolívia. Pro-pagou-se pelo continente e alcançou a América Central e o México, provavelmente através dos pássaros, insen-síveis à sua irritação.

No México, os astecas desenvolveram muitas varieda-des a partir da pequena Piquin, ou Chiltepin, ancestral de todas as pimentas, criando exemplares de vários ta-manhos, formas, cores, sabor e intensidade. O esperto Cristovão Colombo levou sementes para a Europa e, acredita-se, apenas 50 anos após atravessar o Atlântico a pimenta expandiu-se pela África, Índia, Ásia tropical, sudoeste da China, Oriente Médio, pelos Bálcãs, Euro-pa central e Itália.

Ao longo dos séculos, ganhou quase todo o mundo, sen-do apreciada em conserva ou seca, em molhos diversos, geleias, sorvetes, produtos de pâtisserie e, ultimamente, em chocolate, cerveja e vodca. Um sucesso. Nos Es-tados Unidos, são cada vez mais populares os clubes de loucos por pimenta, apelidados “chiliheads”. Eles têm suas feiras, salões, associações, emissões de rádio e concursos regionais e nacionais, com uma oferta de nada menos de cinco mil molhos diferentes nas lojas especializadas

A medida da pungênciaPreocupado em descobrir porque diabos uma pimenta era mais ardida que outras, o bigodudo químico norte-ame-ricano Wilbur L. Scoville inventou um método em 1912 para classificar essa diferença. Deu origem à escala que leva seu nome, com medidas que têm a ver com a quanti-dade de vezes em que um extrato de pimenta necessita ser diluído em água e açúcar para ser neutralizado.

Desde então, a tal pungência ganhou números, embora métodos mais modernos, como o HPLC (High Perfor-mance Liquid Chromatography) e a análise de DNA permitam conclusões mais exatas. No entanto, seus resultados são convertidos para a escala Scoville para facilitar a compreensão.

Assim, fica-se sabendo que a mais poderosa pimenta atualmente é a Trinidad Scorpion Butch T, criada em laboratório de uma empresa australiana em 2011 a par-tir de uma espécie de Trinidad e Tobago. A Scorpion atingiu 1,1 milhão na escala Scoville, significando que, para perder sua cruel ardência precisa ser diluída 1,1 milhão de vezes em água e açúcar. Ela suplantou a até então violenta Bhut Jolokia, desenvolvida em Tezpur, na Índia, há alguns anos, com pungência de “apenas” 1 milhão na escala Scoville.

Na Europa a mais famosa é a pimenta de Espelette, nos Pirineus franceses, mostrada em fotografias na frente das casas, penduradas em cordas para secar, com sua bonita cor vermelha. É vendida também em pó ou fresca.

No Brasil as mais consumidas (sem incluir a pi-menta-do-reino, de outra espécie) são a malagueta (pungência de 60.000 a 100.000), de cheiro (10.000 a 50.000), dedo-de-moça (5.000 a 15.000) e cumari (30.000 a 50.000). E também a biquinho, com mei-gos 1.000 pontos.

Abri este artigo falando de pungência. Ao longo da pesquisa descobri que muita gente gosta de usar ou-tra palavra, picância. Feia. Pungente à maneira das pimentas, agradeço sua leitura.

Dos primeiros pés nascidos em terras bolivianas a picante Scorpion, criada em laboratório. Saiba um pouco mais sobre a rainha dos temperos Por Mauro Marcelo alves

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No coração, como queriam os românticos, ou no cérebro, como preferem os cientistas? O importante é saber que todas as formas de amor valem a pena e que amar é bom e só faz bem Por Judite Scholz | iluStração Maria eugênia

Onde mora o amor?

Engana-se quem pensa que o amor vive no cora-ção. De acordo com cientistas da Universidade Concordia, no Canadá, ele mora no cérebro.

Eles desenharam um mapa exato da atividade dos sentimentos de amor e desejo sexual no cérebro.

“Descobrimos que o amor e o desejo ativam áreas específicas e relacionadas do cérebro”, explica Jim Pfaus, um dos autores do estudo. A região especí-fica atingida pelo amor no estriado, por exemplo, é a mesma associada ao vício de drogas. ”O amor fun-

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;É um não querer mais que bem-querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Soneto 11, caMõeS

ciona no cérebro do mesmo jeito que as drogas em pessoas que se tornam viciadas”, explica Jim Pfaus. A diferença, óbvia, é que o vício em narcóticos é um hábito ruim, e o amor um hábito bom. Os pesqui-sadores descobriram, também, que o desejo sexual deixa as regiões do cérebro mais ativas do que o amor. “Enquanto o desejo tem um objetivo muito específico, o amor é um sentimento mais abstrato e complexo, por isso é menos dependente da presença física de alguém”, conta Pfaus.

De acordo com o pesquisador, a neurociência oferece muitas respostas sobre as atividades cerebrais exercidas por fatores como a inteligência e a resolução de pro-blemas, mas ainda há muito a se descobrir sobre o amor. “Esse trabalho é um grande começo. Acredito que vá estimular outros estudiosos a realizarem mais pesquisas a fim de desvendar o que é o amor.”

Sentimento valorizado e almejado, de difícil defi-nição, o amor – seja o romântico, fraterno, a ami-zade, pelos filhos, parentes, ou universal – faz bem à saúde. “Equivale a estar em paz. O amor nutre. Quimicamente, quando uma pessoa recebe ou dá amor, ela sente uma sensação de bem-estar porque o organismo libera cortisol e adrenalina. Já a ausên-cia de amor provoca uma baixa de defesas que se manifesta fisicamente”, afirma o psiquiatra Sergio Antonio Cyrino da Costa, diretor superintendente da Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi).

“Pesquisas comprovam que amar faz bem para o coração porque libera endorfina no organismo, uma substância que proporciona sensação de bem-estar, prazer e alegria, reduzindo a depressão, controlando a ansiedade e o estresse, verdadeiros riscos psicoló-gicos para as doenças cardíacas. A felicidade e o pra-zer proporcionados pelo ato de amar estimulam os hormônios e melhoram o estado geral do organismo pela eliminação de toxinas nocivas à saúde, colabo-rando para a melhoria da qualidade de vida. Quando uma pessoa ama, ela busca cuidar-se mais, o humor melhora, sente-se mais produtiva, criativa e cheia de vida. As pessoas que amam e que possuem uma vida harmoniosa, saudável, cercada de amigos e com tempo disponível para o lazer com a família, vivem mais e melhor”, afirma a psicóloga psicoterapeuta Olga Inês Tessari.

Quando o amor é recíproco, há uma troca de cuida-dos, de acolhimento. O sentimento de ser importante

para alguém é gostoso e confortável. Saber que alguém se preocupa com a gente, que sofre com a gente, que torce pela gente, parece banal, mas faz diferença em todas as fases da vida. Tanta diferença que, de acordo com estudo realizado na Universidade Brandeis, em Massachusetts, Estados Unidos, adul-tos que tiveram uma infância cheia de amor materno são mais saudáveis do que aqueles que não desenvol-veram uma relação íntima com suas mães. O amor materno, fundamental para o desenvolvimento e equilíbrio emocional da criança, gera benefícios para a saúde e para a inteligência dos pequenos.

Na idade adulta parece compreensível que os solteiros quase sempre levem a pior: de acordo com pesquisa-dores da Universidade de Louisville, Estados Unidos, os homens solteiros têm um risco de morte 32% maior do que os casados. As mulheres não ficam muito atrás: 23% mais que as casadas. Outro estudo feito no Canadá mostrou que os homens casados têm mais chances de sobreviver a um ataque cardíaco porque são levados para o hospital mais cedo – pelas esposas.

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, profes-sora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirma que o amor é um dos combustíveis para a saúde do cérebro. “O amor é essencial para que o cérebro não perca seu viço com o tempo. Não se pode perder de vista a nossa capacidade de amar e nosso gosto por ser amado”, afirmou. “Sentir que, quem importa para nós se importa conosco, é fundamental para que nosso cérebro tenha uma vida longa e saudável”, completou.

Recentemente, a neurociência descobriu as mudanças que ocorrem no cérebro quando recebemos carinho: os sistemas de resposta ao estresse se acalmam. O carinho funciona como uma massagem terapêutica. Assim é desde que somos crianças. É sabido que bebês que não recebem carinho não se desenvolvem bem. “O amor, esse elo afetivo que temos por algumas pessoas de forma diferente, é importante. E não preci-samos nem ser tocados pela pessoa amada, se o amor for forte de verdade. A mera visão do rosto da pes-soa amada é capaz de produzir uma série de ativações benéficas ao cérebro”, diz a neurocientista.

A gente sabe que o amor verdadeiro, sincero, do fundo do coração, nos faz realmente felizes, deixando a vida mais leve. Viver com a pessoa que se ama, poder contar com a amiga querida, ter o aconchego da mãe, a cum-plicidade do irmão, só pode fazer bem.

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Esse imenso país é um mosaico que mexe profundamente com quem o visita. Justificando a frase da escritora anglo-germânica Ruth Prawer Jhabvala, casada com um indiano: “A Índia sempre muda as pessoas” por juliana a. Saad

Índia: Misteriosa, exótica, colorida

A Índia é um permanente desafio ao entendi-mento ocidental, excitando as mentes na mesma gigantesca proporção dos 30 milhões

de divindades do hinduísmo. Superlativa, ela se veste de cores fortes nas festas e solenidades e, além do amarelo-açafrão, carrega no vermelho como sinônimo de alegria, energia e amor.

Esse culto às cores explode na Holi, a festa que celebra a chegada da primavera. Desde a véspera dos dois dias de celebração o vermelho de imensas fogueiras cintila de norte a sul e as brasas são recuperadas pelos habitantes, que as levam para suas casas e com elas acendem uma nova chama. Isso traduz o sentimento da primavera como símbolo de renovação através da cor e da energia do fogo. É a época também dos casamentos onde as noivas sempre vestem um sari vermelho.

O segundo dia da festa, o Dhuletti, é o momento máximo da alegria: nas ruas, as pessoas tingem o rosto e braços com corantes em pó ultracoloridos, os gulal, ou jogam balões cheios de água também colorida em quem passar pela rua. E todos cantam, dançam e bebem thandaï, curiosa mistura de leite gelado, amêndoas, especiarias e... cannabis!

Essa festa reflete exatamente o que é a Índia: uma pro-fusão de ritos, deuses, celebrações e comida. Suas espe-ciarias ganharam o mundo há alguns séculos e bancas de mercados atraem o olhar para as cores vibrantes dos diversos curry com misturas secretas e instigantes. Já o ga-ram masala de tonalidade também viva tem a identidade revelada: é uma combinação de pimenta, cravo-da-índia, canela, cardamomo e cominho. E o que dizer das pimen-tas que colorem os pratos e realçam sabores ou do frango tandoori, de linda cor vermelha?

Típica dançarina indiana com suas exóticas e ricas vestes

No detalhe, o magnífico Taj Mahal foto

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Fascinante DélhiÉ claro que não se pode falar da Índia sem mencionar sua capital, Délhi, uma das cidades mais antigas do mundo, dona de uma fascinante imponência e história, repleta de lugares declarados como patrimônios da humanidade, como o inacreditável Red Fort, um dos pontos altos da arquitetura local, construído a partir de 1638 e terminado 10 anos depois por ordem do imperador Shahjahan de Mughal. Dentro, imensas abóbadas de mármore e enor-mes salões para audiências públicas, além de apartamen-tos suntuosos e uma infinidade de outros aposentos. Ou a tumba de Humayun, onde repousa o imperador de mesmo nome, construída em arenito vermelho e profusamente decorada com mármore branco e negro. E o Qutub, o minarete de tijolo mais alto do mundo, com 72,5 metros de altura, notável expressão da arquitetura indo-islâmica.

Délhi é usualmente a primeira escala para quem planeja visitar o norte da Índia e oferece a combinação perfeita de antigos e novos mundos para sua exploração. A vida pulsa em suas ruas e vielas, com evidente destaque para os mercados de tecidos coloridos e artesanato, além, claro, da oferta incessante de comida essencialmente vistosa e aromática. Sobretudo no mercado de Chandni Chowk, no centro velho, o maior bazar da cidade e verdadeira festa para os sentidos.

Vai às compras? Impossível sair de Délhi sem uma pash-mina feita pela família Shaw há seis gerações com rara elegância, a preferida de Catherine Deneuve (Shaw Bro-thers, D47, Defense Colony). Para túnicas bordadas, como as tradicionais kurtas feitas à mão, o endereço certo é a butique Lal Behari Tandon (20 Palika Bazar, Connaught Place). As melhores sandálias feitas à mão e bordadas com fios de ouro e incrustadas de pedras podem ser encontradas na Varum, no mercado Central de Lajpat Nagar. E as sedas, ah! as sedas indianas encontram sua mais bela expressão na loja de Ravi Wadhwa, com um estoque que inclui tecidos, como a organza, feitos em sua maioria por homens em Benarés (Ram Jaj, Flat 9-10, mercado de Lajpat Nagar 2).

Para se hospedar em Délhi, o mais chique hotel é o The Imperial, que já recebeu Gandi e Neru, entre outros grandes líderes, que fica no número 1 da Janpath Lane, dentro de um parque de oito hectares e mantém aquele ar britânico colonial. Se preferir algo mais intimista a dica é o Amarya, uma guesthouse com nove quartos muito charmosos e terraço-lounge no teto (A2/20 Safdarjung Enclave). As ofertas de restaurantes são muitas, mas, como em toda a Índia, sempre representam algum risco para estômagos mais sensíveis. Prefira os próprios hotéis ou restaurantes indicados por eles.

A riqueza de MumbaiMumbai (ex-Bombaim) fica no oeste da Índia e é a cidade mais rica e populosa do país. Importante centro financeiro, tornou-se conhecida por causa de Bollywood, que produz cinema em pencas. Mas, à parte sua incrível arquitetura colonial, tem uma circulação de trânsito caótica, ruas apinhadas de gente e uma história religiosa milenar juntando hinduísmo, islamismo e cristianismo. Seus 20 milhões de habitantes trafegam entre bairros pobres e centros comerciais ultramodernos, a mais perfeita tradução da Índia moderna e tradicional.

Um oásis nessa agitada metrópole é o icônico hotel Taj Mahal Palace, parte integrante da história de Mumbai desde 1903. Hospedou e hospeda celebridades e dá especial atenção à culinária, com destaque para o restau-rante Wasabi, do renomado chef Morimoto. Localizadas no piso superior, as salas do Taj Club têm vistas deslum-brantes do porto e da monumental Porta da Índia.

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A arquitetura moderna do templo em Délhi lembra a beleza das pétalas da flor de lótus e faz contraponto com o rebuscado trabalho da fachada do Hawa Mahal, em Jaipur

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Serviço Brasileiros precisam de visto para a Índia. Para solicitá-lo é preciso ter o Certificado Internacional de Vacinação contra Febre Amarela. Turismo Índia: www.incredibleindia.org | Taj Hotels: www.tajhotels.com | Imperial Hotels: www.theimperialindia.com Oberoi: www.oberoihotels.com/oberoi_rajvilas | Selections Viagens www.selections.com.br | Teresa Perez Tours www.teresaperez.com.br

Jodhpur, a belaSe a intenção é seguir um roteiro pela Índia em fun-ção das cores, um lugar inevitável é Jodhpur, situada no Rajastão, encimada pelo impressionante forte de Mehrangarh, de arenito vermelho, com uma vista su-blime para a cidade. Ali os marajás da dinastia Rathore viveram a partir do século 5º e a cidade conserva até hoje seu charme e tradição. Ir a Jodhpur é mergulhar em outro espaço de tempo, quando não havia distinção entre o mito e a realidade.

Os hotéis da cidade contribuem para essa magia. Estão divididos em categorias e as três principais são: Heritage, em construções típicas; Luxury, verdadeiros palácios, e Deluxe, confortáveis. Um dos destaques é o impressionante Umaid Bhawan Palace, em amarelo dourado e estilo art-déco, que repousa em um imenso parque e oferece ao hóspede aquela sensação de estar vivendo entre a fantasia e o tangível. Outro hotel de impacto é o Taj Hari Mahal, que alia tradição a uma refinada elegância contemporânea. Quartos e suítes luxuosas se abrem para terraços de mármore e sua comida é das mais celebradas do país.

Jaipur em rosaA capital do Rajastão, no noroeste, é chamada de Pink

City por causa da cor rosa de suas fortalezas, palácios e mercados. Em janeiro, seu Festival de Literatura atrai autores celebrados do mundo todo, que aproveitam para conhecer o monumento de Hawa Mahal, também chamado de Palácio dos Ventos, construído em 1799 pelo marajá Sawai Pratap Singh para as mulheres da família real. Em forma piramidal, parece um favo de mel gigante e deve seu apelido às pás eólicas em tom rosa perpetuamente em movimento.

A grande opção de hospedagem em Jaipur é o Taj Rambagh Palace, antigo palácio do marajá, que desafia os adjetivos para descrevê-lo. Jardins ornamentais de rigorosa simetria e riquíssimas obras de arte encan-tam, ao mesmo tempo em que oferecem conforto total aos hóspedes. Chamado de “ilha da fantasia”, o Oberoi Rajvilas é outro hotel da cidade que disputa a preferência dos que levam o bom gosto consigo quando viajam. Jardins, belos apartamentos e spas deliciosos fazem parte de seu cardápio.

E no norte da Índia, no estado de Uttar Pradesh, Agra é sempre uma referência quando se sabe que o principal tesouro artístico da cidade é nada menos que o famoso Taj Mahal, um dos monumentos mais fotografados do mundo.

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Conhecida como a Veneza do Oriente ou a Cidade dos Lagos, Udaipur é a cidade mais rica da Índia. Passeio de elefante aos pés do Amber Palace, em Jaipur

Na página ao lado, os pátios do Palácio do Marajá, na cidade rosa Jaipur

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Dois roteiros para a prática do trekking em locais de beleza arrebatadora Por JuLiana a. Saad

Andar é um luxo

Pode nevar ou chover, ventar forte, a temperatura cair a graus escandinavos ou subir a níveis saarianos. E lá estão eles, andando montanha acima ou des-cendo encostas, percorrendo vales e ravinas, fotografando bichos ou graciosas

vilas de pedra, bebendo água pura de nascentes. Objetivo? Encarar novos desafios, aproximar intimamente o coração e os olhos da natureza. E sair de alma lavada.

Milhares de pessoas mundo afora praticam caminhadas por locais já conhecidos ou exóticos, em nova ordem de bem-estar onde o luxo maior está na recompensa pes-soal, traduzida pela alegria quase infantil da procura de tempos perdidos. Sobretudo para quem mora em grandes centros urbanos.

Para explicar essa sensação, o chef de cozinha francês Pierre Maillet, do restaurante Albert 1er, em Chamonix, com duas estrelas no Guia Michelin, diz: “Deixar os ruídos da cozinha e da cidade e me descobrir ao ar livre faz muito bem. A caminhada me ajuda a afugentar meus limites”.Um dos percursos mais simpáticos aos franceses é pelos Piri-neus, a gigantesca e bela cadeia de montanhas entre a Espanha e a França. São inúmeros roteiros, preparados por agências para um mínimo de cinco pessoas acompanhadas por guias experientes. Um dos preferidos é chamado de “Cidadelas de pedra de Aragão”, na província de mesmo nome. Dura sete dias, com cinco dias de marchas e visitas a locais impactantes, com marchas diárias de 4 a 5 horas em desníveis de 400 a 600 metros. O destaque maior são as cidadelas de Mallos de Riglos e Agüero, com estranhos obeliscos de pedra avermelhada junto às vilas de um branco imaculado. Há também visitas ao impressionante monastério de San Juan de la Peña, ponto de partida da re-tomada do território aos mouros, e a pequenas ermidas cavadas nas falésias. Em meio a tudo, o silêncio absoluto e apaziguador.

Para começar bem o trajeto com sabor espanhol, o primeiro dia reserva degustação de tapas na cidadezinha de Jaca, seguido no segundo dia por uma caminhada pelos flancos de Santa Orosia, à beira do vazio. No terceiro dia, o percurso é pelo chamado grande belvedere dos Pirineus, Peña Oroel, com vista extraordinária, seguindo-se no quarto dia para as bandas do monastério de San Juan de la Peña. No quinto dia, travessia entre Salinas e Agüero, tudo terminando com jornada idílica por Mallos de Riglos, com passagem pelas espetaculares falésias vermelhas, paraíso de alpinistas.

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um dos percursos mais simpáticos para os andarilhos franceses: o Parque nacional nos Pirineus, entre a Espanha e a França

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Pelo caminho, nos Pirineus, uma das atrações é o Monastério de San Juan de la Peña, na Espanha

na página ao lado, o viajante pode caminhar pelo nepal. a bela arquitetura do Centro administrativo Pungthan dechen dzong, em Punakha, e o ninho do Tigre, o monastério Taktsang, ambos no Butão

uma das sugestões de hospedagem é o elegante Hotel dwarikas, em Katmandu, no nepal

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ServiçoPirineus: La Balaguère | labalaguere.com Pyrandonnées | pyrando.free.fr

Butão e Nepal: Pisa Turismo | pisa.tur.brPHd Travel | phdtravel.com

ExotismoSe a caminhada pelos Pirineus não oferece grandes complicações, que tal encarar outra, longínqua, que oferece todo o impacto do desconhecido? E que, além de tudo, reúne aventura e espiritualidade? Butão e Nepal são a resposta.A agência brasileira Pisa Trekking, há 25 anos no mercado, tem várias opções de roteiros. Entre os destaques, as caminhadas centradas nas proximidades da montanha Annapurna. A beleza natural impressionante se alia ao culto do budismo, proporcio-nando dias serenos e alegres, mesmo para quem não professa essa fé. O nível geral de dificuldade nas caminhadas é moderado, incluindo visitas às principais atrações, como Tashichhodzong, forte e monastério medievais com os escritórios do Estado do Butão e o Trono do Rei; Dzong e seu mercado de Wangduephodrang, famoso pelos produtos de bambu e esculturas em pedra; Ta Dzong, o museu nacional do Butão; a praça de Durbar em Katmandu, com o antigo Palácio Real, monumentos declarados patrimônio da humanidade e muitos outros locais.

Possivelmente já aclimatados ao fuso horário e com as pernas em ordem, no 12º dia será a vez de mirar para o alto e subir os 3.767 degraus de Tirkhedung ao vilarejo de Uller, um esforço notável recompensado pela vista deslumbrante de Annapurna pelo lado sul e Hiunchuli. Os dias seguintes reservam outras caminhadas e descobertas surpreendentes. O conforto acompanha as jornadas com carregadores e guia especia-lizado durante todo o percurso.

Na mala No verão, roupas leves, esportivas, malha e casaco para a noite. Do outono até o final do inverno, calças quentinhas, roupas em camadas, chapéu e luvas. E sapatos confortáveis para os passeios e caminhadas. Não se esquecer do protetor solar, labial e óculos de sol. Nas visitas aos mosteiros do Nepal e do Butão, aconselha-se às mulheres não trajar nada acima dos joelhos, e manter os braços cobertos até os cotovelos. De resto, boa disposição e preparo físico para absorver as experiências dessas caminhadas tão interessantes!

Nepal Em uma de suas jornadas pelo mundo, a joalheira Miriam Mamber foi parar em Katmandu, tendo a cordilheira do Himalaia e o Monte Everest como pano de fundo. Além de percorrer o circuito turístico imprescindível, com seu olhar apurado ela captou as melhores dicas, como o incrível Hotel Dwarikas, em Katmandu, onde se hospedou e provou um banquete nepalês de 24 pratos (www.dwarikas.com); a Vajra bookstore, com um mundo de livros exóticos que recheou sua mala da volta (www.vajrabookshop.com); e as mágicas lojas de tapetes em torno da Dubar Square, com padronagens e cores que só existem naquele pedaço do mundo.

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O fim do ano chega e um fenômeno atinge o Brasil. A urgência de se aproximar, se rela-cionar, lembrar de pessoas queridas, agradar

amigos e companheiros. O epicentro desse fenômeno é o Natal, porém seus efeitos acabam se irradiando para mais longe, inclusive entre pessoas de religiões não cristãs. Eventos de fim de ano de empresas, amigos--secretos entre turmas, viagens nos feriados em família. A vontade de confraternizar se expressa de diversas maneiras. Já é notório que grande parte desse senti-mento coletivo é captado – poderia-se dizer capturado – pelo mercado, traduzindo a intenção de presentear, de agradar em impulso ao consumismo. Mas, também existe outro desdobramento desse espírito que é bastante positivo para a sociedade: as doações de final de ano.

Cada final de ano é uma boa época para fazer uma limpeza em casa, se desfazer de coisas. Não digo daquelas imprestáveis, cujo lugar é o lixo, mas daquelas que não serão mais úteis para você, mas podem ser para alguém. Renovar os brinquedos dos filhos é quase inevitável, mas para renovar é importante não só dar brinquedos novos, mas também se livrar dos velhos. Famílias com filhos pequenos costumam ter muito o que renovar, já que a mudança nas crianças é muito rápida, tanto de tamanhos quanto de gostos.

Muitas das grandes ONGs lançam campanhas espe-

ciais de final de ano. Dependendo da abordagem são relacionadas ao Natal ou não, mas sempre buscando capitalizar a maior evidência do sentimento comunitário de solidariedade. Como em todo o resto do campo da filantropia no Brasil, não se consegue ser tão eficiente quanto o mercado para aproveitar as oportunidades, mas ainda sim são campanhas que denotam algum resultado. Agora a grande questão é: essas doações de fim de ano fazem diferença?

A resposta curta é: sim. Aproveitar um momento em que as pessoas se tornam mais comunitárias para criar vínculos mais fortes não apenas com seus próximos, mas também com organizações e projetos sociais, é definitivamente uma boa coisa. E fazer pequenas doações de dinheiro, roupas, móveis, tempo ou o que quer que seja, mesmo que seja altamente influenciado pelo momento do ano e não tanto por uma predisposição a doar, ajuda muito as organizações. Mas não só elas. Cada uma dessas pequenas doações é uma oportunidade clara que se abre para permitir o envolvi-mento entre as pessoas e as ONGs. É a oportunidade para que se inicie uma relação duradoura e uma filan-tropia mais comprometida e não sazonal.

Pensando tanto nas doações de fim de ano, como nas possíveis consequências mais duradouras delas, seguem algumas dicas.

Dicas para sua doação

de fim de anoFazer o bem sem olhar a quem por InstItuto AzzI

Só doe o que prestaSe você acha que alguma roupa, móvel ou brinquedo não está em estado bom o suficiente para você ou seus filhos, então não estará em bom estado para qualquer outra pessoa. Ok, é possível que um preciosismo nosso de pequenos arranhões, ou tecido gasto que nos dá vontade de já comprar um novo, talvez não incomode tanto outra família. Mas há limites. É muita cara de pau achar que se está fazendo o bem doando uma boneca sem uma perna ou uma cadeira sem o assento. Doação não é reciclagem. Você deve praticar ambos, mas não ao mesmo tempo.

Continue se interessando e, por que não, doandoAs quinquilharias da casa diminuem, o fim de ano passa e você volta a pensar no assunto somente quando tiver uma nova pilha de roupas usadas e brinquedos abandonados, no ano que vem. Não dessa vez! Começar a conhecer a ONG antes de doar ajuda a manter seu interesse nela depois de doar. Não é só uma questão de saber como estão usando suas doações, mas sim de saber como você pode continuar ajudando. Você já sabe o que a ONG faz, como faz, como tratou você e suas doações. Se foi tudo bem, porque fechar essa porta por um ano? Acompanhe as notícias da ONG se ela tiver site ou newsletter. E, se está tudo indo bem, por que não iniciar uma doação regular, mensal, mesmo que pequena? E ir acompanhando cada vez mais de perto a transformação que a organização vai causando.

Pronto. Seguindo esses passos você fez uma doação bem feita e possivelmente começou uma relação duradoura e mais prolífica do que uma simples expedição anual de coisas velhas. Filantropia é relacionamento. É ajudar o outro de forma consciente, dedicada. A satisfação obtida de uma relação contínua é saudável, é incomparavelmente maior

que aquela fugaz sensação do fim de ano. A sensação de uma criança ao ganhar um presente se perde na irrelevância, se comparada à sensação dessa mesma criança em receber uma palavra de carinho todos os dias. É parecido com o que você vai sentir ao se envolver com uma organização na qual você confia, acredita, e compartilha a paixão.

1 Saiba para quem e por que você está doandoPrimeiro, tente conhecer e entender a organização que irá receber suas doações. Entenda sua missão, seus projetos, suas propostas. Algumas pessoas fazem doações e não sabem nem o nome de quem recebeu. Isso não é doação, é “se livrar das coisas antes que junte barata”. Doação é uma relação, deve envolver dois lados. Não é exagero querer entender o trabalho que uma organização faz, nem o modo que ela vai usar sua doação, se ela vai colocar em um bazar para vender e arrecadar fundos, se ela vai ser dada diretamente para famílias que precisam, se ela vai ser usada na pró-pria ONG. É importante saber para poder ajudar mais e melhor. Você vai descobrindo o que serve para cada fim, para cada organização e vai ficar mais satisfeito em ajudar sabendo como está ajudando. E, claro, é o primeiro passo para um maior envolvimento.

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Para melhor atender seus pacientes, a Santa Casa de Piracicaba lançou um projeto que incentiva a iniciativa privada

a ajudar na reestruturação de suas acomodaçõesPor Isabel barros

Fundada em 1854, a Santa Casa de Piracicaba segue o modelo dos tradicionais hospitais de misericórdia trazidos ao Brasil pelos portugueses.

Hoje, com mais de 150 anos de história, uma das 440 Santas Casas do País só tem a comemorar: sua iniciativa Adote um Quarto do SUS promete melhorar os cerca de 950 atendimentos mensais realizados pelo sistema de saúde. Há um ano, empresas privadas e pessoas físicas podem adotar um dos 72 quartos que o hospital disponibiliza para esses atendimentos para total reestruturação. “A Santa Casa é uma instituição filantrópica que pertence à comunidade e a campanha abre a perspectiva de estreitar os laços com essa comu-nidade, contando com o apoio e respaldo de pessoas e empresas conscientes da importância do trabalho que a instituição realiza”, diz Adilson Zampieri, o provedor da Santa Casa.

A ideia, segundo Nilma Moratori, do Departamento de Comunicação, não é inovadora, já foi utilizada por outras Santas Casas, como a de Porto Alegre, mas permite à iniciativa privada aumentar sua responsabilidade social. “Um ambiente hospitalar mais confortável e acolhedor reforça a proposta de humanização da assistência defen-dida pelo hospital”, enfatiza Zampieri.

A experiência não mente. “A gente se sente mais valori-zado”, fala Juarez Esteves Viana, 53 anos, paciente que já teve a sorte de ser recebido em um dos novos quar-tos. Dos 72 quartos postos para “adoção”, 28 já estão em boas mãos. E o melhor: sete já foram totalmente reestruturados. A reforma de cada um está orçada em R$ 30 mil e as melhorias vão desde estruturais, troca de pisos e pintura até novos móveis e televisores de plasma 32 polegadas. Tudo padronizado. “Tudo estava bem diferente, tinha até uma TV boa pra gente se distrair um pouco. A pintura é mais clara e tem tela de proteção na janela”, conta o paciente. Outras mudanças como a iluminação e a cama elétrica, que amplia a autonomia do paciente, ajudam também a equipe médica.

Quem entra no projeto ganha uma placa com seu nome fixado na entrada do quarto. Entre os contribuintes está a Lindenberg. “Estamos muito felizes com a oportunidade de podermos contribuir com um hospital tão importante e tradicional como é a Santa Casa em Piracicaba”, afirma Adolpho Lindenberg Filho, diretor da construtora.

Para ser um doador e ajudar a melhorar os quase 12 mil atendimentos anuais da Santa Casa pelo SUS, participe: tel. (19) 3417-5001.

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Rua Leopoldo Couto de Magalhães Jr., 695Itaim Bibi - SP

Entre as Ruas Clodomiro Amazonas e Profo Atílio Innocenti

Informações: (11) 3467-2336www.leopoldo695.com.br

Obras em andamentO

Previsão de entrega:2o semestre de 2013

Projeto e ConstruçãoIncorporaçãoVendas

Incorporação registrada na data de 06/10/2010 sob R.05 na matr. 179.622 do 4º CRI de São Paulo. Delforte Empreendimentos Imobiliários S.A. – Creci J19971; Acer Consultores em Imóveis S.A. – Creci 19368J; Frema Consultoria Imobiliária S.A.Creci 497J – Av. Indianópolis, 618 – Cep: 04062-001 – São Paulo – SP; – Tel.: (11) 5586.5600 www.brasilbrokers.com.br. *Os serviços serão oferecidos em formato pay-per-use.

Serviços Pay-per-use:

• Internet banda larga

• Baby sitter • Pet Care • Buffet

• Lavanderia • Aula particular de idiomas

• Café da manhã • Serviço de diaristas

• TV a cabo • Personal Trainer

60, 75, 92 e 140 m2

1 ou 2 suítes, 2 vagas

As melhores opções de comércio, serviços e lazer estão aqui.

Pers

pect

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Confira o percentual de evolução das obras Lindenberg

Maria Eugênia

Acompanhe as obras Lindenberg em detalhes pelo site www.lindenberg.com.br

StAtuS dAS ObrAS

* mês referência: outubro/2012

Royale Tresor

rESidEnciAL

Santo André

37%

Trend Paulista OfficescOMErciAL

Paraíso

40%

Leopoldo 695

rESidEnciAL

itaim bibi

40%

Reserva Espaço Cerâmica

rESidEnciAL

São caetano

52%

Premier Espaço Cerâmica

rESidEnciAL

São caetano

66%

Win Work Santos

cOMErciAL Santos

61%

Design

cOMErciAL

Santo Amaro

46%

Connection

rESidEnciAL

brooklin

18%

Spettacolo

tatuapé

61%

Dot Home e Office

campinas

52%

LindenbergTimborilrESidEnciAL

Piracicaba

1%

Rua Carlos Petit, 307 (continuação da Rua França Pinto) - Vila Mariana - São Paulo

Informações: (11) 2305-4606

www.petit307.com.br

Construção:Financiamento:Intermediação: Incorporação:

Caixilhos de grande aberturapermitindo maior integração

entre living e terraço gourmet

Parque da Aclimação

Integração entre terraço e cozinha

Foto do terraço do apartamento decorado

OBRAS INICIADAS

2 dorms. 1 suíte 2 vagas

A melhor vista da Vila Mariana com o requinte e conforto de um Adolpho Lindenberg.

73 m2

Memorial de incorporação registrado sob nº R01 com data de 31/05/2012, na matrícula 112.647 do 1º O� cial do Registro de Imóveis de São Paulo. LPS BRASIl - CONSULTORIA DE IMÓVEIS S.A. Rua Estados Unidos, 1.971 - Jardim América - CEP 01427-002São Paulo-SP - Tel.: (11) 3067-0000 - www.lopes.com.br - CRECI/SP nº. J-19585. **Automação: fechadura biométrica Fast Life será entregue aos proprietários. Também será oferecido como opção de kit o acionamento remoto de persianas.

Decoração meramente ilustrativa.

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