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LÍNGUA, IDENTIDADE E CULTURA: CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DA LÍNGUA TERENA NA ESCOLA SULIVAN SILVESTRE OLIVEIRA – TUMUNE KALIVONO Yaisa Melina de Araújo Custódio 1 Valdir Aragão do Nascimento 2 RESUMO: O artigo em questão aborda o ensino de língua terena na escola Sulivan Silvestre Oliveira, escola que não se caracteriza por ser uma escola indígena. Os objetivos principais da produção desse artigo foram: i) compreender o porquê da implantação do ensino de língua terena na escola Sulivan Silvestre; ii) como o professor prepara as suas aulas, já que não existe material didático elaborado para esse fim; iii) e como, na opinião dos professores, o aluno indígena e o não indígena enxerga o ensino da língua na escola em questão. Os métodos aqui adotados para a realização do trabalho foram: análise bibliográfica sobre os Terena, levando em consideração os aspectos relevantes atinentes ao uso da língua terena para seus falantes; entrevistas com o professor da língua terena e alunos – entrevistas realizadas através de formulários com questões semiestruturadas e livres. O referencial teórico adotado é interdisciplinar, tributário das áreas de Letras/Linguística e Antropologia Indígena, especificamente os textos e teorias voltados ao ensino da língua terena e à relevância desta como instrumento de valorização cultural e autoidentificação identitária. A conclusão a que chegou o trabalho aqui exposto em relação ao ensino/aprendizado da língua terena na escola em questão é que este não se efetiva. Em verdade, a implantação da disciplina na grade da escola não passa de falsa propaganda dos governos do estado de Mato Grosso do Sul em relação à preservação da cultura dos povos indígenas que aqui se localizam. Inserir a disciplina de língua terena em uma escola sem dar suporte logístico e humano é, no mínimo, uma irresponsabilidade e um desrespeito aos povos aos quais essas ações são dirigidas. Palavras-chave: Identidade; Cultura; Ensino; Língua Terena. Grupo De Trabalho 2. Povos Tradicionais, Autonomia E Direitos Humanos 1 Especialista em Antropologia e História dos Povos Indígenas SECADI/MEC/UFMS. Mestranda em Estudos de Linguagens UFMS. Graduação em Letras Português/Inglês/UCDB. 2 Doutorando em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste/PPGSD/UFMS – Bolsista Capes. Mestre em Antropologia Sociocultural/PPGAnt/UFGD. Bacharel em Ciências Sociais (Sociologia)/UFMS. Professor/orientador do Curso de Especialização em Antropologia e História dos Povos Indígenas SECADI/MEC/UFMS. Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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LÍNGUA, IDENTIDADE E CULTURA: CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DA LÍNGUA TERENA NA ESCOLA SULIVAN SILVESTRE OLIVEIRA –

TUMUNE KALIVONO

Yaisa Melina de Araújo Custódio1 Valdir Aragão do Nascimento2

RESUMO: O artigo em questão aborda o ensino de língua terena na escola Sulivan Silvestre Oliveira, escola que não se caracteriza por ser uma escola indígena. Os objetivos principais da produção desse artigo foram: i) compreender o porquê da implantação do ensino de língua terena na escola Sulivan Silvestre; ii) como o professor prepara as suas aulas, já que não existe material didático elaborado para esse fim; iii) e como, na opinião dos professores, o aluno indígena e o não indígena enxerga o ensino da língua na escola em questão. Os métodos aqui adotados para a realização do trabalho foram: análise bibliográfica sobre os Terena, levando em consideração os aspectos relevantes atinentes ao uso da língua terena para seus falantes; entrevistas com o professor da língua terena e alunos – entrevistas realizadas através de formulários com questões semiestruturadas e livres. O referencial teórico adotado é interdisciplinar, tributário das áreas de Letras/Linguística e Antropologia Indígena, especificamente os textos e teorias voltados ao ensino da língua terena e à relevância desta como instrumento de valorização cultural e autoidentificação identitária. A conclusão a que chegou o trabalho aqui exposto em relação ao ensino/aprendizado da língua terena na escola em questão é que este não se efetiva. Em verdade, a implantação da disciplina na grade da escola não passa de falsa propaganda dos governos do estado de Mato Grosso do Sul em relação à preservação da cultura dos povos indígenas que aqui se localizam. Inserir a disciplina de língua terena em uma escola sem dar suporte logístico e humano é, no mínimo, uma irresponsabilidade e um desrespeito aos povos aos quais essas ações são dirigidas. Palavras-chave: Identidade; Cultura; Ensino; Língua Terena. Grupo De Trabalho 2. Povos Tradicionais, Autonomia E Direitos Humanos

1 Especialista em Antropologia e História dos Povos Indígenas SECADI/MEC/UFMS. Mestranda em Estudos de Linguagens UFMS. Graduação em Letras Português/Inglês/UCDB. 2 Doutorando em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste/PPGSD/UFMS – Bolsista Capes. Mestre em Antropologia Sociocultural/PPGAnt/UFGD. Bacharel em Ciências Sociais (Sociologia)/UFMS. Professor/orientador do Curso de Especialização em Antropologia e História dos Povos Indígenas SECADI/MEC/UFMS.

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1 INTRODUÇÃO

É inegável o fato de que a língua de um povo é determinante na sua sobrevivência

enquanto nação, haja vista que é através dela que se transmitem conhecimentos; crenças;

valores; ideologias, dentre tantas outras categorias que uma determinada cultura encerra

em sua dinâmica existencial. Uma língua é muito mais que a mera junção de caracteres

linguísticos, ou a combinação entre significantes e significados, é também uma maneira

única de conceber a realidade. Desse modo, cada língua guarda em si um entendimento

particular do mundo (SAPIR, 2013).

Nesse sentido, preservar um idioma é também preservar uma forma sui generis de

concepção e representação do real como apreendido pelos sentidos. É, antes de tudo, uma

codificação elaborada para transmitir pensamentos e promover a interação entre os

indivíduos e, com isso, facilitar a comunicação humana, indispensável a qualquer

organização social3 (SAPIR, 2013; WHORF, 1952).

As culturas não são estáticas, mas dinâmicas. Assim, se transformam ao longo do

tempo, perdendo alguns elementos, ganhando outros, enfim, atendendo à logica interna e

externa que as situações de interação entre indivíduos e povos oportunizam. A língua é

patrimônio cultural de todos os membros de uma dada sociedade, mas não pertence a

nenhum deles de forma particular (WHORF, 1952; HUMBOLDT, 1972; 2006).

Diante da importância da língua na constituição sociocultural e identitária do povo

terena, e da constante desvalorização desse idioma por parte dos seus próprios falantes, o

artigo em questão aborda a problemática que envolve o tema do ensino/aprendizado da

língua terena nas escolas indígenas do estado de Mato Grosso do Sul, tomando como

exemplo a Escola Municipal Sulivan Silvestre Oliveira.

Cada escola tem suas particularidades, portanto, a escolha da Escola Sulivan

Silvestre como objeto desse trabalho não significa que o que nela for constato a respeito do

ensino/aprendizado é valido para todas as outras escolas indígenas, até mesmo porque sua

regulamentação não a define como tal. Assim, opiniões de professores podem divergir dos

3 As contribuições teóricas de Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf ficaram conhecidas pelas denominações de a hipótese Sapir/Whorf e relativismo linguístico. Para mais informações, veja: CUNHA, Adam Fhelipe. A emergência da hipótese do relativismo linguístico em Edward Sapir (1884-1939). 2012. 211 f. Dissertação (Mestrado em Linguística e Semiótica) – Universidade de São Paulo/USP, São Paulo, 2012. Disponível em: www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde.../2012_AdanPhelipeCunha.pdf Acesso em: 25 fev. 2017.

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dados colhidos em outras pesquisas, o que não diminui a relevância de nenhum deles, são

somente diferentes faces de um fenômeno social.

No entanto, não se buscou aqui verdades universais, mas o delineamento de

formações discursivas válidas sobre o ensino/aprendizado da língua terena em escolas

indígenas e não indígenas. Observamos, baseados em Foucault (1987, p. 135), que um

discurso “[...] é um conjunto de enunciados que se apoiam na mesma formação

discursiva”. Portanto, como observa Porto (2012), é nesse espaço de discursividade que, de

maneira consciente ou não, outras influências, advindas de outras vozes, podem estruturar

em termos inteligíveis a voz desse sujeito; vozes estas que Authier-Revuz (1990) denomina

de “interdiscurso”, “[...] isto é, vozes outras, de outras instâncias de poder, de outros

tempos, que entram no interjogo discursivo pela voz do sujeito identificado, como poder de

fala, de conhecimento.” (PORTO, 2012, p. 28).

2 LÍNGUA, SOCIEDADE E CULTURA ENTRE OS TERENA

A respeito da etnia terena4, o que se sabe é que são o único subgrupo remanescente

da nação Guaná no Brasil, pertencente ao tronco linguístico Aruak. De acordo com a

historiografia5, o povo terena cruzou o Rio Paraguai em meados do século XVIII, por meio

de várias ondas migratórias. Vindos do Chaco paraguaio/boliviano, a mítica região

denominada de Êxiva (Chaco) na história oral terena, tinham como destino à epoca o atual

estado de Mato Grosso do Sul. O grupo à época não era homegêneo, sendo constituído por

Guaná (denominados pelos cronistas de Xané) os Layana, Kinikinaua e Exoaladi, 4 A convenção da ABA de 1953 decidiu que a grafia dos nomes de etnias indígenas deve ser feita com inicial maiúscula, sendo facultativo o uso dela quando tomados como adjetivos. Respeitou-se aqui as diretrizes da convenção, então os nomes das etnias aparecem nesse texto grafados com inicial maiúscula, exceto aquelas em que o nome da etnia funciona como adjetivo. Exemplo: Os Terena; os Xavante; mas o povo terena; o povo xavante; a cultura terena, a cultura xavante. Cf.: ABA (Associação Brasileira de Antropologia) Convenção para a grafia dos nomes tribais. Revista de antropologia, São Paulo: USP, ano 2, número 2, 1954. Disponível em: http://www.juliomelatti.pro.br/notas/n-cgnt.pdf Acesso em 22 jun. 2017. 5 Sobre algumas contribuições sobre a história do povo terena, vide: (1) OLIVEIRA. Roberto Cardoso de. Urbanização e Tribalismo: A integração dos Índios Terena numa sociedade de classes. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. (2) OLIVEIRA. Roberto Cardoso de. O processo de assimilação dos Terena. Museu Nacional. Rio de Janeiro, 1960. (3) PEREIRA, Levi Marques. Os Terena de Buriti: formas organizacionais, territorialização e representação da identidade étnica. Dourados: UFGD, 2009. (4) GARCIA, Adilson de Campos. A participação dos índios Guaná no processo de desenvolvimento econômico do Sul de Mato Grosso (1845-1930). 2008. 145f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, MS, 2008. (5) CARVALHO, Edgar de Assis. As alternativas dos vencidos: Índios Terena no Estado de São Paulo. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1997. (6) ALTENFELDER SILVA, Fernando. Mudança Cultural dos Terena. Revista do museu Paulista. São Paulo, n.s, v3, 1946.

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atualmente todos indistintamente reconhecidos sob a generalização nominal de terena

(EREMITES DE OLIVEIRA; PEREIRA, 2007).

A língua terena, da família Aruak, é utilizada por todos aqueles indivíduos que

atualmente se reconhecem, e são reconhecidos, como Terena. No entanto, sua utilização

não é unânime nem no conteúdo nem na forma, tendo frequência bastante variada de uma

aldeia para outra ou mesmo em diferentes territórios. Isso fica claro quando se observa o

uso da língua terna em Buriti e em Nioaque, onde poucos fazem uso desse idioma.

Situação bastante diferente da aldeia Cachoeirinha, em que existem jovens que conhecem

do idioma português apenas rudimentos, comunicam-se em sua grande maioria na sua

língua materna: terena (LADEIRA, 2001).

O Terena pode ser entendido como um povo bilíngue, haja vista o constante contato

que esse povo teve com a sociedade envolvente durante sua trajetória histórica e

sociocultural (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1968; 1976; FERREIRA, 2007). O bilinguismo

aqui aduzido e presente em várias sociedade indígena em todo o país, caso também dos

Terena, não é aquele cujo entendimento leva em questão o domínio total e absoluto da

língua. O Terena fala e entende o português, mas raramente tem domínio sobre os códigos

de escrita constantes da gramática normativa da língua portuguesa (ESPÍNDOLA, 2014).

Contudo, não uma hierarquização entre oralidade e escrita, dado que a segunda é derivada

da primeira e esta perpetua e significa uma interpretação do mundo para além dos

indivíduos, ou seja: “A língua é um sistema do qual todas as partes podem e devem ser

consideradas em sua solidariedade sincrônica.” (SAUSURRE, 2006, p. 102).

O bilinguismo terena tem ainda particularidades sociológicas, posto que se

distingue da conceituação adotada pelas sociedades não indígenas; sendo entendido como:

[...] uma realidade social em que a distinção entre uma língua "mãe" (por suposto, indígena) e uma língua "de contato" ou "de adoção" (o português, no caso) não tem sentido sociológico. [...] A língua 'materna' para os Terena não tem importância socializadora, no sentido de integrar o indivíduo em um mundo próprio, conceitualmente diferente do 'mundo dos brancos'. Podemos afirmar que seu uso está ligado a uma socialidade apenas afetiva. Em outras palavras, a língua terena não é usada nestas sociedades enquanto sinal diacrítico para afirmar sua diferença frente aos "brancos". Na verdade [...] os Terena têm orgulho de dominarem, inclusive por meio do uso da língua do purutuya [Homem Branco], a situação de contato com a sociedade nacional, e é este domínio que lhes permite continuar existindo enquanto um povo política e administrativamente autônomo (LADEIRA; AZANHA, 2004, p. 1 grifos no original).

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Mas o problema não se localiza somente em relação à língua portuguesa. A própria

língua terena não é conhecida em termos de sinais escritos por grande parte do povo terena.

Nos dias atuais se faz necessário ensinar a língua terena nas escolas, principalmente

aquelas sob a denominação de escola indígena. O idioma nativo vem sendo aos poucos

esquecido pelas novas gerações, que não veem utilidade para o aprendizado da língua na

atualidade (REIS; RODRIGUES; GOMES, 2016).

Por essa razão, os professores de língua terena que atuam na região de Mato Grosso

do Sul acreditam ser uma questão urgente o ensino/aprendizado do idioma, para que não se

percam os inúmeros conhecimentos que essa língua encerra em sua estrutura. Outro motivo

repousa na questão de afirmação identitária, haja vista que o idioma de um povo o

identifica diante das outras etnias e dos membros da sociedade envolvente.

Em que pese à importância do ensino/aprendizado do idioma terena, a tarefa não é

das mais fáceis, dado o nível de dificuldades encontrado no processo: escassez de material

didático6 preparado somente para a língua terena; desvalorização social do idioma por

parte de muitos jovens indígenas, dentre tantos outros empecilhos à realização do trabalho

em sala de aula. No caso específico do material didático, o depoimento de um professor

terena entrevistado por Porto confirma as dificuldades aduzidas:

Pesq. - O que que você acha que é o maior desafio a maior dificuldade pra trabalhar com a língua Terena na Escola, na sala de aula? SP10 - Eu posso responder... eu vejo a maior dificuldade em termo de sala de aula a questão do material... não tem o material didático próprio... sempre temos que tratar criando o dia-a-dia... os livros da sala de aula que vamos trabalhar o texto, não temos o conteúdos específicos pra essa disciplina...[..] até o próprio professor deixa de lado essa disciplina... posso falar por mim mesmo... muitas vezes eu até brinco com ele, vamos deixar o Terena um pouco... mas a gente analisando profundamente você está... a si próprio mesmo também, esta deixando de valorizar sua própria pessoa... e o grupo de professor pra nós trabalhar essa questão é difícil... aqui é difícil... porque até mesmo os... muita dificuldade... e é difícil sim a língua Terena, é difícil... e como a gente não tem esse... esse material tem que está sempre improvisando né... aí se torna difícil nesse ponto (PORTO, 2012, p. 175 grifos no original).

6 Em 2016 a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul/UEMS abriu vagas para o Curso de Especialização em Língua Terena. O curso de Especialização em Língua e Cultura Terena objetivou a capacitação de professores e a elaboração e desenvolvimento de projetos científicos no âmbito escolar, além de desenvolver gramáticas e dicionários pedagógicos da língua Terena, entre outros aspectos. Mais informações, vide: http://www.uems.br/dead/menu/2f0e236009a4e89951e1931fbb93a707 Acesso em 12 abr. 2017.

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Levando-se em consideração que a língua de um povo é um dos principais veículos

de manifestação e preservação de sua identidade, já que é por meio “[...] dela que a sua

comunidade repassa a sua cultura para os mais jovens, e é a língua que identifica uma

nação através do uso da sua própria língua materna, um povo sem língua é um povo sem

identidade.” (FIALHO, p. 77), é indubitável a necessidade de preservá-la. Mas não

engessada em si mesma, coisa impossível, já que como as culturas a língua é viva e se

transforma ao longo do seu processo histórico; mas como parte indissociável da

constituição sociocultural e psíquica de um povo. A identidade de um povo é algo formado

ao longo do tempo, sendo – em última análise – um processo sociocultural (HALL, 2006);

e a língua é – desse processo – o instrumento básico e indispensável.

Os professores terena sabem disso, reconhecem a importância da língua na

construção da identidade de um povo. Isso pode ser verificado na fala de um professor

terena entrevistado por Porto em 2012:

Pesq. - Professor, qual a importância da língua para você e qual a relação que você faz entre a língua e a identidade?

SP3 - É uma questão política... de sobrevivência... porque pra você sobreviver você precisa trabalhar... e se você falava Terena e falava mal o português antigamente como é que você ia se comunicar com seu patrão... por mais que seja na fazenda e nas outras regiões... é um motivo muito forte... e hoje já tá... sabe.... valorizando mais as coisas da língua... o pessoal já tão voltando...[...]... pra ter uma identidade completa eu acredito que a língua tá no meio da identidade... não só a língua... mas a cultura... a dança né... isso que eu acredito.... eu acredito que: que a língua faz parte da nossa identidade... É... como você vai responder a uma pessoa que tá pedindo pra você falar em Terena sendo que você não é um falante... então eu acho pra mim que a língua é muito importante... faz parte.... (PORTO, 2012, p. 163).

Desse modo, irremediavelmente associada à formação sociopsíquica e cultural dos

indivíduos, a língua e o universo infinito de suas possibilidades constituem-se em

[...] um sistema social e não um sistema individual. Ela preexiste a nós. Não podemos, em qualquer sentido simples, ser seus autores. Falar uma língua não significa apenas expressar nossos pensamentos mais interiores e originais; significa também ativar a imensa gama de significados que já estão embutidos em nossa língua e em nossos sistemas culturais (SAUSSURE apud HALL, 2006, p. 40).

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O papel das escolas bilíngues é de extrema relevância, já que se configuram em

alternativa para perpetuar os idiomas indígenas, ameaçados de extinção, como observa

Potiguara.

O aprendizado das línguas indígenas na escola pode proteger e promover os usos dessas línguas minoritárias perante a língua portuguesa, sem que uma seja considerada superior à outra. Todas as línguas indígenas no Brasil se encontram em risco de extinção e seu uso nas escolas pode trazer a revitalização e modernização com a criação de novos léxicos, a adoção da escrita da língua em materiais didáticos e paradidáticos de autoria indígena e a produção de vídeos para valorização do uso oral [...] (POTIGUARA, 2017, p. 1).

No tocante à presença de indígenas, o estado de Mato Grosso do Sul é bastante

pródigo, tendo a segunda maior população do país com nove etnias que, conforme os dados

colhidos pelo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010),

contabilizavam em 2010 73.295 indivíduos; dos quais, 14.457 residentes em áreas urbanas,

sendo 5.898 em Campo Grande, capital do estado. Por conta desse número expressivo, os

indígenas são facilmente identificados nos perímetros urbanos e rurais das cidades do

estado, frequentando escolas públicas municipais, estaduais e cursos universitários (REIS;

RODRIGUES; GOMES, 2016).

Em relação à etnia terena, são 7948 falantes da língua nativa, segundo o IBGE

(2010), sendo a terceira língua mais falada por indígenas na região – a primeira é a

guarani-kaiowá (25687) seguida pela língua xavante (13248). Habitam os seguintes

territórios: Aldeinha; Araribá; Buritizinho; Dourados; Lalima; Nioaque; Pilade Rebuá;

Nossa Senhora de Fátima; Cachoeirinha; Buriti; Terena Gleba Iriri; Kadiwéu; Icatu;

Taunay/Ipegue; Água Limpa e Limão Verde.

O povo terena sofreu grandes mudanças devido ao intenso contato com a sociedade

envolvente. Dessas mudanças, ressaltam-se às atinentes à construção das casas; as

vestimentas; ao trato com a terra e à produção de alimentos. Mas apesar dessas

transformações, a língua terena ainda existe em muitas aldeias (SILVA, 2013).

O autor em questão acredita que a língua permaneceu inalterada. Em certa medida,

o raciocínio está correto. Por exemplo, a fala dos anciãos é ainda preservada em sua

essência, principalmente por aqueles que não falam a língua portuguesa. Mas os adultos

mais jovens não possuem o mesmo vocabulário e nem dominam com maestria as

construções linguístico/semânticas presentes no idioma terena, e boa parte dos

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adolescentes não conhece nem os rudimentos da língua, nem têm interesse em aprender

(REIS; RODRIGUES; GOMES, 2016).

A esse respeito, o professor de língua portuguesa e índio terena Aronaldo Júlio

afirma que a língua: “[...] mesmo falada em minha comunidade, perdeu muito de seu

contexto linguístico, extralinguístico, estrutural, e nos aspectos lexicais, fonéticos e

fonológicos, morfossintáticos e semânticos.”; em outras localidades, complementa, “como

Limão Verde, Ipegue, Buriti, por exemplo, está desaparecendo.” (JÚLIO; SOUZA. 2014,

p. 3).

Esse fato verificado por Aronaldo (2014) traz à baila questões referentes ao

letramento versus oralidade. Aqui, as dificuldades são facilmente perceptíveis,

notadamente aquelas voltadas ao letramento de indivíduos em uma segunda língua (o

português do Brasil), em que “[...] a primeira (a língua terena) se mantém numa relação de

adstrato, cujo povo, originalmente, advém de cultura ágrafa [...]” (REIS; RODRIGUES;

GOMES, 2016).

Em verdade, como observa o professor terena Ramão Alves, a língua tem sofrido

ao longo dos anos um processo de esquecimento

[...] Eu acho é o seguinte que não só a escola, por exemplo, onde eu trabalho, mas como a comunidade inteira precisa de buscá novamente a língua Terena que já tá no esquecimento há muito tempo. Olha, eu quando era criança em 1954 a aldeia inteirinha falava a língua Terena, aí a partir de 1965 pra cá aí já começou [...] A Língua Terena ir sumindo devagarzinho, com aquele povo antigo foram falecendo, e aí os novos pais não botaram em prática aquilo que era necessário pra nossa comunidade, hoje a gente tem que buscá, incentivá as crianças, talvez os pais, as mães prá pode levá os seus filhos a escola aprender falar a língua Terena (BROSTOLIM; CRUZ, 2010, p. 48).

Mas levar mães e pais aos bancos escolares é uma estratégia inviável nos dias

atuais, cheios de mil afazeres e obrigações de toda sorte. Soma-se a isso o fato de as

escolas indígenas não possuirem infraestrutura e logística para atender esse tipo de

demanda, haja vista as condições vigentes na educação no estado de Mato Grosso do Sul e

no país de forma geral. Outro fator preponderante é o crescente desinteresse no

aprendizado da língua por parte dos jovens terena.

Mas em algumas aldeias, a situação é completamente diferente. No entanto, o

interesse dos jovens no aprendizado da língua terena é fruto de outras ambições, não se

constituindo em uma preocupação com a preservação da identidade terena ou mesmo com

questões culturais. Assim, querem aprender o idioma para disputar uma vaga nos

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concursos públicos para professor de língua terena ou trabalhar na área de saúde, em que

também se exige domínio do idioma terena. Atesta a assertiva o depoimento colhido por

Porto sobre o tema:

[...] pra você fazer um concurso hoje você tem que ser falante... então o que que tá acontecendo.... nas aldeias onde os jovens... essas pessoas já não são falantes... estão procurando a voltar a falar o Terena por causa desta questão... entendeu... o último concurso que teve... teve a questão da língua Terena [...] concurso do município... pra professor... não só de professor... mas na área da saúde também... em todas as aldeias têm postos de saúde e tem ESCOLA... é só para os indígenas... quer dizer... tem vinte vagas para... para área indígena... então os vinte primeiros colocados ocupam essas vagas... mas pra você passar você tem que saber ler e escrever a língua Terena... então o que que tá acontecendo... os professores... as pessoas né... aconteceu um caso que vai ser contratado no hospital da cidade em Aquidauana... aí a candidata que passou... ela assim... num falava mais a língua Terena... aí foi chamada... nós queremos escutar se você fala realmente a língua Terena porque você vai tá acompanhando as pessoas que não sabem falar o português quando chegarem lá no hospital... o que que aconteceu... ela chegou falando o Terena... quer dizer... essas questões faz com que as pessoas voltem... sabe... a falar o Terena... antigamente era discriminado... as pessoas falavam assim... ah... é uma língua pobre... língua: sabe... da minoria... você tem que falar o português porque o português é mais chique... hoje não.. as pessoas... os mais jovens... as pessoas que moram aqui até as pessoas que moram na cidade eles não tão deixando de falar mais a língua Terena por causa disso... (PORTO, 2012, p. 164).

A questão da utilidade do aprendizado de um idioma é uma constante nos discursos

de jovens, tanto indígenas quanto não indígenas. Tal comportamento é fruto de uma

educação em que se educa o indivíduo apenas para o trabalho, para ocupar este ou aquele

espaço em um mercado cada vez mais exigente e menos generoso nas suas

contraprestações. As escolas públicas e particulares produzem em massa pessoas alienadas

em relação ao seu papel politico e social, mas exímios conhecedores do que é preciso

vender no Mercado de trabalho. Portanto, como assevera Bourdieu (1996, p. 4) “[…] toda

situação linguística funciona como um mercado onde se trocam coisas […]” Essas coisas

são bens simbólicos, que sob a égide da lógica do capital adquire valor econômico, aos

quais se atribui – quase sempre – mais prestígio do que o valor sociocultural.

A língua, assim considerada, é também uma mercadoria à venda, não pelo seu valor

sociocultural, pela enorme riqueza de sentidos e saberes que encerra em sua essência, não

pelas possibilidades de outras formas de conceber o mundo material e imaterial, ou ainda

como último instrumento de defesa e manutenção de identidade étnica; mas pelo preço e

prestígio social que seu domínio pode valer na realidade contemporânea da lógica

capitalista, em que não só o que é sólido desmancha no ar.

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2.1 O ENSINO DA LÍNGUA TERENA NA ESCOLA SULIVAN SILVESTRE OLIVEIRA TUMUNE - KALIVONO

São comuns em várias partes do país as narrativas de professores de responsáveis

por ministrar as disciplinas relacionadas ao aprendizado das línguas portuguesa, inglesa e

espanhola. A realidade, guardadas das devidas proporções, é a mesma em relação ao

aprendizado das línguas indígenas por parte de membros não falantes das etnias. O teor dos

discursos segue a linha dos fracos desempenhos alcançados por esses alunos no tocante à

apreensão e domínio do conteúdo das matérias supracitadas. Em verdade, professores se

surpreendem com inadequação das respostas às questões que formulam aos alunos, e estes,

por sua vez, alegam serem ininteligíveis – e por isso não cognoscíveis – os enunciados

elaborados para aferir suas competências linguísticas (SOUZA, 2012).

A linguística, mais especificamente a linguística aplicada, tem investigado esses

problemas em relação ao ensino/aprendizado, em que professores são acusados de não

saberem formular suas questões, para melhor transmitir os conteúdos programáticos de

suas disciplinas, e os alunos incompetentes nas suas tentativas de compreensão das normas

e sutilezas das línguas às quais se debruçam na esperança de aprendizado

(CONDEMARÍN, 2005; MOITA LOPES, 2005).

Nessa condição, digamos, complicada e aparentemente insolúvel, a linguística

aplicada desponta como a disciplina que tem o potencial de mudar essa situação, haja vista

que uma “[...] disciplina que se ocupa e, exclusivamente, de situações em que o homem usa

a língua para falar dela mesma.” Mas é necessário reconhecer que este ramo da ciência não

tem, sozinha, o poder de transformar a realidade do ensino/aprendizado no Brasil. Muitos

outros fatores entram em cena na tomada de decisão e na possibilidade de real efetivação

das sugestões elaboradas pelos teóricos da área.

Diante do exposto, é forçoso reconhecer as inúmeras influências de diversos setores

da realidade social do país, tais como a dinâmica por vezes insondável da classe política e

econômica brasileira; as divergências técnico-teóricas e ideológicas que perpassam o

exame e as decisões a respeito dos temas atinentes ao ensino/aprendizado de idiomas.

No caso do ensino/aprendizado da língua terena na Escola Municipal Sulivan

Silvestre Oliveira, a situação atinge um nível preocupante. Não há, segundo os professores

da escola, material didático preparado para facilitar as atividades pedagógicas de ensino, o

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que deixa sob a responsabilidade do professor engendrar os mecanismos que possibilitem a

apreensão dos rudimentos da língua terena por parte dos alunos.

Diante da falta de material, surgem algumas indagações: como os professores que

ministram a língua terena elaboram seus planos de aula, que material costumam utilizar? O

que eles acham da falta de material didático/pedagógico em relação ao ensino da língua

terena?

De acordo com as informações dos professores da escola, em entrevistas7 realizadas

com a autorização da diretora e com a anuência dos docentes, a falta de material é um fator

comprometedor para a aprendizagem, pois segundo o relato dos professores, os alunos

vieram a receber o kit escolar na escola apenas na semana passada, ou seja, na metade do

ano letivo. Eles afirmaram que os cadernos que os alunos têm, seja do ano anterior ou

porque as mães se esforçaram para comprar, são destinados primeiramente às outras

disciplinas.

Os planos de aula no tocante à disciplina de língua terena de são elaborados

juntamente com a ajuda da coordenadora e diretora, e a elas são solicitadas sugestões de

conteúdos a serem ministrados em sala de aula. Existe uma orientação curricular para as

disciplinas de Língua Terena e Arte e Cultura, que são os diferenciais na matriz curricular

da escola, no entanto, a coordenadora disse que até o final do ano pretende, juntamente

com o professor e ajuda da SEMED, reestruturar tais orientações, pois estas foram feitas

em ocasião de anos passados.

O responsável pela disciplina de língua terena, respondendo à questão “Como se dá

o ensino da língua terena na escola Escola Municipal Sulivan Silvestre Oliveira - Tumune

Kalivono?”, relatou que “Acontece do Pré ao 5º ano, com uma aula de 50min em cada

série por semana, contando com um professor Terena, que ministra as aulas para todas as

7 Entrevistas realizadas no dia 20 do mês de junho, de 2017, nas dependências da Escola Municipal Sulivan Silvestre Oliveira – Tumune Kalivono, situada na Aldeia Urbana Marçal de Souza, no bairro Tiradentes, em Campo Grande/MS. Foram entrevistados a coordenadora do pré ao 5º ano, dois alunos do 5º ano, um sendo indígena e o outro não, e o professor da disciplina de Língua Terena. As entrevistas ocorreram tanto na sala da coordenação, com a coordenadora, quanto na sala de reforço, espaço que a coordenadora nos concedeu para que se pudesse haver uma conversa sem ruídos com outros alunos e influência do ambiente externo. Conversas informais também ocorreram, tendo vários alunos contribuído com suas opiniões. As entrevistas foram registradas mediante a gravação de voz e também com o registro no caderno de campo, conforme diretrizes estabelecidas no período de orientação desse trabalho.

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turmas8.” [Entrevistado/professor n. 1]. No que diz respeito ao tempo, o professor acha

insuficiente:

O nível de aproveitamento dos alunos pra 50 min de aula por semana é muito baixa. Gastamos em media 10 min de acolhida mais 5min até chegar na sala de aula mais 5min de organização e chamada. Em media menos de meia hora. Assim não tem como render [Entrevistado/professor n. 1].

A opinião do professor de língua terena é compartilhada por professores de outras

disciplinas cujo objeto é o ensino de idiomas, a exemplo do inglês e do espanhol. Apesar

de não lecionarem essas línguas na escola Sulivan Silvestre, porque a escola não tem inglês

e espanhol na sua grade curricular, os professores que se dedicam a essas matérias, por

conta de suas formações acadêmicas, geralmente na área de Letras/Inglês ou

Letras/Espanhol, concordam que 50 minutos de aula distribuídos durante a semana é

insuficiente.

Em relação ao número e à formação dos professores que atuam na escola em tela,

tem-se que ao todo são 23 profissionais, sendo que apenas um deles é habilitado – por ser

falante da língua terena – a ministrar a disciplina. O professor não concluiu ainda sua

formação superior, cursa Letras na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul/UEMS,

mas é formado no antigo Magistério; e por isso recebe seu soldo como professor leigo. As

formações acadêmicas foram realizadas nas áreas de Letras, Pedagogia e Licenciatura

Indígena. Foi indicado à vaga pelo antigo titular do cargo, que também é da etnia terena e

atualmente está lotado na SEMED – Secretaria Municipal de Educação, na DED – Divisão

de Educação e Diversidade.

A escola Sulivan Silvestre Oliveira, que não é uma escola indígena, tem a disciplina

de língua terena em sua grade por cinta de sal localização, dentro da aldeia urbana Marçal

de Souza, que na ocasião de sua criação estava pronta para atender aos filhos dos índios

terena desaldeados que estavam em idade escolar (HEIMBACH, 2008).

Os alunos, quando inqueridos sobre a importância da disciplina língua terena,

afirmaram que “É importante pra poder falar com um indígena caso ele não saiba a língua

portuguesa” [Entrevistado/aluno não indígena n. 1]. A disciplina é obrigatória, mas o

8 As falas/depoimentos dos entrevistados serão apresentadas no texto entre aspas e em itálico, até três linhas; e com letra menor (fonte 11) e com recuo à esquerda de 3cm e espaço simples. O expediente é para destacar as falas dos interlocutores das citações de excertos de textos chamados ao manuscrito para corroborar, contestar e/ou contextualizar os argumentos expostos no discurso do autor deste artigo.

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professor não passa tarefa, não há avaliação com “provas”, apenas a disciplina no quadro e

algumas aulas na sala de informática para fazer pesquisa sobre a língua e os costumes. A

escola possui uma matriz curricular diferenciada em que estão inseridas as disciplinas de

Arte Cultura e Língua Terena.

O descaso do município de Campo Grande com o ensino/aprendizado da língua

terena na Escola Sulivan Silvestre Oliveira é patente. Segundo o professor que ministra a

disciplina, quando da realização de treinamentos e cursos de capacitação, a disciplina não é

contemplada, não havendo preocupação com aspectos técnico-metodológicos na

transmissão de conhecimentos concernentes ao ensino da língua terena.

Importante destacar que, a Semed oferece formação para professores em média 4x

ao ano. O professor de língua terena relatou que sempre que vai às formações não há

atendimento específico para sua disciplina. Disse também que, até ano passado, a Divisão

de Educação e Diversidade – DED oferecia 1x na semana oficina da língua para as escolas

que possuem crianças indígenas, como a escola João Candido de Souza, Frederico Soares,

Oliva Enciso e Rachid Saldanha Derzi, e que este ano não obteve continuidade.

Se o município decidiu pela opção de ensino de língua terena, deveria levar em

consideração as diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e fazê-lo com o

mínimo de respeito aos alunos, e não como mera propaganda de uma falsa preocupação

com as populações indígenas e suas culturas.

A propósito da menção aos Parâmetros Curriculares Nacionais, estes preconizam

que

O domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Por isso, ao ensiná-la, a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos, necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 2001, p. 21).

Perguntados a respeito do grau de dificuldade percebido pelos alunos em relação ao

aprendizado da língua terena, em comparação com o Inglês ou o espanhol, alguns não

souberam responder em razão de que nunca tiveram essas disciplinas como objeto de

estudo. A escola não disponibiliza, como já observado, as disciplinas de língua inglesa e

espanhola em sua grade. Fato que desagrada a maioria dos alunos com quem se

estabeleceu relação durante o trabalho de campo.

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Os alunos disseram que gostariam de aprender inglês e/ou espanhol, afirmaram

categoricamente que trocariam – caso lhes fosse facultado escolher – as aulas de língua

terena por aulas de inglês e/ou espanhol. A assertiva não advém somente de alunos não

indígenas. Discentes indígenas, em sua maioria da etnia terena, também alegaram que, se

pudessem escolher, preferiam estudar outras línguas, como as mencionadas.

Nesse sentido, chama atenção a importância do contato direto e cotidiano com a

língua que se quer aprender, não importa qual idioma seja, se não houver continuidade,

exercício diário no uso da língua em suas formas clássicas: falada, escrita, e ouvida, a

empreitada fica comprometida e o aprendizado muito mais difícil de ser alcançado. Face à

ausência de referenciais diários e frequentes no que respeito à língua terena, dado que

distante dos bancos escolares o contato com falantes da língua terena não é constante, o

aprendizado da língua não se realiza; já que este só é realmente apreendido em todas as

suas formas se e quando “[...] o aluno encontra a relação com a sua língua materna e sua

realidade.” (AOKI, 2013, p. 7).

O aprendizado da língua terena não é levado a sério pela maioria dos alunos, já que,

como alegaram, “ninguém reprova, então a gente nem estuda”. A disciplina só é objeto de

atenção dos discentes quando a realização de alguma atividade está associada a pontos que

serão destinados a outras matérias. O desprestígio em relação à língua terena na Escola

Sulivan Silvestre Oliveira também atinge o professor responsável por ministrá-la: quando

há reunião de pais, os outros professores têm sala para atender e conversar com os pais,

algo que não acontece com ele.

3 ANÁLISE DO DISCURSO DOS ENTREVISTADOS

O discurso é, em última análise, um constructo elaborado no contexto sociocultural

no qual se localizam os indivíduos, assim sendo, consiste em uma construção linguística

intrinsecamente associada à dinâmica dialética da realidade que a produz. Em outras

palavras, as idiossincrasias e as ideologias emanadas pelos sentidos do discurso são

determinadas, de maneira direta, pelo contexto sociocultural e político no qual estão

inseridos seus autores. O discurso é, assim, produto das inúmeras relações estabelecidas

entre os indivíduos e a estrutura social que os normatiza (FOUCAULT, 1987).

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A propósito da menção à ideologia, Pêcheux a considera a matriz por excelência do

sentido, em que as palavras, expressões, proposições “[...] mudam de sentido segundo as

posições sustentadas por aqueles que as empregam, o quer dizer que elas adquirem seu

sentido em referência a essas posições, isto é em relação às formações ideológicas.”

(PÊCHEUX, 1995, p. 160).

Tomando como partida o exame apurado dos vários aspectos que correspondem às

estruturas discursivas, obtém-se sua característica mais relevante e significativa: o sentido.

Mas não um sentido marcado pela fixidez dos elementos que o compõem, mas sim um

sentido que se expressa e se localiza na sua ordem de emissão e pelos conteúdos que

perfazem e o constituem.

As razões de os sentidos oriundos dos discursos não serem fixas, enquistadas em si

mesma, é que estes funcionam a partir de determinantes inseridos pelo contexto, pela

estética, pela ordem do discurso e pela sua forma de construção. Desse modo, o sentido do

discurso é dotado de plasticidade conceitual, haja vista sua constante abertura às inúmeras

possibilidades de interpretação das mensagens por parte de seus receptores.

Os discursos veiculados pelos entrevistados na escola Sulivan Silvestre Oliveira

localizam-se nessas esferas de sentido, são tributários da realidade e das experiências

particulares e coletivas desses sujeitos. Traduzem, dessa maneira, a realidade como esta se

lhes apresenta aos sentidos, sempre levando-se em conta os aspectos idiossincráticos e

ideológicos de suas posições.

Não se apresentam nos discursos dos interlocutores o aspecto eminentemente

político das condições a que são submetidos os profissionais e alunos no processo

cotidiano de ensino/aprendizado da língua terena na escola em tela. As reclamações não

mencionam as estruturas político-oligárquicas e clientelistas que vicejam na forma de fazer

política no estado de Mato Grosso do Sul. A análise que surge das entrevistas e da

verificação in loco da situação da educação, especificamente o ensino aprendizado da

língua terena, é bastante negativa, dado a falência dos propósitos preconizados pelos PCNs

no Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino/aprendizado da língua terena na Escola Municipal Sulivan Silvestre está

muito distante de alcançar seus objetivos. Não há preocupação por parte do município de

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Campo Grande com o real domínio da língua terena, seja por alunos indígenas ou não

indígenas. Existe apenas preocupação, de parte dos gestores da educação do município de

Campo Grande, em parecer preocupados com a cultura indígena e com a ameaça da perda

de seu idioma materno.

Atesta a afirmação o crescente descaso com a educação em todas as esferas de

governo, cortes contínuos de orçamento; pouco ou nenhum investimento efetivo na

formação continuada de professores; salários defasados em relação a outras profissões de

nível superior, dentre outros fatores.

O trabalho aqui desenvolvido teve como um dos objetivos principais compreender

o porquê da implantação do ensino de língua terena na escola Sulivan Silvestre; a resposta

de que a razão reside no fato de a escola se localizar em aldeia urbana é aceitável do ponto

de vista do discurso político enquanto estratégia de marketing de imagem.

Durante a realização da pesquisa, constatou-se a inviabilidade do ensino e do

aprendizado da língua terena na escola em questão, isso porque não há investimentos do

estado e do município no que tange ao ensino de línguas na escola em análise. Em verdade,

haja vista o fraco desempenho do povo brasileiro no domínio de idiomas, a falta de

preocupação se estende ao governo federal e aos prepostos que respondem pelos seus

ministérios, não só do governo atual, mas de diversos outros ao longo da história do país.

A disciplina de língua terena não conta com suporte pedagógico para suas

atividades, por não ser obrigatória, os alunos não se importam com a apreensão dos

conteúdos referentes à matéria; não desenvolvem as atividades que lhe são solicitadas a

não quando estas estão vinculadas a outras disciplinas e sua realização lhes permite a

permuta de pontos entre elas.

Não existe, a bem da verdade, interesse em aprender a língua terena por parte dos

alunos, nem indígenas nem não indígenas. Isso porque desconhecem a importância do

domínio do idioma para a preservação de sua identidade indígena, para a manutenção de

sua cultura e modos de vida. Cultura e modos de vida que os mais jovens não querem

preservar, a não ser se isso lhes trouxer alguma vantagem nas disputas por espaços de

trabalho na sociedade envolvente.

A imposição de apenas um idioma na escola, em detrimento de outros cuja

preferência é facilmente identificável na fala dos entrevistados, pelas razões já

apresentadas, é demonstração de insensibilidade política e ignorância cultural. Decisão

tomada de maneira arbitrária, sem consulta prévia aos jovens, maiores interessados no

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tema, só atesta o caráter antidemocrático dos grupos político-partidários que têm

governado o estado e o município de Campo Grande nos últimos anos.

REFERÊNCIAS AOKI, N. P. P.. Educação Escolar Indígena: Aquisição da Língua Inglesa pelos Alunos Apinayé de São José e Mariazinha. 2013. 169 f. (Mestrado em Língua e Literatura) – Universidade Federal do Tocantis/UFT, Araguaína, Tocantins, 2013. Disponível em http://download.uft.edu.br/?d=9342604c-988c-4dd4-850d-16bc73ce433a;1.0:Ana%20Paula_Aoki_2013.pdf Acesso 25 jun. 2017. BITTENCOURT, C. M.; LADEIRA, M. E. A história do Povo Terena. Brasília: MEC, 2000. BOURDIEU, P. Economia das trocas simbólicas: o que falar quer dizer. São Paulo: Edusp, 1996. BROSTOLIN, M. R.; CRUZ, S. F. Ética e educação indígena: reflexões sobre os sentidos do aprender num contexto cultural diferenciado. Constr. psicopedag., São Paulo , v. 18, n. 16, p. 45-54, jun. 2010 . Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-69542010000100005 acesso em: 15 jun. 2017. CONDEMARÍN, Mabel. Avaliação Autêntica: um meio para melhorar as competências em linguagem e comunicação. Tradução Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2005. EREMITES DE OLIVEIRA. Jorge; PEREIRA, Levi Marques. “Duas no pé e uma na bunda”: da participação Terena na guerra entre o Paraguai e a Tríplice Aliança à luta pela ampliação dos limites da Terra Indigena Buriti. Revista Eletrônica História em Reflexão: v.1 n. 2 – Universidade Federal da Grande Dourados/MS – UFGD – Dourados Jul/Dez 2007. Disponível em: www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/.../286 Acesso em: 21 mar. 2017. ESPÍNDOLA, S. Análise de um corpus de produção escrita em português por crianças e adultos indígenas bilíngues/monolíngues de Dourados/MS a partir da linguística de corpus. 2014. 170 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, Porto Alegre/RS, 2014. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/115818/000956323.pdf?sequence=1 Acesso em 17 fev. 2017. FERREIRA, A. C. Tutela e resistência indígena: etnografia e história das relações de poder entre os Terena e o Estado brasileiro. 2007. 410f. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2007. FIALHO, S. F. O Percurso histórico da língua e cultura Terena na aldeia Ipegue/Aquidauana/Ms. 2010. 85 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade

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