LÍNGUA PORTUGUESA - Apostila para Provão

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LNGUA PORTUGUESA ENSINO MDIO

NDICEContedo 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 Pgs. Linguagem Literria....................................................................................... Figuras de Linguagem.................................................................................... Gneros Literrios.......................................................................................... Formas Literrias............................................................................................ Literatura........................................................................................................ Estilo............................................................................................................... Romantismo no Brasil.................................................................................... Antonio Gonalves Dias................................................................................. Jos de Alencar............................................................................................... O Realismo no Brasil..................................................................................... Machado de Assis........................................................................................... O Naturalismo................................................................................................ Aluzio de Azevedo........................................................................................ Pr-Modernismo............................................................................................. Monteiro Lobato............................................................................................. O Modernismo................................................................................................ Manoel Bandeira............................................................................................ Mrio de Andrade........................................................................................... Carlos Drummond de Andrade....................................................................... Ceclia Meireles.............................................................................................. Jorge Amado................................................................................................... Jos Lins do Rgo........................................................................................... Graciliano Ramos........................................................................................... rico Verssimo.............................................................................................. Clarice Lispector............................................................................................ Joo Cabral de Melo Neto.............................................................................. Tendncias Contemporneas.......................................................................... Lista de Obras para Leitura............................................................................ Textos para Interpretao............................................................................... Produo de Texto Dissertao................................................................... Gramtica Verbos Irregulares Exerccios ................................................ Concordncia Verbal...................................................................................... Concordncia Nominal................................................................................... Regncia Verbal............................................................................................. Palavras e Expresses que Apresentam Dificuldades.................................... Quadro de Resposta dos Exerccios............................................................... Bibliografia..................................................................................................... 03 03 04 05 06 06 07 08 09 09 10 10 10 11 11 12 14 15 16 17 19 20 19 20 24 24 26 29 30 38 43 48 50 52 55 60 63

A linguagem literria tem vrias funes ou finalidades, de acordo com as intenes do emissor (autor do texto ou da fala). Uma mesma palavra pode ter vrios sentidos, num texto ou numa fala, conforme o contexto em que se encontra. Observe: Levei uma fruta doce para o meu doce amor. Denotao Conotao

1.1- Figuras de Linguagem (resumo)H uma grande quantidade de figuras de linguagem, um uso da lngua que literrio exatamente porque foge s normas e torna mais rica a expressividade. H figuras de palavras, de construo e de pensamento. No levaremos em conta esta diviso. Destacaremos as mais decorrentes nos textos literrios. Metfora - A vida um combate. (Machado de Assis) Comparao - A vida como combate. Metonmia - Ganhar o po com o suor do rosto. (suor em vez de trabalho) Sinestesia - Aqueles dias de luz to mansa. (Mrio Quintana). Anttese - Desculpe-me por ter sido longo porque no tive tempo de ser breve. (Vieira) Prosopopia ou Personificao - As estrelinhas cantam como grilos... (Mrio Quintana) Onomatopia - Sino de Belm, bem-bem-bem/ Sino da Paixo, bate bo-bo-bo. (Manoel Bandeira). Aliterao - Vozes veladas veludosas vozes. (Cruz e Sousa). /z/, /v/. Assonncia - Minha terra tem palmeiras/ Onde canta o sabi. (Gonalves Dias) /a/. Hiprbole - Voc me faz morrer de rir. Ironia - Eis o grande esforo que fizeste: tiraste nota dois na prova. Eufemismo - Pedro passou desta para melhor. (Morreu) Perfrase - conheci a Cidade Maravilhosa. (Rio de Janeiro) Catacrese - O velho apoiou-se no brao da cadeira. (brao = parte do objeto) Pleonasmo - Com meus olhos curiosos, vi seu corpo pela primeira vez. Elipse - A me vestia uma roupa azul; a filha, uma roupa verde. (foi omitido o verbo "vestia" na segunda opo). 1.1 - Diga em que sentido foi empregada a palavra assinalada (denotativo ou conotativo). a) Ele o cabea da revoluo. b) Doa-lhe a cabea e nem o mdico descobria a causa. c) A margem esquerda do rio era coberta por densa floresta. d) Vivia margem da sociedade, fugindo de todos. e) Madame entregou as jias. f) Ela uma jia de menina.

1.2 - Identifique as figuras de linguagem dos perodos seguintes: a) O amor como um raio. (Djavan) b) O amor fogo que arde sem se ver. (Cames) c) No tinha teto para se abrigar. d) O luar amacia o mato sonolento. e) Estou esperando h um sculo, meu amor! f) O marceneiro consertou o p da mesa. g) Ela uma mulher da vida. h) O vento afagava carinhosamente os seus longos cabelos. i) Seu corao era um gelo. j) Foram servidos mais de trinta pratos. k) Pegou o carro e saiu voando estrada afora. l) O rei do futebol j no mais ministro. m) Quem muito quer, nada tem. n) O sol beijava seu corpo na areia da praia. Gneros so as diversas modalidades de expresso literria. Conforme as caractersticas predominantes dos contedos das obras literrias, elas podem ser classificadas em trs gneros: lrico, pico (narrativo) e dramtico.

2.1 Gnero LricoO gnero lrico quando predominam, na obra literria, os sentimentos e as emoes. O escritor revela o seu mundo interior, o seu modo prprio de pensar, de sentir e de interpretar o mundo, as pessoas, as coisas. Por esse motivo, o gnero lrico subjetivo. O gnero lrico aborda, geralmente, estes temas: Deus, o amor, o dio, a natureza, admirao, alegria, tristeza. A palavra lrico deriva de lira, instrumento musical usado pelos antigos gregos. Nessa poca, dava-se o nome de lrica cano entoada ao som da lira.

2.2 Gnero pico ou NarrativoDamos o nome de pico ou narrativo ao texto em que algum (o narrador) conta uma histria na qual h personagens que executam suas aes num determinado espao fsico durante certo tempo. O encadeamento dos fatos forma o enredo da narrativa. O texto narrativo pode ser escrito em verso ou em prosa.

2.3 Gnero DramticoO gnero dramtico um gnero representativo, isto , atores representam (encenam) um texto. Para dar vida e movimento ao texto, o gnero dramtico recorre a luzes, sons, cores, cenrios, vestimentas apropriadas, coreografias etc. As representaes teatrais apresentam cenas trgicas (tragdia) ou cmicas (comdia), geralmente com inteno de criticar certos costumes da sociedade ou a vida poltica. Observao Dificilmente uma obra se enquadra em apenas umgnero literrio. Os romances, porexemplo, apesar de narrativos (picos, portanto), esto cheios delirismo. Somente para voc diferenciar as formas literrias.

3.1 ProsaComo caracterizar a prosa? Prosa a forma de linguagem usada normalmente ao conversarmos, ao escrevermos uma carta, ao fazermos uma redao. Em prosa so escritos os trabalhos cientficos, as reportagens de jornal e revistas, os romances, as novelas, as histrias em quadrinhos, as mensagens dos anncios. Em prosa, ainda, contamos piada, damos recados e fazemos convites. A caracterstica mais notria de um texto escrito em prosa sua diviso em pargrafos. Pargrafos so partes do texto compostas de perodo, oraes ou frases que desenvolvem uma nica idia. Num texto, a cada idia diferente, acrescentada anterior para fazer o assunto progredir, deve tambm corresponder um pargrafo diferente. Um novo pargrafo deve sempre indicar um pensamento a mais. Por isso, na prosa, essencial o uso correto da pontuao e paragrafao para obtermos um texto que transmita nossas idias de modo correto, claro, coerente e agradvel de ler. A pontuao e a paragrafao vo tornar mais compreensveis para o leitor os dilogos entre as personagens, as descries, as narrativas e as exposies de idias em torno de determinado tema. (Ver texto Uma Vela para Dario, pg. 38)

3.2 VersoComo so os textos em verso? A simples apresentao dos textos em verso, ou poemas, permite sua imediata identificao. Cada linha de um poema um verso e cada bloco de versos forma uma estrofe. (Ver texto Poema de Sete Faces, pg. 36) A palavra literatura surgiu do latim littera (letra) e significa, hoje, a arte que se expressa atravs da escrita, explorando todas as suas potencialidades, todas as possibilidades dos signos lingsticos, dando-lhes um valor singular e combinando-os criativamente. Antigamente, no entanto, denominava-se "literatura" tudo que se referisse escrita, tanto que esse termo chegou a ser considerado sinnimo de gramtica. S a partir do sculo XVIII, esses conceitos se separam, tornando-se a gramtica "o ensino da lngua" e a literatura "a arte de se expressar livremente atravs da palavra, usando a imaginao". Literatura fico, inveno ourecriao de uma realidade, atravs de palavras. Em textos literrios procuramos diferenciar estilo individual ou estilo de poca.

4.1 Estilo individual o modo prprio e pessoal de cada um se expressar, de acordo com as possibilidades fornecidas pela linguagem que utiliza. No caso da literatura, a escolha da qual resulta o estilo individual feita entre as possibilidades fornecidas pelo vocabulrio, pela sintaxe, pela sonoridade, pelo ritmo da lngua.

4.2 Estilo de poca o conjunto de caractersticas semelhantes empregadas por vrios indivduos numa determinada poca. O estilo de um poca pode ser observado no comportamento, na maneira de vestir, nos costumes e, principalmente, na arte dessa poca.

4.31500

Estilos de poca no Brasil1601 1768Arcadismo

1836

1881

1893Simbolismo

1902

1922

Literatura de Barroco informao

Realismo/ Romantismo Naturalismo/Parnasianism o

PrModernismo Modernismo

I - A literatura brasileira ao longo do perodo colonial1. A literatura do descobrimento e dos primeiros tempos da colonizao. Sculo XVI. 2. Manifestaes da literatura barroca. Sculo XVII, desde 1601, com a publicao de Prosopopia, de Bento Teixeira, na primeira metade do sculo XVIII. 3. A literatura arcdica. Manifestaes pr-romnticas. Segunda metade do Sculo XVIII, a partir de 1768, com a publicao de Obras Poticas, de Cludio Manoel da Costa (alteraes profundas na situao brasileira e, conseqentemente, na literatura ocorrem com a chegada da famlia real, em 1808: tem incio o perodo em que j aconteceram manifestaes pr-romnticas).

II - A literatura brasileira aps a independncia1. O Romantismo (a partir da publicao de Suspiros Poticos e Saudades, de Gonalves de Magalhes, em 1836). 2. O Realismo e as tendncias paralelas (a partir da publicao de O Mulato, de Alusio Azevedo, em 1881, e Memrias Pstumas de Brs Cubas, de Machado de Assis). 3. O Simbolismo (a partir da publicao de Broquis e Missal, de Cruz e Souza, em 1893). 4. O Pr-Modernismo (a partir do incio do sculo, com a movimentao literria que divergia do parnasianismo de das tendncias de gostos dominantes na poca). 5. O Modernismo (desde a realizao da Semana da Arte Moderna, em 1922). 6. A nova literatura moderna da "dcada de 30" (desde a publicao, em 1928, de A Bagaceira, de Jos Amrico de Almeida) 7. O Ps-Modernismo (desde o surgimento da "gerao de 45" at o presente) Observao:Iniciaremos o estudo das Escolas Literriasa partir do Romantismo Comea o Romantismo no Brasil em 1836, com a publicao de Suspiros Poticos e Saudades, de Gonalves Magalhes. Aparece tambm nessa poca a revista Niteri, com idias romnticas de Gonalves Magalhes, Porto Alegre e Torres Homem. O Romantismo no Brasil abrange o perodo que vai de 1836 a 1881. Durante esse perodo de quase meio sculo dominaram as letras brasileiras o eu, o sentimentalismo, o nacionalismo, o indianismo e o liberalismo. A literatura romntica no Brasil apresentou vrias tendncias: a) o indianismo e o nacionalismo: valorizao do ndio, de nossa fauna e flora; b) o regionalismo (ou sertanismo), que aborda o nosso homem do interior, caracterizando a regio em que vive, com o seu folclore, seus costumes e tipos caractersticos; c) O chamado mal do sculo ou byronismo, marcado pela melancolia, tristeza, sentimento de morte, pessimismo, cansao da vida;

d) A realidade poltica e social (o abolicionismo, as lutas humanitria, sentimentos liberais, o poder agrrio); e) Os problemas urbanos surgidos com o relacionamento indstria-operrio, a corrupo e o materialismo.

5.1

Poesia

Trs geraes sucederam-se ao longo do Romantismo no Brasil. a) 1 Gerao Obras de temtica religiosa e mstica; poesia da natureza marcada por forte sentimento nacionalista. Gonalves de Magalhes Gonalves Dias b) 2 Gerao Obras que revelam acentuado individualismo e subjetivismo. a poesia da dvida, da desiluso, do negativismo diante da vida (mal do sculo). Os poetas dessa gerao tambm so chamados de byronianos, graas influncia neles exercida por Lorde Byron, poeta ingls que cultuou a temtica do amor e da morte. lvares de Azevedo Cassimiro de Abreu Junqueira Freire Fagundes Varela c) 3 Gerao (condoreira) O nome provm de condor, ave que voa a grandes altitudes. A poesia condoreira busca palavras de sentido vasto e elevado, de grande fora expressiva, traduzindo a idia de imensido e infinito. Temas de natureza social, como abolicionismo, inspiram seus autores. Castro Alves

5.2

Fico

A prosa de fico romntica foi constituda pelo romance, uma nova forma narrativa que entre ns apresentou as seguintes variantes: a) Romance Indianista: a natureza brasileira o cenrio desse tipo de romance que faz dos indgenas as personagens centrais da trama, geralmente fantasiosa e poetizada. Jos de Alencar b) Romance Urbano: ambientado na Corte do Rio de Janeiro, constituiu o registro da moral e dos bons costumes da sociedade burguesa do Segundo Imprio. Jos de Alencar Joaquim Manoel Macedo Manoel Antnio de Almeida (obra ambientada no Vice-Reinado) c) Romance Regionalista: surgido nos fins do Romantismo, retrata os costumes, as crenas, a linguagem e a geografia das diversas regies do pas. Jos de Alencar Bernardo Guimares Franklin Tvora Visconde de Taunay

d) Romance Histrico: encontra seus temas e personagens na sociedade fidalga dos tempos coloniais. Bandeirantes e aventureiros se destacavam na reconstituio imaginosa de nosso passado histrico. Jos de Alencar

5.3

Para voc conhecer

ANTONIO GONALVES DIAS (lirismo e indianismo) Estudou direito em Coimbra, leu os clssicos e os principais autores europeus, foi jornalista, professor do Colgio Dom Pedro Segundo, no Rio de Janeiro, pesquisou os costumes e a lngua dos ndios e foi um grande poeta romntico. Acham-se presentes em seus versos: O ambiente e a terra brasileira; As tradies, a valentia e a honra dos ndios; O amor lrico impulsivo e veemente, a saudade, a tristeza, a solido, a religiosidade. Obras: Primeiros Cantos, Segundos Cantos, ltimos Cantos, Sextilhas do Frei Anto, Os Timbiras, Dicionrio da Lngua Tupi etc. JOS DE ALENCAR Alencar considerado o maior romancista romntico de nossa literatura. Tem estilo potico, lrico, livre, muito pessoal. Seus romances trazem os aspectos histricos da formao do nosso povo, da nossa gente, com sua linguagem e seus costumes. O meio ambiente e a paisagem so valorizados e o ser humano aparece integrado neles. Seus romances abordavam vrios aspectos, podendo mesmo ser catalogados assim: a) romances indianistas, em que focaliza os primeiros donos do Brasil e seus contatos com a civilizao portuguesa colonizadora; b) romances histricos, em que aparece o nosso passado histrico, com aspectos coloniais e sentimento nativista c) romances regionalistas, em que aparecem aspectos regionais, como o folclore, os costumes, tipos tradicionais, as paisagens caractersticas; d) romances urbanos, em que se revela o meio social carioca do tempo do Segundo Reinado. Ele mostra o materialismo, a corrupo da alta sociedade da poca. Obras: 1- Romances indianistas: O Guarani, Iracema, Ubirajara. 2- Romances histricos: As Minas de Prata, A Guerra dos Mascates, Alfarrbios. 3- Romances regionalistas: O Gacho, o Sertanejo, o Tronco do Ip, Til. 4- Romances urbanos: Cinco Minutos, A Viuvinha, Diva, Lucola, Senhora, A Pata da Gazela, Sonhos d'Ouro, Encarnao. 5- Crnica: Ao Correr da Pena. 6- Poema: Os Filhos de Tup. 7- Teatro: Demnio Familiar, Verso e Reverso, As Asas de um Anjo, Me, O Jesuta.

O movimento literrio chamado Realismo teve incio no Brasil a partir da publicao de Memrias Pstumas de Brs Cubas, de Machado de Assis, em 1881. O Realismo brasileiro sofreu a influncia do Realismo francs. A nova mentalidade literria motivada pela ltimas conquistas da filosofia e das cincias, cujos representantes eram, ento, Augusto Comte (filsofo francs positivista), Charles Darwin (cientista ingls e evolucionista), Spender, Claude Bernard e outros. O Realismo surgiu como uma reao ao subjetivismo e ao individualismo e eu romnticos. Em seu lugar surgem o objetivismo e o impersonalismo do artista. A razo, a pesquisa, a cincia vm ocupar o lugar do sentimentalismo. Os realistas procuram retratar o homem e a sociedade a partir da observao do ambiente, dos costumes, das atitudes, dos comportamentos, procurando as causas dos fatos e fenmenos que abordam. MACHADO DE ASSIS Machado de Assis considerado o maior romancista brasileiro. A primeira fase da obra machadiana ainda se ressente dos traos do romantismo. Essa primeira fase vai at a publicao de Memrias Pstumas de Brs Cubas, em 1881. Machado de Assis sobressaiu no romance e no conto, gneros em que teve um desempenho magistral. Em sua obra, principalmente na segunda fase, revela o gosto pela anlise psicolgica dos personagens e a idealizao das causas mais profundas que motivam o comportamento humano. Transparece um tom de humorismo, ironia e pessimismo em relao natureza humana, que se deixa levar pelo egosmo, falsidade, jogo de interesses, segundas intenes. Suas obras da primeira fase so: a) Romances: Ressurreio, A Mo e a Luva, Helena, Iai Garcia. b) Contos: Contos Fluminenses, Histrias da Meia-Noite. c) Poesias: Crislidas, Falenas, Americanas. d) Teatro: Os Deuses da Casaca, O Protocolo, Queda que as Mulheres tm pelos Tolos, Quase Ministro, Caminho da Porta. So obras da segunda fase, na qual o autor chega maturidade literria e entra de fato no Realismo: a) Romances: Memrias Pstumas de Brs Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esa e Jac, Memorial de Aires. b) Contos: Papis Avulsos, Histrias sem Data, Relquias de Casa Velha, Pginas Recolhidas, Vrias Histrias. c) Crnica: A Semana. d) Poesia: Ocidentais. e) Crtica: crtica literria, crtica teatral.

6.1 O NaturalismoOs ideais do Realismo levados s ltimas conseqncias originaram o que chamamos de Naturalismo, que considera o ser humano um produto biolgico, profundamente marcado pelo meio ambiente, pela educao, pelas presses sociais e pela hereditariedade. Todos esses fatores determinam a sua condio, o seu comportamento. O escritor naturalista observa, estuda, segue o seu personagem de perto, para entender as causas do seu comportamento e chegar ao conhecimento objetivo dos fatos e situaes. O Mulato, de Alusio de Azevedo, publicado em 1881, foi o primeiro grande romance naturalista brasileiro. Os escritores brasileiros obedecem aos cnones dessa esttica. Alusio Azevedo, Adolfo Caminha, Ingls de Souza, Jlio Ribeiro juntaram os procedimentos realistas s convices cientficas. Abordando os aspectos da realidade com os olhos da razo e da cincia, negavam qualquer gratuidade

dos eventos. Interessava entender as leis que regem o mundo, a natureza (e no transcendncias, incapazes de explic-los, tampouco a teologia ou abstraes de qualquer espcie).

6.2 Para voc conhecerALUSIO DE AZEVEDO Alusio foi dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Escreveu muito, por necessidade econmica. Sua linguagem simples (usa muito a ordem direta da frase) torna-o comunicativo. Seus temas so os conflitos humanos, vistos luz dos princpios do naturalismo (o ser humano produto do meio, da educao, dos joguetes do destino). Suas obras principais so: O Mulato, O Cortio, Casa de Penso (consideradas suas obras-primas), O Homem, O Coruja, Uma Lgrima de Mulher, A Condessa Vsper, O Livro de uma Sogra, A Mortalha de Alzira. O Cortio foi levado s telas do cinema, sob a direo de Francisco Ramalho Jr., com a atriz Betty Faria, representando a personagem Rita Baiana. O Pr-Modernismo o perodo cultural que abrange as duas primeiras dcadas do sculo XX (Repblica Velha). Nele, vamos encontrar ainda escritores romnticos, parnasianos, realistas e simbolistas. Contudo, alguns poucos, desligados de escolas literrias, passaram a expor em suas obras uma viso crtica dos problemas brasileiros. Entre esses escritores, podemos apontar: 1. Euclides da Cunha, em sua obra Os Sertes, expe os problemas do homem do serto, a existncia de vrios Brasis que ainda no foram descobertos. 2. Graa Aranha, na obra Cana, aborda os problemas dos imigrantes europeus, especialmente os alemes. 3. Lima Barreto, numa linguagem simples, enfoca os problemas dos operrios do Rio de Janeiro, dos moradores dos subrbios e das favelas. Escreveu: Triste Fim de Policarpo Quaresma e Recordaes do Escrivo Isaas Caminha. 4. Monteiro Lobato, preocupado com o progresso do Brasil, faz-nos refletir sobre os problemas brasileiros, como a saudade, a instruo, a situao do caboclo etc. Escreveu, entre outras obras, Cidades Mortas, Urups, O Escndalo do Petrleo. Podemos ainda apontar alguns autores de destaque nesse perodo: Raul de Leoni, Augusto dos Anjos, Coelho Neto, Afrnio Peixoto, Joo Simes Lopes Neto, Alcides Maia, Afonso Arinos, Valdomiro Silveira, Hugo de Carvalho Ramos, Alberto Torres, Oliveira Viana, Farias Brito, Carlos Leat, Jackson de Figueiredo e Nestor Vitor.

7.1 Para voc conhecerMONTEIRO LOBATO (1882 - 1948) Aps ter sido fazendeiro por alguns anos, vende a fazenda, vem para So Paulo e entrega-se s atividades literrias. Como editor, fez campanhas nacionalistas, sobretudo a favor do petrleo, do ferro, da educao e da sade. Monteiro Lobato considerado o nosso maior escritor de literatura infanto-juvenil.

Obras: Urups, Problemas Vitais, Cidades Mortas, Idias de Jeca Tatu, Negrinha, A Onda Verde, O Macaco que se Fez Homem, Mundo da Lua, O Choque das Raas ou O Presidente Negro, Ferro, Amrica, O Escndalo do Petrleo, Reinaes de Narizinho, Emlia no Pas da Gramtica, Geografia de Dona Benta, O Saci, O Marqus de Rabic, Caadas de Pedrinho, Histrias de Tia Nastcia, Fbulas etc.

8.1 A SemanaNo dia 29 de janeiro de 1922, O Estado de S. Paulo noticiava o seguinte: Por iniciativa do festejadoescritor Sr. Graa Aranha, da Academia Brasileira de Letras, haver em So Paulouma "Semana de Arte Moderna", em quetomaro parte os artistas que, em nosso meio, representam as mais modernascorrentes artsticas". Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de So Paulo, realizou-se a histrica Semana, com recitais, conferncias, musicais e exposies. Vejamos como Manoel Bandeira reportou os acontecimentos importantes da Semana e seus desdobramentos: "Enchera-se cunha o TeatroMunicipal, os poetas deram ruidosos vaiados, mas sua ao continuou depois daSemana, nas pginas da revista Klaxon e outras que se foram sucedendo. Culminoua ousadia, degenerando em tumulto, quando no prprio seio da Academia Brasileirae com grande escndalo de seus confrades acadmicos, Graa Aranha proferiu em1924 um discurso inflamado, proclamandoque a fundao da Academia fora um 'equvoco e um erro'. Mas j que existia,acrescentava, 'que viva e se transforme', admitisse nela as coisas desta terrainforme, paradoxal, violenta, todas as foras ocultas do nosso caos"(...). O Romantismo (1836 - 1881), no sculo XIX; e O Modernismo (1922 - 1945), no sculo XX. Esse momento j havia sido preparado pelo Pr-Modernismo. A sucesso intempestiva das vanguardas europias difundiu pelo mundo seus manifestos e suas pretenses. A Semana de Arte Moderna foi o evento que assinalou oficialmente o incio do Modernismo brasileiro. No campo da literatura, surgiam Oswald e Mrio de Andrade; na pintura, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Cavalcante; na msica, Villa-Lobos; na escultura, Victor Brecheret; e na arquitetura, Antnio Moya. Antes dessa data, houve tentativas de inovao no plano formal, mas no com tanta fora. O Modernismo apresentou uma ruptura radical com os movimentos anteriores, desconhecendo desta vez Portugal, pura e simplesmente. O tema da nacionalidade voltou a ocupar o primeiro plano nas manifestaes artsticas. A transplantao e a importao cultural deveriam urgentemente ser revistas. Para tanto, o evento de 22 seria decisivo.

8.2 CaractersticasDada a natureza complexa e contraditria do Modernismo, no se podem apontar as caractersticas que, somadas, dem um quadro geral que defina esse movimento. possvel, porm, relacionar certos traos que, com diferentes combinaes, podem caracterizar este ou aquele texto modernista: Atitude irreverente em relao aos padres estabelecidos; Reao contra o passado, clssico e esttico; Temtica mais particular, individual e no tanto universal e genrica;

Preferncia pelo dinamismo e velocidade vitais; Busca o imprevisvel e do inslito; Absteno de sentimento fcil e falso; Comunicao direta das idias: linguagem cotidiana; Esforo de originalidade e autenticidade; Interesse pela vida humana interior (estados de alma, de esprito, fenmenos psquicos, subconscientes e inconscientes); Aparente hermetismo, expresso indireta, sugesto e associao verbal em vez da absoluta clareza; Valorizao do prosaico e do bom humor; Liberdade formal: verso livre (verselibrismo), ritmo livre, sem rima, sem estrofao preestabelecida. Observe: De natureza complexa e contraditria, o Modernismo apresenta traos, que com diferentes combinaes podem caracterizar os textos modernistas. Considerando o texto acima, incorreto afirmar-se com respeito ao Modernismo no Brasil que: A. o tema da nacionalidade deixou de ocupar o primeiro plano nas manifestaes artsticas; B. teve seu incio oficialmente marcado pela Semana de Arte Moderna; C. cultua a liberdade formal verso livre, sem rima, sem estrofao preestabelecida e ritmo livre; D. representou uma ruptura radical com os movimentos anteriores. (Suplncia 1998)

8.3 Modernismo (1 Fase)O perodo de 1922 a 1930 o mais radical do movimento modernista, justamente em conseqncia da necessidade de definies e do rompimento de todas as estruturas do passado. Da o carter anrquico dessa primeira fase modernista e seu forte sentido destruidor, assim definido por Mrio de Andrade: "... se alastrou pelo Brasil o esprito destruidor do movimento. Isto o seu sentido verdadeiramenteespecfico. Porque, embora lanando inmeros processos de idias novas, omovimento modernista foi essencialmente destruidor. (...) Mas estadestruio no apenas continha todos os germes da atualidade, como era uma convulso profundssima da realidade brasileira. O que caracteriza esta realidade que o modernismo imps , a meu ver, a fuso de trs princpios fundamentais: o direito permanente pesquisa esttica; a atualizao da inteligncia artstica brasileira e a estabilizao de uma conscincia criadora nacional." Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e o polmico, o nacionalismo se manifesta em suas mltiplas facetas: uma volta s origens, a pesquisa das fontes quinhentistas, a procura de uma "lngua brasileira" (a lngua falada pelo povo nas ruas), as pardias, numa tentativa de repensar a histria e a literatura brasileira, e a valorizao do ndio verdadeiramente brasileiro. o tempo dos manifestos nacionalistas do Pau-Brasil e da Antropofagia, dentro da linha comandada por Oswald de Andrade, e dos manifestos do Verde-Amarelismo e do grupo da Anta, que j trazem as sementes do nacionalismo fascista comandado por Plnio Salgado. Como se percebe j ao final da dcada de 20, a postura nacionalista apresenta duas vertentes distintas: de um lado, um nacionalismo crtico, consciente de denncia da realidade brasileira,

identificado politicamente com as esquerdas; de outro, um nacionalismo ufanista, utpico, exagerado, identificado com as correntes polticas de extrema direita. Entre os principais nomes dessa primeira fase do Modernismo e que continuaram a produzir nas dcadas seguintes destacaram-se Mrio de Andrade, Oswald de Andrade, Manoel Bandeira, Antnio de Alcntara Machado, alm de Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plnio Salgado.

8.4 Para voc conhecerMANUEL BANDEIRA Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife, em 1886. Buscou na prpria vida inspirao para seus grandes temas: de um lado, a famlia, a morte, a infncia no Recife, o rio Capibaribe; de outro, a constante observao da rua por onde transitam os mendigos, as prostitutas, os pobres meninos carvoeiros, as Irenes pretas, os carregadores da feira-livre, todos falando o portugus gostoso do Brasil. E, em tudo, o humor, certo ceticismo, uma ironia por vezes amarga, a tristeza e a alegria dos homens, a idealizao de um mundo melhor - enfim, um canto de solidariedade ao povo. A trajetria potica da Bandeira revela a busca constante de novas formas de expresso. Para ter idia desse dinamismo do escritor, leia dois fragmentos que tratam do mesmo assunto. Observe a data de publicao de cada um deles: De A Cinza das Horas (1917) noite. A lua, ardente e terna. Verte na solido sombria A sua imensa, a sua eterna melancolia... De Estrelas da Tarde (1963) A Lua baa Paira Muito cosmograficamente Satlite Desmetaforizada, Desmitificada Despojada do velho segredo de melancolia, No agora o golfo de cismas, O astro dos loucos e dos enamorados. Mas to-somente Satlite. MRIO DE ANDRADE Mrio Raul de Morais Andrade nasceu em So Paulo, em 1893, e morreu em 1945. Alm da participao ativa na Semana de Arte Moderna, dedicou-se a vrias atividades culturais, tendo sido inclusive diretor do Departamento de Cultura do Municpio de So Paulo. O volume de estria de Mrio de Andrade - H uma Gota de Sangue em Cada Poema -, publicado em 1917, retrata a Primeira Guerra Mundial e mostra-nos o autor ainda influenciado pelas escolas literrias anteriores Semana, com poesias que obedecem s normas estticas, como a metrificao e a rima, de ntida influncia parnasiana. Sua poesia manifesta-se modernista a partir do

livro Paulicia Desvairada, rompendo com todas as estruturas ligadas ao passado. O livro tem como musa inspiradora, ou melhor, como objeto de anlise e constatao, a cidade de So Paulo e seu provincianismo, o rio Tiet, o largo do Arouche, o Anhangaba, a burguesia, a aristocracia, o proletariado; uma cidade multifacetada, uma colcha de retalhos, uma roupa de arlequim - uma cidade "arlequinal".

8.5 - Modernismo (2 Fase)Recebendo como herana todas ao conquistas da gerao de 1922, a segunda fase do Modernismo brasileiro se estende de 1930 a 1945. Perodo extremamente rico tanto quanto produo potica como prosa, reflete um conturbado momento histrico: no plano internacional, vive-se a depresso econmica, o avano do nazi-facismo e a Segunda Guerra Mundial; no plano interno, d-se a ascenso de Getlio Vargas e a consolidao de seu poder com a ditadura do Estado Novo. Assim que, a par das pesquisas estticas, o universo temtico se amplia e o artista apresenta-se preocupado com o destino dos homens, o "estar-nomundo". Em 1945, com o fim da guerra, as exploses atmicas, a criao da ONU e, no plano nacional, a derrubada de Getlio Vargas, abre-se um novo perodo na histria literria do Brasil. Poesia A poesia dessa segunda fase do Modernismo representa um amadurecimento e aprofundamento das conquistas e da gerao de 1922, percebendo-se, inclusive, a influncia exercida por Mrio e Oswald de Andrade sobre os jovens que iniciaram suas produes poticas aps a realizao da Semana de Arte Moderna. Lembramos, a propsito, que Carlos Drummond de Andrade dedica seu livro de estria, Alguma Poesia (1930), a Mrio de Andrade; Murilo Mendes, com seu livro Histrias do Brasil, segue a trilha aberta por Oswald, representando a nossa histria com muito humor e ironia: Festa Familiar "Em outubro de 1930 Nos fizemos - que animao! Um pic-nic com carabinas" Formalmente, os novos poetas continuam a pesquisa esttica iniciada na dcada anterior, cultivando o verso livre, a poesia sinttica: Cota zero "Stop. A vida parou ou foi o automve!?" (Carlos Drummond de Andrade) Destacaram-se, entre outros, nesta fase: Carlos Drummond de Andrade Cassiano Ricardo Ceclia Meireles Augusto Frederico Schmidt Jorge de Lima Manuel Bandeira Vincius de Moraes

8.6 - Para voc conhecer melhorCARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Carlos Drummond de Andrade nasceu em 1902, em Itabira, Minas Gerais, regio rica em ferro. "Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas caladas. Oitenta por cento de ferro nas almas". (Confidncia do Itabirano) Fez seus primeiros estudos em Minas Gerais. Em 1918, estuda como interno no Colgio Anchieta, da Companhia de Jesus, em Friburgo, sendo expulso no ano seguinte, aps um incidente com seu professor de Portugus. Forma-se em Farmcia, mas vive de lecionar Portugus e Geografia em Itabira. Em 1934, transfere-se para o Rio de Janeiro, assumindo um cargo pblico no Ministrio da Educao. A partir da dcada de 1950, Drummond dedica-se integralmente produo literria. Alm de novos livros de poesia, contos e algumas tradues, intensifica o seu trabalho de cronista. Morre no Rio de Janeiro, em 1987. Carlos Drummond de Andrade , sem dvida, o maior nome da poesia contempornea brasileira. Sua obra potica acompanha a evoluo dos acontecimentos, registrando todas as "coisas" (sntese de um universo fechado, despersonificado) que o rodeiam e que existem na realidade do dia-adia. So poesias que refletem os problemas do mundo, do ser humano brasileiro e universal diante dos regimes totalitrios, da Segunda Guerra Mundial, da Guerra Fria. Entretanto, na temtica que se percebe uma nova postura do artista, que passa a questionar com maior vigor a realidade e fato extremamente importante passa a se questionar tanto como um indivduo em sua "tentativa de explorao e de interpretao do "estar no mundo" como em seu papel da artista. O resultado uma literatura mais construtiva e mais politizada, que no quer e no pode se afastar das profundas transformaes ocorridas nesse perodo; da tambm o surgimento de um corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo, como fruto dessa inquietao: o caso de Ceclia Meireles, de uma fase de Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vincius de Morais. Observe: E agora, Jos? A festa acabou, a luz apagou o povo sumiu, ............................. se voc morresse... Mas voc no morre, Voc duro, Jos! ............................... voc marcha, Jos! Jos, para onde?

Os trechos acima pertencem ao poema Jos, de Carlos Drummond de Andrade. Baseando-se nos fragmentos, pode-se reconhecer o trao caracterstico da obra, que : A. B. C. D. o passado que ressurge na poesia; figuras familiares que povoam as lembranas do autor; indagao filosfica sobre o sentido da vida; a acusao de acontecimentos banais da vida. (Suplncia - 1998)

CECLIA MEIRELES Ceclia Meireles inicia-se na literatura participando da chamada corrente espiritualista, sob a influncia dos poetas que formariam o grupo da revista Festa, de inspirao neo-simbolista. Posteriormente, afasta-se desses artistas, sem, contudo, perder as caractersticas intimistas, introspectivas, numa permanente viagem interior. Em vista desses fatores, sua obra reflete uma atmosfera de sonho, de fantasia e, ao mesmo tempo, de solido e padecimento. Um dos aspectos fundamentais da potica de Ceclia Meireles sua conscincia de transitoriedade das coisas. Por isso mesmo, o tempo personagem central em sua obra: o tempo passa, fugidio. Ao lado de uma linguagem que valoriza os smbolos, de imagens sugestivas com constantes apelos sensoriais, uma das marcas do lirismo de Ceclia Meireles a musicalidade de seus versos. Motivo Eu canto porque o instante existe E a minha vida est completa No sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmo das coisa fugidias, no sinto gozo nem tormento Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico. Se permaneo ou me desfao. no sei, no sei. No sei se fico ou passo. Sei que canto. E a cano tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: mais nada. Nessa espcie de programa literrio, a autora antecipa duas caractersticas fundamentais de sua obra: 1) a musicalidade "Sei que canto. E a cano tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada."

2) preocupao com a fugacidade do tempo e a precariedade dos seres e das coisas "Irmo das coisas fugidias". Atravesso noites e dias no vento" Da conscincia dessa fragilidade de tudo decorre o tom melanclico de muitos de seus poemas. s precria e veloz. Felicidade. Custas a vir, e, quando vens, no te demoras. O descritivismo de muitos de seus textos resulta do aproveitamento literrio da natureza. No se trata, contudo, de um descritivismo exterior; na realidade, o mundo exterior apenas o motivo que desperta as emoes, sentimentos e reflexes do poeta. Retrato Eu no tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro nem estes olhos to vazios, nem o lbio amargo. Eu no tinha estas mos sem fora, to paradas e frias e mortas; eu no tinha este corao que nem se mostra. Eu no dei por esta mudana, to simples, to certa, to fcil: Em que espelho ficou perdida a minha face? (Meireles, Ceclia. In: Flor de Poemas. 6 ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira. 1984. p.63) Os dois textos de Ceclia Meireles so marcados por uma preocupao constante em sua obra: a fugacidade do tempo. Repare nos versos "Irmo da coisas fugidas", "Atravesso noites e dias no vento" "- em que espelho ficou perdida a minha face? Pesquise e resolva: Em boa parte da obra de Ceclia Meireles, a realidade exterior transportada para o poema reduz-se quase exclusivamente a elementos mveis, etreos, instveis, efmeros. Esses elementos so metforas para a falta de durao de tudo e, conseqentemente, a falta de sentido da prpria existncia. Quando abandona esse recorte do mundo natural acima citado, e volta-se para nosso passado histrico, Ceclia Meireles produz a obra considerada por muitos o melhor livro da escritora. Essa obra : a) Espectros b) Retrato Natural c) Escolha o seu Sonho d) O Romanceiro da Inconfidncia

Prosa Perodo de construo, com idias literrias inovadoras e coerentes. Abrem esta fase construtiva Mrio de Andrade, com a obra Macunama, e Jos de Almeida, com A Bagaceira. So autores de relevo desta segunda etapa: Na fico regional: rico Verssimo, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Jos Lins Faria, Jos Geraldo Vieira, Cornlio Pena.

8.7 - Para voc conhecer melhorJORGE AMADO Jorge Amado introduziu mudanas na tica do regionalismo. evidente, em sua obra, a proximidade afetiva entre o narrador e a matria narrada. medida que vai tendo curso o seu caminho literrio, a observao realista deixa a contemplao apaixonada - e ser essa uma das chaves da empatia que se estabelece ente o leitor e o texto desse escritor to popularizado. Os aspectos terrveis descritos em Seara Vermelha, em Jubiab, em Capites da Areia (trata-se ainda de literatura da regio) tornam-se paulatinamente um espao mgico, em que tudo possvel, e em que se misturam o sagrado e o profano, o homem e o mito, a realidade e o sonho (veja-se A Morte e a Morte de Quincas Berro D'gua) e do contorno de lenda a uma gente e a uma geografia. JOS LINS DO REGO O autor apela constantemente para as recordaes de sua infncia e adolescncia para compor seu ciclo da cana-de-acar (Menino de Engenho, Doidinho, Bang, Usina), srie de romances de carter memorialista que retratam a zona da mata nordestina num perodo crtico de transio: a decadncia dos engenhos esmagados pelas poderosas usinas. Em todo o ciclo, o cenrio o engenho Santa Rosa, do velho Coronel Z Paulino, av de Carlos de Melo (o narrador de Menino de Engenho, que, em muitas passagens, o prprio Jos Lins do Rego). Alm deles, povoam o Santa Rosa do tio Juca, os moleques filhos dos empregados que vivem soltos pelos engenhos e brincam com os meninos filhos dos proprietrios na ingnua igualdade da infncia, apesar dos preconceitos dos adultos. Esses ttulos foram lanados entre 1932 e 1936. Entretanto, em 1943, Jos Lins publicaria um romance que considerado a sntese de todo o ciclo: Fogo Morto. Alm do ciclo da cana, Jos Lins abordou outros aspectos tpicos da vida nordestina, como o misticismo e o cangao, presentes em Pedra Bonita e Cangaceiros. A provvel fonte temtica, bem como a oralidade da narrativa, nesses casos, teria sido a literatura de cordel, como afirma o prprio autor: gua-me e Euridice so os nicos romances de Jos Lins ambientados fora do Nordeste. GRACILIANO RAMOS Graciliano Ramos nasceu em Quebrngulo, Alagoas, em 1882. Estria em livro em 1933, com o romance Caets; nessa poca trabalha em Macei, dirigindo a Imprensa Oficial e a Instituio Pblica, trava conhecimento com Jos Lins do Rego, Raquel de Queirs e Jorge Amado. Em 1936 preso por atividades consideradas subversivas, sem, contudo, ter sido acusado formalmente; aps sofrer humilhaes de toda sorte e percorrer vrios presdios, libertado em janeiro do ano seguinte. Essas experincias pessoais so retratadas no livro Memrias do Crcere. Em 1952, viaja para os pases socialistas do Leste Europeu, experincias descritas em Viagem. Falece no Rio de Janeiro, em 1953. Graciliano Ramos considerado hoje por grande parte da crtica nosso melhor romancista

moderno. E mais, tido como o autor que levou ao limite o clima de tenso presente nas relaes homem/meio social, tenso essa geradora de um relacionamento violento, capaz de moldar personalidades e transfigurar o que os homens tm de bom. Nesse contexto violento, a morte final trgico e irreversvel, decorrente de um relacionamento impraticvel; encontramos suicdios em Caets e So Bernardo, assassinato em Angstia, e a morte de Papagaio e da cadela Baleia em Vidas Secas. A luta pela sobrevivncia, portanto, parece ser o grande ponto de contato entre todos os personagens; a lei maior a da selva. Em conseqncia, uma palavra se repete em toda obra do escritor: bicho, ou, como no incio de Vidas Secas, viventes, ou seja, aqueles que s tm uma coisa a defender - a vida. RICO VERSSIMO rico Verssimo o representante gacho dentro do regionalismo modernista. Parte de seus romances, que engloba desde Clarissa at Saga, passando por Msica ao Longe, Caminhos Cruzados e Olhai os Lrios do Campo, retrata a vida urbana da provinciana Porto Alegre, a crise da sociedade moderna, onde a nota marcante a falta de solidariedade, o cotidiano catico. Seus personagens, com destaque para Clarissa e Vasco, reaparecem em vrias situaes e em vrios momentos, o que levou o crtico Wilson Martins a reconhecer um "Ciclo de Clarissa". Como seu eixo se repete ao longo de vrios romances, o autor tem sido acusado de redundante, o que vai tornar evidente o seu maior defeito: a superficialidade tanto na abordagem psicolgica como social. Entretanto, esses primeiros romances so responsveis pela popularidade alcanada pelo autor, igualando-se, em termos de aceitao pblica, a Jorge Amado. A classificao de sua obra por temas compreende ainda a trilogia pica de O Tempo e o Vento, voltada para a formao do Rio Grande do Sul, remontando ao passado histrico desde o sculo XVIII, disputa da terra e do poder, e s famlias Amaral, Terra e Cambar. Desse painel saltam alguns personagens hericos como Ana Terra e o Capito Rodrigo. O Tempo e o Vento aparece dividido em O Continente, que cobre o perodo histrico do sculo XVIII at 1895, com as lutas do incio da Repblica; O Retrato, que enfoca as primeiras dcadas do sculo XX; e O Arquiplago, narrativa mais contempornea, chegando at o governo Vargas. Poderamos reconhecer, ainda, uma terceira fase da produo de Verssimo, mais empenhada com temas de momento, como o caso de O Senhor Embaixador, O Prisioneiro e Incidente em Antares. Observe: - Eu podia mandar lhe prender. - Podia, coronel. Podia tambm mandar me enforcar. Mas no manda nem uma coisa nem outra. Ricardo hesitou por um instante, acariciou nervosamente o cabo da faca, e disse: - Vosmec no tem o nosso jeito. Sou um homem... Os fragmentos, retirados da obra de rico Verssimo O Tempo e o Vento, apresentam: a) as famlias Amaral, Terra e Cambar disputam o poder poltico; b) o escritor explora o absurdo e o fantstico, tendo como pano de fundo a histria mais recente do Brasil; c) a ao sucede na regio de Ilhus e prende-se luta pela conquista de terras para o cultivo do cacau; d) o tpico heri quixotesco, Capito Vitorino, que, conduzido pela sede de justia, apanha da poltica e dos coronis. Porm, mantm sua dignidade altiva quando enfrenta os poderosos.

(Suplncia, 1998) Em Terra do Sem Fim, considerado o melhor romance de Jorge Amado, pode-se afirmar que nele: a) As famlias Amaral e Cambar disputam o poder poltico; b) O escritor explora o absurdo e o fantstico, tendo como pano de fundo a histria mais recente do Brasil; c) A ao sucede na regio de Ilhus e prende-se luta pela conquista de terras pelo cultivo do cacau. Dessa contenda surge a rivalidade entre o Coronel Horcio da Silveira e Juca Badar, chefe de uma famlia de plantadores de cacau; d) O tpico heri quixotesco, Capito Vitoriano, que conduzido pela sede de justia, apanha da poltica e dos coronis. Porm mantm sua dignidade altiva quando enfrenta os poderosos.

8.7

Modernismo (3 Fase)

A partir de 1945, alguns autores rompem com o esquema romantesco de 30 e partem para um super-regionalismo, na denominao de Antonio Cndido. o caso de Joo Guimares Rosa e Clarice Lispector. Embora haja muitas diferenas entre a obra de cada um, eles partiram para uma pesquisa do instrumento de expresso: a linguagem. Ambos universalizam o romance nacional, dando a seus personagens uma dimenso mais psicolgica e mais profunda. Guimares Rosa mantm o enredo e subverte o cdigo lingstico, com a criao freqente de neologismos, com o aproveitamento de recursos poticos, como aliteraes, onomatopias, rimas internas, elipses, deslocamento de sintaxe e associaes etimolgicas esquecidas pelo uso. Clarice Lispector, por seu lado, ainda que mantivesse o cdigo mais tradicional, abandonou a trama romantesca e mergulhou em profundidade para dentro dos personagens, isolados e problemticos. Mas o maior representante dessa nova tendncia ficcionalista brasileira foi, sem dvida, Guimares Rosa, com Sagarana (1946), e depois com Grande Serto: Veredas (1956). Com essas e outras obras, o genial mineiro procurou valorizar a paisagem novamente, criar personagens tpicas, reaproveitar as falas do sertanejo e atualizar o folclore. Muitos historiadores preferem reservar o nome Modernismo para as duas primeiras fases do movimento (1922-30; 1930-45), denominando Ps-Modernismo ao perodo de 45 at os nossos dias. Preferimos chamar de terceira fase o perodo compreendido entre 45 e 60 e reservar o nome de tendncia contempornea para o perodo compreendido de 60/70 at a atualidade. As duas designaes so aceitas e correntes na histria de nossa literatura. A produo da terceira fase pode ser assim resumida, numa viso esquemtica: Prosa Enriquecida por grande nmero de contos, crnicas e romances, a prosa do perodo d seqncia s trs tendncias bsicas j observadas no segundo momento modernista, mas com considervel renovao formal. a) Prosa urbana: Tratando do conflito entre o indivduo e o meio social, aparece sobretudo nos contos. Dalton Trevisan o nome mais importante surgido na terceira fase. Destacam-se ainda as crnicas de Rubem Braga e os romances e contos de Lygia Fagundes Telles. b) Prosa intimista: Tambm chamada de prosa de sondagem psicolgica, concentra-se na anlise do mundo interior das personagens. Esboada na segunda fase, a tendncia intimista amadurece, gerando

textos cada vez mais complexos e penetrantes. Clarice Lispector a melhor representante dessa prosa. Destacam-se ainda Lygia Fagundes Telles e Antonio Olavo Pereira. c) Prosa regionalista: Uma das tendncias mais duradouras de nossa literatura, a prosa regionalista - que surgira no sculo XX com Bernardo Guimares - vai ser retomada, porm, com grandes inovaes temticas e lingsticas. Destacam-se Humberto Sales, Mrio Palmrio, Bernardo llis, Jos Cndido de Carvalho e Adonias Filho. Mas nenhum deles produziu prosa regionalista to inovadora e ousada como Guimares Rosa, o grande renovador de nosso regionalismo. preciso no esquecer que grande parte dos escritores da fase anterior continuava em plena produo artstica Poesia Alm da permanncia de poetas das fases anteriores, muitos deles renovando-se continuamente, a grande novidade do perodo foi um grupo de escritores que se autodenominaram "Gerao de 45". No ano de 1944, publicou-se o livro Testamento de Uma Gerao, em que 40 personalidades de nossa vida cultural faziam um balano de sua situao pessoal na cultura brasileira. Um dos assuntos mais comentados por cada um dos entrevistados foi a Semana de 22, da qual se fazia agora um retrospecto: a impresso geral de todos era de que o movimento pertencia ao passado. A nova gerao rompia com o movimento de 22, mas, ao mesmo tempo, reconhecia herdar dele no s defeitos, mas qualidades. Em 1948, realizou-se em So Paulo o I Congresso Paulista de Poesia. Nele, um poeta, analisando a produo recente da poesia, defendia que 1945 fora o ano em que se pde considerar implantado um novo regime da poesia brasileira (...) o modernismo foi ultrapassado. Cabe, portanto, aos poetas novos prosseguir o rumo que se anuncia, sem transigncia com o passadismo e sem compromisso com a Semana da Arte Moderna. Esse mesmo crtico empregaria pela primeira vez a expresso "Gerao 45". A literatura produzida por esses poetas revela as seguintes tendncias: 1) Com reao ao que considerava "excessos" de 22, propunham a preciso de linguagem, o equilbrio de forma, o abandono do prosasmo (falta de poesia no verso). Isso tudo implicava, de certa forma, o abandono do verso livre e a retomada da metrificao. 2) O universalismo em oposio ao regionalismo dos poetas da primeira fase. 3) A poesia foi considerada agora um artefato, resultante da preciso formal e da correo de linguagem. Repeliam-se, conseqentemente, o poema-piada e as infraes norma culta, que eles consideravam um "falso" abrasileiramento da linguagem. Muitos crticos viam nessas propostas um retorno ao Parnasianismo; por isso, a gerao no define com exatido o grupo dos poetas do perodo, a heterogeneidade de posturas e tendncias. Deve ser entendido apenas como um marco cronolgico para agrupar os que estrearam por volta daqueles anos. As publicaes que divulgaram os novos poetas foram a Revista Brasileira de Poesia, em So Paulo, e a Revista Orfeu, no Rio de Janeiro. Entre muitos outros, surgiram nesse momento Bueno de Rivera, Pricles Eugnio da Silva Ramos, Alphonsus de Guimaraens Filho, Ledo Ivo, Paulo Bonfim, Geir Campos, Thiago de Mello. Alm desses, trs poetas desse perodo sobressaram: Ferreira Gullar, Jos Paulo Paes e o mais importante dos poetas dessa "gerao", Joo Cabral de Melo Neto. Balano Na prosa da terceira fase, sobressaem Clarice Lispector e Guimares Rosa; na poesia, Joo Cabral de MeloNeto.

8.8 - Para voc conhecerCLARICE LISPECTOR

Obra:Romances: Perto do Corao Selvagem (1949); O Lustre (1946), A Cidade Sitiada (1949); A Ma e o Escudo (1961); A Paixo Segundo G. H. (1964); Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969); A Hora da Estrela (1977). Contos e crnicas: Laos de Famlia (1960); A Legio Estrangeira (1964); Felicidade Clandestina (1971); Imitao da Rosa (1973); A Via Crucis do Corpo (1974); A Bela e a Fera (1979). Escreveu ainda literatura infantil. O objetivo da escritora atingir as regies mais profundas da mente das personagens para ir sondar complexos mecanismos psicolgicos. essa procura que determina caractersticas especficas de seu estilo. 1) O enredo tem importncia secundria. As aes - quando ocorrem - destinam-se a ilustrar caractersticas psicolgicas das personagens. So comuns em Clarice Lispector histrias sem comeo, meio ou fim. Por isso, ela se dizia, mais que uma escritora, "sentidora" porque registrava em palavras aquilo que sentia. Mais que histrias, seus livros apresentam impresses. 2) Predomina, em suas obras, o tempo psicolgico, visto que o narrador segue o fluxo do pensamento das personagens. Logo, o enredo pode fragmentar-se. 3) Os espao exterior tambm tem importncia secundria uma vez que a narrativa concentra-se no espao mental das personagens. 4) As caractersticas fsicas das personagens ficam em segundo plano. Muitas personagens apresentam sequer nome. 5) As personagens criadas por Clarice Lispector descobrem-se num mundo absurdo; esta descoberta d-se normalmente diante de um fato inusitado - pelo menos inusitado para a personagem. Esse fato provoca um desequilbrio interior que mudar a vida da personagem para sempre. Para Clarice: "No fcil escrever. duro quebrar rochas. Mas voam fascas e lascas como aosespelhados". "Mas j que se h deescrever, que ao menos no se esmaguem com as palavras asentrelinhas". JOO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1999) Obras: Pedra de Sono (1942), O Engenheiro (1945), Psicologia da Composio (1947), O Co Sem Plumas (1950), O Rio (1954), Morte e Vida Severina (1956), Paisagem Com Figuras (1956), Uma Faca s Lmina (1956), A Educao pela Pedra (1966), Museu de Tudo (1975), Auto do Frade (1984), Agrestes (1985), Crime na Calle Relator (1987), Sevilha Andando (1990). Em 1994, a editora Nova Aguilar publicou, em volume nico, a obra completa do escritor. Joo Cabral de Melo Neto inaugurou um novo modo de fazer poesia em nossa literatura. A essncia de sua atividade potica mostra a tentativa de desvendar os elementos concretos da realidade, que se apresentam como um desafio para a inteligncia do poeta. Sempre guiado pela lgica, pelo raciocnio, seus poemas evitam a anlise e exposio do eu e voltam-se para o universo dos objetos, das paisagens, dos fatos sociais, jamais apelando para o sentimentalismo. Por isso, o prazer esttico que sua poesia pode provocar deriva, sobretudo, de uma literatura racional, analtica, no do envelhecimento emocional com o texto.

Essas caractersticas levaram a crtica a ver na obra de Joo Cabral uma "ruptura com o lirismo" ou a considerar sua expresso potica "antilrica". No devemos, entretanto, supor que essa relao do poeta com o mundo concreto, objetivo, produza apenas textos descritivos. Na verdade, suas descries ora acabam adquirindo valor simblico ora acabam denunciando a crtica social que o poeta pretende levar a efeito. Apresentamos uma viso esquemtica - portanto, simplificada - de sua trajetria potica, atravs de comentrios de algumas obras. 1) Pedra do Sono, o seu primeiro livro, apresenta elementos do surrealismo, a comear pelo ttulo (sono). Leia um fragmento desse livro: Mulheres vo e vm nadando Em riosinvisveis. Automveis como peixescegos Compem minhas visesmecnicas. Segundo o prprio poeta, o que se prendeu nesse livro foi "compor um buqu de imagens em cada poema; as imagens revelam matria surrealista no sentido de onricas, subconscientes...". O sono e o sonho so temas freqentes e importantes nessas obras. O prprio autor considera sua primeira obra "um livro falso", cujo rendimento artstico no o satisfez. 2) O Engenheiro, embora inclua ainda poemas de carter surrealista, traz j as bases de sua nova concepo de poesia, segundo a qual o poema deve resultar de uma atitude racionalista, objetiva, diante da realidade concreta. Uma atitude de quem controla racionalmente as emoes. O Engenheiro A luz, o sol o ar livre Envolvem o sonho do engenheiro O engenheiro sonha coisas claras: Superfcies, tnis, um copo de gua. O lpis, o esquadro, o papel; O desenho, o projeto, o nmero: O engenheiro pensa o mundo justo, Mundo que nenhum vu encobre. (Em certas tardes ns subamos ao edifcio. A cidade diria, como um jornal que todos liam, ganhava um pulmo de cimento e vidro). A gua, o vento, a claridade, De um lado o rio, no alto as nuvens, Situavam na natureza o edifcio Crescendo de suas foras simples.

9.1 Prosa polticaA ao da censura sobre os meios de comunicao de massa - em especial a televiso e o jornal favoreceu o surgimento dessa tendncia da literatura contempornea no Brasil. Como a informao jornalstica era controlada, a literatura foi o veculo escolhido "para dizer o que a censura impedia o jornal de dizer" (Flora Sssekind). Tudo ocorria como se o romance estivesse suprindo um dos objetivos do jornal: registrar o dia-a-dia da histria. Surgem da as duas modalidades da prosa poltica: a) Romance-reportagem So obras que empregam a linguagem jornalstica, criando enredos baseados em fatos fictcios ou reais, em que se denuncia a violncia social e poltica a que o pas ficou submetido durante longo perodo. Em meio ao relato de torturas, personagens e temas servem como veculo para o protesto contra a opresso. Tudo num estilo direto, seco e objetivo. Destacam-se Igncio de Loyola Brando (Zero, No Vers Pas Nenhum), Antnio Calado (Quarup, Reflexos do Baile); Roberto Drumont (Sangue de Coca-Cola); Jos Louzeiro (Lcio Flvio, o Passageiro da Agonia); Mrcio Souza (Galvez, o Imperador do Acre), entre muitos outros. Essa literatura tambm conhecida como literatura-verdade. Muitas vezes h obras escritas num estilo que carrega propositalmente e ao exagero os traos narrativos, descritivos, numa linha hiper-realista. E o caso de alguns contos de Rubem Fonseca, um dos mais importantes prosadores da atualidade. b) Realismo fantstico. Outros escritores preferem empregar uma tcnica diferente para denunciar o mesmo estado de coisas. Suas obras apresentam situaes irreais, absurdas, que funcionam como metfora para a situao do pas. O pioneiro dessa tendncia Murilo Rubio (O Ex-Mgico, O Pirotcnico Zacarias). Destacam-se ainda Jos J. Veiga (Sobra dos Reis Barbudos, A Hora dos Ruminantes) e Moacir Scliar (A Balada do Falso Messias, Carnaval dos Animais), entre outros.

9.2 - Prosa urbanaTrata dos grandes centros urbanos, com seus problemas especficos: progresso, violncia, solido, marginalizao. Destacam-se Luiz Vilela, Ricardo Ramos e, principalmente, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.

Dalton Trevisan (1925)Paranaense, de Curitiba, formou-se advogado, mas dedica-se ao comrcio. Tem a tortura da lngua: escreve e critica, e reescreve e torna a criticar, numa procura constante de um despojamento total de todo termo desnecessrio. Fundou e dirigiu a revista Joaquim (1946 - 1948), vanguarda da poca. Obras: Novelas Nada Exemplares (1959), A Morte na Praa (1964), Cemitrio de Elefantes (1964), O Vampiro de Curitiba (1968), Desastres do Amor (1968), A Guerra Conjugal (1969), O Rei da Terra (1972), O Pssaro de Cinco Asas (1974), A Faca no Corao (1975), Abismo de Rosas (1976), A Trombeta do Anjo Vingador (1977), Crimes da Paixo (1978), Virgem Louca, Loucos Beijos (1979), Lincha Tarado (1980), Contos Erticos (1984).

9.3 - Prosa intimistaNa mesma linha de sondagem psicolgica de Clarice Lispector, esse tipo de narrativa apresenta personagens angustiadas, cujo interior o autor vasculha. Enquadraram-se nessa tendncia Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado, Osman Lins, Lya Luft. Observao: Lygia Fagundes Telles, em grande parte de sua obra, apresenta personagens mergulhadas em si mesmas, atravs das quais vasculha o interior do ser humano.

9.4 O conto e a crnicaA crnica, que geralmente se prende ao registro do cotidiano, tornou-se um dos gneros mais cultivados contemporaneamente, com lugar reservado nos grandes jornais do pas. O mesmo acontece com o conto. Destacam-se na crnica Fernando Sabino, Rubem Braga, Carlos Heitor Cony, Lus Fernando Verssimo, entre muitos outros.

9.5 Desdobramentos da poesia da "Gerao de 45"A "Gerao de 45" deixou marcas profundas na poesia, herana que iria direcionar sua trajetria posterior de que se ensaia, aqui, classificao provisria. O legado dessa gerao um texto em que o eu lrico partcipe consciente da realidade histrica, o que determina o aparecimento da poesia empenhada. Exemplificam essa direo os poemas candentes de Jomar Moreis Souto, Thiago de Mello, Jamil Almansur Haddad e Carlos de Queirs Telles. A poesia de Ferreira Gullar (Romances de Cordel, 1962/1967; Poema Sujo, 1976; Na Vertigem do Dia, 1980) abriga textos em que idia e sangue esto empenhados. So poemas claros, que recusam a descontinuidade de pensamento e expresso e ganham fora esttica no ritmo, que abre as portas s idias que se vo pondo. O poeta traz, intenso, o gosto de estar vivo ("a vida sopra dentro de mim/pnica (...) e pode/subitamente/cessar."); o sopro to prezado de vida que dilata a seduo pelas criaturas e o desejo de conquistar uma condio que no foi corrompida pelas foras sociais que o capital enfureceu.

9.6 - A poesia concretaNa obra de Ferreira Gullar e do poeta Mrio Faustino (Poetas, 1966), encontram-se procedimentos afins poesia concreta ("Somos concretistas", dissera Oswald de Andrade no Manifesto Antropfago). Surgindo em So Paulo, em 1956, o concretismo foi instaurado e teorizado por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Dcio Pignatari. Segundo seus autores, essa tendncia d por encerrado o "ciclo do verso como unidade rtmico-formal" e entende o espao grfico do poema como um de seus agentes estruturais. A relao entre poema e o leitor far-se- por meio de comunicao mais visual que verbal, ou no-verbal. O poema poderia ser considerado um "objeto til", isto , o visual deveria fazer parte do poema.Coca-cola Beba Babe Beba Babe Caco Cola coca coca cola Cloaca (DcioPignatari) cola caco

O concretismo apresenta como caractersticas principais: O poema como resultado de investigao verbal. A incorporao do espao geogrfico (a pgina) como elemento estrutural do poema. Ampliao do poema pela comunicao no-verbal. Mxima valorizao da palavra em si mesma, contra o verso como unidade rtmica convencional. Combate ao excesso lgico-discursivo. Rejeio do lirismo e do tema. Valorizao do som, da forma visual e da carga semntica da palavra e suas funes-relaes no poema. Decomposio e montagem de palavras. Ampla utilizao de recursos tipogrficos. Possibilidade de mltiplas leituras, pela abolio do verso tradicional: leitura vertical, horizontal, diagonal etc. Utilizao do ideograma (sinal de notao das escritas analticas, como o hierglifo egpcio e os smbolos da escrita chinesa, por exemplo) como modelo de composio.

A vanguarda tende a atribuir ao significante o papel de significado. Na poesia concreta - e em quase todos os movimentos de vanguarda (concretismo, 1956; neoconcretismo, 1958; poesia praxis, 1962; poesia processo, 1967; poesia progressiva) - o modo de dizer no se limita a valer to-somente como conjuntos de elementos codificados; a forma deixa de fazer apenas aluso, de ser mera portadora de significados. As vanguardas tendem a transformar o prprio texto em realidade, que o leitor deve experimentar e conhecer. De tal maneira, a leitura vai deixando de ser a tradicional forma de conhecimento da realidade para apresentar-se como sistema fechado que essa prpria realidade: a obra torna-se fenmeno a que se refere. Paralelamente, caminha a produo sempre agilizada de poetas como Carlos Drummond de Andrade, cuja origem literria, como se viu, remonta dcada de 30, e ocorre o empenho de renovao de um poeta de 22 Cassimiro Ricardo , que incorpora procedimentos da poesia prxis. A tendncia atual parece ser depois de um perodo de resistncia que a metfora tornou possvel iniciando em 1964, e que se criou em 1968 - momento que vulnerabilizou a poesia contida nos versos da cano popular (vejam-se letras de msica de Chico Buarque de Holanda, de Geraldo Vandr, de Caetano Veloso, de Milton Nascimento, de Ivan Lins...) a tendncia atual parece ser, ento, a de um certo desaforo, sentindo j a partir do fim da dcada de 70, conquistando a duras penas, que provavelmente indicar a poeta, prosadores e letristas de msicas caminhos menos tensos e estreitos do que aqueles aqui a resistncia diuturna obrigava.

9.7 TEATRO E CINEMAO golpe militar de maro de 1964 praticamente no molestou a produo cultural at 1969. A esquerda continuou exercendo uma grande hegemonia cultural, mas o governo Castello Branco tomou cuidado para que essa cultura no atingisse as massas. O teatro teve seu ponto alto com espetculos, como o Opinio, que denunciava a ditadura e a penria das camadas populares. O cinema estourava com o Cinema Novo. A msica atraa grandes massas de estudantes aos palcos para acompanhar os festivais promovidos pela televiso. Para se compreender melhor, o moderno teatro brasileiro, necessrio retroceder at 1943, quando encenando o texto Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, com a competente direo do polons Zienbinki. A montagem considerada um marco da encenao moderna em palcos brasileiros.

Em 1948, surge em So Paulo o Teatro Brasileiro de Comdia (TCB), responsvel pela formao de um sem-nmero de artistas quase sempre trabalhando com tcnica e texto importados. O teatro moderno, no entanto, assume sua funo social, voltando-se para o questionamento da realidade brasileira: em 1958, o grupo do Teatro de Arena encena Eles No Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri. A dcada de 60 assiste a uma proliferao de grupos teatrais espalhados por todo o Brasil que intensificam sua atividades aps o movimento de 1964. Entre os mais importantes esto, alm do Teatro de Arena, o grupo de teatro Oficina, que teria seu grande momento com a encenao, revolucionria sob todos os aspectos, do texto de Oswald de Andrade O Rei da Vela, sob direo de Jos Martinez Corra, e o Grupo Opinio, do Rio de Janeiro, que em 1965 apresenta Liberdade, Liberdade, montagem baseada em textos de Flvio Rangel e Millr Fernandes, entremeados com canes de protestos. Com o AI-5 e os ataques de grupos de extrema-direita, desmantela-se o teatro de resistncia; os nomes importantes, como Augusto Boal e Jos Celso, vo para o exlio. Apesar de tudo, como Gianfrancesco Guarnieri, Dias Gomes, Chico Buarque de Holanda, Rui Guerra, Ferreira Gullar, Paulo Pontes e Plnio Marcos continuam a produzir textos. Jos de Alencar Senhora e/ouIracema Machado deAssis DomCasmurro DaltonTrevisan Vampiro de Curitiba GracilianoRamos Vidas Secas Joo Cabral de MeloNeto Morte e VidaSeverina Textos para interpretao e estudos lingsticos Texto n 1 - O ASSALTO Quando a empregada entrou no elevador, o garoto entrou atrs. Devia ter uns dezesseis anos, dezessete anos. Desceram no mesmo andar. A empregada com o corao batendo. O corredor estava escuro e a empregada sentiu que o garoto a seguia. Botou a chave na fechadura da porta de servio, j em pnico. Com a porta aberta virou-se de repente e gritou para o garoto: No me bate! Senhora? Faa o que quiser, mas no me bate! No senhora, eu... A dona da casa veio ver o que estava havendo. Viu o garoto na porta e o rosto apavorado da empregada e recuou, at pressionar as costas na geladeira. Voc est armado? Eu? No. A empregada, que ainda no largara o pacote de compras, aconselhou a patroa sem tirar os olhos do garoto: melhor no fazer nada, madame. O melhor no gritar. Eu no vou fazer nada, juro! - disse a patroa, quase aos prantos - Voc pode entrar. Pode fazer o que quiser. No precisa usar de violncia.

O garoto olhou de uma mulher para a outra. Apalermado. Perguntou: Aqui o 712? O que voc quiser. Entre. Ningum vai reagir. O garoto hesitou, depois deu um passo para dentro da cozinha. A empregada e a patroa recuaram ainda mais. A patroa esgueirou-se pela parede at chegar porta que dava para a saleta de almoo. Disse: Eu no tenho dinheiro, mas meu marido deve ter. Ele est em casa. Vou cham-lo. Ele lhe dar tudo. O garoto tambm estava com os olhos arregalados. Perguntou de novo: Este o 712? Me disseram que era para pegar umas garrafas no 712. A mulher chamou com voz trmula: Henrique! O marido apareceu na porta do gabinete. Viu o rosto da mulher, o rosto da empregada e o garoto e entendeu tudo. Chegou a hora, pensou. Sempre me indaguei como me comportaria no caso de um assalto. Chegou a hora de tirar a prova. O que voc quer? - perguntou, dando-se conta em seguida do ridculo da pergunta. Mas sua voz estava firme. Eu disse que voc tinha dinheiro - falou a mulher. Fao um trato com voc - disse o marido ao garoto - dou tudo de valor que tenho em casa, contanto que voc no toque em ningum. E se as crianas chegarem de repente? pensou a mulher. Meu Deus, o que esse bandido vai fazer com as minhas crianas? O garoto gaguejou: Eu... eu... aqui que tem umas garrafas para pegar? Tenho um pouco de dinheiro. Minha mulher tem jias. No temos cofre em casa, acredite em mim. No temos muita coisa Voc quer o carro? Eu dou a chave. Errei, pensou o marido. Se sair com o carro ele vai querer ter certeza de que ningum chamar a polcia. Vai levar um de ns com ele. Ou vai nos deixar todos amarrados. Ou coisa pior... Vou pegar o dinheiro, est bem - disse o marido. O garoto s piscava. No tenho arma em casa. isso que voc est pensando? Voc pode vir comigo. O garoto olhou para a dona de casa e para a empregada. Voc est pensando que elas vo aproveitar para fugir, isso? - continuou o marido. - Elas podem vir junto conosco. Ningum vai fazer nada. S no queremos violncia. Vamos todos para o gabinete. A patroa, a empregada e o Henrique entraram no gabinete e depois de alguns segundos o garoto foi atrs. Enquanto abria a gaveta chaveada de sua mesa, o marido falava: No para agradar, mas eu compreendo voc. Voc uma vtima do sistema. Deve estar pensando: "Esse burgus cheio da nota est querendo me conversar", mas no isso no. Sempre me senti culpado por viver bem no meio de tanta misria. Pode perguntar para minha mulher. Eu no vivo dizendo que tenho casa. No somos ricos. Somos, com alguma boa vontade, da classe mdia alta. Voc tem razo, qualquer dia tambm comeamos a assaltar para poder comer. Tem que mudar o sistema. Tome. O garoto pegou o dinheiro meio sem jeito. Olhe, eu s vim pegar as garrafas... Snia, busque as suas jias. Ou melhor, vamos todos buscar as jias. Os quatros foram para a sute do casal. O garoto atrs. No caminho ele sussurrou para a empregada: Aqui o 712? Por favor, no! - disse a empregada, encolhendo-se. Deram todas as jias para o garoto, que estava cada vez mais embaraado. O marido falou:

No precisa nos trancar no banheiro. Olhe o que eu vou fazer. Arrancou o fio do telefone da parede. Voc pode trancar o apartamento por fora e deixar as chaves l embaixo. Ter tempo de fugir. No faremos nada. S no queremos violncia. Aqui no o 712? Me disseram para pegar umas garrafas... Ns no temos mais nada, confie em mim. Tambm somos vtimas do sistema. Estamos do seu lado. Por favor, v embora! A empregada espalhou a notcia do assalto por todo o prdio. Madame teve uma crise nervosa que durou dias. O marido comentou que no dava mais para viver nessa cidade. Mas achava que tinha se sado bem. No entrara em pnico. Ganhara um pouco da simpatia do bandido. Protegera o seu lar da violncia. E no revelara a existncia do cofre com grosso dinheiro, inclusive os dlares e marcos, atrs do quadro da odalisca. (Verssmo, Luiz Fernando. O Analista de Bag. 14. Ed. Porto Alegre: L & M, 1984) EXPLORANDO O TEXTO 1 1) Luiz Fernando Verssimo consegue com o tema relativamente comum, como o caso de um assalto, construir uma histria bastante original ao centr-la num "mal-entendido". Qual foi esse "mal-entendido"? 2) Pouco a pouco o "mal-entendido" vai envolvendo a empregada, a patroa, o marido da patroa. Como e por que se d essa "reao em cadeia"? 3) As aes dos personagens e suas emoes vo crescendo em intensidade. Tudo comea por um susto inicial. O que acontece na seqncia? 4) Ao longo de toda a narrativa h um contraste entre a atitude do suposto assaltante e dos supostos assaltados. Que atitudes so essas? 5) O texto faz supor que a incidncia de fatos de violncia seja to grande que o medo de ser assaltado persiga a todo instante o personagem da narrativa. Comprove essa idia com frase do texto. 6) Depois de afirmar pertencer classe mdia alta, o dono da casa diz: "Qualquer dia tambm comeamos a assaltar para poder comer". O que o dono da casa objetivou com tal frase? 7) O texto acaba por retratar uma situao ridcula. Algumas frases situam esse ridculo. Observe o exemplo: "A empregada, que ainda no largara o pacote de compras, aconselhou a patroa..." Retire do texto pelo menos mais duas frases semelhantes. Refletindo sobre o texto 01 No texto, o marido agiu como um indivduo precipitado, entregando as jias e o dinheiro a quem no tinha a menor inteno de assaltar e, no final da narrativa, considera-se um heri de grande esperteza por impedir que o "assaltante" levasse seus dlares e marcos que estavam guardados no cofre. O que voc acha dessa atitude do marido?

Texto n 02 POEMA DE SETE FACES Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrs de mulheres. A tarde talvez fosse azul, no houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu corao. Porm meus olhos no perguntam nada. O homem atrs do bigode srio, simples e forte. Quase no conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrs dos culos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu no era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo, mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, no seria uma soluo. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto o meu corao. Eu no devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como diabo. (Carlos Drummond de Andrade) (Prova - Exames Supletivos, 1997) Explorando o texto 02 1) Sabe-se que cada linha chamada de verso e o conjunto de versos forma estrofes. O "Poema de Sete Faces" apresenta (marque a alternativa correta): A. Sete estrofes, equivalentes a "sete faces" a que se refere o ttulo. B. Vinte e nove versos que narram um fato ocorrido na vida do poeta C. Sete estrofes que narram a vida de Carlos e Raimundo. D. Vinte e nove versos, equivalentes s sete partes de uma nica face do poeta.

2) No poema, Drummond se diz impotente diante do mundo. O verso em que ele faz essa afirmao : A. "Vai, Carlos! ser gauche na vida". B. "se sabias que eu era fraco". C. "Porm meu olhos no perguntam nada". D. "Tem poucos, raros amigos". 3) Observe: " No, meu corao no maior que o mundo muito menor Nele no cabem nem as minhas dores". (Drummond). Ao comparar os versos dessa questo com versos extrados do "Poema de Sete Faces", verifica-se a existncia de sentimentos contrrios em: A. "A tarde talvez fosse azul No houvesse tantos desejos". B. "O bonde passa cheio de pernas pernas brancas pretas amarelas". C. "Tem poucos, raros amigos. O homem atrs dos culos e do bigode". D. "Mundo mundo vasto mundo, mais vasto o meu corao". 4) comum os escritores citarem, em suas obras, passagens de outros livros. No "Poema de Sete Faces", Drummond vale-se de uma passagem bblica em: A. "Se sabias que eu no era Deus". B. "Botam a gente comovido como o diabo". C. "Meu Deus, por que me abandonaste". D. "Quando nasci, um anjo torto". 5) Observe: "A tarde talvez fosse azul...". Nesse verso, o poeta passa a idia de: A. aspirao e desejo B. monotonia e tradio C. tranqilidade e beleza D. agitao e correria

Texto n 03

UMA VELA PARA DARIO Dario vinha apressado, de guarda-chuva no brao esquerdo e assim dobrou a esquina, diminuiu o passo at parar, encostando-se parede de uma casa. Foi escorregando por ela, de costa, sentou-se na calada ainda mida da chuva de descansou no cho o cachimbo. Dois ou trs passantes rodearam-no, indagando se no estava se sentindo bem. Dario abriu a boca, moveu os lbios, mas no se ouviu a resposta. Um senhor gordo, de branco, sugeriu que ele devia sofrer de ataque. Estendeu-se mais um pouco, deitado agora na calada, o cachimbo ao seu lado tinha apagado. Um rapaz de bigode pediu ao grupo que se afastasse, deixando-o respirar. E abriu-lhe o palet, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe tiraram os sapatos, Dario roncou pela garganta e um fio de espuma saiu do canto da boca. Cada pessoa que chegava se punha na ponta dos ps, embora no pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta a outra, as crianas foram acordadas e vieram de pijamas janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calada, soprando ainda fumaa do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas no se via guarda-chuva ou cachimbo ao lado dele. Uma velhinha de cabea grisalha gritou que Dario estava morrendo. Um grupo transportou-o na direo do txi estacionado na esquina. J tinham introduzido no carro a metade do corpo, quando o motorista protestou: e se ele morresse na viagem? A turma concordou em chamar a ambulncia. Dario foi conduzido de volta e encostado na parede. No tinha mais os sapatos e o alfinete de prola na gravata. Algum informou que na outra rua havia uma farmcia. Carregaram Dario at a esquina; a farmcia era no fim do quarteiro e, alm do mais, ele estava muito pesado. Foi largado ali na porta de uma peixaria. Imediatamente, um enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizessem o menor gesto para espant-las. Dario ficara torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relgio de pulso. Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os documentos. Vrios objetos foram retirados de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo seu nome, idade, cor dos olhos, sinais de nascena, o endereo na carteira era de outra cidade. Registrou-se tumulto na multido de mais de duzentos curiosos que a essa hora ocupava toda a rua e as caladas: era a polcia. O caro negro investiu contra o povo e vrias pessoas tropearam no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes. O guarda aproximou-se do cadver e no pde identific-lo os bolsos vazios. Restava apenas a aliana de ouro na mo esquerda que ele - quando vivo - no podia retirar do dedo se no umedecendo-o com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabeco. A ltima boca repetiu: - "Ele morreu, ele morreu", e ento a gente comeou a se dispersar. Dario havia levado quase duas horas para morrer e ningum sequer acreditava que estivesse no fim. Agora, os que podiam olh-lo viam que ele tinha todo ar de um defunto. Um senhor, por piedade, despiu o palet de Dario para sustentar-lhe a cabea. Cruzou suas mos no peito. No lhe pde fechar os olhos nem a boca, onde as bolhas de espuma haviam desaparecido. Era apenas um homem morto e a multido se espalhou rapidamente, as mesas de caf voltaram a ficar vazias. Um menino de cor e descalo veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadver. Parecia morto h muito anos, quase um retrato de um morto desbotado pela chuva. Fecharam-se uma a uma as janelas e, trs horas depois, l estava Dario esperando o rabeco. A cabea agora na pedra, sem o palet, e o dedo sem a aliana. A vela tinha queimado at a metade e apagando-se s primeiras gotas de chuva, que voltara a cair. (Dalton Trevisan) Explorando o texto n 03

1) Assinale a alternativa que contm o tema abordado por Dalton Trevisan. A. Participao coletiva total nos pequenos dramas do dia-a-dia. B. Solidariedade instintiva ao sofrimento alheio. C. Insensibilidade e alheamento das pessoas diante dos dramas que no lhe tocam. D. Compaixo da humanidade pela dor alheia. 2) A multido concordou com a ponderao do motorista de txi, porque: A. Dario j estava morto. B. A morte de Dario no txi poderia causar-lhe dor de cabea. C. A polcia ainda no havia chegado e o corpo no podia ser removido. D. Seria melhor esperar uma ambulncia. 3) Na situao em que se encontrava Dario, o exame de seus documentos foi: A. Intil, pois o endereo era de outra pessoa. B. Produtivo, pois dizia quais os sinais de nascena. C. Bastante til, pois a polcia concluiu que a sua morte fora acidental. D. Proveitoso, pois todos ficaram conhecendo a sua doena. 4) A escolha do ttulo justifica-se, pois: A. Em todos os velrios costuma-se acender-se velas. B. O povo mandou acender uma vela para Dario. C. Um menino, num gesto piedoso, acendeu uma vela ao lado do cadver. D. O rabeco costuma acender velas quando algum morre na rua. 5) "A cabea agora na pedra, sem o palet, o dedo sem aliana". (ltimo pargrafo) Lendo o texto com ateno e analisando o perodo acima chegamos concluso de que: A. Dario era solteiro, pois no usava aliana. B. Antes de morrer, Dario deixara cair a aliana e o palet. C. O povo, de forma impiedosa, praticou fria e macabra rapinagem contra o inerte Dario. D. O povo, num gesto de solidariedade humana, retirou a aliana e o palet para entreg-los famlia.

Texto n 04 (Suplncia 1998) VOLTA S AULAS As empresas nunca investiram tanto na escolaridade de seus empregados (Daniel Nunes Gonalves) A concorrncia estrangeira tem l seus defeitos, mas ao menos j implantou algumas maravilhas globalizadas na indstria nacional. Nunca as empresas foram to informatizadas, confeccionaram produtos to bons e operaram a custos to baixos. Outra novidade ocorre no campo da educao. Cresce, a olhos vistos, o nmero de empresas que decidiram investir mais detidamente na escolaridade de seus empregados. A Sadia investe 8 milhes de reais por ano para, at o ano 2000, ter todos os seus funcionrios com o 1 grau completo. Calcula-se que 40.000 trabalhadores estejam de volta aos bancos escolares incentivados pelas empresas em que trabalham. Diante do estrago gigantesco a ser consertado, so nmeros mnimos. Entre trabalhadores com carteira assinada, 43% so analfabetos ou possuem o 1 grau incompleto. O trabalhador no Brasil permanece na escola por um perodo muito curto, inferior a quatro anos - menos que na Argentina,

com nove, ou na Coria, com 10 anos. No toa que as empresas nacionais acabam levando um banho de eficincia dos concorrentes. O programa de educao nas fbricas envolve no s as empresas, mas tambm fundaes e mais de 1.000 ONGs (Organizaes no governamentais), alm de alguns governos estaduais e o federal, que entram com o dinheiro. Investir em mo-de-obra compensador por vrios motivos. Na Nestl o numero de acidente de trabalho diminuiu porque os operrios passaram a entender melhor o funcionamento das mquinas. Tambm caiu o ndice de faltas, porque o empregado passou a ter um motivo a mais para comparecer ao trabalho. "Um funcionrio com mais estudo entende melhor os processos de trabalho e resolve problemas inesperados com mais facilidade", resume Carlos Augusto Costa e Silva, superior de educao da Volkswagen. Programas assim produzem resultados objetivos como os que descreve o supervisor, mas tambm melhoram a auto-estima do empregado - o que muito bom. O mecnico de manuteno da Volkswagen Mrio Antonio de Moraes, de 45 anos, voltou aos estudos depois de 26 anos e concluir o 2 grau em dois meses. "Agora, trabalho melhor e vivo melhor. Compro jornal todos os domingos, afirma. Explorando o texto n 04 1) Observe: "Esse time percebeu que firma de primeira no pode ter funcionrios de segunda". De acordo com o texto: A. Somente a firma de segunda deve investir na escolarizao de seus funcionrios. B. Toda firma deve despedir os funcionrios que no possuem escolarizao. C. Toda firma deve investir na escolarizao de seus funcionrios. D. Nenhuma firma necessita de funcionrios escolarizados. 2) Observe: "as empresas nacionais acabam levando um banho de eficincia dos concorrentes." De acordo com o texto, este fato ocorre porque o trabalhador brasileiro: A. muito preguioso e no possui o 1 grau completo. B. Permanece na escola por um perodo inferior a quatro anos. C. analfabeto e mal remunerado. D. No bem orientado para desempenhar suas funes. 3) Segundo o texto "Volta s Aulas", a ocorrncia da diminuio dos acidentes de trabalho e o menor ndice da faltas entre os empregados devem-se ao fato: A. De as empresas investirem na mo-de-obra e o trabalhador motivar-se para o trabalho. B. Do aumento do salrio que as firmas proporcionam aos empregados. C. Do melhor funcionamento das mquinas modernas. D. De 57% dos trabalhadores serem alfabetizados. 4) Algumas frases do texto foram modificadas. Entre elas, a que se apresenta gramaticalmente incorreta : A. So, diante do estrago gigantesco a ser consertado, nmeros mnimos. B. Agora, trabalho e vivo melhor. C. Nunca as empresas foram to informatizadas, confeccionaram produtos to bons, operaram a custos to baixos.. D. O trabalhador no Brasil permanece na escola por um perodo curtssimo.

5) Para evitar repeties de palavras, parte das frases extradas do texto foi substituda por pronomes. Entre as alternativas abaixo, a que se apresenta incorreta : A. Um funcionrio com mais estudo entende-os melhor... B. ... duas dezenas de colgios nas imediaes da fbrica para atend-los. C. O compro todos os domingos. D. ... convnios com duas dezenas de colgios nas suas imediaes... Texto n 05 (Suplncia de 1998) TEXTO PUBLICITRIO Eles chegaram aqui no incio do sculo. Uma gente brava, com a bagagem cheia de esperana. Em pouco tempo, os imigrantes descobririam um pas receptivo experincia e cultura que eles traziam no sangue. Mas tambm descobriram um grande desafio. E no perderam tempo. Dotados de um vontade frrea, trabalharam duro. E alm de sobrenome, legaram a seus descendentes a crena do ideal de progredir e vencer. Estrangeiros que descobriam que para ser brasileiros bastava gostar do Brasil. Que escreveram a histria contempornea deste pas. Na indstria. Nos campos. Nas cidades. Joaquins, Giovannis, Toshiros, Peters, Ganthers, Samires e Juans. Todos. Sem exceo. A Shell veio para o Brasil mais ou menos nessa poca. E, 75 anos depois, pode avaliar a trajetria daqueles que se dispuseram a atravessar o mundo em busca de um futuro melhor. E faz questo de homenagear as todos. Que vieram e ficaram. (Revista Veja, n 845. 1989)

Explorando o texto n 05 1) Em "Eles chegaram aqui no incio do sculo..." O pronome "Eles", que inicia a frase, no texto, refere-se a: A. Brasileiros. B. Imigrantes. C. Estrangeiros. D. B e C esto corretas 2) Em: "E faz questo de homenagear a todos". O sujeito do verbo fazer, na frase acima, retirada do texto : A. Brasil B. Shell C. Mundo D. Futuro 3) De acordo com o texto, correto afirmar que: A. a Shell chegou aps o perodo de imigrao; B. a Shell chegou ao Brasil 75 anos depois dos imigrantes; C. a Shell e os estrangeiros chegaram ao Brasil depois da imigrao;

D. a Shell e os estrangeiros chegaram ao Brasil quase juntos. 4) No sexto pargrafo, pelo nome das pessoas, pode-se saber o seu pas de origem. Entre eles, pode-se destacar. A. Inglaterra, Japo, Espanha B. Rssia, Alemanha, Inglaterra C. Itlia, Frana, Japo D. Alemanha, Grcia, Portugal 5) As frases do texto foram alteradas. Entre elas a que apresenta sinonmia incorreta : A. ... experincia e a cultura que eles traziam consigo. B. ... parece querer homenagear a todos. C. ... transmitiriam a seus descendentes a crena... D. ... dotados de uma vontade inflexvel.Dissertao - A Argumentao Imagine que voc queira dissertar o seguinte tema: "O mundo moderno caminha atualmente para sua prpria destruio." Sua primeira providncia deve ser copiar este tema em uma folha de rascunho e fazer a pergunta: POR QU? Ao iniciar sua reflexo sobre o tema proposto e sobre uma possvel resposta para a questo, procure recordar-se do que j leu ou ouviu a respeito dele. quase certo que voc tenha ao menos uma noo acerca de qualquer tema que lhe vier a ser apresentado. O ideal, para que sua dissertao explore suficientemente o assunto, que voc obtenha duas ou trs respostas para a questo formulada. Essas respostas chamam-se possibilidade, pensar que o mundo pode vir a destruir-se por causa dos inmeros conflitos internacionais que tm ocorrido nos ltimos tempos. Assim, j teramos o primeiro argumento: 1.Tem havido inmeros conflitos internacionais. Pensando um pouco mais sobre o porqu de estarmos beira da destruio, podem ocorrer-nos mais dois argumentos: o meio ambiente encontra-se ameaado por srio desequilbrio ecolgico, e permanece o perigo de uma catstrofe nuclear. Viu como fcil? Os argumentos selecionados so exaustivamente noticiados por qualquer meio de comunicao. Dessa maneira, obtemos o seguinte quadro: Voc pode encontrar outros argumentos alm desses apresentados acima que justifiquem a afirmao proposta pelo tema. A nica exigncia que eles se relacionem com o assunto sobre o qual est escrevendo. Uma vez estabelecido o tema e trs argumentos, voc j dispe do necessrio para, agora,